Cobaia | #117 | 2012

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Jornal

Cobaia

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, outubro e novembro de 2012 Edição 117 Distribuição Gratuita

Marcelo Martins

Um novo caminho

A Rua XV de novembro precisa se reinventar para conservar o posto de principal via do comércio em Blumenau

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Especial

Fotografia

Moda

Rostos e traços da 26º Marejada

Futuro do jornal impresso em pauta

A tendência é a postura consciente

Alunos de fotojornalismo clicaram a festa sob a supervisão do professor Eduardo Gomes

Encontro de jornais-laboratório de SC incentiva debate sobre a produção acadêmica

Colagens, pneus e madeiras reutilizadas ditam a moda que pensa no desenvolvimento sustentável

Coletivo Dois por Quatro

Monike Furtado

Cássia Guerra

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Artigo

Fonoaudiologia contra a gagueira

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Ombudsman

Editorial

Carlos Golembiewski*

Erros, coragem e paixões Jane Cardozo da Silveira*

A

i, ai, ai! Erramos na edição anterior e, o que é pior, duas vezes, ambas relacionadas ao crédito de fotografias: na contracapa, o ensaio sobre o Opa 2012 deveria ter sido assinado pela dupla Camila Laís e Sheila Gastardi – e não exclusivamente por Camila, como publicado. Já nas páginas internas 12 e 13, onde se lê Márcia Regina Ferreira – em letras miudinhas, junto das imagens – leia-se Márcia Cristina Ferreira, tal como se imprimiu no alto da página, em corpo maior e a título de assinatura da matéria. Feito o registro, pedimos desculpas aos leitores, a nossas repórteres fotográficas e... seguimos em frente, porque não dá para a gente se imobilizar em função dos erros. Ao contrário, quando os assumimos, servem para apurar nosso olhar, reforçar nossa humildade, incentivar nosso aprendizado. Afinal, só comete erros quem age, quem se arrisca e tem coragem de se expor. Claro que nossa intenção é sempre a de evitá-los e, em função disso, os textos do Cobaia passam por várias revisões: é um ir e vir interminável de ver-

sões. Que o diga nossa expert em moda, Suelen Figueiredo. Ela se responsabilizou pela reportagem sobre tendências de verão, na contracapa, e teve de pesquisar bastante para chegar àquele resultado. Com certeza foi um exercício marcante na trajetória dessa futura jornalista que já se converteu em descolada blogueira do mundo fashion. É assim que o Cobaia funciona: deixando que cada acadêmico se dedique àquilo que mais o inspira. Esta edição tem muitos exemplos de como a estratégia é

Não dá para a gente se imobilizar em função dos erros, só os comete quem se arrisca

motivadora: nas páginas centrais, o blumenauense Felipe Adam percorre a XV de Novembro, em Blumenau, para contar um pouco da história local a partir daquela via tão reveladora do perfil da cidade; na página 03, Marcia Peixe olha o cotidiano de sua terra-natal, Nova Trento, a partir das quatro linhas de um campo de futebol; nas páginas 04 e 05, reservamos um espaço para o que nos apaixona a todos – o Jornalismo e suas experimentações discutido no 6º Encontro de Jornais-Laboratório de Santa Catarina, em que o Cobaia teve a satisfação de compartilhar espaço com o Primeira. Pauta, seu primo-irmão do norte do estado. Outros temas instigantes selecionados por nossos repórteres envolvem saúde, comportamento, memórias, enfim, um mosaico que reflete os múltiplos interesses das nossas turmas de futuros jornalistas, esses curiosos observadores do tempo presente. Boa leitura! *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP

Fica esperto! Reta final

Falar bem

O semestre final da graduação é sempre uma época difícil. É tempo de se preparar para a formatura e para o mercado de trabalho. Mas, antes, é preciso realizar o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. Os formandos estão chegando à etapa final: na maioria dos cursos, a primeira quinzena de dezembro é reservada para a defesa dos TCCs diante de bancas avaliadores. As bancas são compostas pelo orientador do aluno, outros professores da Univali e profissionais convidados. A apresentação do trabalho é um momento de nervosismo para o acadêmico, mas muito recompensador já que um TCC pode abrir portas no mercado. Para se sair bem diante da banca, valem algumas recomendações: - para conferir equipamentos, chegue no mínimo 30 minutos antes do horário marcado; - procure dormir mais cedo no dia anterior para estar descansado na hora da apresentação; - evite fazer leitura corrente dos materiais de apoio durante a sessão de defesa. Afinal, esses materiais devem servir apenas como guias e lembretes. Cabe ao aluno mostrar que sabe do que está falando mesmo sem nenhum texto pré-elaborado.

Fundamental para a formação de qualquer profissional, um bom discurso é capaz de alavancar uma carreira. A Consultoria e Gestão Empresarial da Univali, a UNIJUNIOR, oferece um curso de Oratória a partir de 1º de dezembro. O objetivo é capacitar os participantes de todas as áreas a desenvolver habilidades comunicativas e estratégias de oratória para a obtenção de resultados positivos na hora de se expressar. Por se tratar de uma área de grande interesse, podem participar alunos de graduação, pós-graduação e profissionais que necessitem atualizar-se e competir no mercado de trabalho. Mais informações, entre no www.univali.br/eventos, no link gestão.

Cartão Universitário Para facilitar a vida no campus e simplicar rotinas como: pagar o estacionamento, fazer empréstimos na biblioteca e, futuramente, automatizar o diário de classe, a Univali segue distribuindo o Cartão Universitário. A entrega acontece no Hall da Biblioteca Central Comunitária, no campus de Itajaí, das 7h30 às 22h - sem intervalo.

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Ler mais

Jornalismo é apreensão da realidade Alertei na coluna anterior o quanto é difícil fazer uma crítica ao material publicado numa edição de um jornal. Tenho absoluta certeza de que cada pessoa que fosse fazer um jornal, o faria da sua maneira. Isso porque um jornal impresso é como um desenho, cada editor faz o seu. Não existe uma edição de jornal igual a outra. Mudam as notícias e os critérios de apresentá-las ao leitor. Com isso, quero dizer que as críticas serão sempre no sentido de que cada edição do Cobaia saia melhor. Na edição de número 116 do jornal Cobaia – que tem como Manchete “OPA 2012 SEM DÚVIDAS” vou me fixar na capa da publicação. A capa, como nos adverte Marques de Melo, é a porta de entrada de um periódico. É ela que convida o leitor para curtir o que foi notícia no jornal. Acredito que nessa edição, ela vendeu pouco o que tinha dentro da publicação. A Manchete principal não foi muito feliz. O que é o OPA? Nem todo mundo sabe, nem todo mundo é aluno da Univali. Achei também que “sem dúvidas” – ficou muito pretensioso. Justamente, o OPA pretende tirar as dúvidas dos futuros alunos, mas dizer que ninguém tem dúvida ficou forte demais. Também podemos dizer que a palavra “dúvida” como foi colocada pode ter gerado um duplo sentido. Ou seja, a idéia de algo “bacana”, “legal”. A foto que deu sentido à manchete principal também deixou a desejar porque reduziu mais de 50 cursos de graduação da Univali a apenas uma área: a Comunicação ou a Fotografia. Jornalismo, como lembram as normas editoriais das Organizações Globo, é “apreensão da realidade”. Nesse caso, apreendemos pouco do que de fato aconteceu. Na capa, poderíamos ter uma foto de estudantes pedido informação numa área aberta, enfim, com mais representatividade do que foi o OPA na universidade. Isto é, os estudantes da região, as verdadeiras “estrelas” do evento não estavam na foto. Portanto, não foi uma escolha feliz! Ainda em relação à representatividade, creio que a escolha das sub-manchetes poderia contemplar mais aquilo que o jornal Cobaia trouxe nessa edição. Das três sub-manchetes, duas são sobre Jornalismo, além da capa que já traz uma atitude da Comunicação: a fotografia. Ou seja, ficou um pouco “over”. E não por falta de notícia. Uma das sub poderia ser sobre as Terapias Alternativas ou os benefícios de se ter uma vida sexual ativa. Já em relação às fotos que dão sentido às sub-manchetes, penso que elas podem abrir de maneira “menos quadrada”. Estão muito óbvias. Poderia haver mais variações. Mais criatividade. Isso também pode ser aplicado aos títulos. Por que não variar o tamanho das letras? Enfim, acho que peguei pesado dessa vez. Por isso, não posso deixar de falar das reportagens. Acredito que todas cumpriram o seu papel. Fizeram o leitor “viajar” no conhecimento de diversas situações. A competição de natação em Bombinhas, a Semana de Jornalismo em Florianópolis, a circulação das carroças em Itajaí e a importância do sono na vida das pessoas. Jornalismo é isso. Fazer uma grande fotografia da realidade. Este objetivo, a edição 116 atingiu.

*Carlos Golembiewski, jornalista formado há 24 anos pela Unisinos, Doutor em Comunicação Social pela PUC do Rio Grande do Sul.

Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI

As férias de fim de ano estão chegando e que tal aproveitar o tempo livre para ler um livro? Além do empréstimo na Biblioteca da Univali, onde a retirada é feita neste ano e a devolução só no ano que vem, a Livraria Universitária também contribui para propagar o mundo mágico da leitura. Há títulos dos mais variados gêneros e áreas, com até 50% de desconto. A promoção vai de 19 de novembro a 19 de dezembro. Estão disponíveis obras para todas as idades: livros infantis que estimulam a criatividade; textos voltados para adolescentes e uma série de opções para os adultos que passam por vários gêneros - contos, romances, livros científicos e acadêmicos.

JORNAL COBAIA

IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, outubro e novembro de 2012. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP FOTO PRINCIPAL DE CAPA Marcelo Martins PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio GRÁFICA Grafinorte TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional

Itajaí, outubro e novembro de 2012


Opinião

Uma pequena cidade pulsa Artigo nas entrelinhas do futebol O jogo é só um pretexto para promover encontros e trocar vivências Marcia Peixe* Crônica - É só sentar no banquinho do lado do campo e observar o que rola nas entrelinhas do futebol. Uma verdadeira interação social em diversos níveis de informação e aprendizado. Eu sei bem o que é isso, quem viveu numa cidade do interior sabe que as opções culturais são escassas, assim o jeito é aproveitar o que cada bairro tem, e na maioria se resume a três lugares: a igreja, um bar e o campo de futebol.

o cãozinho de estimação da família vira espectador do jogo. Nada de vestiário organizado, os jogadores se vestem dentro dos carros mesmo, outros ao lado do campo e tem aqueles que nem se preocupam com isso, vão logo trocando de roupa pelo caminho. As mulheres ficam na expectativa de ver seu marido ou filho entrar em campo. E isso representa para eles a obrigação de fazer gols para a torcida. E quando as torcidas adversárias sentam lado a

portas dos carros e aumentam o som. Os vizinhos ficam loucos, imagine que absurdo morar num local tranquilo e ter que aguentar a arruaça da gurizada nos fins de semana – reclamam os mais idosos. Para os mais novos, jogo de futebol tem lá seus benefícios. Encontrar os amigos, pôr a conversa em dia e ainda ter a chance de rolar uns namoricos. O barulho também vem do bar, que fica pertinho, sempre com uma cervejinha bem gelaBanco de Imagens

Nas cidades pequenas, o futebol une: os amantes do esporte aos que ficam nos bastidores aproveitando o clima Parece brincadeira, mas não é. Por esse motivo a paixão mundial pela bola faz famílias inteiras saírem do conforto de suas casas para o campinho de futebol mais próximo. Os jogos quase sempre acontecem aos sábados à tarde e aos domingos de manhã e fazem parte de um campeonato com duração de três meses, pelo menos duas vezes ao ano. Os carros vão chegando e lotam o estacionamento. São os jogadores e suas famílias, que tem como hobby o esporte. Trata-se das famosas peladas de fins de semana. Mas a competição é tida como coisa séria, já que é um campeonato, vale premiação em dinheiro, respeito dos adversários, foto no jornal de veiculação semanal e quem sabe, se der sorte, uma entrevista na rádio da cidade vizinha e quinze minutos de fama. A torcida chega em peso, a comunidade, esposas dos jogadores, os filhos, a sogra e quando dá até

lado, é aquela provocação, o clima esquenta e o resultado é confusão na certa. Cada torcedor defende seu time e velhas rivalidades aparecem. De vez em quando os policiais dão uma passadinha para conferir e manter a paz. Enquanto isso, os filhos dos jogadores, geralmente meninos de 5 a 10 anos, se reúnem, numa travessinha improvisada. Ali, dividem o sonho de ser jogador de futebol. Ah! Sem contar as velhas histórias mal resolvidas que envolvem famílias locais e são levadas para dentro do campo - uma verdadeira “batalha de caneladas”. E coitado do juiz, é sempre o culpado de tudo. Ele também é um ser humano, e está suscetível ao erro. Mas, ninguém compreende isso, o xingamento é generalizado. Entre a torcida está o pessoal jovem, que vai a campo torcer por alguém da família, mas também tem outras intenções. Bem vestidos e perfumados, abrem as

Itajaí, outubro e novembro de 2012

da, o salgadinho e as balas para as crianças e para matar a fome da torcida que assiste aos jogos. A mesa de sinuca é disputada e quem não curte futebol ainda tem dominó e baralho para se distrair. Fim de partida o juiz apita, mas a conversa não para por aí. Agora é discutir os pontos positivos e negativos. Quem perdeu quer acertar, e quem saiu vitorioso quer continuar ganhando, para isso só um churrasco. Os times se juntam e fazem uma vaquinha, a ordem é comemorar. Carvão, carne na grelha, a festa começa e não tem hora de parar. Esse é o retrato de um fim de semana em torno de um campo de futebol. Confesso que nunca parei para analisar a diversidade de momentos que uma simples partida pode proporcionar. Para uns, brega, fora de moda, ridículo, pra mim faz parte da minha história. É o jeito simples de viver a vida, num lugar pequeno e acolhedor.

*Jornalismo, 6º período

JORNAL COBAIA

Quanto mais precoce for o tratamento, melhores serão os resultados. Nem toda disfluência torna-se gagueira crônica

Elisa Farenzena e Vanessa Rafaeli*

Gagueira e disfluência do desenvolvimento

“O

tema gagueira é muito comentado nos dias de hoje, seja em escolas, mídia e na sociedade. Porém, o termo Disfluência do Desenvolvimento é pouco conhecido e merece destaque. Neste artigo estamos dispostas a mostrar a você, leitor, a importância de saber diferenciar estes dois quadros. A criança pode passar por uma fase do seu desenvolvimento, apresentando episódios de disfluência, o que causa estranhamento e preocupação aos pais, muitas vezes achando que tem um filho gago. Porém, esta fase de disfluência que acontece entre 2 e 5 anos tende a ser superada rapidamente, desde que a criança não seja pontuada com frases do tipo: “Fale devagar” , “ respire” , “ fique calmo”, “pare de gaguejar”. É importante ressaltar que a criança não tem consciência sobre este seu modo de falar e quando pontuada de forma excessiva, acaba criando certa preocupação com a própria fala. Isso gera insegurança, medo de falar, tensão para se comunicar, podendo tornar essa disfluência, até então passageira, uma gagueira crônica. A gagueira, diferentemente da disfluência, apresenta como características físicas: tiques, piscar de olhos, movimentos de mãos e cabeça, tensão na região do pescoço, tremor nos lábios e aspectos emocionais não presentes na disfluência do desenvolvimento. A quem quer ajudar uma criança nessa fase, sugerimos que fale com tranquilidade, deixe a criança falar no seu tempo, demonstre interesse para ouvi-la sem pressioná-la, procure não utilizar as frases que citamos anteriormente e fique atento caso esse quadro se estenda por mais de 10 semanas, no máximo, 6 meses. Caso isso aconteça procure um profissional Fonoaudiólogo para receber esclarecimentos ou realizar uma avaliação, pois quanto mais precoce for o tratamento, melhores serão os resultados. A expressão “Gagueira não tem Graça, tem Tratamento”, reflete uma idéia de compreensão sobre um aspecto que não pode ser curado, pois realmente o gago nunca deixará de ser gago, mas pode alcançar um bom nível de fluência que torna a gagueira quase imperceptível. A criança que apresenta dificuldades para se expressar acaba sentindo-se tensa, apreensiva, envergonhada, o que a prejudica na escola, no convívio social e nas relações interpessoais. Você que é familiar ou professor deve estar atento à diferenciação destes quadros, para melhor compreender os sintomas que a criança pode vir a apresentar durante seu desenvolvimento.

*Acadêmicas de Fonoaudiologia

Você escreve e quer participar deste espaço? Entre em contato com a gente! E-mail: cobaia@univali.br

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Jornalismo

Univali faz 6º Encontro de Jornais-laboratório

Cobaia e Primeira Pauta são analisados durante seminário que indicou novos caminhos para esses espaço de formação Dayane Bueno Canha e Redação

A

experiência de produzir um jornal-laboratório, da pauta à distribuição, foi discutida no 6º Encontro dos Jornais-Laboratório de Santa Catarina promovido em outubro pelo Curso de Jornalismo da Univali. O programa do encontro, com seminário e palestra, favoreceu o intercâmbio de ideias para solucionar impasses e aperfeiçoar tanto esse tipo de veículo quanto o processo de ensino e aprendizagem do jornalismo. Durante o seminário, na primeira parte do programa, a anfitriã Univali e a Associação Educacional Luterana Bom Jesus – Ielusc, de Joinville, contaram o dia a dia de seus jornais-laboratório, compartilhando dúvidas e soluções. Pelo Cobaia, falaram a bolsista Gabriela Florêncio, a voluntária Monike Furtado e a ex-estagiária Raquel da Cruz, com apoio de professores e do coordenador do Curso de Jornalismo da Univali, Carlos Praxedes. O jornal Primeira Pauta, do Ielusc, foi apresentado pela professora Amanda Miranda e pelos acadêmicos Luis Gustavo Varela, Ana Paula Padilha e Patricia Stahl Gaglioti. Seleção de pautas, técnicas de apuração,

relacionamento com as fonoutras Universidades e na tes, planejamento gráfico e frente da Agência Integrada maneiras de narrar uma hisIN no Bloco C3”, diz Gabriela. tória estiveram entre as inquieJá o jornal do Ielusc é distributações do grupo, formado ainda ído pelos próprios alunos que o por acadêmicos de todos os peproduzem. Cada acadêmico leva O que é ríodos do curso interessados em um lote para seu bairro e deixa um jornalfazer evoluir as práticas jornalís-o em pontos estratégicos como laboratório ticas. escolas, faculdades, mercados, Outra preocupação dos paretc. Tudo é feito para evitar o As diretrizes curticipantes refere-se à distribuiencalhe. riculares nacionais ção dos impressos. O Cobaia Relativamente recentes em para o ensino sucom uma tiragem de 2 mil exemSanta Catarina, encontros de perior do Jornalisplares e o Primeira Pauta com jornais-laboratório já se realimo recomendam que 3 mil trocaram fórmulas para zam há mais tempo em ouos cursos mantenham fazer a publicação circular tros estados brasileiros. uma publicação impressa proe evitar encalhe. “Temos Em Itajaí, a promoção duzida por alunos e professores. pontos de distribuição do Curso de JornalisÉ um espaço de experimentação - um pelo campus da Unimo contou com a laboratório – para se testar novas fórmulas, ousar e ter coragem de usar linguagens diferenvali, em colégios colaboração de tes daquelas que o mercado consagrou. Em alguns privados de outros setores cursos, o jornal-laboratório é uma disciplina, como no Itajaí, para da Univali: a Primeira Pauta; em outros, é uma atividade extraclasse realizada por acadêmicos voluntários com supervisão de um professor e apoio de um bolsista – caso do Cobaia. Essas peculiaridades se estendem a formato, tamanho, periodicidade, linhas editorial e gráfica. Daí a importância de se trocar informações. Para a professora Vera Sommer, que até setembro era a responsável pela edição do Cobaia, “o relato de vivências diferenciadas, o testemunho de alunos e professores direta ou indiretamente envolvidos na produção destes jornais-laboratório permite a reflexão sobre as práticas adotadas e a possibilidade de adoção ou adaptação de outras que contribuam para promover avanços.” A professora Jane Cardozo, atual editora do Cobaia, afirma que a existência dos laboratórios de ensino é essencial: “Eles constituem valiosos espaços de experimentação que precisam ser cada vez mais incentivados e reconhecidos. Afinal, esses laboratórios forjam quem ajuda a sociedade a se manifestar e a se construir – os jornalistas profissionais.”

Da Univali, as estagiárias Gabriela Florêncio e Raquel da Cruz

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Rodrigo Ramos

Central de Gestão de Eventos, a coordenação do Curso de Música, o laboratório de produção de áudio dos cursos de Comunicação e a TV Univali. Um grupo de acadêmicos atuou nas diversas etapas da organização, a maioria como voluntário. Ao fim do encontro, os participantes consideraram a experiência produtiva e esclarecedora. A nota destoante ficou por conta da ausência de outras instituições de ensino superior de Jornalismo, que apesar de terem confirmado presença, não compareceram. Assim mesmo a discussão avançou, encerrando-se com a palestra do jornalista Francisco (Pancho) Fresard, em que acadêmicos, professores e palestrante debateram sobre os novos caminhos do jornalismo na era da internet e da convergência de mídias. Pancho afirmou que a internet instiga o jornalista a buscar novos olhares sobre a notícia: “É procurar o algo a mais através do conteúdo extra, como fotos e vídeos”. Com o auditório cheio, os futuros profissionais aproveitaram a experiência de Pancho para tirar dúvidas e conhecer melhor o processo jornalístico.

Rodrigo Ramos

Do Ielusc, a professora Amanda Miranda e as alunas Patricia Gaglioti e Ana Paula Padilha

JORNAL COBAIA

Itajaí, outubro e novembro de 2012


Jornalismo

Monike Furtado

Pancho discute futuro do impresso em palestra que aponta tendências Patrícia Cristina da Silva e Redação*

O

futuro do jornalismo impresso foi o tema da palestra de encerramento do 6º Encontro de Jornais-Laboratório de Santa Catarina. Conduzida pelo jornalista egresso da Univali, Francisco Fresard (ou Pancho, como ele é mais conhecido), a conversa despertou muitas perguntas e levou a uma conclusão: vivemos um tempo de transição que exige uma nova linguagem jornalística e criatividade é a palavra-chave. Contudo, precisão e ética continuam a formar a essência do jornalismo seja qual for o meio adotado. O impresso esteve, é claro, no centro das discussões. E como o convidado é colunista do Jornal de Santa Catarina (Blumenau), características desse jornal e de outros impressos do grupo RBS foram abordadas. Ao ser questionado pelo professor do Curso de Jornalismo da Univali, Carlos Golembiewski, sobre o projeto gráfico do “Santa”, classificado como “conservador”, Fresard lembrou as inovações

recém-implantadas na capa e que já mereceram prêmio, destacando peças nas quais elementos gráficos tomaram o lugar das fotos para chamar a atenção do leitor. São propostas diferentes e ousadas, que envolvem poucos elementos e revelam grande capacidade de síntese, casos em que “o menos é mais”, resume o palestrante. Para inserir essas mudanças, diz Fresard, o “Santa” conta com uma equipe bem entrosada na qual profissionais de vários setores trocam informações entre si e levam em conta as sugestões dos colegas – dos mais experientes aos novatos, todos podem propor ideias e isso colabora para oxigenar a publicação. O pessoal da redação também se vale de programas de atualização: “A RBS oferece formação sobre as novas linguagens, as plataformas virtuais, a convergência de mídias. Opinamos, partilhamos conhecimento entre repórteres, editores, fotógrafos, diagramadores... Isso é muito bom!”

Quanto à sobrevivência dos jornais impressos em tempos de internet, Fresard arrisca uma previsão - para ele, o impresso tende a desaparecer: “Acredito no fim do impresso, sem saber quando, como, mas sei que vai acabar. Hoje ele ainda é nosso carro chefe, porém, não se manterá para sempre assim”. Por conta das plataformas virtuais, Fresard também aposta em textos cada vez mais enxutos e mais bem elaborados: “Diminui a quantidade de texto, porém, valoriza-se a qualidade”. Como o objetivo da noite era estimular a troca de experiências para aprimorar os jornais-laboratório, estes ocuparam parte da conversa. Na opinião do palestrante, os cursos de Jornalismo têm de promover a inovação e a adaptação desses veículos à era da internet, criando versões online com atualização adequada ao meio digital. Ficar só no jornal de papel – afirma Pancho – é estar na contramão da história.

*Jornalismo, 7º período

Alunos lotaram o auditório para trocar ideias com Pancho

Monike Furtado

Acadêmicos Jonas Rosa e Bianca Escrich ,da Univali, com o Primeira Pauta

Aprender sempre Francisco Javier Fresard Alvarez, ou Pancho Fresard, é formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Univali. Sua carreira de jornalista começou na TV Galega em Blumenau como repórter, produtor, editor, apresentador e coordenador de Jornalismo. Mas, como acontece com frequência na categoria, migrou por vários outros meios de comunicação: já foi assessor de imprensa do Teatro Carlos Gomes e da Associação Empresarial e Industrial. Hoje, Pancho assina a coluna Mercado Aberto, no Jornal de Santa Catarina, empresa do grupo RBS, porém faz questão de lembrar os primeiros tempos de aprendizado. O colunista considera importante trabalhar em veículos de comunicação de qualquer porte: dos menores até os com mais abrangência em determinada região. Ele defende que toda experiência traz amadurecimento profissional: “Se aprende muito, se aprende na marra”. A internet contribui e dinamiza o cotidiano do jornalista. Pancho exemplifica que através dela o repórter passa a ser mais instigado, porque tem que buscar algo mais que supra a necessidade desse meio. É uma busca incessável por outras formas de inovar as matérias. A internet incita o jornalista a apurar mais e melhor e a utilizar muitos recursos diferentes, como vídeos, áudios e fotos, que não entrariam normalmente em mídia impressa. Os jornais impressos precisam dessa reinvencão e devem manter versões específicas para a internet, tornando o jornalismo mais interessante e atrativo para o leitor.

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JORNAL COBAIA

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Retrato

Do réis ao real, memórias de quem faz história Aos 78 anos, o vovô Memo lembra peripécias da juventudade em narrativas que contam a trajetória de uma cidade Stéphanie da Rocha* gistro do que hoje é apenas lembrança. Três anos depois, quando ele já tinha 8, Memo acompanhou de perto a inauguração da igreja. Do outro lado da rua a fachada da construção tem, além dos traços italianos, uma história com a comunidade. Na época nem fachada tinha, era apenas o edifício. Quando surgiu a notícia de que iriam construir, a Itália disse que bancaria tudo, mas com a condição que fizessem igual à que fica na Europa. E, assim, eles mandaram a planta de lá para que fosse construída. Era hora da inauguração. Quem desse a maior oferta cortava a fita. Aí o padre da igreja, Aleixo Costa, mandou um envelo-

nha luz. Entraram naquele espaço escuro e foram tateando. O amigo sentiu alguma coisa, quando puxou veio um corpo, mas sem a cabeça. Eles levaram o santo ao padre, que o engessou. Aí eles marcaram o dia da procissão. O caminhão do cortejo se chamava Bartolomeu e era muito grande, tinha uma chapa em cima pra fazer o desfile. Memo sempre morou ali de frente para a igreja e via as pessoas passarem e o padre dar as bênçãos aos caminhões. Foi ele quem levou uma caixa de papelão para colocar o dinheiro dos fiéis. Todo mundo dava 5, 10, 20 contos. Logo a caixa encheu e foi preciso ir correndo em casa buscar outra, na falta de uma foi uma cesta mesmo. E assim

preferido da turma, mas os dois patrões combinaram de segurá-lo. A famosa linguiça, como chamavam, porque é coisa torta mesmo. Memo vivia de bicicleta por aí. Pedalava atrás das raparigas da cidade. Sempre fora muito namorador e já tinha fama de galanteador. De noite acendia os faróis da bicicleta e saía pelas praças a flertar. Diziam que as moças podiam sair com qualquer um, menos com o tal do Memo. Foi quando conheceu Laura. Eles já se cruzavam pelas ruas e trocavam olhares, mas foi numa festa que os dois realmente puderam conversar. Ela morava em Rodeio, cidade vizinha de Ascurra. Laura e Memo casaram em fevereiro quando a noiva tinha 16 e ele 23 anos.

bado de receber uns trocos, tinha 600 contos com tudo porque ele ganhava muita gorjeta. Se um conto de réis já valia muito, ele poderia ir pagar as dívidas do hospital. Assim achou, mas quando chegou lá ainda lhe faltavam 10 contos. O médico disse: - Me dá 600 e não me deve mais. Os calos estão nas mãos e nos pés, mas as cicatrizes são mais fundas. O peito se enche da fumaça do cigarro que traga sem pestanejar, e também de benevolência. Dá as crianças da comunidade tudo que não pôde dar aos seus filhos. Faz isso com orgulho, desde a comida que planta até os brinquedos. Da última vez deu uma bicicleta a uma criança, mas tudo volta e não tem preço. Conversan-

Stéphanie da Rocha

Stéphanie da Rocha

Stéphanie da Rocha

Casa de Memo na enchente de 84

Memo distante em seus pensamentos, se emociona ao relembrar e narrar sua história mais galanteador. Certa vez ele e a menina se encontraram embaixo do pé de carambola, mas não para saborear a fruta ou subir na árvore: “Tu sabes o que é, nem preciso entrar em detalhes, isso é coisa de criança, nós não ‘tinha’ malícia.” Acontece que o pai, muito bravo, pegou as crianças no flagra. Memo fugiu correndo, mas ao chegar em casa o papo foi outro, tomou uma sova. Sempre fora assim, primeiro apanhava na escola pelos modos, depois vinha se queixar em casa porque o tinham surrado e apanhava dobrado. A cicatriz daquela fuga ele carrega até hoje: 73 anos depois, exibe os pés tirando-os das sandálias de couro. Em meio aos calos da roça e às unhas grandes sujas de terra, ela está ali, na sola, deixando re-

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Quando era jovem e galanteador Stéphanie da Rocha

E

m 1974, as coisas eram duras pelo Médio Vale. A lida no campo, como sempre, exigia esforços. Memo vivia com os pais e com a família. Era uma educação rígida e de muito trabalho. Precisava ajudar a colher batata e plantar outros alimentos. A região tem forte colonização alemã e italiana. Memo nasceu em Indaial, mas logo se mudou para Ascurra na casa onde vive até hoje que é de frente para a igreja e fonte de nostalgia. Para quem senta na varanda, histórias se passam e costuram um emaranhado de memórias dando identidade aos moradores. Ele tinha apenas 5 anos quando conheceu seu primeiro amor. De todos os irmãos era o

pe a cada família para que todos pudessem dar o seu lance. E o padre gritou abanando aquela nota grande, larga e verde: “Manoel deu uma periquita de 500!” Todos tinham dado muito menos. Manoel Felipe era o pai de Memo e foi ele quem pagou os 500 contos de réis e cortou a fita. Acontece que a igreja não tinha muitos recursos e um amigo de Memo deu a ideia de levantar fundos pra igreja. Mas como conseguir isso? - Com o São Cristóvão, claro. O santo dos caminhoneiros. - Mas eu nem conheço esse tal de santo. -Memo não conhecia mesmo aquele bendito, mas ele ficou intrigado. Eles sabiam que o santo ficava escondido num porão e decidiram ir até lá. O porão era úmido e não ti-

encheu as duas: a caixa e a cesta. Enquanto o padre benzia, havia acabado a água benta. Memo foi correndo em casa e buscou um balde de água. O padre benzeu ali mesmo e seguiu abençoando as pessoas. A festa é a maior de Ascurra e já tem estátua para o santo. Em julho tem movimento e o pessoal traz dinheiro pra cidade. Apesar do aspecto alto, de nariz grande, olhos miúdos e sempre úmidos, um legítimo italianão, Memo era mirradinho aos 15 anos, pesava 50 Kg. Toda essa leveza era levada pra montaria. Era ele quem treinava os cavalos dos corredores. E, por um tempo, foram a ocupação e a felicidade desse jovem. Felicidade que na hora da corrida a platéia convertia em dinheiro. Eram altos os valores das apostas. Uma vez, era o cavalo de Memo o

JORNAL COBAIA

Igreja de Ascurra que fica em frente a casa de Memo Tiveram sete filhos: Sandra, Solange, Sávia, Silvio, Sávio, César Manoel e Soraia Ariene. Quase todos saíram cedo de casa para trabalhar, ficaram só as caçulas. Para sustentar a criançada era preciso pegar na enxada. Uma vida sofrida, mas nunca faltou nada. Estocava banana, vendia leite, plantava mandioca. Só não dava era para esbanjar, ficar agradando muito a filharada. Com eles Memo era sério, durão e de poucas palavras. Hoje se emociona ao contar essa história. “A gurizada e os vizinhos ganhavam presentes e os meus não. Nós não podíamos dar nem chocolate pras crianças.” Se a vida no campo já não era fácil, ficava ainda mais pesada frente às despesas com o tratamento da mãe dele, que era muito doente. Uma vez Memo havia aca-

do descobriu que ela não conhecia o pai. “A criançada muda, eu nem lembro quem elas são, mas ela não esquece. Sempre passa um e cumprimenta. “E aí, vô, como tá?” Tira a boina e esfrega a cabeça, parece que aquilo o faz retomar o assunto com mais facilidade. Memo já não tem mais os 50Kg de menino, nem o pulmão jovem daquela época, uma tosse rouca parece atrapalhar a conversa. Em menos de meia hora, três cigarros, um cinzeiro cheio e uma pinga. Mas os sentimentos, esses sim são como fumaça: inundam qualquer ambiente onde esse “nono” esteja. Ele, que é um trovador, e gosta de cantar seus versos para qualquer um que lhe dê atenção, merece ser apresentado: José Felipe.

*Jornalismo, 6º período

Itajaí, outubro e novembro de 2012


Fotojornalismo Coletivo Dois por Quatro

Olhares atentos dos alunos de fotojornalismo do 4º período registraram rostos, traços e situações na 26ª Marejada

O reinado dos lisos: rainha e princesas aderem à onda do “fora, cachos”

Coletivo Materializando Momentos

Coletivo Ângulos Múltiplos

Miriam Dalcóquio: a portuguesa estilizada não economiza nos acessórios e adereços Experiência de vida e bom humor: alegria do cozinheiro dá tempero à festa.

Background: Coletivo Dois por Quatro

Itajaí, outubro e novembro de 2012

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Economia

Rastros do progresso no caminho da História A importância e a memória da Rua XV na economia de Blumenau ainda são reconhecidas, mas podem estar ameaçadas Felipe Adam* Marcelo Martins

C

ada cidade possui uma rua importante, uma praça famosa ou uma avenida conhecida pelo belo jardim. Ela representa o valor histórico que o local possui na região. Seja num desfile comemorativo ou numa passeata, numa greve ou num encontro, é como se o tal lugar reunisse a população e a norteasse para um tempo que já se foi. Blumenau possui inúmeros locais com relevância; porém, é no percurso da rua XV de Novembro que a história da cidade é contada.

A origem data do século XIX, após a via ter se tornado um prolongamento da atual Rua das Palmeiras, conhecida na época como Stadtplatz (Praça da Cidade, em alemão). Um colono abriu caminho pelo matagal à procura de uma vaca que teria fugido do pasto. A picada foi tão usada que o trajeto se tornou irregular, lembrando a aparência de um defumado. Assim, veio o primeiro nome: Würststrassen (Rua da Linguiça, em alemão). A posição era estratégica: se localizava próximo ao porto. Em 1883, foram retiradas as cercas e portões que protegiam a via. Sete anos depois, em função da Proclamação da República, a antiga Rua do Comércio é denominada como XV de Novembro. Preocupado com o aspecto das principais ruas da cidade, o poder público promoveu uma intensa urbanização em 1902. As-

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sim, a rua se tornou mais regular ao longo de toda a sua extensão “Até 1910, Blumenau já usufruía de energia elétrica, possuía uma ferrovia e tinha preocupação com a infraestrutura. A cidade estava à frente do seu tempo”, ensina a historiadora do Arquivo Público de Blumenau, Sueli Petry. Hoje, inúmeros cidadãos caminham diariamente pelos 1590 metros da via e sequer imaginam a validade histórica do trajeto que percorrem. “É onde se encontravam as casas de comércio. Era ponto obrigatório para o lazer e para o namoro”, lembra Petry. Além disso, era considerada o palco da cidade: “A Rua XV representava a cidade nova”.

Muito tempo atrás

A Blumenau do século XIX trazia na bagagem uma economia baseada na variedade de

produtos extrativos e agropecuários. Mais tarde, a partir de 1880, a cidade se voltou à industrialização. Para a época, o sonho

comércio local, a

de consumo era simplesmente adquirir uma bicicleta. Passados 162 anos, Blumenau cresceu, se manteve firme mesmo diante de problemas climáticos e hoje seu perfil comercial está mudando. O setor de serviços é o que mais cresceu, e isso se percebe no crescimento dos bairros. Soma-se a isso a entrada de dois novos shoppings, o que fornece à população mais uma opção de lazer e de compras, além do Neumarkt, que já imperava há 20 anos na região.

Rua XV precisa se

Rua que esbanja diversidade

Importante no

reinventar para ganhar outros atrativos

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Referência para o comércio, a Rua XV de Novembro é importante por inúmeras coisas. Paulo Cesar Lopes, presidente da CDL – Blumenau, se encanta com a beleza e o glamour da via: “Segundo turistas, é uma das ruas mais bonitas do Brasil”. Lopes tenta explicar qual

a fórmula para ela se manter tão atual: “Acho que é por possuir um misto do passado com moderno”. Porém, confirma que precisa se reinventar: “Faltam atrativos, lugares interessantes, como uma grande lanchonete, um restaurante”. O primeiro passo foi dado em 2011. O Sebrae escolheu cinco cidades de Santa Catarina para implantar o projeto “Shopping a Céu Aberto”, uma iniciativa que pretende aumentar a atratividade e a competitividade do comércio varejista de bens e serviços de rua. “Estudos apontam que nossa tendência é de crescer para a região Norte da cidade. E um projeto como esse nos ajudaria a não deixar que a XV caísse no esquecimento. É um trabalho a longo prazo, mas que faria com que ela continuasse bonita e elegante”, pondera Paulo Lopes.

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Vendedores ilustres e esquecidos povoam as esquinas

P

essoas andam para um lado e para o outro. Caminham a passos rápidos. São quase 13h30min e no final da rua, próximo à Prefeitura, pessoas ainda almoçam nas padarias e lanchonetes próximas. Mulheres carregam bolsas à procura de algo. É um dia normal da semana. Aquela quinta-feira de outono marca 19ºC e reforça a aparência de cidade europeia em dia de verão: tempo aberto, sol forte e um frio ameno. Sob a observação atenta de São Paulo Apóstolo, padroeiro da Catedral, Zenilda aguarda clientes. A aparência cansada, curvada, de braços cruzados, demonstra certa fragilidade. O horário não ajuda. É logo depois do almoço e é difícil que alguém pare para degustar uns churros, talvez uma cocada, quem sabe um pé-de-moleque ou apenas algodão doce. Todos os dias, ela espera sentada ou encostada nessa esquina, uma das 15 transversais que a XV possui. Ganha 30 reais por dia, independente da quantidade de vendas “É pouco. Mas lá em casa não falta leite, nem fralda”, fazendo alusão ao rebento de um ano. Aos domingos, segundo Zenilda, se vende mais devido à missa e também à quantidade de turistas que circulam pela rua. Porém, faz uma revelação: “Nas manifestações organizadas por políticos não se vende nada”. Sentado na calçada, encostado na parede, ele manuseia minuciosamente um cachimbo. As pessoas caminham bem perto, encaram, o acham estranho, mas não se atrevem a parar. O corte de cabelo exótico faz com que a população conservadora resista à novidade. “É difícil vender na região, mas aqui é muito bom”. A frase em castelhano não esconde a nacionalidade de Israel, 30 anos e há sete em Blumenau. Enquanto apresenta os colares, brincos e pulseiras, o argentino de Mendoza disfarça o nervosismo esfregando argila, matéria-prima para seus trabalhos. A paciência foi adquirida na preparação dos badulaques desde quando tinha dez anos: “A venda é relativa. Tem dias que se vende bastante, outros não. Mesmo assim, é um trabalho simples e barato, por isso que vende”. Já em relação à cidade, diz ser muita tranqüila “Gosto muito, só o povo que é meio fechado”. Atender os clientes há 21 anos já faz mais que parte da rotina da ex-secretária Loreni, que nasceu em Leoberto Leal, se criou em Ituporanga e adotou Blumenau pra viver. Em desfiles de Oktoberfest, garante que chega a lucrar de 500 a 600 reais com a venda na calçada, onde negocia meias, toucas e casacos de lã, além dos arquinhos bordados. Mas confessa que prefere não acompanhar esses desfiles: “Me emociono quando vejo. Tudo isso lembra minha infância”.

*Jornalismo, 6º período

José Ferreira da Silva - Arquivo Histórico de Blumenau

O antes e o depois da Rua XV: a modernidade trouxe novas perspectivas de comércio, mas também aumentou os desafios para o centro da cidade Marcelo Martins

Marcelo Martins

Marcelo Martins

Marcelo Martins

A avenida beira-rio disputa as atenções com a Rua XV

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O Teatro Carlos Gomes é um dos atrativos da famosa via


Saúde

Ciência e prevenção ajudam a combater o HIV O vírus da Aids mobiliza cientistas enquanto mudança de comportamento e novas drogas mudam histórico dos casos Wagner Heinzen* Wagner Heinzen

O laço vermelho é o simbolo da solidariedade e da luta contra a AIDS

A

pluralidade humana, de sexo, cor, religião e tantas classificações, se amplia e por vezes produz conflitos. Mas, em alguns casos, revela pessoas que encaram as diferenças com respeito e se inspiram na diversidade para trabalhar em benefício da vida. A boa notícia dada pela Unaids – braço da ONU responsável pelo combate à Aids – é a prova. Cada vez menos pessoas morrem da doença, tendo acesso a medicamentos quase metade dos 34 milhões de infectados no mundo. Contudo, está mantido o alerta pela prevenção e a cobrança aos países ricos por ajuda aos países pobres.

les, EUA, divulgou as primeiras ocorrências de uma nova síndrome – conjunto de sinais ou sintomas – que parecia atingir homossexuais masculinos. Os casos se diferenciavam, mas todos tinham em comum as células T, escolhidas pelo invasor, para serem destruídas. As defesas do corpo não conseguiam expulsar o mais inócuo micróbio intruso, o que vinha a causar morte pelo que os médicos chamam de infecções oportunistas, como a pneumonia Pneumocystis – que ataca os pulmões. David Ho era o chefe da residência médica do Hospital Cedars Sinai, e também observou que, cada vez mais pacientes estavam nas unidades de tratamento intensivo com as características notadas por Gottlieb. As suspeitas dos médicos sobre o que acontecia com estas pessoas iam desde pílulas – como o Ecstasy – e outras drogas recreativas, disparando o colapso imunológico, até reação alérgica ao excesso de parceiros sexuais. Ho, no entanto, suspeitou tratar-se de um vírus e foi se especializar em pesquisa de Aids – abreviação em inglês de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Em 1982, Ho mudou-se para Boston. Fazia agora companhia ao virologista Martin Hirsch. Dentre suas pesquisas, mostrou que não existem tantos vírus ativos na saliva, a ponto de permitir que a infecção fosse transmitida pelo beijo. Quando foi trabalhar à noite Divulgação

David Ho, o homem do coquetel

A capa da revista Time, que trouxe o Personagem do Ano de 1996 fez a publicação norte-americana dar a seguinte explicação: “Ho não é certamente um nome de todos os dias. Mas algumas pessoas fazem manchetes e outras fazem história”. Versão da Time reproduzida no Brasil pela revista Manchete conta que, em 1981, Michael Gottlieb, imunologista de Los Ange-

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Wagner Heinzen

Campanhas de combate à doença nos pontos de ônibus de Itajaí em clínicas ambulatoriais para pagar seu doutorado, em meados dos anos 1980, Ho fez nova constatação: “É nestas clínicas que se vêem resfriados, gripes, doenças comuns”. O médico observou o aumento de homossexuais masculinos com o que parecia ser uma rara gripe forte. Mas eles não adoeciam com sintomas da Aids. Exames de sangue corresponderam ao aparecimento do HIV – do inglês vírus de imunodeficiência humana – e a ausência do vírus da gripe. Semanas depois, os anticorpos do sistema imunológico davam um salto agudo, enquanto o HIV desaparecia de circulação. Era a primeira evidência de que o HIV provocava uma infecção ativa. Mas Ho só reconheceria essa importância anos depois. Em 1987, o AZT ou Zidovudina, foi aprovado pelo FDA - órgão responsável pela liberação de drogas nos EUA. A essa altura, David Ho estava na Califórnia e se juntava a Robbert Schooley, da Universidade do Colorado, onde fizeram descobertas negativas com o CD4 solúvel, tido como esperança para a não infecção das células T pelo HIV em testes preliminares feitos com amostras virais desenvolvidas em laboratório. O fracasso com o CD4 trouxe outra revelação: havia dezenas de milhares de partículas infecciosas nos corpos de seus pacientes, muito mais do que supunham. Com isso, os testes de novos tratamentos teriam de ser realizados em vírus que infectaram pacientes reais. A compreensão científica do ciclo de vida do HIV tinha falhas. Revisitando suas pesquisas de Boston, trabalhando em salas de emergência, conversando com colegas e sua equipe da UCLA - Universidade Califórnia Los Angeles, Ho viu que era preciso retornar aos sintomas de gripe. Com o

teste PCR - Reação em Cadeia de Polimerase - foi verificado que pessoas nos últimos estágios da Aids tinham grande quantidade de HIV no sangue. Nas primeiras semanas de infecção esse volume também era grande. Outra equipe, comandada por George Shaw, obteve o mesmo resultado e ambos publicaram juntos as descobertas em 1991. Em novo trabalho, dessa vez em Nova York, David Ho se dedicou ao tempo intermediário entre a contaminação e o estágio final. Era 1994 e novas drogas faziam algum efeito no tubo de ensaio. A busca era por uma fórmula de inibidor de protease eficaz contra o HIV. Ho e Shaw publicam em 1995, juntos, seus resultados. Isso mudaria todo o quadro da Aids. Os médicos agora sabiam que o vírus também é ativo nos anos intermediários da infecção.

De doença fatal à crônica

Dos primeiros casos em 1981, ao isolamento do vírus em 1983, passando pela invenção do teste anti-HIV em 1985 - quando a Aids era tida como doença fatal ao uso do AZT em 1987, chega o ano de 1996, e aí surge o chamado ‘coquetel’ – combinação de medicamentos anti-HIV - termo substituído pela denominação antirretrovirais – que vem recebendo aperfeiçoamento a cada ano. A evolução dos remédios permitiu que, com os cuidados necessários, a Aids possa ser mantida sob controle como uma doença crônica, explica a revista Veja, que, em 10 de julho de 1996, na ocasião da 11ª Conferência Internacional da Aids, em Vancouver, Canadá, descreveu David Ho como “o pai teórico do coquetel de drogas”.

Itajaí, outubro e novembro de 2012


Saúde

Wagner Heinzen

Políticas do SUS são decisivas para controle

M

arcos*, 37 anos, moreno de 1,89m de altura, dono de um físico que lhe permitiu fazer trabalhos de modelo no intervalo entre o ensino médio e a universidade, amadureceu cedo, por conta da saída de casa para estudar. Quando uma dor de ouvido o levou ao médico, em 2005, entre os exames realizados, estava o de HIV: “Eu sempre fiz, então aproveitei a oportunidade.” A tranquila relação entre Marcos e seu corpo foi importante para o processo que viria: o resultado positivo. A medicação foi necessária depois de um ano do diagnóstico, quando a carga viral aumentou e as defesas caíram. “Tomo meus remédios à noite, antes de dormir”, diz, adaptado aos três comprimidos diferentes. Evely Koller, doutora em Filosofia de Enfermagem, ressalta que “os antirretrovirais são de fundamental importância para que portadores do vírus HIV possam diminuir a carga viral existente no organismo e com isso aumentem a imunidade, ficando menos propensos a terem as doenças oportunistas.” De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil começou a distribuir os antirretrovirais em 1996, através do Sistema Único de Saúde - SUS. Aproximadamente 200 mil pacientes fazem tratamento, com 19 medicamentos. O país fabrica remédios antiaids desde 1993, de início com a zidovudina - AZT. Hoje, tem condições de produzir nove deles. Pedro*, 35 anos, faz careta, quando pensa na busca mensal da medicação no posto de distribuição: “É uma rotina chata, mas que se faz necessária para que eu possa levar uma vida normal.” Professor, ele toma dois comprimidos diferentes a cada 12 horas: “Teve um dia que engoli no seco – sem água – porque estava no ônibus e era hora”. A disciplina com os antirretrovirais é fundamental para o tratamento. Pedro soube do diagnóstico em 2008, quando foi pegar um exame de rotina: “Fui chamado a uma sala com a psicóloga do laboratório e ela me falou do resultado, procurando me tranquilizar quanto à vida daquele dia em diante.” O início da medicação aconteceu depois que apareceram herpes zoster – erupções na pele – indicativo de que sua imunidade não estava sendo eficiente para combater a infecção. Nas primeiras semanas, Pedro sentiu enjoos, dores abdominais, inchaço e outros mal-estares. “O uso dos antirretrovirais é receitado pelo médico, mediante critérios estabelecidos pelo Programa Nacional de DST/

Aids”, informa Evely Koller. O uso da medicação também não exime o portador de ter todas as precauções de biossegurança consigo próprio e com a parceria sexual. “Uma vez soropositivo toda relação sexual deverá ser com o uso do preservativo, porque embora existam estudos que apontem que o risco de transmissão possa cair de 94% a 96%, ainda existe a possibilidade de contaminação/ transmissão”, conclui.

A diferença entre ter Aids e HIV

O Ministério da Saúde informa que o vírus HIV está presente no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. A doença pode ser transmitida em relações sexuais desprotegidas, em compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação. A pessoa que tem Aids é aquela que apresenta algum problema de saúde, que surgiu por causa da falta da defesa do organismo. A pessoa que tem o vírus HIV é soropositiva e se não está doente, não tem Aids.

Prevenção

Para a farmacêutica Ana Veber, especialista em Saúde da Família, o trabalho de prevenção realizado com a população tende a diminuir o preconceito e eliminar a ideia de grupo de risco, já que todos somos suscetíveis a contrair o vírus. Um exemplo prático é a retirada de preservativos, que deixou de ser feita no balcão das Unidades de Saúde de Itajaí, para estar nas paredes, em caixas transparentes, de livre acesso. As campanhas de distribuição em escolas ou locais frequentados por jovens também seguem essa tendência. “Isto não deve ser entendido como estímulo à prática sexual, e sim como incentivo à proteção, em caso de relação sexual”, destaca Ana.

Acesso facilitado a preservativos promove a redução do contágio, mas deve ser aliado a outras ações educativas

Wagner Heinzen

Os casos em SC e no Brasil

Santa Catarina registrou 25.950 pessoas infectadas pelo HIV no período de 1984 até 2010, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Florianópolis registra atualmente 4.174 casos, seguida por Joinville, com 2.836 e Itajaí, com 2.230, informa o programa DST/Aids do Estado. No Brasil, estima-se que existam 630 mil infectados. Cerca de 260 mil não sabe ou nunca fez o teste do HIV. Em 2009, foram descobertos 38.538 novos casos, segundo dados do Ministério da Saúde. *Nomes fictícios para preservar fontes

Itajaí, outubro e novembro de 2012

*Jornalismo, 4º período

O teste de HIV, grátis, pode ser realizado no Laboratório Municipal de Itajaí, Centro de Testagem e Aconselhamento

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Saúde

Vida sem sentido tem causas e exige curas

Desânimo, tristeza e medo. A depressão pode chegar a pontos extremos se não for tratada adequadamente Leticia Dias da Costa e Pricilla Vargas* Banco de Imagens

vividos por sua mãe. Léia sofre de depressão há 35 anos, e tentou suicídio inúmeras vezes. A primeira tentativa foi aos 14 anos, quando tomou um “coquetel de remédios”. Léia ainda hoje faz tratamentos para amenizar os sintomas da doença, que no último ano deram uma trégua. A psicóloga Ketlin esclarece que vários fatores podem desencadear a depressão, e a genética é um fator que pode influenciar no desenvolvimento da doença, mas isso depende do ambiente em que se vive e das relações sociais. - Não é uma regra, tem gente que é mais propensa a desenvolver a depressão pelo fator genético, e não desencadeia a doença. E tem gente que não tem o fator genético e tem depressão – ressalta a psicóloga.

Epigenética: a culpa é dos pais?

Isolamento, fuga do convívio social e sensação de culpa frequentes devem acionar um sinal de alerta

“A

fase inicial é a pior, porque você se sente um fracasso, se culpa por ter deixado a situação sair de seu controle, quando na verdade não existe controle, não tem como falar: eu não vou ficar com depressão” - este é o desabafo de Tatiane, 29 anos, que passou por uma forte crise depressiva há três anos, e ainda hoje sofre com os sintomas da doença. Considerada por muitos pesquisadores como o “mal do século”, a depressão é uma doença que compromete o indivíduo física e mentalmente; são dores pelo corpo, sensação de cansaço e alterações no humor. Além disso, afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, muitas vezes distorcendo seus sentimentos e modificando sua visão de mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão atinge 121 milhões de pessoas ao redor do mundo e está entre as principais causas que contribuem para incapacitar um indivíduo. No Brasil estima-se que cerca de 17 milhões de pessoas tenham a doença. Um dos principais problemas apontados pela OMS é que menos de 25% dos afetados têm acesso a tratamentos eficazes, como terapias e uso de medicação. A psicóloga Ketlin Raquel

Pedri diz que é importante que pessoas com depressão não vivam em função dos medicamentos – é preciso trabalhar os problemas, não buscar apenas amenizar os sintomas, sem saber a causa. - Ketlin comenta que a medicação não serve para “dopar” a pessoa, a ideia é que ela sirva de apoio no tratamento. Além dos medicamentos, Tatiane recorreu à ajuda de livros e terapias para se livrar da depressão. Ela recomenda que pessoas que passam pela mesma situação busquem o apoio da família e dos amigos. Outro meio importante de apoio é o Centro de Valorização à Vida (CVV). Segundo Adriana Rizzo, voluntária e coordenadora de Divulgação do CVV, o Centro atua na prevenção do suicídio, disponibilizando, através de chat, telefone e canais de voz pela internet, pessoas preparadas para atender a quem o procura. Os atendentes do CVV são voluntários e atendem mais de 1 milhão de pessoas por ano - Sabemos que quando não conseguimos nos comunicar uns com os outros podemos ficar deprimidos e pensar que nossa vida não vale a pena - aponta Adriana. Os atendimentos realizados pelo CVV ajudam a diminuir o número de suicídios, que somente em Santa Catarina, che-

gam a 1.453 entre tentativas e suicídios consumados de 2010 a 2012, dado divulgado pela Gerência de Integração Polícia Comunidade (GIPC). Em Navegantes, no litoral norte de Santa Catarina, foram 9 suicídios em três anos, e 2 tentativas. Quem faz parte desta lista de suicídios consumados é Carlos, na época com 23 anos. Sua mãe Léia, 49 anos, acredita que o rapaz fez isso em função do uso de drogas - Eu acho que foi uma fuga dos problemas e das drogas. Uma fuga da vida - diz a mãe. Carlos cometeu suicídio em julho de 2010. No laudo do IML consta “asfixia por enforcamento”. De acordo com a psicóloga Ketlin Raquel Pedri, o uso de drogas pode desencadear depressão - Algumas drogas quando atuam no organismo, acabam desestabilizando os nossos neurotransmissores, que são substâncias que agem na transmissão de sinais entre os neurônios, entre as quais podemos destacar a serotonina - afirma. Muitos estudiosos defendem a ideia de que o baixo nível de serotonina seja um dos principais fatores que influencia a pessoa a desenvolver a depressão. Os familiares de Carlos relatam que o rapaz não aparentava estar depressivo, mas acreditam que a atitude dele possa ter alguma relação com os problemas

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De acordo com um estudo realizado em 2009 pelo psiquiatra Gustavo Turecki, um dos maiores especialista em genética do suicídio, coordenador do Centro de Estudos de Suicídio da Universidade McGill em Montreal no Canadá, não há genes que fazem as pessoas se suicidarem, o que existe é uma carga genética que aumenta ou diminui certos comportamentos de risco associados ao suicídio.

Os fatores mais estudados até agora são a impulsividade e a agressividade. As pesquisas têm apontado para a “epigenética”, que compreende as interações entre DNA e fatores externos que agem sobre o organismo durante a infância, alterando a expressão de alguns genes por toda a vida. Turecki descobriu também que pelo menos 30% dos suicidas foi vítima de abuso físico ou sexual ou de algum tipo de negligência por parte da família.

Depressão é coisa séria

“A partir do momento que você perceber que sua rotina está sendo modificada por algum problema, é preciso buscar ajuda. E quanto mais cedo você procurar apoio médico, maiores são as chances de se livrar da doença”, alerta Ketlin. Em casos de depressão e seguidas tentativas de suicídio, é comum que os familiares do doente não o levem a sério, e que encarem sua atitude como uma forma de chamar atenção. Mas, é preciso ficar atento. A depressão precisa de tratamento e isso vai além da medicação, é preciso descobrir a causa do problema para trabalhar a situação, e evitar que o pior aconteça.

*Jornalismo, 4º período Banco de Imagens

Terapias psicológicas e medicamentos apontam várias saídas

Itajaí, outubro e novembro de 2012


Esporte

Futebol americano desperta interesse em SC Itapema, Brusque, Gaspar e Balneário Camboriú já têm equipes formadas e começam a vencer preconceitos Carolina Pamplona*

Carolina Pamplona

P

raticado tradicionalmente nos Estados Unidos, o futebol americano surgiu no ano de 1867, inspirado nas regras do Rugby, e e está encontrando adeptos e espaço na região do Vale. Um esporte em equipe, de força e estratégia , onde o objetivo é fazer avançar uma bola oval em território inimigo durante uma hora de tempo de jogo, que se transforma em três ou quatro de tempo real. Para a prática do esporte é necessário cumprir algumas exigências, como os equipamentos. A ombreira (shoulder) e o capacete (helmet) são artigos essenciais, pois é um esporte de contato. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o porte físico não é o quesito principal, pessoas de qualquer estatura e medida podem praticar o futebol americano. André Gustavo Soberanski, 21 anos, começou a praticar o esporte há dois anos no time de Brusque, o Brusque Admirals. “Nunca fui do esporte, não praticava nada, mas fui assistir a um jogo dos meus amigos e me interessei.” No entanto, ficou no time por pouco tempo, pois se lesionou e parou de jogar. Alguns meses depois, André melhorou de sua lesão e foi convidado por dois amigos para montar o Devils Football, em Gaspar, sua cidade atual. Ele explica que não foi fácil montar

o time: “Não apareceram muitos atletas, e depois tivemos Banco de Imagen

s

Depois de um amistoso em setembro, em Gaspar, entre Devils e Lobos do Mar (de Balneário Camboriú),

proble mas pra achar um campo para jogar”. Hoje, depois de um ano e meio da fundação do Devils, a diretoria é composta por sete pessoas, e conta com 35 atletas inscritos. André é o quarterback (lançador) e faz parte do conselho fiscal do time.

Itajaí, outubro e novembro de 2012

mais atletas entraram para o time, confirmando o interesse pelo esporte no Vale do Itajaí. Em Itapema, o futebol americano é representado pelo time Itapema White Sharks que já existe oficialmente há um ano e seis meses. O time que surgiu de uma brincadeira entre amigos, hoje conta com a participação de 52 atletas, o apoio do comércio local e da prefeitura que oferece um campo para os t r e i nos. O presi-

dente do White Sharks, Ranieri D’Avila Leski, de 37 anos, está com o time desde o início e destaca que o mais importante para a prática do esporte é o comprometimento total. “Dizemos que é um jogo de xadrez com peças vivas, tudo é ensaiado e pensado antes, a equipe tem que estar entrosada, não dá para jogar futebol americano sem treinar.” Como é um esporte que está crescendo na região, tudo é muito difícil. O presidente do time ressalta esse problema: “Os equipamentos são caros, o campo é diferente e tem tanta regra que o curso pra árbitro dura uma semana. Mas o mais difícil é o preconceito, as pessoas acham que jogar Futebol Americano mata, o que é um erro, é um esporte de estratégia e esforço.” Ranieri completa dizendo que esse é um esporte apaixonante e que em breve vai estar no coração dos brasileiros. A diretoria do White Sharks ainda conta com os trabalhos do Vice Presidente Joniel Lasta, do Secretário Euclides Moises Francisco, do Tesoureiro Fernando Rebelo Zambonini. E como Coachs, Renan Kroth e Carlos Constantinov. Junto com as outras equipes do Vale, eles se unem e organizam campeonatos e amistosos para eliminar o preconceito contra a prática e atrair mais público e atletas para esse esporte, que ajuda a promover interação social e traz benefícios à saúde.

*Jornalismo, 2º período

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Consumo

Revisitar o passado está na crista da onda Investimentos em produtos e serviços com temática vintage e retrô tem sido a aposta de muitos empreendedores Alan Vignoli e Bruna Osmari*

A

homepage do site é uma espécie de vitrine virtual. Quem acessa a página pode ver as fotos dos produtos. As informações de tamanho, composição e formas de pagamento também estão disponíveis. O contraponto à loja virtual se apresenta em forma de um vestido jeans, que foi a grande tendência dos anos 80, ou em coletes de veludo e crochê, peças obrigatórias para os seguidores da moda na segunda metade do século XX. Todas peças únicas,

ra da loja virtual Pinches Vintage, onde disponibiliza diversos produtos, muitos deles confeccionados por ela, inspirados nas décadas passadas. “Quando eu morava no Chile, gostava muito de criar acessórios com peças antigas, logo vim morar em São Paulo e tive a ideia de criar uma loja, onde as mulheres pudessem conhecer o que produzo, o que acabou se tornando o meu trabalho. Passei então a levar a sério.” Ambas as empresárias apontam que a busca por um produto exclusivo é um dos principais fator e s q u e l e vam seus clientes a adquirirem as peças. “ To d a s as minhas clientes são muito bem informadas com relação às tendências de

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Ambos ficaram populares há alguns anos, e muitas vezes são usados como sinônimos. Segundo a designer Taiza, vintage e retrô representam conceitos diferentes, são dois estilos distintos que se inspiram no passado. Vintage é tudo aquilo que já foi usado há pelo menos duas décadas, e que ainda está em um bom estado, o suficiente para continuar sendo útil no dia a dia. Para que uma peça de roupa ou artigo de decoração seja considerado vintage, este não pode ter sofrido nenhum tipo de alteração, ou transformação. Já o retrô é o passado fazendo uma visita ao presente, desta vez com um novo olhar. “Algo que remete a determinada época, como uma roupa inspirada nos anos 60, ou uma releitura de um estilo marcante”, explica Mariana. O retrô possui inspiração vintage, mas é um elemento repaginado, muitas vezes utilizando tecnologia e acabamentos atuais, unindo nostalgia e modernidade.

moda e são superexigentes. Sabem exatamente o que querem. Muitas vezes elas procuram algo específico e eu vou atrás”, explica Mariana. Para o economista Jairo Romeu Ferracioli, além do vestuário, diversas outras áreas investem em produtos e ambientes com temática retrô, desde eletrodomésticos até decoração de ambientes. O especialista aconselha que é necessário tomar cuidado ao investir nessa área pois, em alguns casos, pode ter prazo de validade. “É necessário estar atento às mudanças de comportamento dos clientes, sempre inovando, agregando valor ao produto ou serviço. O mercado é dinâmico, está sempre em movimento”. Hoje o brechó se tornou uma opção de compra de roupas, calçados e acessórios para muitas pessoas. Mariana ressalta que o segmento se popularizou na Europa e nos Estados Unidos e está conquistando mercado no Brasil. “Em Londres, por exemplo, há muito tempo os jovens frequentam brechós, com o intuito de gastar menos e ter exclusividade nas peças. Hoje em dia existem lojas imensas com peças restauradas, catalogadas, esterilizadas. Já não existe mais aquele preconceito com roupa usada”.

Nostalgia que dá lucro

Para Jairo, muitas coisas do passado agregam valor sentimental aos olhos dos compradores, além da ideia, segundo ele verdadeira, de que as coisas antigas duravam mais. “O lançamento de algo que representa durabilidade, sentimentos e muitas vezes paixão, tem público certo. Não só os mais saudosos, mas em famílias onde se preservam valores éticos e de re-

Banco de Imagens

q u e ajudam a compor o brechó online Speaklow. A empresária Mariana Pellegrini Cordoni, fundadora do Speaklow, comenta que usa roupas de brechó desde a adolescência e chegou a trabalhar no primeiro brechó conceitualda

Cidade de São Paulo, durante a década de 90, onde teve a ideia de abrir o próprio negócio. “O meu brechó, como muitos, surgiu da ideia de passar para frente as roupas que eu não usava mais. Assim, meio sem querer, fui conquistando clientes que continuam fiéis até hoje. Fiquei viciada em garimpar”. Investir em peças e acessórios vintage e retrô foi uma aposta que deu certo também para a chilena Carolina Mattus, criado-

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lacionamentos, é de pai para filho e de avô para neto e bisneto”. A designer de moda Taiza Kaliowski concorda com a opinião do economista. “As pessoas gostam de reviver experiências, esse tipo de estilo faz com que as lembranças sejam reativadas, é uma forma de resgatar diferenciais”. Taiza afirma que os mercados retrô e vintage têm crescido expressivamente nos últimos anos e com frequência algumas empresas apostam em relançamentos. De olho neste novo mercado, marcas conceituadas resolveram reciclar alguns de seus antigos produtos. A Brastemp, inspirada na tendência vintage, lançou neste ano uma nova linha de refrigeradores e fogões com design retrô. Já a Coca-Cola relançou na Europa a “Hutchinson”, uma versão da primeira garrafa de vidro da bebida, criada em 1899, em comemoração aos seus 125 anos. De acordo com a designer, esta é uma forma de unir a identidade das marcas com o seu valor histórico, influenciada pelo aumento do interesse dos consumidores pelo design retrô. Outro fator que tem sido levado em conta é o custo-benefício dos produtos e a consciência ecológica. Mariana defende que o segmento vintage é uma forma de contribuir com o meio ambiente, diminuindo a superprodução dos produtos e, consequentemente, gerar menos lixo e poluição. “Reutilizando uma roupa já existente, ela não vai para o lixo e também diminui o consumismo. Acredito que algumas atrizes e it girls, como Dita Von Teese e Alexa Chung, que usam roupas vintage ou com estilo retrô, influenciam muito também.”

*Jornalismo, 6º período

Itajaí, outubro e novembro de 2012


Cinema Divulgação

Até que a morte - do humor nos separe

Rodrigo Ramos Divulgação

Zorra Total com menos personagens e mais frustração

Resenha - Brasil, mostra a tua cara”, já dizia o poeta Cazuza. Filmes como O Palhaço, Tropa de Elite, Cidade de Deus e Narradores de Javé são exemplos de produções que mostram do que é feito o país, exibindo a nossa identidade. Nem tudo ali é literal e condiz com a realidade, mas certamente mostra características do nosso povo. A partir da frase do ex-vocalista do Barão Vermelho, Até Que a Sorte Nos Separe pode ser analisado através de duas vertentes: a primeira seria considerar que este filme traduz o brasileiro, ou a segunda, onde questionamos por que fazemos este tipo de cinema. Partindo da primeira análise, o filme simplesmente supre as necessidades da população. Em menos de um mês em cartaz, o longa já ultrapassou a marca de dois milhões de espectadores nos cinemas. Logo, o brasileiro deve mesmo gostar deste tipo de humor. O que não me surpreende já que

Zorra Total ainda está no ar, empobrecendo cada dia mais a comédia no país. É aí mesmo que entra o dedo da Rede Globo. Até Que a Sorte Nos Separe parece um episódio prolongado de Zorra Total, só que com menos personagens e tentativas ainda mais frustrantes de atuação. O enredo traz Tino (Leandro Hassum) e Jane (Danielle Winits), um casal que ganhou na Mega Sena e, desde então, vive da ostentação. Só que depois de tanto gastar, a conta está no vermelho. Tino, então, precisa dar um jeito de colocar as contas em dia, mas revela apenas o que está acontecendo para os filhos, já que a esposa está grávida e não pode se incomodar com nada para não correr o risco de ter complicações na gravidez. O plot em si não é tão ruim. O problema é o que fazem com ele. O humor sem graça e de piadas forçadas, além de exageros em

Itajaí, outubro e novembro de 2012

suspiros, falas, bocas, olhares e gestos é o que permeia Até Que a Sorte Nos Separe. São gags fáceis, manjadas, além de apostar em alguns momentos de mau gosto. O roteiro é risível, mas de maneira oposta do que se espera. São situações tão previsíveis, atuações tão overacting, que dá vontade de levantar da cadeira e sair do cinema logo nos primeiros minutos. Mas teve gente que se divertiu e que realmente gosta disso. É a zona de conforto. Você já vai ao cinema sabendo o que esperar. Não importa se a piada tem 300 anos, se as performances são iguais às do já citado programa humorístico global, se a fórmula é a mais usada no planeta (o protagonista faz uma mancada, tenta consertar, seu par então descobre e se separa dele, fazendo com que ele tenha que fazer algo incrível – ou nem tanto – para se redimir e eles viverem felizes para sempre). Preocupa-me a noção de que Até Que a Sorte Nos Separe seja reflexo da nossa população. Por isso, vou contra esta ideia. A situação me lembrou de uma discussão que tive na faculdade em uma das aulas de Jornalismo, o que nos leva para a segunda parte da análise. Um colega meu disse que o jornalismo esportivo no Brasil cobre majoritariamente futebol porque o povo quer e a imprensa é o reflexo da sociedade. A ideia é de que se repete a mesma coisa, sem buscar inovar, porque o público quer que seja assim. Discordo da opinião. Será que o brasileiro quer mesmo só futebol? Será que se forem oferecidas outras opções aos brasileiros, eles não irão gostar tanto quanto do jogo mais popular do país? Prova disto é que durante as Olimpíadas e Paraolimpíadas,

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diversas pessoas estavam comentando nas redes sociais, interessadas nos atletas tupiniquins e nas diversas modalidades, sendo muitas delas totalmente desconhecidas da massa. Por exemplo, o MMA, esporte que atualmente é muito popular por aqui, nem sempre caiu nas graças do público. Foi uma coisa nova que, através da internet, cobertura esportiva brasileira e dos próprios canais abertos (primeiro na RedeTV e depois na Rede Globo), ganhou popularidade e hoje é um dos principais assuntos nas páginas esportivas. Não é necessário lotar o cinema com porcarias. Não é preciso só fazer esse tipo de filme porque se presume que as pessoas só gostam disso. O público também aprecia boas películas. O que falta é proporcionar oportunidades ao povo para que ele assista a mais produções como O Palhaço, e menos pro-

duções como Até Que a Sorte Nos Separe. O longa-metragem dirigido por Roberto Santucci (De Pernas Pro Ar) é classificado em sua página no site da Globo Filmes como “uma comédia de erros”. Ela é uma comédia de erros no roteiro, nas atuações, na direção… Resumindo: em tudo. Leandro Hassum e Danielle Winits estão cada vez mais irritantes a cada cena e é impossível rir ao longo dos 90 minutos de projeção. São inúmeros exageros, estereótipos sociais recorrentes em comédias de Eddie Murphy, Adam Sandler e do próprio Zorra Total, como se não tivéssemos ultrapassado essa escala evolutiva ainda. Somos melhores do que esse humor infantilizado (da pior maneira possível), repetitivo, sem graça, que cada vez mais faz o espectador pensar menos e ficar conformado com isso. Afinal de contas, é o que tem pra ver no cinema. Divulgação

Daniele Winits: gags manjadas e mau gosto

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Background: colagem de Cássia Guerra

Moda

Ética e consumo consciente: tendências em 2013

As passarelas e os estilistas ensinam que a nova ordem no mundo fashion é criar mais, descartar menos e ousar muito Suelen de Figueiredo

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primavera já nos deu boas-vindas, o horário de verão também e agora esperamos ansiosamente pela nova estação. As semanas de moda nacionais e internacionais, que ainda têm muita influência, já ditaram o que podemos esperar: tendências muito diversificadas. Os Anos Dourados têm como inspiração a beleza da mulher dos anos 50 e apresentam peças em tons pastéis, cintura alta e marcada, fendas, delineador gatinho, sapatilhas, scarpins envernizados e tudo mais que resgate o charme daquela década; o Art Déco traz todo o glamour e luxo dos anos 20 em peças metalizadas, nude, estampas geométricas, pérolas, cabelos curtos e vestidos tubulares; o esporte chic mistura roupas despojadas com detalhes sofisticados e estampas digitais desde tropicais até as de paisagens. A Diretora Executiva e fundadora do site We Fashion You, Cássia Just Guerra, aposta que os geométricos vão aparecer com força nesse verão e que o dark floral parece finalmente cair no gosto das brasileiras,“mas não aposto na mistura de padronagens como vimos em estações anteriores. As texturas ficam por conta de franjas e tecidos glossy. Acredito que os anos 20 estão influenciando fortemente essa próxima estação”. A analista de Mídias Sociais da FIP – Feira da Moda e Publicitária formada pela Universidade do Vale do Itajaí, Camila Dias, acredita que cores cítricas, detalhes em neon, calças estampadas, silhueta em forma de A e o resgate de peças esportivas para looks modernos também vêm fortes. O fundo do mar é outro hit para o verão: estamparia inspirada nos elementos marítimos; cores iridescentes, branco, prata, todos os tons de azul, verde-água, candy colors; cortes soltos que geram movimento e lembram um espelho d’água; modelos peplum, calça flare, vestidos de prega, tops, lantejoulas e corais. A ideia é misturar tendências ou combiná-las com looks básicos como calça jeans e camiseta. Nas mãos não seria diferente – a promessa é ver muita cor neutra misturada com tons neon, metálicos e brilhosos; inglesinhas feitas com renda e a pontinha em cores quentes e ombré nails (degradê de tons).

O Movimento Slow-Fashion

Não é só de tendências efêmeras que se cria moda. A busca pela

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Divulgação

é fundamental.”, destaca Cristina Streciwik, produtora de conteúdo audiovisual, sócia da empresa Ser Sustentável Com Estilo e adepta ao movimento. Cássia Guerra acredita no comportamento em si. E é adepta ao movimento até certo ponto, à medida que prefere consumir peças atemporais e de qualidade, que durarão muito mais tempo do que o modismo de uma rede de fast fashion. Mas, como em tudo na vida – ecologia, sustentabilidade, direitos dos animais – é preciso procurar um equilíbrio. “Não dá pra se tornar a louca vegetariana que quer converter todo mundo ao seu tipo de alimentação, nem mesmo uma bitolada do consumo artesanal porque é Slow Fashion. Deu pra entender? Claro que devemos diminuir bastante esse tipo de consumo exacerbado, mas não sei quanto radicalizar ao ponto de extinguir. Algumas pessoas vestem a camisa e ficam agressivas, entende? Eu quero poder ter meus delírios de consumo de vez em quando. Assim como fugir do regime e comer bacon” (risos).

Produtos do movimento

O dark floral caiu no gosto das brasileiras e está em alta no verão sustentabilidade e preservação da natureza, o comportamento consciente, o reaproveitamento e a valorização da qualidade ganham cada vez mais força, desde que o Movimento Slow-Fashion teve início em 2007, na Europa, como um estilo de vida, um apelo contra o Movimento Fast-Fashion, o consumismo exagerado e a mão de obra escrava das grandes empresas para baratear os custos. O intuito é evitar o descarte prematuro das roupas e valorizar o artesanato, as produções manufaturadas, a reciclagem. “O Slow-Fashion é mais que necessário tanto por causa da nossa vida frenética de hoje, quanto pela produção excessiva de descartes. Incentivar a produção nacional de artesanato voltada para a moda ou para as outras áreas é uma ótima maneira de valorizarmos o nosso país, nossa cultura e de fazermos algo olhando para dentro, para as nossas raízes, as quais são muito ricas e inexploradas, para assim pararmos de olhar para fora, buscando uma identidade na moda brasileira. E olhar para dentro também serve para cada indivíduo buscar o seu estilo pessoal, para que não precise renovar o guarda-roupas a cada temporada de moda que surge. Ter um estilo genuíno e pessoal

São eco bags de todos os tipos; joias produzidas com pedaços de pedras brasileiras e a técnica do crochê; sapatos confeccionados com pneu e madeira reutilizada; decoração para casas feitas com tapeçaria artística e

tecelagem manual; e acessórios desenvolvidos com restos de couro misturados com a técnica do tricô, macramê e bordado. Tons terrosos e materiais como palha, lona, papel, produtos confeccionados à mão e sapatos de salto baixo são destaques do movimento. Camila apoia todo o conceito e encontrou uma forma de evitar despesas desnecessárias: “Acho que depois daquela fase de estudante, com a grana curta, passei a aproveitar melhor minhas roupas. Para uma só peça eu consigo criar vários looks diferentes e todos dentro do meu estilo. Acredito que comprar coisas concisas com o seu estilo de vida e com o que você quer transferir como imagem pessoal é a melhor escolha.” No seu guarda-roupa, peças em corte evasê são essenciais e em tom de ironia, completa: “É até brega essa loucura que algumas meninas possuem por comprar tudo que é novo e tendência.”. A moda vai além da confecção de roupas, é uma das expressões culturais mais importantes de uma época e através dela podem-se difundir novas tendências e disseminar informações. Estar “na moda” é se preocupar com o consumo consciente, com o meio ambiente, com o artesanato, com o comércio, a reciclagem e todas as questões do desenvolvimento sustentável.

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Para ajudar o planeta

- Pensar sobre o real papel que a moda desempenha em nossas vidas, visitar brechós, reaproveitar peças e ver a roupa como um objeto atemporal e duradouro; - Preferir tecidos orgânicos e duráveis, roupas com longevidade e produção em pequena escala ; - Ter ética, pensar ecologicamente, se preocupar com o meio-ambiente e com o seu próprio futuro. - Buscar equilíbrio entre seu estilo próprio, sua essência, sem esquecer a ecologia, o meio ambiente, a sustentabilidade.

Ecológica e criativa

Cássia Guerra tem paixão pelo que faz – rasgação de seda à parte -, faz muito bem, entende de moda, faz mágica em suas redações, que sempre tem um tom poético, é organizada e está sempre em busca de inovação, principalmente seus próprios conhecimentos. Começou como hobbie juntar imagens aleatórias em um painel. Mas o resultado foi incrível, suas ideias foram compradas pelas marcas Aesthetic e Dice e agora suas colagens vão estampar t-shirts.

Até os sapatos seguem a onda da moda ambientalmente correta

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Itajaí, outubro e novembro de 2012


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