Cobaia | #105 | 2010

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Cobaia #105 | Setembro | 2010 | Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - Univali

Em favor do outro

Voluntários aderem a projetos sociais em benefício do próximo

Quer ca$ar comigo? Indústria do casamento transforma matrimônio em megaevento

Arte do palhaço conquista Itajaí

Ensaio Fotográfico | Acadêmica de Jornalismo registra neve na serra catarinense


E

dditorial itorial

As pessoas só pensam naquilo

Tempo de doar-se

Wellington Nardes wellington_nardes@yahoo.com.br

Sandro Lauri Galarça

desta edição do jornal-laboratório Cobaia tentam um movimento lateral fora das redes sociais digitais e, em contraponVivemos uma época em que valores to, para dentro da sociedade. Algumas importantes ou foram ou estão sendo observações sobre o trabalho voluntário, corrompidos. Expomos nossa vida para um texto sobre uma instituição filantróo mundo inteiro nas redes sociais, mas pica, uma pauta sobre uma organização exigimos privacidade dentro de nosso não-governamental, uma história de alapartamento. Época de contradições, de guém que faz a diferença na comunidaincertezas, de efemeridade. O que busca de. E aí começa a surgir um jornal que, o sujeito pós-moderno senão sua autoa- dentre tantas reportagens, oferece espafirmação, às custas de uma vida muitas ço para pessoas que ajudam pessoas. A vezes vazia e sem sentido? Qual a razão vida começa a fazer sentido quando codo acúmulo de riquezas quando milha- nhecemos melhor a sociedade e quando res de pessoas morrem de fome, sede, fazemos parte dela efetivamente. falta de vacinas simples como a malária? Assim, apresentamos nesta edição Por que tantas imagens e quase nenhu- uma reportagem sobre um projeto reama impressão? lizado por voluntários da região do Vale Jean-François do Itajaí que irá doar Lyotard, em O Pós roupas para asilos de Moderno e tamItajaí e Brusque, por bém em Condiexemplo. A distribuição Pós-Moderna ção voluntária de preNa era dos valores discute o tempo servativos ganha nodigitais e líquidos, amor vas cores em um texto em que a modere respeito nos parecem descritivo e impresnidade é líquida e tudo o que é sóli- cada vez mais demodée sionista, assim como do dissolve-se no a educação ambiental ar. Merleau-Ponty no zoológico de Balnos ensina que o neário Camboriú mossujeito só existe tra que sabemos muito enquanto discurpouco da natureza, o so, nunca como algo acabado. Pierre suficiente para a degradarmos mais do Lévy acredita firmemente que as novas que cuidamos dela. tecnologias democratizam o ensino, o Assim, pelas páginas desta edição do conhecimento, a inteligência coletiva. jornal Cobaia, descobrimos mais sobre De modo prático, efetivamente, pouco o trabalho voluntário, sobre o potencial se faz pela população à margem de todo transformador que temos na sociedade esse desenvolvimento, de todas essas re- e o poder de disseminação que o jordes sociais que mudam nosso dia-a-dia. nalismo pode ter, uma vez que vire seu No meio de tanta contradição e de ângulo de abordagem para temas menos tanta dúvida sobre quem somos enquan- factuais e mais cotidianos, sempre por to sujeitos e como podemos contribuir um olhar insuspeitado, uma narrativa com a sociedade da qual fazemos parte, mais comprometida. Na era dos valores torna-se imprescindível voltar o olhar digitais e líquidos, amor e respeito nos para o outro. Boa parte das reportagens parecem cada vez mais demodée. sandro.galarca@univali.br

Cobaia Editor Sandro Lauri Galarça Reg. Prof. 8357 MTb/RS Projeto Gráfico/Capa Sandro Lauri Galarça Estagiário Rafael Huppes Piassini Foto da capa Rafael Huppes Piassini Fotografia Cibele Córdova

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UNIVALI

Participaram desta Edição Ana Carolina Maykot, Barbara Damasio, Camila Gonçalves, Carla Maria Querobim Milani, Clara Rosalia da Silva, Fabieli Kehl, Felipe Conrad, Fernanda Beltrand, Gabriela Aurich, Keli Wolinger, Larissa Guerra, Natália Alcãntara, Ricardo Zanon, Wellington Nardes.

Cinéfilos diagnosticados convergem as córneas à projeção da imagem nos quase cinqüenta metros quadrados horizontalmente distribuídos. Perfilados lado a lado nas mais de trezentas poltronas, seguram nas mãos os tradicionais pacotes de pipoca e copos de refrigerante. Recomendações comuns e corriqueiras dadas, apagamse as luzes de segurança e a sessão inicia. Vício dessa vez alimentado que se acentua quando se ouvem notícias de novas produções cinematográficas em cartaz. Sessão esgotada como todas as outras cinco ao longo do dia e os promotores de evento do shopping põem-se a contabilizar a arrecadação recorde. São mais de vinte e cinco mil reais de viciados assistindo à série “Arquivo-X”, protagonizada por David Duchonvy e aprovada pelo público e pela crítica. Onde há justificativa plausível para o sucesso da série? O ator norte-americano interpreta um sexólatra que pensa em pornografia vinte e quatro horas por dia. A sexolatria é uma patologia de viciados compulsivos por sexo. Uma legião de viciados. Um distúrbio psiquiátrico que causa dependência excessiva de praticar relações sexuais. A abstinência causa entre outras doenças, a depressão. Não bastasse o papel nas telas de cinema, os cinéfilos souberam que Duchovny de quarenta e oito anos apenas interpreta um dilema antigo, de quase onze anos, na sua vida. Voluntariamente ou não, esteve mais de mês na clínica de reabilitação “The Meadows” no Arizona(EUA) pressionado pela esposa, a atriz Tea Leoni que ameaçou recorrer ao divórcio caso não procurasse ajuda para conter esses estímulos sexuais. Há uma justificativa. Identificam-se com o personagem. Sim, porque noventa e nove por cento dos pobres terráqueos vivem as suas vinte e quatro horas do dia nas mesmas condições do ator. É óbvio, e talvez com intensidade ainda maior. Ou você leitor pretende julgar minhas palavras como calúnia ou heresia? Heresia porque sexolatria é pecado. O quotidiano não permite porque se pudessem homens e mulheres, ou homens e homens, ou mulheres e mulheres, sejam quais forem os formatos poriam as roupas abaixo vivenciando eternos orgasmos múltiplos ao ponto da exaustão física, da troca, entrega e doação mútuas em instantes de delírio numa explosão de calor, de prazer e do líquido pastoso e esbran-

quiçado. Um êxtase sem escrúpulos até que ambos os corpos, ou mais que apenas ambos, sejam consumidos pelo odor, sem cor, sem forma, sem nada, aliás, literalmente sem nada e que isso evapore como se não houvesse ocorrido coisa alguma propiciando o reinício num ritmo constante e eterno. A afetividade entre os terráqueos apenas existe entre pais e filhos, e padrinhos e afilhados, porque as demais relações apenas coexistem para que pratiquem o instinto selvagem herdado de nossos ancestrais, instaurando a cultura da pornografia desenfreada, patrocinada e incentivada pela publicidade nos mais diversos veículos de comunicação de massa que atendem aos interesses mercadológicos sem ética e estética e promove a pornografia no patamar de terceiro negócio mais lucrativo do mundo. Coexiste como pupilos da serotonina, dopamina e noradrenalina, substâncias neurotransmissoras do cérebro que conduzem uma célula nervosa ou neurônio para outra e geram um sentimento inigualável e inenarrável de satisfação. Mesmo numa poltrona confortável, meditando com meus próprios parafusos, degustando aquela pipoca entre os dentes e aquelas cócegas do gás do refrigerante, impunha com os choques dos meus neurônios uma revolta descomunal contra o sexo. Toda anedota que ouço envolve sexo. Como se não houvesse piadas engraçadas sem que o citasse. Todo garoto de quinze anos acessa sites de sexo. E culpa os malditos hormônios pelos incontroláveis desejos. Todo adulto que se preze põe na ponta do lápis a tabelinha que o indica quando praticar sexo. E espera ansiosamente por esse dia. As pessoas só pensam nisso. É uma mulher que passa e o homem, ou outra mulher, deseja têla na cama. É um homem que passa e a mulher, ou outro homem, deseja tê-lo na cama. O sexo não é como lavar as mãos, uma prática diária. Sexo é como reveillon, uma prática anual. Que exista menos adultério, menos casamentos prejudicados e menos relações jogadas ao vento por causa de um vício prazeroso de pouco mais de cinco segundos. Sem moralismo farisaico e impiedoso conselho antissatânico lanço sete pacotes de pipoca e cinco copos de refrigerante que escondi abaixo da poltrona sobre a platéia, corro a mais de cem por hora do shopping e sou algemado pelos seguranças. Os civis punham meus pobres cinqüenta e seis quilos atrás das grades como mártir da sociedade moderna ou deslocam os mesmos quilos à sexta sepultura do cemitério municipal junto de outros restos mortais de insanos como eu.


Fotos: Natália Alcântara

Mãos que ajudam

Projeto realizado por voluntários da região do Vale do Itajaí irá doar 120 cachecóis para asilos de Itajaí e Brusque

Natália Alcântara natchiii@hotmail.com

Angela Samagaia trabalha com rapidez a agulha de crochê. Uma laçada aqui, um novo ponto ali. Para quem não sabe como transformar um novelo de lã em cachecol fica maravilhado com sua habilidade. Quem entende do assunto, pode achar que a maneira com que a agulha está sendo manuseada é diferente. Independente do jeito de fazer, o simples novelo ganha a forma de um lindo cachecol. Se você reparar bem os cinco cachecóis confeccionados em dois meses, fica difícil de imaginar que ela não fazia ideia de como fazer o novelo ganhar forma e que chegou até a quebrar uma agulha. Até acertar os pontos, e começar a pegar o jeito, foi complicado. “Eu chorava bastante, passei uma semana chorando. Volta e meia eu olhava para o cachecol e ficava brava”, conta Angela. A preocupação em fazer um excelente trabalho fez com que algumas vezes ela desmanchasse o que já tinha sido feito, para que ficassem certinhos os pontos. Esse perfeccionismo não é à toa. Os cachecóis produzidos foram feitos para aquecer pessoas muito especiais, por isso o capricho na produção e nas cores. No mesmo período em que Angela trabalhava com seus novelos, Priscila Cristina Quadros também estava confeccionando cachecóis, apesar de não ter muito tempo. “Com o trabalho de diarista acabou ficando sem tempo” — mas ela não deixou isso ser uma desculpa — “enquanto assistia a um filme, conversava com a família, ou no momento de folga, era sobrar um tempinho que eu já pegava a agulha e o novelo, e mãos à obra”. Aos 15 anos, Jussemara Amaral Pereira fez o seu primeiro cachecol e parou por aí. Agora com

31 anos, voltou a fazer cachecol. “Eu tive que relembrar como se fazia os pontos, no começo foi difícil, mas depois foi muito gostoso". O interessante de fazer trabalhos manuais é que eles servem como uma terapia, e ensinam a ter paciência. Além de lãs e agulhas, o que é comum para essas três mulheres é a participação no programa “Mãos Que Ajudam”. Esse programa de voluntariado é realizado anualmente pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como Igreja dos Mórmons. No dia 24 de julho, 115 mil voluntários, entre membros e amigos da Igreja, irão participar de alguma ação voltada para o bem-estar da comunidade. Em Santa Catarina, o projeto irá beneficiar as pessoas da terceira idade, ao produzir cachecóis e meias para serem entregues em asilos. Na região do Vale do Itajaí, estão participando com a confecção de cachecóis cerca de 200 membros da Igreja, e a meta é produzir cerca de 120 cachecóis para serem doados para os asilos Dom Bosco de Itajaí e Azambuja de Brusque. Cerca de 80% dos cachecóis já estão prontos para serem entregues há um pouco menos de um mês da data de entrega. “Queremos que a comunidade aprenda que nossas ações devem ser maiores do que as nossas palavras,” comenta o diretor de Assuntos Públicos da Igreja no Vale do Itajaí. É justamente o que Angela, Priscila e Jussemara aprenderam. “Eu sou muito estressada, mas determinada também — comenta Angela rindo — por isso queria que ficasse muito bonito. Mesmo que significasse que eu teria que desmanchar várias vezes e começar desde o início”. Para Priscila a dificuldade era diferente “as pessoas diziam que os cachecóis tinham que ser de tricô, e eu só sabia fazer de

crochê. Apesar disso não fiquei chateada, fiz assim mesmo. O importante era que eu iria participar, e o melhor, ia deixar um pescoço quentinho”. As qualidades adquiridas através desse trabalho, agora fazem parte do cotidiano de Jussemara. “Coisas como concentração, paciência e amor é o que ficou marcado em mim e nas outras mulheres que se reuniram para fazer os cachecóis. Uma aprendeu com a outra”. “Cada pessoa que fez o cachecol, fez pensando naquele idoso que iria receber. Além do amor, foi doado tempo, talento e até mesmo dinheiro”, explica Timóteo. Cada membro ao ser responsabilizado pela produção teve que comprar com seu dinheiro e produzir artesanalmente cada cachecol. “A intenção não era de padronizar os cachecóis, se fosse assim, poderíamos comprar todos em um lugar só. O objetivo maior é fazer com que as pessoas aprendam que sempre ganha mais àquele que dá do que o que recebe”.

Saiba mais sobre o projeto Criado desde 1999, “Mãos Que Ajudam” é um programa mundial de ajuda humanitária e serviço comunitário que visa melhorar a vida da comunidade conforme a necessidade de cada região. No Brasil, são realizadas duas ações por ano que acontecem simultaneamente em todo o país envolvendo voluntários mórmons e amigos da Igreja. Cada ocasião é um projeto diferente. No início do ano, procura-se atender alguma necessidade estadual, já no segundo semestre, ocorre à ação nacional geralmente programada em um feriado ou sábado, para que mais pessoas possam participar. Os voluntários já trabalharam em projetos como limpeza de praças, praias e parques, reforma de escolas públicas, doação de

sangue, combate a dengue, doação de kits para bebês, alimentos armazenados, e projetos que envolvam a terceira idade. Não há limite de idade e nem de participantes, quanto mais pessoas melhor. Se você gostou da ideia e quer participar do projeto, mas é de outra religião ou tem outras crenças, fique tranqüilo. Não há restrições com relação à crença, instituição ou entidade que o voluntário seja filiado, assim qualquer um pode participar. O importante é que tenha o propósito de contribuir para o benefício do outro, principalmente aqueles que estão em asilos, orfanatos, escolas públicas e hospitais. Durante a realização do projeto não há distribuição de panfletos ou qualquer material explicativo da doutrina da igreja.


http://pmvc.com.br/

Quem ama cuida Voluntários distribuem preservativos na Universidade e pregam conscientização

Larissa Guerra larissaguerra@uol.com.br

Véspera de dia dos namorados. Os corredores da Univali pouco lembram os caóticos dias do começo do semestre. Chove sem parar, é uma sexta-feira insossa, que só significa alguma coisa para os casais que planejam o que fazer para comemorar o dia seguinte. Na sala 3 da Biblioteca Central, cerca de 40 estudantes observam com ansiedade as explicações de outros três alunos sobre a atividade da noite. Podem conhecer bem da prática, mas é possível perceber certo pudor ao escutar alguém discorrendo sobre a teoria. O responsável pela pequena palestra explica que eles terão que se dividir em grupos. Os que se conhecem logo trocam olhares de concordância, outros procuram alguém para não sobrar no final. Ele segue dizendo, enquanto a chuva aumenta, que os alunos distribuirão kits com oito camisinhas, um sachê de gel lubrificante, um guia, uma pequena agenda e um pirulito para as mulheres. Aos homens, convém dar apenas uma camisinha ao invés das três planejadas anteriormente, porque a ação precisa se es-

tender até às 22h30min. Além disso, frisa o palestrante que há diversos folhetos explicativos com o logo do Ministério da Saúde para distribuir ao público. Nos assuntos selecionados, hepatite e AIDS. Como em matéria de sexo, a prática revela-se mais importante do que a teoria, o estudante de Direito Celso Antônio de Souza Dias Júnior aproveita e conta aos alunos que a Secretaria Municipal de Saúde deu um curso bem mais completo para os voluntários que trabalharam durante o dia no centro itajaiense. Mas, para que ninguém saia perdendo, ele precisa mostrar quais os procedimentos necessários para ter sucesso no uso da camisinha masculina. Enquanto abre o pacote, Celso segue explicando que “não pode abrir com os dentes nem com tesoura”. Atrapalha-se para abri-lo somente com as mãos e ouve-se um garoto ironizar que: - Você não deve usar muito. Impossível não rir. Sem parecer importar-se com os comentários, quando finalmente consegue abrir a embalagem gagueja três vezes para falar “ejaculação”. A sala toda ri de novo, quebrando o nervosismo que pesava no ambiente. Celso lamenta não ter ali disponível uma camisinha feminina. Mas, com o que aprendeu

no curso da Secretaria de Saúde, ele a descreve aos presentes como “um troço bem esquisito, é grande e parece mais com um coador”. - Tem que fazer tipo um oito nela, aí coloca no canal. O que eu achei impressionante é que a mulher pode colocar a camisinha até oito horas antes. Também porque ela vai ter que se acostumar com esse troço lá dentro.

Ranking macabro Divididas as equipes, todos partem para os pontos determinados pela organização: Lanchonete do Pedro, Banco Santander, Biblioteca, Tentação do Mate e Bloco 25A. Trabalhando com Celso, a acadêmica de Comércio Exterior Andressa Caroline Fialkosky parte com uma turma para o espaço próximo à agência bancária. Todos os voluntários da noite são bolsistas do Artigo 170, programa do governo do estado que concede bolsas semestrais de 30% ou 50% aos universitários economicamente carentes. A contrapartida à sociedade é feita com 20h de serviços voluntários, que desde o ano passado precisam ser feitos em programas de extensão da própria universidade. A campanha criada pela SeLarissa Guerra

O Voluntário Próximo à lanchonete do Pedro, Celso trabalha com outro grupo. Demonstra bem mais animação que o resto dos estudantes. São quase oito da noite e os corredores estão vazios, dando pouco serviço à turma. Celso não recebe bolsa do Artigo 170, mas sim do Prouni. Cursando o quinto período de Direito, saiu de Pernambuco para viver em Itajaí porque “no Sul tem bem mais oportunidades para a minha área do que lá”. A ação do dia dos namorados da Secretaria da Saúde acabou tendo adesão do grupo Paideia, formado por alunos e professores dos Centro de Ciências Sociais e Jurídicas (Cejurps) e do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão (Ceciesa).

Atualmente, Celso dedicase apenas à universidade. Atua como voluntário do grupo quando não está na sala de aula. Por isso, a chuva preocupa um pouco. No domingo, há outra ação programada pelo grupo. Desta vez, vão plantar mudas no Parque da Atalaia. Aluna do primeiro período de Administração, Amanda Boeira de Amorim anima-se com a próxima atividade. Tem os gestos ágeis e a fala rápida, parece sempre inquieta. Uma amiga telefona com insistência, quer que ela o acompanhe para viajar para a cidade natal das duas. Mas, como tem pressa em validar suas horas, diz que vai domingo, deixando Celso confiante com o trabalho que estão desenvolvendo.

Os voluntários logo perdem a timidez e preferem levar o serviço com a descontração típica de quem quer aproveitar a vida. Os calouros de Comércio Exterior, Israel Coelho e Rafael Gonçalves preferiram atuar em dupla e andam com camisinhas e uma prancheta – já que à pedido da secretaria é para pegar os dados principais das pessoas que receberam os preservativos. Os dois possuem namoradas, e avaliam a ação como “bem legal”. “É uma coisa atual, que está no cotidiano dos jovens”, explica Israel. Dos jovens pode até ser, porque dos mais velhos, que passam torcendo o nariz para os voluntários, questões de sexualidade parecem ter sido deixadas de lado há tempos.

cretaria Municipal da Saúde de Itajaí tem como mote o dia 12 de junho para atuar na conscientização da comunidade para o uso do preservativo para evitar o contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Conforme Celso explica, Itajaí possui a quarta colocação num macabro ranking das cidades catarinenses com maior número de soropositivos. Ele pede aos acadêmicos que frisem bastante esta informação, “para que ele entenda a importância de se cuidar”. Andressa acompanha outros sete alunos na distribuição dos preservativos. De longe, quem mais se sai bem na atividade é Daniel Mohr, que cursa Comércio Exterior. Sem nenhuma modéstia, diz que trabalhava na parte de divulgação de uma empresa e que também “já fiz tanto dessas campanhas...”. Apesar de ser um recordista no número de distribuições, Daniel parece nem lembrar da orientação de que o kit deveria ser entregue apenas às mulheres. O professor de Jornalismo Magru Floriano passa pelo corredor e o rapaz, empolgado, oferece um pacote para ele. De bom grado, o professor aceita e segue seu caminho.


Cachoeiras são pontos turísticos no Vale do Itajaí Ecoturismo e turismo de aventura são modalidades que crescem no cenário catarinense Camila Gonçalves camilagoncalves@univali.br

Clara Rosália clara.silva@univali.br

A correnteza leva a água ao abismo, uma queda de 63 metros. Quem segue a trilha, mal consegue ver o céu entre a copa das árvores. O ar gelado, o cheiro da vegetação e o barulhinho de água corrente completam as sensações de quem caminha ao encontro da cachoeira Véu da Noiva, no município catarinense de Doutor Pedrinho. Esta é apenas uma das tantas quedas d’água consideradas pontos turísticos no Vale do Itajaí. Santa Catarina é um destino forte em ecoturismo. Este turismo especializado, com trilhas e aventuras, ainda é visto como de elite para o padrão econômico da maioria dos brasileiros. As cachoeiras fazem parte deste filão de mercado. Uma forma mais barata de aproveitar estes destinos é a visitação somente para admirar a beleza natural através de trilhas de fácil acesso. Dona Abenaína Bonatti Martins, de 55 anos, pela primeira vez visitou uma cachoeira. “Parece uma paisagem de filme. Só tinha visto em filme ou em folhinha”, comenta ao pé da cachoeira Véu da Noiva. Na cidade de Osasco, em São Paulo,

onde mora, as belezas naturais são escassas. Visitar cachoeiras já virou comum para a sobrinha Valdinéia Farias, de 31 anos. Valdinéia mora em Timbó e levou a tia para o mesmo roteiro que faz de três a quatro vezes por ano. As duas foram acompanhadas de outros 11 parentes, entre filhos, sobrinhos, cunhados e cunhadas. Família de ascendência italiana, não dispensa um lanche. A caixa de isopor mantém aquecido os salgadinhos. Para beber, refrigerante, chá e café. Depois do piquenique, o cuidado é para manter o local limpo, sem vestígios da farofada ecológica.

Camila Gonçalves

Preservação O geólogo Renato Mânica explica que a vegetação em torno do rio é essencial à preservação das cachoeiras. Por isso, é tão importante a colaboração dos turistas. Consciência ambiental é uma das bases do turismo ecológico. O consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí, um grupo de nove cidades, promove o ecoturismo local. De acordo com o assessor Alexandre Gomes, o consórcio trabalha para incentivar a educação ambiental com a elaboração de um circuito com nove pontos turísticos para a observação da fauna e da flora. O público alvo são os estudantes. Alexandre conta que há turistas aficionados em cachoeiras. “Já apareceram argentinos só para bater fotos em cachoeiras acima de 50 metros”.

Clara Rosália

Camila Gonçalves

Aventura

Camila Gonçalves

O perfil médio dos que procuram cachoeiras para praticar o turismo de aventura são pessoas entre 18 e 35 anos, segundo o gerente operacional da agência de turismo ecológico Ativa Rafting e Aventura, Rafael Ciquella. A “Ativa” trabalha, além de outras modalidades, com o rappel em cachoeiras, nos municípios de Apiúna, Benedito Novo, Doutor Pedrinho e Presidente Getúlio. Dos 4 mil turistas por temporada, 20% preferem conhecer e praticar o turismo de aventura em cachoeiras da região. Para Rafael

Ciquella, este número ainda é pequeno e as atividades relacionadas ao ecoturismo poderiam ser mais divulgadas. O Professor Doutor do curso de turismo e hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Paulo dos Santos Pires, também concorda que o ecoturismo é pouco trabalhado no Estado. “Ainda é uma atividade de pequena escala (...) é uma divulgação genérica”. O professor lembra que o turismo de aventura é caro por necessitar de equipamentos e supervisão espe-

cializada. Por outro lado, a divulgação de pontos turísticos naturais ajudaria a alavancar este mercado. Segundo Pires, o ecoturismo só será popular com o aumento da renda do brasileiro. Na contramão do ecoturismo de aventura está Dona Abenaína e a família Bonatti, que com pouco dinheiro, criatividade e respeito ao meio ambiente, aproveitam a natureza. É bom lembrar que passeios sem supervisão especializada devem somente serem feitos em lugares de fácil acesso.


http://fitnessouterbanks.com/

Além de transformar atletas em verdadeiros gladiadores, Vale Tudo também transforma a consciência Fabieli Kehl fabynhaaak@hotmail.com]

Parece incrível, mas na luta de Vale Tudo, nem tudo vale. Há regras, por isso hoje o Vale Tudo é mais conhecido como Mixed Martial Arts, uma junção de artes marciais em que os lutadores não precisam seguir um estilo específico de luta. Os lutadores treinam variadas modalidades, e dentro do octógono, ringue de luta, mostram toda a sua habilidade de anos de treinamento. Os adeptos ao esporte podem assistir a um espetáculo de golpes violentos, em que se misturam o boxe, jiu-jítsu, caratê, judô, muay thay, entre outras modalidades. É considerado um bom lutador aquele que domina os principais golpes e sabe aplicá-los no momento certo. Para o empresário e professor de artes marciais, Franklin Jansen, de 35 anos, a concentração é uma das maiores armas na hora de uma luta. “Quando eu entro no octógono, a emoção é indescritível, mas se não houver uma concentração antecipada, o show não acontece”. Franklin Jansen é praticante de artes marciais desde a adolescência, mas aos sete anos teve que enfrentar o pai para seguir seu sonho, pois não recebeu o apoio necessário. “Meu pai era muito retrógrado e achava que ser lutador não era o correto, ele nunca me incentivou”. Arrumou um emprego para pagar as aulas de taekondô aos 15 anos. Hoje, Jansen dá várias aulas de artes marciais na academia Company em Balneário Camboriú, além de participar de diversos campeonatos e ter ganhado inúmeros títulos. No tempo em que fazia taekondô, Franklin já foi campeão sulbrasileiro, sulamericano, catarinense e parana-

ense. No jiu-jítsu ficou em quarto lugar em um campeonato mundial, cinco vezes campeão sulbrasileiro e cinco vezes campeão catarinense. No Vale Tudo, Franklin conquistou sete títulos, o último foi no dia 15 de maio desde ano, na quinta edição do Nitrix Champion Figth, em Balneário Camboriú. Já deu aulas fora do país, foi convidado para dar aulas no Chile e agora se prepara para voltar à Inglaterra novamente. A maioria dos lutadores sempre busca inspiração em outros atletas para começar a pratica do esporte. Franklin começou a lutar jiu-jítsu quando conheceu o trabalho de Roice Gracie. Para quem não sabe, Gracie é a maior família de lutadores brasileiros, originários de Belém do Pará. No final da década de 1990, atingiram grande público com os campeonatos de Vale Tudo e depois ficaram conhecidos pelos campeonatos de MMA, onde vários integrantes foram campeões. O MMA tem como finalidade o desenvolvimento físico e psicológico do homem, assim como prepará-lo para a defesa própria a qualquer tipo de agressão. Trabalha muito com a confiança e a auto-estima de cada competidor. Para o professor, o medo na hora de cada luta é inevitável. “O cara que diz que não sente medo está mentindo, pois o medo é inerente ao ser humano. Todo mundo tem medo, medo de morrer, medo de se machucar. Se não houver o medo, não tem graça a luta”. A diferença entre as pessoas que lutam ou fazem esportes radicais é a forma como cada um encara seus medos. “Você precisa encarar e transformá-lo em uma coisa boa, porque se o atleta sente medo demais, ele tende a ficar muito estressado antes da luta, e isso acaba deixando-o mais fraco”. As pessoas que não conhecem o esporte ou nunca praticaram se perguntam

o que os atletas sentem quando entram no octógono e encaram seu adversário. Franklin Jansen diz que na hora ele não pensa em nada de mal. Apenas tenta fazer o melhor da sua luta, colocando em prática o que ele treinou com perfeição para que as pessoas que estão assistindo, observem um grande show e não apenas uma briga sangrenta. “Meu objetivo apenas é ser melhor do que o meu adversário naquela hora. Quero mostrar a minha superioridade, pois não tenho nada contra ele. Quando a luta termina, ele é mais um amigo, um colega que eu adquiri nesses anos de trabalho”. Ele completa que muitas vezes, os atletas tendem a buscar uma raiva momentânea, apenas para explodir na hora da luta, para conseguir trazer mais emoção para o público que está assistindo.

Artes Marciais como projeto social Para muitas pessoas, a prática do esporte requer uma condição financeira para custear as aulas e os equipamentos. Mas hoje em dia, já existem projetos sociais que possibilitam um numero maior de praticantes em todo o Brasil. Rafael da Silva Costa, mais conhecido como Morcego, tem 25 anos e pratica artes marciais há 13 anos. Começou desde muito novo através da capoeira, kick boxe, jiu-jítsu, muay thay e hoje treina há dois anos o Vale Tudo, em que possui sete lutas e conquistou cinco vitórias, a última também na quinta edição do Nitrix Champion Fight, dia 15 de maio em Balneário Camboriú. Além de ser um lutador profissional, Morcego criou um projeto social em Camboriú onde reside com sua família. O projeto ini-

Para começar no esporte Franklin Jansen indica para quem quer começar a praticar artes marciais, principalmente crianças, que procurem uma luta que não seja tão real como o Vale Tudo, mas que tenha uma filosofia e disciplina, pois a luta pode interferir muito na educação. “As lutas mais próximas ao real são indicadas a partir dos 10, 11 anos”. Judô, taekondô e caratê são lutas que ele indicaria para as crianças que buscam começar a praticar. Depois, se ela realmente quiser continuar, ele indica jiu-jítsu e muay thay que são mais agressivas e darão mais apoio para a formação dessa criança, para de repente, se transformar em um lutador no futuro. Para os adultos, depende muito do objetivo de cada pessoa, se ela busca uma satisfação pessoal qualquer luta vai ser indicada. Mas se o objetivo for chegar mais perto da realidade, ele indica também o jiujítsu, muay thay, o boxe, que são lutas que vão gerar um bom conhecimento.

ciou há sete meses, com sua primeira turma formada por adultos, com aulas gratuitas para as pessoas carentes. Com o tempo, as crianças começaram a assistir às aulas a participar junto com os adultos. “A partir desse momento, eu percebi que estava na hora de formar uma turma com as crianças”, disse ele. O projeto ainda não foi batizado. Em se tratando da luta, quando entra em um octógono, Morcego sente uma satisfação enorme, mas logo depois um nervosismo. Ele diz que o apoio da família e da plateia é fundamental na hora em que ele está disputando uma competição. “Quando eu vou lutar, procuro levar uma turma grande para torcer, consigo ingressos com o objetivo de lotar o espaço e conseguir um apoio maior na hora da competição”. Quanto ao treinamento de um lutador, Morcego não mede palavras para dizer que é um processo sofrido. “A gente tem que baixar peso, treinar de segunda a segunda. A gente treina como se fosse a última luta na vida”. Morcego não tem outra profissão e diz que pode sobreviver apenas da luta. “Não é que a gente viva com luxos, mas dá pra se sustentar como qualquer outra profissão”.

http:// agraymaynard.com


Zoológico de BC incentiva educação ambiental Contato com animais proporciona desenvolvimento de diversos trabalhos educativos Fernanda Beltrand fervernet@gmail.com

Localizado às margens da BR 101, no Km 137, o “Museu Parque Cyro Gevaerd”, mais conhecido como zoológico da Santur, é mantido pelo ICCO – Instituto Catarinense de Conservação da Fauna e Flora, uma entidade que tem a finalidade de trabalhar pela proteção, conservação e recuperação do meio ambiente. O parque Cyro Gevaerd é um dos mais completos do estado. Além de diversas espécies de plantas em uma área que abrange 40 mil metros quadrados. Possui cerca de 1200 animais entre aves, répteis e mamíferos distribuídos em um áquario, museus, mini-cidade, e mini-fazenda. O zoológico possui 22 funcionários, sendo que 15 são contratos pelo Governo do Estado e estão à disposição do Instituto. O ICCO se mantém através da bilheteria do zoológico e de um convênio com a Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú, cujo projeto de lei foi sancionado pelo prefeito de Balneário Camboriú, Edson Renato Dias, no último dia 12 de julho de 2010. O zoológico é um espaço im-

portante para o aprendizado sobre o meio ambiente. O contato com diversas espécies de animais vem possibilitando o desenvolvimento de diversos trabalhos educativos, como o programa de Educação Ambiental, desenvolvido pelo zoológico. Segundo a bióloga Márcia Achutti, o programa Escola no Zoo tem como objetivo principal a mostrar a importância da preservação da natureza e estimular o aprendizado e possibilitar aos alunos visitantes o conhecimento das particularidades de cada espécies. As visitas podem acontecer de Segunda à Sextafeira, com agendamento prévio. O programa “Me Adote” é também mais um incentivo para que além de visitar o zoológico, as pessoas ainda possam adotar um animal de sua escolha, por um valor mensal ou anual, estipulado pelo zoo, que cobrirá as despesas e ajudará a manter os animais saudáveis e cooperando para o bom funcionamento do parque. Para participar deste programa, a pessoa interessada ou a empresa pode consultar uma listagem no site (www.zoobalneariocamboriu. com.br) e preencher o formulário. A pessoa que contribuir terá seu nome destacado no rodapé das placas de identificação padronizadas no zoológico.

Fotos: Rafael Huppes Piassini

ZOOLÓGICO CYRO GEVAERD Horário de Funcionamento: 09h às 17h30 min Adulto: R$ 6,00 Criança de 6 a 12 anos: R$ 3,00 Menores de 05 anos acompanhados dos pais: isento Idosos (pessoas com idade ou superior a 60 anos): R$ 3,00 Fernanda Beltrand


Espe Fotos: Cibele Córdova

Diga sim para mim O casamento não saiu de moda, resiste ao tempo e se tornou um megaevento Bárbara Damásio badamasio@hotmail.com

“Então case-se comigo numa noite de luar, ou na manhã de um domingo à beira mar... diga sim pra mim...case-se comigo na igreja e no papel, vestido branco com buquê, lua de mel, diga sim pra mim...”.

A música “Diga sim pra mim” da cantora Isabela Taviani é o novo hit dos casamentos e descreve uma das mais antigas instituições, que ao contrário do que muitos pensam, não está falida. Véu, grinalda, músicos, jantar, fotógrafos, flores, padre, juiz, bolo, docinhos, vestido... são tantos detalhes que compõem um casamento, que é preciso contratar um especialista pra cuidar de tudo. O matrimônio, anos atrás, era visto como uma forma de sair da casa dos pais, principalmente para as mulheres. Casar significava ter um pouco mais de liberdade. Hoje, o namoro tem durado anos, casa-se cada vez mais tarde, projetos pessoais, como estudo e trabalho estão à frente do tradicional felizes para sempre. Mas a verdade é que o casamento não saiu de moda, se renovou e se transformou num grande evento. O mercado é

enorme e profissionais das mais diversas áreas se especializam para trabalhar exclusivamente com casamentos. É o caso de Silmara Schaat, proprietária da produtora Sposare Eventos de Itajaí. Ela e sua equipe contratam profissionais, organizam listas de presentes, confirmação de convidados, decoração. “Comecei a trabalhar com casamentos a princípio como uma renda extra, hoje vivo integralmente da produção de cerimônias e recepções, meu cunhado é fotógrafo e isso ajudou a me inserir nesse mercado que é cada vez mais competitivo. Para algumas pessoas, casar não é mesmo prioridade ou garantia de felicidade. Michele Vargas, estudante de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, acredita que nem todo mundo nasce pra casar. “Não acredito que o casamento seja primordial na vida de alguém, há tanto o que se fa-

zer antes de casar e ter filhos. Minha profissão está à frente, estou me formando e quero buscar meu lugar no mercado de trabalho- não posso colocar minha felicidade nas mãos de alguém, sou feliz só. E acho que sou do tipo que não nasci pra casar”. Mimo Bastos é advogado, mas sempre esteve envolvido com música. Toca violão, canta e fundou o Trio Brasil junto com o músico Sérgio Espezim. Nos anos de 2002 e 2003, nos finais de semana, eles chegavam a tocar em três eventos por dia. Depois o grupo se desfez, e Mimo investiu em equipamento e pesquisa de repertório e se tornou DJ de casamento. “Paralelo ao meu trabalho como advogado, tenho trabalhado muito como DJ. Une uma coisa que eu gosto muito de fazer e é também lucrativa. Aproveitei os contatos que eu tinha com o Trio Brasil e já há 5 anos trabalho com casamentos


ecial Quanto pode custar um casamento? Tabela realizada com orçamento de profissionais da região do vale do Itajaí, pensando num casamento para mais ou menos 200 convidados:

Cerimonial: mil reais Decoração: 6 mil reais

Aluguel do salão: 2 mil reais

Buffet: 7 mil reais 35 reais por pessoa Músicos (cerimônia): mil reais Banda: 7 mil reais Bolo: 500 reais Docinhos: mil reais

e outros eventos também, mas casamento é o que mais aparece.” Mimo é um típico solteiro daqueles que fogem do altar. Tem 38 anos e ainda mora com os pais. “Meu nome é Márcio, meu apelido é Mimo (nome artístico), sou filho único e meus amigos começaram a me chamar de Mimo por conta da minha mãe, que sempre cuidou de mim. (risos). A verdade é que aqui em casa, tenho tudo que preciso, e além do mais casar custa caro, né? Um casamento com alguns detalhes tá custando mais ou menos 30 mil reais”. Já Heitor e Ana Paula casaram recentemente. Fizeram uma cerimônia intima, com apenas 35 convidados, na igrejinha do bairro de Cabeçudas, às 11 da manhã do dia 8 de maio. Depois da cerimônia foi servido um almoço, no Bistrô Arlequino do Chef Elias, na av. Beira Rio. “Eu sempre sonhei em casar de dia, uma cerimônia com poucos con-

vidados, simples e bonita. Contratamos músicos pra cantar na igreja, flores, um fotógrafo, e o almoço ficou por conta do Chef Elias. Nunca gostei daquele exagero, parentes que não temos contato, valsa, vídeo, homenagens... queríamos apenas brindar o nosso amor. O dinheiro que gastaríamos fazendo uma festa, decidimos gastar na nossa viagem para a Europa”. Silmara diz que tudo de mais diferente está sendo feito em casamento. As tradicionais valsas estão sendo trocadas por música exclusiva do casal, o vestido da noiva no meio da festa fica curto, os bolos e docinhos cada vez mais personalizados. “No ano passado fiz um casamento em Blumenau em que o noivo era corredor de moto cross, ele fez questão de entrar no salão de moto, com a noiva na garupa!”. É lugar comum dizer que casamento é pra sempre. Mas quem casa não pensa em se-

parar, o casamento é sim ainda desejado por muitos, alguns com todo o requinte e sofisticação, outros de maneira mais simples, por mais mal que se fale, todo mundo pensa ou já pensou em dividir a casa, a vida, os projetos com alguém que se gosta e que quer sempre por perto. O poeta Fabrício Carpinejar em seu livro de crônicas “O amor esquece de começar”, diz: “admiro sinceramente quem teve coragem de casar quatro, cinco vezes. Pode-se dizer qualquer coisa sobre essa pessoa, menos que é preguiçosa. Será que ela errou por que não encontrou a estabilidade?” E completa: “ ...que o casamento não seja motivo da infelicidade, pois existe para abençoar e não para amaldiçoar. Não percebo facilidades na vida, conhecer na intimidade é diferente de conhecer no namoro. São difíceis mesmo a empatia, a convergência, a liga”.

Lembrancinhas: 1.500 reais DJ: 1.500 reais Fotógrafo: 6.000 reais (álbum livro)

Filmagem: 2.500 reais Aluguel vestido: mil reais Dia da noiva: 700 reais


Arte do palhaço conquista Itajaí Estudo e performance vêm conquistando cada vez mais o interesse dos artistas da cidade Camila Gonçalves camilagoncalves@univali.br

Clara Rosália clara.silva@univali.br

Lingua de palhaço As artimanhas do palhaço Gag: número, cena de palhaço Gromelô: falar uma língua enrrolada Cascata: queda, tropeço

O público é seleto, cerca de 25 pessoas. A maioria ligada ao teatro. Toc, toc, toc... A plateia, ao lado de fora, olha espantada para a porta, que se mantém fechada. Toc, toc, toc... O barulho vem de dentro. - Oh gente, quando eu bater é pra vocês entrarem, tá!?. A fala é de um jovem caracterizado de palhaço pouco depois de abrir a porta. Nem palco, nem picadeiro. A passagem é para uma sala no Serviço Social do Comércio (Sesc) de Itajaí, onde jovens atores aguardam a entrada da plateia. Esta é a terceira oficina de palhaço no município - a segunda ministrada pela atriz argentina Laura Correa, de 33 anos. Hoje, a arte do palhaço também é conhecida como Clown, palavra de origem inglesa já introduzida na Língua Portuguesa. O estudo sobre palhaços vem conquistando os atores da cidade. Segundo o responsável pelo setor de cultura do Sesc, Marcelo Moraes, a primeira oficina específica sobre o tema no município foi em 2008. E o estudo especializado começou bem, tendo como professor, nada menos que o ator Pepe Nuñez. Nascido na Espanha, veio para Florianópolis em 2000 e é considerado um dos maiores palhaços do Brasil e reconhecido internacionalmente. Este ano, voltou a Itajaí para continuar a formação de Clowns com uma segunda oficina. O ator e diretor Valentim Shmoeler, de 54 anos, comenta que a vinda de Pepe Nuñez a Itajaí instigou os jovens a se aprofundarem na arte de fazer rir. Mas lembra que há décadas o palhaço está presente no meio artístico da cidade, inserido em peças teatrais. Muitas vezes, explica Valentim, trabalha nas suas montagens com o palhaço, de uma

forma sutil, sem o adereço mais característico do personagem, o nariz. Charles Chaplin é um grande exemplo de palhaço que dispensou o narigão vermelho. “Tomara que essa moda pegue pra valer, que se leve a sério, se aproveite e disso saia uma grande palhaçada”, brinca Valentim. Enquanto jovens atores desbravam a arte clown, o público catarinense já está acostumado com grandes palhaços. O Teatro Biriba faz sucesso e só em Itajaí passou um ano em temporada. Ano passado Florianópolis sediou o Anjos do Picadeiro – Encontro Internacional de Palhaços.

Linguagem do palhaço como ferramenta de estudo Embora tenha antecessores, como os palhaços interpretados por Guilherme Peixoto, da Companhia Mútua, e Sebastião Oliveira, o Seba, só em 2008 foi criado um grupo específico de clown em Itajaí. Charles Augusto, de 24 anos, e a colega Ana Peres Batista fundaram o Laboratório Experimental de Gargalhadas, Urros, Música Etc..., o L.E.G.U.M.E Palhaços. A dupla trabalha em Itajaí e Blumenau, com espetáculos e intervenções nas ruas. No último fim de semana de maio deste ano, o L.E.G.U.M.E. iniciou um grupo de estudos em Itajaí para se aprofundar na linguagem do palhaço. Ospália – Coletivo de Palhaços em Pesquisa, reúne 15 pessoas todos os fins de semana até agosto na sede do grupo teatral Porto Cênico. O ator James Beck, de Blumenau, foi convidado para orientar o grupo. “O movimento está se iniciando. As pessoas começaram a estudar de dois anos pra cá”, comenta Charles Augusto. O ator se refere à primeira oficina de clown em Itajaí, com Pepe Nuñez. O próprio Charles, depois de fazer a oficina, vislumbrou o palhaço como profissão.

Palhaço é para adulto É noite de quarta-feira, dia 03 de junho, no Teatro Municipal de Itajaí. O palhaço Pepe surge da ultima fileira, apressado e carregando um guarda-chuva aberto. Até chegar ao palco vai pedindo passagem entre as poltronas. Muitas crianças fazem parte da plateia. Hoje elas são um grande público “consumidor” de palhaços, mas a arte do clown é bem mais adulta do que muita gente pensa. Ela não foi feita para os pequenos. “Basicamente, o palhaço é um crítico da ordem estabelecida e mostra o lado oculto (...) só que faz isso através do riso, da poesia, do lirismo”, explica Pepe Nuñez. A intenção é rir de si mesmo, dos erros e bizarrices que tentamos esconder em público. O palhaço pode ser considerado símbolo da pobreza e do atraso do sistema e c o nômico e social.

Fotos: Clara Rosália

As roupas desconcertadas no tamanho mostram que foram doadas por alguém maior ou menor que o palhaço. O nariz ficou avermelhado depois de tanto se embebedar. E é esta decadência e vulnerabilidade que atrai tanta gente para arte do Clown. A curiosidade sobre esta arte milenar hoje é tendência mundial. Pepe, com seus 25 anos de experiência como palhaço, trabalha nas oficinas o crescimento pessoal e o autoconhecimento dos alunos. Conta que muitos atores chegam armados, tentando interpretar um personagem já escrito. Mas, o palhaço é natural. É a busca pelo próprio lado cômico. A atriz Laura Correa é formada em Buenos Aires em Artes Cênicas e Cinematográfica. Ministrou duas das quatro oficinas de clown em Itajaí. “Para mim, o clown é uma liberdade expressiva para o ator”. Para Valentim Shmoeler, o ator quando interpreta um bom palhaço está no auge da profissão, tamanha é a dificuldade de se construir e atuar como clown.


Lias Menacho, uma lição de amor Depois de alguns trabalhos voluntários, surgiu a ideia da biblioteca comunitária

Ricardo Zanon ricardo_zanon@hotmail.com

A voluntária abre todos os dias sua casa para receber crianças carentes que residem nas imediações do morro da Pedra, em Balneário Camboriú. Lias Menacho é professora por formação e atua há vários anos neste setor. Carioca por nascimento, Lias decidiu se mudar para Santa Catarina em 1996. Neste ano ela adotou uma criança e acreditava que o Rio de Janeiro não seria um bom lugar para criar um filho. A história de voluntarismo surgiu quando Lias tinha apenas 14 anos de idade. Neste momento ela havia se convertido ao espiritismo e aprendeu com os companheiros de religião a usar o amor como arma ao combate à violência que assolava a cidade do Rio de Janeiro. Também participava de ações voluntárias para erradicar a fome no estado. “Eu fazia serviços relacionados ao combate à fome. Nosso grupo visita viadutos e sempre levávamos um prato de comida e palavras de otimismo às pessoas mais carentes e necessitadas”, revela Lias. Lias possui um método de ajuda ao próximo. Ela auxilia o cidadão mostrando caminhos que podem ser superados através do esforço de cada um. “Eu indico caminhos para melhorias na vida das pessoas”, diz. “Eu ajudo uma vez: levo roupas, medicamentos e comida. Depois disso eu posso tentar um emprego para esta pessoa, mostrar que ela pode lutar e conseguir as coisas através do trabalho”, enfatiza. “Já na terceira vez, dependendo da pessoa, eu não auxilio. Infelizmente existem alguns que não se ajudam, neste caso é impossível continuar com um ser-

viço de ordem social”, completa. A voluntária conta que certa vez, no Rio de Janeiro, comprou uma caixa de isopor para um homem que estava desempregado e passava necessidades com a esposa e mais três filhos. “Eu comprei os saquinhos e também sucos para a confecção de sacolés (picolés feitos em casa). Este senhor levou a sério a ajuda e vendeu por anos os picolés caseiros na praia do flamengo. No fim toda a família estava empregada e vivendo dignamente. Isto foi muito compensador”, explica. Em 1996, ao adotar uma criança, ela decidiu se mudar para local mais calmo, onde seu pequeno filho pudesse crescer na rua, brincando com os amigos. “O Rio de Janeiro estava muito perigoso. Eu pensava: como criar um filho aqui nesta cidade? Minha irmã morava em Itajaí e eu não pensei duas vezes em me mudar para Balneário Camboriú”, conta. Já na cidade ela começou a participar de ações solidárias que visavam o bem ao próximo. Lias participava de campanhas do agasalho e auxiliava nos sopões em áreas carentes. Porém ela queria algo a mais, um projeto que realmente fizesse a diferença. Surgiu então a ideia de abrir um espaço na casa dela para abrigar uma biblioteca que influenciasse as crianças à prática da leitura. “Minha intenção é justamente educar os jovens e crianças ao mostrar que a literatura é algo grandioso”, diz. Em 03 de janeiro de 2006, pela primeira vez, ela abriu as portas de sua casa para atender as crianças carentes. O projeto foi crescendo e Lias recebia várias doações como livros usados, violões e mais voluntários que acreditavam neste projeto.

Foto: Ricardo Zanon

Falta de voluntários A biblioteca idealizada por Lias está em pleno funcionamento. As crianças aparecem todos os dias para realizar pesquisas pedagógicas e também buscar entretenimento através da leitura. Além disto, são ofertadas aulas de inglês, alemão e computação. Lias explica que precisa de mais voluntários para continuar o projeto. “Alguns pessoas que me ajudavam estão trabalhando e não têm tempo de comparecer à biblioteca”, diz. “Eu entendo, pois todos precisam trabalhar para se sustentar. Buscamos sempre desenvolver novas atividades e trazer novos voluntários, afinal toda ajuda é sempre bem vinda! Peço, para as pessoas, que entre em contato e participe do “Dia da Visita”. Desta forma é possível conhecer nosso trabalho e ainda, quem sabe, contribuir da forma que puder”, completa a voluntária. Aulas de violão e Balé eram oferecidas pela biblioteca. A falta de voluntários acarretou no cancelamento destes projetos. “A música e a dança é muito importante na formação. Por isso é necessário continuar esta ação social. As crianças adoravam este tipo de aula, vinham feli-

zes com a idéia de aprender um instrumento ou a arte da dança”, afirma Lias. A Biblioteca Bem Viver também oferece todas as segundas e quintas-feiras, um curso gratuito para homens e mulheres que possuem interesse em corte de cabelo. “Esta é uma ótima oportunidade para uma futura profissionalização nesta área, lembrando que esta formação pode ajudar na busca por um novo emprego”, salienta Lias. Lias revela que um terreno, no morro da Pedra, foi doado por um empresário para a construção da sede própria da biblioteca. Porém, a falta de patrocínio para a obra dificulta a realização deste projeto. “Meu sonho é construir a sede própria da biblioteca, com mais espaço, salas de computação e de dança. Mas agora é impossível”, diz. Quem tiver tempo disponível e queira auxiliar Lias Menacho nesta ação social, basta entrar em contato. A Biblioteca Bem Viver está localizada na rua Peru, nº 938 – Bairro das Nações – Balneário Camboriú – SC. Telefone (47) 33603298.


Muito mais que comércio, um pouco mais que música O maior templo brasileiro de devoção ao rock sobrevive às crises que vêm e passam no decorrer dos anos, graças ao amor à música de muitas pessoas Felipe Thiago Conrad poraodosom@hotmail.com

Ao entrar na Avenida São João no meio da tarde de uma sexta-feira, o clima é aquele que todo paulistano já conhece. Tempo nublado, pessoas apressadas andando pelo centro da cidade, vendedores ambulantes, mendigos e moradores de rua, enfim, o ritmo caótico e muitas vezes depressivo que os moradores e frequentadores do centro da maior metrópole da América Latina precisam enfrentar diariamente. Esta região de São Paulo mescla em sua essência atual muita história. Por seus prédios, praças e monumentos, marcos do desenvolvimento do Brasil e ao mesmo tempo do abandono, pelas condições que o chamado “centro velho” se encontra atualmente, tomado por criminalidade, sujeira e prédios em ruínas completamente abandonados ou ocupados por desabrigados. Porém, em frente ao Largo do Paiçandú e a uma quadra da esquina da São João com a Ipiranga, se encontra um dos mais famosos e charmosos endereços de São Paulo, a Galeria do Rock. Entrando na galeria, que tem como nome oficial Shopping Center Grandes Galerias, a impressão é de que estamos em outro mundo. A correria dá espaço a um ambiente exótico, com uma diversidade de lojas alternativas e um público com visual característico e personalidade forte. São ao todo 450 lojas, divididas entre quatro andares e mais o subsolo. Aproximadamente 200 delas são voltadas à cultura rock´n roll e suas vertentes, especializadas em discos, ca-

misetas de bandas, acessórios e vestuário em geral. O restante se divide entre estúdios de tatuagens, lojas de skate, toy art (bonecos colecionáveis), e roupas alternativas, além do último andar, que concentra mais empresas de serigrafia e estamparia e o subsolo, voltado à cultura hip hop e cultura black. Atualmente, a Galeria do Rock convive com uma grande contradição: a decadência comercial paralela à nova exposição midiática. O maior exemplo desse apelo é a atual novela das 7, da Rede Globo, que reproduziu a Galeria do Rock em seu complexo de estúdios, o PROJAC, no Rio de Janeiro. Baseada no tradicional espaço rockeiro de São Paulo, a “Galeria”, nome simplificado do espaço na trama de Bosco Brasil, causou grande repercussão na mídia devido a essa referência à Galeria do Rock. Entretanto, as pessoas que conhecem melhor a galeria da vida real, ou as que a vivem diariamente como os funcionários, donos de lojas e fãs de rock, questionam bastante o conceito formado para ela na novela Tempos Modernos. Antônio de Souza Neto, de 59 anos, é jornalista e psicólogo, mas desde 1993 sua ocupação é comandar a Galeria do Rock como síndico do prédio. Ele foi um dos responsáveis pela revitalização do espaço, que na década de 80 era considerado perigoso por causa das brigas de gangues, tráfico e uso de drogas, além da falta de segurança. “Toninho”, apelido pelo qual é chamado pelos seus amigos e conhecidos, tem fama entre os bastidores da Galeria pela maneira como poli-

cia a mídia, selecionando de maneira rigorosa quem pode filmar, fotografar, fazer reportagens e usar como cenário. Ele tem uma ideia formada sobre essa ligação entre a Galeria do Rock e a novela Tempos Modernos. “Eles tiveram que fazer uma cidade cenográfica imitando a galeria lá no PROJAC, no Rio de Janeiro, devido à impossibilidade das filmagens serem realizadas aqui, pois iria comprometer todo nosso esquema de trabalho. A ideia inicial deles era colocar a galeria como se fosse “dos manos”, mas complicaria tudo. Essa semana temos a gravação de um programa novo da Globo, que vai falar de rock, focado na história do RPM, com apresentação da Fernanda Lima.” Toninho já era proprietário de uma loja especializada em rock antes de ser eleito síndico do prédio e participou de todo o processo evolutivo pelo qual o espaço passou. Recentemente, ele foi à Espanha e à França dar palestras e falar sobre a história da Galeria do Rock a convite de empresários, produtores e diretores de cinema. Isso mostra o reconhecimento e o respeito internacional que ela conquistou durante toda sua história, lutando constantemente contra o preconceito da sociedade. Segundo ele “na década de 70 foi conhecida como Galeria 24 de maio, e no final dos anos 80 nós entramos com uma proposta de fazer um espaço voltado ao rock’n roll. Esse prédio era um espaço abandonado, e por nesta região já existir naquela época uma linha voltada à música, nós pegamos essa linha e a consolidamos.” Felipe Thiago Conrad

Atmosfera do Rock A Baratos e Afins foi uma das primeiras lojas de discos na galeria e presença certa na lista das mais tradicionais do Brasil. Fundada em 1979, por muito tempo permaneceu como a única loja de discos de rock da galeria. Carolina Calanca, de 31 anos, é filha do dono e sente saudades dos tempos antigos quando a Galeria do Rock vivia outra atmosfera, “muito mais underground e rock’n roll” segundo ela. “Praticamente eu fui criada aqui, porque a loja é do meu pai. Ele abriu em função da minha mãe ter ficado grávida. Vi muitas mudanças, antigamente era aquela coisa mais underground mesmo, de encrenca, de cara que curtia death, com punk, com skinhead, tinha essas coisas. Aí depois foi melhorando, mas ao mesmo tempo acabou perdendo aquele lado underground que tinha no começo”. Além do síndico, a Galeria do Rock tem outro Toninho como figura clássica em sua história. O pernambucano Antônio Vicente Coelho, 45 anos, é o criador do fã clube oficial do Sepultura, a mais conhecida banda brasileira de trash metal. A ideia inicial é de 1987, mas desde 1990 o fã clube conta com uma sede na galeria, onde o fã encontra uma série de informações e produtos relacionados ao Sepultura. Toninho também reclama das transformações que a cena rock´n roll e em consequência a galeria sofreram nos últimos tempos. “Na década de 80, o fã de heavy metal era muito independente. Ele ia atrás da fita, da revista, do disco. Ele fazia de tudo pra receber um álbum inédito. Os anos 80 foram o pilar dos anos 90. O diferencial é que nós éramos muito independentes até então. Dos anos 90 pra cá, com as facilidades que surgiram, as pessoas se tornaram mais preguiçosas, então isso mudou muito”. Além desse sentimento de nostalgia vivido pelos bastidores da Galeria do Rock, saudosistas em relação ao que o rock´n roll e ela representavam antigamente, as mudanças que a tecnologia e a globalização trouxeram também influenciaram no caráter comercial da galeria. A explosão dos downloads na internet e da cópia de CD no começo do

novo milênio afetaram gradativamente o faturamento de lojas especializadas em CD. Algumas sobrevivem, se reinventando e trabalhando também com o comércio de discos de vinil, que sempre tiveram seu público fiel. Porém, muitas fecharam e nos últimos anos, grande parte das lojas da Galeria do Rock está mais focada em vestuário e estilo do que na música em si. André é vocalista da banda de punk rock Zumbis do Espaço e dono do selo Thirteen Records, responsável pelo lançamento de mais de 70 discos em seus 15 anos de história. Mais conhecido como Tor no meio musical alternativo, ele é daquelas pessoas que provavelmente você vai cruzar ao fazer uma visita à Galeria do Rock, carregando uma ou duas malas com CD e camisetas, talvez esperando o elevador para subir ou descer os andares do prédio. Segundo ele, “a galeria é o principal ponto de venda de discos independentes no Brasil, onde pessoas de vários cantos do país vêm procurar os discos. A venda de CD caiu bastante, mas as bandas mais velhas continuam vendendo, os discos continuam saindo, mas bem menos do que há 5 ou 6 anos. O vinil no Brasil ainda é caro para se produzir, é um negócio mais para colecionador, mas é 20 vezes mais legal que o CD. Teve ano em que eu lancei trinta mil, quarenta mil discos, e nesse ano eu não fiz nem três mil.” Tais fatores preocupam os lojistas, funcionários e distribuidores, enfim, quem depende da Galeria do Rock para viver, afinal, referência em novela da Globo não vende discos de rock ou roupas do estilo. O tempo passa e a Galeria se recicla, sobrevivendo em meio a épocas boas e ruins, no sentido financeiro. Porém, o valor sentimental, o sentimento de nostalgia das pessoas que viveram os velhos tempos da Galeria tem o mesmo brilho nos olhos de um garoto fã de rock que mora no interior e a visita pela primeira vez. Muitas pessoas consideram certos valores muito mais importantes do que tranquilidade financeira, e talvez seja esse o combustível que mantém a Galeria do Rock viva e que a transformou no verdadeiro templo do rock’n roll brasileiro.


Voluntariado: o potencial transformador de agentes sociais

sxc.hu

Universidade é um campo a ser explorado e oferece várias oportunidades para integração dos acadêmicos Keli Wolinger keliwolinger@hotmail.com

Motivado por valores pessoais, o voluntariado exerce uma relação de cidadania solidária participativa na sociedade. Um cidadão qualquer pode doar parte de seu tempo na realização de atividades não remuneradas em benefício de uma causa, bem estar social, entidades religiosas, políticas ou culturais. “A motivação para o trabalho voluntário deve-se ao princípio de que esta oportunidade de conhecer o mercado de trabalho pode ser a porta para a profissionalização”, afirma a gerente de marketing Taciane Elita Nitsche, 24 anos. Formada em Jornalismo com especialização em Marketing Empresarial, Taciane trabalhou como voluntária nos tempos de acadêmica. “O voluntariado possibilitou que eu adquirisse experiência para trabalhar na área em que estava cursando, a primeira oportunidade foi no Pirão Catarina (programa da Rádio Univali) em que trabalhei por dois anos; depois fui para a TV Univali por mais seis meses até conseguir estágio no jornal Diário Da Cidade, onde permaneci por mais um ano. O estágio foi consequência do trabalho realizado na faculdade”. O serviço voluntário se desenvolve a partir programas criados por organizações públicas ou privadas que integram o realizador do trabalho, a entidade e comunidade. A universidade é um campo para ser explorado e oferece diversas possibilidades para acadêmicos tornarem-se voluntários. A “profissionalização voluntária” possibilita aos prestadores do serviço uma oportunidade de demonstrar seu trabalho. Deste modo, facilita à empresa e à entidade beneficiada caso surja uma vaga na escolha de um empregado. Questões financeiras são um dos fatores que impossibilitam

acadêmicos de participar de projetos de voluntariado, pois alguns desenvolvidos na própria universidade necessitam de disponibilidade dos alunos e muitos trabalham para pagar a faculdade. A gerente de marketing exemplifica que no seu caso, os pais pagavam sua graduação, o que possibilitou que ela realizasse o trabalho voluntário. A grande demanda por voluntários favorece uma disputa por vagas no terceiro setor. Existe uma grande procura por voluntários, o que facilita o ingresso ao mercado de trabalho por intermédio de estágios e até mesmo contratação. “O primeiro trabalho na área de jornalismo foi devido à bagagem profissional conquistada com o trabalho voluntário e estágios. É aquela velha história, as empresas só contratam com experiência, mas dificilmente te oferecem a primeira oportunidade. Sendo assim, o melhor caminho é desenvolver e participar de projetos estabelecidos”, exemplifica Taciane.

Onde atuar Amparado na Lei nº 9.608/98, o trabalho voluntário se distingue da relação de emprego. “A diferença entre o contrato de trabalho e o serviço voluntário é a existência de relação não onerosa neste último, ou seja, embora uma pessoa realize trabalho, não recebe remuneração por ele”. Tal como em um contrato de trabalho, o serviço voluntário estabelece um Termo de Adesão em que se destaca a “não existência de vínculo trabalhista, que o voluntário seja pessoa física, o serviço seja prestado a entidade pública ou instituição privada sem fins lucrativos e que no termo de adesão conste o objeto e as condições do trabalho a ser prestado”. Para as empresa privadas que se beneficiam do voluntariado, este somente pode ter objetivos cívicos, culturais, recreativos e educacionais.

O Artigo 170 da Constituição Estadual de Santa Catarina é uma opção para que alunos sem condições financeiras possam estudar em universidades particulares. Em contrapartida, eles devem cumprir vinte horas semestrais de trabalho voluntário como forma de pagamento da bolsa de estudos. A orientadora educacional, psicopedagoga e diretora do Colégio Estadual João Goulart de Balneário Camboriú, Mari Teresinha Leiria, 48 anos, afirma que a procura por trabalho voluntário “é maior nos finais de semestre, pois é quando se aproxima o prazo final do cumprimento das horas devidas dos alunos no artigo 170”. Os voluntários exercem diversas funções no colégio e podem atuar em vários setores. A diretora explica que neste final de semestre, mais de seis alunos já participaram do serviço voluntário “os alunos do Art. 170 costumam trabalhar na secretaria, biblioteca e auxílio aos professores em aulas de informática.” Segundo a diretora, programas de voluntariado como o “Amigos da Escola”, integração da Associação de Pais e Professores (APP) entre outros não fazem parte das atividades do colégio, pois a evasão e o ingresso de alunos novos é grande, o que dificulta o comprometimento do projeto. “Já tive experiência em cidades pequenas como Ilhota, essa interação de pais com o colégio é maior porque e não ocorre muita transição de alunos. No caso de Balneário Camboriú, os pais trabalham em período integral e o contato com a escola ocorre mais para saber sobre o desempenho dos filhos com notas e para testes como Enem”. Projetos de pesquisa e extensão, interdisciplinares e de preparação para o mercado de trabalho estão disponíveis nos cursos da Univali. Em portais da internet especializados em serviço voluntário, como www.voluntariosonline.org.br há oportunidades para os interessados.

Fotos: Keli Wolinger


A arte de amar

Fotos: Gabriela Aurich

A vida de quem trabalha pelo bem estar do próximo

Gabriela Aurich gabizinhasul@yahoo.com.br

O ambiente é tranquilo, o som dos pássaros traz um ar de aconchego dentro do Asilo Dom Bosco, lugar ocupado por 75 idosos com os mais variados problemas, entre tristezas e alegrias, uma vida inteira para contar. O abandono familiar é a maior tristeza na vida desses senhores e senhoras. Cerca de 20% deles sofrem com o descaso. A assistente social Fernanda Silva faz um trabalho intenso de estreitamento com as famílias, às vezes obtem resultados positivos, mas é um trabalho árduo “as pessoas perdem a paciência com eles, o que não justifica, é uma vergonha a família poder cuidar mas preferir largar eles aqui”, desabafa.

Enquanto algumas famílias não se importam com o sentimento de seu ente outras são ativas, visitam, levam material de higiene e fazem compania. E ainda existe outro tipo de visita no asilo, a de quem faz isso por amor, sem querer nada em troca além de um sorriso. E olha que até conquistar um sorriso destas pessoas tão vividas leva tempo, mas isso não desanima dona Evelina Zanca. Aos 69 anos ela vai diariamente ao asilo, local onde dá e recebe muito carinho. Muito esclarecida ela conta que para fazer o serviço voluntário a pessoa tem que ter três coisas: amor, paciência e tolerância, essa é a receita que ela usa todos os dias antes de iniciar suas visitas “ é difícil manter a visita no começo, demora até os idosos pegarem confiança e mesmo quando pegam ainda implicam, e a gente precisa repetir diversas vezes a mesma coisa, eles não entendem, e quando entendem acabam esquecendo”. Esse é o motivo pelo qual qualquer pessoa que queira ser voluntária passa por uma entrevista feita pela assistente social, é ela que vai ver se a pessoa tem comprometimento para seguir adiante. A administradora do asilo, Sônia Solange de Souza e Silva, explica que os idosos ficam aguardando a visita e é muito decepcionante quando ela não vem “a pessoa tem que se comprometer, não pode simplesmente aparecer quando quer, tem que ter compromisso senão o idoso pode ficar pior do que está, eles esperam a visita com ansiedade”, explica.

Evelina é benquista por aqui, todos aplaudem sua dedicação ao voluntariado, menos a família. Ela conta que os irmãos não entendem o que faz ela ir todos os dias lá, o que a deixa muito triste porque a aposentada e os irmãos nem convivem . Para ela passar as tardes no asilo não tem preço “graças a Deus nunca deu canseira, Deus da saúde e força”, complementa orgulhosa. No asilo uma senhora chama atenção, é dona Domingas dos Santos, 89 anos, vaidosa e comunicativa é ela quem se aproxima com um sorriso no rosto. Interessada em trocar ideias e conhecer gente nova ela conta sua história. Está no asilo desde janeiro deste ano e recebe regularmente a visita dos seis filhos. Na juventude morou em Ibirama, casou e viveu lá por anos cuidando da criação de galinha, pato e porco. Quando ficou viúva foi morar com uma das filhas em Araranguá, mas confessa que lá se sentia muito sozinha e com o tempo percebeu que o asilo seria um bom lugar. “Aqui eu não me sinto sozinha, se saísse daqui sentiria saudades, o remédio é dado na hora certa e eles cuidam muito bem de mim”.m seguida chega o enfermeiro: É hora do remédio! Nem todas as histórias são assim. Dona Laurinda Gomes, 76 anos,era dona de casa, passou à vida se dedicando ao ma-

rido e ao entiado, ela conta que gostaria de voltar à rotina de antes, desabafa que no asilo se sente sozinha. Não gosta da comida nem da medicação. Ela faz parte dos 20% que não recebem visita da família.

Passeios Mesmo com todas as dificuldades o asilo promove diversos passeios com os idosos. Uma vez por mês o proprietário do clube Barroso dispõe do seu espaço

para uma tarde dançante com direito a bolo e café, nestes casos a prefeitura sede o ônibus para os idosos irem se distrair. Têm também os passeios mais longe, dona Domingas conta que já conheceu Florianópolis, Rio Pequeno e Nova Trento, isso em 6 meses que mora no asilo. “Eu adoro passear, conhecer lugares, fico muito feliz quando tem um passeio”, conta sorridente. O asilo promove também o dia da beleza onde um cabeleireiro voluntário cuida da aparência dos idosos.

Voluntariado Desde que envolvido e comprometido pela causa o Asilo Dom Bosco está de portas abertas para todas as pessoas que quiserem ajudar, seja na parte financeira ou sentimental. A casa tem 52 funcionários que buscam trazer o máximo de familiaridade para o idoso, mas

as visitas de fora são bem vindas, “todos são muito carentes aqui , mesmo os mais fechados”, diz a administradora Sônia. Existe também a carteira do associado, onde qualquer pessoa pode se credenciar com um a contribuição voluntária mensal de no míni-

mo R$10,00 (dez reais), que é usado para comprar : barbeador, sabonete e fraldas que é um dos maiores problemas do asilo. Hoje dos 75 idosos, 40 usam fralda, o que dá uma media de 320 fraldas por dia. O Asilo Dom Bosco fica na Rua Indaial, nº. 1299, telefone : 47-33481832.


Foto: Ana Carolina Maykot

Um local de tratamento, respeito e apoio Localizada na Rua Brusque, centro de Itajaí, Associação Amor Próprio tem o lema "Uma luta pela vida" Ana Carolina Maykot aninha.maykot@hotmail.com

Com 48 anos, casada, duas filhas, trabalhando como faccionista, Isolete Cidade esperava apenas aproveitar sua vida, foi quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, ela não sabia o que iria acontecer dali em diante, mas o apoio de sua família foi essencial neste momento. Isolete teve de se submeter a uma cirurgia para retirar o nódulo que estava em seu seio. A operação ocorreu no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen e após o termino a paciente recebeu a visita de Odeti, uma senhora que já esteve na mesma situação dela e hoje é voluntária na Associação Câncer Amor Próprio. Localizada na Rua Brusque, 329, no Centro da cidade de Itajaí a associação que atende com o tema “Uma luta pela vida”, foi

iniciada no ano 1996, com a paciente de câncer de mama, Silvia Helena Cavalheiro, que após ter terminado seu tratamento e já recuperada, ouvia diariamente histórias e queixas de várias vitimas do câncer. Foi quando deu início a este trabalho sozinha, ligando-se logo após ao GAPPOM (Grupo de Apoio e Pesquisa aos Portadores de Mastopatia), que funcionava no CRESCEM (Centro de Referência a Saúda da Criança e da Mulher), da cidade de Itajaí, mantido pela Prefeitura deste Município. Dois anos após, com a grande demanda de pacientes, Silvia sentiu dificuldade de continuar sozinha com o trabalho iniciado. Cria-se então, a Associação “AMOR PRÓPRIO”, que além de dar continuidade ao atendimento às mulheres com câncer de mama, amplia seu trabalho também para as portadoras de câncer no colo do útero, abrangendo qualquer idade. Assume como Presidente a abnegada,

Silvia Helena Cavalheiro. Hoje conta com o auxilio de quinze voluntários e atende das 8h00min ás 18h00 de segunda à sexta-feira. O local oferece terapias ocupacionais das mais diversas formas. E conta com o auxilio mensal de R$ 2,600 do fundo municipal da saúde, que serve para as despesas fixas, como aluguel, água, luz e telefone, as outras necessidades da casa são supridas com a ajuda de doações e de eventos que são promovidos pelo local, como a macarronada mensal, o pedágio e o café colonial anuais. As segundas-feiras, as 15 pacientes que freqüentam o local tem fisioterapia com a Fernanda. As terças, aulas de corte e costura, depois contam com o auxilio da psicóloga Rosana da Silva Lopes. Nas quartas o único homem voluntário do local Jair Gonçalves Pezzini ensina o DOIM, uma auto-massagem que as pacientes realizam em si mesmas. Nas quintas – feiras as mulheres se

dirigem ao local para ter ajuda de Nara Cledir que aplica o chamado Reike nas pacientes, uma imposição de mãos que segundo Isolete é extremamente relaxante. Irinéia Aparecida dos Santos, 50 anos, é uma das administradoras da casa, ela afirma que tem acesso a todos as cirurgias que vão ser realizadas no HMMKB, e também contato freqüente com o oncologista Jorge Rebello que atende na UNIVALI. As sextas-feiras ele entrega o diagnóstico as pacientes que estão com suspeita de câncer, após a consulta ou a cirurgia, como no caso de Isolete, independente do resultado as voluntárias da associação abordam essas mulheres lhes oferecendo apoio. Para as mulheres a descoberta do câncer é ainda mais dolorosa, a perda do cabelo, e muitas vezes a retirada da mama reduzem consideravelmente a autoestima. O auxilio da associação é essencial neste momento.

Isolete ainda afirma que o local a ajuda em todos os sentidos, e que foi indispensável para sua melhoria.


Ensaio Fotográfico Por Carla Maria Querobim Milani

A acadêmica Carla visitou o município de Urubici e sentiu o frio e a neve da serra catarinense.


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