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Casa da Mulher do Nordeste Rua Desembargador Brandão da Rocha, 87, Cordeiro, Recife/PE CEP: 50721-380 | 81 3426.0212 www.casadamulherdonordeste.org.br Produção de Texto Graciete Santos, coordenação da CMN Emanuela Castro (DRT-4060) Tatiane Faustino Pesquisa de Campo Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE/UAST Professoras Pesquisadoras Laetícia Jalil, Lorena Lima de Moraes e Anastácia Brandão de Melo Alunas bolsistas Leydiane de Oliveira Galdino, Áurea Palloma Bezerra Barbosa Véras e Ana Cáscia Leal Pesquisadora Michelly Aragão Guimarães Costa Pesquisa de campo Casa da Mulher do Nordeste Equipe técnica Eliane Vieira Rocha, Fabiana Oliveira Bezerra e Tatiane Faustino Edição de Texto Graciete Santos Emanuela Castro (DRT-4060) Correção Ortográfica Consultexto Projeto Gráfico e diagramação Via Design Fotografia Retrographie atelier de imagem Acervo da Casa da Mulher do Nordeste Gráfica Provisual Tiragem 2 mil

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04 Apresentação 06 Conhecendo o bioma caatinga 08 A fala das mulheres sobre o bioma 10 As mulheres e a caatinga 13 Vamos aprender mais com suas experiências 16 Fogão agroecológico, uma tecnologia social, ambiental e feminista 18 O fogão agroecológico Passo a passo para a construção do fogão agroecológico 24 Os benefícios do fogão agroecológico 26 A farmácia viva das sertanejas 27 Cuidados que você deve ter ao usar um remédio feito com plantas 28 Plantas medicinais da caatinga Angico Umburana-de-cheiro Juazeiro Catingueira-branca Jatobá Aroeira Mandacaru 34 Saberes, sabores e poesia 35 Sabores Umbu Caju 38 Poesias Os valores da caatinga A caatinga é muito sábia 42 Glossário

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Apresentacao Nós mulheres costumamos dizer que temos um jeito próprio de fazer as coisas, de produzir conhecimentos juntas, de discutir muito nossos processos e de encontrar diferentes formas de convivência em nossa casa, em nossas organizações, no nosso cotidiano e nos diferentes contextos, a exemplo do Semiárido. Este caderno, Mulheres na Caatinga: sabores e saberes, expressa esse jeito, essa pedagogia feminista, partilhada com muitas mulheres catingueiras, pesquisadoras, experimentadoras e agricultoras. O que nos une é o feminismo em nossa vida, na luta por melhores dias, enfrentando o cotidiano difícil em nossa casa, na convivência com o Semiárido, o poder patriarcal e resistindo sempre, para mudar o mundo e mudar a nossa vida, na esperança de que um dia todas sejamos livres da opressão, da exploração e de todas as formas de violência. Essa construção é fruto da experiência do Projeto Mulheres na Caatinga, desenvolvido pela Casa da Mulher do Nordeste, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e vivenciado com mais de 210 mulheres agricultoras experimentadoras em 12 municípios do sertão do Pajeú. O Projeto contou com a parceria da Universidade Federal Rural de Pernambuco através do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas (Neppas) e da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, além de contar com o apoio de outras organizações no território. O presente caderno é resultado de um esforço conjunto de muitas de nós, na tentativa de sintetizar a riqueza do processo de vivências, de saberes e de sabores da Caatinga. Vamos aprender muitas coisas com as mulheres do sertão do Pajeú, conhecer mais a Caatinga, através das suas experiências e dos seus conhecimentos, entender a

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importância desse bioma na vida delas e valorizar o bem viver com suas lições de vida em favor de um planeta mais humano e conectado com a natureza. Vamos descobrir como vivem as mulheres na Caatinga, suas estratégias para superar as dificuldades cotidianas e a convivência nos períodos de longas estiagens. Vamos aprender com suas práticas agroecológicas nos quintais, seus conhecimentos no manejo sustentável e no cuidado com o bioma. Através dos seus saberes e sabores, vamos conhecer receitas para nossa segurança alimentar e nutricional. Também vamos acompanhar o passo a passo da construção do fogão agroecológico, tecnologia social desenvolvida no contexto do Projeto Mulheres na Caatinga, que pretende contribuir para a diminuição do desmatamento da Caatinga e para a economia doméstica, além de provocar a discussão sobre a divisão sexual do trabalho nas famílias. Vamos trazer a riqueza da biodiversidade do bioma Caatinga através da experiência das mulheres com a “farmácia viva” em seus quintais. O angico, a catingueira, o juazeiro, a iburana-de-cheiro, seu uso e suas propriedades para a saúde ambiental e das pessoas. E com muita sabedoria e poesia oferecemos a vocês uma leitura proveitosa terminando com um verso da poetisa Maria do Socorro da Silva Nascimento, conhecida por Côca. Como o mandacaru, permanecemos de pé. A estiagem pode ser longa, mas grande é nossa fé. Não devemos nos desesperar. Devemos, sim, nos organizar pra enfrentar o que vier. Boa leitura! Boa semeia! Bons frutos! Graciete Santos Coordenação Geral da Casa da Mulher do Nordeste

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Conhecendo o Bioma Caatinga O Brasil possui seis regiões naturais diferentes, chamadas de biomas: a Amazônia, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal, os Pampas e a Caatinga. Falaremos aqui especialmente sobre a Caatinga, também conhecida como Sertão Nordestino, que se manifesta na maior parte do Nordeste brasileiro. Suas principais características são o clima semiárido, a baixa umidade relativa do ar e as altas temperaturas. Em tupi-guarani significa mata branca, devido ao aspecto de sua vegetação em época de seca, quando as plantas perdem as folhas e os galhos ficam acinzentados. A Caatinga é o único bioma totalmente brasileiro, isto é, o único domínio florestal que não divide espaço com nenhum outro país. Isso quer dizer que algumas características regionais desse bioma não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Significa, então, que a nossa responsabilidade de cuidar desse patrimônio é grande, que devemos ser especialmente comprometidas/os com ele, pois existem poucos remanescentes de Caatinga preservados e muitas de suas espécies estão ameaçadas de extinção. O bioma Caatinga é, hoje, patrimônio ecológico da humanidade. Ao comparar a nossa Caatinga com outras regiões semiáridas do mundo, percebemos que ela também é a mais rica em biodiversidade, apresentando alto grau de espécies únicas. Abriga um terço de espécies endêmicas exclusivamente brasileiras, ou seja, elas só existem neste

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território. De forma geral, a vegetação é formada por arbustos; árvores baixas, retorcidas e cheias de espinhos; ou cactos, todos adaptados ao clima quente e seco. Aprender a conviver com esse bioma é construir um novo mundo diminuindo os impactos ambientais que, por anos, fizeram parte desse território, como a formação de grandes latifúndios para a criação de gado; desmatamentos para formar pastagens e implantar indústrias; exploração irregular de recursos hídricos, de combustíveis fósseis; e projetos de irrigação e drenagem executados sem critério, que provocam a salinização do solo ou o assoreamento dos açudes. Suscetível a estiagens prolongadas, a Caatinga tem lenta capacidade de recuperação e, por isso, torna-se um ecossistema frágil à pressão humana, especialmente quando a fragilidade ambiental está associada à pobreza da população que nele reside. Direcionamos nossas lentes para o interior de Pernambuco, bem no Sertão do Pajeú, região semiárida composta por dezessete municípios. Numa área de 8.778 km², mulheres organizadas vivem e replicam práticas de preservação e recuperação; são exemplo de convivência com o meio ambiente, principalmente no cuidado com esse bioma; e proporcionam um enorme serviço ao planeta e à humanidade. Para as mulheres, a Caatinga é a fonte insubstituível de madeira, alimentos, fitoterápicos e elementos para a confecção de artesanatos. Uma questão essencial para a vida na Caatinga é a água. A pouca disponibilidade, em decorrência das prolongadas estiagens, comuns às zonas semiáridas, resulta em uma relação de dependência direta da utilização desse recurso natural, e para isso é preciso aprender a conviver com o Semiárido e exercitar a estocagem, princípio fundamental dessa convivência. Estocar água e sementes para enfrentar os períodos de escassez. A prática da Agroecologia é nossa saída. Vamos aprender com a experiência de algumas mulheres a seguir.

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A fala das mulheres sobre o Bioma As agricultoras Gilvaneide Gomes, 49 anos, e Maria Aparecida Gomes, de 46 anos, reproduzem há anos uma prática de armazenamento de sementes que aprenderam com seus pais e herdaram de seus avós. Essa experiência é contada e vivida no Quilombo Feijão, no município de Mirandiba, em Pernambuco. “Essas sementes vêm dos mais velhos, eles selecionavam as melhores e guardavam para o ano seguinte”, diz dona Gilvaneide ao descrever as sementes crioulas, que se trata da reprodução de sementes nativas sem modificação genética, garantindo a originalidade e a qualidade. “As mais antigas daqui são de feijão-canapu e bastião, que existem desde o final da década de 1960, muito antes de eu nascer”, completa. Na comunidade de Cachoeira do João, São José do Egito, Sertão de Pernambuco, dona de um sorriso largo e uma garra característica da mulher sertaneja, Aparecida não desanimou nesses últimos anos de estiagem, e seu quintal continuou produzindo frutas, hortaliças e ervas medicinais. A água necessária vem de um poço amazonas e chega até as plantas através de um sistema de microaspersão implantado pela Casa da Mulher do Nordeste (CMN). “O açude secou, e hoje a água é pouca, mas a gente economiza. Acessamos um recurso do fundo rotativo da Associação e estamos ampliando o espaço do quintal. Vamos plantar ainda mais”, comemora com entusiasmo.

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PAMPAS

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PANTANAL

CAATINGA BRASIL POSSUI 6 REGIÕES NATURAIS BIOMAS

CERRADO

CLIMA SEMIÁRIDO

ALTAS TEMPERATURAS

MATA ATLÂNTICA AMAZÔNIA

CAATINGA

REGIÃO SEMIÁRIDA 17 MUNICÍPIOS

BAIXA UMIDADE EM TUPI SIGNIFICA = MATA BRANCA

REGIÃO SERTÃO DO PAJEÚ

CAATINGA BIOMA TOTALMENTE BRASILEIRO PATRIMÔNIO ECOLÓGICO DA HUMANIDADE

RICA EM BIODIVERSIDADE

MULHERES ORGANIZADAS VIVEM E REPLICAM PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DESSAS ÁREAS

ULHERES PARA AS M

VEGETAÇÃO, ARBUSTOS, ÁRVORES BAIXAS, RETORCIDAS, CACTOS

ÍVEL INSUBSTITU É A FONTE A G N S, TI A TO A CA A, ALIMEN DE MADEIR PICOS E NA Á R TE FITO SANATO. D O E ARTE CONFECÇÃ

CAATINGA SEDE POR ÁGUA

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PRÁTICA AGROECOLÓGICA LONGAS ESTIAGENS; MANEJO SUSTENTÁVEL DAS PLANTAS NATIVAS;

É PRECISO CONVIVER COM O SEMIÁRIDO

VALORIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DOS QUINTAIS E DO TRABALHO DAS MULHERES

GARANTIR A BIODIVERSIDADE; EXERCITAR A ESTOCAGEM DE ÁGUAS E SEMENTES

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As Mulheres e a Caatinga A vida das mulheres na Caatinga é marcada por muito trabalho, muitas lutas, dificuldades e também muitos conhecimentos. Como foi comentado, o bioma Caatinga está ameaçado por todo um contexto social, econômico, ambiental e político desfavorável à sua existência e preservação.

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À luz das experiências na região do Pajeú, em Pernambuco, destacamos a importância do papel das mulheres na convivência com o bioma Caatinga, desempenhando uma função fundamental no manejo sustentável e no cuidado com esse bioma. Através das suas práticas agroecológicas nos quintais — com a plantação de hortaliças e fruteiras; a criação de animais pequenos, como as galinhas; e o beneficiamento das frutas — contribuem para a segurança alimentar e nutricional e para a geração de renda de suas famílias. Na divisão do trabalho na agricultura familiar, são as mulheres as responsáveis pelo trabalho do cuidado com a casa, com a produção de alimentos, com as crianças, com a gestão da água e do trabalho na roça, com os animais, com a produção do artesanato e com a comercialização, contribuindo também para o sustento da família. Nesse contexto, faz-se necessário transformar as práticas tradicionais de divisão sexual do trabalho na família, no sentido de uma divisão mais justa e igualitária entre homens e mulheres, minimizando a sobrecarga de trabalho das mulheres. É na estreita relação entre o espaço privado da casa e de seu arredor, nos quintais ou terreiros, que as mulheres desenvolvem sua produção econômica, garantem a segurança alimentar de suas famílias e exercitam sua participação política no espaço público. Essa relação de proximidade entre o espaço privado da casa e o espaço público vivenciada pelas mulheres parece contribuir para a construção de uma visão bem mais sistêmica e complexa da natureza. Mas será que só as mulheres devem ser as responsáveis por esse importante trabalho?

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As mulheres em luta acham que não, os homens também devem participar. Porém, a realidade é bem mais complexa, pois se vive ainda em uma sociedade patriarcal, ou seja, o poder masculino decide e comanda, e as desigualdades de gênero (relações de poder entre homens e mulheres) impõem muitas desvantagens para as mulheres. Um bom exemplo é a longa jornada de trabalho das mulheres, responsáveis pelas tarefas domésticas, pelo trabalho do cuidado com as crianças, da reprodução, além do trabalho da produção, da agricultura, do beneficiamento, da comercialização, da participação em espaços de representação política. Muito trabalho para as mulheres, pouco prestígio e muito pouco tempo para si, para cuidar de sua saúde, do seu lazer. Essa situação causa injustiças, e precisamos superá-las. O desafio é grande, e a luta é também dos homens, das mulheres, das organizações, dos movimentos e de toda a sociedade. As mulheres têm contribuído muito com suas experiências agroecológicas nos quintais produtivos, no beneficiamento de frutas e na preservação do bioma Caatinga através do manejo sustentável das plantas nativas e da conservação da biodiversidade nos quintais diversificados, nos bancos de sementes e nos viveiros de mudas. Elas estão contribuindo para a recuperação de áreas degradadas da vegetação da Caatinga, assim como têm exercido um papel fundamental como guardiãs de sementes crioulas e espécies nativas desse bioma, como vimos nas histórias das mulheres da comunidade de Feijão, em Pernambuco, e de outras mulheres.

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Vamos aprender mais com suas experiencias A experiência do projeto Mulheres na Caatinga — desenvolvido pela Casa da Mulher do Nordeste, com a participação de muitas mulheres agricultoras, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco, através do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido (Neppas/Uast), a Rede de Mulheres do Pajeú e outras organizações — está mudando o cenário da região. A agricultora Cláudia Maranhão, que reside no Sítio Lagoa de Jurema, do município de Itapetim, participante do projeto, traz a sua experiência de quintal produtivo como um grande aliado para a preservação do bioma Caatinga. Nesse contexto, ela destaca as práticas agroecológicas adotadas no seu quintal produtivo — com uma grande diversidade de culturas, como plantas adubadeiras e forrageiras —: o plantio de fruteiras e hortaliças, a criação de pequenos animais, o manejo sustentável das plantas nativas, o reflorestamento, a conservação da biodiversidade e a preservação das sementes crioulas. Cláudia destaca que a segurança alimentar da família e dos animais é garantida em uma porcentagem de 80%, sem desmatar ou queimar a Caatinga, unindo sustentabilidade e preservação, o que torna sua propriedade em um verdadeiro oásis no Sertão, um exemplo de convivência com o Semiárido. Além de cuidar da propriedade, Cláudia participa do Grupo Mulheres Agricultoras da comunidade de São Pedro, em São José do Egito, e integra a Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú. Para ela, esse espaço de participação contribui para o aprimoramento de conhecimento, que é essencial para o fortalecimento das atividades que desenvolve, principalmente enquanto mulher. Como demonstram os relatos, as mulheres vêm desempenhando um papel importante na sustentabilidade da vida; portanto, devem ser reconhecidas como sujeitos produtores de conhecimentos, capazes de contribuir com mudanças de práticas e atitudes —, seja nas relações familiares, seja nas comunidades —, e organizadas para a incidência política em favor de um modelo ambientalmente sustentável e agroecológico que garanta a permanência no campo das futuras gerações e da conservação do bioma Caatinga. Enfim, um modelo economicamente justo e igualitário para mulheres e homens.

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A agricultora Maria José Pereira da Rocha, 34 anos, residente na comunidade de São Miguel, em São José do Egito, já produziu cerca de 2.500 mudas de espécies nativas para o plantio. Segundo ela, a produção das mudas nativas é importante, pois causa um sentimento de preservação da vida, mobiliza a juventude e a comunidade para um olhar de preservação sobre a Caatinga:

“Eu sinto muito prazer em produzir e também doar mudas que estão em extinção para outras pessoas de outras comunidades poderem plantar. Tudo a gente tira da mata, lenha, madeira, casca para fazer remédios, alimentos para os animais e frutas para consumo de casa. Se não existisse a Caatinga, seria como não ter água”. As principais espécies produzidas por ela são o angico-vermelho, o pau-de-arco-roxo e amarelo, o mulungu e a aroeira. A produção de mudas nativas é vista como um instrumento de educação ambiental, de geração de renda para as mulheres, de acesso a tecnologias adaptadas, além de gerar conhecimento e preservar a vida da Caatinga. Nesse sentido, as mulheres são as maiores responsáveis pela coleta e queima de lenha para o processamento de alimentos tanto para o consumo da família quanto para a comercialização nas feiras e nos mercados locais, como fonte geradora de renda familiar. Portanto, elas se constituem em sujeitos fundamentais para uma ação transformadora do manejo da Caatinga para fins de produção de madeira para lenha e energia. Nessa construção, o Mulheres na Caatinga tem apoiado a implementação de uma tecnologia social, sustentável ambientalmente, que são os fogões agroecológicos, construídos e utilizados por algumas mulheres na região. Essa tecnologia tem diminuído o desmatamento da Caatinga. Agora vamos aprender com as mulheres a experiência da construção dos fogões agroecológicos, seu sentido e sua importância.

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MUITO TRABALHO PARA AS MULHERES MUITOS CONHECIMENTOS

MANEJO DA CAATINGA

"TUDO A GENTE TIRA DA MATA, MADEIRA, CASCA PRA FAZER REMÉDIO, ALIMENTOS PARA OS ANIMAIS,FRUTAS PARA COMER. SE NÃO EXISTIR A CAATINGA SERÁ COMO NÃO TER ÁGUA.”

CONTRIBUINDO COM A BIODIVERSIDADE

FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

TEMOS QUE ACABAR COM O PATRIARCADO

MULHERES EM LUTA DIVISÃO DOS TRABALHOS EM CASA COM OS HOMENS DIVISÃO JUSTA E IGUALITÁRIA ENTRE HOMENS E MULHERES

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Fogao Agroecologico, uma tecnologia social, ambiental e feminista O fogão a lenha é uma tradição antiga nas cozinhas brasileiras e ainda está presente nas casas no campo. Os modelos de fogão a lenha para preparação de alimentos são, na sua maioria, antigos e rústicos, baseados em tecnologias ineficientes e poluidoras, e, consequentemente, causam grandes danos à saúde humana e ambiental de forma permanente e acumulativa.

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A lenha constitui mais de 80% da matriz energética utilizada para a preparação de alimentos das famílias da Caatinga. Para amenizar o seu uso, o projeto Mulheres na Caatinga construiu 210 fogões agroecológicos na região do Sertão do Pajeú. Mas, além do benefício para o meio ambiente, também queremos que os fogões agroecológicos beneficiem a vida das mulheres e provoquem mudanças na divisão dos trabalhos em casa. Queremos que os homens usem o fogão para cozinhar para a sua família, que ajudem também na limpeza e na conservação da casa. Queremos que os homens ocupem a cozinha da sua casa. Nesse contexto, destacamos a necessidade de transformar as práticas tradicionais em uma divisão mais justa e igualitária entre homens e mulheres. Essa forma de ser gera uma sobrecarga para as mulheres, que assumem o trabalho de cuidado da roça, dos animais e dos grupos de comercialização e de artesanato. As mulheres, através da experimentação, vão construindo novas estratégias de enfrentar a realidade. Vejamos sua participação na construção dos fogões agroecológicos. Primeiramente foi trazido o fogão a lenha ecofogão, originado de Minas Gerais e que já vinha pronto. Os ecofogões foram testados e avaliados pelas mulheres. A partir dessa avaliação, de que era uma tecnologia patenteada, que não podia ser reproduzida, buscou-se conhecer outras tecnologias a partir da oficina de edificação de fogões, com a Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha). Foi partindo dessa experiência que chegamos ao seu modelo atual, denominado fogão agroecológico. Essa tecnologia é fruto, principalmente, do olhar e da vivência das agricultoras, que passaram a usar o fogão e foram indicando formas para aprimorá-lo, adaptando-o às suas necessidades.

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O Fogao agroecologico O processo de construção dos fogões agroecológicos foi feito através de uma metodologia multiplicadora, na qual agricultoras e agricultores participaram das oficinas nas comunidades e multiplicaram o conhecimento adquirido na construção dos fogões. Cada fogão agroecológico possui as seguintes dimensões: 1,60 cm de comprimento x 55 cm de largura x 80 cm de altura, em tijolo comum aparente, com uma chapa de ferro mineira de duas bocas, além de um forno de ferro fundido de 40 cm x 40 cm x 40 cm, revestido de tijolo comum aparente e com uma chaminé de ferro galvanizado de 3 pol com 2 m de altura. Passo a passo para a construção do fogão agroecológico 1º Passo: Organização dos materiais para a construção do fogão agroecológico. É importante que todos os materiais estejam próximo ao local da construção.

Materiais

Ferramentas

200 unidades de tijolo comum

1 bucha ou espuma de pedreiro

1 chapa de ferro mineira de duas bocas 1 forno de ferro fundido 40 cm x 40 cm 1 chaminé de ferro galvanizado de 3 pol com 2 m de altura

1 cano ou joelho de 40 mm para fazer o acabamento 1 colher de pedreiro 1 prumo

20 latas de areia grossa

1 trena ou metro

1 saco de cimento de 50 kg

1 lata de 20 l

1 unidade de cola durepox média

1 linha de náilon

8 latas de barro saibro

1 régua

50 cm de fio de arame liso

Nível de madeira

2 unidades de barras de ferro de 17 cm com espessura de 6,3 cm

Desempoladeira

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2º Passo: Juntamente com a mulher, escolha do local O fogão deve ser construído dentro da cozinha, em um local abrigado da luz do Sol. Deve ser aproveitada uma parede em formato de L. Devem-se vedar as bordas do forno com a cola durepox, exceto na porta do forno, antes de iniciar a construção do fogão agroecológico.

3º Passo: Construção da caixa do fogão O fogão agroecológico possui as seguintes dimensões: 1,60 cm de comprimento x 55 cm de largura x 80 cm de altura. Nivele o espaço para iniciar a construção. Precisa-se de 1,60 cm de comprimento x 55 cm de largura. Prepare a massa para assentar os tijolos. Junte sete latas de 20 l de saibro para 1/2 saco (25 kg) de cimento, coloque água suficiente até encontrar o ponto da massa e faça um traçado. Assente os tijolos fazendo um L. Levante a caixa do fogão com a parede com altura de 80 cm de altura. Uma recomendação importante: assente os tijolos com cuidado para não sujar muito. O acabamento ficará mais bonito. 4º Passo: Enchimento da caixa do fogão Agora, preencha com as 20 latas de areia. A areia é o material mais recomendado para o preenchimento, pois ela retém mais o calor.

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Encha de areia até deixar 20 cm de altura. Essa etapa deve ser realizada com cuidado. Como as paredes são feitas no mesmo dia e ainda não haverão secado, coloque a areia com baldes sem que eles toquem nas paredes, para não quebrá-las.

5º Passo: Construção da base de sustentação do fogão agroecológico Monte a base do fogão com três fiadas de tijolos sobre a areia (não é necessário utilizar massa). Com a ajuda de um martelo, bata nos tijolos devagar para melhor encaixe. Na arrumação, é importante que os tijolos fiquem bem ajeitados e não sobre espaços na areia.

6º Passo: Construção da base de sustentação da câmara de combustão O fogão tem uma parede divisória — que vai separar a câmara de combustão do forno — inicialmente construída com duas fiadas de tijolos. Monte as paredes da câmara de combustão com os tijolos formando duas fiadas, uma de cada lado, deixando uma saída para a fumaça. Na parede que divide a câmara de combustão do forno, deve ser construída uma rampa com dois tijolos. Cave um pouco e encaixe os tijolos na areia. Passe uma camada fina da massa utilizada para subir as paredes apenas para fazer um leve rejunte na câmara de combustão e nas rampas.

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A boca do fogão é onde se colocam as lenhas e ficará então com 16 cm de largura e 10 cm de altura. Construa a boca do fogão fazendo uma rampa com dois tijolos. Cave um pouco e encaixe os tijolos na areia. Os materiais, aliados ao desenho mais estreito da cavidade para a lenha, funcionam como isolantes térmicos naturais, ajudando a reter o calor por mais tempo.

7º Passo: Construção das paredes para encaixar o forno Inicialmente, preencha com areia o espaço onde será colocado o forno até a altura da rampa (é importante não pilar a areia). Faça da mesma forma próximo à boca do fogão. Em seguida, preencha esse espaço com os tijolos deitados e encaixados na areia. Para assentá-los, comece pelo lado do balcão do fogão. Coloque os tijolos um ao lado do outro respeitando seu comprimento. Agora é subir a parede para assentar o forno. São necessárias duas paredes paralelas com 60 cm de distância pela parte de fora e 53 cm de altura. Encaixe o forno deixando um espaço de 5 cm de todos os lados, para a circulação da fumaça quente no entorno do forno, que o fará esquentar. Feche a caixa nas laterais com pequenos pedaços de tijolos e faça o acabamento com a mesma massa usada para subir as paredes.

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Para o fechamento do forno, na parte de cima é importante colocar uma grade (de geladeira ou fogão a gás já usada) ou folha de zinco prevendo um espaço para assentar a manilha da chaminé. Para o acabamento da parte de cima da caixa do forno, coloque tijolos deitados em cima da grade em seguida utilize a massa aplicada para subir as paredes e faça uma camada fina formando uma base reta.

8º Passo: Colocação da chaminé Coloque a chaminé de ferro galvanizado de 3 pol com 2 m de altura no recanto da parede próximo ao forno. Depois, com a ajuda do fio de arame liso, amarre a chaminé no caibro do telhado.

9º Passo: Fixação da chapa de ferro Agora é hora de assentar a chapa de ferro mineira de duas bocas que vai ficar em cima da câmara de combustão respeitando o espaçamento de16 cm de largura e 10 cm de altura para colocação da lenha. Inicie colocando uma camada de massa nas duas laterais da câmara de combustão. Assente a chapa de ferro colocando um pouco de massa na ponta que fica na saída para fumaça.

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10º Passo: Acabamento do fogão agroecológico Passe uma camada de massa de cimento e areia na base do fogão e espalhe com a ajuda da colher. Passe a desempoladeira para ajudar no acabamento. Em seguida, utilize a régua de pedreiro para tirar o excesso de massa. Com a ajuda do nível, verifique se a mesa do fogão está por igual e nivelada. Para deixar a mesa do fogão mais fácil de limpar, junte 1/2 kg de cimento com 1 l de água. Mexa fazendo uma calda de cimento e passe sobre a mesa do fogão, sempre deixando em nível. Agora é hora de limpar as paredes do fogão passando uma esponja úmida para retirar o excesso do cimento. Após 3 dias, lixe o fogão e retire o excesso de poeira com a ajuda do pincel ou da esponja. Em seguida, passe uma demão de verniz para deixar o fogão mais bonito além de torná-lo mais fácil de limpar e com melhor conservação.

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Está pronto agora. Espere 3 dias para acender o primeiro fogo, assim diminuirão os riscos de rachaduras e quebraduras da base do fogão.

Valor do fogão: R$ 500,00

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Os beneficios do fogao agroecologico A alta eficiência energética do fogão agroecológico se torna possível com o uso de lenha secundária como: gravetos finos, sabugos de milho e cascas de árvore como combustível, materiais que podem ser encontrados nos quintais produtivos das casas, onde as mulheres fazem seus plantios e a criação de pequenos animais. A lenha mais fina possibilita também o manejo ao redor da casa, diminuindo os impactos ambientais no bioma Caatinga. Durante reuniões grupais com as mulheres participantes do projeto Mulheres na Caatinga para avaliação da tecnologia e seu desempenho, em geral declararam uma boa aceitação da tecnologia pela economia de lenha e de gás, pela redução de 70% de fumaça dentro da casa, por terem chaminés de melhor concepção e pela beleza. Evidenciaram que o ambiente da cozinha está mais limpo, com paredes claras e limpas, bem como há uma redução do trabalho da mulher pela diminuição do carvão nas panelas e principalmente na caminhada pela busca da lenha gerando uma melhora na saúde e maior consciência ambiental.

“Meu maior prazer em relação ao fogão agroecológico é a economia e renda que vem gerando aqui em casa. Eu faço muito bolo e doce para entregar ao Programa de Aquisição de Alimentos, então não preciso mais utilizar o gás para cozinhar. Através do meu fogão agroecológico, estou mostrando aos meus vizinhos a importância da preservação da Caatinga, fazendo o uso racional da lenha. Eles me visitam para conhecer a tecnologia e multiplicar essa ideia”. Maria Suely, agricultora da comunidade de Bom Sucesso – Ingazeira/PE

“O que eu mais gostei no fogão agroecológico é que ele é uma tecnologia sustentável, eficiente, econômica e não despeja fumaça dentro de casa. As longas caminhadas para buscar lenha agora se limitam a visitas ao meu quintal, onde recolho pequenos galhos que caem das árvores, gravetos, podas e restos de madeira. Com o fogão agroecológico não tenho mais que desmatar a Caatinga para conseguir lenha. Hoje estou ciente da preservação da Caatinga, que tem várias utilidades na minha vida, como por exemplo: tratamentos medicinais, alimentação para os animais, ar puro e beleza para nosso sertão.” Silvana Faustino, agricultora da comunidade de Umburanas – Afogados da Ingazeira/PE.

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HOMENS OCUPANDO A COZINHA DA SUA CASA

FAZENDO O TRABALHO DOMÉSTICO

BLÁ, BLÁ, BLÁ...

BLÁ, BLÁ, BLÁ...

FOI CONSTRUÍDO 210 FOGÕES NA REGIÃO É MUITO BOM! NÃO DESMATA A CAATINGA SÓ USA GALHOS QUE ENCONTRAMOS AO REDOR DE CASA NÃO TEM FUMAÇA MANTÉM O CALOR POR MUITAS HORAS É UMA ECONOMIA!

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A farmacia viva das Sertanejas O uso de plantas medicinais da Caatinga é uma das práticas mais antigas utilizadas pelas mulheres. É tão antiga quanto a própria existência dos seres humanos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, na década de 1990, que cerca de 70% das pessoas que vivem em países em desenvolvimento dependiam de plantas medicinais como sendo a única maneira de cuidar da saúde. No Sertão do Pajeú, a medicina popular é fruto da mistura de saberes de diversos grupos indígenas que povoavam essa região. Com destaque para os tapuias-cariris, que habitavam largas porções do Agreste e do Sertão, e também para os povos das comunidades tradicionais quilombolas e os colonizadores portugueses. Então, podemos dizer que a maioria das formas de uso das plantas medicinais usadas no Sertão do Pajeú é resultado da interação de pessoas de diferentes culturas.

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Cuidados que voce deve ter ao usar um remedio feito com plantas Muitas pessoas têm a crença de que, por estar tomando um remédio à base de plantas da Caatinga, não pode sofrer nenhum mal, já que é algo vindo da natureza. Mas isso não é verdade. O preparo e o uso errado de um remédio caseiro podem trazer complicações e efeitos colaterais. A agricultora e agente de saúde comunitária Maria da Neves, do Grupo de Mulheres Renascer, da comunidade de Açude da Porta, do município de São José do Egito, explica que uma mesma planta pode ser utilizada para diferentes enfermidades. É importante não fazer uso delas sem a devida orientação médica ou de alguma rezadeira ou raizeiros, como são conhecidos na região. “Sempre que for preparar um remédio caseiro, utilize água limpa e tratada para evitar contaminação durante o preparo. Além disso, é importante usar sempre partes sadias das plantas, isto é, que não estejam contaminadas ou doentes, e na quantidade indicada. Devemos coletar essas plantas, folhas, cascas, sementes, flores, raízes e cascas sem prejudicar também suas propriedades e o seu desenvolvimento, de forma que elas estejam sempre disponíveis na Caatinga”, orientou.

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Plantas medicinais da Caatinga Este levantamento foi realizado pelas mulheres participantes do projeto Mulheres na Caatinga nas oficinas temáticas sobre o bioma Caatinga e a Agroecologia. O levantamento das plantas medicinais utilizadas pelas mulheres tem o fim de registrar e preservar o conhecimento popular. A metodologia usada foi a de caminhada pela Caatinga e reconhecimento das mulheres para coleta de flores, folhas, galhos, cascas e raízes, e depois o conhecimento foi socializado em uma roda de diálogo, trazendo suas observações e receitas sobre o uso medicinal das plantas desse bioma. Os conhecimentos sobre a utilização e as receitas das plantas medicinais provêm, em geral, do repasse de mãe para filhas e dos saberes dos mais velhos. Verifica-se a importância da Caatinga na vida das mulheres e da população local. As informações abaixo se referem às indicações terapêuticas e às formas de uso mais frequentes de algumas espécies utilizadas pelas mulheres. Geralmente utilizam partes das plantas (raízes, cascas do caule, folhas, flores, frutos e sementes) na preparação dos remédios caseiros ou do mato, como são popularmente chamados. As formas de preparo dos remédios caseiros — como lambedor (xarope caseiro), chás por cocção e infusão, macerados em água, banhos de assento e compressas — foram as mais diversas possível. As indicações medicinais foram recomendadas de acordo com o relato dos conhecimentos populares e empíricos, verificando-se que as mulheres utilizam a fitoterapia como forma de prevenção e cura de muitas doenças. 1º | Angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan) É utilizado para estancar pequenas hemorragias e no tratamento de pequenos cortes. Essa planta também é utilizada no tratamento de doenças respiratórias, como bronquite asmática, tosse e inflamações no pulmão. O xarope natural pode ser preparado em casa, desde que se sigam as recomendações abaixo.

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Ingredientes 1 pedaço de entrecasca de angico 1 1/2 litro de água 1/2 kg de rapadura Modo de usar Tome três colheres por dia até aliviarem os sintomas. Indicação Serve para o tratamento de doenças respiratórias, como bronquite asmática, tosse e inflamações no pulmão.

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Modo de preparo Primeiramente, desfie a entrecasca do angico. Depois junte-o com a água e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 10 minutos. Em seguida, acrescente a rapadura (previamente picada) e mantenha no fogo até que derreta e cozinhe. Feito isso, espere esfriar e coe com um pano limpo. Guarde o xarope pronto em um pote de vidro limpo e com tampa. Mantenha guardado na geladeira.

2º | Umburana-de-cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) Na medicina popular das mulheres, também é conhecida como imburana-de-cheiro, por exalar um cheiro muito agradável. É usada no tratamento de problemas respiratórios — a exemplo de bronquite, asma, sinusite, gripe e resfriado — e como expectorante. A fruta serve para gripe e asma; e as folhas, para combater inflamações. É rica em vitamina C; por isso, é ótima para prevenir a gripe e curar tosse. Para a saúde da mulher tem grande valia no tratamento da tensão pré-menstrual e combate os sintomas da menopausa. É excelente para curar infecção intestinal e má digestão. Veja a receita abaixo. Ingredientes 7 sementes de umburana-decheiro torradas 600 ml de água potável Modo de usar Tome três copos de (200 ml) durante o dia até aliviarem os sintomas. Indicação Serve para curar infecção intestinal e má digestão.

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Modo de preparo Coloque as 7 sementes da umburana-de-cheiro em uma panela para torrar (pois crua, ela arde), sempre mexendo para não queimar. Quando as sementes dão um estalinho na casca, já estão prontas para serem descascadas. Para fazer uma xícara de chá, ferva a água por alguns minutos junto com as 7 sementes já torradas. Pode tomar com ou sem açúcar.

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3° | Juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.) Chamado carinhosamente pelas mulheres de juá, essa planta tem um grande significado na vida das sertanejas. São utilizadas as cascas e as folhas do juazeiro para aliviar alguns problemas respiratórios, como, por exemplo, gripe e tosse. Mas apenas a casca é usada como anti-inflamatório. É anticaspa e um ótimo tonificante para os cabelos; da sua tintura, é possível fazer sabonetes fitoterápicos. A raspa do caule serve para escovar os dentes. Como extrair o pó da casca do juazeiro para escovar os dentes? Ingredientes Raspas da entrecasca do juá

Indicação Seve para higiene bucal.

Modo de usar Friccione o pó nos dentes, com o auxílio de uma escova molhada. Para melhorar o sabor amargo do juá, podem-se juntar partes iguais de pó de folhas secas de hortelã rasteiro ou alecrim-pimenta.

Modo de preparo Coloque a entrecasca do juá para secar bem e triture com o auxílio de um moinho, liquidificador ou pilão.

4º | Catingueira-branca (Caesalpinia pyramidalis - Leguminosae: Caesalpinioideae) A agricultora Rita da Silva Fortunato, 50 anos, residente na comunidade de Poço Redondo, do município de Tabira, traz seu conhecimento tradicional, em especial sobre o uso desta planta — a catingueira. “Ela serve para vários tratamentos. A flor serve para fazer chá para resfriado. A casca serve para fazer cozimento para tratar infecção intestinal e hemorroidas. As folhas servem para fazer xarope para reumatismo”, conta. Em especial, destaca o uso da flor para controlar o calor da menopausa, e a receita é a seguinte: Ingredientes 200 gr da flor desidratada da catingueira 1 l de água limpa e potável Modo de usar Tome três copos americanos (200 ml) ao dia

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Indicação Serve para diminuir o calor da menopausa. Modo de preparo Coloque as flores dentro da água por 1 dia e deixe descansar. Depois, é só coar, colocar em uma garrafa limpa e conservar na geladeira.

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5º | Jatobá (Hymenaea courbaril) Medicinalmente, seus frutos são utilizados no fabrico de remédios para tosse, gripe, bronquite e outros problemas respiratórios, além de dor de cabeça, gastrite e anemia. Da casca, é feito o chá para dores em geral; funciona também como calmante e anti-inflamatório, além de auxiliar no tratamento da depressão e da próstata. A casca de jatobá serve para cicatrizar feridas, pois ela possui propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias que facilitam a cicatrização e evitam a infecção. Ingredientes 2 colheres (de sopa) de casca de jatobá 1 l de água Modo de usar Uso interno: tome 1/2 copo americano por dia. Uso externo: molhe uma bola de algodão nesse chá e aplique sobre a ferida, deixando atuar de 15 a 20 minutos. Indicação Cicatrizante de ferimentos e antiinflamatório.

Modo de preparo Coloque as cascas devidamente limpas em uma panela juntamente com a água e deixe ferver por 15 minutos. Depois deixe esfriar, em seguida coe e beba. O chá pode também ser utilizado para lavar as feridas, pois vai ajudar na cicatrização. Basta molhar uma bola de algodão nesse chá e aplicar sobre a ferida, deixando atuar de 15 a 20 minutos.

6º | Aroeira (Schinus molle) Essa planta da Caatinga é uma das mais citadas e conhecidas entre as mulheres agricultoras. É muito utilizada devido às suas propriedades terapêuticas anti-inflamatórias e principalmente cicatrizantes. As mulheres utilizam as cascas dessa planta para diversos tipos de inflamação, como, por exemplo, na garganta, no útero e no ovário, e também para curar ferimentos e doenças na pele. A aroeira é um excelente remédio caseiro e natural para a infecção vaginal. Veja, abaixo, a receita desse chá.

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Ingredientes 1 l de água fervente 100 g de casca de aroeira Modo de usar Esse chá pode ser utilizado para lavar a região genital e pode se tomar três vezes ao dia - 100 ml (meio copo).

Indicação Serve para tratar infecção vaginal Modo de preparo Coloque os dois ingredientes em uma panela e deixe ferver por cerca de 5 minutos. Tape, deixe amornar e coe.

7º | Mandacaru (Cereus peruvianus) Consagrado como símbolo do Nordeste, é um dos cactos brasileiros de maior porte, com ampla distribuição em todo o Semiárido. Na Caatinga, é um indicador de proximidade da estação chuvosa, imortalizado na voz do rei do baião, Luiz Gonzaga, que cantou os versos: “Mandacaru quando ‘fulora’ na seca É o sinal que a chuva chega no sertão Toda menina que enjoa da boneca É sinal que o amor já chegou no coração.” Tem grande valia medicinal, a água encontrada no seu caule é usada para inflamação gastrointestinal e doenças renais e serve também para amenizar dores na coluna. Ingredientes 1 l de água fria e limpa 4 rodelas de mandacaru 3 pés de quebra-pedra da variedade roxa. Modo de usar Tome três copos americanos (200 ml) por dia até amenizar ou curar o problema.

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Indicação Serve para tratar dores na coluna. Modo de preparo Pegue a água fria, coloque nela as 4 rodelas de mandacaru e os 3 pés de quebra-pedra roxo. Deixe descansar por 1 dia na geladeira, depois coe e armazene em uma garrafa de vidro limpa.

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NO SERTÃO, A MEDICINA POPULAR É FRUTO DA MISTURA DE SABERES E DIVERSOS GRUPOS INDÍGENAS QUE POVOAVAM ESTA REGIÃO, COMO:

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PLANTA MEDICINAL = CUIDAR DA SAÚDE

TAPUIAS-CARIRIS

QUILOMBOLAS

USO DAS PLANTAS MEDICINAIS

COLONIZADORES PORTUGUESES

CUIDADOS NO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS:

UTILIZE SEMPRE ÁGUA LIMPA E TRATADA NO PREPARO DO REMÉDIO

NÃO FAZER USO DELAS SEM ORIENTAÇÃO MÉDICA OU DE REZADEIRA OU RAIZEIROS

UMBURANA DE CHEIRO: SERVE PARA PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS, COMO GRIPE E SINUSITE. E PARA AS MULHERES É USADA NO TRATAMENTO DE TPM E COMBATE AOS SINTOMAS DA MENOPAUSA

COLETAR PLANTAS, FOLHAS, SEMENTES, CASCAS, FLORES E RAÍZES SEM PREJUDICAR O DESENVOLVIMENTO DO BIOMA CAATINGA

USAR PARTES SADIAS DAS PLANTAS

AS MULHERES USAM A FITOTERAPIA COMO FORMA DE PREVENÇÃO E CURA DE MUITAS DOENÇAS

MANDACARU: É USADA PARA INFLAMAÇÃO GASTROINTESTINAIS E DOENÇAS RENAIS, SERVE TAMBÉM PARA AMENIZAR DORES NA COLUNA

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Saberes, Sabores e Poesia Como vimos até aqui, a construção do conhecimento desenvolvido pelas mulheres parte de seu olhar, de sua experiência, do seu lugar do mundo. Esse lugar reservado às mulheres foi construído ao longo da história e pela cultura. Vivemos em uma cultura patriarcal, que parte da ideia de que quem tem o conhecimento são os homens, e eles é que fazem ciência. A ciência é o conhecimento que pode ser comprovado por meio de pesquisas produzidas por cientistas. Esse conhecimento é muito valorizado pela sociedade e é, em sua grande maioria, produzido pelos homens, porque existem poucas mulheres que são reconhecidas como cientistas. Concluímos então que o conhecimento popular, ou seja, aquele que não é comprovado cientificamente, produzido na experimentação empírica, não tem valor pela ciência. Embora isso, sabemos que muitas mulheres e homens que estão nas universidades acreditam nesse conhecimento popular e têm

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valorizado estudos e pesquisas nesse campo. A Agroecologia é uma ciência que valoriza o conhecimento popular e, por isso, nos identificamos com ela. Portanto, é muito importante a valorização do saber das mulheres, construído no seu cotidiano, muitos aprendidos com a mãe, as avós e vizinhas. São experimentações em seus quintais, dentro de casa e na troca com a vizinhança. O conhecimento das mulheres está baseado em três lógicas muito importantes: • A diversificação e relação entre as coisas: a biodiversidade encontrada nos quintais das mulheres. • A relação do saber com as necessidades da vida: afeto, nutrição, higiene, saúde, felicidade. • A paciência da construção: o respeito aos tempos da semeia, do cuidado e da colheita. Por isso, os conhecimentos das mulheres estão tão próximos à segurança alimentar e em torno do espaço da reprodução. São saberes relacionados com a sobrevivência e a existência da humanidade.

Sabores Essa sabedoria das mulheres na produção do alimento foi construindo uma ideia na sociedade de que são as mulheres as responsáveis por essa importante tarefa. Por isso precisamos envolver os homens e jovens nessa atividade. A experimentação na produção do alimento é, para as mulheres, uma oportunidade de vivenciar o aprender fazendo, testando e descobrindo novas formas e receitas que são trocadas e passadas para outras mulheres. O resultado é um vasto cardápio, rico em variedade e nutrição, oriundo da Caatinga. Esses conhecimentos estão aqui compartilhados através da sabedoria de mulheres em suas receitas de suco, polpa e bolo.

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É no interior do Brasil que se guardam muitos sabores que a maioria das pessoas dos grandes centros urbanos desconhece. São castanhas, frutos, frutas, geleias, polpas, carnes e bebidas de sabores marcantes que representam a cultura e o modo de se alimentar de um povo, que simplesmente só são encontrados em biomas específicos, a exemplo da Caatinga.

Umbu Entre tantos sabores, destacamos algumas receitas características da região do Sertão do Pajeú, entre elas a produção de polpa com os frutos exóticos, a exemplo do fruto do umbuzeiro, o umbu — também conhecido como imbu. O nome vem do tupi-guarani, ymb-u, que significa árvore que dá de beber. Pode ser consumido in natura, em uma boa umbuzada ou então ser transformado em polpa para melhor ser aproveitado no ano inteiro. Um bom exemplo de aproveitamento dessa riqueza está no grupo de mulheres Caravana da Esperança, da comunidade de Ipueira, do município de São José do Egito. Esse grupo é uma organização que conta com 36 agricultoras que encontraram no

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umbuzeiro uma das fontes de renda. Elas produzem polpas a partir do umbu, feitas em processo totalmente agroecológico. O Caravana da Esperança ensina como fazer uma deliciosa umbuzada a partir da polpa do umbu. Receita de umbuzada Ingredientes 1 kg de polpa de umbu já processada e congelada 3 l de leite 1 kg de açúcar

Modo de preparo Bata todos os ingredientes aos poucos no liquidificador por 10 minutos e já está pronta para servir.

Caju O fruto do caju destaca-se pelo alto valor nutritivo, principalmente em relação ao teor de vitamina C. Segundo os nutricionistas, o fruto do caju é rico em cálcio, fósforo, vitamina A, complexo B, potássio e ferro, fortalecendo assim o sistema imunológico e combatendo o estresse. A castanha-de-caju aumenta os níveis de HDL, o bom colesterol, protegendo o coração e proporcionando uma vida mais saudável.

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Receita de bolo de fubá com castanha-de-caju Ingredientes 1 ½ xícara de manteiga em temperatura ambiente; 2 xícaras de açúcar 3 xícaras de castanha-de-caju triturada 2 colheres (chá) de essência de baunilha 6 ovos Raspa da casca de 4 limões Suco de 1 limão 1 ½ xícara de fubá 1 ½ colher (chá) de fermento em pó 1 pitada de sal Manteiga e farinha de trigo para untar e polvilhar Modo de fazer Preaqueça o forno a 180 °C (temperatura média). Unte uma assadeira retangular de 25 cm x 30 cm com manteiga e

polvilhe farinha. Reserve. Na tigela, coloque a manteiga e o açúcar. Misture até obter uma mistura fofa e bem clara. Acrescente as castanhas trituradas, a essência de baunilha e os ovos, um a um, e continue mexendo. Adicione as raspas e o suco de limão, o fubá, o fermento e o sal. Mexa até ficar homogênea. Transfira a massa para a assadeira untada e leve ao forno para assar por 45 minutos. Para verificar o ponto do bolo, espete um palito na massa. Se sair limpo, está pronto. Desligue o forno, retire o bolo e deixe esfriar. Corte o bolo em quadradinhos, arrume-os numa travessa e polvilhe com açúcar de confeiteiro.

Poesias A microrregião do Pajeú tem como expressões culturais o cordel, o pífano, o reisado, o xaxado, o samba de coco, a música, os caretas, que valorizam tradições culturais de Triunfo, e os tabaqueiros de Afogados da Ingazeira. Uma das principais expressões culturais da região é a poesia popular, que traz elementos do imaginário sertanejo ou que declama a riqueza da cultura pernambucana e de sua vivência cotidiana, que é transformada em alimento para a alma. Essas expressões deram a fama ao Sertão do Pajeú de Berço da Poesia. São diversos os nomes de poetas, poetisas, repentistas declamadores e de pessoas admiradoras dessa arte.

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Os valores da Caatinga Poesia escrita por Maria do Socorro Silva Nascimento, conhecida por Côca. Agricultora do Assentamento Carnaúba do Ajudante, em Serra Talhada/PE. Os valores da Caatinga Não se podem expressar Só as palavras não falam Os prazeres que tem lá Dá-me uma certa emoção Alegra o meu coração Quando começo a pensar

É muito lindo de se ver A Caatinga se movimentando Você fica abismado Dizendo: estão dançando Mas estão agradecendo Com aquele movimento Dizendo: nós superamos

Quando a chuva não vem Mesmo assim não é o fim A Caatinga é resistente Cada dia ensina a mim A passar aquela prova Mas a alma se renova Dizendo vou resistir

Existem muitas belezas Que não dá para expressar É preciso você mesmo Ir lá para verificar Mas vá com convicção Que quem visita meu Sertão Com certeza quer voltar

Muitas lições de vida Da Caatinga nós tiramos Igual ao imbuzeiro Água nós armazenamos Precisamos nos organizar Assim como o croatá Semente nós guardamos

Se não temos uma varanda iluminada Nós temos um céu inteiro Se não temos um jardim Temos a Caatinga com flor e cheiro Podemos não ter piscinas Mas temos rio que convida A tomar banho verdadeiro

Como o mandacaru, permanecemos de pé A estiagem pode ser longa Mas grande é nossa fé Não devemos nos desesperar Devemos, sim, nos organizar Pra enfrentar o que vier

Não quero com minhas palavras Desprezar o seu lazer Mas temos aqui valores Que temos que defender O canto do sabiá O galo-de-campina a cantar Como é lindo o seu saber

Mas o tempo sempre muda Como dizem as estações A estiagem vai embora Quando vê chuva no chão As árvores voltam a florir Muito contentes a sorrir Como é grande a emoção

E com os barreiros cheios Também surgem indagações Como é que esse sapo Faz espuma sem sabão É coisa da natureza Grande é sua beleza Coisa boa é meu Sertão

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A Caatinga é muito sábia Poesia escrita por Elenilda Bezerra do Amaral, 28 anos. Natural de Tavares, Paraíba, atualmente reside em Afogados da Ingazeira, Sertão do Pajeú. Cresceu ao som da viola e incentivada pelo pai, que é poeta repentista. É professora, poetisa de bancada, declamadora e glosadora. Também ministra oficinas de cordel e literatura. A Caatinga é muito sábia Em todas suas escolhas Pra se proteger da seca As plantas ficam zarolhas Algumas guardam a água E outras perdem as folhas Eu admiro a jurema Quando sua flor se cria O seu colorido branco Vem transmitir calmaria Parece mais uma noiva Na passarela do dia O pé de umbu também É majestoso e valente Dá sombra, fruto e beleza Essa planta é diferente Na batata guarda água Debaixo da terra quente O juazeiro também Demonstra sabedoria Sua sombra acolhedora A qualquer hora do dia Compensa a falta de polpa Da sua fruta vazia Nossa flora e nossa fauna São nosso maior tesouro Cuidemos do que é nosso Para um futuro vindouro A Caatinga é nossa joia Mais valiosa que ouro

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O CONHECIMENTO POPULAR NÃO É VALORIZADO PELA CIÊNCIA

SABERES CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO:

MULHER

OLHAR

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EXPERIÊNCIA A AGROECOLOGIA É UMA CIÊNCIA QUE VALORIZA O CONHECIMENTO POPULAR

POR ISSO É IMPORTANTE VALORIZAR O CONHECIMENTO DAS MULHERES

EXPERIMENTAÇÕES EM SEUS QUINTAIS

DENTRO DE CASA

TROCA COM A VIZINHA

SABORES SABEDORIA DAS MULHERES NA PRODUÇÃO DOS ALIMENTOS

É IMPORTANTE ENVOLVER OS HOMENS E OS JOVENS NESTA TAREFA VARIEDADE E NUTRIÇÃO DA CAATINGA

POESIA

O PAJEÚ É O BERÇO DA POESIA

AS MULHERES TAMBÉM SÃO PRODUTORAS DESSA CULTURA/EXPRESSÃO CULTURAL

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OS VALORES DA CAATINGA NÃO SE PODEM EXPRESSAR SÓ AS PALAVRAS NÃO FALAM OS PRAZERES QUE TEM LÁ DÁ-ME UMA CERTA EMOÇÃO ALEGRA O MEU CORAÇÃO QUANDO COMEÇO A PENSAR

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Mulheres na Caatinga

Glossario Nome popular

Nome científico

Indicação

Modo de uso

Parte da planta utilizada

Abacate

Persea americana Mill.

Problema nos rins

Fazer chá

Folha, semente, fruto

Diabetes Queda de cabelo

Colocar de molho e beber Amassar e passar no cabelo

Abóbora

Cucurbita pepo L.

Dor de ouvido

Aplicar no local

Flor

Alfavaca

Ocimum campechianum Mill.

Verme

Fazer suco

Folha

Conjuntivite

Cozinhar e lavar o local com a água

Alecrim-de-caboco

Croton zehtneri Pax e Hoffm.

Sinusite

Colocar de molho e lavar a cabeça com a água

Alecrim-do-mato

Lippia thymoides

Sinusite

Cozinhar e inalar o chá Folha

Folha

Lavar a cabeça com a água Alho

Allium sativum L.

Inflamação na garganta

Fazer chá

Dente de alho

Ameixa

Ximenia americana L.

Ferida

Raspar e aplicar no local

Casca

Problema no útero

Tomar banho de assento Fazer chá

Andu

Cajanus cajan (L.) Mill. Ferimento Câncer de útero

Colocar de molho e lavar o local

Folha

Tomar banho de assento Angico

Aroeira-mansa

Anadenanthera colubrina

Tosse

Fazer lambedor

Gripe

Botar de molho para beber

Myracrodruon urundeuva

Dor de dente

Colocar de molho e tomar banho de assento

Cicatrizante Infecção urinária Queimadura Problema no útero e nos ovários

Casca

Casca, folha

Cozinhar e aplicar no local

Ferida Arruda

Ruta graveolens L.

Cólica

Fazer chá

Folha

Fazer xarope

Extrato do miolo, folha

Pisar e comer

Batata

Dor de ouvido Babosa

Aloe vera (L.) Burm

Queda de cabelo Hemorroida Gastrite

Batata-de-purga

Operculina macrocarpa (Linn) Urb.

Corrimento vaginal Febre pós-parto

Fazer chá

Batata-inglesa

Solanum tuberosum L. Gastrite

Fazer suco

Batata

Berinjela

Solanum melongena L. Colesterol alto

Botar de molho e beber

Fruto

Boldo

Peumus boldus Mol.

Fazer chá

Folha

Braúna/baraúna

Schinopsis brasiliensis Problemas urogenitais

Tomar banho de assento

Casca, folha

Cabacinha

Luffa operculata (L.) Cogn.

Dor de barriga de animal Catarro de animal

Pisar e dar para o animal comer

Batata

Cabeça-de-negro

Apodanthera congestiflora

Catarro de animal

Pisar e dar para o animal comer

Batata

Cajueiro-vermelho

Anacardium occidentalle

Cicatrizante Corrimento Problema no útero

Colocar de molho e lavar o local

Casca

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Prisão de ventre Problema no fígado

Tomar banho de assento

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Saberes, sabores e poesia

Nome popular

Nome científico

Indicação

Modo de uso

Parte da planta utilizada

Camapu

Physalis angulata L

Facilitar parto de ovelha

Comer

Fruto, ramo

Cana-de-açúcar

Saccharum officinarum

Pressão alta

Fazer chá

Folha

Canela

Cinnamomum zeylanicum Blume

Fraqueza

Fazer chá

Casca

Capim-santo

Cymbopogon citratus

Pressão alta

Fazer chá

Folha

Carne

Pereskia aculeata

Inflamação

Colocar de molho e tomar banho de assento

Folha

Fazer chá

Raiz, folha

Ferimentos Câncer de útero Carro-santo

Argemone mexicana L. Tosse Gripe

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Fazer lambedor

Abortivo Catinga-branca

Croton conduplicatus

Cicatrizante Problema no fígado

Colocar de molho e Casca, gema aplicar a água no local Fazer chá

Caesalpinia pyramidalis Tul

Gripe

Fazer chá

Flor

Catolé

Syagrus cearensis

Tosse seca

Fazer lambedor

Semente

Cedro

Cedrela odorata L.

Calmante

Fazer chá

Casca

Chuchu

Sechium edule Swart

Pressão alta

Fazer chá Fazer suco

Folha, casca

Cidreira

Lippia alba (Mill.) N.E.Br.

Calmante

Fazer chá

Ramos

Catingueira

Cansaço

Dor de cabeça Dor de barriga

Coentro

Coriandrum sativum L. Inflamação na garganta

Fazer chá

Semente

Coqueiro

Cocos nucifera L.

Ciclo menstrual desregulado

Fazer chá

Casca do coco

Coroa-de-frade

Melocactus zenhtneri

Gastrite

Assar, botar de molho e beber a água

Miolo

Couve

Brassica oleracea L.

Gastrite

Fazer suco

Folha

Caroá

Neoglasiovia variegata

Verme

Fazer chá

Raiz

Embiratanha

Pseudobombax marginatum A.

Próstata

Colocar de molho e beber a água

Casca

Dor na coluna Problema nos rins

Endro

Anethum graveolens

Cólica

Fazer chá

Semente, folha

Erva-doce

Pimpinella anisum L.

Pressão alta

Fazer chá

Folha

Espinho-de-cigano

Acanthospermum hispidum DC.

Tosse

Fazer chá Fazer lambedor

Raiz

Favela

Cnidoscolus quercifolius Pohl

Dor de dente

Passar no local

Leite do miolo do tronco

Fedegoso

Senna occidentalis (L.) Link

Tosse

Fazer lambedor

Raiz, semente

Febre

Fazer chá

Abortivo

Fazer café

Sinusite Feijão-brabo

Capparis flexuosa L.

Sinusite

Inalar o chá

Fruto, folhas

Gengibre

Zingiber officinalis Rosc

Menopausa

Fazer chá

Batata

Mentha piperita L.

Verme

Fazer suco

Menopausa

Fazer chá

Antiabortivo

Botar de molho pra beber

Fazer lambedor Comer

Hortelã Imburana-de-cambão

Commiphora leptophloeos

cartilha Saberes Sabores e Poesias.indd 43

Folha Casca

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44

Mulheres na Caatinga

Nome popular

Nome científico

Indicação

Modo de uso

Parte da planta utilizada

Imburana-de-cheiro

Amburana cearensis

Prisão de ventre

Fazer café

Semente, casca, folha

Tosse

Fazer lambedor

Gripe

Botar de molho pra beber

Insulina

Cissus verticillata (L.)

Diabetes

Fazer chá

Folha

Jucá

Caesalpinia leiostachya

Bronquite

Fazer chá

Cascas e folhas

Fazer lambedor

Casca, bage

Contusões Tosses Anemia

Jatobá

Juazeiro

Hymenaea courbaril L. Tosse

Ziziphus joazeiro

Crescimento dos dentes

Fazer xarope

Proteger os dentes

Passar no local as raspas

Dor de dente

Botar de molho pra beber

Tosse

Fazer lambedor

Casca, folhas, flor

Problema no intestino Fazer chá Tomar a espuma da Gripe casca Junco

Juncus effusus

Dores

Fazer chá

Batata

Jurema

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir

Cicatrizante

Colocar de molho e lavar o local Tomar banho de assento

Folha

Solanum paniculatum Diabetes L Cólica de bebê Citrus limettioides

Fazer chá

Flor

Fazer chá

Casca da laranja

Egletes viscosa (L.) Less.

Má digestão

Fazer chá

Folha, flor

Plectanthus barbatus Andr.

Cólica

Fazer chá

Folha

Ferimentos Infecção urinária

Jurubeba Lima-de-umbigo

Hepatite

Macela Malva-santa

Problema no fígado Dor de barriga Tosse

Mamão-de-corda

Carica papaya L.

Problemas intestinais

Fazer chá

Flor

Mandacaru

Cereus jamacaru D.C.

Problema nos rins

Colocar de molho, assar e comer

Miolo

Dor de urina Inflamação Hepatite Mandioca

Manihot esculenta Crantz

Conjuntivite

Colocar no olho sem arrancar da planta

Folha

Manjericão

Ocimum basilicum L.

Dor de ouvido

Aplicar no local

Folha

Maracujá-do-mato

Passiflora cincinnata Mast.

Problemas urogenitais Cozinhar e fazer banho de assento

Marmeleiro

Croton blancheatinus Baill.

Cólica menstrual

Fazer chá

Dor de barriga

Botar de molho para beber

Chenopodium ambrosioides L.

Tosse

Fazer suco

Ferimentos

Pressionar no local

Mastruz

Folha Folha, casca, raiz

Folha

Verme Conjuntivite Melancia

Citrullus lanatus

Febre

Fazer chá

Semente

Milho

Zea mays L.

Infecção urinária

Fazer chá

Estigmas

Problema nos rins

Fazer chá

Semente

Insônia

Botar de molho pra beber

Hepatite Mulungu

Erythrina velutina Willd

Sarampo Calmante

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Saberes, sabores e poesia

Nome popular

Nome científico

Indicação

Modo de uso

Parte da planta utilizada

Mussambê

Cleome spinosa L.

Pneumonia

Fazer chá

Flor, raiz

Gripe

Fazer lambedor

45

Infecção urinária Mutamba

Guazuma ulmifolia Lam.

Problemas urogenitais Tomar banho de assento

Oiticica

Licania rigida Benth

Diabetes

Fazer chá

Casca, folha Folha, flor

Colocar de molho Papaconha

Hybanthus calceolaria Febre (L.) Oken

Fazer chá

Raiz

Pau-ferro

Libidibia ferrea

Tosse

Fazer chá

Casca

Anemia

Botar de molho pra beber

Infecção urinária

Fazer chá

Pega-pinto

Boerhavia diffusa L.

Raiz

Colocar de molho Aspidosperma pyrifolium Mart.

Diabetes

Pimenta-de-macaco

Xylopia aromatica Baill.

Pinhão

Jatropha mollissima (Phol) Baill.

Quebra-pedra

Phyllanthus amarus L. Problema nos rins Dor ao urinar

Pereiro

Quina-quina

Coutarea hexandra (Jacq.) K.Schum

Fazer chá

Casca

Dor na coluna

Fazer chá

Fruto

Ferimento

Aplicar o leite da casca no local

Casca

Fazer chá

Folha, raiz

Colesterol alto

Conjuntivite Ferida Febre

Tomar banho Colocar de molho e lavar o local com a água

Casca

Raspar a casca e colocar no café

Piptadenia moniliformis

Problema nos rins

Fazer chá

Infecção

Tomar banho de assento

Quitoco

Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera

Abortivo

Fazer chá

Fruto

Quixabeira

Sideroxylon obtusifolium

Dor nas costas

Fazer chá

Casca

Ferida no útero

Tomar banho de assento

Punica granatum L

Inflamação na garganta

Fazer chá

Quipembe Não dicionarizado

Romã

Folha, casca

Casca

Colocar de molho e beber

Sabugo

Sambucus australis Cham. & Schltdl.

Gripe

Fazer chá

Flor

Sucupira

Bowdichia virgilioides

Prisão de ventre nos animais

Fazer chá

Semente

Tatajuba

Chloroflora tinctoria

Dor de dente

Colocar o líquido no dente

Leite da casca

Tipi

Petiveria alliaceae L.

Ferimento

Cozinhar e lavar o local

Folha

Umbuzeiro

Spondia tuberosa

Infecção urinária

Tomar banho de assento

Raspa da casca

Unha-de-gato

Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.

Tosse

Fazer chá

Casca, folha

Afinar o sangue

Colocar de molho e beber

Vassourinha

Ferida Scoparia dulcis L.

Sarampo

Fazer chá

Folha, gema

Fazer chá

Folha

Pressionar no local

Casca

Náuseas Vômito

Velame

Croton heliotropiifolius Kunth.

Xique-xique

Pilosocereus gounellei Ferimento (F.A.C. Weber)

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Reumatismo

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Mulheres na Caatinga

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Saberes, sabores e poesia

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Realização

Parcerias

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Patrocínio

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