"Xiculungo" Relacoes Sociais da Pobreza Urbana em Maputo, Mocambique

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CMI RELATÓRIO

”XICULUNGO”

R 2007: 13

antropológicos na África Austral foram até que ponto os migrantes para áreas urbanas se tornaram “permanentemente urbanizados” e perderam a sua “identidade rural”, e até que ponto as relações sociais foram mantidas entre os habitantes urbanos e os seus familiares e amigos rurais. Tais tópicos, e a correspondente questão relacionada com a importância relativa da “tradição” e “modernidade” como pontos de referência para as estratégias de sobrevivência das populações, continuaram a dominar a antropologia urbana da região (Hansen 1997; Ferguson 1999; Bank 2002; Englund 2002). O mais importante e controverso estudo antropológico sobre a pobreza urbana – uma condição que foi largamente ignorada pelos antropólogos acima mencionados – foi o conceito de Oscar Lewis (1966) de uma “cultura da pobreza”. Uma cultura da pobreza, argumentava ele, é uma adaptação e uma reacção dos pobres a uma posição marginal em cenários urbanos altamente individualizados e estratificados em classes – ao nível de indivíduos, na forma de um sentimento de marginalidade, desamparo, dependência e inferioridade; ao nível da família, como desintegração social e competição por bens limitados; ao nível das comunidades, como uma organização mínima para além do nível da família nuclear e alargada; e finalmente ao nível da sociedade, como uma ausência de participação e integração efectivas do pobre nas principais instituições na ordem social dominante. Consideraremos a maioria destas questões à medida que formos progredindo, embora dentro das limitações fixadas pela pesquisa aplicada de curto prazo efectuada para este relatório. Idealmente, os métodos antropológicos são baseados em trabalho de campo de longa duração e observação participante (ou “deep hanging out”). Nós substituímos isto por uma combinação de revisões da literatura sobre a economia política de Maputo;3 entrevistas com parceiros chave no governo, município e comunidades; o estudo adaptado focando as relações sociais; e três semanas de trabalho de campo intensivo usando metodologias participativas. As metodologias foram levadas a cabo com grupos seleccionados de líderes comunitários, mais velhos e/ou mais novos, homens e/ou mulheres, pobres e/ou não pobres ou outros grupos relevantes e geralmente demoravam entre 2 a 3 horas. As discussões, em si, eram tão importantes como o resultado final na forma de mapas, listas acordadas de prioridades, definições conceptuais, etc. Os métodos usados foram: Histogramas – onde o objectivo é averiguar a história da área em estudo, com ênfase em eventos e processos que tenham sido particularmente importantes para a configuração da comunidade e condições de pobreza e bem-estar. Mapeamento da comunidade – onde o objectivo é mapear as pessoas e instituições consideradas mais importantes relativamente às condições de pobreza e bem-estar. Análise de forças de impacto – onde o objectivo é captar percepções sobre quais as condições (políticas, económicas, sociais) que podem inibir ou acelerar a mudança e o desenvolvimento na comunidade. Classificação da prosperidade – onde o objectivo é captar a percepção da própria comunidade sobre a pobreza e bem-estar, e identificar as diferentes categorias de pobres e dos em melhor situação.

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A literatura consultada está listada no Anexo 5. Mencionamos em particular algumas boas e interessantes teses escritas por estudantes nos departamentos de antropologia, sociologia e geografia na Universidade Eduardo Mondlane, incluindo Bilate (2006); Chaúque (2004); Cintura (2003); Cossa (2004); Mbie (2004); Matos (2005) e Ndhimandhi (2005).

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