Agência CMA - Matéria Especial

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ESPECIAL PROTESTOS: Comunidade global está surpresa, mas não preocupada São Paulo, 26 de junho de 2013 - Os protestos ocorridos nas últimas semanas em diversas cidades do Brasil surpreenderam a comunidade internacional, que até então vinha recebendo boas notícias a respeito do País tanto em relação à economia quanto sobre os grandes eventos que ocorrerão aqui nos próximos anos. "A maioria está surpresa pelos protestos em massa, porque as noticias que saem sobre Brasil são muito positivas, sobre as questões econômicas, as Olimpíadas, Copa do Mundo, como um país do BRIC [grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e China] bem-sucedido. Estes são normalmente os temas, então as noticias dos protestos foram surpreendentes", diz Richard Kane, professor da universidade de Illinois State, cujo foco de estudo é o desenvolvimento econômico no Brasil. Apesar da surpresa, a maioria dos analistas internacionais e os meios de comunicação partilham da ideia de que os protestos possuem muito mais um caráter de reivindicação de uma série de pontos da agenda social do que de revolução política, como na Turquia ou nos diversos países que participaram da chamada Primavera Árabe. "A estabilidade política brasileira não é um problema. [O País] é uma democracia institucionalizada", analisa o professor Riordan Roett, diretor do programa de estudos do hemisfério ocidental e latino-americano da universidade de John Hopkins. "O Brasil é único até o momento. Na Turquia, os protestos são contra [o presidente Tayyip] Erdogan, no Egito são contra o [presidente Mohamed] Mursi. Até agora as demandas no Brasil são mais amplas e contra o sistema, não contra a Dilma". O baixo grau de preocupação internacional sobre a capacidade dos protestos criarem uma instabilidade política no País fica evidenciado nas falas do governo dos Estados Unidos, que consideram as manifestações como parte do sistema democrático e enxergam o Brasil como um importante parceiro. "Estes são cidadãos brasileiros expressando suas visões para o seu governo, e nós dizemos que protestos pacíficos são algo que é parte fundamental da democracia", disse o secretário de imprensa do Departamento de Estado, Patrick Ventrell, em coletiva de imprensa na segunda-feira. "O Brasil é um importante parceiro nosso, com quem colaboramos bem proximamente, e uma forte democracia na região". Mesmo que os protestos dificilmente levem a uma derrubada do governo, o professor Kane e o professor Roett dizem que o mundo precisa entender que os manifestantes exigem uma mudança na estrutura política do Brasil. "No Brasil todo mundo precisa votar, não existe opção de não votar e acho que isto é um dos principais problemas do sistema democrático no Brasil -não há a opção de não participar", afirma. "Esta é uma das consequências dos protestos, porque todos os políticos têm a mesma agenda e esta agenda serve a elite do Brasil e do mundo mais do que ela serve ao seu povo". Ivan Ryngelblum / Agência CMA Edição: Gustavo Nicoletta


ESPECIAL PROTESTOS: Mudança política atrasará volta do estrangeiro p/ bolsa São Paulo, 26 de junho de 2013 - As manifestações no Brasil têm prejudicado diretamente a percepção dos investidores estrangeiros sobre o setor financeiro brasileiro. Segundo especialistas, os protestos têm influenciado na saída dos investidores não residentes do mercado acionário, porém, a conjuntura econômica mundial também tem grande participação nas decisões. "As manifestações pioraram um pouco o pensamento dos investidores sobre oBrasil. Isso acabou prejudicando o mercado de ações e tem feito o estrangeiro analisar mais para investir em empresas brasileiras. Mas também não dá para saber qual o peso disso no mercado, pois na mesma época tivemos acontecimentos importantes para a economia mundial", explicou Ashley Charles Jenner, diretor de investimentos da Astra Investimentos. De acordo com Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, além de deixar os investidores em uma posição mais recuada, as manifestações podem atrasar a volta dos recursos para o Brasil. "O assunto partiu para a esfera política. Quando isso ocorre, os investidores acabam esperando um resultado mais claro, para depois voltar a investir. A política mexe com a taxa de atratividade de um projeto", afirmou o especialista. Jenner compartilha da mesma opinião e afirma que uma mudança no cenário político brasileiro terá uma forte influência na política econômica do Brasil. "Essa direção ainda não está clara. O investidor não gosta de passar por esse tipo de risco", afirmou o diretor da Astra Investimentos. Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff anunciou a intenção de realizar uma reforma política no Brasil, entretanto, ainda está sendo analisado pelos líderes do governo, em parceria com as principais e mais representativas entidades brasileiras, como a reforma será feita e conduzida. Em relação às captações no mercado externo, Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investiment Bank, disse que não existe um ambiente propício para esse tipo de operação no momento. "Não vejo como uma influência direta da série de manifestações. Como fator macro, temos a questão do FED [Federal Reserve, o banco central norte-americano]. Eles anunciaram que vão reduzir gradualmente a compra de ativos de acordo com o avanço da economia nos Estados Unidos, mas fica essa dúvida. Qual vai ser o ritmo dessa redução? Isso acaba criando um momento ruim para captações. Incertezas sempre aumentam os custos de captações", explicou Serrano. O especialista do Espírito Santo Investiment Bank disse ainda que "agora, a mudança na política monetária do Fed [Federal Reserve, o banco central norte-americano] está completamente vinculada a uma nova atratividade da economia norte-americana. Nesse contexto, mercados emergentes começam a perder atratividade. Ou melhor, começa a haver uma disputa mais acirrada entre eles por investimentos. O que deixa o Brasil em desvantagem é muito mais uma demora na aceleração do crescimento, a pouca efetividade das medidas do governo de impulsionar o crescimento sem perder o controle da inflação", disse Serrano. O saldo estrangeiros na BM&FBovespa está negativo em US$ 4,532 bilhões em junho, até o dia 21, segundo dados da própria bolsa de valores. A BM&FBovespa foi procurada pela reportagem da Agência CMA para comentar sobre os protestos, mas não quis se manifestar. Eduardo Puccioni e Ana Rita Cunha / Agência CMA Edição: Flavia Bohone


ESPECIAL PROTESTOS: Pessimismo de estrangeiro c/Brasil precede manifestações São Paulo, 26 de junho de 2013 - Os protestos ocorridos no Brasil nas últimas semanas tiveram um impacto marginal na avaliação dos investidores a respeito da economia do País, visto que antes mesmo do início das manifestações o otimismo em relação ao crescimento brasileiro vinha diminuindo. Os protestos começaram em São Paulo contra o aumento das tarifas de transporte público e se intensificaram posteriormente por insatisfações generalizadas com o poder público e a violenta repressão policial às passeatas. O período de manifestações coincidiu com um momento de volatilidade nos mercados financeiros brasileiros, provocado principalmente por fatores externos.Houve receios, no entanto, de que os protestos pudessem afetar a avaliação dos estrangeiros a respeito das condições econômicas brasileiras. As percepções positivas sobre o Brasil, no entanto, já estavam sendo revertidas há algum tempo, antes mesmo do início das manifestações, segundo João Pedro Ribeiro, economista da Roubini Global Economics. Para Ilan Solot, economista da consultoria norte-americana BBH Global Currency, "os protestos são um fato bem pequeno e sem importância econômica para os mercados se comparados com a tendência global. Se tiverem algum impacto na visão dos investidores, será baixo." O economista-chefe do Rabobank, Robério Costa diz, por exemplo, que se houver alguma saída de capital do Brasil motivada pelos protestos, será muito pequena. "O que está pesando, de fato, é a mudança de discurso do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), no sentido de uma política monetária mais apertada, e outros eventos menos palpáveis, como uma desaceleração da China e eventuais problemas políticos na Grécia", completa. O economista da Earnings Scout, Nick Raich, ressalta que protestos e insatisfação social sempre acrescentam riscos para os investimentos internacionais, mas concorda com Costa. "O maior problema é que investimentos em economias emergentes como o Brasil ainda dependem muito da Europa e dos Estados Unidos, países que estão adotando medidas de austeridade." Política fiscal e monetária A insatisfação com os serviços públicos do Brasil e a redução na popularidade da presidente da República, Dilma Rousseff, podem fazer com que o governo adote uma política fiscal mais expansiva antes das eleições de 2014, buscando atender as reivindicações da população. "A política fiscal brasileira já foi afrouxada, mas pode ficar pior e isso teria impactos negativos para os ratings do Brasil, pois desequilibraria as contas públicas, aumentando o nível da dívida do país", explica Solot. Costa, do Rabobank, lembrou que o governo já sinalizou que deve adotar uma política de mais gastos públicos nos pontos cruciais de saúde, educação e transporte. "Tudo isso implica menos aperto fiscal em contraste com uma retórica anterior, em que o Ministro da fazenda, Guido Mantega, jurou de pés juntos que faria o prometido no orçamento." Ele acrescentou que a política monetária também pode sofrer mudanças, com maior risco de um aumento maior que o esperado pelo mercado na Selic (taxa básica de juros) para combater a inflação. Solot afirmou que "muita gente especula uma alta de 0,75 ponto percentual no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom)".


Portanto, o maior efeito das manifestações dependerá das respostas do governo para lidar com este novo processo social, conforme explica Ribeiro. "Quais medidas serão tomadas, o que mudará na política fiscal, política monetária, o aumento de gastos em determinado setor e a reação das agências de rating em relação a todas essas mudanças". Brasil e Turquia Pouco antes das manifestações Brasil virarem notícia em todo o mundo, a população da Turquia se levantou no maior protesto popular em mais de uma década, que teve início em 28 de maio, para paralisar a demolição do Parque Gezi, na praça Taksim, em Istambul. O governo queria construir um shopping e um complexo de prédios na região. Nos primeiros dias, apenas um pequeno grupo de manifestantes ocupou o parque. No entanto, a violência com que a polícia retirou os manifestantes no local gerou revolta no país, com acusações de abuso de poder por parte do governo. Os protestos levaram o índice ISE National 100, o principal da bolsa de Istambul, a fechar o pregão do dia 3 de junho com queda de 10,47%, a 76.983,66 pontos. Desde então, até o fechamento de segunda-feira, o índice já recuou 21,9%. Brasil e Turquia têm em comum o fato de terem inflação elevada, altos déficits em conta corrente, e bancos centrais proativos, aponta Solot. No entanto, o Brasil tem uma dependência menor de financiamentos de curtíssimo prazo, uma vez que as contas correntes são amplamente cobertas por investimentos estrangeiros diretos. "Essa cobertura está enfraquecendo, mas ainda é melhor que a da Turquia", completa Solot. Para Costa, do Rabobank, os protestos na Turquia e no Brasil têm em comum ofato de questões macroeconômicas não estarem no centro de debate e também por terem lideranças jovens, "alguma violência urbana e exageros policiais".No caso turco, porém a população pede mais liberdades individuais, como religião, comportamentos sociais, e fim da interferência do governo na vida social. "Tudo isso desaguou na manifestação antigoverno, direcionado", explica, completando que no Brasil não houve esse direcionamento para o governo central, mas para toda a classe política. Paula Selmi e Camila Maia / Agência CMA Edição: Gustavo Nicoletta

ESPECIAL PROTESTOS: Entrada de Marina Silva em eleição pode ajudar Aécio São Paulo, 26 de junho de 2013 - Com o desgaste da imagem da atual presidente da República, Dilma Rousseff, e, por consequência, o de seu partido (PT), outros prováveis nomes ao pleito de 2014 podem ganhar vantagem na corrida pela presidência. De acordo com o cientista político, Heni Ozi Cukier, a entrada de Marina Silva, em processo de formalização de seu partido (Rede), e de Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco, devem ajudar a pulverizar os votos no primeiro turno, ajudando a levar o atual senador Aécio Neves (PSDB) para o segundo turno com a atual presidente. "Os partidos mais beneficiados hoje com a manifestação, e que podem mudar até lá, são os não ligados ao sistema político atual. Nomes como Marina Silva, Joaquim Barbosa e Heloísa Helena são cotados. Indiretamente, Aécio Neves e Eduardo Campos podem ser beneficiados, mas é uma situação delicada porque todos eles estão no governo e não têm como se dissociar totalmente das reclamações vindas dos protestos", afirma Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília (UnB).


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, afirmou ontem (25) que não pretende ser candidato à presidência. "Não tenho a menor vontade de me lançar candidato a presidente", disse Barbosa, lembrando que tem mais de 40 anos de vida pública. "Está chegando a hora. Chega", acrescentou. Heni Ozi Cukier lembra que os partidos que enfrentarão o PT nas urnas em 2014 precisam ter propostas claras e que busquem soluções para os problemas apresentados pelas manifestações. "É uma insatisfação generalizada. Cabe à oposição encontrar quais desses discursos serão satisfeitos e propor medidas enfáticas e concretas", avalia. O PT também corre o risco de perder apoio político. "Acredito que tende a haver um remanejamento no apoio ao governo e algumas coligações tendem a sair", avalia Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). Weruska Goeking / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Atos têm pouca influência no câmbio com atenção no Fed São Paulo, 26 de junho de 2013 - As atenções do mercado de câmbio se voltaram para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que sinalizou a possibilidade de retirar os estímulos à economia norte-americana conforme os indicadores econômicos apresentem melhora. Diante disso, há pouco espaço no mercado de câmbio para influências vindas das recentes manifestações ocorridas pelo País. "Manifestação é uma coisa muito usual em outros países e mesmo em países ricos isso não afugenta os investidores. Há um movimento de observação da situação, mas o mais importante são cumprimentos de contratos. A manifestação, se ela gera resposta ao público, pode até ser positiva", avalia Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global e ex-assessor econômico do Ministério do Planejamento. Embora não sejam comuns no Brasil, esses atos não devem afetar o fluxo de dólares para o País, a menos que aumentem os confrontos entre civis e polícia, na opinião de André Roncaglia, macroeconomista da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). "Fundamentalmente o fluxo de dólares depende mais do que ocorre lá fora do que o que ocorre aqui dentro", avalia. Para André Perfeito, estrategista-chefe da Gradual Corretora, a economia brasileira passa por um momento de pessimismo, independente dos protestos, mas a tendência é de normalização da situação. Esse quadro só deve piorar se o governo passar a reagir às manifestações com medidas fiscais expansionistas, segundo Sidnei Moura Nehme, economista da NGO Corretora, que também não vê aversão ao risco do investidor estrangeiro. "O Brasil por si só já está com baixa atratividade. Isso [as manifestações] é uma coisa à margem. Só se houver benesses que coloquem em risco a deterioração maior da política fiscal. Se o governo quiser fazer agrados gerais e aumentar gastos", avalia Nehme. Na segunda-feira (24 de junho), a presidente Dilma Rousseff anunciou cinco pactos "em favor do Brasil", incluindo R$ 50 bilhões em investimentos em obras de mobilidade urbana, mas não deu detalhes sobre possíveis desonerações e demais aportes federais para educação e saúde. Ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirmou que o governo vai compensar o superávit de estados e municípios, caso não cumpram sua parcela, ainda que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para este ano desobrigue o governo dessa compensação. "Em 2013 a decisão já está tomada: vamos cobrir", disse. Augustin disse ainda que os R$ 50 bilhões que serão destinados a obras de mobilidade urbana não afetam o compromisso do governo com a meta de superávit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Para Augustin,


"é evidente", que os R$ 50 bilhões são coerentes com a política fiscal. "O detalhamento disso [das fontes de recursos] oportunamente vai ser divulgado", disse. Preocupação e incertezas Maurício Nakahodo, consultor de pesquisas econômicas do Banco de Tokyo-Mitsubishi, acredita que os investidores estão "um pouco preocupados" com a situação, que é inédita para o Brasil, e estão apreensivos quanto à postura do governo. "O principal [item com poder de influência] ainda é a expectativa do Fed, mas as manifestações adicionam uma preocupação a mais", avalia. A hipótese de algum risco político envolvendo o Brasil não era contabilizado por estrangeiros, segundo Adriano Moreno, estrategista da FuturaInvest, que acredita na contribuição dos atos para o fluxo de saída de estrangeiros do País, tanto no mercado de câmbio quanto na bolsa de valores. "O risco institucional está mais salgado e estrangeiro não gosta de incertezas. Isso só incentiva esse investidor a fazer o caminho de volta, saindo de mercados emergentes para os mais de desenvolvidos", acrescenta. Weruska Goeking / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Atos prejudicam desempenho de cadeia do aço em junho São Paulo, 26 de junho de 2013 - A onda de protestos das últimas semanas pelo Brasil teve reflexos negativos sobre o desempenho da cadeia do aço no mêsde junho. Segundo o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, o mês corrente deve registrar queda de 5% nas vendas dos distribuidores, sendo uma das razões para essa queda, as manifestações, que prejudicaram a ponta varejista do setor automotivo, principal cliente das siderúrgicas e distribuidores. "As manifestações diminuem as vendas do comércio. Quando as vendas caem na ponta, o recuo é generalizado e atinge a indústria também. Estamos projetando queda de 5% nas vendas de junho, muito em cima da dificuldade que o comércio encontrou para vender neste ano diante desse cenário", diz Loureiro. Uma das principais reivindicações que deu início aos protestos diz respeito ao transporte público. A mobilização fez governos estaduais e municipais como os de São Paulo recuarem no reajuste das tarifas de ônibus, trens urbanos e metrô, levando também para o governo federal uma nova agenda política, que privilegia a qualidade do transporte público. Dentro desse cenário, os estímulos à cadeia automotiva - incluindo seu efeito sobre as siderúrgicas e distribuidores - poderiam ser reavaliados, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que vem ajudando o setor a manter as vendas de automóveis aquecidas no País. Para Loureiro, o setor reconhece a importância dessas iniciativas para melhorar a mobilidade urbana, mas como fornecedor do setor automotivo reconhece que a possível saída de incentivos pode refletir num menor volume de vendas para toda a cadeia. "É lógico que os incentivos são importantes para o nosso negócio. A redução do IPI está garantida até o final do ano, mas acredito que onde o setor automotivo mais deve sofrer é com a parte do crédito mais restrito", afirma o presidente do Inda. Paula Pereira / Agência CMA Edição: Flavia Bohone


ESPECIAL PROTESTOS: Manifestações podem abalar confiança do consumidor São Paulo, 26 de junho de 2013 - As recentes manifestações que ocorrem em todo o Brasil podem ter abalado a confiança do consumidor, acreditam analistas empresários. "A maior consequência que podemos ver é uma queda mais acentuada do índice de confiança. Talvez a queda, que já estávamos vendo, perdure por mais tempo", afirma Renato Prado, analista do Banco Fator Corretora. Na segunda-feira (24), a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 0,4% em junho, somando 112,9 pontos, ante 113,4 pontos registrados em maio. Com o resultado, o índice atingiu o menor patamar desde março de 2010, quando o indicador havia ficado em111,6 pontos. Na comparação com o mesmo período de 2012, a queda foi de 8,5%. "Percebemos que a confiança do consumidor deve ficar mais abalada", comenta Marcos Gouvêa de Souza, fundador e diretor-geral da GS&MD - Gouvêa e diretor do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Além de queda de vendas no período nos locais em que ocorreram os protestos, a disposição de consumir pode ter diminuído. "Na Riachuelo, observamos queda de 10% das horas em que os estabelecimentos ficaram abertos", diz Flávio Rocha, atual presidente da Riachuelo e vice-presidente do grupo Guararapes. Ele acrescentou, no entanto, que a diminuição nas vendas pode ter sido superior a 10%, uma vez que o volume de vendas pode estar atrelado aos horários de funcionamento da loja. As manifestações, que ganharam força após o dia 13, quando a polícia militar de São Paulo agiu com agressividade para conter os protestos, fizeram com que varejistas localizados nos percursos das passeatas fechassem as portas mais cedo para evitar os conflitos entre manifestantes e policiais ou mesmo eventuais depredações que pudessem ocorrer. Efeito nas vendas "Ainda é difícil prever quais efeitos foram gerados pelos protestos. Claramente teremos efeitos pontuais de vendas, seja porque os estabelecimentos estiveram fechados ou mesmo pela dificuldade de locomoção do consumidor", destaca Gouvêa. Luis Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), acredita que parte das compras, perdidas no período, deve ser recuperada. "O que pode ter acontecido é que o shopping center induz muitas pessoas a comprar por impulso. Essa compra deve ter sido afetada, mas quem necessita de algo irá comprar depois, com as manifestações diminuindo", diz. Ele ressalta que, nas duas últimas semanas, o fluxo de pessoas em determinados shoppings chegou a cair cerca de 60%. "Com menos pessoas, é lógico que veremos menos receita, mas ainda não sabemos o quanto terá sido essa redução", afirma. Com relação aos prejuízos provocados pelas depredações e saques a determinadas lojas, representantes do IDV comentam que faltou intervenção policial. "Percebemos que a polícia demorou a agir para evitar danos maiores. Num shopping em Natal, foram os seguranças, sem amas, que contiveram manifestantes que tentaram invadir", diz Rocha, presidente da Riachuelo e do IDV. Marcos Gouvêa diz, contudo, que os efeitos no longo prazo devem ser positivos. "No curto prazo veremos a diminuição das vendas, mas no longo prazo, se forem atendidas as reivindicações e o Estado realmente melhorar serviços essenciais, como saúde e educação, veremos maior renda disponível para o consumo", afirma. Para ele, o consumidor está exigindo respostas do governo, porque percebe agora o Estado como "fornecedor de serviços públicos". "As manifestações são positivas, mesmo com efeitos pontuais negativos para o comércio", diz. Kauanna Navarro / Agência CMA Edição: Flavia Bohone


ESPECIAL PROTESTOS:Depredação de agências é a menor das perdas p/ os bancos São Paulo, 26 de junho de 2013 - As depredações das agências bancárias durante os protestos no Brasil não devem trazer grandes prejuízos para os bancos brasileiros. As consequências macroeconômicas, como um crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB), será mais prejudicial para as instituições financeiras. "Os bancos estão muito atrelados à economia. O Brasil passou por um largo período de crescimento econômico. Foram 10 anos de governo sem oposição, pois a economia foi bem e as decisões econômicas agradaram. Mas agora, com uma evolução mais contida da economia, os bancos passam a perder com o crescimento da carteira de crédito, por exemplo, além da piora na qualidade do crédito", afirmou Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating. Segundo João Augusto Salles, analista de investimentos da Lopes Filho & Associados, o prejuízo com as agências bancárias é a menor parcela de tudo. "A manifestação é um pano de fundo para a insatisfação econômica. O governo vinha incentivando o consumo e isso acabou trazendo problemas aos bancos, principalmente em relação à qualidade do crédito. Esperávamos um recuo da inadimplência no primeiro trimestre de 2013, mas não ocorreu e isso deve prejudicar futuramente os resultados", afirmou o especialista. De acordo com Salles, a relação macroeconômica é mais importante e prejudicial do que a depredação das agências bancárias. "As manifestações acabam prejudicando também o comércio, que precisam ser fechados por motivos de saques, prejudicando indiretamente os bancos. Tudo tem uma relação com os bancos", afirmou Salles. Santacreu explicou ainda que está sendo convocada uma paralisação de trabalhadores no Brasil para o dia 1o de julho e que isso ajuda ainda mais a prejudicar a economia brasileira. "São fatores isolados, mas que juntando tudo no final do ano é possível perceber o quanto foi perdido economicamente falando com todos esses fatores. Os bancos sempre são os primeiros a sofrer com qualquer sentimento de uma economia", disse o analista da Austin. Os quatro grandes bancos, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil, foram procurados pela reportagem da Agência CMA, mas preferiram não comentar o assunto. Eduardo Puccioni / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Lula pode ser nome do PT p/ 2014 após desgaste de Dilma São Paulo, 26 de junho de 2013 - O desgaste da imagem política de Dilma Rousseff com as recentes manifestações pode trazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o centro da corrida presidencial no ano que vem, de acordo com o cientista político, Heni Ozi Cukier. Embora Cukier veja um desgaste de toda a administração petista, o nome de Lula pode ser cogitado para representar o PT devido à sua conhecida liderança. "Dilma não tem a liderança de Lula. Acredito que Lula deva tomar a frente, mas não nesse momento para que ele mesmo não sofra desgaste. Com sua tradicional esperteza, Lula deixará naturalmente que a presidente sofra desgaste e ele se torne opção irremediável. Tem tudo para isso acontecer", acrescenta Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).


O cientista político critica ainda o posicionamento de Dilma no primeiro discurso em cadeia nacional feito pela presidente desde o início dos protestos."Pela forma do discurso dela, chegamos a cogitar quem preparou isso e com que interesse. Será que existe alguém que quer derrubá-la? Dilma colocou um espelho e repetiu o que estava todo mundo querendo, não ofereceu nenhuma solução completa, além de dar furos graves, como a história dos médicos [importação de profissionais para trabalhar nas periferias] e não deu indicações de como ela vai acabar a quebradeira, só disse que não vai permitir", avalia Cukier. Em pronunciamento oficial na última sexta-feira (21 de junho), a presidente prometeu convidar governadores e prefeitos das principais cidades do País para "um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos". Em resposta às críticas contra a corrupção, Dilma disse que "as instituições devem mudar" e que é preciso "oxigenar o sistema político", encontrando mecanismos que tornem as instituições "mais resistentes ao malfeito" e mais permeáveis à participação da sociedade. "Tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia", disse. Na segunda-feira (24), a presidente apresentou cinco propostas de pactos "em favor do Brasil, englobando a responsabilidade fiscal, transporte, educação, saúde e reforma política. Esta última foi alvo de polêmica entre especialistas, após a sugestão da presidente de um processo constituinte. Para Elcio Trujillo, especialista em direito constitucional da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a proposta mostra "falta de argumentação lógica". "Lembro que em governos anteriores já houve a exposição dessa pretensão, mas foi rechaçada pela total falta de fundamento constitucional. O poder constituinte originário é ilimitado. Ele não se submete a controle ou a qualquer limite, qualquer comando. Fico triste que uma presidente da República, num momento difícil, não tenha uma assessoria jurídica adequada para dizer que isso é um absurdo, não tem fundamento técnico jurídico", avalia. Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), avalia que se esses desgastes continuarem e forem aprofundados, o PT precisará ir em busca de um candidato mais popular, como o Lula, embora sua imagem possa ser contaminada por associação à Dilma. Weruska Goeking / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Copa do Mundo pode trazer à tona novas manifestações São Paulo, 26 de junho de 2013 - As recentes manifestações a favor da redução das tarifas de transportes, de melhorias da saúde e na educação, e contra a corrupção foram engrossadas pelo coro daqueles que questionam a realização da Copa das Confederações e do Mundo no País e os gastos com os eventos. A Copa das Confederações chegou a ser colocada em xeque e a Federação Internacional de Futebol (Fifa) precisou se pronunciar, por meio de comunicado, garantindo a realização dos jogos no País. Entretanto, a proximidade da Copa do Mundo, em junho e julho de 2014 e com as eleições, em outubro do ano que vem, as discussões atuais podem ser retomadas. "A Copa do Mundo vai ser um gatilho para relembrar o que está acontecendo hoje. A situação está difícil para o PT", afirma o cientista político Heni Ozi Cukier. Em pronunciamento na última sexta-feira (21 de junho), a presidente Dilma Rousseff respondeu a uma das principais queixas sobre os investimentos nas obras da Copa do Mundo. A presidente afirmou que os recursos para os estádios foram obtidos por meio de financiamentos e não saíram do orçamento público. "Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a saúde e a educação". A presidente, no entanto, não mencionou que os juros da maioria desses financiamentos são subsidiados pelo Tesouro.


Os ministérios do Esporte e do Planejamento, Orçamento e Gestão também afirmaram, em nota, que "não há um centavo do Orçamento da União direcionado à construção ou reforma das arenas para a Copa". Os ministérios afirmam ainda que isenções fiscais não podem ser consideradas gastos, porque alavancam geração de empregos e desenvolvimento econômico e social, e são destinadas a diversos setores e projetos. Quanto aos investimentos públicos do governo federal para a preparação da Copa 2014, os ministérios defendem que os aportes são em obras estruturantes que devem melhorar a vida dos moradores das cidades. Apesar das cobranças da população sobre os gastos com estádios em detrimento a hospitais, como citado em diversos protestos, Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global e ex-assessor econômico do Ministério do Planejamento, avalia "improvável" considerar um cenário em que as manifestações inviabilizem a realização dos jogos no Brasil. "Acredito que essa possibilidade é muito difícil. Há décadas o Rio de Janeiro participa das piores estatísticas de criminalidade e continua sendo destino de turistas. Se isso fosse uma variável relevante não teríamos tanta gente na Copa da África do Sul. Não vejo [os protestos] afetando [a Copa] de forma relevante", avalia André Roncaglia, macroeconomista da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). Weruska Goeking / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Manifestações podem prejudicar superávit primário São Paulo, 26 de junho de 2013 - Em uma tentativa de responder às manifestações que ocorrem pelo País, a presidente da República, Dilma Rousseff, apresentou cinco propostas de pactos "em favor do Brasil", englobando a responsabilidade fiscal, transporte, educação, saúde e reforma política. As melhorias incluem R$ 50 bilhões em investimentos em obras de mobilidade urbana, mas a presidente não deu detalhes sobre possíveis desonerações e demais aportes federais para os outros setores. Essa maior demanda por serviços públicos deve deteriorar as contas do governo com a elevação dos gastos, culminando no menor superávit primário. "De forma geral, as manifestações têm algumas implicações de curto prazo muito importantes, demandando mais serviços públicos e, supondo que o governo vai reagir, significa que vai deteriorar contas fiscais", avalia André Perfeito, estrategista-chefe da Gradual Corretora. As desonerações concedidas até aqui já apontam que o governo não deve cumprir sua meta de superávit primário, estabelecida em 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). No acumulado do ano até maio, a conta primária teve superávit de R$ 33,045 bilhões, 1,73% do PIB, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional. O resultado é 29,5% inferior ao mesmo período de 2012. De acordo com a LCA Consultores, o superávit deve alcançar 2% do PIB neste ano, abrindo espaço para novos rebaixamentos da perspectiva do rating brasileiro e aumentando a pressão sobre o risco soberano do Brasil. O resultado para o superávit deve ser decorrente do crescimento moderado da arrecadação total para os próximos meses, previsto entre 3% e 3,5% pela consultoria. Ontem (25), o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirmou que o governo vai compensar o superávit de estados e municípios, caso não cumpram sua parcela, ainda que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para este ano desobrigue o governo dessa compensação. "Em 2013, a decisão já está tomada: vamos cobrir", disse.


Augustin disse ainda que os R$ 50 bilhões que serão destinados a obras de mobilidade urbana não afetam o compromisso do governo com a meta de superávit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Para Augustin, "é evidente", que os R$ 50 bilhões são coerentes com a política fiscal. "O detalhamento disso [das fontes de recursos] oportunamente vai ser divulgado", disse. A necessidade de elevar os gastos públicos para atender às demandas da população expostas por meio dos protestos também é apontada por Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), como fator de deterioração do superávit primário. "Para um governo que já está com dificuldades de cumprir uma meta em relação ao superávit primário, meta esta já bastante comprometida, fazer novos dispêndios irá afetar. Em nenhum dos casos [dos setores que devem passar por melhorias] o dispêndio é pequeno. Há, de fato, um novo comprometimento das contas públicas que passam a ser mal vistas pelos investidores", avalia Grisi. Diante disto, André Perfeito vê um cenário "bastante restritivo" no médio prazo, com política fiscal expansionista e política monetária contracionista. "Estamos fazendo um aperto monetário bastante severo num momento em que o mundo tem taxas bastante baixas. Não é que as manifestações vão implicar no aumento da Selic [taxa básica de juros], elas são sintoma de um mal estar que já está enraizado", avalia o economista. Perfeito também acredita que a presidente tenha dado carta branca ao Banco Central (BC) para a elevação da Selic para ajudar a controlar a inflação. "Tudo isso, em conjunto, vai criar uma economia bastante morosa para o ano que vem e uma deterioração da economia que vai acabar ocorrendo", diz. Por outro lado, Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global e ex-assessor econômico do Ministério do Planejamento, avalia que Dilma foi objetiva em seus pronunciamentos anteriores ao dizer que preza pela austeridade fiscal e lembra que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou que não há como fazer mais desonerações. "O espaço para cortes é bem menor", acredita o economista. Weruska Goeking / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Dilma precisa ter cuidado p/não ser acusada de populista São Paulo, 26 de junho de 2013 - Diante dos esforços políticos da presidente da República, Dilma Rousseff, em atender às reclamações expostas nas recentes manifestações ocorridas em todo o País, Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), avalia que Dilma precisa ser cuidadosa para não ser acusada de populista. "Dilma teve um êxito parcial e está tentando um acordo de cúpula. Ela deve apoiar que o transporte não tenha sua tarifa aumentada, lançar fundo para ajudar prefeituras, retirar impostos da gasolina, apoiar a rejeição da PEC 37 em plenário, etc. São ações que ela pode fazer para começar a dialogar com a sociedade, mas é preciso ter cuidado", avalia Caldas, lembrando que a presidente não poderá retirar impostos de determinados setores e repassar para outros, sob pena de sofrer rejeição por outros nichos da sociedade. Na noite de ontem, após pedido da própria presidente durante pronunciamento oficial na sexta-feira (21), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37 foi colocada em votação pela Câmara dos Deputados, que decidiu pela não aprovação da proposta, atendendo a um dos pedidos dos manifestantes. O cientista político Heni Ozi Cukier avalia que a presidente não deve abrir mão de impostos, mas cortar gastos do governo. "Tem ralos, má gestão, o tamanho da máquina e a corrupção que acabam levando o dinheiro público", explica.


Ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirmou que o governo vai compensar o superávit primário de estados e municípios, caso não cumpram sua parcela, ainda que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para este ano desobrigue o governo dessa compensação. "Em 2013, a decisão já está tomada: vamos cobrir", disse. Weruska Goeking / Agência CMA Edição: Flavia Bohone

ESPECIAL PROTESTOS: Leilões de rodovias podem se tornar menos atrativos São Paulo, 26 de junho de 2013 - O interesse das concessionárias de rodovias pelos leilões de 7,5 mil quilômetros que irão a leilão entre os meses de setembro e outubro deste ano está comprometido diante da postura dos governos dos estados do Paraná e de São Paulo de suspenderem os reajustes de tarifas da Companhia Paranaense de Energia (Copel) e das operadoras de rodovias, após as manifestações da população contra o aumento nos preços dos transportes urbanos. Agora, o temor é que a continuidade da interferência do governo impacte a Taxa Interna de Retorno (TIR) dos futuros projetos com custos acima do esperado ou mudanças na regulamentação. Segundo Daniela Martins, analista da Concórdia Corretora, a falta de interesse das companhias pelos dois primeiros leilões que aconteceram no começo deste ano poderá se repetir. "Os grandes investidores continuam a questionar as taxas de retornos dos projetos, especialmente nos federais. O desafio é conquistar a confiança das empresas em um momento que a percepção de setor defensivo na bolsa brasileira foi abalado pela decisão do governador Geraldo Alckmin de cancelar a alta de até 6,5% a partir de 1 de julho", afirma. A Arteris, que detém a concessão de quatro rodovias no estado de São Paulo e outras cinco federais entre as regiões Sul e Sudeste, será diretamente afetada pelo congelamento das tarifas. Para Gabriel De Gaetano, analista da Fator Corretora, caso a mesma situação aconteça em escala federal o impacto na receita seria maior por causa dos investimentos mais vultosos nesses trechos. Um movimento como este iria requerer medidas compensatórias maiores em relação às adotadas nas estradas paulistas. Três medidas foram adotadas em São Paulo para segurar o aumento dos pedágios neste ano, como a redução do ônus variável que a Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), que baixará de 3% para 1,5%, o início da cobrança do chamado eixo suspenso dos caminhões, que anteriormente não pagavam sem o contato com o solo e, por último, o uso dos créditos que o governo tem junto às concessionárias com obras atrasadas, que estão sendo transformados em índice percentual e utilizados no balanceamento do reajuste zero. Gaetano acredita que as medidas compensatórias serão suficientes para que não haja impacto direto nas TIRs dos projetos, ou mesmo no preço-alvo nas ações das companhias negociadas na BM&FBovespa. O analista lembra que no ano passado, a receita de pedágio nas rodovias estaduais representou 57% da receita líquida ajustada das Arteris e 66% do ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), devido ao maior período do contrato. As concessionárias não se manifestaram sobre os leilões futuros, mas ressaltaram em comunicados enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a expectativa de que o poder público compense os reajustes mediante reequilíbrios das receitas das rodovias administradas. Também foi reafirmado o compromisso de investimentos em infraestrutura no estado e o que seja mantido o compromisso do governo aos princípios do marco regulatório do Programa Estadual de Concessão de Rodovias com a iniciativa privada. Eleições Para a analista da Concórdia, a desconfiança das empresas em relação aos futuros leilões tende a aumentar devido às eleições que vão acontecer no ano que vem. "Os governos estão cedendo ao clamor popular, mas não poderão


baixar muito a TIR por conta do interesse das operadoras que pode ser colocado em jogo. É uma situação delicada, pois se por um lado a decisão agrada a população, por outro a demanda das empresas será menor." Uma das principais questões que necessitam de esclarecimento em relação às novas medidas adotadas pelo governo de Alckmin é como será calculada a multa às concessionárias que atrasarem as obras. Gabriel Ribeiro, analista da UM Investimentos, ressalta que ainda é preciso saber quais serão os detalhes considerados na equação para verificar entre a Arteris, a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) e a Ecorodovias qual será mais impactada. Ribeiro diz que "a expectativa de margens menores para os próximos leilões já era esperada, pois a TIR não seria no mesmo nível das concessões mais antigas, por isso, é possível que as negociações sejam mais intensas". O governo está ciente de diante dos atuais acontecimentos precisará viabilizar os projetos e garantir um retorno competitivo aos participantes. Uma fonte do governo disse que pensará em medidas compensatórias para garantir os investimentos nas rodovias e em outros sistemas de transporte mesmo sem os reajustes tarifários. "Alguém vai pagar a conta, mesmo que seja a arrecadação do governo. Todo projeto tem que ser sustentável, se você tira receita de uma parte você vai ter que incluir receita ou reduzir despesas em outro ponto. Essas medidas compensatórias devem garantir que mesmo diante das reduções tarifárias seja possível não comprometer os investimentos previstos", afirmou a fonte. Alexandre Melo e Lais Lis / Agência CMA Edição: Flavia Bohone


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