Revista Municipal Nº 19

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parar p’ra conversar

Luiz Damas Mora

«O mais importante da acção do médico é o tratamento humano do doente»

N

uma altura em que está prestes a avançar a construção do novo Centro de Saúde do Cadaval, e quando se fala da intenção governamental de fechar o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) concelhio, conversámos com Luiz Alberto Barreto Damas Mora, 70 anos, natural do Cadaval, uma figura proeminente da medicina nacional, ligada a uma família de médicos com fortes laços ao nosso Concelho…

A profissão de médico parece quase uma inevitabilidade, na sua família. Será escusado perguntar-lhe por que motivo a escolhe... Antes, deixe-me dizer-lhe que o primeiro médico da família é o Dr. António Maria Mora, que fez o curso em Coimbra, em 1690. E um dos médicos que acompanhou a família real ao Brasil era meu tetravô… [a profissão] vem de muito longe! E vai continuar! No séc. XX, a certa altura, chegámos a ser nove médicos, simultaneamente, com o nome Damas Mora! Eu, o meu pai, o meu tio, dois primos direitos do meu pai, um filho do meu tio e três primos em segundo grau. Uns cá, outros em Angola. O meu tio-avô foi chefe dos serviços de saúde em Angola, no tempo de Norton de Matos (a grande revolução da Saúde, em Angola, foi nessa altura, em 1927), e organizou o primeiro congresso de medicina tropical da Africa Ocidental. Então, e quanto aos seus irmãos? Ambos os meus irmãos andaram em Medicina, mas, depois, o mais velho, João, foi para a Força Aérea, onde atingiu o posto de tenente-coronel, e o outro, José, o mais novo de todos, tirou o curso de Farmácia, seguiu a carreira militar e foi director do Laboratório Militar. O vício passou por todos!(...) Tenho duas filhas

(que são professoras do secundário) e cinco netos, dos quais duas querem também ir para medicina! No seu caso particular, por que é que enveredou pela medicina? É uma pergunta difícil de responder, porque nunca me passou pela cabeça perguntar-me para o que é que eu iria... o meu pai dava consultas e fazia alguma cirurgia no consultório aqui no Cadaval, que era na casa em que morávamos, de maneira que eu vivi sempre neste ambiente. Como se a medicina tivesse sempre feito parte de si, é isso? É isso. É que nunca me lembro sequer de alguma vez me ter posto a pergunta a mim próprio. Mas sente que foi para uma área para a qual estava vocacionado? Olhe, eu não sei bem o que é vocação, sei é que é uma profissão que eu desempenho com gosto. Eu, de facto, gosto da minha profissão! Qual a sua especialidade? Eu sou cirurgião, faço cirurgia geral. Onde tirou o curso de Medicina?

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Na Faculdade de Medicina de Lisboa, mas fui fazer o quinto ano a Coimbra. Eu já antes tinha vontade de ir para Coimbra, mas o meu pai nunca me deixou. Foi um ano excepcional, com muito boa camaradagem, mas, depois, vim formar-me a Lisboa. Formou-se em que ano? Foi em 1960, com uma tese de Licenciatura, que nessa altura era obrigatória, sobre o tema “A introdução da era pasteuriana em Portugal.” Formei-me e, logo a seguir, fui mobilizado para Angola. Fiz lá a minha vida militar, fui médico de uma companhia, tinha 160 homens a meu cargo, e tive 3.000 doentes indígenas. Como é que era ser médico, naquela altura, em Angola? Era uma grande responsabilidade. Eu ainda passei pelo Instituto de Medicina Tropical, estudei o mais a fundo possível, passei pelo banco do Hospital de S. José antes de ir para lá, enfim, tive uma preparação própria, além de que nós saíamos bem preparados da faculdade! Portanto, não houve acidentes e havia um grande empenhamento. A vida mudou muito; tínha-nos sido incutido um espírito de pátria e de nação, pelo nosso professor da instrução primária, que


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