Club Setubalense MUSEOLIZAÇÃO mestrado

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

Para a Reabilitação do Club Setubalense Programa Museológico, Projeto Museográfico e Cultural

Anita Dolores Teixeira Serafim

MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA

2014

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

Para a Reabilitação do Club Setubalense Programa Museológico, Projeto Museográfico e Cultural

Anita Dolores Teixeira Serafim

MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA

Orientador- Professor Doutor Jorge dos Reis

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O culto que se rende ao património histórico deve merecer de nós, mais do que simples aprovação. Ele requer um questionamento, porque se constitui de elemento revelador, negligenciado mas brilhante, de uma condição da sociedade e das questões, que ele encerra (CHOAY, 2006: 12)

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RESUMO

O Club Setubalense criado em 1855 destinou-se inicialmente à burguesia, constituindose como um espaço privilegiado das elites, onde era promovido o debate político, ideológico e cultural. Ao longo das décadas, soube adaptar o seu discurso, às novas ideologias, às novas tendências e necessidades. O Trabalho de dissertação não só investiga, todo o seu processo histórico e patrimonial, desde a sua criação, como propõe a reabilitação do espaço e a captação de públicos. Estabelecem-se comparações com os clubes existentes na época. Refere-se a importância da preservação arquitetónica do edifício, como valor patrimonial da cidade. Situa-se o presente club, na cultura da cidade ao discutir as práticas culturais e a sua relação com o público, ao mesmo tempo que se abordam os conceitos da teoria da museologia. Desenvolve-se uma pesquisa de público, através da qual se analisa a questão identitária e as suas representações, como reflexo dos valores e emoções do imaginário coletivo. No final pretende-se desenvolver um programa museológico e um projeto museográfico, que incluirá não só a recuperação do edifício onde se encontra instalado o club, mas também, a criação de um espaço expositivo, recorrendo à adaptação necessária das salas para a criação de uma exposição permanente, sobre a sua própria história.

PALAVRAS-CHAVE: História; Função Social e Cultural; Organização Espacial; Exposição Permanente

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ABSTRACT

The Club Setubalense created in 1855 was intended initially to the bourgeoisie, establishing itself as a privileged space of elites, where it was promoted political, ideological and cultural debate. Over the decades, able to adapt his speech to new ideologies, new trends and needs. The dissertation work not only investigates all its historic and patrimonial process, since its inception, as proposed rehabilitation of its space and the capture of audiences. Settle comparisons with existing clubs at the time. Refers to the importance of architectural preservation of the building, as a patrimonial city value. It is located in this club, in the culture of the city to discuss the cultural practices and their relationship with the public, while it deals with the concepts of the theory of museology. Develops a survey of public, through which we analyze the question of identity and its representations, reflecting the values and emotions of the collective imagination. In the end we intend to develop a museological program and museographic project, which will include not only the recovery of the building where it is installed the club, but also the creation of an exhibition space, using the necessary adjustment of the rooms, to the creation of a permanent exhibition about their own history.

KEYWORDS: History, Social and Cultural Function; Space Organization; Permanent Exhibition

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AGRADECIMENTOS

Ao Presidente do Club Setubalense Engenheiro Alberto Prata, pelo entusiasmo que manifestou desde o início do projeto, pela disponibilidade na cedência de matérias para a elaboração do trabalho. Aos sócios e antigos presidentes, Sr. Raposo e Dr. Eduardo Soveral Rodrigues, pelas informações e entrevistas que dispensaram. Às excelentíssimas senhoras, Fernanda Carnot e Natividade Lopes da Silva pelas preciosas informações, que me forneceram sobre o funcionamento do Club Setubalense no início do século XX. Aos antigos e atuais sócios por me encorajarem na realização da dissertação sobre o Club. À minha colega de mestrado Gina Santos, pelas horas de trabalho em conjunto, para a realização do presente trabalho. Ao meu orientador, pela atenção e orientação prestadas na realização da tese.

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ÍNDICE PRÓLOGO .................................................................................................................................... 12 - Introdução ............................................................................................................................. 13 - Motivação ............................................................................................................................. 15 - Objeto de Estudo .................................................................................................................. 17 - Estrutura do Trabalho ........................................................................................................... 18 - Metodologia .......................................................................................................................... 20 - Modelo Teórico/Quadro Conceptual .................................................................................... 22 - Estado da Arte ....................................................................................................................... 26 1.O CLUB SETUBALENSE .............................................................................................................. 28 1.1. Contexto Social, Politico e Económico ............................................................................. 29 1.2. História do Club Setubalense e dos seus Fundadores ..................................................... 31 1.3. Dados Bibliográficos dos Fundadores .............................................................................. 32 1.4. Os Estatutos do Club ........................................................................................................ 34 1.5. Funcionamento do Club ................................................................................................... 37 1.6. A Função Social do Club ................................................................................................... 46 1.7. Oferta Cultural ................................................................................................................. 48 1.8. O Modelo Inspirado nos Clubes Ingleses ......................................................................... 49 1.9. O Grémio Literário ........................................................................................................... 54 1.10. O Clube Portuense ......................................................................................................... 57 2. O CLUB SETUBALENSE - No âmbito da Nova Museologia ....................................................... 59 2.1. Conceito ........................................................................................................................... 60 2.2. A Função Educativa do Museu/Função Educativa do Club .............................................. 62 2.3. A Função Cultural do Museu/A Função do Club .............................................................. 63 2.4. A Função Social do Museu/A Função Social do Club ....................................................... 65 2.5. A Importância da Exposição no Museu/A Importância da Exposição no Club ................ 66 3.

O CLUB SETUBALENSE - No âmbito do património edificado ............................................. 68 3.1. O Edifício do Club Setubalense ........................................................................................ 69 3.2. Características .................................................................................................................. 70 3.4. Tipologia ........................................................................................................................... 72 3.5. Organização Funcional ..................................................................................................... 73 3.6. Os Problemas Estruturais do Edifício ............................................................................... 74 3.7. Conceitos Internacionais .................................................................................................. 75 3.8.

Intervenção no Edifício................................................................................................ 77

4. O CLUB SETUBALENSE - Programa Museológico e Museográfico .......................................... 79 4.1. Apresentação ................................................................................................................... 80 7


4.2. Metodologia de Trabalho ................................................................................................. 81 4.3.1. Planeamento da Situação Atual - Diagrama ............................................................. 82 4.3.2. Planeamento da Situação Atual - Diagnóstico .......................................................... 83 4.3.3. Áreas Funcionais ....................................................................................................... 84 4.3.4. Programa de Musealização ....................................................................................... 85 a) Programa referente aos Acervos – Inventariação .......................................................... 85 Programa referente aos acervos – Conservação Preventiva .............................................. 86 b) Programa de Exposições ................................................................................................. 87 c) Programa Educativo e Cultural ........................................................................................ 88 d) Programa de Financiamento ........................................................................................... 88 e) Programa de Divulgação ................................................................................................. 89 4.4. Projeto Museográfico....................................................................................................... 90 4.4.1. Apresentação do Espaço Expositivo – Tipologia das Salas........................................ 90 4.4.2. Preparação do Espaço Expositivo ............................................................................. 94 4.4.3. A Exposição Permanente – Club Setubalense - Três Séculos de História ................. 95 4.4.4. Organização Espacial e Percurso Expositivo ............................................................. 96 4.4.5. A Distribuição Espacial ............................................................................................ 109 4.4.6. A Iluminação............................................................................................................ 109 4.4.7. A Divulgação ............................................................................................................ 110 4.4.8. Acessibilidade.......................................................................................................... 110 4.4.9. Os Materiais Utilizados ........................................................................................... 110 4.4.10. Percurso Expositivo ............................................................................................... 111 4.4.11. Cronograma .......................................................................................................... 111 CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 112 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 115 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 116 Legislação e Cartas Internacionais ........................................................................................ 120 Jornais ................................................................................................................................... 120 6. ANEXOS ................................................................................................................................. 122 ANEXO I – Estatutos .............................................................................................................. 123 Anexo II – Documentação do club setubalense .................................................................... 142 Anexo III – Imagens Recolhidas para a Exposição ................................................................. 148 Do Séc. XIX ao Séc. XX – A Cidade ..................................................................................... 149 Os Acontecimentos ........................................................................................................... 150 As Greves de 1911 ............................................................................................................. 151 Setúbal Cresce Desordenada ............................................................................................ 152

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Club Setubalense Início Séc. XX ......................................................................................... 153 O Club da Alta Burguesia ................................................................................................... 156 O Convívio dos Sócios e das suas Famílias ........................................................................ 157 O Ócio e a Diversão no Club Setubalense ......................................................................... 158 Club Setubalense na Atualidade - O Edifício e a Envolvente ............................................ 159 Club Setubalense – Tipologia do Edifício .......................................................................... 160 Club Setubalense – As Instalações .................................................................................... 161 Club Setubalense – As Instalações .................................................................................... 162 Club Setubalense – A Função Social e Cultural ................................................................. 163 Música Clássica .................................................................................................................. 164 Os Paganinus – Ensaios ..................................................................................................... 165 Os Concertos ..................................................................................................................... 166 A Dança de Competição .................................................................................................... 167 O Ballet .............................................................................................................................. 168 As Atividades Desportivas ................................................................................................. 169 A Moda .............................................................................................................................. 170 Moda & Fotografia ............................................................................................................ 171 Moda & Fotografia ............................................................................................................ 172 As Festas – Bailes de Carnaval........................................................................................... 173 A Divulgação dos Eventos ................................................................................................. 174 Objetos Selecionados para a exosição permanente ......................................................... 175 Objetos selecionados para a exposição permanente ....................................................... 176 Objetos selecionados para a exposição permanente ....................................................... 177 Objetos Selecionados para a Exposição Permanente ....................................................... 178 Anexo IV- Logotipo do Club Setubalense .......................................................................... 179 Logotipo do Club Setubalense........................................................................................... 180 7. Apêndices .............................................................................................................................. 181 Apêndice I – Entrevistas ........................................................................................................ 182 Apêndice II – Ficha de Inventário ............................................................................................. 192

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ÍNDICE DE FIGURA Fig. 1 Brooks – Club Inglês …………………………………………………………………………………………… 44 Fig. 2 Boodle’s – Clube Inglês ……………………………………………………………………………………… 44 Fig. 3 Soho House – Londres ………………………………………………………………………………………. 50 Fig. 4 Soho House – Nova Iorque ……………………………………………………………………………..….. 50 Fig. 5 Chelsea Arts Club …………………………………………………………………………………………………50 Fig. 6 Chelsea Arts Club ………………………………………………………………………………………………… 50 Fig. 7 Beverly Country Club …………………………………………………………………………………………. 51 Fig. 8 Alberghi Country Club ……………………………………………………………………………………..

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Fig. 9 Boiserie – Grémio Literário……………………………………………………………………………..

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Fig. 10 Sala Luís XV – Grémio Literário ……………………………………………………………………

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Fig. 11 Sala de Estar – Clube Portuense ……………………………………………………………………

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Fig. 12 Sala de Estar – Clube Portuense ……………………………………………………………………

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Fig.13 Edifício Club Setubalense ……………………………………………………………………………….

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Fig. 14 Planta original do Edifício ……………………………………………………………………………..

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Fig. 15 Planta original do Edifício ……………………………………………………………………………..

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Fig.16 Janela de Sacada - Club Setubalense ……………………………………………………………..

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Fig. 17 Portas com Folha de Serralharia …………………………………………………………………..

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Fig. 18 Canalizações do Club Setubalense ……………………………………………………………….

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Fig. 19 Canalizações do Club Setubalense ………………………………………………………………..

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Fig. 20 Soalho Flutuante do Corredor –Club Setubalense ………………………………………..

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Fig. 21 Soalho Flutuante do Salão …………………………………………………………………….. ……

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Fig. 22 Porta de acesso ao Bar ………………………………………………………………………………..

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Fig. 23 Áreas Funcionais ………………………………………………………………………………………...

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Fig. 24 Porta de Entrada do Club setubalense …………………………………………………………

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Fig. 25 Escadaria de Madeira …………………………………………………………………………………..

88

Fig 26 Bar Estilo Inglês…………………………………………………………………………………………….

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Fig. 27 Sala do Bar …………………………………………………………………………………………………

89

Fig. 28 Sala de Convívio …………………………………………………………………………………………

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Fig. 29 Sala de Convívio ………………………………………………………………………………………….

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Fig. 30 Sala de Bilhar……………………………………………………………………………………………….

90

Fig. 31 Sala de Bridge ……………………………………………………………………………………………..

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Fig. 32 Organização Espacial /Espaço Expositivo …………………………………………………….

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Índice de Abreviaturas CS (Club Setubalense) …………………………………………………………………………………..

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CRS (Conservatório Regional de Setúbal) ……………………………………………………….

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ICOM (International Council of Museums) …………………………………………………..

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ICOMUS (International Council on Monuments and Sites) ………………………….

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IGESPAR (Inst. de Gest. do Património Arquitetónico Arqueológico) …………..

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ISEL (Instituto Superior de Arquitetura de Lisboa) ………………………………………

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IPS (Instituto Politécnico de Setúbal) ………………………………………………………….

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LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) ……………………………………………….

16

IM (Interesse Municipal) …………………………………………………………………………….

69

MINOM (Mouvement Internacional pour la Nouvelle Museologie)……………..

24

MTMG (Museu do Trabalho Michel Giacometti)…………………………………………

24

NRAU (Novo Regime de Arrendamento Urbano………………………………………….

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UNISETI (Universidade Sénior de Setubal)………………………………………………….

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PRÓLOGO

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- INTRODUÇÃO

A presente dissertação realiza-se no âmbito do mestrado de Museologia e Museografia e o tema centra-se no estudo e na implementação de um programa para a reabilitação de uma antiga associação. Esta associação foi fundada em 1855 na cidade de Setúbal por um grupo de homens da alta burguesia, que à semelhança dos clubes ingleses da época, criavam na cidade, um club de características elitistas, denominado de Club Setubalense. Por esta época surgiam na cidade as primeiras indústrias conserveiras, que deixariam profundas marcas e introduziriam grandes transformações na sociedade setubalense – na organização política, social e urbana. Por um lado, a ascensão de uma classe burguesa, por outro, um operariado empobrecido. A cidade crescia desordenada, surgiam as grandes avenidas com grandes edificações, que contrastavam com os bairros pobres da periferia. Surgiam as associações, na sua grande maioria, de cariz popular e surgia, ao que seria aos dias de hoje, a mais antiga associação da cidade – O Club Setubalense. O Club ficaria instalado definitivamente num dos edifícios mais emblemáticos, situado no coração da Avenida da Praia, atual Avenida Luísa Todi, num edifício construído propositadamente para o efeito, bem como para habitação do seu proprietário. O edifício remonta ao ano de construção 1920-1926, a sua arquitetura apresenta-se tradicional, eclética e revivalista com elementos neoclássicos e barrocos, muito ao gosto da burguesia da época. O Edifício foi adquirido em 1974, por uma sociedade familiar, aos descendentes do proprietário inicial e encontra-se classificado desde 2009 de interesse municipal. No ponto vista social, o Club desempenhou as suas funções ao serviço de uma classe, cumprindo assim, uma das suas funções fundamentais, que constavam nos seus estatutos desde 1928 – “Dar incremento à civilização”1. Atualmente desempenha uma função muito mais abrangente, requalificando os seus espaços e contribuindo para uma sociedade culturalmente mais rica e equitativa. Declarada pessoa coletiva de utilidade pública, nos termos do Dec. Lei nº 460/77, de 7 de Novembro, com a redação dada pelo Dec. Lei nº391/2007 de 13 de Dezembro, deven1 De acordo com os estatutos de 1928, p.2

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do comprovar anualmente a obtenção e demonstração de um equilíbrio financeiro claro e inequívoco, junto da Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, mantém uma programação cultural diversificada e de grande qualidade.2 Promotora de jovens talentos na música clássica, o club organiza regularmente recitais de jovens músicos, que terminam o ensino superior de música e que necessitam de ensaios ou de apresentações frequentes, podendo estes jovens a título promocional, utilizar as instalações do club. Organiza com alguma frequência exposições de artistas da cidade, contribuindo para a divulgação da arte, numa perspetiva vanguardista de lançamento de novos talentos. Estabelece parcerias com estabelecimentos de ensino como o Conservatório Regional de Setúbal, o Instituto Politécnico de Setúbal, a Universidade Sénior e outras instituições para utilização dos seus espaços. A intenção de levar a cabo o presente trabalho, desenhou-se no final da licenciatura, quando o Club solicitou um técnico da área cultural para a organização das práticas culturais. O contacto assíduo com a instituição permitiu tomar conhecimento de várias falhas que se encontram relacionadas com a sua organização espacial, documental, a manutenção do edifício onde se encontra instalado, a falta de sócios e de público em geral. A desarrumação das salas, a falta de ordem na documentação, nos objetos que datam da sua constituição e os problemas nas infra estruturas do edifício, classificado de interesse municipal, trouxeram-nos uma vontade inequívoca de intervenção. A tomada de consciência dos problemas e os conhecimentos adquiridos na área de Museologia e Museografia proporcionaram a construção de um programa que procurasse dar resposta a uma parte desses problemas e que se prendiam sobretudo, com a parte organizacional e com a falta de públicos. Com o objetivo de contribuir para a organização da associação, surgiu a ideia, de criar um programa museológico e um projeto museográfico para uma exposição permanente. O local para a exposição seria o próprio club, a temática da exposição seria a sua própria história e o seu percurso ao longo dos seus cento e sessenta e oito anos de existência, contribuindo desta forma para requalificação do espaço e para a angariação de públicos.

2 Despacho nº 27680/2009 Diário da República 2ª Série – Nº250 – 29 de Dezembro 2009

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- MOTIVAÇÃO

A motivação para a realização do presente trabalho, prende-se em primeiro lugar, com o facto de existir uma grande proximidade com a associação, como promotora cultural e consequentemente com a grande ambição, de transformar o antigo clube numa associação de cariz cultural de grande qualidade. Em segundo lugar, a motivação prendese com a preocupação com a preservação do edifício, considerado como um dos edifícios mais belos da cidade e que se encontra bastante degradado. Considerando que as instalações do Club Setubalense possuem uma grande valência para a prática de atividades culturais, cujas características de construção do edifício, são realçadas pela altura do seu pé direito e pela extensão das salas, com um principal destaque para o salão, conhecido na cidade pelas suas condições acústicas; constatando-se então, que a falta de associados tem levado ao emagrecimento das listas de sócios e consequentemente à diminuição das quotizações, tornando muito difícil a sua sobrevivência; tendo também em linha de conta, que o club não recebe apoio financeiro de qualquer entidade, deliberou-se há dois anos atrás, construir um programa cultural que desse simultaneamente vida ao club e que solucionasse os seus problemas de sustentabilidade. Para esse efeito, criou-se um programa cultural que consistiu numa agenda bastante diversificada de atividades, que se estenderam da música à dança e que passaram também pelas atividades de carater desportivo. Criouse a dança, nas suas várias vertentes: dança desportiva; danças de salão; ballet; dança contemporânea; dança jazz. Criaram-se outras atividades como o yoga, o tai-chi, o karaté, reativou-se a prática da esgrima, considerada a atividade mais antiga do club. Para isso, foram contactados professores e profissionais das várias atividades para a utilização das instalações do club, para ministrarem as aulas no seu espaço. Proporcionou-se aos alunos finalistas do ensino superior de música, a utilização dos pianos para ensaios e atuações no salão, gratuitamente, mediante apresentações em público, que garantissem ao club uma programação de música clássica com regularidade. Podendo ainda estes jovens músicos, organizar os seus concertos e recitais no club, cobrando os seus honorários através de bilheteira, desde que, contribuíssem com uma pequena parte para a associação. Estabeleceram-se ainda contactos com várias instituições,

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como a CMS (Câmara Municipal de Setúbal) o CRS (Conservatório Regional de Setúbal), o IPS (Instituto Politécnico de Setúbal), a UNISETI (Universidade Sénior de Setúbal), a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) e associações como os Lions Clubs Internacional e o Rotary club, no sentido de se estabelecerem parcerias e protocolos, para utilização dos seus espaços para ensaios, reuniões, concertos, palestras, seminários e outros. Após dois anos de trabalho intenso, no sentido de conseguir reativar a função cultural do club, com uma programação regular e eloquente de grande qualidade, considerou-se de grande pertinência abrir os horizontes a outras temáticas. A conjugação da música com as artes e com as exposições seria o próximo passo. Esta conjugação conseguiu-se através da disponibilização do salão, para exposições de jovens artistas da cidade, que desejassem expor as suas obras e que necessitassem de um local para as efetuar. Deste modo o club passou também a acolher, pintores, escultores, artistas plásticos, mediante aprovação da direção. Apesar do crescimento contínuo que se tem verificado no club, com a implementação de todas as atividades nestes últimos dois anos, ainda se verificam muitos problemas aos quais se vão dando resposta, de acordo com as necessidades. Um dos vários problemas identificados prende-se com uma ala do club que não é praticamente utilizada. Existem salas que se encontram fechadas há alguns anos, os documentos e objetos que datam da sua constituição e que se encontram nessas salas, misturam-se com os objetos do dia-a-dia, sem qualquer critério de arrumação ou conservação. As paredes do club no seu aspeto geral, não contam uma história, apenas contam o peso dos anos pela sua degradação. Não se percebe, quando se entra na associação, que é a associação mais antiga de Setúbal, que atravessou três séculos de história e que tem com certeza uma história para contar. Para além destas questões, ainda existe outro problema, que está relacionado com a preservação do edifício. Ora os conhecimentos adquiridos no Mestrado de Museologia e Museografia, permitiram-nos a identificação de todos os problemas citados anteriormente, constituindo a grande motivação para a realização do presente trabalho.

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- OBJETO DE ESTUDO

Identificados os problemas no capítulo anterior, coloca-se a pergunta de partida: Como reabilitar uma antiga associação com as características do Club Setubalense e que procedimentos se devem adotar para a angariação de públicos? A partir desta pergunta, pretende-se construir um programa museológico e um projeto museográfico, que dê resposta a uma parte dos problemas já colocados no capítulo anterior, contribuindo deste modo para a continuidade da associação enquanto espaço cultural e para a sua requalificação, enquanto lugar de memória coletiva. O objeto de estudo situou-se numa primeira instância, na investigação sobre a história do club setubalense desde a sua constituição, quem foram os seus fundadores, a função social que desempenhou ao longo da sua travessia por três séculos, o papel que tem desempenhado na história da cidade de Setúbal e a partir desse estudo construir uma narrativa museográfica, capaz de mostrar ao público o seu passado e o seu percurso através dos tempos. A construção do programa museológico e do projeto museográfico implicou a investigação detalhada, sobre os processos museológicos e as técnicas museográficas que se aplicam nos museus, com um especial enfoque, para a realização de exposições. Investigou-se ainda sobre os ideais da Nova Museologia, que surgiram em 1972 com a Declaração de Santiago do Chile, com a finalidade de incluir o Club Setubalense, pela sua história e pela sua idoneidade, neste alargamento de conceitos, proporcionando-lhe um tratamento idêntico ao de um Museu. Procuraram-se autores de referência no âmbito do património cultural e edificado, na possibilidade de incluir o edifício, onde se encontra alojado o club, nesse mesmo âmbito, atendendo às suas características arquitetónicas. Para se proceder à musealização do club investigou-se sobre os programas museológicos utlizados em vários museus, estudaram-se também as várias possibilidades de técnicas museográficas e expositivas utilizadas nesses mesmos museus, com a finalidade de poder dar uma resposta adequada ao nosso objeto de estudo.

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- ESTRUTURA DO TRABALHO

O primeiro capítulo do trabalho situa-se no desenvolvimento teórico, sobre a história do club, enquadrando o seu surgimento, no contexto social económico e político da época. Será efetuado ainda neste capítulo, um estudo sobre a função social do club e o seu envolvimento com os públicos, desde a sua criação, dando relevância ao seu desenvolvimento cultural, nestes últimos anos e referindo o club, como um lugar de memória coletiva. Ainda neste capítulo, faz-se uma abordagem ao surgimento dos clubes em Portugal, inspirados nos clubes ingleses. Abordam-se dois clubes de grande destaque no nosso País - o Grémio Literário e o Clube Portuense, por se considerarem clubes de grande prestígio e que pelas suas características distintas, permitem apontar os mesmos modelos, quanto à sua preservação. O segundo capítulo aborda em toda a sua metodologia, a importância de todo o movimento de uma Nova Museologia, que surgiu em 1972, com a Declaração de Santiago do Chile e reconhecida mais tarde, com a Declaração do Quebec, em 1984. Propõe-se neste capítulo um enquadramento do Club Setubalense nesse âmbito, aponta-se a importância desta abordagem, no presente trabalho, porque se irá desenvolver no quarto capítulo, um programa museológico, tendo em linha de conta os princípios fundamentais, que se desenvolveram a partir deste conceito. Faz-se ainda neste capítulo, uma comparação entre os programas culturais dos Museus e dos Clubes, assim como se aborda a importância do papel educativo e social das duas instituições, nas sociedades atuais, bem como a importância das exposições. No terceiro capítulo faz-se uma abordagem sobre a arquitetura do edifício, onde se encontra instalado o antigo club, pela sua importância no panorama arquitetónico da cidade, relevando os aspetos fundamentais para a sua salvaguarda e referindo alguns conceitos internacionais de intervenção, em edifícios desta tipologia. Faz-se ainda um levantamento dos principais pontos de intervenção, considerados urgentes para a salvaguarda do edificado e manutenção da sua autenticidade. No quarto capítulo é efetuado um programa museológico e um projeto museográfico a realizar numa parte do seu espaço físico, de forma a torná-lo visitável e apelativo. O programa museológico tem início com um processo de análise da instituição,

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através de um diagrama, onde são avaliados os problemas que causam constrangimento ao seu desenvolvimento, assim como se avaliam os seus pontos fortes, procedendo de seguida a uma análise de diagnóstico, onde se definem os procedimentos a seguir. Definem-se as áreas funcionais e aponta-se ainda neste capítulo, um programa de atuação que se divide em cinco alíneas, onde se estabeleceu para cada alínea uma temática. Na alínea referente aos acervos, destaca-se a parte do inventário da associação e na alínea seguinte destaca-se o programa referente às exposições, onde se irá incluir o projeto museográfico para a realização da exposição permanente. Todo o programa museológico e o projeto expositivo desenvolver-se-ão dentro de uma lógica conceptual, tornando as opções de uma oferta multidisciplinar, que engloba várias práticas museológicas e museográficas, onde se procurou coordenar a temática da exposição com as características do edificado, apontando minuciosamente o que se pretende mostrar. Por fim será efetuada a conclusão, onde serão mencionados e analisados todos os percursos efetuados, para a realização do presente trabalho, numa análise crítica e construtiva ao desenvolvimento de atividades do Club. Esta análise permitirá de forma continuada a sua existência, enquanto espaço cultural, à disposição dos cidadãos, assegurando a passagem desse testemunho, às novas gerações. Será ainda mencionada a contribuição do presente trabalho para a reabilitação de outros clubes em Portugal, que à semelhança do Club Setubalense, necessitam de uma intervenção urgente. Aponta-se o presente trabalho como um modelo pioneiro na reabilitação de associações com as características do club setubalense.

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- METODOLOGIA

O presente trabalho possui duas metodologias: a primeira metodologia é referente à disciplina adotada para o trabalho propriamente dito, a segunda metodologia desenvolve-se no quarto capítulo e refere-se aos critérios que se adotaram, para a implementação dos programas de musealização do Club. Na metodologia para a realização do presente trabalho, numa primeira fase optou-se, pela observação direta, com a finalidade de poder identificar quais os problemas que assolam a associação. Numa segunda fase, procurou-se perceber que documentação existia no club. Foram encontrados alguns documentos de grande relevância, mas não tantos quanto se esperava, pois o club não possui um arquivo, que corresponda proporcionalmente aos seus anos de existência. Procurou-se reunir toda a documentação que constituísse interesse, na biblioteca da associação procedendo à sua organização cronológica. Após se ter efetuado esta operação, procedeu-se à leitura atenta de toda a documentação. Seguidamente procuraram-se obter os contactos de antigos sócios, para a realização das entrevistas, para as quais, de todas as pessoas contactadas, apenas três concordaram em ceder a entrevista. Dois dos entrevistados já foram presidentes, a terceira entrevistada é filha e esposa de antigos sócios. As entrevistas aos antigos presidentes foram realizadas no Club Setubalense, a terceira entrevista foi realizada em casa da entrevistada, pelo facto de se tratar de uma senhora de idade avançada. Foram também contactados alguns dos sócios atuais, que apesar de mostrarem uma grande emoção e contentamento, pela existência do projeto para a reabilitação do club, não mostraram ter um grande conhecimento sobre o seu passado. Curiosamente apontaram essa falha, como pretexto, para o entusiasmo com que acolheram a ideia. Procurou-se também junto dos sócios a recolha de suporte fotográfico, para a realização da exposição permanente, por sinal um dos grandes problemas, identificados, na pesquisa. O club não possui fotografias do antigamente, como seria de esperar numa associação tão idónea, esse facto, levou-nos à sua procura na Casa Bocage3, onde se encontra guardado todo o espólio fotográfico do grande fotógrafo 3 Casa Museu Bocage – Câmara Municipal de Setúbal – onde se encontra guardado todo o espólio fotográfico, do fotógrafo setubalense Américo Ribeiro

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setubalense Américo Ribeiro. O Club possui apenas um suporte fotográfico muito recente, que data de há trinta anos e que já se encontra informatizado. Procedeu-se também ao registo fotográfico das salas do club e das peças que irão fazer parte da exposição permanente. Efetuaram-se também várias reuniões com os sócios e com a direção do club, a fim de se deliberar acerca da exposição permanente. Efetuaram-se várias pesquisas na Biblioteca Municipal de Setúbal, aos jornais da época da fundação do Club Setubalense e de épocas posteriores, como o Distrito, o Setubalense, a Gazeta onde se encontraram muitas notícias alusivas, quer à sua constituição, quer aos eventos que ali se realizaram e que na época, constituíram notícia. Procuraram-se na Biblioteca Municipal autores que tivessem editado alguma bibliografia sobre a associação. Após várias pesquisas, concluiu-se que o único livro sobre o Club Setubalense é o que se encontra na sua posse, editado aquando da comemoração dos seus 155 anos. A bibliografia consultada para a realização do trabalho, focou-se em três aspetos fundamentais: a história do Club Setubalense, os aspetos sociais, políticos e económicos da cidade de Setúbal nos meados do século XIX e início do século XX; a nova museologia como motor fundamental na valorização do club como património edificado e cultural; as cartas internacionais que regulam as intervenções em monumentos históricos ou em edifícios classificados e o planeamento do Club como se de um Museu se tratasse. Para construção e desenvolvimento dos pontos citados anteriormente e para o estudo do primeiro ponto, foram efetuadas pesquisas na Biblioteca Municipal de Setúbal, de autores que tivessem realizado estudos sobre a cidade de Setúbal. Foram indicados pela técnica da Biblioteca, três autores de grande referência: Maria Conceição Quintas; Álvaro Arranja; Alberico Afonso Alho. Efetuaram-se várias deslocações ao Museu do Trabalho Michel Giacometti em Setúbal, onde foi adquirida bibliografia sobre o serviço educativo e sobre as conserveiras. Ainda no Museu do Trabalho, trocaram-se impressões sobre as técnicas museográficas, aplicadas nos museus MTMG e Museu de Setúbal. Para estudo e desenvolvimento do segundo ponto foi ainda, no Museu do Trabalho que se encontrou bibliografia relacionada, com os ideais da Nova Museologia e com os seus impulsionadores, Hugues de Varine e George Henri Rivière e Per- Uno Agren. Sobre a intervenção em Edifícios, consultaram-se as Cartas internacionais (Carta de Atenas e Carta de Veneza). 21


- MODELO TEÓRICO/QUADRO CONCEPTUAL

Após se ter mencionado no capítulo anterior, a metodologia adotada para a realização do presente trabalho, cumpre fazer referência quanto ao modelo teórico. Adotou-se o modelo teórico dos museólogos estudados no ano curricular do Mestrado de Museologia e Museografia, pelo facto de se considerarem autores de grande referência no desenvolvimento da chamada Nova Museologia. Referimo-nos a Hugues de Varine e Georges Henri Rivière ambos de nacionalidade francesa, foram os primeiros secretários gerais do ICOM e desempenharam um papel fundamental na museologia a partir da década de 70. Estas duas personalidades, marcariam os caminhos que permitiriam o desenvolvimento de uma nova museologia de visão social e comunitária. Georges Henri Rivière tornou-se diretor do ICOM em 1948, o seu trabalho criativo e inovador quer no Museu Nacional das Artes e das Tradições Populares, no Centro de Etnologia Francesa, ou no Museu do Homem, refletem as suas preocupações com a valorização do mundo rural, o património histórico local e a relação e integração das comunidades com os museus (ICOM, 1995: 7). O conceito de Ecomuseu, internacionalizado por estes dois museólogos, surge em França nos finais dos anos 50 e na década de 60, associado aos problemas que surgiam com o nível de vida muito baixo e um grande êxodo rural, que provocaria uma grande revolta social. Este conceito esteve Intimamente ligado a uma experiência de uma comunidade francesa, na região industrial das cidades de Creusot, ligada à siderurgia e Monteau les Mines, ligada ao Carvão, que segundo Hugues de Varine, nascia sob a noção de ecologia humana, pois para as populações daquelas localidades, o ecomuseu representava um fator de construção comunitário, onde se apresentava com a inovação de criar uma relação entre o património e a sociedade. A palavra Ecomuseu criada em 1971 por Hugues de Varine e desenvolvida mais tarde por George Henri Rivière deu origem a um movimento que rapidamente se associou aos movimentos museológicos internacionais liderados pelo concelho internacional ICOM/UNESCO, no início da década de 70, quando se colocava em evidência a dimensão política e social dos museus. Este conceito tem sido responsável pelo desenvolvimento de projetos museológicos diversificados associados ao conceito de museu

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de comunidade e de museu de território, que contrastavam com o conceito de museu tradicional, que valorizava a coleção e o edifício público. Georges Henri Rivière, provavelmente a figura mais importante, da renovação museológica em França no pós-guerra, foi responsável pela criação de muitos museus e ecomuseus, quer no seu país de origem, quer noutros países, dando uma importância absoluta aos acervos portadores de informação, assim como de carga simbólica e afetiva. Na opinião de Heloísa Barbuy “O Museu Nacional de Artes e Tradições Populares de Paris, por ele criado, é um bom exemplo da importância conferida aos bens culturais e à pesquisa em torno do património, gerador de acervos” (…) ” (Barbuy, 1995: 209). O desenvolvimento e a maturação de movimentos voltados para uma chamada cultura popular romperam definitivamente com as tradições vindas do século XIX, dos museus de belas artes fixados nas obras-primas dos museus. A cultura popular e a etnografia regional tornar-se-iam a partir dos anos 70, associadas ao meio, os grandes impulsionadores da Ecomuseologia. A Ecomuseologia privilegia a relação do território com o património e com a população, procurando descentralizar o enfoque no objeto, que até então era centralizado e destinado a um público específico, passando a defender, a relação do homem com o seu próprio meio. De acordo com Graça Filipe, diretora do Ecomuseu do Seixal “Esta nova abordagem integrada assume decididamente o território como uma realidade física” (Filipe, 2009)4. Estas mudanças proporcionaram a multiplicação das atividades museológicas, que já existiam noutros países há algum tempo e que trouxeram a visita a Portugal de grandes profissionais nesta área. Destacam-se para além de Varine e de Rivière, PerUno Agren solicitado à UNESCO, pelo governo português a fim de efetuar o levantamento da realidade museológica existente no país e a partir desse levantamento conceber instrumentos que permitissem, uma melhor coordenação e descentralização dos museus existentes e a criação de novos museus, Per-Uno Agren foi o conselheiro escolhido desenvolvendo o projeto entre 1976 e 1979. Hugues de Varine e Georges Henri Rivière também estiveram em Portugal e foram museólogos de grande referência no desenvolvimento da museologia portuguesa. Hugues de Varine deslocou-se a Portugal 4 Filipe, Graça (2002) Seminário “Com os Homens do Aço – história, memória e património”, Seixal, Disponível em

http://www2.cmseixal.pt/pls/decomuseu/web_extract_external.get_external?code=1173168&col_ext=content1&t ab=ecom_publication [Consult. em 26 de Dezembro 2013]

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entre 1978 e 1979 a convite da Secretaria de Estado do Ambiente, para aconselhamento técnico, tendo por objetivo a criação de uma rede de ecomuseus nos Parques Nacionais e Georges Henri Rivière no âmbito museológico, colaborou em ações locais e regionais no nosso país e participou em diversas iniciativas de intervenção social, visando o desenvolvimento local. Em 1984 com a Declaração do Québec, a Nova Museologia toma um novo impulso com atividades práticas, reuniões e a criação do MINOM, reforçando-se o aspeto social do museu. Em Portugal o Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM), nasceu em 1985, praticamente uma década decorrente do 25 de abril de 1974, que permitiu as mudanças a nível social e cultural. Na década de oitenta surgiriam então em Portugal, novas realidades museológicas tendo a sua génese na Nova Museologia, como é o caso do Ecomuseu do Seixal e que foi criado a partir do levantamento da história e da cultura deste concelho e do MTMG (Museu do Trabalho Michel Giacometti) que definiu a sua vocação orientada para uma forte componente social e desenvolvimento com a população local. É esta interligação do facto museal, objeto de estudo introduzido pela Nova Museologia, que segundo Cristina Bruno, vai criar a ligação do homem ao seu património:

Por um lado, a necessidade de compreender o comportamento individual e/ou coletivo frente ao seu património, e por outro, a potencialidade de desenvolver mecanismos que possibilitem que, a par desta relação, o património seja transformado em herança e esta, por sua vez, contribua para a necessária construção das identidades (individual e/ou coletiva) (Bruno, 1997: 15).

Desta forma a ligação do indivíduo ao seu património, vai funcionar como um elemento preponderante da sua própria identidade, ou seja, que esse património é entendido como um legado ao dispor de uma comunidade, em determinado território, definindo as características distintivas do conceito de Museu integral, definido na Mesa Redonda de Santiago do Chile, que vai proporcionar às populações uma visão abrangente em relação ao seu meio material e cultural. Então o trabalho de desenvolvimento comunitário vai proporcionar um encadeamento de vários elementos técnicos, sociais, económicos e políticos que passam pela recolha e estudo do objeto, do24


cumentação, conservação, armazenamento, preservação do património e posterior comunicação. Estes fatores ganham novos contornos com a Declaração de Caracas em 1992, dado que se torna transversal a vários momentos dos processos museológicos, apontando a organização de exposições, a montagem dos serviços de extensão cultural e a respetiva avaliação, como principais agentes comunicadores. Assim, “o conceito do objeto museológico vai ser trabalhado no sentido de lhe serem extraídas as suas propriedades imateriais ou a sua musealidade” (Mensch, 1987: 12). As exposições passam assim a ter um papel de grande relevância na transmissão de saberes, tendo por base a interligação entre o significado e a materialidade do objeto. É também estimulada a preservação in situ para que os objetos a musealizar sejam mantidos no seu local de origem, aumentando o seu significado e valorizando o seu espaço original. É neste quadro conceptual que se vai situar o nosso objeto de estudo, de musealização in situ, situando os três pontos referidos anteriormente como parte integrante de uma estratégia de comunicação museológica. Deste modo, delineou-se no presente trabalho, a identificação do acervo do club e as suas referências patrimoniais, procedendo de seguida à sua inventariação, conservação e identificação, articulando estas componentes com os meios de divulgação. A partir destes procedimentos, poder-se-á partir para a concretização de realização de exposições e de uma programação museológica, que tenha na sua composição serviços culturais que incidam na componente educativa e no seu contexto social. É no contexto deste panorama museal, que surge a ideia de musealização de um antigo clube, que tem na sua génese, todas as condições para o desenvolvimento do projeto nos moldes da Nova Museologia, isto é, constatado na preocupação da preservação e na mostragem In situ. A partir daqui desenvolveu-se o projeto para a exposição permanente, baseado na importância das exposições nos museus. E entendendo-se que a exposição, segundo Tereza Scheiner “(…) é a principal instância de mediação dos museus, a atividade que caracteriza e legitima a sua existência tangível” (Scheiner, 1999: 1), delineou-se a mediação da associação com o seu público, através das exposições, que terá o seu início com a exposição permanente.

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- ESTADO DA ARTE

Após ter sido mencionado no capítulo anterior o modelo teórico e o quadro conceptual, cumpre mencionar neste trabalho o estado do conhecimento relativo ao nosso objeto de estudo. O tema escolhido para a realização do trabalho, foi pouco explorado, não se conhecendo qualquer publicação, sobre a requalificação e dinamização de antigos Clubes. Na investigação do tema sobre a associação, apenas foram encontrados quatro autores e apenas uma publicação: Calos Mouro e Horácio Pena foram os autores da única publicação conhecida da monografia comemorativa dos 155 anos do Club Setubalense; Maria Conceição Quintas autora de um estudo que daria início ao livro; Luís Filipe Costa autor de um trabalho académico sobre a associação. Nos meados do ano de 2004 a direção do club lançou o desafio a historiadores de Setúbal para darem início à investigação sobre a história do club setubalense, com a finalidade de publicar um livro, quando o club comemorasse os seus 150 anos em 2005. Foram convidados Maria Conceição Quintas, Carlos Mouro e Horácio Pena. Maria Conceição Quintas iniciou a pesquisa, mas não chegou a colaborar no projeto do livro que viria a ser editado. As suas pesquisas ficariam assentes em cadernos que se encontram no club e que, mais tarde seriam utilizados pelos autores da monografia. Pelas razões apontadas anteriormente, a única obra conhecida sobre o Club Setubalense é da autoria de Carlos Mouro e Horácio Pena, intitulada – Para a História do Club Setubalense. A monografia deveria ter sido publicada em 2005, aquando das comemorações dos seus 150 anos, mas por falta de verba e de patrocinadores, só foi possível a sua publicação, cinco anos mais tarde, em 2010. Os autores efetuaram um estudo sobre a história da cidade de Setúbal no segunda metade do Século XIX, onde abordam o surgimento do club, no contexto de uma sociedade burguesa. Outras das publicações, onde se encontrou uma pequena referência ao Club Setubalense, foi na monografia da historiadora já referida anteriormente - Maria Conceição Quintas. Esta monografia, intitulada Setúbal: economia, sociedade e cultura operária, a autora refere o surgimento das associações artísticas, como a Sociedade Musical Permanente, a Sociedade Musical Momentânea e outras associações de cariz popular, onde faz referência ao Club Setubalense, “como um Club de classe burguesa

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que emergia profusamente, num contexto próspero, com a explosão industrial” (Quintas, 1998: 27). Foi também encontrado no club um trabalho da autoria de Luís Filipe Costa, intitulado Clube Setubalense - Gestão Cultural, apresentado à Universidade Católica em 2003. O autor critica duramente a direção do Club, pela imagem que ainda mantém nos dias de hoje, acusando - o de “manter o seu carater elitista” (Costa, 2003: 7). Nos jornais da época da fundação do Club e de épocas posteriores, que se encontram no arquivo da Biblioteca Municipal de Setúbal, nomeadamente: A Gazeta; O Setubalense e o Distrito foram encontrados alguns artigos onde se fazem referências aos eventos realizados no club, bem como as notícias de maior destaque. A consulta das atas de Assembleia Geral do Club, constituíram uma grande importância para a realização do trabalho, na medida em que nos permitiram ter a noção dos acontecimentos por ordem cronológica. Os estatutos de 1856, de 1928 e de 2004 também foram de grande pertinência para a realização do trabalho. Há ainda que mencionar o estado da arte relativamente aos clubes em Portugal, que se tomaram como referência, para a melhoria do club. Investigou-se sobre o Grémio Literário e o Club Portuense, pelo facto de tratarem de clubes muito bem preservados e que pelas suas características e idoneidade, serviram de exemplo ao nosso objeto de estudo. Sobre estes dois clubes, existe alguma bibliografia publicada, relativamente ao Grémio Literário são inúmeras as obras e publicações, em relação ao Clube Portuense encontraram-se várias publicações, sobre a sua história e sobre os seus fundadores, nomeadamente: História do Club Portuense 1857- 2007, da autoria de Gonçalo Vasconcelos e Sousa, aquando das comemorações dos seus 150 anos; Os Fundadores do Club Portuense e a sua Descendência, da autoria de Damião Veloso Ferreira e D. Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, uma edição em três volumes; O Primeiro Centenário do Club Portuense 1857 – 1957, editado em 1957, no seu centenário; Club Portuense – Catálogo do Espólio Musical, da autoria de Ana Maria Liberal.5

5 http://www.clubportuense.com/[Consult. em 2013-06-16]

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1.O CLUB SETUBALENSE

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1.1. CONTEXTO SOCIAL, POLITICO E ECONÓMICO

O Club Setubalense foi criado em 1855 por um grupo de homens da alta burguesia setubalense, que à semelhança dos clubes ingleses do século XIX, criavam na cidade de Setúbal, com o objetivo de promover o convívio entre os associados e as suas famílias, um espaço de características elitistas. O Club encontrou a sua grande intenção e delineou as suas atividades, em torno de uma sociedade que emergia ligada a uma forte atividade industrial e comercial. “O período da história de Portugal, intitulado de Regeneração, chegou a Setúbal no ano de 1855, trazendo à cidade um período de grande acalmia política, proporcionando uma grande expansão industrial, financeira e mercantil” (Mouro et. al., 2005: 52). Os interesses económicos dos banqueiros, comerciantes e proprietários urbanos, harmonizavam-se em volta de modelos comuns, caracterizando a classe burguesa, “como uma classe privilegiada, que contrastava com uma população operária e miserável” (Quintas, 1998: 28). A cidade de Setúbal reunia então no ano de 1855, condições propícias de exceção, que lhe davam a possibilidade de poder ostentar, esta classe social privilegiada pelo grande poder económico, caracterizado pelas suas duas grandes atividades: a salicultura e a pesca. A partir destas duas grandes atividades, nascia a Indústria Conserveira, que arrastava também outras indústrias subsidiárias, como a litografa, caixotaria e latoaria, desenvolvendo na cidade uma grande atividade industrial e consequentemente, o enriquecimento de uma classe que prosperava repentinamente. As diferenças sociais acentuavam-se, surgia uma nova classe, a classe do dinheiro, que cultivava o luxo, o ócio e a ostentação. Esta nova classe constituída pela nova nobreza do dinheiro, que pretensiosamente tinha aspirações a ocupar uma posição na sociedade, ”comprava títulos nobiliárquicos e dava origem ao culto do luxo, onde a grande ostentação imperava” (Quintas, 1998: 38). Setúbal crescia e tornava-se cada vez mais próspera, é elevada a cidade a 19 de Abril de 1860, por carta régia de Pedro V. Em 1861 inaugurava-se, por esta altura, a linha ferroviária entre Setúbal e o Barreiro. Em 1863 surgia a iluminação a gás nas ruas, surgia a grande avenida da praia, a praia de banhos, a construção do coreto, onde se

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realizavam os concertos, “surgiam os cafés, os clubs, as soireés dançantes, surgiam os estrangeirismos, a mania das grandezas” (Mouro et.al. 2010: 9). Em 1880, os franceses chegavam a Setúbal, em busca de pescado, que devido à sua escassez na costa francesa, os levava à fixação na cidade. Proliferavam as fábricas de indústria conserveira, um pouco por todo o lado, ao ponto de se tornar praticamente a principal atividade industrial da cidade e quase única atividade da sua população (Alho, 2010: 10). Esta grande atividade conferiu à economia local um caráter mono industrial, que caracterizava a cidade de Setúbal, pelo menos até à década de trinta. Este aumento substancial da indústria conserveira e de atividades subsidiárias, como a latoaria, caixotaria e litografia e a construção naval, traziam à cidade um grande aumento de população. Este aumento demográfico repentino produzia efeitos catastróficos na cidade, Setúbal crescia desordenada, surgiam os bairros de lata nos subúrbios, onde habitavam os trabalhadores e operários. Estes bairros contrastavam com as casas senhoriais que se iam construindo, na grande avenida da praia (Av. Luísa Todi) e que se destinavam à alta burguesia. No contexto social assistia-se ao surgimento de várias associações, agremiações e coletividades de cultura e recreio, na sua grande maioria de cariz popular, que tendiam a agrupar-se de acordo com os interesses comuns de cada grupo social. Acentuavam-se as diferenças sociais, por um lado, uma população maioritariamente operária que vivia em condições precárias, por outro, uma classe burguesa que ostentava o “luxo” e a “grandeza” (Quintas; 1998: 32). Na alta burguesia surgiam nomes de pessoas influentes na vida política setubalense, industriais ligados à grande indústria conserveira, proprietários, comerciantes, médicos juízes e militares de alta patente, que à medida que prosperavam na cidade, tomavam como pretexto, a intenção de criar um local de convívio e de encontro. Os clubes Ingleses constituíam na época um modelo único e um exemplo de requinte e bom gosto, “que inspirava a alta sociedade portuguesa no segundo quartel do século XIX” (Mouro et.al. 2008: 52). Os clubes surgiam então por esta altura, um pouco por todo o país, praticamente em todas as cidades, onde são conhecidos pela população como os, Clube dos Ricos, a cidade de Setúbal não fugiu à regra e em 1850 cria a Sociedade de Recreio Familiar.

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1.2. HISTÓRIA DO CLUB SETUBALENSE E DOS SEUS FUNDADORES

O club setubalense nasceu em 1855, tendo a sua origem nesta associação, Sociedade de Recreio Familiar, criada por alguns nomes da sociedade setubalense. É constituído a 12 de novembro desse mesmo ano e vai reunir a elite económica e política local. A cerimónia decorreu numa das salas dos Paços do Duque, “onde ficaria instalado por algum tempo, o referido club” (Mouro et.al. 2010: 33). Esta agremiação de recreio constituída com o nome de Associação do Club setubalense, iniciou o seu funcionamento no dia primeiro de janeiro de 1856, não teve hino, nem estandarte, nem banda, possuía apenas uma bandeira azul com as siglas do club a dourado (um C e um S, entrelaçados). Tinha sido criado na cidade de Setúbal um espaço que constituía o ponto de encontro, onde se congregavam personalidades, onde se debatiam variados temas, fugindo à uniformização obsessiva do lucro material. “Era necessário criar um espaço para a civilização onde se valorizava a intercomunicação dos que queriam conviver e aprender” (Quintas, 2004: 1). A imprensa local da época anuncia o surgimento da agremiação no dia 6 de janeiro de 1856, onde se lê o seguinte: No dia 1º dia deste mês abriu-se o club setubalense. É a primeira vez que Setúbal tem uma distração desta ordem tão em moda e agradável à boa sociedade. Desejamos-lhe dilatada vida, porque esperamos que ele seja um centro de amigas e festivais reuniões, um veículo para entreter cordiais e sinceras relações, um antídoto contra perniciosos enredos […], um meio não só de apagar arrufos e amuos, senão de fazer esquecer passadas dissensões e, finalmente um gérmen de civilização para a nossa cidade.6

Foram os seus sócios fundadores: João Ignacio da Cruz Forte; João Maria de Lima; Joaquim da Costa Novaes; Manuel José Vieira Novaes; Moreira de Brito; Paiva e Silva; Marques de Sousa; José do Nascimento Oliveira; Dr. António Rodrigues Manitto; Francisco Maria Cabral d’Aquino Mascarenhas; Joaquim Viana; José de Groot Pombo; João Carlos de Almeida Carvalho; António José Pacheco; António Pereira da Silva Perdigão7.

6 De acordo com a notícia do Jornal da época – O Setubalense de 1856, Nº28

7 Nomes que constam nos Estatutos do Club Setubalense e que correspondem aos fundadores do Club

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1.3. DADOS BIBLIOGRÁFICOS DOS FUNDADORES João Inácio da Cruz Forte – Diretor da Alfândega de Setúbal e Provedor da Santa Casa da Misericórdia, pertencente à Loja Maçónica, instalada em Setúbal, em finais de 1858. Em 1876 elaborou o documento de definia o funcionamento e o regulamento do Asilo da infância desvalida; João Maria de Lima- Foi Juiz de Paz, em 1837 foi para a Misericórdia e a partir de 1843, desempenhou cargos de grande importância na mesma instituição; Joaquim da Costa Novais (1823-1891) - Foi um grande proprietário, considerado um dos maiores contribuintes na área predial. Esteve ligado ao poder local, onde desempenhou funções de vereador. Foi fundador da Sociedade de Recreio Familiar; Manuel José Vieira Novais – Proprietário local, pertenceu à loja maçónica criada em Setúbal em 1858, foi também um dos fundadores da Sociedade de Recreio Familiar José do Nascimento e Oliveira (1824-1891) – Grande capitalista, filho de um farmacêutico, agente em Setúbal do Banco de Portugal e do Banco Comercial de Lisboa, foi vicecôncil dos Estados Unidos no Brasil. Surge em 1850 ligado à Associação de Recreio Familiar, como fundador e instrumentista na orquestra da referida associação. Integrou também a loja maçónica, foi sócio de várias fábricas ligadas à indústria conserveira. Entre o ano de 1884 e 1885 foi presidente da Câmara Municipal de Setúbal; António Rodrigues Manitto (1819-1906) - Médico, natural de Coimbra, onde se formou, foi nomeado guarda-mor da Repartição de Saúde do Porto de Setúbal. Foi fundador e ator na Associação de Recreio Familiar e presidente do Club Setubalense, presidiu também à Câmara de Setúbal de 1866 a 1868 e de 1870 a 1880. Durante a sua presidência a cidade foi iluminada a gás, foi também inaugurada a estátua do poeta Bocage, são concluídas as obras de ampliação do edifício dos Paços do Concelho, é inaugurado o Mercado do Livramento, fundou a Biblioteca Pública Municipal, entre muitos outros feitos que caracterizou esta personalidade da história da cidade de Setúbal; Francisco Maria Cabral de Aquino Mascarenhas – Proprietário, Regenerador, fundador da Associação Agrícola Setubalense;

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José de Groot Pombo- (1806-1912), Natural de Setúbal, filho de um general, Francisco Assis de Groot Pombo, era proprietário de uma das maiores quintas de Setúbal, a Quinta de Aranguez, foi um dos fundadores e animador da Sociedade de Recreio Familiar e do Club Setubalense. Foi administrador substituto do Concelho, foi militante e representante em Setúbal, foi um dos iniciadores da Associação Agrícola do Concelho de Setúbal, em 1903 presidiu a Assembleia – Geral da Empresa Setubalense de Banhos; João Carlos de Almeida Carvalho (1817-1897) - Proprietário, Advogado, fundou o jornal “O Setubalense” em 1855, fez parte do grupo que fundou em Setúbal a Associação das Classes Laboriosas, a primeira associação mutualista, foi histógrafo na Câmara dos Pares em Lisboa; António José Pacheco – Natural de Setúbal, tenente-coronel, casado com Maria Guiomar du Bocage, ainda familiar do poeta Bocage. Foi comandante do Batalhão Nacional de Setúbal, onde chegou a ser condecorado com a medalha das Campanhas da Liberdade. Foi um dos fundadores da Sociedade de Recreio Familiar e do Club Setubalense. (MOURO, PENA, 2010: 13) Este grupo de homens, dominante na Sociedade Setubalense da época, vai criar, aquela que seria aos dias de hoje, a Associação mais antiga da cidade de Setúbal. O jornal O Setubalense8, um dos jornais da época, descrevia o acontecimento com grande entusiasmo e no dia 18 de Novembro de 1855, após decorridos seis dias, da data da fundação do Club, procedeu-se à constituição de uma mesa provisória composta pelos elementos seguintes: pelo presidente – João Ignacio da Cruz Forte; pelo Secretário, João Maria de Lima e João de Nascimento e Oliveira. A direção ficou constituída pelo Dr. António Rodrigues Manitto, Francisco d’Aquino C. Mascarenhas e Joaquim da Costa Novais.

8 No dia 12 deste mês instalou-se nesta vila, a sociedade que tomará o nome de club setubalense, grande número de cavalheiros já concorreram a associarem-se e no dia 14 aprovaram-se os respetivos estatutos que vão receber a aprovação do governo.”- O Setubalense, 1855

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1.4. OS ESTATUTOS DO CLUB

Os estatutos do Club viriam a ser aprovados por carta régia de D. Pedro V (1837-1861), no dia 9 de Julho de 1856. O documento havia sido remetido para aprovação régia por Decreto de 18 de junho, elaborado por João Corrêa d’Oliveira Caupers, fora impresso na typographia do jornal O Setubalense, nesse mesmo ano9. Na Carta Régia D Pedro V, confirma que o diploma que sancionava os estatutos do Club Setubalense lhe fora remetido pelo Governador Civil do Distrito de Lisboa, a quem o Club enviara as leis, a pretexto que querer implantar na Vila de Setúbal, uma associação que “unicamente visava o recreio honesto das famílias dos indivíduos que a compunham”.10 O documento define as regras que vão orientar o funcionamento da associação que prevê “que o fim do club setubalense é a honesta convivência dos sócios,”11 que nunca poderá ser em caso algum, órgão de objetos políticos ou religiosos. A associação é então composta por sócios ordinários e sócios extraordinários, os sócios ordinários nunca poderiam ser em número superior a cinquenta e os sócios extraordinários, podiam ser em número ilimitado. Para serem admitidos como sócios, deviam de obedecer a determinados critérios e depois de admitidos gozavam dos mesmos direitos e os mesmos deveres estabelecidos no artigo quarto dos estatutos12. Percebe-se de uma forma muito clara a preservação da pureza da associação, pois nela apenas são admitidos os cidadãos portugueses ou estrangeiros que ”pertencendo a uma família decente, gozarem de boa reputação civil e moral”13. A proposta de admissão era efetuada por um sócio, por escrito, essa proposta ficava afixada durante oito dias na sala de jogos e era votada em assembleia-geral por “esferas em escrutínio se-

9 Estatutos do Club Setubalense de 1856, p.1 – Anexo I 10 Estatutos do Club Setubalense de 1856, p.2 – Anexo I 11 Estatutos do Club Setubalense de 1856, p.2 – Anexo I

12 Artº4º Estatutos do Club Setubalense de 1856 - Anexo I

13 Estatutos do Club Setubalense de 1856, p.3, artº 4º - Anexo I

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creto”14. O sócio que por qualquer razão fosse rejeitado, só poderia voltar a ser proposto um ano depois. Os primeiros cinquenta sócios eram considerados os fundadores, pagavam uma quota mais baixa, no valor de quatro mil e quinhentos réis. Os sócios ordinários não fundadores pagavam uma quota de nove mil réis. Em qualquer um dos casos, a prestação mensal, ou quota, seria de seiscentos réis adiantados e no prazo de oito dias após aprovação para membro do club. Consta ainda nos estatutos que em caso de extinção da associação, os seus bens pertenceriam única e exclusivamente aos sócios ordinários. No título III dos estatutos aprovados em 1856, são definidas as competências que constituíam os vários membros que detinham o poder de decisão dentro do grupo. A assembleia-geral era composta por todos os sócios ordinários, dirigida por um presidente, um vicepresidente e dois secretários. A assembleia geral era dirigida pelo presidente, na ausência deste, o vice-presidente tinha a incumbência de gerir os trabalhos durante as reuniões e comunicar à direção. Os secretários estavam obrigados a lavrar as atas das sessões e de tratar de toda a correspondência referente à mesa. A assembleia – geral reunia três vezes por ano, a primeira reunião acontecia em janeiro, para eleição da mesa e discussão das propostas da direção, a segunda reunião realizava-se dias depois para leitura do relatório de contas, referente ao ano anterior e para eleição de uma comissão constituída por três membros, para examinar os relatórios de contas. A terceira reunião realizava-se oito dias depois da segunda para resolução acerca do parecer da comissão, tal como é mencionado no parágrafo 2ºdo artº15º dos estatutos. Além de especificarem as competências da direção, os referidos estatutos ditam as regras de funcionamento e as possibilidades dos encontros das famílias dos sócios, quando o orçamento o permitisse, assim como ditam as normas sobre o gabinete de leitura e sobre os jogos. Sobre os encontros de famílias, só poderiam assistir as esposas e os filhos legítimos, maiores de catorze anos, dos sócios ordinários e dos sócios extraordinários. A presença de qualquer outra pessoa necessitava da autorização

14 Estatutos do Club Setubalense de 1856, p.3, Título II, artº 5º - Anexo I

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prévia da direção. Sobre os jogos, eram permitidos o bilhar e qualquer outro tipo de jogo desde que não fosse ilícito. Os jogos de azar eram expressamente proibidos. Os estatutos de 1856 estiveram em vigor até 1929, ano em que foi proposta a sua alteração pela direção então vigente, por serem considerados desatualizados e insuficientes. Os estatutos de 1929 mantêm a sua ideologia inicial, assim como os seus objetivos, mas verificam-se algumas alterações no texto, de acordo com a lei geral então vigente no país. O diploma aprovado em reunião de assembleia – geral, apresenta cinco capítulos que definem pormenorizadamente as diretrizes defendidas desde a sua fundação em 1855, onde se destaca no capítulo I “da denominação e fins do club e sua organização”15, Encontram-se pequenas alterações relativamente ao texto original, onde se salienta a explicitação do objetivo geral que moveu a fundação da sociedade “ (…) dar incremento à civilização por meio da convivência, da leitura e das reuniões familiares e ainda por qualquer outro conducente ao mesmo fim”16 . No Capítulo II são definidas as atribuições e deveres dos corpos coletivos do club, as reuniões ordinárias, passam de três para duas reuniões anuais. No terceiro capítulo, são enunciadas as regras que regem a situação dos sócios, ordinários e extraordinários, admissão, exclusão, direitos e deveres, onde se explica o funcionamento de admissão de sócios através do processo de bola branca e bola preta, realizados na última terça-feira de cada mês. O capítulo IV determina os divertimentos do club e outras disposições, onde se destaca o artigo 32º, que define as atividades, onde se pode ler que os bailes, reuniões de família, espetáculos, concertos e outras diversões apropriadas, se podem realizar sempre que a direção julgue conveniente e o estado das finanças da casa o permitam, ou quando um grupo de sócios decidirem tomar as despesas à sua conta. O salão também poderia ser utilizado para solenidades públicas de alto interesse nacional, tais como sessões solenes, congressos, mesmo realizados por pessoas estranhas ao club, desde que não envolvessem, qualquer tipo de política partidária. O quinto capítulo é referente às disposições gerais que confirmam e ampliam as previstas no texto anterior, datado de 1855.

15 Estatutos de 1928 aprovados em 1929, p.5

16 Estatutos de 1928 aprovados em 1929, p.2

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Estes estatutos estiveram em vigor até ao século XXI, quando a direção do club teve a necessidade de alterar, as suas regras de funcionamento de acordo com a legislação atual e de acordo com as novas exigências de uma sociedade moderna. O novo texto dos estatutos foi aprovado no dia 18 de novembro de 2003, homologado em 9 de março de 2004, publicado em Diário da República de 11 de junho do mesmo ano. As alterações dos novos estatutos não modificam em profundidade as disposições dos estatutos desde a sua fundação, apenas os vêm adaptar às tendências culturais e sociais da sociedade atual. No primeiro capítulo, denominação e fins, é esclarecida como deve ser interpretada a expressão utilizada no anterior diploma de 1929, onde se lê “dar incremento à civilização (…) ”17, Esta deve ser entendida como “ (…) promover a cidadania através de atividades de caráter social e cultural abertas à comunidade em geral e organizadas pelo club ou em parceria com entidades públicas ou privadas.”18 No segundo capítulo surgem algumas alterações, como por exemplo a introdução de sócios honorários, para além dos sócios ordinários e extraordinários, já existentes anteriormente. São então considerados sócios honorários, os indivíduos ou as entidades que tenham prestado serviços relevantes ao club e tenham merecido essa distinção. Estas são as grandes alterações dos novos estatutos, pois como se pode verificar nos outros capítulos19, existem pequenas alterações, mas que não se podem considerar relevantes.

1.5. FUNCIONAMENTO DO CLUB Voltemos à data da sua constituição, os seus estatutos aprovados por Carta Régia em 1856 vão regular as inúmeras atividades previstas para o funcionamento da associação, onde se destacam a música, o teatro, a poesia, dança, as conferências. A presença dos sócios e dos seus familiares vão abrilhantar estes eventos, conferindo-lhes um

17 Estatutos de 1928, aprovados em 1929, p.2

18 Estatutos de 2003, p.2

19 Estatutos do Club Setubalense de 2003, em anexo I

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grande entusiasmo e um calor humano que tanto valorizava estes encontros, sempre objeto de notícia na imprensa local da época. O Club Setubalense ficaria instalado alguns anos, no edifício dos Paços do Duque, situado da então Avenida da Praia (denominada mais tarde Av. Luísa Todi). Segundo a imprensa local, a sua sede mudaria várias vezes de edifício, por razões que se desconhecem, mas que se presume estarem relacionadas com a dimensão dos espaços. Da pesquisa efetuada, o Club mudaria quatro vezes de sítio, até ficar definitivamente alojado no edifício, onde se encontra atualmente. Entre os anos de 1890 e 1898, o vocábulo Club é substituído pelo vocábulo Grémio, motivado pelo agravamento das relações entre Portugal e Inglaterra. A 11 de Janeiro de 1890, Inglaterra envia a Portugal um memorando, onde exigia a saída dos territórios que Henrique Barros Gomes, então Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo progressista de Luciano de Castro, apresentou à Câmara dos Deputados (MOURO et.al. 2010: 32). Estes Territórios apresentados num mapa, que viria a ser denominado de mapa Cor-de-Rosa, compreendiam a costa ocidental de África, unida à costa oriental, numa faixa que ia de Angola a Moçambique, o que contrariava o plano dos Ingleses, relativamente à ocupação de África. As relações entre Portugal e Inglaterra deterioram-se, “mudam-se nomes, fazem-se manifestações nas ruas, a ordem de Inglaterra foi considerada um insulto, uma autêntica afronta nacional” (MOURO et.al. 2010: 33). A direção do Club não fica indiferente a tamanha afronta e liderada por António Rodrigues Manitto e José da Groot Pombo, é organizada uma reunião extraordinária onde são revistos os estatutos do Club e a 12 de Fevereiro de 1890, já os jornais locais noticiavam a decisão deliberada pela direção “a direção do Club Setubalense deliberou que este título fosse substituído pelo de Grémio Setubalense.”20 De acordo com a imprensa local, assim se passaria a denominar o Club, que a 27 de Abril de 1890, em jeito de comemoração, organizaria com um caráter bastante familiar e restrito, um sarau, onde foi representada uma comédia A Roca de Hércules, pelos seus ilustres frequentadores.21

20 Notícia retirada do Jornal da época O Distrito de 12 de fevereiro de 1890

21 Notícia retirada do jornal da época A Gazeta de 28 de Abril de 1890

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O local onde se instalava o então Grémio Setubalense, não era do agrado da grande maioria dos sócios, pois como se pode constatar nos jornais da época, havia grande ambição da parte dos seus associados, que a associação possuísse uma sede própria. Na edição de 22 de Novembro de 1896, o jornal O Distrito, fazia alusão às ambições dos associados, “fundadas esperanças de realizar a construção de uma casa para a sua nova instalação.”22 Facto que se viria a realizar, pela entusiástica iniciativa de um dos seus associados, José Gomes da Costa Russel de Amaral Brandão. José Gomes da Costa ordena a construção de um edifício na Avenida Luísa Todi, que dispunha de um rés-do-chão direito e esquerdo e de um primeiro andar, onde se instalaria o então Grémio Setubalense. Nos finais do ano de 1897, já o semanário O Elmano comentava o seguinte:

Dentro de poucos dias deve ser inaugurada a nova sede do Grémio Setubalense. Segundo tivemos ocasião de ver, o Grémio vai ficar perfeitamente instalado. A casa para onde se muda tem todas as condições de uma associação d’aquela natureza pode exigir. Possui um magnífico salão de baile, boas salas de jogos, um bom gabinete de leitura, (...)23 (Elmano, 1897)

A 5 de Fevereiro de 1898 seria inaugurada a nova sede do Grémio Setubalense, lavrada em ata de Assembleia Geral, onde se enaltece o grande trabalho do então Presidente, João António da Costa Leal e a 10 de Fevereiro do mesmo ano, são aprovadas algumas alterações aos estatutos do Club, onde fica decidido, que o Club voltaria à sua antiga designação24, que se manteria até aos dias de hoje. O Club atravessava uma fase bastante positiva, foram aprovados novos sócios, novos preços para as quotas, as atividades lúdicas faziam furor na sociedade setubalense. Sucediam-se as récitas, apresentadas pelo grupo dramático da casa, os concertos, as festas natalícias com a distribuição de prendas para as crianças, as soirées e os bailes. Em 1903 o bem-estar desva22 Notícia retirada do jornal O Distrito de 22 de Novembro de 1896

23 Notícia retirada do jornal Elmano de 29 de Dezembro de 1897

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“O atual Grémio Setubalense passe d’ora avante a usar a denominação de Club Setubalense que lhe foi

dada na época da sua criação em 1856.”

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necia-se, as grandes dificuldades económicas, levaram a direção a marcar uma reunião de emergência, com a finalidade de discutir a sua situação económica. O Club apresentava-se com graves problemas de endividamento. Dos anos seguintes pouco se sabe, constam na ata de Assembleia Geral do dia 28 de Maio de 1908, presidida por Costa Leal uma moção de censura ao nefasto ato do regicídio, onde se lê o seguinte:

A Direção do Club Setubalense tem a honra de propor na acta da sessão de Assembleia Geral, para hoje convocada, a primeira que se realiza desde o atrocíssimo atentado do dia 1 de Fevereiro – o nefando crime que enlutou dolorosamente a Família Real Portuguesa e cobriu de ignomínia e glorioso nome nacional, seja exarado, um voto do teor seguinte: A Assembleia – Geral do Club Setubalense, protesta em nome da civilização e da humanidade, contra o bárbaro e cruel assassínio de S. M. El-Rei, o senhor D. Carlos I e de S.A. o Príncipe Real D. Luís Filipe; pede permissão para mui respeitosamente apresentar a S. M. El-Rei D. Manuel II, a S.M a Rainha Senhora D. Amélia e S. M. a Rainha Senhora D. Maria Pia, as mais cordiais e respeitosas condolências por tão doloroso, quão lamentável acto e faz os mais ardentes e sinceros votos pelas prosperidades e venturas do novo reinado.25

No dia 5 de Outubro de 1910 implantava-se a República em Portugal, em Setúbal, à semelhança do resto do país festejava-se a jovem República. O Club Setubalense, como se pode constatar pelas atas de Assembleia Geral, não faz qualquer referência ao acontecimento. De 17 de Janeiro de 1910 a 22 de Janeiro de 1912, não existe qualquer anotação nas atas de Assembleia Geral, o que se presume que o Club tenha deixado de reunir durante este período. A implantação da República em Setúbal foi uma época de grande euforia política, o Partido Republicano em 5 de outubro de 1910 ainda mantinha unida a base social interclassista, onde se destaca a participação do operariado nas principais manifestações nas ruas a favor da República. Assiste-se a movimentos de grande violência, sobretudo a instituições conotadas com o antigo regime, como o ataque, seguido de incêndio, aos Paços do Concelho e às Igrejas (Arranja, 1984: 62). O operariado de Setúbal, fortemente influenciado pelas correntes anarcossindicalistas, 25 Texto retirado da Ata de Assembleia Geral realizada em 28 de Maio de 1908, presidida por Costa Leal

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foi apoiado pelos homens da pequena e média burguesia, que constituíam a direção do Partido Republicano e que vão assumir o poder político, através da Comissão Administrativa da Câmara Municipal. “Este casamento entre o operariado setubalense e o Partido Republicano duraria pouco tempo, em Março de 1911, assiste-se ao primeiro incidente” (Arranja, 1984: 67).Na sequência de uma greve geral na cidade, a Guarda Republicana, foi chamada a intervir, deste incidente resultou a morte de dois jovens operários em plena via pública, o que leva à rutura decisiva e irreparável entre o proletariado setubalense e os republicanos municipalistas. Sucedem-se as greves, onde se reivindicam menos horas de trabalho, melhores salários e condições de trabalho. Em 1911 registam-se as greves dos operários das conserveiras, seguidos dos trabalhadores fabris, sapateiros, pedreiros, corticeiros, carroceiros, carregadores. Em Dezembro do mesmo ano cerca de 5 000 trabalhadores marítimos entram em greve pela reivindicação de melhores salários e condições de vida e já em 1912, Setúbal fica completamente paralisada por uma greve geral (Alho, 2010: 12). De acordo com os acontecimentos citados anteriormente, pensa-se que o Club tenha suspendido as reuniões de Assembleia Geral, assim como as atividades de caráter lúdico, durante este período crítico da história da cidade, até os porque os seus sócios eram na sua grande maioria, constituída pelo patronato que se via agora confrontado, com todos os problemas resultantes das sucessivas paragens de produção das fábricas, causadas pelas greves. Os anos que se se seguiram mostraram alguma acalmia, pelas atas de assembleia geral verifica-se que as atividades do Club voltam à normalidade, porém constata-se que os problemas financeiros foram sempre uma constante na existência do Club. Entre 1920 e 1926, o Club vê-se mais uma vez obrigado, a mudar as suas instalações, agora para um espaço provisório situado também na Avenida Luísa Todi, para construção do 2º andar do prédio onde se encontrava instalado e que se destinava à habitação do seu proprietário. Em 1926 o Club regressa definitivamente às suas instalações onde se encontra até aos dias de hoje. Nos anos cinquenta, o club é remodelado, como se pode verificar pelos desenhos26 existentes e que se encontram na posse do club. Curiosamente verifica-se que o 26 Desenhos em Anexo III, p.175

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mobiliário atual corresponde ao que está representado nesses mesmos desenhos. No ano de 1955 já tinham decorrido 100 anos desde a constituição da associação, em jeito de comemoração foi organizada uma sessão solene para o dia 12 de novembro desse mesmo ano. A celebração do centenário do club setubalense revestiu-se de grande brilho e esplendor, o jornal O Setubalense noticiava o acontecimento no dia 14 de novembro, onde mencionava a participação de vários convidados ilustres, entre eles Miguel Rodrigues Bastos, Governador Civil do distrito, Jorge Calheiros Botelho Moniz presidente da Câmara Municipal e Francisco Correia Figueira, antigo governador civil.27 O mesmo jornal, O Setubalense publicava nos dias 19 e 21 de Novembro de 1955 o discurso do Presidente da assembleia-geral e sócio nº2, onde através deste discurso nos foi permitido obter mais informação sobre o club, diz então Luís Macedo de Castro:

Assim se gerou e nasceu este nosso club. É velhinho de 100 anos. Ele, sem que tal pareça, aqui está todo rejuvenescido como o velho Fausto. Não por ter vendido a alma ao diabo, mas pelas artes diabólicas dos rapazes da direção – eles são sempre rapazes – que lhe deram, ou melhor, que lhe transmitiram muito da sua alma, muito do seu querer, apresentando hoje todo peralta, de casaca e condecorações, rodeado de lindas sócias que, como as que animavam os faustosos salões da época de D. João V (…) são de uma beleza deslumbrante (…)28

Diz ainda o discurso de Luís Macedo de Castro, publicado no jornal O Setubalense no dia 21 de Novembro de 1955 e referindo-se ao club:

Velhinho de 100 anos! E 100 anos de existência, quer na vida dos indivíduos, quer na das coletividades, é sempre qualquer coisa de extraordinariamente grande e respeitável (…).Períodos de decadência e períodos de glória; épocas mortas e épocas de deslumbrante animação; direções

27 Notícia retirada do jornal O Setubalense de 14 de Novembro de 1955

28 Discurso de Luís Macedo de Castro publicado no jornal O Setubalense de 19 de Novembro de 1955

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apáticas e direções dinâmicas; assembleias quase sonâmbulas alternando com outras tempestuosas e aguerridas; velhas incompatibilidades pessoais que ao menor atrito aqui dentro se liquidavam expressivamente lá fora; questões simples agravadas por excesso de suscetibilidade; questões profundas em que eram chamados a intervir aqueles sócios graves e circunspectos, já de respeitável idade, que só compareciam nas conjunturas difíceis, com as lindas barbas brancas bem cuidadas, as suas lunetas de aros de ouro suspensas de cordões ou fitas de seda, alguns ainda sorvendo discretamente uma pitadinha de aromático rapé oculto em ricas caixas de prata, para darem o seu conselho muitas vezes tão ambíguo como seriam os do célebre oráculo de Delfos e ao lado de tudo isto, nos salões ofuscantes de luz em noites de grande festa, flirts deliciosos, namoros começados e namoros acabados, ciúmes e arrufos que uma valsa chegava para transformar em termas reconciliações, sonhos desfeitos, ilusões perdidas, devaneios loucos, desenganos dolorosos, lágrimas amargas a aflorarem em lindos olhos e sorrisos animadores, mas quantas vezes traiçoeiros, em bocas provocantes. De tudo há um pouco, na vida deste club, mas que apesar desse pouco, daria para belas páginas duma história muito grande e cheia de capítulos interessantes.29

Ora o discurso proferido por Luís Macedo de Castro em 1955, constitui atualmente um dos documentos históricos mais importantes da vida do club setubalense, pois pela sua extensão e pelos factos abordados, percebe-se que Macedo de Castro, queria deixar para a posteridade um testemunho dos acontecimentos, passados naquela associação. Neste discurso, são mencionados vários acontecimentos, como a tomada de atitude dos sócios face ao Ultimato Inglês em 1890, os festejos realizados no club sobre o centenário do poeta Bocage em 1905, o grande elogio que profere ao gabinete de leitura, atribuindo-lhe o título de Grande Academia e referindo que o mesmo era frequentado por magistrados, médicos, advogados, engenheiros e artistas, que em amenas conversas focavam os problemas locais e nacionais, onde se aprecia29 Discurso de Luís Macedo de Castro Publicado no Jornal O Setubalense de 21 de novembro de 1955

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vam os acontecimentos quer no campo da política, quer no das artes, onde por vezes também não escapava um bom gracejo. Com uma grande nostalgia, faz referência à crise provocada pela guerra, onde aponta a desilusão pela falta de sócios. Mais à frente no seu discurso Macedo de Castro refere o espírito de força e de missão do club e dos seus sócios ao longo dos cem anos já passados e celebrados numa sede artisticamente renovada e decorada, terminando o seu discurso com um grande elogio ao merecimento da glorificação do club, pelo seu passado, apontando uma palavra de esperança na passagem de um testemunho aos sócios mais jovens30. Até à década de setenta, o Club mantém as suas características elitistas, apesar da perda de sócios, que vão progressivamente deixando de fazer parte da sua lista, ou por envelhecimento, ou por morte. As novas gerações com o surgimento de outras ofertas vão progressivamente deixando de fazer parte desta associação. A partir de 1974, o Club atravessa uma fase particularmente difícil e confusa, com receio que a população conotasse o velho club, com o regime salazarista e consequentemente ocupassem as suas instalações, alguns sócios decidiram pernoitar e organizaram-se em piquetes em sua defesa.31 Este período revelou-se bastante crítico, pois a continuidade do velho club era uma incógnita, não só pela evidência dos factos, mas também pela situação do país, que se mostrava com uma grande euforia política e uma grave crise financeira, no entanto as famílias que regressavam de África com a descolonização, começaram a frequentar o club e este local tornou-se um ponto de encontro, para estas famílias chegadas das ex-colónias. O club setubalense constituía um ponto de encontro e um lugar de conforto e de convívio.32 Os anos 80 trouxeram ao club um período de franca ascensão, a sua direção muito preocupada com o aspeto visual, promoveu grandes obras de remodelação, onde foram efetuadas reparações profundas nos soalhos e escada de madeira. No ponto vista cultural, a direção promove grandes bailes ao som de orquestras de renome nacional e estrangeiro.33

30 Retirado da notícia publicada no jornal O setubalense de 21 de Novembro de 1955

31 Entrevista a Eduardo Soveral Rodrigues em Apêndice I 32 Entrevista a Eduardo Soveral Rodrigues em Apêndice I 33 Entrevista a Presidente M. Raposo em Apêndice I

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No dia 12 de novembro de 1993 e decorridos trinta e oito anos das comemorações do seu centenário, na sessão solene do seu 138º aniversário, o presidente da mesa de assembleia-geral, João de Sá Nogueira profere um discurso publicado no jornal Distrito de Setúbal, no dia 23 de novembro de 1993, onde refere a importância do movimento associativo nestes moldes: Ao longo destes 138 anos, com altos e baixos, como aliás toda a nossa história, o club setubalense - hoje a agremiação mais antiga da cidade – tem tido uma obra notável em prol de Setúbal e da sua região. Valeu a pena o esforço dos seus fundadores! (…) Graças a eles podemos - e devemos – repensar este club (…)34 Passados doze anos, já em 2005 comemora-se o 150º aniversário do club, a então presidente da direção Maria Helena Fragoso Mattos, no editorial do boletim informativo, refere a importância do historial do club, não de uma forma saudosista, mas “com respeito e admiração por um percurso que se tem mantido fiel à identidade, aos valores e à vocação definidos, aquando da sua fundação em 1855.”35 A presidente da direção termina o seu discurso com um apelo à comunidade para a participação nas atividades e aos sócios para que honrem o club e para que a memória dos seus fundadores, bem como de todos os que, do decurso dos 150 anos passados, souberam preservar a sua identidade e conseguiram transportá-la até à atualidade. Na sessão comemorativa foi entregue ao club a medalha de mérito, pela mão da então governadora civil do distrito de Setúbal, Maria das Mercês Borges, estiveram presentes na cerimónia D. Gilberto Canavarro Reis, bispo da diocese ed Setúbal e Carlos Sousa Presidente da Câmara de Setúbal e Maria das Dores Meira, então vereadora da cultura da Câmara Municipal de Setúbal e atual Presidente do Município. Foi ainda referido nesta sessão solene a necessidade de abrir o club à comunidade, apesar de se reconhecer que ainda continua a ter “a imagem de um club de ricos”36, que é necessário desmisti-

34 Discurso de Luís de Sá Nogueira, publicado no jornal O Distrito de Setúbal em 23 de Novembro de 1993

35 Retirado do discurso de Maria Helena Fragoso de Mattos, publicado do editorial do Club em 2005

36 Retirado do discurso de Maria Helena Fragoso de Mattos, publicado do editorial do Club em 2005

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ficar, através da renovação do quadro de associados, de forma a fomentarem uma nova dinâmica para o club. Este facto tem-se verificado nestes últimos anos, onde o club tem intensificado esforços para a admissão de novos sócios, sobretudo jovens, com a intensão de contribuir e garantir desta forma, a sua continuidade. Uma continuidade que atualmente se encontra ameaçada, não só pela reduzida participação dos sócios, mas pela nova lei de arrendamento, conhecida pela NRAU (Novo Regime de Arrendamento Urbano). O Club Setubalense paga aos proprietários uma renda correspondente à importância de setecentos euros mensais, que pelo novo regime do arrendamento fica subordinada à importância de dois mil trinta e oito euros e oitenta e seis cêntimos37. A comunicação efetuada pelos proprietários em outubro de 201338, sobre a nova lei de arrendamento vem trazer à associação um acréscimo de despesa num montante de valores bastante elevados. Deste modo, torna-se se muito difícil para a associação garantir a sua sobrevivência. Por este facto, é cada vez mais urgente a sua renovação, a angariação de novos sócios e a requalificação dos seus espaços. Têm sido realizadas várias reuniões de sócios para debate do problema, onde têm sido efetuadas várias propostas, no sentido da associação adquirir o imóvel, aos seus proprietários, pela compra através de empréstimo bancário. Neste momento aguardam-se algumas respostas, das consultas efetuadas à banca sobre este assunto, restando já a certeza sobre a sua avaliação matricial, que se encontra fixada no valor de trezentos e sessenta e seis mil, novecentos e noventa e quatro euros e setenta e sete cêntimos.

1.6. A FUNÇÃO SOCIAL DO CLUB Voltando novamente ao seu início, o Club Setubalense desde o princípio da sua existência e pelas razões óbvias do propósito da sua constituição, que a sua função social foi essencialmente dirigida à camada social que compreendia a alta e média bur-

37 De acordo com carta dos proprietários – Anexo I

38 De acordo com a carta dos proprietários em Anexo II- Documentos do Club Setubalense

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guesia setubalense. Não aceitava sócios, que não integrassem a “mais fina sociedade setubalense” (Mouro et.al. 2005: 52), numa lógica quase extremista, cujas mentalidades e ideologias se dirigiam a uma única camada social, “que proporcionava aos sócios e às suas famílias, uma programação cultural eloquente e diversificada” (Costa, 2003: 13). A entrada era completamente interdita a qualquer cidadão comum, mesmo que acompanhado de um sócio, não era fácil penetrar nesta sociedade fechada e elitista que caracterizava o Club. Os próprios sócios eram convidados a abandonar a associação, se facilitassem a entrada a qualquer pessoa que alegadamente não pertencesse à “dita sociedade setubalense”39. Estes factos determinavam o carácter do Club, manifestamente exclusivista, atribuindo-lhe desde o seu início e durante muitas décadas, um carisma específico, onde as mentalidades e os gostos se fundiam em ambições comuns. Estas ambições, não eram sinónimo de uma sociedade letrada e culturalmente evoluída, mas traduziam pela sua característica, as condições de vida de uma classe socialmente padronizada, pela etiqueta, pela situação económica e pela posição social. Os eventos que se realizavam no club, não eram mais que um espelho social, onde se refletia toda a imagem da alta sociedade da época. O Club era constituído pelos sócios, do sexo masculino, que o frequentavam em torno de ambições comuns, era um local onde se discutiam negócios, política, onde se liam jornais e se jogava. O jogo era o grande mentor do club, mantendo-o em grande atividade podendo-se até afirmar, que o jogo “era uma das mais vincadas regularidades comportamentais enraizadas por entre os sócios” (Costa, 2003: 17). O jogo, constituía um hábito tradicional, de um núcleo muito fechado de homens, que se reunia com alguma frequência e que movimentava, uma atitude manifestamente masculina em torno do bridge, do bilhar, ou do xadrez. Era até muito frequente a perda exorbitante de grandes quantias de dinheiro, que levavam à falência muitas famílias, da dita “sociedade setubalense.” 40 Às mulheres apenas estavam reservados os dias de festa. Os bailes movimentavam, com grande euforia, a alta sociedade feminina da época, as filhas dos sócios eram apresentadas à sociedade, nos bailes do club setubalense. As raparigas, a partir dos catorze anos já estavam autorizadas a frequentar o Club, os rapazes só a partir dos

39 Entrevista a Natividade Lopes da Silva – Anexo I 40Entrevista a Natividade Lopes da Silva – Apêndice I

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dezoito anos. A união entre famílias da alta sociedade constituía uma prática comum e os bailes cumpriam essa função.41 Com um grande pacote de oferta cultural, o Club cumpria uma função social direcionada para os sócios e para as suas famílias, que frequentavam única e exclusivamente o Club. A variedade de programação proporcionava grandes momentos de ócio, que ficaram gravados para sempre na memória da cidade.

1.7. OFERTA CULTURAL Baile de máscaras no Carnaval para crianças e adultos; baile campestre; baile domingueiro; baile de dias santos; baile da Primavera; baile de verão; festa da flor; festa de fim de ano; festa de natal, com distribuição de prendas às crianças; festa de Beneficência (direcionada para os asilos; soireés dançantes (valsa e mazurcas); soireés clássicos; quermesses; palestras; passeios; saraus (sobretudo no período balnear); concertos filarmónicos; exposições. A leitura de jornais e revistas estrangeiras (Franceses e Ingleses), aquando da I Guerra Mundial de 1914-1918 era uma prática comum no club setubalense. Nas décadas que se seguiram, a programação cultural seguiu sempre os mesmos moldes, até à atualidade. Num período mais recente, designado o segundo ciclo moderno da vida do Club Setubalense, ciclo este, que teve início nos finais do XX e que se prolongou pelo Século XXI. Este novo ciclo, que se iniciou pela aprovação dos seus novos estatutos, afirma-se pelo seu indiscutível papel, como entidade promotora da cultura em diversas áreas. Este facto teve início em 1999 e tem-se intensificado a partir do ano de 2003, “tornando-se notória a interação da instituição com os restantes agentes culturais do Concelho” (Mouro et. Al, 2008: 86). As práticas culturais tomaram um novo significado, ao apostar na formação e na interação com os agentes exteriores. Já em 1994 se tinha verificado uma preocupação, relativamente a estas matérias, tendo o Club criado um Curso Livre de iniciação à História de Arte, o qual foi frequentado por uma centena de interessados inscritos. O Curso foi complementado por um conjunto de passeios com arte, onde se destacaram as visitas efetuadas à cidade

41 Entrevista a Natividade Lopes da Silva – Apêndice I

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de Évora, Tomar, Lisboa e outras cidades históricas. Em 1996 também se inaugurou no Club a exposição de António Inverno – 25 anos de serigrafia, iniciativa conjunta com a Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi. Em 1997 foi organizada uma conferência sobre a cidade de Setúbal e os desafios para o futuro, uma promoção conjunta com a LASA, onde se organizou uma exposição conjunta sobre o fabrico de papel, dirigida às crianças das escolas do concelho de Setúbal, em colaboração com a Celpa, a Inapa e a Portucel. Em 2008 destacou-se o Colóquio sobre o Euro, com o patrocínio da INAPA, Caixa Geral de Depósitos e Gabinete do Euro do Ministério das Finanças. Em 2004 destaca-se a visita do escritor José Saramago, onde profere uma conferência e apresenta o seu livro, Ensaio sobre a Lucidez. No ano de 2005, aquando das comemorações dos 150anos do Club Setubalense, teve lugar um ciclo de palestras, conferências e debates, com a intervenção de vários especialistas de diversas áreas, onde se destacaram as exposições de fotografia e as tertúlias científicas. A partir do ano de 2006, assiste-se progressivamente à diminuição de atividades e eventos, em 2010 o único evento conhecido foi o do lançamento do livro, seguido de um recital de piano. A Partir do ano de 2011 deu-se início a um ciclo mais abrangente42, onde se incluiu, não só as apresentações dos jovens artistas da cidade como se intensificou a aprendizagem através da música clássica, do ballet, das artes e das exposições. Atualmente o Club mantém uma programação que se distancia muito do modelo criado em 1855, por um grupo de homens da alta burguesia da época, inspirados no modelo dos clubes ingleses.

1.8. O MODELO INSPIRADO NOS CLUBES INGLESES O Club Setubalense foi criado em 1855, num modelo inspirado nos clubes criados em Inglaterra na época isabelina, entre 1559 e 1563 e que rapidamente passaram fronteiras, sendo conhecidos em França após a Revolução de 1789 e um pouco por todo o mundo. Em Portugal surgem nos finais do século XVIII, algumas associações secretas, que apresentam um carisma semelhante aos clubes ingleses, que caracteri-

42 Anexo III – Recolha fotográfica para a exposição Permanente - Função Social e Cultural (Constam todas as atividades criadas no Club)

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zam a sociedade burguesa oitocentista. No século XIX e início do século XX, atingem o seu auge e tornam-se o ícone da sociedade burguesa da época. Os clubes em Inglaterra situavam-se inicialmente no West End de Londres na zona de St. James, ainda hoje conhecida pelo nome de Club Land (Fig. 1 e Fig. 2). Estes clubes espalharam-se rapidamente por toda a Inglaterra e Escócia, assim como pelos países de predominância inglesa incluindo os Estados Unidos. O conceito de club inglês espalhou-se um pouco por todo o mundo, existem em quase todas as cidades e na sua grande maioria, ainda mantêm a sua filosofia original, são clubes de carácter privado, destinados à classe masculina. Todos oferecem serviços muito semelhantes, tais como, comida, bebida, zonas confortáveis de lazer, salas de jogo, alguns ainda oferecem zonas destinadas a acomodação.

Fig. 1 Brooks club – Clube Inglês fundado em 1764, S. James Street Imagem Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Brooks's

Fig. 2 Boodlle’s – Clube Inglês fundado em 1762, St James Street Imagem Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Boodle's

Todos estes clubes foram criados através de um modelo próprio de uma certa conduta, eram na sua grande maioria altamente aristocráticos, sendo a admissão de sócios muito rígida. O atos de emancipação de 1832, 1867 e 1885, que proporcionava a centenas de homens, o direito ao voto, aumentou a procura de clubes, como forma de afirmação. Ser considerado um cavalheiro e ser membro de um clube, dava um certo status, no entanto os clubes assentavam sobre uma filosofia tão rígida, que transFig. 1.1 Brooks – Um dos mais

formava a sua grande procura em longas listas de espera. Este facto famososcontribuiu clubes ingleses para o seu crescimento, os cavalheiros cansados de esperar pela entrada num clube, agrupavam-se e formavam o seu próprio club. No final do Século XIX, a cidade de Londres 50


possuía mais de 400 clubes, todos eles, instalados em casas senhoriais ou antigos palacetes e eram exclusivamente frequentados pela classe masculina. Muitos destes clubes foram criados por grupos de oficiais, onde só as altas patentes podiam entrar, eram locais de encontro e de convívio, apenas destinados a cavalheiros. Os Clubes caracterizavam-se e os seus membros agrupavam-se de acordo com os interesses dos seus associados, os interesses eram diversos, ligavam-se pelos interesses relacionados a política, com o desporto, com a arte, ou ainda ligados a outros temas, como a vela e a equitação. As mulheres no final do Século XIX, também criaram alguns clubes femininos, constituindo, sinais de grande modernidade e sociabilidade para a época, onde o tempo de lazer era bastante valorizado. À semelhança dos clubes masculinos, os clubes femininos eram representativos de uma classe economicamente favorecida, eram sobretudo as mulheres da alta burguesia, que os frequentavam e no início do século XX, dois dos grandes objetivos destes locais eram as atividades recreativas e culturais. Os clubes femininos representavam no início do Séc. XX um modelo próprio, mas poucos sobreviveram até aos nossos dias, ao contrário dos clubes destinados à classe masculina, que não só sobreviveram, como também se multiplicaram com novas tendências. É o caso do Club Soho House (Fig. 3), fundado em Londres em 1995, cujos membros fundaram um club privado ligado ao cinema, aos media e às industrias criativas. Este club existe em várias cidades do mundo, onde se destaca o Soho House de Nova Iorque (Fig. 4), como um dos clubes mais luxuosos do mundo.

Fig.3 – Soho House de Londres, fundado em 1995

Fig.4 – Soho House de Nova Iorque, fundado em 1995

Imagem Disponível em - http://www.sohohouselondon.com/

Imagem Disponível em - http:// www.sohoouseny.com/

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Atualmente existem clubes em todo o mundo, que mantêm as suas características de clubes privados, mas que se encontram ligados a várias atividades, como por exemplo o Chelsea Arts Club (Fig. 5 e Fig.6), um club privado de artistas, criado em 1891, que tem atualmente mais de dois mil e quatrocentos sócios, constituídos por artistas, poetas, arquitetos, escritores, bailarinos, músicos, fotógrafos, realizadores de cinema. Durante a temporada que se situa entre setembro e junho, o Chelsea club, serve de palco a muitas performances, instrumentais e corais, exposições de artes visuais, palestras literárias e ao fim-de semana organiza almoços de artistas. Este club tem uma lista de espera para novos candidatos, que tem que ser autorizada pelos membros atuais. A partir de 2009, os custos de assinatura de adesão situam-se entre as 305£ e 485£ por ano, com uma taxa de 190£ para os membros mais jovens. A taxa de entrada tem um adicional de 200£.43

Fig.5 – Chelsea Arts Club, fundado em 1891

Fig. 6 – Chelsea Arts Club, fundado em 1891

Imagem Disponível em: https://www.facebook.com/143oldchurchstreet

Imagem Disponível em: https://www.facebook.com/143oldchurchstreet

Existem também em todo mundo clubes ligados à hotelaria e à restauração, que se situam fora das cidades, referimo-nos aos Country Clubs. Estes clubes são privados, oferecem normalmente uma grande variedade de instalações desportivas e de lazer, aos seus sócios, ficam situados na periferia das cidades ou em áreas rurais. As atividades podem incluir o golfe, ténis, natação, polo, equitação. Os Country Clubs oferecem normalmente hospitalidade aos seus membros e convidados e para isso possu43 http://www.chelseaartsclubtrust.org/about.html [Consult. em 2013-12-17]

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em instalações adequadas como quartos de dormir, restaurante, bar e salões de festas para casamentos. Os clubes de campo tiveram origem na Escócia e surgiram pela primeira vez nos Estados Unidos em 1880, na maior parte das vezes na periferia das áreas urbanas, mas rapidamente se expandiram pelo mundo inteiro. Estes clubes mantêm acordos entre si a nível mundial, podendo cada sócio usufruir de alojamento e estadia em qualquer club do mundo.44 Em Portugal o Grémio Literário mantém correspondência com vários clubes a nível mundial, tratando-se de um dos clubes de maior prestígio a nível nacional e de maior reconhecimento a nível internacional

Fig.7 - Beverly Country Club in Chicago

Fig. 8 Alberghi Country Club in Lima, Peru

Imagem Disponível em http://www.10best.com/destinations/illinois/chicago/midwa y/attractions/beverly-country-club/

Imagem Disponível em https://www.google.pt/search?q=Alberghi+Country+Clu b+in+Lima

.

44

http://www.countryclubhotel.com/[Consult.2013-09-15]

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1.9. O GRÉMIO LITERÁRIO O Grémio Literário é um dos Clubes mais conceituados em Portugal, este clube surge à semelhança de todos os clubes que surgiram no país, num período histórico associado à Revolução Industrial. Nos meados do século XIX surge em Portugal uma classe burguesa reforçada pelo seu grande poder económico, que se tornou, cada vez mais zelosa dos seus interesses e detentora de um grande poder político, dividia a sociedade em dois grandes grupos: os que detinham os meios de produção e os que faziam parte da mão-de-obra – o proletariado. Esta classe emergente detentora do poder e do dinheiro, rapidamente procura criar espaços de convívio, que os distanciem do proletariado empobrecido e sem direitos políticos ou regalias sociais. É neste contexto que surgem os clubes em Portugal, fundados pela classe burguesa, como o caso do Club Setubalense, o Clube Portuense, o Club Bejense, o Grémio Literário e todos os outros clubes, que existem praticamente em todas as cidades do país. O Grémio Literário foi fundado por personalidades ligadas à velha e à nova aristocracia, assim como personalidades ligados à nossa literatura. Alexandre Herculano, Almeida Garrett e muitos outros nomes da literatura portuguesa, surgem ligados à fundação de um dos principais clubes da capital lisboeta – O Grémio Literário. O Grémio Literário foi criado, no dia 18 de Abril de 1846 por carta régia de D. Maria II e teve como sócio nº1, o historiador Alexandre Herculano. O grande poeta e dramaturgo Almeida Garrett, o romancista Rebelo da Silva e Mendes Leal, foram entre muitos, as figuras de grande destaque, desde a sua fundação. Aos homens das letras, juntam-se grandes nomes da política portuguesa, tais como, Fontes Pereira de Melo, Rodrigues Sampaio, Sá da Bandeira, Anselmo Braamcamp e muitas outras figuras de grande importância social da vida lisboeta da época. Por esta altura, eram ministrados cursos de literatura, arte, arquitetura, direito e economia política, que atraía muitos participantes e muitos especialistas de grande renome na vida académica. A realização de conferências era também um dos pontos altos do Grémio, levando às suas sessões grandes nomes ligados às letras e às ciências, conferindo-lhe desde sempre um ambiente cultural inigualável, que contrastava com uma vida mundana que caracterizava a cidade de Lisboa no início do Século XX. O Grémio Literário foi frequentado por gerações e gerações de sócios, mas é nos grandes escritores portugueses, que 54


encontra a sua maior expressão, ao constar nas obras de Ramalho Ortigão, Júlio de Castilho, Abel Botelho e na grande obra de Eça de Queiroz – Os Maias, quando o autor faz referência à casa onde habita a personagem mais carismática da sua obra – Maria Eduarda, que mora mesmo ao lado do Grémio Literário. Foi nas suas instalações que em 1912, se realizou a primeira exposição modernista em Portugal, na qual expôs pela primeira vez Almada Negreiros e Amadeu de Sousa Cardoso. Foi também no início do século XX, que as atividades como a esgrima e o xadrez deram ao Grémio, uma grande visibilidade e importância, mas à medida que as décadas avançam, a cidade evolui noutros costumes, as preferências avançam noutros sentidos e a frequência do Grémio Literário esmorece, até a década de 60. Por iniciativa De G. Salles Lane, que assumiu a direção do Grémio Literário e as grandes obras de decoração de Duarte Pinto Coelho, foram introduzidos, o bar e o restaurante o que lhe proferiu uma nova dinâmica, tornando-o mais apelativo. Por lá têm passado grandes personalidades da política, das artes, da literatura, o Grémio continua com a sua grande marca de qualidade, proferindo aos cursos e colóquios internacionais um grande destaque. Mantém uma correspondência relevante com outros clubes da Europa e das Américas, promovendo o convívio a nível internacional com professores, médicos, empresários, políticos, diplomatas, chefes de governo e grandes personalidades de vários países. O Grémio Literário é membro honorário da Ordem de Santiago de Espada, desde 1996 e titular da Medalha de Honra da cidade de Lisboa desde 1987, é considerado de Utilidade Pública, pela sua grande atividade e prestação honrosa à cidade de Lisboa. Considerado um dos mais antigos e prestigiados clubes da Europa, mantém um notável destaque, sobretudo no desempenho que tem mantido ao longo dos séculos, na defesa da língua portuguesa. A sede do Grémio Literário passou por vários edifícios, situando-se sempre na zona do Chiado, a sua sede passou pelo palácio Farrobo, mas foi no palacete do Visconde de Loures, que se instalou definitivamente em 1875, na rua de S. Francisco. É um edifício de rara beleza, um grande exemplo da arquitetura romântica lisboeta com uma excelente preservação. O seu jardim criado em 1844 é único nesta zona da cidade, contrastando com as grandes remodelações decorativas de 1899, a cargo de José de Queiroz. As grandes intervenções foram efetuadas ao nível das salas e na varanda que se debruça sobre o Tejo, com vista para o Castelo de S. Jorge. A Boiserie (Fig.9) é 55


um espaço muito elegante, contíguo à sala Luís XV (Fig. 10), de estilo vitoriano, é todo em madeira, decorado por dois vitrais da autoria de Jacques Gruber e pelo quadro a óleo de George Clairin, que representa um nu de Sarah Bernhardt.

Fig.9 – Boiserie- Grémio Literário

Fig.10 – Sala Luís XV- Grémio Literário

Imagem Disponível em http://www.gremioliterario.pt/boiserie.php

Imagem Disponível em http://www.gremioliterario.pt/sala_luis_xv.php

A Biblioteca é constituída por cerca de 13.000 volumes de obras centradas no Séc. XIX, a que se têm juntado títulos mais recentes. A maior parte destas obras foram doadas ao Grémio Literário, pelo Marquês de Valdemar, então encarregado de negócios de Espanha, em Portugal. Eça de Queirós foi um dos grandes frequentadores da Biblioteca. O Bar é constituído por uma sala muito ampla, decorada em tons fortes, onde se destaca ao fundo um quadro a óleo que representa uma reunião dos fundadores. A Sala Luís XV em estilo neobarroco, utilizada para reuniões sociais e banquetes, beneficia de sacadas com vistas para o Castelo de S. Jorge e Rio Tejo. A pintura do Teto é atribuída a José de Queiroz. A varanda debruçada sobre o jardim goza de uma bela vista panorâmica sobre o Rio Tejo. Decorada ao estilo Art Nouveau é um dos espaços mais apreciados pelos sócios. O jardim, cuja autoria de remodelação esteve a cargo do Arquiteto, António Ribeiro Teles, foi um dos espaços preferidos de Eça de Queirós, a que costumava chamar “a minha quinta com porta para o Chiado”45. Em 1969, realizou-se neste jardim uma conferência, seguida de uma receção ao então presidente francês, Giscard D’Estaing. 45 Citação de Eça de Queirós quando se referia ao Jardim do Grémio Literário- informação disponível em http://www.gremioliterario.pt/jardim.php[Consult. em 2014-01-29]

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1.10. O CLUBE PORTUENSE

O Clube Portuense foi fundado em 1857, por várias personalidades da alta sociedade da cidade do Porto. Entre as diversas personalidades, que criaram o clube, destacamse grandes proprietários e muitos ingleses, que faziam parte da grande colónia inglesa que vivia nesta cidade e que era detentora de uma grande parte da economia. Em 1837, foi criada a Assembleia Portuense, que por intransigência dos seus sócios relativamente à questão do chá, que exigia entretanto alguns direitos adquiridos pelos seus membros, levou um grupo de homens, à rutura com a instituição e à fundação de uma nova instituição, que denominou de Club Portuense. Este Club teve uma vida social muito ativa, principalmente na segunda metade do século XIX, tendo organizado vários bailes em honra dos reis de Portugal, quando se deslocavam à cidade. O Club Portuense, no seu longo percurso teve a sua localização em três sedes: a primeira situou-se na Casa da Fábrica, que foi cedida pela Família Souto e Freitas; a segunda situava-se no Palacete Ferreirinha, no Largo da Trindade, a terceira e definitiva, situa-se na Rua Cândido dos Reis, num edifício que o Conde de Vizela mandou construir propositadamente para instalar o referido Club, em 1924. O edifício foi mais tarde intervencionado, quer ao nível de melhoramentos, quanto à sua estrutura, quer ao nível da decoração. A decoração tão ao gosto revivalista do neoclassicismo dá ao salão de baile e à sala de jantar, um aspeto único e acolhedor, que os torna o ex-libris do club. Na década de 80 do século XX, o edifício foi adquirido pelos sócios, ao antigo banqueiro António Brandão Miranda, tornando-o uma das salas de visita mais interessantes da cidade do Porto, no entanto o seu espírito elitista com que foi criado, mantém-se ainda hoje, pois continua a ser um club privado, destinado só para os sócios e para as suas famílias.

Fig.11 – Sala de Estar- Club Portuense Imagem Disponível em http://www.clubportuense.com/

Fig. 12- Sala estar – Pormenor de pintura decorativa Imagem Disponível em http://www.clubportuense.com/

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Apesar da mudança dos tempos, ainda se realiza neste club, o chamado début, que não é mais que um cerimonial com as suas tradições e um protocolo próprio. As jovens filhas dos sócios são apresentadas à sociedade, trajam de vestido branco comprido e os rapazes de casaca.46 A alta sociedade Portuense continua a ser a grande frequentadora do Club, onde se destaca o nome do rei de Espanha, D. Juan Carlos, como um dos sócios de maior destaque e orgulho para o Club. O club portuense mantém as suas características elitistas, continua a ser um Club privado, que mantém a sua filosofia inicial desde a sua fundação, pois continua a ser um club para as classes privilegiadas e as para as suas famílias. O Club possui várias publicações, sobre a sua história e sobre os seus fundadores, nomeadamente: História do Club Portuense 1857- 2007, da autoria de Gonçalo Vasconcelos e Sousa, aquando das comemorações dos seus 150 anos; Os Fundadores do Club Portuense e a sua Descendência, da autoria de Damião Veloso Ferreira e D. Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, uma edição em três volumes; O Primeiro Centenário do Club Portuense 1857 – 1957, editado em 1957, no seu centenário; Club Portuense – Catálogo do Espólio Musical, da autoria de Ana Maria Liberal47. No Caso do Club Portuense, verifica-se que as grandes transformações sociais económicas e políticas que ocorreram nas sociedades desde os anos 60, não alteraram a sua filosofia, não se podendo construir sobre este club, uma narrativa idêntica ao Club Setubalense, onde se cria uma inter-relação com os ideais da Nova Museologia. O confronto analítico que se irá preconizar no capítulo seguinte, sobre os ideais que transformaram as sociedades a partir da década de 60, abordarão de forma generalizada as transformações do mundo contemporâneo. Estas transformações vão-se inserir num contexto em que o estabelecimento dos regimes democráticos, quer na América Latina, quer na Europa, vão permitir não só uma nova visão sobre o papel dos Museus das sociedades, mas também destes locais, como o Club Setubalense, cuja alteração de valores permite a integração sociocultural das comunidades.

46 Informação disponível em http://expresso.sapo.pt/bailes-de-debutantes-a-tradicao-nao-morreu=f574800 [consult. em 2013-0503]

47 Informação disponível em http://www.clubportuense.com/ [consult.em 2013-05-04]

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2. O CLUB SETUBALENSE - NO ÂMBITO DA NOVA MUSEOLOGIA

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2.1. CONCEITO

Neste capítulo pretende-se analisar a associação em estudo, à luz dos conceitos da Nova Museologia que surgiu em 1972 com a declaração de Santiago do Chile. Este conceito surgiu aplicado aos museus, quando os membros da mesa-redonda tomam consciência sobre do seu papel na América Latina, ao analisarem os problemas de desigualdade social do meio rural e do meio urbano. Esta análise permitiu aos técnicos um estudo sistemático, desta sociedade e da sua relação com os museus. Tomou-se consciência que os museus teriam que deixar de ser apenas, locais onde se expõem obras de arte, direcionados para determinada elite, mas que a partir de então, os museus deveriam tomar consciência dos aspetos sociais, técnicos e políticos de uma comunidade, tornando-se uma condição essencial para a sua integração na vida da sociedade. Estas transformações sociais tornaram-se um grande desafio para a museologia, dando origem, ao que mais tarde se viria a designar de Nova Museologia, tornando-se o museu, segundo Menezes, “uma instituição ao serviço da sociedade, ao tomar consciência de todos os problemas sociais inerentes à comunidade onde está inserido” (Menezes, 1993: 1). De acordo com as decisões tomadas na mesa-redonda de Santiago do Chile, o museu passa a ser uma instituição ao serviço da sociedade, que adquire, comunica e expõe para fins de estudo, conservação, educação e cultura, os testemunhos representativos da evolução da natureza do homem (ICOM, 1972: I). Decidiu-se que é necessário abrir o museu a novas disciplinas, intensificando os seus esforços na recuperação do património cultural, tomando consciência da necessidade de mudança nas suas técnicas museográficas, estabelecendo uma melhor comunicação entre o objeto e o visitante. Tomou-se consciência também por esta altura, da importância das exposições, não pela importância da obra de arte, mas pelo significado que a obra transmite. Os museus passam a mostrar, o quotidiano, quer do mundo rural, quer do espaço urbano e os problemas e questões que eles levantam, pretendendo-se com estes aspetos inserir uma lógica social, através da função educativa e cívica, de uma sociedade consciencializada dos seus aspetos fundamentais. (ICOM, 1972: I)

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Para este movimento que nasceu na América Latina, mas que rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro, muito contribuíram os anos 60, marcados por conflitos e repressão e que ao mesmo tempo faziam despontar nos jovens dessa geração, um movimento artístico-cultural, como recusa aos modelos anteriores, de uma sociedade envelhecida e conservadora. O inconformismo com os esquemas sociais estabelecidos, a busca de maior liberdade de expressão, de criatividade e a vontade de criar a desacomodação social, foram contributos que culminaram na Europa, com o Maio de 68, vivido em França. Alain Touraine considera mesmo que o “Maio Francês foi a última jornada revolucionária da época industrial e seria como uma previsão, dos movimentos sociais e das lutas políticas, que surgiriam no futuro” (Touraine, 1983: 85). Mas foram também estas transformações sociais que motivaram o fim dos clubes privados do qual faz parte o nosso objeto de estudo. Com o surgimento das sociedades democráticas, foram transformados em lugares de utilidade pública, ao serviço das populações. Esta transformação radical da sociedade, apontada por vários autores, pela necessidade da educação popular, implicaria uma consciência social crescente, que assumisse os processos produtivos da sociedade e toda a sua relação com o meio. Então não só o Museu passa a ter um papel relevante na sociedade, mas todos os lugares, edifícios, tradições, que testemunhem a passagem do homem pela humanidade, passam a ter uma nova abordagem. O próprio conceito de património segundo Françoise Choay passa a ter outro significado, ao atravessar todo este processo de democratização que caracterizou os anos 60, passando a considerar outro tipo de bens:

Desde então, todas as formas de arte de edificar, eruditas e populares, urbanas e rurais e todas as categorias de edifícios, públicos e privados, sumptuários e utilitários, foram anexadas sob novas denominações (…). Enfim, o domínio patrimonial deixou de estar limitado aos edifícios individuais; ele compreende daqui em diante, os conjuntos edificados e o tecido urbano: quarteirões e bairros urbanos, aldeias e, cidades inteiras e mesmo conjunto de cidades (…) (CHOAY, 2003: 12)

É também neste alargamento de conceitos que surgiu com a revolução ideológica dos anos 60, que se deve incluir, o Club Setubalense e o edifício onde se encontra instalado. Estes edifícios são portadores de uma carga histórica ocupam um lugar privi-

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legiado nas políticas do património, porque são considerados, de acordo com a opinião de Ulpiano Bezerra Meneses “portadores de autenticidade, vinculando-os a determinado acontecimento ou processo histórico” (Bezerra, 2010: 9). Utilizando a terminologia de Benjamim, estes edifícios “são portadores de uma aura que os legitimam como mediadores entre o passado e o presente” (Benjamim, 1985: 164). Então estes edifícios por se entenderem como testemunhas de acontecimentos já consumados, a sua preservação é absolutamente necessária. A noção que nos transmitem de se tratar de algo muito original acaba por adquirir um vínculo idêntico ao valor do monumento histórico, portador de uma grande herança patrimonial e cultural, tal como o Museu.

2.2. A FUNÇÃO EDUCATIVA DO MUSEU/FUNÇÃO EDUCATIVA DO CLUB Se o Museu é uma instituição portadora de uma grande herança cultural, que possui uma grande responsabilidade social, o club por sua vez transporta uma grande herança histórica social e cultural que deve transmitir às gerações futuras. Se o museu tem por obrigação desde à longa data de conservar e expor e atualmente tem a responsabilidade de educar, através dos seus acervos, alargando o seu âmbito, ao tomar consciência do seu papel na sociedade. O club também tem por obrigação, saber conservar, expor e educar através da sua história e das suas práticas culturais, tomando consciência do seu papel e da sua responsabilidade social que ocupa na sociedade setubalense. Os Museus assumiram nas últimas décadas um papel educativo, sobretudo nas camadas mais jovens e para esse efeito foi criado o serviço educativo, que através da interação, e experimentação de partilha de saberes, com as crianças e jovens, tem desenvolvido um vasto trabalho não só na área do conhecimento, mas também na projeção do próprio museu. Pois de acordo com o art.º 42º da Lei-quadro dos Museus portugueses, invoca-se que o Museu visa “ (...) desenvolver de forma sistemática, programas de mediação cultural e atividades educativas que contribuam para o acesso ao património cultural e às manifestações culturais” (Lei nº47/2004). Deste modo, podese evidenciar o Museu, como um promotor de atividades, que tem por objetivo a transmissão de saberes, que simultaneamente proporcionam um caráter lúdico, dando cumprimento à função educativa, mas atendendo sempre ao aspeto sociocultural. Ora 62


o Club é também um promotor de atividades e através das suas atividades estabelece um compromisso com os públicos, não só no ponto de vista lúdico e cultural, mas no ponto de vista educacional. Se a função educativa de um museu é regulada pela ligação que estabelece com os públicos e sobretudo pelos meios que utiliza para implementar estas interações. Entre as diversas interações que o museu estabelece com a sociedade em geral e com os seus públicos em particular, destaca-se a forma como facilita, dinamiza, diversifica e qualifica a relação de cada indivíduo com o património cultural. Um Museu que tenha como prioridade, o compromisso com a sociedade, usará ações que sirvam de instrumentalização para cativar os seus públicos, através de experiências que estimulem a sua aprendizagem. Ora o que se pretende criar no club é precisamente esse compromisso, que proporcionará aos seus públicos uma formação voltada para os espaços museológicos, através das exposições, que estimulem o olhar e a leitura dos objetos, os espaços de convívio, que traduzam uma aprendizagem através de mensagens e que se construam novos paradigmas, analogias e narrativas. Frequentar o Club não terá o mesmo significado que frequentar o museu, nem se pretende utilizar um critério comparativo ou de substituição, mas sim, a criação de um critério rigoroso de qualidade e de seriedade, que dignifique o club pelo seu processo educativo e sociocultural.

2.3. A FUNÇÃO CULTURAL DO MUSEU/A FUNÇÃO DO CLUB A evolução conceptual do Museu enquanto espaço sociocultural, traduz-se pela forma e os meios que um museu deve colocar ao seu serviço, para cumprir a sua missão enquanto organização cultural, que segundo Otília Morgado F. Jorge “assume um vasto trabalho de interação com a comunidade, problematizando o seu quotidiano, inserindo-se como polo dinamizador do seu próprio desenvolvimento” (Jorge, 1993: 104). O Museu ao estabelecer uma ligação cultural com os seus públicos contribui para a capacidade de estabelecer diálogos, de modo a que o cidadão entenda o património, potenciando a sua capacidade crítica. O seu envolvimento com as práticas culturais atribui-lhe novos significados e valores ao mesmo tempo que experimenta novas emoções. Da mesma forma, o club tem potenciado nos seus públicos uma ligação cultural, através das atividades culturais, muito especialmente no que se refere à música clássi63


ca, que tem contribuído para uma aprendizagem sistemática e evolutiva de uma sociedade que se viu privada de acesso gratuito a esta prática cultural. Se as iniciativas culturais realizadas pelo museu potenciam o desenvolvimento do ser humano, quer a nível individual, quer a nível coletivo – transmitindo e consciencializando a necessidade da preservação do património histórico construído e cultural. No club as iniciativas culturais pretendem desmistificar a ligação com um passado histórico exclusivista, contribuindo para um exercício de cidadania e de cultura transversal que transformará muitas gerações e que contribuirá indiscutivelmente para a consciencialização da necessidade de preservação desse património histórico construído e cultural. Se na perspetiva da Museologia Social, segundo Isabel Victor:

O Museu encontra inequívoco sentido na participação dos cidadãos, tornando a participação transversal a todo o processo museológico, gerado na dinâmica da comunidade como resposta aos seus anseios e necessidades, conferindo-lhe a qualidade que se designa de novo tipo, pelo facto de ser considerado como obra inacabada de um coletivo, de uma sociedade em mudança. E se através destes processos museológicos os museus identificados com os princípios da museologia social constroem as suas missões (…) (Victor, 2009: 7).

O club pode também perfeitamente definir através do seu programa museológico e das suas práticas culturais, qual irá ser a sua missão. O compromisso assumido quer pelo museu, quer pelo club, com o desenvolvimento em vez da exclusão, procurando interagir numa rede social, composta por todos os cidadãos de forma abrangente, portadores de memórias e de novas visões que estimulem o desenvolvimento e qualificação da cultura, traz por sua vez, um novo modo de pensar à classificação e reinvenção destes novos patrimónios, conferindo-lhe uma nova abordagem de uma função mais social.

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2.4. A FUNÇÃO SOCIAL DO MUSEU/A FUNÇÃO SOCIAL DO CLUB

Mas se o Museu tem vindo a desempenhar uma função social fruto de uma reflexão multidisciplinar, desde a década de 70, desenvolvendo uma linguagem democrática ao tomar consciência dos problemas sociais, constituindo uma força motriz de uma evolução sustentada, na problemática do homem, enquanto indivíduo e ser social, não é menos verdade que o Club, inserido na categoria de associação de carater lúdico e recreativo, tem vindo a desenvolver nas últimas décadas uma grande capacidade de diálogo com os problemas reais, onde são debatidos com alguma frequência as preocupações pertinentes da atualidade. O Corte radical com a usual perspetiva histórica do passado proporcionou, quer ao Museu, quer ao tipo de associações em que se insere o club, uma reformulação do seu discurso que assentou sobretudo numa visão dinâmica da dimensão temporal, que partiu de um passado elitista e se projetou para o presente e para o futuro. Nesta perspetiva, o Museu e a associação enquadram-se num processo de desenvolvimento social, sustentado pela consciência coletiva, problematizando o homem enquanto individuo e enquanto ser social. Esta nova conceção aponta para uma função social, que no caso dos Museus, lhes foi negada até então e no caso da associação nunca existiu. Os museus passam a ser a sede de preocupações de um presente/realidade, onde os problemas ambientais de saúde pública, de analfabetismo, de nutrição, de gestão dos recursos naturais e muitos outros irão constituir o grande fundamento de intervenção/aproximação dos museus, junto das comunidades (Constância, 1993:121). Estes novos conceitos não pretendem uma negação aos museus existentes, onde o objeto constitui a parte fundamental de um património construído, mas apostam na reformulação e na adequação da museologia às sociedades atuais. As novas correntes de pensamento da museologia que encontram os seus fundamentos de partida na Nova Museologia não só pretendem que os museus assumam uma função social, mas que acima de tudo, participem ativamente no desenvolvimento das sociedades, assistindo-se a uma evolução conceptual, que se traduz numa definição de objetivos e de campos de ação. A partir do momento em que se responsabilizam as instituições pela sua função social, os seus horizontes vêm-se alargados, uma vez que se passa, a consi65


derar segundo Constância “em vez de um edifício, um território, em vez de coleções, um património coletivo, em vez de um público, uma comunidade” (Constância, 1992: 125). Ora neste tipo de ações, o papel do museólogo é fundamental à criação de um discurso museal, que aborde várias perspetivas de uma linguagem museográfica, assim como a criação de vários planos de ação que promovam a capacidade de reflexão das questões de natureza social. As exposições são um meio de reflexão e um meio pelo qual, se pode equacionar e evidenciar essas questões de natureza social, pois através das exposições pode-se construir um universo de aprendizagem, comunicação e mediação cultural. As exposições envolvem várias disciplinas, envolvem várias temáticas, dominam várias competências que vão da investigação à estética, passando pela escrita e pela interpretação. As exposições atualmente são as grandes mediadoras entre os museus e os públicos.

2.5. A IMPORTÂNCIA DA EXPOSIÇÃO NO MUSEU/A IMPORTÂNCIA DA EXPOSIÇÃO NO CLUB A prática da museografia nos museus tornou-se neste trabalho um dos aspetos fundamentais a considerar, através dos seus recursos e da sua função comunicacional. A reflexão sobre o significado das exposições e a sua interação com o público levou-nos à construção de um programa expositivo a implementar no Club Setubalense, que terá o seu início com a exposição permanente, fundamentada na importância das exposições nos museus. De entre as várias funções de um Museu, que passa por “colecionar, cuidar das suas coleções, preservar, investigar, interpretar, cabe ao museu outra tarefa, que é a de expor as suas coleções” (Menezes, 1993: 37), tornando-as acessíveis ao público. Essa acessibilidade efetua-se através das exposições. As exposições constituem uma grande responsabilidade para os museus, pois é através das exposições que o público tem contacto com o seu acervo, constituindo um meio de comunicação e diálogo entre o museu e o seu público, suscitando sempre um grande entusiasmo. Ao criar uma exposição permanente no Club pretende-se criar um diálogo com o público, através da sua história, das suas vivências, das suas memórias e que permitirá à asso-

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ciação em estudo, ter essa grande responsabilidade de poder transmitir, às novas gerações o seu passado de forma transparente e inequívoca. No entanto as exposições revertem-se de um grande e profundo trabalho, que o curador ou a equipa que organiza a exposição deve ter em linha de conta e que vão obrigatoriamente contribuir para o sucesso ou insucesso de uma exposição. A forma como os objetos estão expostos são de grande importância para a captação de públicos, os fatores como: a cor; a textura; o som; a iluminação; a forma como se agrupam os objetos; a distribuição espacial; a adequação dos textos ao públicoalvo; a linguagem que se utiliza; a seleção dos materiais; as histórias que os objetos contam, tudo isto contribui para a captação de público. As exposições devem produzir um efeito eficaz nos públicos, quer sejam educativas ou meramente informativas, mas devem acima de tudo, ser estimulantes. As exposições estimulam os sentidos, fornecendo elementos de grande relevância para o desenvolvimento cognitivo e cultural de cada indivíduo. Mas para se tornar possível a concretização de uma exposição, tornase imprescindível a definição e a adoção de métodos e estratégias que permitam a sua concretização. Deve-se ter em linha de conta a quem se destina a exposição, definindo o seu público-alvo, a definição de uma linha interativa de divulgação e captação do público, também é um dos aspetos principais. Deve-se elaborar também um plano de custos, que corresponderá às verbas disponíveis para a elaboração da exposição, assim como se deve estabelecer os objetivos a curto e médio prazo, que se pretende atingir com a exposição. A importância da criação de uma exposição permanente no Club Setubalense visa definir uma forma de comunicação interativa entre o club e os seus associados e o público em geral, que terá início com a história do próprio edifício, definindo-o como um exemplo de património histórico a preservar.

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3. O CLUB SETUBALENSE - NO ÂMBITO DO PATRIMÓNIO EDIFICADO

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3.1. O EDIFÍCIO DO CLUB SETUBALENSE

Fig. 13 Edifício do Club Setubalense – Imagem de Arquivo do Club

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3.2. CARACTERÍSTICAS

Um dos temas que se julga de grande pertinência, incluir na exposição permanente sobre o Club Setubalense, é precisamente o belíssimo edifício onde se encontra instalado, quer pela sua arquitetura eclética e revivalista, quer pela caracterização da época da sua construção. Este edifício é considerado, um dos mais emblemáticos da Avenida Luísa Todi. O Edifício foi classificado como IM – Interesse Municipal no Edital de 11/2009, por deliberação camarária de 22/06/2009, cujo processo de abertura em 16/04/2008 foi encerrado em 09/02/2009, por deliberação do Diretor do IGESPAR, I.P. O seu encerramento deve-se ao facto, de o edifício não ter sido considerado de interesse nacional, no entanto a atribuição da classificação de interesse municipal resulta do grande valor arquitetónico, estético, técnico e simbólico, para a história local. Representativo de vivências socioculturais de várias gerações, esta nova atribuição surgiu no âmbito de um processo iniciado pela Câmara Municipal de Setúbal e que determina, que qualquer intervenção ao nível de obras, quer no seu interior, quer no exterior requerem a aprovação do IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico. O edifício foi construído entre 1920 e 1926, pelo seu proprietário José Gomes da Costa, propositadamente para albergar o club. A sua arquitetura é um exemplo da arquitetura tradicional, caracterizada pelos elementos neoclássicos e barrocos, muito ao gosto da burguesia da época. A história deste edifício encontra-se intimamente ligada à história da cidade, ao surgimento das grandes construções de edifícios desta tipologia na grande avenida da Praia, mais tarde denominada de avenida Luísa Todi. O projeto terá sido da autoria de Jorge Paiva Diniz, um desenhador municipal e autor de vários projetos de edifícios, construídos na cidade de Setúbal numa época, em que, estes edifícios se caracterizavam pelas suas fachadas muito decorativas. O edifício foi concebido com uma volumetria perfeitamente adaptada à volumetria do lote, simples e rígida largamente decorado, cujo ornamento estético, é marcado por elementos de cariz neoclássico, de inspiração no barroco (Tomé, 2005: 96).

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3.3. Planta do Edifício

Fig14 Planta original do edifício Club Setubalense, aquando da sua construção - cedida pela direção CS

Fig. 15 Planta original do edifício Club Setubalense, aquando da sua construção - cedida pela direção do CS

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3.4. TIPOLOGIA

A planta apresenta-se quadrada, as fachadas apresentam-se muito ornamentadas, de estrutura simétrica, relativamente a um eixo central, ligeiramente saliente. Os vãos surgem duplicados, apresentando duas janelas de sacada em arco redondo no piso superior (Fig.16), o piso inferior apresenta duas janelas idênticas, mas de verga reta no piso médio, e duas portas com folhas em serralharia Arte Nova (Fig.17), rematadas em arco de ferradura, no piso térreo. No telhado, as dependências do sótão, são iluminadas por vários lanternins e os frontões que encimam as janelas são decorados com cartelas e grinaldas. Todo o edifício é percorrido por uma platibanda de friso dentado sobre cornija sustentada por cachorros e modelada em frontões, com tipologias distintas, nos módulos centrais.

Fig. 16 Janelas de sacada em arco redondo decoradas com cartelas e grinaldas - Imagem de arquivo do club

Fig.17 Portas com folha de serralharia Arte Nova – Imagem de arquivo do club

O edifício apresenta três fachadas, com um desenho que respeita a mesma composição formal, simétrico em relação a uma linha vertical central, subdividido em três módulos com marcação acentuada do desenho nos módulos centrais, com equilibrado diálogo entre os vãos e integração nos restantes elementos parietais. Estes módulos centrais são encimados por frontões de riqueza decorativa, ornamentados com grinaldas e cartela com volutas. Apresentam um soco em pedra regular de grandes

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dimensões trabalhadas em almofadas bujardadas a pico grosso e friso bujardado a pico fino (Tomé, 2005: 97)

3.5. ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL O edifício apresenta um volume simples de três pisos, com uma planta quadrangular, com a sua fachada principal virada a Norte, para a avenida Luísa Todi e mais duas fachadas, lateral e tardoz. A poente o edifício é contíguo com outro. No Piso 0, ou rés-do chão, ficam situadas as instalações do Banco Português de Investimento e um antigo armazém do club setubalense, que foi recentemente transformado numa sala multiusos. O Piso 1 – fica localizado o club setubalense, constituído pelo salão, destinado aos espetáculos, a sala do bar e de convívio, salas de jogos, biblioteca, sala de administração, cozinha e casas de banho. Os sanitários foram construídos já nos anos 80 do século XX, pelo banco, quando adquiriu as instalações do rés-do-chão, aos proprietários do edifício. O Piso 2 - é constituído por duas habitações privadas tipo T3, com grandes áreas. O piso 3 - corresponde às dependências do sótão. O acesso ao Club faz-se através de um átrio de ligação à escadaria central, em madeira, que é iluminada por um vitral zenital e uma janela de sacada, ambas com vitrais Arte Nova. A organização funcional desenvolve-se a partir desta escada em posição central e envolvente a um saguão, com uma escada de serviço, com acesso aos pisos. As instalações do club apresentam salas com uma boa área, as paredes de algumas salas e corredores apresentam lambrim a imitar pedra de Lioz em tom amarelo, os tetos são em estuque ornamentados com belos desenhos. No piso habitacional, a divisão das áreas funcionais são efetuadas através de portas de vaivém com pinturas a óleo representativas da cidade de Setúbal, assinadas por Teixeira e datadas de 1925. Os sanitários constituem o ponto frágil do club, uma vez que na época da sua Fig. 17 Portas de Entrada construção não foram pensados, deste modo foramemconstruídos dentro do espaço do serralharia “Arte Nova”

saguão, não oferecendo grande qualidade. As instalações do club setubalense apesar Imagem de arquivo do Club Setubalense

de apresentarem condições únicas, quer pelas suas características arquitetónicas, quer pelas suas características acústicas, apresentam grandes problemas nas suas infraestruturas, devido à sua idoneidade.

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3.6. OS PROBLEMAS ESTRUTURAIS DO EDIFÍCIO

Os problemas que têm surgido no edifício levantam várias questões de difícil resolução, pois apesar de se encontrar classificado de interesse municipal, nem os seus proprietários, nem o município, demonstram qualquer preocupação ou interesse, quanto à sua manutenção ou conservação. Os sinais do tempo começam a tornar-se visíveis e as intervenções que se têm vindo a efetuar, pelas sucessivas direções, com a finalidade de colmatar os problemas que vão surgindo, estão longe de cumprir as normas de intervenção, num edifício desta tipologia. Encontrando-se o edifício classificado, seria de esperar que o IGESPAR se pronunciasse sobre as diversas atuações que se têm verificado, no entanto assiste-se a uma total ignorância sobre o assunto. O presente capítulo surge no âmbito da necessidade de intervenção qualificada no edifício, uma chamada de atenção para a sua degradação e um alerta para as intervenções desapropriadas que se têm realizado no seu interior, sobretudo com a utilização de materiais pouco adequados, à traça do edificado. O objetivo será efetuar, um levantamento das necessidades que se consideram de caráter urgente, cabendo com certeza a técnicos especializados a realização de um projeto de recuperação do edifício, para o qual não nos sentimos habilitados. No entanto, não quisemos deixar de referir neste trabalho, algumas das convenções internacionais, onde são definidos critérios que determinam que tipo de intervenção deve ser adotada, em edifícios com as características do edifício do Club Setubalense. A salvaguarda deste património parece-nos de grande interesse, para aplicação prática do programa museológico que se pretende desenvolver na associação e que abrangerá as suas instalações. Com o objetivo de conciliar a identidade arquitetónica do edifício com o seu novo uso museológico, procurou-se restabelecer uma estrutura organizativa, que assumisse uma particular importância, no valor patrimonial do seu edifício. Assim a definição formal do edificado assume neste trabalho o ponto de partida para o desenrolar do programa museográfico, assumindo ele próprio uma importância crucial na exposição permanente.

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3.7. CONCEITOS INTERNACIONAIS

Utilizando alguns dos conceitos internacionais que se julgam de grande pertinência para a intervenção de edifícios da tipologia do Club Setubalense, destacam-se a Carta de Atenas, Carta de Veneza e Carta de Cracóvia 2000, que de acordo, com o ICOMUS (Internacional Council on Monuments and Sites), foram adotados critérios e linhas orientadoras na intervenção em edifícios históricos e monumentos, que regem aspetos fundamentais de restauro. Com a Carta de Atenas, foram definidos os princípios gerais relativos à conservação de monumentos, onde se considera que só a manutenção adequada, regular e permanente, pode na verdade assegurar a sua longevidade e que a sua manutenção cuidada é sempre preferível ao restauro. Diz ainda a carta de Atenas, que os monumentos devem ser utilizados, de forma a ser respeitado o seu caráter, com o objetivo de assegurar a sua longevidade. A Carta de Veneza de 1964 vem adequar a legislação então existente, às necessidades impostas pela arquitetura e urbanismo, definindo o conceito de monumento. A Carta de Veneza considera que a intervenção se pode tratar de qualquer construção coletiva e isolada, não tendo em linha de conta a dimensão do edifício, mas o seu valor cultural. A Conservação deve ter em linha de conta a história do próprio edifício, assim como o seu estilo, não descaracterizando a construção inicial. Quando for de absoluta necessidade a substituição de elementos no edifício, esses elementos devem, fazer distinção entre os elementos velhos e novos, mas não devem comprometer a arte e a história do edifício intervencionado. Deve por esse facto, o restauro ser de caráter excecional, destinado a conservar e a realçar o aspeto estético, respeitando os materiais originais do edifício. Com a conferência internacional de Cracóvia, que se realizou no ano 2000, foi acordada a Carta de Cracóvia, que apresenta uma quantidade de recomendações relativamente à conservação e ao restauro. Os seus fundamentos vão ser na Carta de Veneza, mas traz algumas alterações relativamente à conservação, na medida em que propõe uma investigação exaustiva e pluridisciplinar. A conservação, pode ser efetuada através de vários tipos de intervenção, desde que seja efetuado um projeto, no qual conste: a manutenção; a reparação, o restauro; a reabilitação e que acima de tudo que 75


do estudo intensivo do problema, resulte a preservação da sua autenticidade e integridade. Se tivermos em linha de conta alguns conceitos que são considerados essenciais, verifica-se que o conceito de Conservação consiste em dotar os edifícios de condições de habitabilidade, salvaguardando sempre o seu valor histórico. A própria teoria da conservação consiste na salvaguarda dos materiais originais, assim como visa assegurar a autenticidade estética e histórica. Quanto ao restauro, pressupõe uma quantidade de ações especializadas, que visam a recuperação estética, idêntica à original. O restauro pretende-se evidenciar e restabelecer a forma, dos materiais utilizados na própria época. A reabilitação pretende possibilitar o uso do edificado, através de alterações e acrescentos, salvaguardando sempre o valor histórico, cultural e arquitetónico do edificado. A manutenção entende-se como um conjunto de operações preventivas, que são necessárias ao bom funcionamento do edificado. A reparação é um conjunto de operações, que têm por objetivo solucionar pequenas patologias, de forma a restituir ao edificado o seu estado original. A reconstrução entende-se por um conjunto de operações que têm por objetivo, voltar a construir, ou seja, construir de novo, parte do edificado já destruída ou em vias de destruição. A cada termo corresponde um tipo de intervenção, com características distintas, mas qualquer um deles, preza pela salvaguarda do património, cultural e arquitetónico. Estes critérios correspondem às características distintas de uma intervenção, a adotar sempre que que se intervém no edificado, com as características adjacentes à sua classificação e que asseguram a sua continuidade, “mantendo-lhe as particularidades que o património deve continuar a ter, após a intervenção, que são: a compatibilidade e a autenticidade” (Santos, 2013: 7). Ora o que se tem verificado no edifício do Club Setubalense são intervenções pouco adequadas, que vão degradando e alterando todas as características do edificado. Cada direção tenta solucionar qualquer patologia que surge, sem um estudo prévio do problema, sem qualquer consulta ao IGESPAR, sem o recurso a mão-de-obra especializada, o que normalmente resulta na incompatibilidade dos materiais usados, com os já existentes, não devolvendo ao edifício a sua autenticidade e a sua integridade.

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3.8. INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

Manter a compatibilidade e a autenticidade é o que se propõe para uma intervenção adequada a cada problema, merecendo um estudo exaustivo das pequenas e grandes patologias por técnicos especializados. A exigência da intervenção preza pela sua pertinência, no que se refere ao exterior do edifício e no que se refere ao seu interior. São de referir alguns aspetos que se encontram visíveis, ao nível do exterior tais como: a limpeza e pintura do edifício; a reparação das janelas e persianas; verificação do telhado e substituição das telhas; aspetos ligados à reparação do saguão e algeroz. Os aspetos mencionados anteriormente parecem ser os principais responsáveis, pelos problemas que destroem o interior do edifício e que apontam para o surgimento de humidades, que provocam a degradação sucessiva das paredes, conferindo-lhe um aspeto degradado e por vezes pestilento. As canalizações também são as grandes causadoras destes problemas. Os aspetos que se consideram de intervenção urgente a nível do interior são os seguintes:

Substituição das canalizações (ainda de chumbo – Fig. 18 e 19)

Substituição da Instalação Elétrica

Reparação das paredes e tetos que se encontram degradados

Pintura de paredes e tetos

Reparação ou substituição do soalho flutuante por soalho de madeira, o mais semelhante possível com o original (Fig. 20 e 21)

Reparação e pintura das portas

Remodelação decorativa para todas as salas

Restauro de móveis e objetos decorativos

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Fig.18 Canalizações do Club Setubalense de Chumbo Imagem cedida pelo Club

Fig. 19- Uma parte da Canalizações de Chumbo já substituída Imagem de arquivo Club Setubalense

Fig.21 Soalho flutuante colocado no salão sobre o original Imagem de Arquivo Club Setubalense

Fig.20 Soalho Flutuante, corredor - colocado sobre o original Imagem de Arquivo Club Setubalense

Fig.22 Portas de acesso ao Club, a necessitarem de reparação – Imagem de Arquivo Club Setubalense

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4. O CLUB SETUBALENSE - PROGRAMA MUSEOLÓGICO E MUSEOGRÁFICO

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4.1. APRESENTAÇÃO

A presente proposta pretende implementar a criação de um programa museológico e um projeto museográfico, que corresponde à área menos utilizada, do Club Setubalense. No programa museológico dever-se-á proceder a uma análise sistematizada da instituição. O Projeto Museográfico abordará as questões relacionadas com a preparação da exposição permanente. No programa museológico, estrura-se a instituição de modo a intensificar as práticas culturais e as atividades recreativas, que conjuntamente com as quotizações dos sócios, garantam a sua sustentabilidade. A preservação do edifício, como já foi mencionado no capítulo anterior, constitui uma das grandes preocupações, tomando-se como ponto de partida para o desenvolvimento deste programa. Todas as atuações que integram, quer o programa museológico, quer o projeto museográfico são orientados, no sentido do equilíbrio entre a preservação do património, o desenvolvimento de atividades culturais e as exposições, adequando estas ofertas às características do edificado. Todo o enquadramento museológico, assim como a metodologia a aplicar, são inspirados na abordagem da Nova Museologia que permite aplicar ao nosso objeto de estudo, um tratamento semelhante ao de um museu. Pois apesar de não se tratar de um museu, onde existem acervos de grande importância patrimonial, o club possui um mobiliário simples, algumas peças e objetos de valor e documentação do início da sua constituição, que se tornam de grande interesse patrimonial e cultural para a cidade de Setúbal. Partindo então do pressuposto que, a lei 107/2001 de 8 de setembro, estabelece as bases da política de valorização do património cultural e com base no art.º 11 - Dever de preservação, defesa e valorização do património cultural, de acordo como nº 2 do mesmo artigo, ”todos têm o dever de defender e de conservar o património cultural, impedindo, no âmbito das faculdades jurídicas próprias, em especial, a destruição, a deterioração, ou perda de bens culturais”48 , com base neste artigo, estabeleceu-se um programa museológico e um projeto museográfico, com vista à preservação do património histórico e cultural do Club Setubalense. 48 De acordo com o nº2 do artº11 – da Lei 107/2001 de 8 de setembro

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4.2. METODOLOGIA DE TRABALHO

Para a criação do programa museológico a realizar no Club, efetua-se inicialmente um diagnóstico completo da instituição e apresenta-se através de um diagrama as várias fases do diagnóstico, levando em linha de conta, os pontos considerados fortes e frágeis, as ameaças as oportunidades, os aspetos socioculturais, administrativos e económicos, pertinentes à sua atuação. Determinaram-se as áreas funcionais do Club Setubalense e definiram-se as áreas destinadas à exposição permanente à publicidade, marketing, biblioteca e sala de reuniões. Estudou-se o seu acervo, para seguidamente se proceder à sua separação, classificação e inventariação. Seguidamente definiu-se o projeto museográfico, para os espaços onde se irá realizar a exposição permanente, procedendo à preparação das salas que acolherão a exposição. O projeto museográfico completou-se com a escolha dos objetos e material fotográfico destinado à exposição permanente. O projeto expográfico teve em linha de conta a interface com a edificação, o conhecimento e estudo antecipado do espaço expositivo, a identificação, a criação e a definição de linguagens expositivas de acordo com a escolha do tema. A escolha do tema para a realização da exposição permanente, foi delineada desde o início do trabalho, situou-se na história do Club Setubalense, no contexto social, político e económico em que surgiu da cidade de Setúbal nos meados do século XIX, até aos nossos dias. A exposição tem como objetivo mostrar à cidade, a história da sua associação mais antiga, assim como todo o percurso efetuado através dos tempos. O título escolhido para dar nome à exposição será – O Club Setubalense, três séculos de história, o público-alvo a que se destina a exposição, será direcionada a toda a população de Setúbal em geral e aos sócios em particular, o local será o próprio club, a duração da exposição, como o nome indica, será por tempo indeterminado, por se tratar de uma exposição permanente.

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4.3. Programa Museológico 4.3.1. PLANEAMENTO DA SITUAÇÃO ATUAL - DIAGRAMA

MISSÃO

DIAGNÓSTICO EXTERNO

DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL

INTERNO

METAS ESTRATÉGICAS

ESTRATÉGIAS QUESTÕES ESSENCIAIS PROPOSTAS ESCOLHAS

O PLANO Quadro Disponível: www.usp.br.edusp: roteiros práticos de museologia: plano diretor, volume I

OBJETIVOS

IMPLEMENTAÇÃO

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4.3.2. PLANEAMENTO DA SITUAÇÃO ATUAL - DIAGNÓSTICO

MISSÃO – Definir qual a missão do Club, o caminho a seguir:

DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL – Efetuar um diagnóstico da situação atual, analisando as forças e as fraquezas, as ajudas externas e internas.

Efetuar um estudo sobre as práticas atuais, apontar e reconhecer os erros e estabelecer as metas que se pretende atingir.

METAS ESTRATÉGICAS – Efetuar um plano com os objetivos a atingir, onde se vão discutir quais as estratégias a adotar, abordando os pontos essenciais, aceitando todas as propostas e através de votação, proceder às escolhas.

OBJETIVOS – Depois das escolhas efetuadas, traçar os objetivos com grande precisão. PLANO – A partir dos objetivos traçados, estabelecer um plano de atuação, onde se vão mencionar todas práticas a efetuar mediante uma metodologia de trabalho, que irá definir todos os pontos a seguir, aquando da sua implementação. IMPLEMENTAÇÃO – Aplicação prática do estudo efetuado e que permitirá uma atuação rigorosa na organização e estruturação da associação.

Quadro Disponível: www.usp.br.edusp: roteiros práticos de museologia: plano diretor, volume I

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4.3.3. ÁREAS FUNCIONAIS

Fig.23 - Áreas Funcionais

Sala do Bar, Sala de Convívio, Sala de Bilhar, Sala de Bridge - Espaço destinado à exposição permanente Cafeteria (sala do bar) e cozinha de apoio ao bar Sala da Biblioteca Sala da Direção, Publicidade e Marketing (Privada) Salão – Espaço destinado aos Eventos e Exposições Temporárias Zonas de acesso

Vestiário

WC Senhoras

WC Homens

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4.3.4. PROGRAMA DE MUSEALIZAÇÃO

Com a finalidade de criar uma organização sistematizada na instituição em estudo, implementou-se um programa de orientação museológica, que se dividiu do seguinte modo: a) O programa referente aos acervos, onde se irá organizar os diferentes tipos de bens da instituição, que corresponde ao processo de inventariação, a conservação, o restauro e as doações; b) O programa de exposições irá tratar de tudo o que diz respeito às exposições (permanente e temporárias), assim como a organização espacial; c) O programa educativo e cultural – irá compreender todas as atividades lúdicas e socioeducativas, tais como: organização dos recitais; aulas de dança; atividades desportivas; colóquios; conferências; palestras; workshops; d) O programa de financiamento e fomento – que se refere a todo o processo, que compreenderá a forma de financiamento do Club, o aluguer do salão para atividades externas, a exploração do bar, bem como toda a parte relacionada com a quotização dos sócios e utilizadores das atividades culturais. Cabe ainda neste programa a integração das despesas, com as exposições, limpeza e outras; e) O programa de difusão e divulgação, que compreenderá a divulgação de todas as atividades e projetos, que se efetuam no Club, além da ocupação relativamente aos meios de difusão editorial, comunicação social e visual.

A) PROGRAMA REFERENTE AOS ACERVOS – INVENTARIAÇÃO

Um dos aspetos considerados fundamentais no programa referente aos acervos é sem dúvida, o processo de inventariação de todos os objetos, documentos e mobiliário que constituem os bens do club. O programa irá envolver outras temáticas a que se fez referência anteriormente, como o restauro das peças, as doações, mas para já o que nos interessa referir no trabalho, será a parte do inventário. O inventário será efetuado, por uma equipa de trabalho espacializada em inventariação em museus que adotará os mesmos critérios que se adotam nos museus, ou seja, o de criar um programa

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numa base de dados, semelhante ao programa Matriz49. Numa primeira fase de inventariação, optou-se pela criação de uma ficha50, onde se assentará todas especificidades dos objetos. Numa segunda fase, optou-se por dividir o processo de inventariação em três partes, que corresponde à divisão pela ordem seguinte: 

Parte documental (inclui as plantas originais do edifício, desenhos originais do mobiliário, estatutos do club, fichas de inscrição de antigos sócios; atas de assembleia geral, livros, serigrafias e todos os documentos que constituam interesse);

Parte do mobiliário (inclui todas as peças do mobiliário existentes no club (mesas, cadeiras, mesas de jogo, louceiros, cómodas, cadeirões, poltronas, pianos, portabandeiras e outros);

Parte dos objetos (inclui todas as loiças da cozinha e do bar, loiças decorativas, jarras, candeeiros, pratas, candelabros, tapeçarias, quadros);

PROGRAMA REFERENTE AOS ACERVOS – CONSERVAÇÃO PREVENTIVA A conservação do acervo do club foi pensada na sequência dos procedimentos referidos anteriormente, relativamente à inventariação. Entenda-se que a conservação preventiva é considerada um dos aspetos fundamentais para a preservação das coleções. Pois de acordo com Gary Thomson, existe uma grande importância das condições climatéricas, quer do interior, quer do exterior, como a humidade, a poluição e outros agentes que vão ter, um grande peso na conservação dos objetos e das obras de arte. Cabe ao conservador-restaurador uma grande responsabilidade, sobre a conservação dos acervos dos museus. Foi com base neste entendimento que o autor afirmou “um mau restaurador, pode destruir um objeto por mês. Um mau conservador pode destruir uma coleção inteira, num ano” (Guichen, 1995: 5). Pois de acordo com Guichen, a “conservação preventiva pode ser entendida como um conjunto de ações destinadas a assegurar a salvaguarda ou a aumentar a esperança de vida de uma coleção ou de um objeto” (Guichen, 1995: 6). A partir destes conhecimentos adotaram-se cri49 Programa concebido para harmonização dos diversificados sistemas de inventário dos Museus dependentes do IPM.

50 Ficha no Apêndice II

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térios de estudo rigorosos, sobre o estado de conservação das peças e de todo o mobiliário do Club. Pois para se realizar uma exposição, tem que haver um plano de inventariação e um plano de conservação preventiva, prévio que assegure o conhecimento do que se vai expor e do estado e preservação do objeto. A partir destes conceitos deve existir uma preocupação relativamente à preparação de todo o acervo que irá integrar a exposição permanente. B) PROGRAMA DE EXPOSIÇÕES

O programa de exposições incluirá tudo o que se refere às exposições que se organizarão no club e que terá início com a exposição permanente. Na elaboração de todo o projeto para a exposição permanente, partiu-se do pressuposto que uma exposição não se improvisa, ela funda-se sobre imperativos científicos, que determinam um programa e um projeto e entendendo-se que segundo Menezes, “ (…) um programa constitui a armadura ideológica de uma exposição e o projeto, o ato de conceber as estruturas da exposição, seleção e apresentação, a partir de dados científicos e da sua interpretação” (Menezes, 1993: 37). Procurou-se uma estrutura programática para a exposição permanente, que fosse proporcional aos espaços estabelecidos pelo projeto. A escolha dos objetos a expor e a sua disposição devem de obedecer fielmente aos imperativos do discurso programático. O projeto museológico deve determinar a organização do espaço, definindo as ideias museográficas, que corresponderão a uma hierarquia de ideias do discurso que se irá apresentar. A exposição foi montada a partir de um desejo de comunicar uma ideia, um tema, um conjunto de artefactos, que constituem interesse sobre determinado acervo existente na associação em estudo e que abarcou ações de seleção, pesquisa, documentação, organização, exibição e difusão, assim como se procedeu à expografia:

A Expografia é a área da Museografia que se ocupa da definição da linguagem e do design da exposição museológica, englobando a criação de circuitos, suportes expositivos, recursos multimeios e projeto gráfico, incluindo programação visual, diagramação de textos explicativos, imagens, legendas, além de outros recursos comunicacionais (Franco, 2008: 61).

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Deste modo, a coordenação de todo o processo expositivo inicia-se com a definição de toda a metodologia, no planeamento de todo o processo expositivo, na avaliação e apresentação do espaço expositivo, assim como a tipologia das salas que acolherão a exposição, na elaboração da expografia, na distribuição espacial dos objetos, na iluminação da exposição, bem como a sua divulgação.

C) PROGRAMA EDUCATIVO E CULTURAL

O serviço educativo nos museus tem uma importância crucial para dar a conhecer aos diversos públicos, sobretudo aos públicos mais jovens, o seu acervo. É num contexto semelhante ao de um Museu, enquanto agente educativo, que o Club responsável pela exibição, conservação e investigação do seu acervo, considerou oportuno na promoção do respeito e valorização do seu património, através da exposição permanente, dar a conhecer ao público todo o seu património histórico e cultural. O projeto que se apresenta para o CS, cruza algumas valências – conservação, inventariação, investigação e exibição, com tendência ao conhecimento do património, de forma a poder divulga-lo, através de um programa educativo e cultural. Propõe-se deste modo, que não só o público em geral, mas também todos os jovens que frequentam o club, através das diversas atividades, e através dos seus professores, “integrem este plano educacional, através do conhecimento da sua história e do seu acervo” (Weber, 2011: 13).

D) PROGRAMA DE FINANCIAMENTO

O programa de financiamento, para a realização da exposição permanente, prevê um orçamento preliminar, com vista ao plano de custos que será apresentado à direção do Club e que através da colaboração de todos os sócios, se possa tornar exequível. Cabe referir que a partir da organização do grupo de trabalho, seja possível conseguir mãode-obra qualificada para a montagem da exposição, sem custos excessivos.

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E) PROGRAMA DE DIVULGAÇÃO

A divulgação é considerada o ponto – chave de todo o projeto que se tem vindo a desenvolver. Tem sido através da divulgação que se tem conseguido a angariação de públicos. O Programa de Divulgação irá compreender tudo o que se relacione com as atividades em geral, onde se dará um especial enfoque à divulgação da exposição permanente.

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4.4. PROJETO MUSEOGRÁFICO 4.4.1. APRESENTAÇÃO DO ESPAÇO EXPOSITIVO – TIPOLOGIA DAS SALAS

Entrada A única entrada do Club Setubalense fica situada no rés-do chão do edifício, virada para a Avenida Luísa Todi, é constituída por um átrio e por uma grande porta de madeira com vitrais (Fig.23) que faz ligação a um patamar onde se encontra a escadaria (Fig.24) que dá acesso ao primeiro andar. No primeiro andar existe outro patamar, de menores dimensões, com três portas de entrada para o club. A porta da esquerda dá acesso à sala do bar, a porta central dá acesso à sala de bilhar e a porta da direita dá acesso ao corredor, onde se encontram as restantes salas e o acesso do público, ao salão.

Fig. 24 Porta de Entrada no Club Imagem de arquivo do Club Setubalense

Fig..25 Escadaria de madeira que dá acesso ao Club – imagem de arquivo do Club Setubalense

Sala do Bar A sala do bar é composta por um bar tipicamente inglês, de madeira almofadado a tecido de xadrez, com um toldo do mesmo xadrez que termina em paleado (Fig. 25). O chão deste compartimento é de soalho de madeira em tábua corrida que corresponde ao chão original. O mobiliário do bar é simples, é constituído por duas mesas que datam dos anos 50 e por três camilhas que se encontravam na sala da direção e que foram colocadas na sala do bar. Nas paredes encontram-se algumas fotografias antigas

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da cidade de Setúbal, fotografias dos bailes da autoria do fotógrafo setubalense Américo Ribeiro e uma das plantas do edifício que datam da época da sua construção e que foram oferecidas pela Câmara Municipal, ao Club Setubalense (Fig.26).

Fig.26 Bar Estilo Inglês Imagem de arquivo do Club Setubalense

Fig.27 Sala do bar Imagem de arquivo do Club Setubalense

Sala de Convívio A sala de convívio é contígua à sala do bar, comunicam entre si e são divididas por um gradeamento em ferro (Fig.27). O Chão é também em soalho de tábua corrida tal como o bar. Nesta sala encontram-se cinco poltronas que datam dos anos 50, dispostas em círculo, à volta de uma mesa, ao meio da sala (Fig.28). Nos recantos encontram-se num dos lados, um cadeirão de três lugares em couro e do outro duas poltronas também em couro. Nas paredes encontra-se um grande espelho da altura da fundação do club em talha dourada e um quadro que data da fundação do club, com os nomes dos fundadores. É também nesta sala que se encontra a televisão e uma telefonia antiga, esta sala corresponde ao local onde os sócios leem o jornal.

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Fig.28 Sala de Convívio Imagem de arquivo do Club Setubalense

Fig.29 Sala de Convívio Imagem de arquivo do Club Setubalense

Sala de Bilhar A sala de Bilhar é uma sala com uma decoração tipicamente de estilo inglês, onde se encontra uma mesa de bilhar, ao centro e vários sofás individuais nos recantos (Fig.29). Nas paredes encontram-se vários quadros, com pinturas representativas de embarcações do século XIX e um grande quadro pintado a óleo, oferecido por um dos sócios, aquando do 155º aniversário do club. O Chão é de madeira em soalho de tábua corrida, é uma sala bastante ampla, com comunicação com a sala de convívio e a sala de bridge, através de duas portas que se encontram em lados opostos. É uma sala com bastante luminosidade que se efetua através de duas portas de sacada, com dois grandes vãos. Os tetos apresentam-se ornamentados com grandes molduras em estuque

Fig. 30 Sala de Bilhar Imagem de arquivo do Club Setubalense

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Salas de Jogo (Bridge)

Nas salas do bridge encontram-se as mesas de jogo (Fig.30), que praticamente já não são utilizadas, ao contrário dos séculos passados. As salas de bridge e de bilhar eram por excelência, as salas mais utilizadas no club setubalense, era um local onde os sócios passavam a maior parte do tempo. O mobiliário é constituído por mesas de jogo e por cadeirões que datam dos anos 50. O chão deste compartimento encontra-se coberto com soalho flutuante de cor castanho-escuro, colocado por cima do soalho original. A sala é de grandes dimensões, com três portas de sacada para a rua, duas viradas para a avenida Luísa Todi e uma virada para a parte lateral do edifício. Este compartimento possui três portas de comunicação: a porta que se pode observar na fig. 30 comunica com a sala de bilhar, existe outra porta que comunica com corredor e a terceira comunica com a sala onde irá funcionar a biblioteca. A sala apresenta uma boa luminosidade, os tetos são ornamentados com os desenhos de moldura idênticos aos da sala de bilhar.

Fig. 31 Sala de Bridge Imagem de arquivo do Club Setubalense

Sala de Bridge Lado contrário Imagem de arquivo do Club Setubalense

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4.4.2. PREPARAÇÃO DO ESPAÇO EXPOSITIVO

Nas salas onde se vai realizar a exposição permanente deve ser retirado todo o mobiliário: mesas e cadeiras na sala do bar; cadeirões, cadeiras, candeeiros, vasos de plantas, na sala de convívio. Na sala de Bilhar deve ser retirado todo o mobiliário, bem como a mesa de snooker, os quadros e todos os objetos que não fazem parte da exposição. Na sala de bridge devem-se adotar os mesmos procedimentos que se adotaram para as salas anteriores. As salas de exposição devem ficar amplas e desobstruídas. As paredes das salas onde se vai realizar a exposição não devem conter qualquer objeto (quadros, espelhos, relógios, informação sobre as atividades e outros), devem-se apresentar reparadas (sem buracos, sem pregos), devem-se apresentar pintadas de cor bege claro (Casca de Ovo). O Chão deve ser afagado para retirar as imperfeições e envernizado, com verniz mate, exceto a sala de bridge, que possui soalho flutuante. Todos os cortinados que se encontram nas portas de sacada, das salas de exposição devem ser retirados e substituídos por painéis (quebra- luz), de cor bege claro, para permitir uma baixa luminosidade, sem incidência de luz direta sobre os painéis expositivos e objetos. O bar funcionará como cafeteria durante a exposição, o balcão deve ficar completamente desimpedido, as prateleiras no interior devem-se apresentar arrumadas e as bebidas alcoólicas devem ser retiradas. A identificação do local expositivo assumiu neste caso uma especial atenção e destaque, na medida em que foi alvo de uma escolha minuciosa. A sequência e a distribuição das áreas de exposição foram pensadas, de modo a constituir um sentido de orientação e de conforto ao observador/visitante, referindo-se este ponto a um código estrutural que se procurou obter através da escolha das salas, que comunicam todas entre si. Procurou-se criar um projeto expositivo que funcionasse em sintonia com a estrutura arquitetónica envolvente, não quebrando o compromisso do que se pretende mostrar, com a estrutura do edifício.

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4.4.3. A EXPOSIÇÃO PERMANENTE – CLUB SETUBALENSE - TRÊS SÉCULOS DE HISTÓRIA

A exposição permanente intitula-se, Club – Setubalense, Três Séculos de História. A escolha do título está relacionada com o percurso por três séculos e pretende mostrar o que a maioria da população desconhece. Propõe-se ao visitante uma viagem no tempo, onde se aborda, não só a história do próprio club e dos seus fundadores, mas onde se procura contextualizar o surgimento do club, numa cidade que proliferava com a criação das indústrias conserveiras, na segunda metade do século XIX. Foca-se o enriquecimento da classe burguesa, que contrastava com a classe trabalhadora empobrecida, foca-se o crescimento da cidade, a construção dos grandes edifícios da avenida Luísa Todi, conta-se a história do próprio edifício onde o club ficaria instalado decisivamente, a sua construção, a sua classificação, a sua planta, os pormenores ornamentais. Foca-se a função social do club, os principais eventos de que há registo, as festas, os bailes, as visitas de grandes personalidades, os concertos, as palestras, os eventos que ficaram na memória da cidade. Faz-se alusão ao club inspirado nos modelos de clubes ingleses, surgidos em Inglaterra no século XIX, bem como a expansão do modelo de club inglês, por todo o mundo, apontam-se vários exemplos de clubes ingleses, que pelo seu prestígio e pragmatismo, continuam com grandes listas de espera. Apontam-se alguns exemplos de clubes internacionais, que mantêm protocolos entre si, onde os sócios podem usufruir de estadia e dos seus serviços em qualquer país. Em Portugal o caso do Grémio Literário é apontado na exposição, como uma associação que mantém estes protocolos com clubes internacionais. O prestígio do Grémio Literário é aqui apresentado através da sua história, com um grande destaque para os seus fundadores e associados, onde se faz referência aos grandes nomes da nossa literatura e da política. Apresentam-se as salas do Palácio, onde se encontra instalado, pela riqueza da sua arquitetura, a beleza das suas salas e o modelo quanto à sua preservação, que deve servir de modelo ao nosso objeto de estudo. Apresenta-se ainda outro modelo de club bem-sucedido em Portugal, como o Club Portuense, onde se conta também um pouco da sua história, do seu percurso e do seu perfil elitista que ainda mantém. Utilizaram-se estes dois modelos de clubes, citados anteriormente, na exposição permanente, bem como o modelo de clubes internacionais, para se perce-

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ber que os clubes podem ter diversas utilidades, podem sobreviver à mudança dos tempos, podem até mudar a sua filosofia, mas todos eles, não só se têm mantido, como ainda se têm criado novos clubes com designações mais modernas, como o Soho Club. A conceção da exposição assentou na escolha de vários elementos, os quais passamos a designar: textos explicativos que se alternam com fotografias correspondentes a cada texto; documentação; recortes de imprensa; elementos cenográficos (utilizado em peças de teatro); peças de guarda-roupa (utilizado nos bailes de carnaval); serigrafias; quadros; várias obras de artistas plásticos; objetos que datam da sua constituição. O conjunto de memórias e materiais que integram a exposição permanente foi selecionada e disposta em função do objetivo principal, o de evocar a história do club setubalense e o de mostrar sua função social e cultural ao longo do tempo, na cidade de Setúbal. Para esse efeito criaram-se nove núcleos expositivos e uma sala multimédia, distribuídos pelas quatro salas que constituem o espaço expositivo, de acordo com seguinte organização espacial:

4.4.4. ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E PERCURSO EXPOSITIVO D

C 14

15 22 21

B

20

19

28

29

16

27

31

18

30 35

13 32 12

33

34 26

17

11

23

24

25

0

Entrada

7 8 6

A

9

1

10

2

Legenda:

Saída Painéis Expositivos Vitrinas com objetos do club e dos sócios fundadores Vitrinas com objetos do Club Vitrinas com objetos do Club

5

4

3

Ecrã Multimédia Lugares sentados para observação (ecrã multimédia)

Fig. 32 Organização espacial e Percurso expositivo

Portas Cafeteria

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0 – No Patamar da Entrada - Painel alusivo à exposição (Imagem do Club e o título da exposição, data e hora da inauguração, Local e patrocinadores da exposição);

Exposição

Três Séculos de História

Inauguração – 17/05/2015 – 15h00 Local – Av. Luísa Todi, nº 99 1º Setúbal

Núcleo – 1 – Sala A – Sala do Bar - Painel (1, 2, 3) A exposição tem início nesta sala, a entrada efetua-se pela porta que dá acesso ao bar- já no interior da sala o circuito da exposição, inicia-se pelo lado esquerdo onde se poderão observar três grandes painéis, (núcleo 1,2,3) alusivos ao contexto social, político e económico do surgimento do club. Apresentam-se nestes painéis várias fotografias da cidade, onde se pode verificar o seu crescimento, o grande número de fábricas conserveiras é bastante visível nas imagens. Estará patente ainda nestes painéis, através de fotografia, o contraste das grandes edificações que iam surgindo na grande Av. da Praia, onde se instalava a classe burguesa e os bairros de lata da periferia da cidade. O enriquecimento repentino que levaria a classe burguesa, à fundação de uma associação onde os sócios e as suas famílias se pudessem encontrar, longe dos olhares de um proletariado empobrecido, estará patente através de textos. Assim nasceria a Sociedade de Recreio Familiar em 1850 e cinco anos mais tarde, em 1855 o Club Setubalense, estará representada através de textos retirados do jornal O Setubalense. Nestes três painéis que dão início à exposição, vão ser expostas fotografias de várias origens: arquivo do Club Setubalense; espólio da Casa Bocage do fotógrafo Américo Ribeiro; Fotografias cedidas pelos sócios, sem autor; recortes dos jornais da época, como o jornal O Setubalense e a Gazeta. Os textos são da autoria de Carlos Mouro e Horácio Pena, Maria Conceição Quintas e Alberico Afonso Alho.

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1 – Início da Exposição – Painel com textos e imagens da cidade de Setúbal nos meados do século XIX;

Setúbal 1898

Setúbal 1907

Setúbal 1930

1 - Texto – Setúbal cresce, é elevada a cidade em 1860 por Carta Régia de D. Pedro V, surgem as grandes avenidas, surge a Av. da Praia, é inaugurada a linha ferroviária Setúbal Barreiro, surgem as fábricas, surge um patronato que enriquece, surge uma nova classe, que ostenta o luxo e grandeza, surgem os cafés, as soirées dançantes.

2 – Painel de contrastes – Painel com textos e imagens sobre o crescimento desordenado da cidade.

Bairro de lata no Viso Início Séc. XX

Praia de Banhos, finais do Séc. XIX

Casas senhoriais na Av. da Praia, Início séc. XX

2 - Texto - Setúbal cresce desordenada, surgem os bairros de lata na periferia que contrastam com as casas da alta burguesia que se iam construindo na Av. da Praia (Av. Luísa Todi), surgem as associações de cariz popular e surge uma associação, onde a classe burguesa se reunia longe de um proletariado empobrecido;

3 - Painel com o surgimento da Sociedade e Recreio Familiar e a criação do Club Setubalense (textos e imagens); A Inauguração do Club Setubalense, notícias do jornal O Setubalense, de 1856;

Família burguesa meados do séc. XIX

Um Club onde só as altas patentes podem entrar

Um Club fundado para os homens da alta e para as suas famílias

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3 - Texto – Em 1850 os homens da alta burguesia setubalense, fundam a Sociedade de Recreio familiar, para seu convívio e das suas famílias e cinco anos mais tarde, o Club Setubalense. O Club ficaria inicialmente instalado no edifício dos Paços do Duque, em plena Av. da Praia, atual Av. Luísa Todi

No dia 1º dia deste mês abriu-se o club setubalense. É a primeira vez que Setúbal tem uma distração desta ordem tão em moda e agradável à boa sociedade. Desejamos-lhe dilatada vida, porque esperamos que ele seja um centro de amigas e festivais reuniões, um veículo para entreter cordiais e sinceras relações, um antídoto contra perniciosos enredos

[…],

um meio não só de apagar arrufos e amuos,

senão de fazer esquecer passadas dissensões e, finalmente um gérmen de civilização para a nossa cidade Textos de Carlos mouro e Horácio Pena Jornal, O Setubalense, 1856

Núcleo 2 - Sala A – Sala do Bar – Painel (4, 5) - Este núcleo será inteiramente dedicado aos sócios fundadores, representado através de um quadro que já existe no Club, desde a sua fundação e através de textos com os seus dados biográficos.

4 – Painel com a descrição dos fundadores do Club Setubalense (quadro existente no club), textos com os dados biográficos dos fundadores; Dados Biográficos dos Fundadores João Inácio da Cruz Forte – Diretor da Alfândega de Setúbal e Provedor da Santa Casa da Misericórdia, pertencente à Loja Maçónica, instalada em Setúbal, em finais de 1858. Em 1876 elaborou o documento de definia o funcionamento e o regulamento do Asilo da infância desvalida; João Maria de Lima- Foi Juiz de Paz, em 1837 foi para a Misericórdia e a partir de 1843, desempenhou cargos de grande importância na mesma instituição; (…) Quadro com os nomes dos fundadores, existente no Club Setubalense - 1856

5 – Aprovação dos estatutos do Club por Carta Régia de D. Pedro V (textos, estatutos e Imagem de D. Pedro V); 5 - Os estatutos do Club viriam a ser aprovados por carta régia de D. Pedro V (18371861), no dia 9 de Julho de 1856. O documento havia sido remetido para aprovação régia por Decreto de 18 de junho, elaborado por João Corrêa d’Oliveira Caupers, fora impresso na typographia do jornal O Setubalense, nesse mesmo ano. (Estatutos, 1856: 1). D. Pedro V

Estatutos Club Setubalense de 1856

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Núcleo - 3 - Sala A – Sala do Bar – Painel (6, 7) Este núcleo será dedicado ao edifício onde se encontra instalado o Club Setubalense desde o início do século XX. Fazem parte deste núcleo expositivo, as plantas originais da construção do edifício, doadas pela Câmara Municipal de Setúbal à associação, são seis na sua totalidade e apresentam os desenhos efetuados pelo então desenhador da Câmara, Jorge Paiva Dinis e que correspondem à planificação do edifício, na sua totalidade. Três das plantas são representativas das suas três fachadas: fachada principal; lateral e tardoz. As outas três plantas correspondem ao interior do edifício, onde se podem observar as divisões das salas e do salão, a escadaria que dá acesso ao club, bem como a planta baixa. Farão parte também deste núcleo expositivo, várias fotografias dos pormenores decorativos do edifício (espólio fotográfico do club), com os textos explicativos correspondentes a cada fotografia da autoria da Arquiteta Manuela Tomé. Fazem parte ainda deste núcleo Os cinco desenhos são da autoria de João Moreira e referem-se ao mobiliário do club, desenhado nos anos 50 do século XX, aquando das comemorações do seu centenário. A serigrafia é alusiva ao edifício do club, onde se pode observar, o coreto em plena avenida Luísa Todi e trata-se da reprodução de um quadro original pintado a aguarela, da autoria de um sócio do club.

6 – Painel com as Plantas do edifício com texto alusivo à sua construção, fotografias dos pormenores decorativos do edifício;

Texto – O Edifício foi Construído em 192- 1926, a planta do edifício foi concebida pelo desenhador da Câmara, Jorge Paiva Diniz. O Edifício apresenta uma estrutura perfeitamente enquadrada no lote quadrangular de construção. O edifício é muito ornamentado com elementos neoclássicos e barrocos, muito ao gosto da época Textos de Manuela Tomé Plantas do edifício

Imagens dos pormenores decorativos

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7 – Painel com quadros representativos do mobiliário (desenhos de João Moreira);

Texto- Desenhos representativos do mobiliário do Club Setubalense, encomendados pela direção a João Moreira, então desenhador, para a remodelação do Club, aquando do seu centenário em 1955. Curiosamente quase todo o mobiliário corresponde ao mobiliário atual.

Núcleo 4 – Sala A – Sala do Bar – Vitrina (8, 9, 10) – Ao centro da sala serão colocadas três vitrinas, onde estarão expostos as urnas de escrutínio para aprovação de sócios, Urna preta e urna branca, com as respetivas bolas de voto (pretas e brancas), livros que pertenciam aos sócios fundadores e o livro de visitas do club, onde constam as assinaturas de todas as pessoas ilustres que por lá passaram.

Anuário Comercial – 1906 Doação de um sócio ao Club

Livro de visitas do Club Setubalense – 1955

Urnas de escrutínio de admissão de sócios – 1855

Onde constam as assinaturas de várias personalidades

Aprovação mediante bola branca ou bola preta

Núcleo 5 – Sala B – Sala de Convívio – Painel (11, 12, 13, 14, 15, 16, 17) - será destinado à apresentação dos vários eventos que se realizaram no club setubalense nos seus cento e sessenta e oito anos e que são representativos da função social e cultural que desempenhou ao longo dos anos. Aqui estarão representados através de fotografias e recortes de jornais das várias épocas, as inúmeras festas, bailes, peças de teatro, recitais, palestras, conferências que se realizaram no club, desde a sua constituição. Farão parte deste núcleo expositivo os nomes mais importantes das artes do espetáculo, que

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passaram pelo club setubalense. Neste núcleo constará as fotografias e as notícias alusivas à visita do então Presidente da República, António Óscar de Fragoso Carmona em 1936, aquando das comemorações da inauguração da luz elétrica e outras melhorias ligadas á industrialização da cidade (Mouro et. Al., 2005: 79). Em 1930 o club recebeu a visita do Engenheiro Duarte Pacheco, seguido de um grande almoço que se realizou no club, para comemorar a inauguração do Porto de Setúbal. Esta efeméride fará parte da exposição, através de fotografia e dos textos cedidos pelo arquivo do Porto de Setúbal e de um filme sobre a mesma temática que estará na sala multimédia. Farão parte deste núcleo, quatro fotografias do baile realizado nos anos 50 do séc. XX, para comemorar o centenário da associação, as fotografias são da autoria do fotógrafo Américo Ribeiro e foram doadas ao club pela Câmara Municipal, pois faziam parte do espólio fotográfico da Casa Bocage. Selecionou-se ainda para este núcleo expositivo, fotografias mais atuais demonstrativas do convívio dos sócios nos anos 50 -60. Estarão aqui representadas também neste núcleo, através de fotografia as festas de Carnaval.

Painel - 11, 12, 13 – Imagens e textos alusivas à visita do Marechal Carmona a Setúbal, aquando da Inauguração da Luz elétrica em 1930; inauguração do Porto de Setúbal, 1936

11 – Texto – Hoje foi lançada a 1ª pedra para a construção do Porto de Setúbal, vieram ilustres convidados, o Engº Duarte Pacheco, o Presidente da República Marechal Carmona. Foi servido um almoço com pompa e circunstância no bonito salão do Club Setubalense

12- Texto - A luz elétrica chegou a Setúbal em 1930, a cerimónia decorreu no Club Setubalense, contou com a visita do Sr. Presidente da República Marechal Carmona. A cidade viveu fulgurosamente esta efeméride, que veio para bem de todos nós Jornal O Setubalense, 1936

13- Texto – 12 de Novembro de 1955, realizou-se no Club Setubalense as comemorações do centenário do Club Setubalense. O baile foi abrilhantado pela bela orquestra vinda da capital, até altas horas da madrugada Jornal O Setubalense, 1955

Jornal O Setubalense, 1930 Imagem- Cinemateca Portuguesa Imagem – Cinemateca Portuguesa

Imagem de Américo Ribeiro

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Painel – 14 – Painel com fotografias dos sócios dos anos 50 – 60 -70 alusivo ao ócio e à leitura

14 - Convívio dos sócios no Bar

14 - Leitura de Jornais

15 - Os sócios reuniam-se para ler os jornais e ouvir telefonia

Painel 15, 16 - os bailes de finalistas, as festas de Carnaval

7

15 – Até à década de 60 – ouvia-se telefonia e os bailes eram ao som de orquestra

16 – A partir da década de sessenta os bailes eram já ao som de gira-discos.

Imagem- Telefonia do Club

Imagem - Baile de finalistas no Club Setubalense, ao som de giradiscos, nos anos 60

Painel 17 – Os bailes de carnaval

17 Texto- Os bailes de Carnaval constituíram sempre um grande acontecimento no Club Setubalense, as máscaras eram a rigor

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Núcleo 6 - Sala B- Sala de Convívio - Painel (18, 19, 20, 21, 22) - Este núcleo é composto por 5 vitrinas onde estarão expostos, objetos que fazem parte do acervo do Club

18 -Travessa e Prato – Loiça de Sacavém – Início séc. XX

19 -Pote Club Setubalense – Séc. XX Prato Loiça de Sacavém – Séc. XX Pote Loiça Chinesa – Séc. XX

20 - Pote Com Símbolo Monárquico – época em estudo

21 - Serviço em Casquinha Séc. XX Bandeja em Casquinha Séc. XX

22 -Travessa em porcelana e Prata – 1856 Dois Bules1856 2 Chávenas SP Coimbra Séc. XX

Núcleo 7 - Sala C - Sala de Bilhar- Painel (23, 24, 25, 26, 27, 28, 29) - Este núcleo fará parte de outra sala e a temática escolhida para expor, está relacionada com o modelo de bar inglês que inspirou a fundação do club setubalense em 1855. Aqui são mencionados, através de textos e imagens um pouco da história do surgimento dos clubes em Inglaterra e a sua expansão pelo mundo. São mencionados os principais clubes de Londres (fotografias do Brooks Club e o Boodle´s) e faz-se referência ao chamado Clubland, assim como se apontam alguns clubes de grande referência mundial. Apontamse clubes criados na atualidade através de fotografias e texto, como o Soho Club, ligado aos media. Faz-se referência ao Chelsea Arts Club, um club de artistas fundado no século XIX e que mantém na atualidade características bastante peculiares, relacionadas com o mundo das artes. Referem-se ainda neste núcleo, os Country Clubs que mantêm protocolos com os clubs de todo o mundo, recebendo os seus sócios. Em Portugal o Grémio Literário é o único club que mantém estes protocolos com os clubes estrangeiros, facto que será reportado na exposição através de texto. Aborda-se ainda nesta sala, o assunto relacionado com o surgimento dos clubes em Portugal nos meados do século XIX, através de texto. Será referido no texto um pouco da sua história, o contexto social, político e económico em que surgiram onde se apontam dois grandes exemplos do surgimento destes clubes, como associações de grande prestígio e que mantêm ainda na atualidade, as suas características iniciais. Referimo-nos ao Grémio

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Literário em Lisboa e ao Clube Portuense no Porto. Para o Grémio Literário, será efetuado um texto explicativo da sua história e constarão também através de fotografia, as grandes figuras da literatura portuguesa que fundaram este club. Referem-se Eça de Queirós, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Abel Botelho e outras figuras ligadas à política, tais como, Fontes Pereira de Melo, Anselmo Braamcamp, Rodrigues Sampaio, Sá da Bandeira. São exibidas neste núcleo expositivo fotografias das salas principais do Grémio Literário, como a boiserie, a sala Luís V, pela sua decoração requintada, onde se dá um principal destaque para a biblioteca com os seus 13.000 exemplares centrados em obras do século XIX. Faz-se ainda referência à primeira exposição modernista realizada em Portugal em 1912, onde participaram também pela primeira vez, Amadeu de Sousa Cardoso e Almada Negreiros. Constará ainda neste núcleo, um painel expositivo sobre o Club Portuense. Através de texto será explicado ao público as questões fundamentais da história deste club e da sua formação a partir das questões do chá. Constarão também os nomes dos seus fundadores e através de imagens fotográficas, serão mostradas as salas do Club Portuense depois da sua recente remodelação e as figuras de grande destaque têm lugar cativo neste club, como o Rei de Espanha.

Painel 23 – Os Clubes em Inglaterra, que inspiraram a fundação do Club Setubalense, a Clubland 23 - O Club Setubalense foi criado em 1855, num modelo inspirado nos clubes criados em Inglaterra na época isabelina, entre 1559 e 1563. Os clubes em Inglaterra situavam-se inicialmente no West End de Londres na zona de St. James, ainda hoje conhecida pelo nome de Club Land Estes clubes espalharam-se rapidamente por toda a Inglaterra e Escócia, assim como pelos países de predominância inglesa incluindo os Estados Unidos. Brook’s Club - Clubland

Boodle’s Club -Clubland

Painel - 24 – Os Clubes da atualidade 24 - Os clubes não só se multiplicaram, como nasceram novos clubes. É o caso do Club Soho House, fundado em Londres em 1995, cujos membros fundaram um club privado ligado ao cinema, aos media e às industrias criativas. Este club existe em várias cidades do mundo, onde se destaca o Soho House de Nova Iorque, como um dos clubes mais luxuosos do mundo.

Soho House em londres

Soho House em Nova Iorque

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Painel 25 – Os Clubes privados de Artistas 25 - Atualmente existem clubes em todo o mundo, que mantêm as suas características de clubes privados, mas que se encontram ligados a várias atividades, como por exemplo o Chelsea Arts Club um club privado de artistas criado em 1891, que tem atualmente mais de dois mil e quatrocentos sócios, artistas, poetas, arquitetos, escritoChelsea Arts Club um club privado criado em 1891

Chelsea Arts Club um club privado criado em 1891

res, bailarinos, músicos, fotógrafos, realizadores de cinema.

Painel 26 - Os Country Clubs 26 - Existem também em todo mundo clubes ligados à hotelaria e à restauração, que se situam fora das cidades, referimo-nos aos Country Clubs. Estes clubes são privados, oferecem normalmente uma grande variedade de instalações desportivas e de lazer, aos seus sócios, ficam situados na periferia das cidades ou em áreas rurais. As atividades podem incluir o golfe, ténis, natação, polo, equitação.

Beverly Country Club in Chicago

Alberghi Country Club in Lima, Peru

Painel 27, 28 – Os Clubes em Portugal- Painel com texto explicativo - história do Grémio Literário, fotografias do Grémio Literário (Boiserie, Sala Luís XV) 27 – Nos meados do século XIX surge em Portugal uma classe burguesa reforçada pelo seu grande poder económico, tornando-se cada vez mais zelosa dos seus interesses e detentora de um grande poder político e do dinheiro, rapidamente procura criar espaços de convívio. É neste contexto que surgem os clubes em Portugal

Grémio Literário – Sala Luís XV

Grémio Literário - Boiserie

28 - O Grémio Literário foi fundado por personalidades ligadas à velha e à nova aristocracia, assim como personalidades ligados à nossa literatura. Alexandre Herculano, Almeida Garrett e muitos outros, surgem ligados à fundação de um dos principais clubes da capital lisboeta. O Grémio Literário é um dos Clubes mais conceituados em Portugal

Painel 29 - O Club Portuense 29 - O Clube Portuense foi fundado em 1857, por várias personalidades da alta sociedade da cidade do Porto. Entre as diversas personalidades, que criaram o clube, destacam-se grandes proprietários e muitos ingleses, que faziam parte da grande colónia inglesa que vivia nesta cidade e que era detentora de uma grande parte da economia. Em 1837, foi criada a Assembleia Portuense, que por intransigência dos seus sócios relativamente à questão do chá, que exigia entretanto alguns direitos adquiridos pelos sócios, levou um grupo de homens, à rutura com a instituição e à fundação de uma nova instituição, que denominou de Club Portuense.

Club Portuense - Sala de Visitas

Club Portuense – Pintura Decorativa

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Núcleo 8 – Sala C – Sala de Bilhar – Vitrina (30, 31, 32, 33, 34) - Fazem parte deste núcleo cinco vitrinas onde serão expostos objetos que pertencem ao club e que datam da sua constituição, tais como: Terrinas; peças de porcelana; pratas; colheres de prata, tabuleiros utilizados no bar em porcelana e prata, garrafas antigas

30 – Terrina finais do Séc. XIX – Vista Alegre

31 – Travessa Vista Alegre

32 – Terrina SP Coimbra

Peça em estudo

Início Séc. XX

Peça em estudo

33- Garrafas antigas e tabuleiro em prata, Início Séc. XX 34 – Jarrão em estanho, época desconhecida Peças em estudo

Núcleo 9 - Sala D – Sala de Bridge - Sala Multimédia - A sala Multimédia será instalada na sala de bridge, e será destinada à passagem de filmes. Nesta sala serão passados filmes muito antigos que se conseguiram, através da RTP memória, como a visita do Marechal Carmona ao Club Setubalense, aquando da inauguração da luz elétrica e a inauguração do Porto de Setúbal, cujas comemorações foram efetuadas em frente ao club (filme cedido pelo Porto de Setúbal). Os filmes datam da época 1930 - 1936. O terceiro é sobre a vida e obra do fotógrafo Américo Ribeiro. Os restantes filmes são de épocas bastante atuais e estão relacionados com o ambiente artístico que se tem procurado criar no club, ou seja a conjugação da arte com a dança e a música. Para passar

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estes filmes, será colocado um ecrã de grandes dimensões, onde o espetador poderá observar todo o trabalho que se tem realizado no Club Setubalense. Os links abaixo indicados, são referentes às várias atividades, que se têm efetuado no Club e que já se encontram no youtube, os dois primeiros foram adquiridos na cinemateca Portuguesa, o terceiro na casa bocage: http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=5319&type=Video – Inauguração da Luz elétrica - 1930 http://www.portodesetubal.pt/museu/index.php/home/54-video-do-porto-desetubal.html - Inauguração do Porto de Setúbal – 1936 http://www.youtube.com/watch?v=--d3RQb4sVg- Filme sobre o Fotógrafo Américo Ribeiro 1906-1992 http://www.youtube.com/watch?v=ZeTBgofvspU - Paganinus http://www.youtube.com/watch?v=LT8EX7KZO80 – Marina Popova http://www.youtube.com/watch?v=B8Rfh_Q4YJU – Aula Marina Popova http://www.youtube.com/watch?v=c9PQHr02FTI – Piano, Voz e Dança http://www.youtube.com/watch?v=XFiDlvyRUm0 Teresa Landeiro -Fado http://www.youtube.com/watch?v=pN0ailWSG-w Recital de Piano Miguel Sousa http://www.youtube.com/watch?v=ea30is5jTLs - - Coro de Câmara de Setúbal http://www.youtube.com/watch?v=Qdm0oBHwnx0 – Gala de Dança http://www.youtube.com/watch?v=SU1KD2dw7Os – Recital Violino e Piano http://www.youtube.com/watch?v=LkRrVNWhS9k – Gala UNISETI http://www.youtube.com/watch?v=QYah8VRp5dI – Aula de Esgrima

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4.4.5. A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

A distribuição das fotografias e dos objetos foram alvo de uma avaliação preliminar, houve uma preocupação com a questão da harmonia na distribuição fotográfica, com os textos e com os objetos. Optou-se pela distribuição da expografia de acordo com a ordem que se apresenta no trabalho, já que a exposição visa apresentar a história do próprio club desde a sua constituição em 1855, inspirado nos modelos dos clubes ingleses. Utilizaram-se as técnicas expositivas, inspiradas na Nova Museografia, de modo a provocar no público, uma forma de trabalhar todos os sentidos, constituindo portanto, uma experiência multidimensional de comunicação, enfatizando a experiência do olhar, fator essencial no mundo da Museologia, como forma de apreender o conhecimento (Scheiner, 1999: 2).

4.4.6. A ILUMINAÇÃO A iluminação que se irá utilizar para a exposição permanente será praticamente a luz artificial, optou-se pela utilização da luz zenital, dirigida e simétrica. O uso dos projetores simétricos permite uma luz mais homogenia na parede, aconselhando-se um ângulo de 30 graus, mas tudo dependerá da curva de distribuição de luz do sistema escolhido. A luz simétrica também pode ser dirigida por meio do uso de embutidos orientáveis e spots. Com a utilização deste tipo de iluminação consegue-se destacar os painéis expositivos, os quadros e os objetos de forma extremamente precisa, através do requadro. Esta solução que pode ser composta com o uso de acessórios, como lente de escultura, lente colorida, regulador de contornos, diafragmas de abertura e contornos metálicos, que acentua o efeito dos painéis expostos, dos objetos, das vitrinas, conferindo-lhe um ambiente sublime (Abdalla, 2010).51Esta opção parece-nos a mais adequada, pelo facto de grande parte dos objetos expostos se apresentarem bastante sensíveis, dado a sua especificidade, como a fotografia, os quadros, os objetos e o vestuário. 51 http://angelaabdalla.blogspot.pt/2010/09/tecnicas-de-iluminacao.html[Consul em 2013.01-15]

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4.4.7. A DIVULGAÇÃO

Quanto ao material informativo e de divulgação, optou-se por colocar na entrada do club, um painel ilustrativo da exposição, com os mesmos textos e fotografia (Fotografia do Club Setubalense do fotógrafo Américo Ribeiro) que serão utilizados nos meios de divulgação. A divulgação da exposição será efetuada através de folhetos de informação, cartazes, flyers e catálogo de exposição. Serão utilizados outros meios comunicacionais, como a divulgação através da radio voz da baixa setubalense, um meio muito utilizado ultimamente na divulgação de eventos, em parceria com a Associação de Comerciantes.

4.4.8. ACESSIBILIDADE O acesso ao primeiro andar do club, local onde se irá realizar a exposição apresenta-se relativamente bom, a escadaria apresenta-se larga e de boa acessibilidade, no entanto constitui um problema aos visitantes com deficiência. O Club não possui elevador, nem rampa de acessibilidade a deficientes.

4.4.9. OS MATERIAIS UTILIZADOS Os materiais utilizados na conceção da exposição, são simples, optou-se pela utilização do K-line industrial para a conceção dos painéis expositivos, de cor branca, por se tratar de um material de baixo custo. Nestes painéis serão expostos os textos, as fotografias, as plantas do edifício, quadros, desenhos, serigrafias. Para a conceção das vitrinas expositivas optou-se pelo material acrílico transparente, onde vão ser expostos as peças de porcelana, as pratas e algumas peças decorativas, que datam da constituição do club, bem como os livros das atas de assembleia geral e os estatutos do club de 1856 e de 1928. Serão também expostos nas vitrinas, alguns objetos pessoais de alguns sócios, que irão ser emprestados para a exposição, pelas suas famílias, como caixas de rapé, caixas de charutos havaianos, relógios de prata, cachimbos, peças de vestuário e adornos, como chapéus e bengalas.

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4.4.10. PERCURSO EXPOSITIVO O percurso da exposição permanente apresenta-se linear, a visita à exposição tem início na sala do bar, pelo lado esquerdo e segue sempre o mesmo sentido. Na sala de Bilhar, o percurso aconselha-se pelo lado direito, pela sequencialidade da imagem e dos textos. A exposição culmina na sala multimédia onde os visitantes poderão observar todos os filmes alusivos ao club. As salas comunicam todas entre si, através de portas de boa dimensão que permitem uma boa acessibilidade às salas. A porta de saída fica situada na sala multimédia que irá coincidir precisamente com o fim da exposição.

4.4.11. CRONOGRAMA 2014

Jan.

Fev.

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Set.

Out

Nov.

Dez

Jan.

Fev.

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Set.

Out

Nov.

Dez

Apresentação do problema de intervenção no edifício à CMS Apresentação da proposta à direção Aprovação da proposta Constituição do grupo de trabalho Inventariação Pintura das salas Preparação das salas

2015 Seleção das peças a expor Elaboração dos textos Recolha fotográfica Montagem da exposição Inauguração

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CONCLUSÃO

O objeto de estudo que se definiu para este trabalho, centrou-se numa reflexão sobre o club setubalense e as suas potencialidades como gerador de desenvolvimento cultural e social, fundamentado com base nos ideais da nova museologia. Para efetuar esta reflexão, numa primeira fase, considerou-se pertinente a pesquisa sobre a história do club, desde a sua fundação, tomando em linha de conta as práticas culturais já existentes. Estruturou-se um projeto teórico, em que se insere uma exposição museológica, num edifício propositadamente concebido para albergar nos finais do Século XIX, um Club destinado à alta burguesia. O edifício com uma arquitetura de grande referência no património local (a necessitar de obras de recuperação), classificado como imóvel de interesse municipal, articula com este projeto, a sua vertente histórica, social e cultural e a sua vertente mais contemporânea, onde os fatores culturais, como a música clássica e a dança, podem perfeitamente conviver com as exposições. A conceção museológica vem acrescentar ao espaço do Club Setubalense, um desenvolvimento social e cultural aprofundando a sua ligação à sociedade setubalense, enquanto mentor de uma política cultural capaz de responder às necessidades da comunidade. A possibilidade de reconverter algumas das suas salas, num espaço museológico, ao conjugar linguagens artísticas e culturais com as atividades lúdicas e onde se pretende adquirir novos suportes digitais, obras de arte e proceder à inventariação dos bens do club, fazem com que se utilize os critérios semelhantes aos critérios que se utilizam num museu. No início do trabalho faz-se referência ao contexto social político e económico em que surgiu o Club Setubalense, nos meados do século XIX e início do século XX, quando a cidade de Setúbal atravessava um período de franca ascensão, como consequência de uma atividade industrial e comercial prolífera, causada pela grande implantação da indústria conserveira. A cidade de Setúbal vivia uma grande projeção internacional, caracterizada pela sua dinâmica industrial, que trazia ao club setubalense, grandes vantagens, tornando-o num local de convergência e de ponto de encontro de grandes industriais endinheirados.

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Esta prática manteve-se até à Revolução de 25 de Abril de 1974, ainda que a partir dos anos sessenta, os Clubes tenham diminuído o número sócios, pelo facto de terem caído em desuso. Assistia-se a partir da década de sessenta, a uma grande mudança social, os jovens dos anos sessenta caracterizaram-se pela sua irreverência, pela contestação aos modelos sociais até aí instituídos. Os clubes eram sinónimo de conservadorismo, passavam a ser conotados com os modelos de sociedades antiquadas, retrógradas, criados à imagem dos séculos anteriores, inspirados em modelos ingleses. Mas se os anos sessenta trouxeram novos ideais, os anos setenta seriam marcantes para a instauração das sociedades democráticas, a Declaração de Santiago do Chile, no início dos anos setenta e a Declaração de Caracas nos anos oitenta tiveram a grande coragem de denunciar a situação de desigualdade e de injustiça que se vivia no mundo, muito concretamente na América Latina. Estes documentos vão encetar uma reflexão sistemática sobre a missão dos museus na América Latina, que rapidamente de estendeu ao resto do mundo. Os museus passam então a ter uma missão crucial na formação da consciência das comunidades. Os museus passam a ter um papel de protagonismo social, sempre atentos aos ambientes que o circundam, com o especial dever de desempenhar um grande papel na tomada de consciência pública sobre a defesa do património cultural e edificado. É neste contexto, que se realiza neste trabalho um programa museológico e museográfico num club de características elitistas, protagonizado pelas condições sociais políticas e económicas daquela época e que se mantiveram até à década de setenta. A tomada de consciência a partir dos anos setenta e nas décadas seguintes, obrigou à mudança, as esperanças depositadas com o estabelecimento do regime democrático em 1974, resultaria no quase total abandono destas associações. A consciência da necessidade de uma intervenção adequada na associação, dadas as suas características intrínsecas, levou-nos à elaboração de um projeto/programa que visou dar uma dinâmica sociocultural às práticas culturais, que se têm gradualmente vindo a desenvolver no Club, orientadas para a organização do seu funcionamento inspirado nos modelos estruturais de um museu. A orientação conceptual assentou em três vertentes essenciais ao seu bom funcionamento, focalizando em primeiro lugar o aspeto ligado à recuperação do edifício, onde são apontados os principais pontos de intervenção, quer a nível do exterior, quer a nível do interior, focando aspetos essenciais de 113


convenções internacionais, para intervenção em edifícios desta natureza. Em segundo lugar apontam-se modelos estruturais de organização interna, que consiste no processo de inventariação dos bens do club, que inclui a parte documental, a parte do mobiliário, e a parte dos objetos, assim como a adaptação das salas para albergar as exposições. A pertinência da criação de uma exposição permanente que conte a história do próprio club e o contexto social, político e económico em que surgiu, bem como os modelos que inspiraram a sua fundação pareceram-nos de uma importância crucial para o entendimento da história da cidade de Setúbal e a preservação da sua memória coletiva, enquanto bem cultural. Como produto final deste trabalho, pretende-se que o Club Setubalense seja um espaço de utilidade pública na verdadeira acessão da palavra, não só ao disponibilizar uma oferta cultural de grande qualidade, mas também ao proporcionar aos seus públicos o acesso a uma formação voltada para o contato com os seus espaços musealizados, que estimulem o olhar e que percebam o discurso de toda a museografia. Pretende-se ainda que entre as diversas contribuições destas instituições à sociedade, se torne evidente a relação do indivíduo com o património cultural, contribuindo assim para os processos de construção do conhecimento, que caracterizam o indivíduo enquanto ser social e garantido a passagem de um testemunho às futuras gerações. E por fim, deseja-se que o presente trabalho contribua para o entendimento destas associações, como lugares de memória coletiva, contribuindo para a requalificação destes espaços, onde funcionaram antigos clubes, destinados às classes elitistas e que se podem adaptar atualmente às necessidades contemporâneas. À imagem do que se criou para a associação em referência, pode ser criado um modelo próprio para futuras intervenções em associações desta natureza, que desenvolvam atividades culturais, mas que se tornem em simultâneos espaços musealizados, onde as exposições possam conviver perfeitamente com essas atividades. Pretende-se ainda que o presente trabalho se apresente como um estímulo e uma fonte de inspiração para os futuros alunos de Museologia e Museografia, no desenvolvimento e na criação de programas para a reabilitação de antigas associações, de antigos teatros e de tantos outros edifícios que se encontram moribundos.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O Distrito, 7 de Setembro de 1902 O Elmano, 8 de Novembro 1902 O Distrito, 9 de Agosto de 1903 e Distrito de Setúbal 12 Novembro de 1993 O Elmano, 5 de março de 1910 O Setubalense de 1955

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6. ANEXOS

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ANEXO I – ESTATUTOS

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CLUB SETUBALENSE ESTATUTOS CAPíTULO I (Denominação e Fins) ARTIGO 1.° - O Club mantém a sua primitiva denominação de CLUB SETUBALENSE e os seus fins, de carácter não lucrativo, continuam a ser os mesmos para que foi instituído, por tempo indeterminado, em 1856, e consagrados na revisão de 1928, - dar incremento à civilização, isto é, promover a cidadania através de actividades de carácter social e cultural, abertas à comunidade em geral e organizadas pelo Club ou em parceria com Entidades Públicas ou Privadas. ARTIGO 2.º - O Club Setubalense tem a sua sede em Setúbal, na Avenida Luísa Todi, número 99, 1.° andar. ARTIGO 3.° - As cores do Club Setubalense são o azul e o dourado e o emblema tem inseridas as letras C e S entrelaçadas.

CAPíTULO II (Sócios, suas Categorias, Deveres e Direitos) SECÇÃO I (Das Categorias dos Sócios) ARTIGO 4.° - Haverá três categorias de sócios: ordinários, extraordinários e honorários. ARTIGO 5.°- Poderão ser sócios ordinários todas as pessoas singulares e colectivas, mediante a apresentação de proposta subscrita por sócio ordinário, com o mínimo de três meses de filiação, a qual deverá ser aprovada pela Direcção, depois de consulta aos sócios nos termos do Regulamento Interno. ARTIGO 6.° - No caso de aprovação, esta será participada pela Direcção ao proposto, através de ofício. ARTIGO 7.°- Considera-se sócio ordinário todo aquele que, depois de aceite o seu pedido de admissão, tenha pago a jóia e cumprido todas as formalidades processuais fixadas para o efeito.

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ARTIGO 8.°- São considerados sócios extraordinários: O Governador Civil do Distrito, o Presidente da Câmara Municipal, o Bispo da Diocese, os Magistrados Judiciais e do Ministério Público, o Comandante Distrital da Polícia de Segurança Pública e o Comandante do Porto de Setúbal, que serão inscritos pela Direcção como sócios extraordinários, o que Ihes será participado por ofício. ARTIGO 9.°- São considerados sócios honorários os indivíduos ou as entidades que tenham prestado serviços relevantes ao Club e merecido essa distinção, por proposta da Direcção ou por um grupo de sócios, aprovada por maioria absoluta de votos dos sócios presentes na Assembleia.

SECÇÃO II (Dos Deveres e Direitos) ARTIGO 10.º - Os sócios ordinários têm os seguintes deveres: a) Pagar regularmente as quotas, bem como a respectiva jóia, nas condições estipuladas no art.º 13.º; b) Cumprir e fazer cumprir os Estatutos e Regulamentos do Club e acatar as decisões dos seus Corpos Gerentes; c) Desempenhar com zelo e diligência todos os cargos para que forem eleitos; d) Contribuir com as suas aptidões pessoais para todas as actividades; e) Colaborar com a Direcção em comissões de trabalho ou outras, para que sejam convidados.

ARTIGO 11.°- Os sócios ordinários têm os seguintes direitos: a) Propor, discutir e votar em Assembleia Geral, os actos e factos que interessem à vida do Club; b) Votar e serem votados para o exercício de cargos de eleição e serem designados para os restantes; c) Examinar os livros e documentos de escrita, durante o tempo em que estiverem patentes, para apreciação das contas de gerência e, extraordinariamente, mediante solicitação escrita e depois de autorizados pela Direcção; d) Requerer a convocação extraordinária da Assembleia Geral, justificando os motivos que a determinam, nos termos do artigo 25.°- 2.°; e) Usufruir de todas as regalias previstas nos presentes Estatutos e demais Regulamentos do Club. ARTIGO 12.°- Os sócios extraordinários e honorários, só gozam das regalias mencionadas na alínea e) do artigo anterior.

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CAPíTULO III (Das Quotas e Jóias) ARTIGO 13.°- A quota mensal e a jóia são fixadas anualmente pela Direcção, de acordo com as regras e critérios definidos pela Assembleia Geral. ARTIGO 14.°1°- Considera-se no pleno gozo dos seus direitos o sócio que tiver pago as quotas do mês anterior àquele em que fizer valer os seus direitos. 2.° - O sócio que tiver em dívida as quotas referentes a seis meses consecutivos, será automaticamente suspenso, deixando de imediato de estar sujeito aos deveres e direitos referidos, respectivamente nos artigos 10.º e 11.º destes Estatutos. Desta suspensão será dado conhecimento ao sócio através de comunicação escrita. 3.º - Se no período que lhe for dado, a partir da data da suspensão, para regularizar a sua situação, não proceder ao respectivo pagamento ou justificação, será excluído de membro do Club. 4.º - O sócio excluído, se quiser regressar ao Club, deverá pagar previamente as quotas em dívida e sujeitar-se, além disso, às regras de admissão de qualquer sócio. 5.º - O sócio que não pretender continuar a pertencer ao Club deverá fazer a competente participação por escrito à Direcção, ficando responsável pelo pagamento das quotas até ao fim do mês respectivo. Parágrafo 1.º - Os sócios abrangidos pelo número anterior, só serão readmitidos desde que se cumpram as formalidades exigidas na admissão de qualquer sócio, previstas no artigo 5.º dos presentes Estatutos. Parágrafo 2.º - Exceptuam-se os casos em que a saída dos sócios que requererem a sua readmissão for motivada por razões imperiosas e atendíveis, que, sendo aceites pela Direcção, têm como consequência a isenção do pagamento de nova jóia. 6.º - O sócio que, ausentando-se temporariamente, pretenda continuar ligado ao Club, ficará isento do pagamento da respectiva quota mensal durante o período de ausência, desde que o participe, previamente, por escrito à Direcção. Parágrafo 1.º - Aquele que, ausentando-se, não fizer à Direcção a participação prevista no número anterior, ficará sujeito ao pagamento das quotas vencidas durante a sua ausência.

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Parágrafo 2.º - O sócio que estiver nas circunstâncias previstas no número 6, quando regressar, voltará a estar obrigado ao pagamento da respectiva quota mensal.

CAPíTULO IV (Dos Corpos Gerentes) SECÇÃO I (Disposições Gerais) ARTIGO 15.°1º - Os Corpos Gerentes do Club Setubalense são constituídos por: a) Assembleia Geral; b) Direcção; c) Conselho Fiscal. 2º - O mandato dos Corpos Gerentes é de dois anos ARTIGO 16.°- A actividade dos Corpos Gerentes será sempre desempenhada a título gratuito.

SECÇÃO II ( Da Sua Eleição ) ARTIGO 17.°1.º - Os Membros da Mesa da Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal são eleitos bianualmente pela Assembleia Geral, mediante listas propostas pela Direcção ou por um grupo de, pelo menos, dez sócios e que deverão ser entregues ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral até dez dias antes da sua realização. O Presidente mandará que sejam divulgadas até cinco dias antes daquela data. 2.º - As eleições efectuar-se-ão no mês de Dezembro do segundo ano de cada mandato, sendo os eleitos empossados pelo Presidente da Mesa, em reunião ordinária da Assembleia Geral a convocar para o efeito. 3.º - A eleição dos Corpos Gerentes será feita por voto secreto e por maioria de votos. SECÇÃO III ( Da Assembleia Geral) ARTIGO 18.°- A Assembleia Geral é a reunião dos sócios ordinários em pleno gozo dos seus direitos. Deverá ser convocada por meio de aviso

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postal, expedido para cada um dos sócios com a antecedência mínima de vinte dias, indicando o dia, hora e local da reunião e a respectiva ordem de trabalhos. ARTIGO 19.°- A Mesa da Assembleia Geral compõe-se de um Presidente, um Vice- Presidente, um 1.° Secretário e um 2.º Secretário. ARTIGO 20.º - Compete à Assembleia Geral: a) Eleger bianualmente a respectiva Mesa, a Direcção e o Conselho Fiscal; b) Discutir e votar o Relatório e Contas da Direcção e o respectivo parecer do Conselho Fiscal, referentes ao exercício do ano anterior; c) Apreciar as propostas, pareceres ou votos que lhe sejam submetidos; d) Deliberar a dissolução ou liquidação do Club; e) Aprovar as alterações aos Estatutos; f) Definir as regras e critérios relativos a jóias e quotas; g) Exercer todas as demais funções que lhe sejam atribuídas pela Lei e pelos Estatutos e as que não sejam da competência dos outros Corpos Gerentes. ARTIGO 21.°- Compete ao Presidente da Assembleia Geral: a) Convocar a Assembleia Geral Ordinária nos casos previstos no artigo 24.° - 2.º e 3º. b) Convocar a Assembleia Geral Extraordinária, por sua própria iniciativa ou nos casos previstos no artigo 25.° -2.°; c) Presidir às Assembleias Gerais, orientá-las, esclarecê-las devidamente e desempatar qualquer votação; d) Rubricar os livros de actas e assinar as actas das sessões; e) Diligenciar para que seja dado conhecimento aos sócios, por afixação na Sede, da respectiva lista de eleitos, no prazo de quinze dias após a eleição dos Corpos Gerentes; f) Dar posse aos Corpos Gerentes no dia fixado; g) Mandar lavrar os actos de posse e assiná-Ios conjuntamente com os empossados; h) Representar o Club em actos solenes. ARTIGO 22.°- Na falta ou impedimento do Presidente, o Vice-Presidente assumirá as suas funções. ARTIGO 23.°- Compete aos Secretários promover o expediente da Mesa, além de redigir, ler e assinar as actas das reuniões. ARTIGO 24.°1.º - A Assembleia Geral reunirá em sessões ordinárias e extraordinárias.

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2.º - A Assembleia Geral reunirá ordinariamente, no mês de Janeiro de cada ano, para discussão e votação do Relatório e Contas da Direcção e do respectivo parecer do Conselho Fiscal, referentes ao exercício do ano anterior e, ainda, nos termos do artigo 17.º -2º, para a tomada de posse dos Corpos Gerentes. 3.º - A Assembleia Geral reunirá também ordinariamente, nos termos do artigo 17.º- 3.º, para a eleição dos Corpos Gerentes. ARTIGO 25.° 1.º - A Assembleia Geral reunirá extraordinariamente todas as vezes que for convocada pelo Presidente da respectiva Mesa. 2.º - A Direcção, o Conselho Fiscal ou um grupo de pelo menos 1/5 dos sócios ordinários no pleno uso dos seus direitos, poderão requerer ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral a sua convocação extraordinária. ARTIGO 26.° - Se, à hora marcada para o início dos trabalhos, não se encontrar presente, pelo menos, metade dos sócios ordinários, a Assembleia Geral reunirá meia hora depois, no mesmo local, com qualquer número de Sócios. .ARTIGO 27.º 1.º - Na Assembleia Geral cada sócio poderá representar outros (até dois), desde que tenham enviado ou entregue procuração ao Presidente da Mesa, até ao início da mesma. Parágrafo 1.º - A pedido de cinco sócios presentes, a Assembleia Geral poderá deliberar que as votações sejam secretas. Parágrafo 2.º - Antes da votação, um dos secretários da Mesa redigirá, em termos claros, a proposta a votar. 2.º - As deliberações da Assembleia Geral serão tomadas por maioria absoluta de votos dos sócios presentes. 3.º - As deliberações sobre alterações dos Estatutos exigem o voto favorável de três quartos do número de sócios presentes. 4.º - As deliberações sobre a dissolução ou prorrogação do Club requerem o voto favorável de três quartos do número de todos os sócios. ARTIGO 28.°- As deliberações da Assembleia Geral serão obrigatórias para todos os sócios, quer tenham ou não comparecido à Sessão.

SECÇÃO IV (Da Direcção)

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ARTIGO 29.° - A Direcção compõe-se de um Presidente, um Vice-Presidente, um 1.º Secretário, um 2.º Secretário, um 1.º Tesoureiro, um 2.º Tesoureiro e três Vogais, devendo os seus membros encarregar-se dos vários pelouros que abrangem as actividades e os serviços do Club. ARTIGO 30.º - A Direcção é solidariamente responsável pelos actos da sua gestão, até à aprovação do Relatório e Contas pela Assembleia Geral. ARTIGO 31.° - Compete à Direcção: a) Cumprir e fazer cumprir os presentes Estatutos e os Regulamentos Internos; b) Cumprir e fazer cumprir as deliberações da Assembleia Geral; c) Promover a consecução dos objectivos programáticos; d) Dinamizar e organizar as actividades a que se refere o artigo 1.º; e) Reunir ordinariamente duas vezes por mês e, extraordinariamente, quando for necessário; f) Representar o Club em juízo e fora dele; g) Organizar a escrituração das despesas e receitas; h) Zelar pelos interesses morais e materiais, mantendo em ordem os serviços com o maior rendimento e o menor dispêndio, concorrendo por todos os meios para o seu desenvolvimento e prosperidade; i) Manter actualizado o inventário dos bens do Club; j) Elaborar o Relatório e Contas; k) Facultar os livros e demais documentos aos sócios, durante os oito dias anteriores à Assembleia Geral; I) Requerer ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral a convocação extraordinária da mesma, sempre que o julgue necessário; m) Aprovar a admissão de novos sócios; n) Punir os sócios em falta ou propor à Assembleia Geral a sua exclusão. ARTIGO 32.° - Compete, nomeadamente, ao Presidente da Direcção ou ao Vice-Presidente no seu impedimento: a) Representar a Direcção; b) Convocar as reuniões da Direcção previstas no artigo 31.º, alínea e) e dirigir os seus trabalhos; c) Assinar, conjuntamente com o 1.º Tesoureiro, todos os documentos de receita e de despesa e as ordens de pagamento dirigidas à Tesouraria do Club ou a qualquer instituição de crédito onde as receitas estejam depositadas; d) Rubricar as folhas de todos os livros de escrituração e de contabilidade. ARTIGO 33.° - Compete, nomeadamente, ao 1.º Secretário:

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a) Redigir as actas das reuniões; b) Expedir e arquivar toda a correspondência; c) Ter em ordem todos os livros e documentos da Direcção; d) Delegar no 2.º Secretário as atribuições que julgar convenientes. ARTIGO 34.° - Compete, nomeadamente, ao 1.º Tesoureiro: a) Arrecadar as receitas; b) Efectuar os pagamentos autorizados; c) Assinar, conjuntamente com o Presidente ou Vice-Presidente, os cheques para levantamento de fundos, depois de aprovadas as respectivas verbas; d) Responder por todos os valores à sua guarda; e) Apresentar à Direcção, no fim de cada mês, o respectivo balancete; f) Organizar as contas de gerência e entregá-Ias, devidamente documentadas, à Direcção, até ao dia 5 de Janeiro; g) Delegar no 2.º Tesoureiro as atribuições que julgar convenientes. Secção V (Do Conselho Fiscal) ARTIGO 35.° - O Conselho Fiscal é constituído por um Presidente, um VicePresidente e um Relator. ARTIGO 36.° - Compete ao Conselho Fiscal: a) Fiscalizar os actos da Direcção e examinar a escrita com regular periodicidade; b) Assistir às reuniões da Direcção, sem direito a voto, quando o julgue necessário; c) Elaborar parecer sobre o Relatório e Contas; d) Solicitar a convocação da Assembleia Geral, sempre que o julgue necessário. SECÇÃO VI (Convocação e Funcionamento)

ARTIGO 37.º 1º - A Direcção e o Conselho Fiscal são convocados pelo respectivo Presidente e só poderão deliberar com a maioria dos seus titulares. 2º - As deliberações são tomadas por maioria de votos dos titulares presentes, tendo o Presidente, além do seu voto, direito a voto de desempate.

CAPITULO V 138


(Receitas e Despesas) ARTIGO 38.° - Constituem receitas do Club: a) O produto das quotas e das jóias; b) As provenientes da exploração do bar; c) Os subsídios concedidos pelo Estado e por qualquer outra Entidade Pública e ainda os donativos concedidos por Entidades Particulares e outras receitas de qualquer natureza; d) O rendimento de aplicações financeiras. ARTIGO 39.° - Constituem despesas do Club, todas as que forem decorrentes e relacionadas com os fins para que foi constituído, tais como: a) Implementação de actividades e eventos de carácter cultural e social; b) Compra de jornais e revistas; c) Manutenção, conservação e limpeza das instalações; d) Vencimentos dos empregados; e) Electricidade, água, gás, TV cabo e comunicação; f) Serviço de bar; g) Outras aprovadas pela Direcção; Parágrafo Único - A autorização para contrair encargos cuja satisfação ultrapasse o período de vigência do mandato da Direcção, deverá ser solicitada à Assembleia Geral, acompanhada do parecer do Conselho Fiscal. ARTIGO 40.° - As receitas do Club serão depositadas em qualquer Instituição de Crédito, com agência em Setúbal. Parágrafo Único - O depósito será feito de forma a que qualquer importância só possa ser levantada mediante as assinaturas do Presidente e do 1.º Tesoureiro, ou, no seu impedimento, por quem os substituir.

CAPíTULO VI (Das Instalações, Actividades e outras Disposições) ARTIGO 41.º - Compete à Direcção a ordenação, manutenção e alteração das instalações, espaços e recursos do Club. ARTIGO 42.° - São permitidos todos os jogos lícitos e usuais em Instituições deste género, desde que sejam autorizados pela Direcção. ARTIGO 43.° - Poderão realizar-se no salão bailes, reuniões de família, celebrações, espectáculos, concertos e outras actividades apropriadas, sempre que a Direcção o julgue conveniente e a situação económica

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do Club o permita, ou quando um grupo de sócios custear as despesas e assumir a responsabilidade por eventuais danos causados. ARTIGO 44.° - O salão pode também servir para celebrações públicas de alto interesse nacional ou local, tais como sessões solenes, congressos, etc., promovidas por entidades ou pessoas estranhas ao Club ou com quem este tenha parcerias, com as seguintes condições: a) Não envolverem política partidária ou oferecerem qualquer perigo de perturbarem a boa ordem do Club, o seu bom nome e a harmonia entre os sócios; b) Os promotores pagarem todas as despesas e assumirem a responsabilidade por eventuais danos causados. c) Os sócios e as suas famílias terem direito a assistir. ARTIGO 45.° - A Direcção é competente para a cedência do salão, nos casos previstos nos artigos 42.º e 43.º.

CAPíTULO VII (Dissolução e Liquidação) ARTIGO 46.° - O Club Setubalense dissolver-se-á: a) Quando a Assembleia Geral, expressamente convocada para esse fim, assim o entender; b) Quando se achar abrangido por qualquer disposição legal, que assim o determine. ARTIGO 47.º - No caso de dissolução e depois de liquidadas todas as dívidas, se as houver, os sócios ordinários que tenham pelo menos um ano de inscrição, são os únicos proprietários de todos os valores do activo existentes nessa data, decidindo em Assembleia Geral qual o destino a dar-Ihes.

CAPíTULO VIII (Disposições Gerais e Transitórias) ARTIGO 48.º - O Club obriga-se mediante assinatura conjunta de dois membros da Direcção, sendo obrigatória a assinatura do Presidente e do 1.º Tesoureiro ou dos seus substitutos nos seus impedimentos, nos casos previstos no artigo 32.º alínea c) e artigo 34.º alínea c). Nos actos de mero expediente, bastará a assinatura de qualquer membro da Direcção. ARTIGO 49.° - Os presentes Estatutos entrarão em vigor na data da sua aprovação pela Assembleia Geral e poderão ser alterados, sempre que

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esta, expressamente convocada para esse fim, o entender necessário. ARTIGO 50.° - Os casos omissos nestes Estatutos serão resolvidos pela Assembleia Geral. Aprovado na AG de 18 Dezembro 2003;

Publicado no DR 136 suplemento da

3ª série em 11 de Junho de 2004

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ANEXO II – DOCUMENTAÇÃO DO CLUB SETUBALENSE

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ANEXO III – IMAGENS RECOLHIDAS PARA A EXPOSIÇÃO

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DO SÉC. XIX AO SÉC. XX – A CIDADE

Setúbal - Praia de Banhos – 1858 Imagem arquivo- Casa Bocage

Setúbal – Vista Geral – 1907 Imagem de Arquivo – Casa Bocage

Setúbal - Av. Luísa Todi – 1930 Imagem Arquivo Casa Bocage - Américo Ribeiro

Setúbal – Vista Geral – 1898 Imagem de Arquivo – Casa Bocage

Setúbal – Vista Geral – 1927 Imagem de Arquivo – Casa Bocage

Setúbal – Av. Luísa Todi – 1932 Imagem Arquivo Casa Bocage - Américo Ribeiro

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OS ACONTECIMENTOS

Transporte Público - Sines Setúbal – Finais do Séc. XIX Imagem Disponível em - http://venturinha-eventurinhas.blogspot.pt/2011/10/autocarro-antigo-sinessetubal.html

Setúbal - Paços do Concelho – em 1910 foram incendiados Arquivo- Casa Bocage

Implantação da República – 1910 Imagem Disponível em - http://sociedadesetubalense.blogspot.pt/

Setúbal - Paços do Concelho em Ruína após incêndio em 1910 – Arquivo Casa Bocage

A s

Setúbal - Circo Royal – Feira de Santiago - 1913 Imagem de Arquivo – Casa Bocage

Inauguração do Túnel do Quebedo – 1915 Imagem de Arquivo – Casa Bocage

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AS GREVES DE 1911

Setúbal – As Greves de 1911- A morte de dois operários, na Av. Luísa Todi

As Greves nas Fábricas em 1911

Manifestantes das greves de 1911 – em todo o país

Os Contrastes- Setúbal cresce desordenada 151


SETÚBAL CRESCE DESORDENADA

Setúbal na periferia – Bairro de Lata no Viso – 1913 Imagem Disponível em - http://sociedadesetubalense-2.blogspot.pt/

Setúbal Av da Praia (Av. Luísa Todi) - Os cafés e as casas da Alta Burguesia Imagem Disponível em - http://sociedadesetubalense-2.blogspot.pt/

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CLUB SETUBALENSE INÍCIO SÉC. XX

Club Setubalense Frente Tardoz- antes da Construção do Porto de Setúbal – (1926 – 1936) - Imagem de Américo Ribeiro - Casa Bocage

Club Setubalense- antes da Construção do Porto de Setúbal – (1926 – 1936) - Imagem de Américo Ribeiro - Casa Bocage

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Club Setubalense – Comemorações Inauguração da Luz Elétrica- Visita de Marechal Carmona – 1930 Imagem – Cinemateca Portuguesa – Imagem Disponível em: http://www.cinemateca.pt/CinematecaDigital/Ficha.aspx?obraid=5319&type=Video – Inauguração da Luz elétrica [Consult. em 2014-01-22}

Club Setubalense- Inauguração do Porto de Setúbal – 1936 - Imagem Cinemateca Portuguesa – Disponível em http://www.portodesetubal.pt/museu/index.php/home/54-video-do-porto-de-setubal.html [consult. em 201401-22]

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Setúbal – Av. luísa Todi – Construção da Glorieta a Luísa Todi – Ao fundo a imagem do Club Setubalense- 1938 Imagem de Aquivo Casa Bocage- Espólio Américo Ribeiro

Setúbal – Av Luísa Todi – Vendedor de gelados, em frente ao Club Setubalense – Anos 50 Imagem de Aquivo Casa Bocage- Espólio Américo Ribeiro

O Club da Alta Burguesia 155


O CLUB DA ALTA BURGUESIA

Alta Burguesia frequentadora do Club Setubalense – Início séc. XX Imagem cedida por familiares de um sócio fundador

Família frequentadora do Club Setubalense – Início Séc. XX Imagem cedida por familiares de antigos sócios Um Club onde só as altas patentes podiam entrar – Grupo de oficiais – Início Séc. XX – Imagem de arquivo Club Setubalense

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O CONVÍVIO DOS SÓCIOS E DAS SUAS FAMÍLIAS

Convívio de Sócios- Bar do Club Setubalense anos 60 - 70 Imagem de arquivo do Club Setubalense

Partida de Jogo- Sala de Bridge Club Setubalense anos 60-70 Imagem de arquivo do Club Setubalense

Conversa entre sócios - Club Setubalense anos 60-70 Imagem de arquivo do Club Setubalense

Convívio de Sócios- Sala de Convívio do Club Setubalense anos 60-70 Imagem de arquivo do Club Setubalense

Leitura de Jornais- Sala de Convívio Club Setubalense anos 60-70 Imagem de arquivo do Club Setubalense

Baile de Finalistas no Club Setubalense – anos 60 Imagem de arquivo do Club Setubalense

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O ÓCIO E A DIVERSÃO NO CLUB SETUBALENSE

Os sócios reuniam-se no Club Setubalense para ouvir telefonia, até ao aparecimento da televisão em 1957 -Imagem de arquivo do Club Setubalense

Baile comemorativo do centenário do Club Setubalense em 1955 Imagem de Arquivo – Casa Bocage – Américo Ribeiro

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CLUB SETUBALENSE NA ATUALIDADE - O EDIFÍCIO E A ENVOLVENTE

Club Setubalense – Vista do Rio Sado – 2013 Imagem de Arquivo Club Setubalense

Av. Luísa Todi – Vista da Frente Norte do Club Setubalense – 2013 Imagem de Arquivo Club Setubalense

Club Setubalense – Frente Norte e Lateral - 2013 Imagem de Arquivo Club Setubalense

Club Setubalense – Frente Lateral - 2013 Imagem de Arquivo Club Setubalense

A

Club Setubalense – Pormenores decorativos das Janelas – 2008 – Imagem de Arquivo do Club Setubalense – Manuela Tomé

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CLUB SETUBALENSE – TIPOLOGIA DO EDIFÍCIO

Janelas de Sacada Decoradas em Arco RedondoImagem de Arquivo do Club Setubalense – Manuela Tomé

Portas com Folha de Serralharia Arte Nova – Imagem de Arquivo do Club Setubalense Manuela Tomé

Pormenores decorativos Imagem de Arquivo Club Setubalense

Pormenores decorativos Imagem de Arquivo Club Setubalense

Club Setubalense – Pormenores decorativos das Janelas – 2008 – Imagem de Arquivo do Club Setubalense – Manuela Tomé

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CLUB SETUBALENSE – AS INSTALAÇÕES

Porta da entrada Lado Exterior

Emblema da Cidade – Porta de Entrada

Porta da Entrada – Lado Interior

Escadaria de Madeira de acesso ao Club

Sala do Bar

Bar Estilo Inglês

Sala de Convívio

Sala de Bridge

Emblema da Cidade – Porta de Entrada

Porta da Entrada do Bar 1ºandar

Sala de Convívio

Sala de Bridge

Todas as imagens pertencem ao arquivo do Club Setubalense 161


CLUB SETUBALENSE – AS INSTALAÇÕES

Corredor de acesso ao salão

WC - Senhoras

Quadro em Azulejo- ano em estudo

Quadro pintura contemporânea – 2010 - Eduardo Carquejeiro

Salão

WC - Senhoras

Quadro com os nomes dos sócios fundadores

Aguarela – Club Setubalense – época em estudo

Salão

Bacia antiga – WC Senhoras

Quadro a óleo – 2005 Eduardo Carquejeiro

Quadro WC senhoras – época em estudo

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CLUB SETUBALENSE – A FUNÇÃO SOCIAL E CULTURAL

Tertúlia Comemorativa dos 150 anos – Pintura & Poesia – Lurdes Pólvora da Cruz – 2005 Imagem de Arquivo Club Setubalense

Tertúlia Comemorativa dos 150 anos – Música & Poesia- 2012 Imagem de Arquivo Club Setubalense

Tertúlia comemorativa dos 150 anos – Música & Poesia- 2012 Imagem de Arquivo Club Setubalense

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2013 e se

MÚSICA CLÁSSICA

Grande Gala de Ópera – 2011- Elementos do Coro do Teatro Nacional de S. Carlos – Imagem de Arquivo do Club Setubalense

Recital de Piano a Quatro mãos – DUOANA Imagem de Arquivo do Club Setubalense

- Imagem de arquivo

Recital de Piano Violino – CRS Imagem de Arquivo do Club Setubalense

Recital de Piano a Quatro mãos – DUOANA Imagem de Arquivo do Club Setubalense

Recital de Piano Daniela Ignazitto – 2013 Imagem de arquivo Club Setubalense Recital Piano e Violoncelo Imagem de Arquivo do Club Setubalense

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OS PAGANINUS – ENSAIOS

Paganinus (Os pequenos violinistas de Setúbal) - Sábados de Manhã- Aula de conjunto - CRS

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OS CONCERTOS

Ella Palmer - 2013

Festival de Jazz - 2013

Fรกbrica de Artistas - 2013

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A DANÇA DE COMPETIÇÃO

Concurso de Dança - 2011

Concurso de Dança - 2011

Aula de Dança Desportiva – Prof. Marina Popova - 2013

Aula de Dança Desportiva – Prof. Marina Popova - 2013 Dança de Competição- 2013

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O BALLET

Aula de Ballet – Julho 2013- Club Setubalense Aula de Ballet – Junho 2013 Club Setubalense

Aula Pública 3 aos 6 - Club Setubalense Julho 2013

Aula Pública 3 ao 6 Dezembro 2013 – Club Setubalense

Aula Pública 7 aos 12 – Dezembro 2013

Aula Pública 3 ao 6 Dezembro 2013 – Club Setubalense

Imagens cedidas pelos Club Setubalense

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AS ATIVIDADES DESPORTIVAS

Cartaz de Divulgação da Esgrima Aluna de Esgrima do Club Setubalense - 2013

Alunos de Esgrima - 2012 Dança Desportiva - 2012

Aulas de Karaté - 2013

Aulas de Karaté - 2013

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A MODA

Ensaios para passagem de modelos da Amarsul - 2011

Ensaios para passagem de modelos da Amarsul com Ana Sobrinho Ex- Miss Portugal 2011

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MODA & FOTOGRAFIA

Fotografias para revista de Moda- 2013 Imagem de Arquivo Club Setubalense

Clube Setubalense - 2013 Photography: Mariana Dias Models: Ana Brinca Make-up: Melissa Costa Assistant: Eduardo Dias Making Off photos: Jos茅 Lobo e S贸nia Martins

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MODA & FOTOGRAFIA

Clube Setubalense - 2013 Photography: Mariana Dias Models: Ana Brinca Make-up: Melissa Costa Assistant: Eduardo Dias Making Off photos: Jos茅 Lobo e S贸nia Martins

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AS FESTAS – BAILES DE CARNAVAL

Carnaval anos 80

Carnaval anos 90 Carnaval anos 90

Carnaval anos 70 – Fatos do Club Setubalense dos anos 20

Carnaval anos 90

Baile de Carnaval – José Mourinho e Teresa Sodo- Club Setubalense – anos 80 Baile de Carnaval- 1982

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A DIVULGAÇÃO DOS EVENTOS

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OBJETOS SELECIONADOS PARA A EXOSIÇÃO PERMANENTE

Travessa e Prato – Loiça de Sacavém – Início séc. XX

Serviço em Casquinha Séc. XX Bandeja em Casquinha Séc. XX

Jarro em Estanho Início Séc. XX

Pote Club Setubalense – Séc. XX Prato Loiça de Sacavém – Séc. XX Pote Loiça Chinesa – Séc. XX

Urnas de Admissão de Sócios – 1855

Travessa em porcelana e Prata – 1856 Dois Bules- 1856 2 Chávenas - SP Coimbra Séc. XX

Pote Com Símbolo Monárquico – época em estudo

Urnas de Admissão de Sócios – 1855

Bule SP Coimbra

Imagens Anita Serafim- 2014

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OBJETOS SELECIONADOS PARA A EXPOSIÇÃO PERMANENTE

Estudo para remodelação do mobiliário do Club Setubalense – 1955

Estudo para remodelação do mobiliário do Club Setubalense – 1955 – Secretária e cadeira para a entrada da portaria

Estudo para remodelação do mobiliário do Club Setubalense – 1955 – Secretária e cadeira para a biblioteca Imagem Anita Serafim - 2014

Imagem Anita Serafim - 2014

Estudo para remodelação do Bar Club Setubalense - 1955 Imagens – Anita Serafim - 2014

Estudo Para Remodelação Sala de Convívio do Club Setubalense - 1955

Estudo para remodelação do Bar Club Setubalense - 1955

Estudo para remodelação dos cortinados, mesas e cadeiras para sala de jogo do Club Setubalense 1955

Estudo Para Remodelação Sala de Convívio do Club Setubalense - 1955

Estudo Para Remodelação Sala de Bilhar do Club Setubalense - 1955

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OBJETOS SELECIONADOS PARA A EXPOSIÇÃO PERMANENTE

Quadro dos Fundadores do Club Setubalense – 1855 Imagem Anita Serafim- 2014

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OBJETOS SELECIONADOS PARA A EXPOSIÇÃO PERMANENTE

Anuário Comercial de 1906

Dicionário seis línguas 1909

Livro de visitas do centenário do ClubLivro de visitas do centenário do Club1955 – Assinado por personalidades

Anuário Comercial de 1906

Quadro com a Porta da Igreja de Jesus Doação em 1971

Livro de visitas do centenário do Club1955 – Assinado por personalidades

Dicionário seis línguas - 1909

Quadro com Paisagem- 1855

Livro de visitas do centenário do Club1955 – Assinado por personalidades Assinatura do Atual Presidente – Aníbal Cavaco Silva e Maria Cavaco Silva Comemorações 10 de Junho - 2007

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ANEXO IV- LOGOTIPO DO CLUB SETUBALENSE

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LOGOTIPO DO CLUB SETUBALENSE

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7. APÊNDICES

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APÊNDICE I – ENTREVISTAS

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ENTREVISTA – 12/02/2013 – Em Casa da Entrevistada NOME - Natividade da Silva Segurado Lopes da Silva PROFISSÃO- Professora/Diretora Academia Luisa Todi- Professora de Piano NOME DE SOLTEIRA - Natividade da Silva Segurado CASADA COM – Dr. José Lopes da Silva DATA DE NASCIMENTO - 1917 IDADE – 96 anos Natividade da Silva Segurado Lopes da Silva nasceu em Setúbal em 1917, era filha do tenente César Paz Segurado, pertencia à dita “sociedade Setubalense” (Silva, 2013). O seu pai era sócio do club Setubalense e só a autorizou a frequentar os bailes no Club aos 20 anos de idade. Apesar das raparigas do seu tempo e filhas de família poderem frequentar os bailes no Club a partir dos dezasseis, dezassete anos e os rapazes aos dezoito anos (nos estatutos consta que as raparigas a partir dos 14 anos, podiam frequentar os bailes). De acordo com a entrevistada, em sua casa as regras eram mais rígidas segundo afirmou na entrevista. Entrevistadora – Fale-me do Club Setubalense, como filha e esposa de antigos sócios. Entrevistada - As regras de entrada no Club eram muito rígidas, o Club setubalense era muito elitista, era um club apenas composto e frequentado pelos homens da alta sociedade, setubalense e não só da sociedade setubalense, mas também, pelas pessoas que vinham viver em Setúbal, com certos cargos, claro!... Estamos a falar de magistrados, médicos, engenheiros, arquitetos e etc...desde que fossem propostos e recomendados por outros sócios e do sexo masculino. No caso de pessoas ligadas ao exército, apenas os oficiais e cargos acima, podiam ser propostos para sócios do club, os homens com categorias abaixo não tinham lá entrada. Entrevistadora – Então como mulher, quais são as memórias que guardou do club? Entrevistada - As memórias do Club no feminino, por esta altura, estamos a falar de 1937, eram na realidade os bailes. Os bailes de passagem de ano e de Carnaval, eram os mais importantes, depois ao longo do ano havia outros bailes, mas estes sem dúvida 183


eram os que suscitavam mais interesse. Os bailes da passagem do ano eram bailes de gala, normalmente eram acompanhados por uma orquestra, por vezes, por duas orquestras, que a Direção do Club contratava, provenientes de Lisboa. Entrevistadora – Os bailes de Gala a que se refere pressupõe um traje a rigor Entrevistada – Sim sem dúvida, os rapazes solteiros vestiam smoking e os homens casados vestiam casaca, as mulheres sempre de vestido comprido e luvas pelo cotovelo. Os vestidos eram lindos, nunca se levava ao club, mais do que duas vezes o mesmo vestido e mesmo assim a segunda vez, já se tentava acrescentar qualquer ornamento que alterasse o modelo. Entrevistada - Os bailes de carnaval também eram muito engraçados, realizavam-se ao domingo e terça-feira à noite para os adultos, à segunda-feira era a matiné para as crianças e realizava-se sempre à tarde. Nos bailes de carnaval os fatos eram diferentes, mas havia máscaras muito bonitas e até se fazia concurso de máscaras. Faziam-se muitas brincadeiras e algumas partidas, era muito divertido. Entrevistadora – Nos bailes e noutros eventos só podiam entrar os sócios e as suas famílias, certo? Entrevistada - Aos bailes, quer de passagem de ano, quer de carnaval ou outro qualquer, podiam ir os sócios, os familiares dos sócios, os amigos dos sócios, mas se algum sócio levasse alguém que fosse indesejável, podia ser chamado à direção e até convidado a sair do club. E chegou-se mesmo a presenciar casos desses, houve um caso de uma rapariga, que era até muito bonita, que foi ao baile, com uma família de um sócio, mas como a rapariga não pertencia à sociedade setubalense, o sócio foi chamado à direção. Não foi convidado a sair, mas levou um grande raspanete. Entrevistadora – Os bailes, eram com jantar servido no salão? Entrevistada - Normalmente nos bailes não se faziam com jantar, mas fazia-se uma ceia, que se organizava previamente, onde se faziam listas com as várias famílias, que organizavam o baile. Estipulava-se através de uma lista, o que cada pessoa levava, levava-se uma mesa grande para o salão, onde se colocavam todas as iguarias, o que resultava normalmente em grandes ceias. E era ali se passavam noites muito agradá-

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veis, onde se dançava e convivia toda a noite até altas horas da madrugada. Foram bons velhos tempos!... Entrevistadora – Também se diz na cidade que os homens do club jogavam a dinheiro e que se perdiam fortunas. Entrevistada - Para o meu pai e mesmo para o meu marido, o club era a segunda casa, os homens de família passavam muitas horas no club, era o ponto de encontro, onde se jogava, bebia e se falava dos negócios. Havia homens aqui na cidade, que passavam mais tempo no club, do que na sua própria casa, alguns arruinaram a sua vida com o jogo, perderam-se fortunas naquele club e muitas famílias da dita “sociedade setubalense”, faliram completamente. Natividade da Silva Segurado Lopes da Silva casou com um médico Dr. José Lopes da Silva, também pertencente à chamada “sociedade setubalense” e sócio do club setubalense. Em solteira, a partir dos vinte anos frequentou o Club, lembra-se do ano do seu primeiro baile foi precisamente em 1937, não faltou a um baile, mas depois de casada, também frequentou o club setubalense, noutra condição é claro, mas nem por isso deixou de envergar os seus lindos vestidos, nos grandes bailes de gala. A entrevistada Manifestou uma grande saudade das festas do Club Setubalense, sobretudo dos bailes.

Um muito Obrigada D. Natividade

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ENTREVISTA - 16/03/2013 – CLUB SETUBALENSE ENTREVISTADO – Dr. Eduardo Soveral Rodrigues (1978) PROFISSÃO - Médico Reformado IDADE – 78 anos

Eduardo Batalha Soveral Rodrigues, médico reformado, sócio do club setubalense desde os 18 anos de idade, foi presidente o Club Setubalense em 1978. Entrevistadora – Fale-me do Club Setubalense, das suas vivências, das memórias e etc… Entrevistado – Falar do Club setubalense é falar de uma vida. Os meus avós, o meu pai já eram sócios e foram também presidentes, portanto desde muito pequeno que comecei a frequentar as festas para crianças, no Natal, no carnaval e depois de adulto. Na minha época de estudante, confesso que não fui um grande frequentador do Club Setubalense, estudei em Coimbra e a vida académica era bem diferente dos ideais do club. O club era muito conservador e para um estudante de Coimbra, aquilo era uma casa de velhos jarretas, com ideias retrógradas. Depois o jogo era na realidade o grande mentor do Club e eu nunca fui grande jogador. Os meus pais é que tiveram uma grande ligação ao Club Setubalense, eram grandes frequentadores das festas e dos bailes. Em 1930 o meu pai tinha terminado o Curso de Medicina em Coimbra e foi organizado um grande baile em sua honra, veio muita gente de Coimbra. Entrevistadora – Existem relatos nos jornais da época que referem essa festa de homenagem ao seu pai, foi mesmo uma grande festa, suponho. As pessoas que vieram de Coimbra eram colegas de Curso? Entrevistado- Sim colegas de curso que trouxeram as famílias, as namoradas, as famílias das namoradas, mas todos da alta sociedade, aliás como sabe, estamos a falar dos anos 30 e nessa altura não era qualquer pessoa que podia estudar em Coimbra. Entrevistadora – Então os seus pais foram os grandes frequentadores do Club Setubalense Entrevistado – Sim sem dúvida, a minha mãe adorava os bailes do Club Setubalense e havia lá para casa muitas fotografias dos meus pais quando se vestiam a rigor, para os bailes. Eles eram um casal muito bonito, pareciam personagens de um filme antigo. Entrevistadora – Era muito bom que conseguisse encontrar essas fotografias, para a exposição permanente, que se irá realizar no Club e até alguns objetos pessoais do seu pai, vestidos antigos que a mãe usava nos bailes e tudo o que considere de interesse.

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Entrevistado – Posso ver o que é que está lá para casa, nós morámos sempre na mesma casa e é capaz de se encontrar muita coisa nos baús. A minha mãe adorava o Carnaval e os bailes de Carnaval do Club tinham muita fama. Quando era pequeno lembro-me de ver as amigas da minha mãe lá em casa, nos preparativos para os bailes. Os casais saíam lá de casa todos mascarados, nós os mais pequenos, eu e os filhos dos outros casais amigos, ficávamos todos em minha casa com as empregadas. Era uma festa!... Entrevistadora – Então promete que vai tentar arranjar material para a exposição? Entrevistado – Prometo, vamos a isso – a ideia é muito interessante!... Entrevistadora – Mas então qual foi a época em que se sentiu mais ligado ao Club? Entrevistado - Eu estive sempre ligado ao Club Setubalense, mas em 1974 foi uma altura muito complicada, porque se temia que as suas instalações fossem ocupadas e fossem destruídas, ou que levassem alguma coisa. Entrevistadora – Mas chegaram a ter ameaças de ocupação? Entrevistado- Não, na verdade não chegámos a ter qualquer ameaça…mas pensávamos que mais dia, menos dia, entrávamos aqui e estava tudo destruído. Então foi nessa altura, que eu e mais uns quantos pernoitávamos aqui, uns no armazém do rés-do-chão, outros no 1º andar, sempre á espera que os tipos que andavam de madrugada pelas ruas a colar cartazes, ou mesmo outros, viessem ocupar as instalações do club. Curiosamente nunca tivemos problemas!... Entrevistadora – Mas muitos edifícios foram ocupados, nessa altura. Porque é que acha que não foi ocupado? Entrevistado – Não sei, talvez por respeito ou então, estava tão mal visto que as pessoas continuavam a evitar passar à porta. Esta altura, apesar de não ter sido ocupado, foi muito má para o club, porque as pessoas, quero dizer, os sócios deixaram de aparecer com medo de serem conotados com a ditadura, porque como é óbvio, quem frequentava o club era uma elite, que não estava interessada em ser vista como tal e até porque dentro dessa elite havia sócios com ideias mais conservadoras, mas também havia quem tivesse ideias progressistas. Entrevistadora – Então o Club a seguir ao 25 de Abril, ficou quase sem sócios? Entrevistado – Sim ficaram poucos sócios. Mas depois foram aparecendo progressivamente outros sócios, houve uma nova leva de sócios, pessoas que regressavam de África, alguns tinham frequentado o Club antes de ir para lá, outros vinham pela primeira vez. Eram pessoas 187


que se conheciam entre si e que falavam uma linguagem diferente da nossa, pois tinham experiências de vida em comum, que nós não tínhamos e por isso deixou de fazer sentido os antigos sócios continuarem, no entanto houve quem continuasse e quem deixasse de vir. Mas o Club foi sempre assim, cheio de nuances. Entrevistadora- Mas apesar de ter vivido sempre ligado ao Club desde criança, só foi Presidente em 1978, alguma razão especial? Entrevistado- Sim havia a minha parte profissional que não permitia, fazia bancos, consultas aqui e ali e para se ser Presidente tem que se ter alguma disponibilidade. Entrevistadora – e depois de reformado? Entrevistado – Depois de reformado há que viver a vida e dar a vez aos mais novos, são os jovens que se têm que dedicar ao Club, eu já fiz a minha parte. Continuo como sócio, pago as minhas quotas, venho cá de vez em quando, mas devo dizer que já cá não está praticamente ninguém do meu tempo. Portanto esta rapaziada nova, que vem ao club, agora com outra motivação, vão ter as histórias deles para contar, as vivências, as recordações, tal como nós, os da minha geração. Entrevistadora- Dr. Eduardo, muito obrigada por ter concedido a entrevista

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ENTREVISTA – 20/02/2013 – CLUB SETUBALENSE

ENTREVISTADO – Jorge Moreira Raposo (Presidente do Club 1999 – 2001) PROFISSÃO - Despachante Oficial Reformado IDADE – 79 anos Jorge Moreira Raposo foi Presidente do Club Setubalense, pertenceu à direção na década de 80 e foi presidente de 1999 a 2001, um período de grande prosperidade e renovação para a Associação. Entrevistadora – Fale-me do Club Setubalense, na altura em que pertenceu à direção e como Presidente da Associação. Entrevistado – Só entrei para sócio do Club Setubalense após o 25 de Abril de 1974. Eu pertencia a famílias humildes e portanto na minha juventude ouvia falar das festas e dos bailes do Club Setubalense, mas nunca tive cá entrada, isto era só para ricos!...A seguir ao 25 de Abril era diferente, au também já tinha uma situação económica diferente, como despachante oficial e por isso a minha entrada como sócio não foi difícil. Entrevistadora – Entrou então como sócio do club logo a seguir a 74? Entrevistado – Não, Não…entrei no início dos anos 80, 1981 salvo erro, primeiro como sócio, depois fiz parte da direção como tesoureiro e como Presidente de 1999 a 2001. Entrevistadora – Quando entrou para a direção, no início dos anos 80, em que situação se encontrava o Club? Entrevistado - O club encontrava-se numa situação muito gravosa no ponto de vista financeiro e as instalações também se encontravam muito degradadas. Quando entrei para sócio nos anos 80 e depois como tesoureiro e Presidente, um dos objetivos principais, foi reabilitar o velho club. Entrevistadora – E quais foram os procedimentos, para reabilitar o velho Club? Entrevistado - Conseguiu-se que entre os associados, houvesse uma sensibilização para se arranjar verbas para arrancarmos com as remodelações. A escadaria de madeira encontrava-se em muito mau estado, a madeira de alguns degraus estava completamente podre, o que colocava em perigo o acesso dos associados ao club e no ponto de vista estético, não era um bom cartão-de-visita. Conseguimos entre todos os sócios, um montante razoável, o que nos permitiu efetuar as remodelações quase ao nível de todas as salas. Substitui-se a escadaria de ma-

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deira, forraram-se quase todas as salas a alcatifa, forrámos também um lambrim a alcatifa na sala da biblioteca, que se encontrava muito degradado. Entrevistadora – Mas o lambrim é em estuque com pintura a imitar marmoreado, o que antigamente se chamava escaiola, forraram a alcatifa? Entrevistado – a alcatifa estava na moda e depois resolvia os problemas do soalho envelhecido. E tínhamos o problema do lambrim da sala da biblioteca, que já tinha grandes bocados a cair e outros que já tinham caído, então rebocaram-se esses bocados, para encher e aplicou-se a alcatifa verde igual ao chão. Entrevistadora – Então e a parte decorativa, também ficou a cargo dos homens da direção? Entrevistado – Não, essa parte ficou a cargo das senhoras. A minha mulher é que se encarregou dessa parte. Juntaram-se umas quantas esposas de sócios e mandaram fazer os cortinados para o salão e para todas as janelas das salas, forraram-se alguns cadeirões que se encontravam em muito mau estado, colocou-se o bar a funcionar admitiu-se um empregado de bar, com um horário completo. Devo dizer que o bar funcionava muito bem, dava bastante lucro. Entrevistadora – E depois desse trabalho de remodelação, como é que funcionava o Club? Entrevistado - Organizaram-se nessa altura grandes eventos: passagens de modelos com vários nomes das passerelles portuguesas, como a miss Portugal; bailes ao som da orquestra de Segundo Gallarza e muitos outros que voltaram a dar ao club muito prestígio. Comprámos loiças novas, as loiças de cozinha que se encontram cá no club, fomos nós que as comprámos, faziam-se grandes jantares no salão, seguidos de baile. O club na altura em que eu presidi à direção, parecia outro, estava muito arranjado, muito limpo, tinha muitos sócios e com o dinheiro das quotas e o dinheiro que se apurava no bar e alguns peditórios que se faziam nos bailes, conseguíamos ter um saldo bastante positivo. Entrevistadora - E quem eram os frequentadores do Club Setubalense nessa altura? Entrevistado – Eram famílias da cidade, que tinham algum prestígio Entrevistadora - Então o Club continuou com o caráter ilitista que sempre teve. Entrevistado – Sim de certa forma, não era toda a gente que vinha ao club, continuou só para sócios e para as suas famílias. Mas era mais aberto, não havia tanta restrição, os filhos podiam trazer os amigos para as festas e para os bailes.

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Entrevistadora – Quando deixou a direção em 2001, deixou o Club? Entrevistado - Depois de ter deixado a direção, continuei sócio do club, facto que ainda mantenho até aos dias de hoje, mas os desentendimentos entre sócios, são sempre o grande problema destas associações e desliguei-me completamente. Pago as quotas mas deixei de vir cá, vim hoje propositadamente porque o Engº Alberto Prata (atual presidente) me telefonou a dizer que estava cá uma pessoa que me queria entrevistar acerca do Club Setubalense. Mas tenho muita pena que uma casa como esta, tenha chegado a este estado de degradação. Isto tudo depende das direções, da cultura dos que presidem e pelo que sei, já ouvia falar do club em miúdo, isto foi sempre um club de jogo, a cultura não era uma grande preocupação. Tudo girava em volta dos negócios e do jogo, muitas famílias ricas perderam tudo aqui. Houve até casos bastante dramáticos e conheço alguns, que ficaram sem nada, para além do dinheiro perderam os bens, as casas, as quintas e outros ganhavam-nas, como é óbvio!...quando já não tinham dinheiro para as apostas, apostavam os bens, conheci casos dramáticos. Mas seria muito bom que houvesse alguém que se interessasse pelo velho club e que desse uma grande volta, por carolice, entenda-se. Estas coisas só funcionam se as pessoas forem dedicadas e desinteressadas, quando existem interesses, começam os desentendimentos. A época em que lhe posso falar sobre o Club, foi esta que acabei de falar, da década de 80 até 2001. Quem lhe pode ser útil, sobre a década de 70 talvez seja o Dr. Eduardo Soveral Rodrigues, é um dos sócios mais antigos do Club, pertence à família de um dos fundadores e a seguir ao 25 de Abril, segundo consta, ficou a dormir lá em baixo no armazém muitas noites com medo que ocupassem o club. O que é que se pode dizer mais sobre o Club Setubalense, que era um Club muitíssimo elitista, isto antes do 25 de Abril de 1974 era impossível alguém que não pertencesse a famílias ricas, entrar aqui, era impossível. Era completamente impossível, eu era logo um deles, a minha família não era rica, era remediada, também não tínhamos nome de família, portanto só após 1974 é que entrei aqui, entrei como sócio e depois fui para a direção. Não sei o que lhe diga mais sobre o club… de facto há muitas histórias, mas não sei se têm interesse para o seu trabalho. Desejo que faça um bom trabalho, sobre o Club Setubalense e que realmente lhe consiga dar uma alma nova Entrevistadora – Esperemos que sim!...um muito obrigada Sr. Raposo

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APÊNDICE II – FICHA DE INVENTÁRIO

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FICHA DE INVENTÁRIO

Nº DE INVENTÁRIO…………………………………………… NOME DA INSTITUIÇÃO………………………………………………………………………………………………… DENOMINAÇÃO E TÍTULO……………………………………………………………………………………………. AUTORIA………………………………………………………………………………………………………………………. DATAÇÃO ……………………………………………………………………………………………………………………. MATERIAL, MEIO DE SUPORTE……………………………………………………………………………………… DIMENSÕES ………………………………………………………………………………………………………………… DESCRIÇÃO …………………………………………………………………………………………………………………. LOCALIZAÇÃO ……………………………………………………………………………………………………………… HISTORIAL …………………………………………………………………………………………………………………… MODALIDADE DE INCORPORAÇÃO …………………………………………………………………………….. DATA DE INCORPORAÇÃO ………………………………………………………………………………………….

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