Jornal Ágora n.º 11

Page 1

JORNAL UNIVERSITÁRIO

11

LABORATÓRIO DO CURSO DE CC/JORNALISMO DO

Instituto Superior da Maia Este suplemento faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias de 24.07.2010, não podendo ser vendido separadamente

Número 11 | Jornal Universitário Temático

Sábado

24|Julho|2010

NOVAS OPORTUNIDADES F U T U R O 6

3

Pág.

ormandos e Formadores Experiência deixa marcas

ma vida nova

5

Pág. AGORA_11_FINAL.indd 1

Por que voltam os adultos à escola?

Pág.

em futuro a atleta olímpica Vanessa Fernandes falou ao Ágora

7

Pág.

m aliciante chamado subsídio

Incentivar as empresas é preciso

4

Pág.

ecorde nas inscrições

portunidade

Fracasso na certificação

5

Pág.

Em Escolas e Empresas

7/22/10 12:36:43 PM


2

Ágora |

A

24/Julho/2010

Uma porta de entrada para diferentes saídas

iniciativa das Novas Oportunidades desempenha um papel crucial, oferecendo, como o próprio nome indica, mais uma oportunidade para que as pessoas consigam completar os estudos. Através do programa Novas Oportunidades é possível adquirir escolaridade, mas também formação direccionada para uma determinada área. Este projecto visa a qualificação e formação das pessoas e prima pelo valor que confere aos conhecimentos interiorizados no decurso de experiências vividas. Segundo Conceição Gonçalves, coordenadora do Centro Novas Oportunidades DouroCabe, no Porto, “o programa integra todas as áreas de saber que a pessoa desenvolveu ao longo da vida”. A mesma explica que se pede a todas as pessoas inseridas no projecto para que contem a sua história de vida. “Não se pretende que as pessoas contem tudo o que viveram, mas que contem alguns episódios de vivências que se liguem à área do saber, às várias competências que foram adquirindo”, esclarece. Jovens e adultos abraçam o programa das Novas Oportunidades, mas a faixa etária dos 35 aos 45 anos sobressai por maior adesão. Além disso, “são maioritariamente as pessoas que já trabalham que se inserem nesta iniciativa”. Trata-se, afinal, de um projecto que se assume como um ponto de partida “para que as pessoas se valorizem profissionalmente.”

Várias etapas

C

omo se pode então ingressar nas Novas Oportunidades? Conceição Gonçalves explica que “as pessoas passam por várias etapas para se integrarem no programa”. A primeira etapa é a entrevista por um técnico de diagnóstico e encaminhamento. Visa a análise

do perfil do candidato e orienta-o para um dos quatro caminhos que o Centro Novas Oportunidades integra: RVCC escolar (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências), cursos EFA (cursos de Educação e Formação de Adultos), CEF (Cursos de Educação e Formação de jovens) ou para uma formação Modular. Pode-se dizer que, nesta fase, é feita “a triagem e o encaminhamento das pessoas”. Dentro do RVCC, que, por sinal, representa o rumo por onde um maior número de pessoas é orientado, existem várias fases associadas a diferentes níveis de escolaridade. Aqui há a fase do B1 que corresponde ao 4º ano de escolaridade, B2 que representa o 6º ano, B3 que equivale ao 9º ano. Pode-se ainda optar pelo Secundário que se traduz na escolaridade até ao 12º ano. No entanto, é possível saltar uma destas fases: “por exemplo uma pessoa que tenha apenas o 6º ano pode fazer o 12º sem ter que passar pelo 9º ano, desde que o técnico tenha concluído que o seu perfil potencia a aprendizagem correspondente ao 12º ano”. Completada a escolaridade por este meio, a pessoa é apresentada a um júri que valida as competências e formaliza a certificação escolar. A pessoa recebe um certificado de validação de competências, útil para que consiga encontrar um emprego mais facilmente.

Diferentes modelos

N

os cursos EFA, a componente prática associa-se à teórica e é por este processo que as pessoas podem enveredar por uma profissão, uma vez que, no final do curso, obtêm uma qualificação profissional. Ao contrário do RVCC, que permite o acompanhamento do curso em part-time, os cursos EFA exigem uma disponibilidade total de horários, o que pode constituir uma desvantagem para uns, enquanto para outros pode traduzir-se num esforço com frutos no futuro. Existem ainda os Cursos de Educação e Formação (CEF) destinados a quem não concluiu a escolaridade obrigatória. Estes cursos oferecem a possibilidade de prosseguir os estudos e /ou adquirir formação direccionada para uma área profissional. Pode ainda acontecer que, após a entrevista inicial, o técnico detecte uma lacuna na escolaridade da pessoa. Exemplo deste facto poderá ser a não conclusão do secundário por se ter apenas frequentado o ensino até ao 11º ano. Neste caso, a

pessoa é encaminhada para uma escola modular onde poderá colmatar essas lacunas. “Este programa acaba por ser a porta de entrada para várias saídas”, afirma Conceição Gonçalves. Para breve, prevê-se a instituição do RVC Profissional, Reconhecimento e Validação de Competências Profissional. Esta nova oportunidade, a implantar dentro de pouco tempo, potencia a obtenção de carteira profissional associada a um certificado de competências validadas. A coordenadora do Centro DouroCabe comenta que “ o RVC Profissional vai surgir na perspectiva de qualificar as pessoas profissionalmente”. A título de exemplo, pelo RVC profissional, uma pessoa pode simultaneamente ficar com o certificado de competências equivalente ao 9º ano e obter a carteira profissional de cabeleireiro.

Programa para toda a população

A

berto a toda a população, o programa Novas Oportunidades faz-nos pensar sobre os meios de que dispõe para potenciar a integração de pessoas com deficiência. Será que o programa está apto à inclusão de uma pessoa cega? Segundo a coordenadora, o programa integra diversas pessoas com deficiências motoras. Quanto à possibilidade de um cego poder incluir-se no projecto, Conceição Gonçalves afirma nunca se ter inscrito uma pessoa invisual. Mas esclarece: nesse caso “a dificuldade seria o Braille e um computador adaptado”. E sublinha: “Pretendese que o programa seja extensível a toda a população”. Concluída a escolaridade nas Novas Oportunidades, as pessoas lançam-se ou continuam no mundo do trabalho mas com maior qualificação, novos objectivos e perspectivas de uma vida melhor. Nem sempre a inclusão no mundo laboral se faz da forma mais simples. Impõe-se a orientação dos formandos. Conceição Gonçalves esclarece que o Centro dispõe de técnicos, todos eles licenciados, existindo duas modalidades diferentes: “o Plano de Desenvolvimento Pessoal que ajuda a perceber o melhor percurso no futuro em relação ao seu trabalho e o Plano Pessoal de Qualificação que ajuda a identificar a área de que a pessoa mais carece para reforçar a sua qualificação”. A aposta na qualificação é, hoje em dia, uma questão de sobrevivência e uma maior instrução representa a abertura de novas oportunidades de emprego.

Susana Azevedo Filipa Fonseca

Oportunidades

Alterou o sistema habitual de avaliação de conhecimentos. Revolucionou os processos de aprendizagem e, sobretudo, o reconhecimento legal de competências. Neste sentido, baralhou as concepções tradicionais de titulação académica. No Básico e no Secundário. Tem muitos apoiantes. E detractores, também. Muita gente já aproveitou a oportunidade. Mas há, ainda, um mundo de oportunidades a descobrir. Fomos conhecer algumas experiências, centradas a Norte. Com reportagens e entrevistas levanta-se o véu ao sistema das Novas Oportunidades. Venha ver connosco. O Editor e-mail: agora.editor.ismai@gmail.com

Ficha técnica: Ágora n.º 11 - Jornal do Curso de Ciências da Comunicação do ISMAI

Design Gráfico: Janine Lafuente, Helder Ventura e Carlos Vasconcelos

Editor: Luis Humberto Marcos (coordenador do curso)

Montagem e acabamento: Criativos Porto GN

Coordenadoras: Helena Campos, Sílvia Santos

Endereço: Instituto Superior da Maia Av. Carlos Oliveira Campos - Castêlo da Maia - 4475-690 Avioso S. Pedro Tel. (+351) 22 982 53 19 - Fax: (+351) 22 982 53 19 - E-mail: info@ismai.pt - www.ismai.pt

Redacção: Ana Filipa Pinto, Célia Paula, Susana Azevedo, Filipe Fonseca, Catarina Costa, Inês Azevedo, Sílvia Santos, Helena Campos, Tiago Moura, Rodrigo Andrade, Ângela Cruz, Ana Guedes, Ana Rodrigues, Diana Carneiro, Susana Carvalho, Cátia Costa, Adriana Moreira, António Colónia, Sandra Silva.

AGORA_11_FINAL.indd 2

Impressão: Naveprinter

www.facebook.com/jornal.agora

7/22/10 12:36:43 PM


3

Ágora |

24/Julho/2010

Directora de Recursos Humanos ao ÁGORA:

E

É preciso empregar pessoas certificadas pelas Novas Oportunidades O programa das Novas Oportunidades tem sido cada vez mais procurado por pessoas com escolaridade reduzida, com o objectivo de aumentarem as suas habilitações. Para sabermos mais sobre o desenvolvimento desta iniciativa, entrevistámos Joana Lopes, Directora Geral do Gabinete de Recursos Humanos do programa. Objectivos, perspectivas, condições de formação, apoios, são alguns dos temas abordados aqui. ntende que as novas oportunidades estão a atingir os objectivos a que se propôs o Governo? Sim, cada vez mais as pessoas apostam no aumento das suas habilitações, até porque o mercado de trabalho tem vindo a tornar-se mais exigente. É um investimento dispendioso, ou as contrapartidas são vantajosas para todos? É dispendioso, naturalmente, mas vantajoso acima de tudo, uma vez que se trata de uma aposta no aumento as habilitações da população, bem como as suas qualificações profissionais, no caso dos cursos de Educação e Formação de Adultos, por exemplo, em que poderá haver esta dupla certificação, a escolar e a profissional. Qualquer investimento visa a obtenção de contrapartidas futuras e no caso das Novas Oportunidades, esta contrapartida traduz-se numa população com mais qualificações e, consequentemente, mais apta para (re) entrar no mercado de trabalho. Quem frequenta as novas oportunidades tem direito a subsídios? Quem frequenta um processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências não tem direito a qualquer subsídio. No entanto, se a frequência for num curso de Educação e Formação de Adultos, os formandos têm direito ao pagamento de uma bolsa mensal, bem como subsídio de alimentação e transporte, caso se justifique.

De onde vêm esses subsídios? Estes subsídios são garantidos pelo POPH, Programa Operacional do Potencial Humano e pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social.

Existem queixas? Cada vez mais existe uma noção dos recursos físicos indispensáveis ao bom desenvolvimento do processo formativo, de modo que, quer as escolas, quer as entidades públicas e privadas que se incluem nesta iniciativa são munidas de equipamentos indispensáveis ao desenrolar da formação, como é o caso, por exemplo, de computadores com ligação à internet e videoprojector.

Acha que isso constitui uma motivação extra? Os subsídios visam tornar este tipo de formação mais aliciante. Estamos a falar de uma população com baixas qualificações, que não encontram facilmente a sua oportunidade no mercado de Este é o número de centros em funciontrabalho. Sendo assim, qualquer amento. Envolvem 12 966 elementos nas subsídio atribuído será sempre equipas técnico-pedagógicos. uma mais-valia. O valor que se Foi anunciado em 2005 que o principal recebe de bolsa, mais os subsídi- objectivo do Governo com este modelo os é considerável e muitas vezes das Novas Oportunidades, era qualificar superior ao que as pessoas aufer- um milhão de activos até 2010. em enquanto desempregadas.

456

Existem boas condições para dar aulas? As escolas estão bem equipadas, mesmo fora dos grandes centros? Esta questão é relativa. Os meios disponibilizados para ministrar a formação são da responsabilidade de cada entidade, pelo que cabe a cada uma providenciar estes mesmos meios de forma a garantir o bom desenvolvimento dos cursos. De qualquer forma, penso que qualquer entidade que se candidate para ministrar este tipo de cursos tenha os recursos mínimos indispensáveis ao seu bom desenvolvimento.

Acha que há docentes suficientes para leccionar todos os conteúdos? Existem muitos e bons profissionais no mercado de trabalho, aptos a desenvolverem os conteúdos programáticos deste tipo de cursos. Penso que não haja falta de recursos neste sentido, o que pode haver é profissionais com disponibilidade limitada, o que condiciona a selecção. O que pode ser feito pelo Governo para que as N.O. sejam um projecto cada vez mais credível e eficaz? Penso que o essencial é continuar com este tipo de iniciativa. Igualmente importante seria um aumento dos incentivos às empresas que se disponibilizem a empregar as pessoas certificadas, através das Novas Oportunidades.

Ivo Araújo Miguel Gomes

Ciências da Comunicação no ISMAI Licenciatura (3 anos) e Mestrado (3 semestres)

Tecnologias e Inovação em Estúdio Multiplataforma Aprendendo a Fazer e fazendo Saber

AGORA_11_FINAL.indd 3

7/22/10 12:36:44 PM


4

E

“Vivemos lá de uma maneira muito empenhada”

Ágora || Ágora

“Novas Oportunidades nunca vão acabar” Em Famalicão, uma aposta para o futuro scola Secundária Camilo Castelo Branco de Vila Nova de Famalicão é uma das 332 escolas a nível nacional que, até 2015, vão receber as obras de Modernização e Reabilitação do Parque Escolar por parte do Governo. Nesta escola funciona um Centro de Novas Oportunidades. O modelo de formação neste centro é diferente da prática habitual da escola. “Não é um processo escolar no sentido em que nós entendemos a “escola”, diz-nos Fátima Cerqueira, directora do Centro, que recebe a Reportagem Ágora num dos contentores da escola. Alguma da semelhança que possa existir na “Camilo” estará nos cursos de educação e formação de adultos, que “funcionam mais nesses moldes”. O objectivo deste tipo de formação “Novas Oportunidades”, “é fazer com que o adulto desperte as competências e se ache capaz de estudar”. Fátima Cerqueira sublinha que há “adultos com vinte ou trinta anos de formação profissional, uma vida social de trinta ou quarenta anos que já adquiriram muitas competências pela vida fora e, muitas vezes, o que acontece é que não têm noção das competências adquiridas.”

A

AGORA_11_FINAL.indd 4

12/Junho/2010 24/Julho/2010

A principal dificuldade do formando será en- seguimos de certa forma gerir as situações, com tender que as competências existem. Por isso, “a muito sacrifício, porque estar com o adulto imtarefa dos técnicos é, muitas vezes, apenas deso- plica muita disponibilidade, e, se for necessário, ficamos tardes inteiras a tratar de pequenos porcultá-las”, como afirma Fátima Cerqueira. Depois de um formando ter passado por um menores.” número de sessões e ter construído, com a ajuda Quando os formandos terminam o percurso nas dos técnicos e professores, o Novas Oportunidades já têm todas as capacidades adquiriseu portefólio, há um trabalho A tarefa dos técnicos é, das para se inscreverem, se o em que os formadores apostam: o contacto directo. Este muitas vezes, desocultar quiserem, no ensino superior. “Eles têm não só condições atendimento individual permite competências como esse direito”, opina ao “adulto” (designação dada ao formando), completar e Fátima Cerqueira. E concretiza: “Há uma quantidade de melhorar o seu portefólio, tornando o percurso mais rápido, normalmente de competências extremamente alargadas e que se o adulto conseguiu cumprir é porque estava per4 a 8 meses. Uma das maiores dificuldades está na alteração às feitamente apto.” rotinas dos formandos. No tempo. “Os horários Quanto ao futuro deste sistema, a directora do pós-laborais não são fáceis para quem tem uma Centro é clara: “As Novas Oportunidades na vida familiar e social”, diz-nos Jorge Morais, for- minha perspectiva nunca vão acabar. A questão que se coloca aqui é que temos uma população mador de Linguagem e Comunicação. Por outro lado, os formadores também sentem adulta que tem um grande défice de qualificação dificuldades no acompanhamento individual. escolar - e até de qualificação a nível profissional Como nos conta a directora do Centro, “con- - e é preciso qualificar a nossa população”.

Rodrigo Andrade Tiago Moura

Há várias razões para voltar a estudar A experiêcia de uma empresa lém das escolas, associações e empresas podem constituirse como Centros de Novas Oportunidades. Na Singesco, Valongo, funciona um dos 456 centros actualmente existentes no país. Aposta-se nesta ideia: há várias razões para voltar a estudar. A reportagem Ágora esteve na empresa e falou com Fernanda Torrié, Formadora de Português e profissional de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências). Na opinião desta técnica, os adultos que abandonaram os estudos têm várias e diferenciadas motivações para os retomarem. Uma das principais razões incide na necessidade profissional, visto que, cada vez mais, as empresas pretendem funcionários com um nível de habilitações superior. Fernanda Torrié explica que “a principal razão é a valorização pessoal e um aumento da auto-estima”. Além disso, acrescenta, “há as necessidades profissionais e há entidades empregadoras que começam a exigir maior grau de habilitação literária aos seus trabalhadores.” Uma das particularidades do Programa consiste na liberdade

que o formando tem de desenvolver o seu próprio processo. Neste sentido, Fernanda Torrié explica que “a grande diferença consiste na ausência de um plano curricular no Processo RVCC, uma vez que cada candidato desenvolve de forma individualizada o seu Processo”. Quanto ao Processo RVCC, refere que ele “assenta na experiência de vida de cada um”. Todos, diz, “têm de demonstrar as competências que estão devidamente contempladas nos Referenciais de Competências Chave, tanto para o Nível Básico como para o Nível Secundário.” Uma das controvérsias geradas à volta do sistema das Novas Oportunidades está relacionada com o ingresso dos alunos que frequentaram determinado plano de estudos no Ensino Superior. São muitos os que se questionam se estes reúnem as bases necessárias para a frequência do ensino universitário. Fernanda Torrié contorna a questão. E acentua a característica principal de “Novas oportunidades”: “não é objectivo deste processo a transmissão de conhecimentos, mas sim o reconhecimento dos conhecimentos já adquiridos.”

Andrea Silva Joana Silva Publicidade

7/22/10 12:36:45 PM


5

Ágora |

24/Julho/2010

Mais de um milhão de inscritos nas ‘Novas Oportunidades’

O

Certificações ficam muito abaixo das expectativas do Governo - Empregados e mulheres dominam as inscrições número de inscritos supera o milhão (1.037.676), mas o conjunto das pessoas certificadas não ultrapassava as 400 mil, até o final de Junho. Estes dados oficiais, fornecidos ao Ágora pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, ficam muito longe da expectativa de José Sócrates, aquando do lançamento do Programa Novas Oportunidades. Corria o ano de 2005 e o Primeiro-Ministro disse que esperava obter um milhão de certificados até ao final de 2010. A avaliar pelos 400 mil certificados até ao momento, José Sócrates não verá cumprido o seu desejo. Estes dados deixam algumas perguntas em aberto: Os inscritos desistem? A maioria tem fracas competências para qualificar e por isso não é certificada? O processo de certificação é mais apertado do que pensavam os inscritos? Do total de inscritos são os empregados quem mais procura qualificar e validar as suas competências, representando 63% das inscrições, o que significa quase o dobro do número de inscritos desempregados, que são apenas 35%. As mulheres são as que mais acorrem aos centros

Novas Oportunidades (53%), deixando para trás os homens (47%). Em termos regionais, o Norte aparece com maior percentagem de inscrições (43%), seguindo-se o Centro do país (23%), e Lisboa / Vale do Tejo com uma percentagem de 21%. Para trás ficam o Alentejo (8%), o Algarve (4%) e a Região Autónoma da Madeira (1%). Já a Região Autónoma dos Açores, não regista até ao momento nenhum Centro de Novas Oportunidades. A maior parte dos inscritos procura este Programa para concluir o Ensino Básico (53%). Para a conclusão do Ensino Secundário regista-se uma menor percentagem: 47%. Em termos etários, são as pessoas entre os 35 e 44 anos que mais afluem às Novas Oportunidades (31%). Segue-se a faixa dos 25-34 anos com 29% de inscritos e depois as idades compreendidas entre os 45-54 anos (20%). Os mais jovens, entre os 18-24 anos surgem a seguir com apenas 13%. Os mais velhos (com 65 anos ou mais) registam a fatia mais pequena do bolo (1%).

Helena Campos

Formadores são marcados e deixam marcas

M AGORA_11_FINAL.indd 5

As Novas Oportunidades trouxeram mudanças, tanto para quem decidiu “embarcar” nesta aventura de aprendizagem, como para os ‘professores’. Trata-se de um processo novo que não deixa indiferentes nem formadores, nem formandos. otivada pela formação, mais concretamente pela “formação de adultos”, Fátima Guimarães, é técnica de RVCC da Associação Comercial e Industrial de Vila do Conde. Falar em Novas Oportunidades é, para ela, falar em nova metodologia e política de trabalho. Primeiramente, teve de se moldar a um novo horário de trabalho, dado que em geral as sessões são em horário pós-laboral. Mais: “é preciso estar actualizada sobre a formação de adultos”. Diariamente várias são as pessoas que procuram as Novas Oportunidades para remendarem ‘o passado’. Todavia, muitas são as controvérsias em relação a este sistema de aprendizagem, que faz com que seja mesmo alvo de dúvidas em relação à qualidade e facilidade. Questionada acerca destas críticas, Fátima Guimarães afirma que “não está nada errado”.

Porque “em tudo, há sempre um senão.” Enquanto formadores, devem motivar os seus formandos a trabalhar âmbitos específicos e não apenas contar a história de vida. Existem formadores para cada área específica das Novas Oportunidades. São elas: Linguagem/ Comunicação, TIC (Tecnologia de informação e Comunicação), Matemática para a Vida e Empregabilidade e Cidadania. É através destas áreas que os candidatos realizam um portefólio com as diversas actividades propostas na aprendizagem. Os formandos aprendem através da sua história e experiência de vida a cumprir os objectivos. Para se conseguir exercer a carreira de formador, este terá que ter uma licenciatura, havendo preferências por determinadas áreas, como a Sociologia, Ciências da Educação e Psicologia.

Além disso é necessária a aquisição do CAP (Certificado de Aptidão Profissional de Formadores), tal como nos explica Fátima Guimarães. Nem sempre é fácil “formar” num curso de Novas Oportunidades. O material de estudo é muito limitado, apenas existem manuais para formadores. Por isso, como explica Fátima Guimarães, precisamos de “estar sempre em constante actualização”. Neste processo das Novas Oportunidades, os formadores consideram-se mais companheiros do que “mestres”. Este é um processo metodológico que deixa marca em ambas as partes, formadores e formandos. “As marcas que nos deixam é que esta metodologia é cada vez mais válida e não deve terminar”. Fátima Guimarães acrescenta: “as marcas que damos aos adultos são a vontade de continuar e querer saber mais”.

Filipa Pinto Célia Paula Publicidade

7/22/10 12:36:46 PM


6

Ágora |

O

s principais motivos que levam as pessoas a escolherem as Novas Oportunidades são, sem dúvida, “um aumento salarial ou uma subida de posto no seu local de trabalho.”-quem o diz é Hélder Machado, coordenador do Centro de Novas Oportunidades de São Pedro de Rates, Póvoa de Varzim.

24/Julho/2010

Salários e ascensão na carreira motivam escolhas dos formandos Este é um dos centros mais antigos do concelho e conta com mais de um ano de actividade. Segundo Hélder Machado, que é também formador, “oo processo Novas Oportunidades, os alunos validam competências e estruturam a sua vida”. Por norma, os adultos que ingressam nas novas oportunidades trazem percursos de vida muito ricos e diversificados e o” primeiro impacto é crucial em alguns casos”. As horas de cada unidade curricular são precedidas por uma “entrevista individual” com Técnicas do processo, que avaliam as competências e o currículo de cada aluno. A validação de competências é feita com base no dia-a-dia de cada um. Se, por exemplo, “tivermos aqui um carpinteiro e supondo que ele está a tratar de construir umas escadas, ele vai ter que saber as medidas, calculá-las todas. Nesses cálculos, ele vai validar parte da Matemática”, explica-nos Hélder Machado. A metodologia do processo de reconhecimento, validação e certificação de competências passa pela “construção de um trabalho pessoal, de um Portefólio Reflexivo de Aprendizagens e na sua apresentação final perante um júri.” Com este processo, os alunos das novas oportunidades trabalham

extra-escola e vão ao centro apenas uma vez por semana. Uma vez que o ensino, actualmente, está mais virado “para a teoria e muito pouco para a prática. As novas oportunidades estão muito viradas para a prática, porque conhecimentos já as pessoas têm.” Com base nisto, nas novas oportunidades existem “formadores para todos os tipos de áreas” e digo formadores porque nós apenas validamos, não ensinamos conteúdos.” Este processo obriga, ainda assim, a alguns requisitos da parte dos alunos. O formando tem de ter pelo menos três anos de descontos na Segurança Social, o que faz com que tenha, no mínimo, 18 anos de idade. Os alunos precisam de ter tido já um primeiro contacto com o mundo laboral, partindo do pressuposto que recorrem a este processo para um melhor desempenho no seu emprego. No que se refere às saídas profissionais deste processo, Hélder Machado conclui que “nem todos pretendem seguir para o ensino superior”. E sublinha: “isso quase nunca acontece, porque, apesar de tudo, as universidades não estão adequadas a estes alunos e eles próprios não têm as bases requeridas para o ensino superior”. Como sempre, “há e haverá excepções.”

Sílvia Santos Helena Campos

Dois testemunhos de sucesso

M

Rui Ferreira e Joaquim Ribeiro completaram o curso de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) no centro de Novas Oportunidades da CESPU. Une-os a classificação máxima que os leva a ver com outros olhos o futuro profissional.

Movido pela “vontade própria” de realizar um sonho antigo, Rui Ferreira ingressou nas Novas Oportunidades para completar o ensino secundário. Encontrava-se no 11º ano, na área de Científico-Natural, e pretendia ser enfermeiro, mas o serviço militar levou-o a abandonar os estudos. Como ele próprio confessa, foi “o gosto de aprender e o querer romper com um certo comodismo” que mudaram o rumo de Rui Ferreira. Joaquim Ribeiro, outro aluno, também ingressou neste projecto para “tentar corrigir um erro do passado”. Frequentava, igualmente, o 11ºano, no ensino nocturno, quando abandonou os estudos. Outra das razões que levou Joaquim Ribeiro às novas oportunidades foi o facto de «ficar habilitado a frequentar um curso de formação profissional para o qual, entre outros era

necessário o 12ºano». O portefólio que elaborou apenas serviu para «demonstrar os conhecimentos adquiridos em várias áreas do nível privado e profissional, institucional, macro estrutural e cidadania», ao longo da vida. Já Rui, para se certificar com a classificação máxima de 20 valores, elaborou um portefólio composto por 183 páginas. Contou com a ajuda dos «livros das filhas do 5º ao 11ªano» e com a leitura de jornais diários, nomeadamente, o JN, as revistas DECO Proteste e a pesquisa em várias enciclopédias.

Uma nova forma de olhar o mundo Rui Ferreira diz-se recompensado. As Novas Oportunidades despertaram nele «competências inatas e latentes». O processo terá «consequências positivas em muitos vectores” da sua vida. Para Joaquim Ribeiro, todo o sistema RVCC não foi um es-

forço. A sua autobiografia foi «elaborada com muito gosto e foi um prazer recordar várias etapas da vida”.

Uma porta aberta para o futuro Rui Ferreira, técnico de contabilidade, afirma-se «mais confiante, motivado e com vontade de estudar». Poderá agora iniciar um curso intensivo de contabilidade para a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (TOC). «No programa Novas Oportunidades não existe qualquer facilitismo para obter qualificações» - esta é a opinião de Rui Ferreira, que sentiu “um elevado nível de exigência”. Joaquim Ribeiro tem uma posição diferente. “Existe um pouco de facilitismo na sessão de júri final”. Para ele tudo depende do espírito com que se encara esta experiência: “se se iniciar o curso com disponibilidade, empenho e atenção às “dicas” dos formadores, torna-se fácil”.

Ana Guedes Ana Rodrigues Ângela Cruz Publicidade

AGORA_11_FINAL.indd 6

7/22/10 12:36:47 PM


7

Ágora |

24/Julho/2010

Vanessa Fernandes ao Ágora:

C

om simpatia e sentido de humor, Vanessa Fernandes recebenos na sua casa, em Gaia. A entrevista, curta e incisiva, mostra uma atleta que pensa no seu futuro fora do desporto. Qual a razão para entrar nas novas oportunidades? Primeiro porque sempre quis continuar a estudar e depois falaram-me nisso e explicaram-me direito o que era, e como quero mesmo acabar o 12º ano, achei que era uma boa oportunidade para mim. Além de tudo, a vida profissional que tenho não é fácil para conciliar com um horário de uma escola normal, e por isso achei que as novas oportunidades me ajudariam a concretizar esse objectivo. De que maneira é que as novas oportunidades a ajudaram profissionalmente? Profissionalmente ainda nada, talvez ajudaram-me pessoalmente, porque é um objectivo pessoal e penso que toda a gente deve ter o 12º ano, não como escolaridade obrigatória mas sim como uma realização pessoal. Apesar de preferir terminar o 12º ano numa escola normal com todas as disciplinas importantes, como a matemática e outras, a minha vida não mo possibilitou.

“O meu futuro não passa pelo desporto” Vanessa Fernandes, atleta olímpica de triatlo, com 24 anos e natural de Perosinho, Vila Nova de Gaia, foi uma das caras da campanha ‘Novas Oportunidades’. A atleta iniciou a sua carreira em 1999 e não se preocupa apenas com o desporto. Os estudos fazem também parte da vida de Vanessa Fernandes. Optou pelas Novas Oportunidades para prosseguir os seus estudos e garante ter sido “a melhor opção ou pelo menos a mais adequada naquele momento.” Com simpatia e sentido de humor, Vanessa Fernandes recebe-nos na sua casa, em Gaia. A entrevista, curta e incisiva, mostra uma atleta que pensa no seu futuro fora do desporto . Como é que teve conhecimento das novas oportunidades? Foi a partir do desporto escolar, numa entrega de prémios a que fui. Falaram-me acerca disso e, na escola onde eu estava, em Oeiras, esse sistema já existia e, por isso, inscrevi-me. Quais as maiores diferenças que encontra entre uma escola normal e as novas oportunidades? Não há comparação, porque não existe aquele rigor em que temos de tirar boa nota a todas as disciplinas para podermos passar, e ter uma boa média para podermos entrar para a faculdade. É totalmente diferente. Mas temos na mesma de ter conhecimentos em todas as áreas. Sem dúvida alguma a escolaridade normal é mais difícil, porque é nela que nos aplicamos essencialmente quando estudamos. Qual foi o curso antes de entrar opor tuni-

que frequentava para as novas dades e depois? Quando andava no 12ºano era a área a que agora corresponde ciências e tecnologias. No entanto, nas novas oportunidades não há cursos, há diferentes formas de o fazer, em que podemos ir sempre as aulas ou então ir só duas vezes por semana e construir o nosso próprio livro que abrange cerca de 80 pontos e cada um relaciona-se com um assunto diferente. Em que ano escolar abandonou os estudos? Foi no 11º ano

Qual o motivo? Primeiro porque me mudei para Lisboa e me inseri num grupo onde só queria e só pensava no desporto e, também, a maior parte dos meus colegas já estava na faculdade. Eu era a mais nova do grupo e ainda estava no secundário. Talvez me tenha faltado aquele apoio para ter vontade de ir para escola porque incuti a mim própria que estava Vanesa Fernandes nos Jogos Olímpicos de Pequim

AGORA_11_FINAL.indd 7

Vanesa Fernandes em fim de prova ali por causa do desporto e foi por isso que lutei, foi a opção que fiz naquele momento. Talvez não a voltasse a fazer hoje em dia. Tenciona futuramente usufruir do curso em termos profissionais? Eu gostava, gostava de tentar ir para a faculdade mas vai ser complicado porque já tenho alguma idade, e também não sei se tenho coragem de entrar agora numa faculdade. Já vejo isso como um mundo um bocadinho a parte de mim. E que curso é que gostaria de frequentar na faculdade? Nunca pensar em desporto. Gostava de seguir uma área relacionada com nutrição, ou fisioterapia. Gosto muito do mundo da medicina, porque sempre foi uma área que me cativou desde pequenina.

Catarina Costa Inês Azevedo 7/22/10 12:36:48 PM


última

Ágora |

24/Julho/2010

Do Funchal para S. Paulo

AGORA_11_FINAL.indd 8

cidade de S. Paulo acolhe, em Agosto de 2011, o 1º Congresso Mundial de Comunicação IberoAmericana. Segundo Marques de Melo, Presidente da CONFIBERCOM, trata-se de “estabelecer um mapeamento das redes de comunicação ibero-americanas existentes no Mundo”. Este congresso mundial esteve em debate no Porto, durante a reunião da direcção da Confederação Ibero-Americana de Comunicação (CONFIBERCOM), realizada no Museu Nacional de Imprensa. A abordagem do tema prosseguiu na 4ª f, 21, na Universidade do Minho. O objectivo essencial do Congresso passa por alargar as fronteiras da comunicação, desenvolvendo acções destinadas à “consolidação do saber comunicacional ibero-americano”. O Presidente da CONFIBERCOM, falava ao Ágora, no final daquela Reunião cuja agenda Reunião da Direcção da CONFIBERCOM no Museu Nacional da Imprensa tinha como ponto central o Congresso do Brasil. realizado na Universidade da Madeira e que foi coberto pelo Ágora. Na perspectiva de Marques de Melo, é importante “despertar o interesse de todas as comunidades mundiais ligadas à Promover o debate e a produção científica ibero-americana, no campo da Comunicação, tendo em vista a importância das línguas oficiais e as área da comunicação ibero-americana”. A Confederação Ibero-Americana de Comunicação foi fundada a 18 de culturas, são pontos fulcrais na missão da Confibercom e que estarão preAbril de 2009, no Funchal, no âmbito do XI Congresso IBERCOM, sentes no congresso mundial de S. Paulo. Sílvia Santos

Publicidade

Organizado por alunos do ISMAI, o 3.º Congresso Estudantil de Comunicação contou com dezenas de comunicações.

Ciências da Comunicação

A

Brasil prepara Congresso Mundial de Comunicação Ibero-Americana

Matriz Inovadora no ISMAI Licenciatura com especialidades: > Jornalismo > Comunicação Organizacional > Marketing e Publicidade

Mestrado com especialidades: > Jornalismo Audiovisual > Comunicação Electrónica > Comunicação Organizacional

Visite o Estúdio Multiplataforma Leia o Jornal ÁGORA em www.ismai.pt 7/22/10 12:36:54 PM


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.