de concentração plasmática (Cmax) da lidocaína e reduzindo, assim, a toxicidade 30. A anestesia epidural com lidocaína e clonidina na dose de 1mcg/kg em cães proporcionou analgesia para a OSH na maioria dos casos, com bom miorrelaxamento e sem alteração cardiorrespiratória significativa 31. Considerando-se os efeitos indesejáveis de êmese e postura de Schiff-Scherrington, a clonidina associada à lidocaína parece ser efetiva e segura para anestesia epidural em cadelas submetidas à OSH, desde que se complemente a anestesia quando necessário 31,32. A xilazina por via epidural na dose de 0,4mg/kg diminuiu a CAM do isofluorano em torno de 33%, apresentando poucos efeitos cardiopulmonares 33 Anestésicos dissociativos A cetamina é um anestésico dissociativo, capaz de produzir um estado singular de analgesia e anestesia, por meio da dissociação sensorial. Apresenta efeito simpatomimético, podendo causar excitação do SNC. Por via epidural, praticamente não causa alteração cardiorespiratória 19,34. Em cães, a excreção é realizada 91% pela urina e aproximadamente 3% pela bile e pelas fezes. A cetamina pode produzir neurotoxicidade quando aplicada por via espinhal. Essa ação foi atribuída ao clorobutanol, preservativo utilizado na preparação da cetamina. Quando administrada por via epidural, deve ser preferencialmente associada a outro agente anestésico, como um opióide ou anestésico local 19,35, para produzir analgesia e/ou anestesia satisfatória, viabilizando em alguns casos a realização de OSH 19. A cetamina administrada isoladamente no espaço epidural não foi efetiva como analgésico pós-operatório, mas potencializou os efeitos analgésicos da morfina, atenuando seus efeitos colaterais 36. A solução clínica aquosa mais tradicional disponível é uma mistura racêmica que contém quantidades iguais de dois isômeros: S(+)- cetamina e R(-)cetamina. Tanto nos animais quanto no homem, a forma S(+)- cetamina é três a quatro vezes mais potente para alívio da dor e, em doses analgésicas equipotentes, produz poucos distúrbios psíquicos 72
e menos agitação do que a R(-)- cetamina. Atualmente, a forma S é comercialmente disponível, porém há poucos estudos de seu uso em anestesia epidural. Seu efeito analgésico se manifesta por meio de vários mecanismos, como anestésico local, antagonista não-competitivo de receptores N-metil D-aspartato (NMDA), opióide 37,38, possível antagonista muscarínico 9,39,40; também age em receptores monoaminérgicos 40. Essa interação complexa dificulta a determinação do local específico do efeito analgésico produzido pela cetamina 9, e sua distribuição para o plasma e líquor ocorre em aproximadamente vinte minutos após a aplicação epidural 41. A administração de cetamina por via epidural produz analgesia cutânea em cães, com mínimo efeito hemodinâmico 42. Na dose de 3,5mg/kg por via epidural em cães, viabilizou a realização de cirurgias que variaram de 30 a 45 minutos 43. Opióides A administração epidural isolada de opióides promove o alívio da dor visceral e somática em decorrência do bloqueio seletivo de impulsos nociceptivos, não interfere nas funções sensorial e motora e não deprime o SNC 1. A administração de opióides pela via epidural oferece a vantagem de produzir uma analgesia mais prolongada – com doses significativamente menores e menor sedação – do que a administração parenteral dessas mesmas substâncias 9. A analgesia por via epidural ocorre por inibição da dor no corno dorsal da medula espinhal, inibição das vias somatossensoriais aferentes supraespinhais e ativação das vias inibitórias descendentes 1. Os fármacos mi agonistas, como a morfina, além de causarem analgesia e sedação, podem promover outros efeitos, como depressão cardiorrespiratória, hipotermia, náusea, vômito, prurido e retenção urinária 44,45. Em cães, a administração epidural de morfina produz analgesia de longa duração em torno de 24 horas, com poucos efeitos colaterais 46,47, reduzindo a concentração mínima (CAM) do halotano 47. Podem ocorrer efeitos sistêmicos discretos, com redução da freqüência cardíaca e da pressão arterial.
O butorfanol, opióide sintético com ação antagonista nos receptores mi e ação agonista nos receptores kappa 48, promove analgesia e sedação com efeitos colaterais mínimos 48,49,50. É cerca de vinte vezes mais lipossolúvel e três a sete vezes mais potente que a morfina 1. Por via epidural promove analgesia por duas a cinco horas 19, em dose similar ao uso parenteral 1, diminuindo a concentração alveolar mínima CAM do isofluorano, com efeitos cardiorrespiratórios mínimos, mantendo a analgesia cutânea por três horas após o fim da anestesia com isofluorano 51. A buprenorfina é outro opióide, caracterizado como agonista parcial do receptor mi e antagonista no receptor kappa; dessa maneira, o aumento da dose não apresenta efeito significativo 52. Possui período de latência mais longo que os demais opióides, devendo ser administrada cerca de cinqüenta minutos antes que o seu efeito analgésico seja requerido. Essas características tornam a buprenorfina extremamente indicada para analgesia pós-operatória de cães e gatos. Pode ser utilizada na dose de 0,01mg/kg pela via epidural, promovendo analgesia por quinze a dezoito horas. Entretanto, quando associada ao anestésico local, não causa analgesia suficiente para a realização de OSH em 66% das cadelas 53. O tramadol é um analgésico de ação central, com diferenças dos agonistas opióides quanto à ligação, à atividade e ao metabolismo, associadas ao fato de que é composto por uma mistura racêmica de dois enantiômeros 54, cujas ações complementares e sinérgicas resultam em analgesia. É o análogo sintético da codeína, embora tenha menor afinidade a receptores opióides do que esta e menor potencial à tolerância e à depressão respiratória do que outros agonistas opióides, não causando liberação de histamina 55. A sua afinidade pelo receptor mi é baixa, aproximadamente 6.000 vezes menor que a da morfina. Já o metabólito o-desmetiltramadol tem afinidade muito mais pronunciada por esse receptor 56. Portanto, a ação analgésica do tramadol é inibida apenas parcialmente pela naloxona, sugerindo um outro mecanismo de ação 54. Quando associado à lidocaína, não produz alteração dos parâmetros cardiorrespiratórios, não afeta a temperatura
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 70, setembro/outubro, 2007