Alguns pesquisadores supõem que a isquemia seja responsável pela reabsorção pós-natal de parte ou de todo o processo odontóide, acreditando que o desenvolvimento deficiente dos centros de ossificação seja causa improvável da má-formação do processo odontóide 12. A angulação dorsal congênita do processo odontóide reduz a distância entre a medula espinhal e o canal ósseo e, portanto, aumenta o fator de risco nos casos de instabilidade 4. A agenesia do processo odontóide causa menor lesão à medula que um processo odontóide dorsalmente desviado 5. Raramente, a proliferação e o crescimento demasiado do processo odontóide podem ocasionar a compressão da medula espinhal 13. A instabilidade da articulação atlantoaxial pode resultar da perda de sustentação ligamentar entre o atlas e o áxis 14. A falta de sustentação ligamentar, devida à formação inadequada dos ligamentos Rafael Festugatto
Figura 1 - Radiografia em incidência ventrodorsal da articulação atlantoaxial com ausência do processo odontóide Rafael Festugatto
Figura 2 - Processo odontóide normal (seta)
alares, apicais, transverso ou dorsal para a articulação atlantoaxial, poderá ocorrer em combinação com o desenvolvimento normal do processo odontóide, resultando em instabilidade da articulação 7. A instabilidade atlantoaxial pode ser ocasionada por ruptura ou alongamento do ligamento atlantoaxial dorsal, com o processo odontóide normal, ou pela ausência do ligamento transverso do atlas 8. O ligamento transverso mantém o processo odontóide no assoalho do canal vertebral 15. O processo odontóide é mais propenso a anomalias em animais de raças miniaturas, devido às aberrações ocorrentes durante a oclusão da placa fisária de crescimento 5. As alterações congênitas que podem ocasionar a instabilidade da articulação atlantoaxial são geralmente observadas em cães jovens, de ambos os sexos, nos quais o tamanho e o peso da cabeça são desproporcionais à força do suporte ligamentar 4. Cães de raças toy, especialmente poodles, yorkshires terriers, dachshunds miniatura, chihuahuas e pomerânios com menos de um ano de idade, são freqüentemente acometidos pelas más-formações congênitas do desenvolvimento 8,13,14,16. Entretanto, podem ocorrer más-formações congênitas em animais de outras raças 9, inclusive em cães de raças de grande porte como rottweilers e dobermans pinscher 8. A instabilidade atlantoaxial em cães pode estar associada à má-formação occipitoatlantoaxial 17. A instabilidade atlantoaxial traumática pode ocorrer em cães de qualquer raça, idade ou sexo 4, assim como em felinos de todas as raças, geralmente devido a ruptura dos ligamentos atlantoaxial ou fratura do processo odontóide em sua junção com o áxis 7. Fraturas do corpo do áxis deixam o processo odontóide ligado ao atlas, causando menor traumatismo à medula espinhal do que a ruptura de ligamento(s) 5. Os casos clínicos de instabilidade atlantoaxial geralmente resultam da combinação de fatores congênitos e traumáticos. Um animal com ausência congênita de suporte para o processo odontóide sofre enfraquecimento progressivo do ligamento atlantoaxial dorsal, que pode ser rompido, quando submetido a um traumatismo de pequena monta, precipitando a instabilidade 4,18. Em alguns casos, cães com anormalidade
congênita podem ter vida normal até a idade adulta, sendo vitimados pela IAA em virtude de um traumatismo que seria rotineiro para animais normais 9. Os sinais clínicos associados à instabilidade atlantoaxial congênita podem ter surgimento agudo, podem ser lentamente progressivos, ou podem ser intermitentes. Na instabilidade atlantoaxial traumática, os sinais clínicos surgem agudamente 7. Os sinais neurológicos refletem compressão da medula espinhal e são variáveis 6. Geralmente os pacientes apresentam dor cervical, sendo que a flexão ventral da cabeça freqüentemente exacerbará a dor cervical e poderá piorar a condição neurológica 3,10. Graus variáveis de deficiências proprioceptivas ou motoras apenas nos membros pélvicos, ou em todos os quatro membros, atitude de proteção do pescoço e tetraparesia são sinais clínicos que podem ser observados em animais com subluxação atlantoaxial 5. Embora possa ocorrer em alguns animais 7,8,15, a tetraplegia é raramente encontrada, visto que lesão dessa gravidade na medula geralmente conduz a falência respiratória 6. O traumatismo grave de medula espinhal, em decorrência de instabilidade atlantoaxial, pode resultar na morte do animal 7. Diagnóstico O diagnóstico da instabilidade atlantoaxial é geralmente baseado nos sinais clínicos, na raça, na idade, nos dados da anamnese, na avaliação neurológica e nos exames radiográficos 5. Na maioria dos casos os exames radiográficos fornecem o diagnóstico, sendo que o animal deve estar sob anestesia geral para a obtenção de posicionamento adequado 6. Radiografia de boa qualidade feita com o animal em decúbito lateral e o pescoço em posição “normal” pode ser suficiente para demonstrar aumento no espaço atlantoaxial dorsal. Se esse posicionamento não for conclusivo, realizase uma radiografia em decúbito lateral com o pescoço flexionado, que, vale ressaltar, pode agravar as lesões à medula espinhal 4,7,8,19. Um intervalo de 4 a 5mm entre a lâmina do atlas e a espinha dorsal do áxis possibilitará o diagnóstico de instabilidade atlantoaxial 19 (Figura 3). O processo odontóide pode ser mais bem visualizado na incidência radiográfica
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. n. 76,109, setembro/outubro, 2008 Clínica Veterinária, Ano XIX, março/abril, 2014
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