Clínica Veterinária n. 110

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MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Gatos ferais: quem são, como surgiram e qual a sua importância

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atos domésticos (Felis catus) podem ser considerados domiciliados, semidomiciliados, não domiciliados ou ferais. Isso porque os gatos, por diferentes razões, podem perder o contato com as pessoas e/ou com outros animais e retornar completa ou parcialmente ao seu estado selvagem. Os gatos ferais são diferentes dos não domiciliados porque não permitem a aproximação de pessoas. Apesar de também estarem nas ruas, vivem em colônias urbanas localizadas em forros de prédios e locais abandonados, e podem ser completamente independentes dos seres humanos, ou depender apenas do alimento de seus mantenedores. Mesmo com a mortalidade de metade dos filhotes, estudos recentes

Figura 1: Corte de ponta de orelha esquerda de fêmea felina

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mostram que o aumento de animais sem controle reprodutivo é limitado somente pela capacidade de o ambiente suprir suas necessidades essenciais. A reintrodução do gato feral adulto ao convívio humano geralmente tem resultados insatisfatórios e depende da sua prévia relação com as pessoas, da dessocialização e da personalidade do indivíduo. Como a socialização intra e inter-espécies do gato ocorre entre 2 e 8 semanas de idade, os gatos jovens apresentam mais sucesso nessa fase inicial da vida. Estudos norte-americanos apontam como o melhor método de manejo populacional o sistema Trap-NeuterReturn –TNR – (Captura, Esteriliza, Devolve – CED) que consiste em: captura dos gatos ferais, esterilização cirúrgica, cuidados veterinários preventivos (vacinação, vermifugação e identificação com corte de ponta de orelha) e devolução ao local de origem. Esse método permite o monitoramento da colônia, fazendo com que os gatos se tornem sentinelas para doenças, e controla o aumento do número de animais, prevenindo o nascimento de filhotes. O corte de ponta de orelha (ear tipping) é o método de identificação de gatos ferais esterilizados mundialmente aceito, pois trata-se de identificação permanente que facilita a visualização à distância sem causar danos ao gato castrado. Os brincos, tatuagens, coleiras e microchips são

menos visíveis, têm custo mais elevado e podem causar danos físicos e comportamentais a esses animais. Esse procedimento não contraria a resolução n. 877/2008 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que trata das cirurgias mutilantes e/ou estéticas sem indicação clínica em pequenos animais, pois o corte de orelha é feito sob anestesia e não impede a expressão do comportamento natural da espécie, além de prevenir a captura desnecessária de animais já castrados pela visualização à distância nos programas de manejo populacional. O padrão internacional de marcação é feito com um corte do quarto distal da orelha – não maior que 3/8 de polegada (9,525 milímetros) e proporcionalmente menor em filhotes –, sugerindo-se apenas o corte da orelha esquerda em fêmeas e apenas da orelha direita em machos, de modo a fornecer pela fácil visualização o gênero dos animais para futuros estudos epidemiológicos e/ou etológicos (Figura 1). Existem vários relatos de colônias de gatos ferais que recebem cuidados diários e são monitorados por voluntários ou por organizações não governamentais (ONGs) no Brasil, como Bicho no Parque em São Paulo, o grupo Arpa Brasil em Goiânia e o Zoológico do Rio de Janeiro, entre outros (Figura 2). No Rio de Janeiro, os animais foram recapturados ao

Clínica Veterinária, Ano XIX, n. 110, maio/junho, 2014


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