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Anatomia do cotovelo e etiologia de suas principais afecções A articulação do cotovelo é formada pelos ossos úmero (Um), rádio (Ra) e ulna (Ul), que se articulam com precisão (Figura 1). A porção distal do úmero (Um) é o côndilo umeral, formado pela tróclea (porção central e medial do côndilo) e o capítulo (porção lateral). A tróclea do úmero articula-se com a incisura troclear da ulna, formando a articulação umeroulnar. O capítulo do úmero articula-se com a cabeça do rádio, formando a articulação umeroradial 29. A cabeça do radio articula-se com a incisura ulnar, formando a articulação radioulnar, que representa a maior parte da articulação do cotovelo 23,29 e permite a rotação do antebraço 23. A articulação umerorradial suporta a maior parte do peso do membro torácico, e a articulação umeroulnar estabiliza e restringe o movimento da articulação no plano sagital 29. Os movimentos laterais do cotovelo são mínimos, devido aos fortes ligamentos colaterais e ao encaixe do processo ancôneo (PA) da ulna na profunda fossa do olécrano do úmero 29. Observam-se ainda na figura 1 detalhes anatômicos ósseos tais como o processo coronoide medial (PCM), o processo coronoide lateral (PCL), o côndilo umeral (EL) e o tubérculo do olécrano (TO). O processo ancôneo da ulna é um centro de ossificação secundário, que se mineraliza entre dez e dezesseis semanas de idade e completa sua fusão na ulna com aproximadamente vinte semanas 7,30. A partir de então, caso seja observado separadamente do olécrano, já pode ser considerado como não união do processo ancôneo (NUPA). A etiologia exata da NUPA não está completamente elucidada 7. Fatores traumáticos, metabólicos e genéticos têm sido apontados como causas de NUPA 7. A osteocondrose foi definida como uma condição idiopática caracterizada pela interrupção da ossificação endocondral 31. Essa interrupção pode causar afilamento e retenção da cartilagem, necrose da camada basal da cartilagem articular retida, defeito em osso subcondral, fratura subcondral e produção de
Lenin Arturo Villamizar Martinez
sabe-se que displasia do cotovelo é o nome dado a um conjunto de condições que afetam a articulação umerorradioulnar, como fragmentação do processo coronoide medial (FPCM), osteocondrose/osteocondrite dissecante da porção medial do côndilo do úmero (OCM), não união do processo ancôneo (NUPA) e incongruência articular (IA) umerorradial, umeroulnar e/ou radioulnar 1,5,7,9,11-17. A própria etimologia da palavra displasia, “desenvolvimento anormal”, ajuda a definir esse termo 1. Alguns métodos diagnósticos têm sido amplamente utilizados para detectar afecções da articulação umerorradioulnar: radiografias simples, artroscopia 1,4,5,9,14,15,18-22, ultrassonografia 23, tomografia computadorizada 1,4,5,9,14,15,18-22, ressonância magnética 3,24,25,26 e cintilografia 27,28. Dentre as modalidades de imagem disponíveis e financeiramente mais acessíveis, a tomografia computadorizada oferece uma minuciosa avaliação e diagnóstico de fragmentação do processo coronoide medial e de osteocondrose/osteocondrite dissecante, que são de difícil diagnóstico radiográfico, uma vez que permite observação de muitos detalhes dessa articulação e sem a complexa sobreposição de estruturas ósseas 5.
Figura 1 - Detalhes anatômicos ósseos do cotovelo. A) Vista mediolateral da articulação cotovelo. B) Vista craniocaudal da ulna. (Um) úmero; (R) rádio; (Ul) ulna; (pa) processo ancôneo; (pcm) processo coronoide medial; (pcl) processo coronoide lateral; (el) côndilo umeral; e (to) tubérculo do olécrano
fragmentos ósseos acarretando defeitos biomecânicos 31. O termo osteocondrite dissecante foi descrito como uma condição patológica da cartilagem epifisária, que produz fragmentos osteocondrais em articulações de animais jovens, sem artrite ou trauma severo associado. Anteriormente, a hipótese mais aceita em relação à origem desses fragmentos incluía trauma, proliferação de tecido periarticular e necrose espontânea em cartilagem articular. O termo osteocondrite dissecante é considerado um termo comum, porém impróprio 31. A etiologia da osteocondrose não está precisamente definida, e acredita-se que seja uma afecção multifatorial, tendo como possíveis origens a taxa de crescimento, a nutrição, a predisposição genética, falhas endócrinas e fatores biomecânicos 31. A fragmentação do processo coronoide medial da ulna é a causa mais comum da displasia do cotovelo 8,32. As primeiras manifestações clínicas associadas à FPCM geralmente ocorrem de quatro a seis meses de idade, podendo chegar aos seis a oito meses. Podem ser observadas distensão articular moderada e crepitação durante a movimentação e em casos avançados 32. Uma hipótese da causa de FPCM é o crescimento assíncrono entre rádio e ulna; o crescimento excessivo da ulna em comparação com o do rádio deve ser a principal causa de FPCM 8. Em uma mesma articulação pode haver fragmentação do processo coronoide medial (FPCM) e OCM; já as descrições de Nupa e FPCM em uma mesma articulação são raras 2.
Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 107, novembro/dezembro, 2013
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