arda AR v1

Page 75

mas isso não tinha importância para ela. Aí viu o sorriso dele e a raiva se evaporou subitamente. Passou a não sentir mais nada. Examinava aquele sorriso com uma curiosidade fria, impessoal. Ficaram se encarando. Ele parecia, pela primeira vez, não ter medo dela. Estava gozando a situação. Para ele, a coisa significava muito mais do que a simples destruição de um competidor. Não era uma vitória sobre Dan Conway, era uma vitória sobre ela. Dagny não sabia como nem de que maneira, mas sabia que ele tinha certeza disso. Por um momento, ela pensou que ali, diante dela, em James e na força que o fazia sorrir, estava um segredo do qual ela jamais suspeitara, que tinha uma importância crucial e que começava a entender. Mas esse pensamento apareceu de repente e, de repente também, sumiu. Ela se encaminhou para a porta de um armário e apanhou seu casaco. – Aonde você vai? – perguntou James, com uma voz que denotava desapontamento e certa preocupação. Ela não respondeu. Saiu apressadamente do escritório.

– Dan, você tem que combatê-los. Eu vou ajudá-lo. Lutarei por você de todas as maneiras. Dan Conway sacudiu a cabeça. Estava sentado à sua mesa e tinha diante de si um grande mata-borrão com manchas desbotadas. Havia uma luz acesa num canto da sala. Dagny se dirigira diretamente ao escritório da PhoenixDurango. Conway lá estava e permanecia ainda sentado, como quando ela chegara. Sorrira ao vê-la entrar, dizendo: “Engraçado, senti que você viria.” Sua voz era calma, sem vida. Não se conheciam bem, mas tinham se encontrado algumas vezes no Colorado. Agora, ante a proposta dela, respondia: – Não. Não adianta. – Você está se referindo ao fato de ter se comprometido com a Aliança a obedecer? Aquele acordo não vai se manter de pé. É pura expropriação. Nenhum tribunal aceita. E, se Jim tentar se esconder de novo por trás da alegação do “bem público”, vou à corte jurar que a Taggart Transcontinental não pode controlar todo o tráfego do Colorado. Se a sentença for contra você, você apela e continua apelando pelos próximos 10 anos. – É… Talvez – disse ele. – Não sei se ganharia, mas bem que poderia tentar manter a ferrovia por mais alguns anos… Mas… Não, não é nos aspectos legais que estou pensando, de qualquer modo. Não é isso. – E o que é? – Não quero lutar, Dagny. Ela olhou para ele, incrédula. Era uma frase que – ela tinha certeza – ele jamais havia proferido antes − um homem não podia se transformar tanto assim naquela idade. Dan Conway estava beirando os 50 anos. Tinha uma aparência sólida, quadrada, muito mais de um rijo maquinista que de um presidente de companhia. Tinha a fisionomia de um lutador, com uma pele jovem e corada, cabelos grisalhos. Assumira uma pequena ferroviazinha do Arizona, cujos lucros não eram maiores do que os de um supermercado, e transformara essa empresa na melhor ferrovia do Sudeste. Falava pouco, raramente lia livros, nunca cursara faculdade. As realizações humanas, com


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.