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extremidade da plataforma, procurar o agente da estação e lhe dar a ordem: – Faça o trem 57 esperar por mim! Depois correu para uma cabine telefônica escura, afastada das luzes da plataforma, e deu à telefonista de ligações interurbanas o número do telefone de Ellis Wyatt. Apoiada às paredes da cabine, de olhos fechados, Dagny ouvia o som metálico de uma campainha tocando em algum lugar. Ninguém atendia. A campainha voltava, espasmodicamente, como uma broca perfurando seu ouvido, seu corpo todo. Ela se agarrava ao telefone, como se ele, mesmo sem ter sido atendido, fosse uma forma de contato. Esqueceu que o som que ouvia não era o mesmo que soava na casa de Wyatt. Não sabia que ela própria estava gritando: – Ellis! Não! Não faça isso! Só se deu conta quando ouviu a voz fria da telefonista, que parecia censurá-la ao dizer: – Ninguém atende. Sentada à janela de um vagão do trem 57, Dagny ouvia as rodas estalando sobre os trilhos de metal Rearden. Deixava que seu corpo fosse jogado para a frente e para trás pelo movimento do trem. A escuridão da janela ocultava a paisagem que não queria ver. Era a segunda vez que viajava na Linha John Galt e tentava não pensar na primeira. Os debenturistas da Ferrovia John Galt, pensava ela. Fora por ela, Dagny, que eles haviam confiado à linha seu dinheiro, suas economias de muitos anos. Fora pela capacidade dela que eles haviam investido aquele dinheiro. Fora no trabalho dela e no deles que tinham confiado, e agora era como se ela os houvesse traído, preparado uma armadilha para eles. Não haveria mais trens, nem carregamentos que sustentassem a ferrovia – a Linha John Galt fora apenas um meio encontrado por Jim Taggart de fazer uma negociata e se apossar do dinheiro deles, permitindo que os outros se apossassem do dinheiro de sua empresa ferroviária. As debêntures da Ferrovia John Galt, que, até aquela manhã, eram as guardiães orgulhosas da segurança e do futuro de seus proprietários, haviam se tornado, horas depois, pedaços de papel que ninguém iria querer comprar, sem valor, sem futuro, sem poder, salvo o poder de fechar as portas e deter as rodas da última esperança do país. A Taggart Transcontinental não era uma planta viva, alimentada pelo sangue que ela própria trabalhara para produzir, mas um canibal que devorava os filhos ainda não nascidos de um grande empreendimento. O imposto sobre o Colorado, pensou ela, o imposto arrancado de Ellis Wyatt para sustentar aqueles cujo trabalho era tornar a vida de Wyatt impossível, aqueles que o vigiariam para garantir que ele não receberia trens, carros-tanques, o oleoduto de metal Rearden – Wyatt, despojado do direito de autodefesa, impedido de se manifestar, desarmado e, pior de tudo, usado como instrumento de sua própria destruição, obrigado a sustentar seus algozes, lhes dar alimentos e outras armas –, Ellis Wyatt sufocado pela energia que ele próprio produzia – Wyatt, que queria explorar uma fonte ainda intacta, ilimitada, de xisto betuminoso, que falava de uma Segunda Renascença… Dagny afundou o rosto nos braços, encolhida em sua poltrona ao lado da janela, enquanto as grandes curvas dos trilhos azul-esverdeados, as montanhas, os vales, as novas cidades do Colorado passavam por ela invisíveis na escuridão. A freada súbita a fez levantar a cabeça de repente. Era uma parada imprevista, e a plataforma da pequena estação estava repleta de gente. Todos olhavam na mesma direção. Os passageiros ao seu redor estavam todos grudados às janelas. Dagny se levantou de um salto, correu para fora do vagão, para a


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