O feminino nas literaturas africanas em língua portuguesa

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Carlota de Barros e Maria Helena Sato – poéticas afetivas da diáspora cabo-verdiana

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cabo-verdiana e africana a colaborar nos almanaques de lembranças3 , tendo sido também autora da primeira obra literária publicada de autoria cabo-verdiana, em 1841, e a primeira cabo-verdiana a fundar e dirigir jornais” (Monteiro, 2013 p. 2). Orlanda Amarilis surge entre os escritores participantes da revista Certeza (1944), como prosadora que destaca a personagem feminina em Cabo Verde e no estrangeiro, e em seus contos “problematiza a questão da emigração cabo-verdiana, ultrapassando a visão simplificada com que os seus contemporâneos da revista Claridade focalizaram o assunto” (Macêdo, 2003, p. 161). Yolanda Morazzo aparece no único número de Suplemento Cultural (1958) – publicação que no entender de Manuel Ferreira seria uma síntese das revistas Claridade e Certeza (cf. Ferreira, 1985, p. 157) – apresentando um sujeito lírico que já insinua um olhar concreto sobre a experiência feminina. Maria Margarida Mascarenhas é o nome a ser destacado em Seló – página dos novíssimos (1962)4 , e “apresenta a mulher e as relações familiares, tanto no espaço insular (de seca e fome) quanto na diáspora” (Gomes, 2008, p. 180). Acima, destacamos algumas escritoras essenciais para a escrita feminina em Cabo Verde. Com a independência do país, em 1975, novas autoras despontam e intensificam esse panorama com olhares críticos a respeito da situação da mulher na sociedade cabo-verdiana – problemas até então silenciados ou abordados por uma ótica masculina passam a ser revistos e analisados pela perspectiva de gênero e da contribuição da mulher na cultura e na economia, entre outros aspectos. Entretanto, elas enfatizam as relações desiguais e situações típicas do universo feminino, como a violência doméstica, a prostituição, a gravidez na adolescência, o abandono, etc. Todo esse manancial temático e da mundivivência da mulher aparece nas contribuições para antologias como Mirabilis – de veias ao sol, organizada por José Luis Hopffer Almada. Hoje, com escritas diversas entre si, assinalam o importante papel que escritoras como Fátima Bettencourt, Ondina Ferreira, Dina Salústio e 3 4

Almanach de lembranças luso-brasileiro (1851-1932), publicação portuguesa. Tendo sido publicados apenas dois números.

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