Em torno do renascimento português. Estudos iconográficos

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Em torno do Renascimento Português. Estudos iconográficos

só mais tarde e, com menos intensidade, se vão insinuando os modelos formais italianos. Como observou justamente Reynaldo dos Santos, havia entre nós mais interesse em construir barcos, do que em pintar quadros. Os artistas alhearam-se da vida quotidiana, continuando com o imaginário tradicional61 . No domı́nio literário e artı́stico, foi lento o trânsito para os valores humanistas, potenciados pela assimilação dos valores clássicos e pelo impacto dos Descobrimentos. Durante os reinados de D. João II e D. Manuel I, «o peso da mundividência medieval sobrelevou ainda esmagadoramente o das inovações, embora corresponda a estas a dinâmica da mudança»62 . Tentando sintetizar, os pintores portugueses são autores de belos retratos personificados, com uma magnı́fica factura, à excepção do rosto da Virgem e do Menino Jesus, que obedecem por vezes a estereótipos. Os artistas interessam-se pela profundidade de campo, pintando fundos com paisagens, desenhando cidades reais, fantásticas ou de fantasia, servindo-se muitas vezes da perspectiva aérea para dar mais relevo ao fundo das composições.

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Oito Séculos de Arte Portuguesa, p. 58. Albert Châtelet, La peinture française, XVe et XVIe siêcles, Genève, Skira, 1992, pp. 65-80. 62

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