Repensar Portugal

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desencanto ante o muito que se prometeu, no concernente à saúde, à educação, aos transportes, às assimetrias regionais, à habitação, ao nível e estilo de vida, à justiça social para todos, e o muito pouco que se realizou em todos esses domínios, apesar dos meios financeiros que, de início, não faltavam ou, quando viessem a faltar, o estrangeiro não teria dificuldades de maior em cobrir, para investir em infra-estruturas necessárias à modernização, de um país que reencontrava, após séculos de ausência, o seu destino europeu. É o sentimento de impotência para modificar um estado de coisas – em tantos aspectos deplorável! –, de que um espírito crítico desperto e vigilante – felizmente bem – mas desgraçadamente incapaz de ser acompanhado de igual espírito criador se tornou consciente, aumentando assim a inércia, a impotência e o consequente nãote-rales. É a sensação da incapacidade de parar, menos ainda de transformar, a entropia da desordem, o domínio do oportunismo campeador, a indefinição de realidades concretas cuja clarificação não se compadece com delongas. É a percepção, vaga ou mesmo nitidamente sentida, das largas e fundas divisões do País em todos os planos em que se desenrola a existência colectiva – individual, familiar, profissional, social, cultural, moral –, divisões até ao ressentimento, ao ódio, à “revanche”, à própria repressão do adversário, para tanto adrede convertido em inimigo. É a dúvida, com instâncias de permanecer, relativa à identidade e à viabilidade de um País que, apesar de ser dos mais antigos do Velho Continente, se interroga no entanto, resignado ou ansioso, sobre o seu próprio futuro ou sobre um destino que ele não sente de forma alguma garantido quer na sua unidade, quer na sua verdade, quer na sua solidariedade. É a desconfiança ante o crescimento desmesurado do gigantismo de um Estado que tem tido mais olhos que estômago – gigantismo que, pela lógica própria do sistema, pode, de forma descoberta ou encapotada, ir absorvendo a sociedade civil tornando-se seu tutor ou seu padrasto, seu guia ou seu mestre, com todos os vícios da centralite e da burocratite, males endémicos do País, so-

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