Música eletrônica e Cibercultura

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29 público como os próprios músicos assumem enorme importância. É a circunstância onde acontece a verdadeira experiência da realização. Na cultura da e-music esse é um ponto crucial. Djs, música e dançarinos celebram essa cultura, experienciam a realização nas technoparties e raves: comprovam sua identidade, seu afeto, sua originalidade. Frith23, em seu artigo "The cultural study of popular music", acrescenta que, mesmo no nível mais "local", tocar música é apenas uma parte de um conjunto de tarefas mais elaboradas e relacionamentos que envolve o mundo musical. Para ele: "...o mais simples grupo escolar ou banda de garagem torna-se uma 'banda' por desenvolver uma rede de suporte de promoters, divulgadores, motoristas, carregadores e fãs e seguidores dedicados". Em torno das bandas, monta-se uma estrutura organizacional onde pessoas assumem tarefas e desenvolvem habilidades específicas. Além da noção de comunidade, começa a se estabelecer aí a idéia de cena, de super-produção de uma comunidade. Isso nos permite pensar que fazer música, para esses jovens, é uma expressão de sociabilidade e socialidade . Isso inclui novas formas de comunicação onde os 24

signos passam a ser mais comuns (e internos), produzidos e interpretados para uma audiência com caráter identitário. Por um lado, os egos individuais e as "diferenças musicais" presentes numa banda (núcleo de música eletrônico) fazem com que os músicos (djs e promoters) entendam que o envolvimento pessoal depende da habilidade de fazer as coisas juntas. A conexão é a música, enquanto "trabalho" ou diversão que exige "trabalho" coletivo. Por outro lado, está implícita nessas práticas uma cultura que os coloca como espelho de si mesmos. A música articula a comunidade, juntado pessoas para uma experiência (com)partilhada, estabelecendo vínculos efetivos e afetivos. O afeto conecta a tribo. No campo da cultura da música eletrônica no ciberespaço, podemos pensar na noção de cibersocialidade, que para Lemos é uma junção da noção de Maffesoli associada às tecnologias do ciberespaço, numa relação dialógica.

23 Ler o artigo "The cultural study of popular music", in Cultura Studies. Routledge. Londres-New York (1991). 24 Maffesoli entebnde a socialidade como um conjunto de práticas do cotidiano que ausentes de um controle social e que se baseiam em idéias afins em busca do aqui agora e que forma tribos em torno dessas idéias.


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