VIdas, veredas: paixão (pags 1 a 130)

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*** Formada em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFGO), em 1973, filiada ao PCdoB desde o início de 1979, a maranhense Júlia Maria Santos Roland sempre articulou o exercício da profissão com a militância política. No ambulatório médico da fábrica da Philco, no Tatuapé, por exemplo, atendia às operárias e as convidava para a luta sindical e para o Partido. A Tribuna da Luta Operária, que vendia em portas de fábricas e no próprio HSPE, foi instrumento valioso. Com o direito à sindicalização do servidor público, assegurado pela Constituição de 1988, ela ajudou a criar o Sindicato dos Trabalhadores Públicos de Saúde do Estado de São Paulo (Sin-

Memórias da saga comunista

Já em São Paulo, em 1971, concursado no Hospital do Servidor Público e especializando-se em nefrologia no Hospital das Clínicas, Jamil seguia a máxima de estar sempre com a mochila, pronto para qualquer tarefa, sobretudo a ligada à luta armada. Mas não sabia que então a guerrilha gestava-se no Araguaia. Submerso na atividade partidária, participava de reuniões, viajava para contatos e articulações no interior, levando documentos, distribuindo orientações. Movimentações rigorosamente clandestinas, circunstância imposta pela ditadura que, sob o tacão do general Garrastazu Médici, vivia o ápice do terror. Naqueles primeiros anos da década de 1970 o Partido fingia-se de morto. Em 1975 a mulher, Ana Consuelo, com quem Jamil se casara em 1969, ainda em Ribeirão Preto, morreu aos 29 anos por complicações decorrentes de um transplante de rim, deixando uma filha. Orientado pelo Partido a se manter informado, comprou um aparelho de rádio Transglobe para seguir as transmissões da rádio Tirana e passou a ler, diariamente, a Folha de São Paulo. E foi nas páginas do diário paulista que, na manhã de 17 de dezembro de 1976, se deparou com a notícia da queda da Lapa, as fotos do massacre, os camaradas trespassados por balas – episódio que, mesmo com a rolagem do tempo, nunca deixou de lhe arrancar lágrimas quando mencionado. Oito meses após a chacina, Jamil foi recontatado pelo Partido, ingressou no Comitê Estadual e, junto com seus camaradas Aurélio Peres, Pedro de Oliveira, Ana Martins, Vital Nolasco e Walter Sorrentino, entre outros, entregou-se à tarefa de reconstruir a organização partidária e buscar ligações com o movimento social. A missão começou em bairros da periferia, com Jamil e um grupo de médicos recém-formados atendendo ao povo desassistido, fazendo palestras e reunindo lideranças. Estavam plantadas as sementes do que viria a ser, logo em seguida, o forte movimento contra a carestia, propulsor de uma nova reação popular à ditadura. Em 1978 Jamil passou a integrar a diretoria do Sindicato dos Médicos de São Paulo, ao qual se filiara dois anos antes, pelas mãos de Júlia Roland, com quem mais tarde se casaria.

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