Volume 05 - Želimir Žilnik e a Black Wave

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especialmente nas universidades, foi considerada como um meio de saciar o apetite do público por cinema independente, o que significava filmes assistidos e debatidos sem interferência política. Alguns filmes exibidos nesses ambientes eram filmes caseiros de 8mm, frequentemente com mensagens políticas. Em contraste com “cinema independente”, o termo “cinema dissidente” era usado com frequência no contexto do Leste Europeu. Referia-se aos filmes que eram produzidos dentro do quadro institucional socialista, mas acabou por vezes implicado como crítica da ideologia dominante. Também incluiu o trabalho dos cineastas que decidiram emigrar, por serem incapazes de fazer o tipo de filmes que queriam, ou então porque seus filmes permaneciam engavetados. No contexto polonês, Jerzy Skolimowski é novamente um bom exemplo, pois, não cedendo às exigências de cortar um episódio controverso do seu filme Hands Up! (Ręce do góry, 1966-1985), ele decidiu não mais fazer filmes na Polônia e embarcou em uma carreira no exterior (Mazierska, 2010, p. 21). Para alguns críticos, usar qualquer mensagem subversiva em um filme, mesmo que sublime, era suficiente para considerá-lo dissidente. Alinhado a esse pensamento, Andrzej Wajda, na Polônia, e Dušan Makavejev, na Iugoslávia, eram cineastas dissidentes. Porém, outros argumentaram que o fato de que um cineasta em particular conseguisse fazer e exibir filmes em seu país prova que ele/ela não era dissidente. Apenas aqueles cineastas que tiveram seus trabalhos arquivados e/ou que foram forçados a emigrar se enquadram nesta descrição. Sendo assim, observamos que o cinema dissidente no leste, da mesma forma que o cinema independente no oeste, é variável e relativo a um contexto. O que é qualificado como dissidente em um país e período não deve ser visto como dissidente em outro país no mesmo momento. Isto porque, com a passagem do tempo, os tipos de censura mudaram, bem como as oportunidades de trabalho no exterior. Em quase toda parte da Europa Oriental, o que era absolutamente proibido nos anos 1950 era amplamente aceito nos anos 1980. A importância da dissidência no contexto socialista pode ser em grande parte explicada pela significância da cultura sob o socialismo. Como observa Gal Kirn, devido à inacessibilidade dos loci oficiais de poder (aparatos políticos, želimir žilnik e o cinema independente do leste europeu

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