Volume 10 - Paulo Emílio: legado crítico

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punham aos que ele chamava de “ocupantes”6 uma maior ­atenção ao cinema brasileiro. Do interior dessa proposta emergiu com força a aspiração por um projeto nacional para o cinema, segundo o qual ele seria tutelado pelo Estado, que sempre tomaria o partido do interesse nacional, garantindo a harmonia de interesses entre todos os envolvidos e um futuro aos moldes da “bela época do cinema brasileiro”. À luz do já exposto, visamos demonstrar que algumas dessas­ ­aspirações obtiveram êxito, especialmente num cenário em que o ­aparato estatal brasileiro, mesmo timidamente, promoveu modificações no mercado cinematográfico entre os anos 1960 e 1980, especialmente no sentido pretendido por Paulo Emílio. Em nossa presunção, duas questões emergem para o centro da reflexão proposta. São elas: quais aspirações desse discurso histórico, mesmo em parte, foram atendidas pelo poder ­público entre os anos 1960 e 1980? Como se deu esse processo e qual foi seu ápice, que parece ter garantido uma eficácia prática ao discurso de Paulo Emílio? Para responder tais questões se faz oportuna uma abordagem do processo de conquistas desse viés do discurso histórico do crítico. A solicitação de uma reviravolta normativa por parte do Estado frente ao cinema brasileiro foi tema prioritário para diversos grupos ligados ao mercado, sobretudo a partir da falência da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em meados de 1954. Cabe ressaltar que o fim de todo um complexo industrial que havia sido criado em São Paulo no início da década de 1950 foi interpretado por muitos como reflexo da falta de uma legislação protecionista. Em consequência disso, algumas 6

Ibidem, p. 94-5.

AS COBRANÇAS DE PAULO EMÍLIO E SUA EFICÁCIA PRÁTICA NO MERCADO CINEMATOGRÁFICO BRASILEIRO

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