Volume 10 - Paulo Emílio: legado crítico

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peça em companhia da família, sairia certamente indignado17.

Ao comentar sua relação com a atividade teatral, Paulo Emilio afirma em 1964 que sua concepção teatral naqueles tempos era fortemente marcada por seu entusiasmo pela vanguarda teatral russa, notadamente Meyerhold, o que se devia a “confusas leituras de descrições e impressões, por sua vez não muito claras, de Joseph Gregor ou René Fulop Miller que encontrava nos livros mal traduzidos da editora Globo”18. E mais: Ainda aqui o principal aos meus olhos era o quadro dessas experiências artísticas, a Rússia. Tinha ouvido falar e admirava em confiança O bailado do

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GOMES, Paulo Emílio Sales. “Um discípulo de Oswald em 1935”. In: GOMES, Paulo Emílio Sales. Crítica de cinema no suplemento literário, v. 2. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Onde ele também comenta: “A resposta de Oswald de Andrade foi um artigo ferino onde demonstrava que eu não havia entendido O homem e o cavalo, me acusava de tartufismo e me xingava de ‘piolho da Revolução’. Com efeito, não foi só a concepção geral da obra que escapou ao meu entendimento, mas igualmente uma quantidade de pormenores. Uma das personagens da peça é Eisenstein. Apesar do texto se referir ao ‘homem do cinema’ eu estava convencido de que se tratava de uma deformação de Einstein, da mesma forma que Oswald transformara o prof. Piccard, o pioneiro da estratosfera, em Icar. Em suma, só me atingiam as declarações revolucionarias ou então evocações sentimentais como ‘a mãe do Soldado Desconhecido’. Para isso estava preparado pois assistiria em fins de 1930 um ‘skecth’ dramático de uma revista de variedades onde uma mulher toda de negro interpelava um presidente Washington Luiz abatido pelo remorso. No dia seguinte à publicação do artigo de Oswald, A Plateia escreveu um editorial chamando a nossa atenção, dizendo que os intelectuais revolucionários não deviam brigar entre si. Eufórico de me ver tratado de intelectual e revolucionário me liguei ainda mais com Oswald, para grande escândalo de minha mãe que não se conformava com o piolho”.

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Idem.

PAULO EMÍLIO E O TEATRO BRASILEIRO NOS ANOS 1930 209


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