Volume 07 - Realismo Fantasmagórico

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intensidades. Caso contrário, sem uma sólida apropriação do corpo inorgânico e sua chamada para o exterior, tentativas de nomeação correm o risco de perderem a força. Certamente há boas e melhores maneiras de intitular seres e espíritos; mas se demasiada atenção é dispensada para a formulação correta e não o suficiente para o tipo de qualidade de presença e conexão com a imediação fluente do Corpo sem Órgãos, o cuidado pragmático com a nomeação correta pode prender-se em representações mitigadas e supercontroladas. Esteticamente falando, excesso infinito de disjunção inclusiva é crucial para preservar o frescor e novidade de caracterizações artísticas e fílmicas de matérias espirituais. Tendo dito isto, a ênfase em nomeações ativas e caracterizações diferenciais correspondem de maneira próxima às advertências de cuidado de A Thousand Plateaus sobre a desconsideração esquizo-errante pelo componente sedentário das práticas e o perigo de ficar preso nos buracos negros da desubjetivação onde, como Stengers coloca, “tudo começa contando a mesma história”31. No final, como Guattari sugere em Chaosmosis, “cada movimento na direção de uma infinidade desterritorializada é acompanhado por um movimento de desdobramento em limites territorializados, correlativo ao gozo na passagem do coletivo para si mesmo e seus mistérios fusionais e iniciatórios”.32

4. A Realidade do Animismo Jamais acredite que um espaço calmo será suficiente para nos salvar.33 Agora somos capazes de reintroduzir a noção de crença, ou melhor, da crença intensiva, compreendida como participação direta do mundo como campo de força de diferenças, em vez de ser excessivamente imposto num plano de representação. A crença intensa está próxima da tensão produtiva que corre entre a experiência da despersonalização e da nomeação; ela coincide com movimentos virtuais animando coisas e situações no momento da sua mais intensa percepção. Esta é dotada de força instauradora, visto que esta opera diretamente no campo intenso, em vez de estar sujeita à representação. Considerado por este ângulo, o problema de acreditar no mundo não deve ser confundido com a 31

STENGERS, Isabelle. Deleuze’s Last Message. Disponível em: http://www. recalcitrance.com/deleuzelast.htm. Acesso em: 12 nov. 2015.

32

GUATTARI, Felix. Chaosmosis. Bloomington: Indiana University Press, 1995. p. 103.

33

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. A Thousand Plateaus. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1987. p. 500.

CINEMA TAIWANÊS (DES)ENCANTADO, CRENÇA ESQUIZOANALÍTICA E A REALIDADE DO ANIMISMO   303


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