Revista Estratégia - setembro/18

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Você já escolheu seus candidatos? Confira as dicas de economistas

TV x Redes Sociais Quem vai influenciar a decisão do voto?



Esta 7ª edição da Revista ESTRATÉGIA MARKETING POLÍTICO chega pouco antes do primeiro turno da eleição presidencial. Qual plataforma será considerada a principal na decisão do voto do eleitor: a TV ou as redes sociais? Nas páginas da Revista Estratégia você poderá acompanhar essa “disputa”. Não se esqueça: sua opinião é importante para nós. Participe: curta os artigos, as entrevistas e reportagens que mais gostou em nosso site, compartilhe nas redes sociais e, principalmente, fale conosco: fale@revistaestrategia.com.br, WhatsApp (11) 988638777 e nas páginas MarcoIten.Com nas redes sociais. A Redação

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índice

estratégia Marketing Político

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Construa sua rede antes de precisar dela Você já escolheu seus candidatos? Propaganda eleitoral: TV x Redes Sociais. Quem influenciará o voto? O universo das Redes Sociais

Lei Geral de Proteção de Dados

A Educação no centro dos debates

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Saída do Brasil do Mercosul: Integração ou Entreganação? Linguagem falada: um tema político O Brasil tornou-se mais politizado?

Aumenta o número de pessoas decididas a deixar o país

Sala de notícias

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COMUNIC AÇ ÃO

Construa sua rede antes de precisar dela Por Cíntia Cury

Celebridades instantânes e postagens que viralizam não são a regra. Mídias Sociais exigem planejamento, dedicação e tempo. Candidatos aos diversos cargos disputados nesta eleição e de todas as colorações partidárias têm se mostrado apreensivos nos últimos dias com suas campanhas eleitorais nas redes sociais. Figuras com sóli-

da experiência no discurso político e na apresentação em mídias tradicionais “apanham” para aumentar suas exposições, fortalecer suas imagens, conquistar seguidores e gerar o tão sonhado engajamento online. E a reRevista Estratégia Marketing Político - nº 6

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dução do tempo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio só faz aumentar a ansiedade desses candidatos e equipes. A questão, porém, está na dinâmica das mídias sociais. Muito se fala em celebridades instantâneas, postagens que viralizam e ganham o mundo em poucos segundos, mas essa não é a regra. Muitos dos chamados influenciadores digitais trabalharam duro ao longo de um período considerável para chegar onde estão hoje. E seguem no trabalho árduo dia após dia para não perder espaço. As grandes marcas, por sua vez, gastam verdadeiras fortunas e mantêm equipes inteiras focadas na elaboração das estratégias, produção de conteúdo e monitoramento (não apenas das campanhas, mas também do público, da reputação, das novas tecnologias e plataformas, das ferramentas, etc.) para garantir presença nas mídias sociais ao longo dos anos. O fato é que o online exige muito planejamento, uma dose ainda maior de dedicação e tempo. Não existe mágica. Reputação nas mídias sociais não se constrói da noite para o dia. Observe os candidatos que estão à frente nessa área. Todos eles chegaram ao período eleitoral já com uma sólida rede construída. Planejaram suas estratégias. Pesquisaram seus públicos. Puderam avaliar, por exemplo, quais as plataformas que seus públicos-alvo mais utilizam, como se comportam, quais seus principais anseios, que tipo de discursos os aproximam e quais aqueles que os distanciam. Quais são os temas mais polêmicos para esses grupos e quais os mais sensíveis. Onde há concordância e onde cada pú8

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blico diverge, embora estejam todos sob uma mesma “bandeira”. Qual é a melhor abordagem para cada grupo, cada plataforma e cada interação. Também conseguiram mapear os mecanismos de cada plataforma, suas ferramentas, características, estilos, vantagens e desvantagens, como os usuários se comportam em cada uma delas, qual o perfil dos usuários que utilizam apenas uma plataforma, e daqueles que utilizam mais de uma. Identificaram qual o tipo de material deveriam postar em cada uma delas, bem como a linguagem e a periodicidade. E todas essas informações - além de diversas outras que são avaliadas na fase de planejamento - permitiram a definição do foco e da melhor estratégia para alcançar os resultados desejados. Sim. Eles tiveram todo esse trabalho antes de definir, por exemplo, se teriam uma página ou um perfil nesta rede social, ou se teriam um perfil pessoal ou profissional naquela outra. Ou ainda qual seria a “cara” de cada página (ou perfil ou as duas coisas) em cada plataforma e que tipo de material publicariam. Quando iniciaram suas ações, já sabiam exatamente para quem iriam falar em cada uma das plataformas, o que diriam, quando e como o fariam. Não foi um jogo de tentativa e erro. Nada foi feito de maneira aleatória ou amadora. É preciso ter claro que nas redes sociais, assim como acontece na vida off-line, quando se fala para todo mundo, genericamente, a chance de a mensagem atingir alguém é próxima de zero. E quem trabalhou muito no planejamento da estratégia antes de entrar


no online, sabe que o esforço nunca termina. No dia a dia é preciso monitorar e avaliar constantemente, corrigir rumos sempre que necessário. Nas mídias sociais tudo é muito ágil. O tempo entre o monitoramento, a avaliação das ações e a eventual correção de rumo não pode ser longo ou implicar em interrupções bruscas de exposição. É preciso ouvir a audiência, entendê-la e agir para encontrar sempre os melhores caminhos para atrair, engajar, empolgar. E essa é a beleza das mídias sociais: elas nos dão voz, mas também nos permitem ouvir. Quem se dispõe a escutar com atenção, entender realmente o que está sendo dito e se adaptar, consegue resultados melhores. Na dinâmica das redes sociais, até mesmo quando a audiência não diz nada, já está se manifestando: está dizendo que não têm interesse no assunto e/ou abordagem. E quem está trabalhando na construção da reputação precisa estar atento, disposto a reavaliar, entender e reposicionar. E é claro que quem começa a trabalhar o online apenas durante o período eleitoral fica em desvantagem. Mesmo que tenha feito um exímio planejamento estratégico, não tem o tempo necessário para retornar às suas pesquisas e identificar os motivos de eventual falta de interesse ou rejeição deste ou daquele tema ou abordagem. E encontra dificuldades para retomar esses assuntos que são de seu interesse de outras maneiras, nas diversas plataformas, e encontrar realmente o melhor caminho para se comunicar com cada público. Durante a campanha eleitoral, as redes sociais dos candidatos são o foco. Todos estão de olho. E todo

e qualquer deslize será amplificado pelos opositores. Ou ainda pior: pelos simpatizantes dos opositores, especialmente daqueles que começaram a trabalhar mídias sociais com antecedência e já contam com um contingente considerável de apoiadores trabalhando por conta própria para exaltar o escolhido e atacar ou neutralizar os opositores. Se você está acompanhando o assunto Eleição 2018 nas mídias sociais, é exatamente isso que está assistindo: pessoas engajadas - muitas das quais sem qualquer ligação pessoal ou profissional com os candidatos e suas equipes de campanha - atuando para elevar o discurso de seus escolhidos e minimizar/bombardear o dos opositores. Enquanto isso, outros tantos candidatos patinam nos baixos índices de adesão, independentemente de suas “bandeiras” serem consideradas boas ou não pela população. Esse quadro irá se repetir nas eleições municipais de 2020. Muitos dos candidatos a prefeito e vereador nos 5.500 municípios, hoje, dormem tranquilos. Acreditam que a eleição municipal ainda está longe. Não é hora de se preocupar com isso. Não percebem, porém, que no online a campanha municipal já começou para muita gente. Muitos dos futuros candidatos já iniciaram seus trabalhos nas mídias sociais - eles entendem que, na dinâmica do online, ter tempo para construir a reputação é fundamental. Alguns de nossos clientes se deram conta da necessidade de estratégia, planejamento e tempo de execução exigidos pelas redes sociais ainda durante o último pleito. Por isso, tão logo saíram os resultados das urnas, Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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Cíntia Cury é jornalista. Diretora da Exterior Editora/MarcoIten.Com atua em Assessoria de Imprensa; treina equipes de Comunicação, elabora o Planejamento Estratégico de Comunicação e gerencia reputação de Órgãos Públicos, políticos e Mandatos. Atuou na Assessoria de Imprensa/ Secretaria de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, durante os governos de Mário Covas, Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo e José Serra. É autora do livro Assessoria de Imprensa para Prefeituras, Órgãos Públicos e Mandatos, da Exterior Editora.

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dois anos atrás, iniciaram suas ações para construção de suas redes. Vários deles apostam na consolidação de seus nomes nas redes sociais para garantir vaga para a disputa do cargo almejado. Sim, pretendem usar suas reputações online para se credenciarem como candidatos. Em 2020, esse grupo que hoje trabalha na construção e consolidação de suas redes sociais não precisará esperar o começo do período permitido de propaganda eleitoral para divulgar seus feitos, projetos, bandeiras. Já haverá uma audiência engajada e disposta a fazer isso por cada um eles. Grupos de WhatsApp criados e administrados por simpatizantes que não integram nem integrarão a equipe do candidato - estarão “fervendo”, com discussões e disseminação de informações a respeito deste ou daquele nome. Informações (verdadeiras ou falsas) circularão diariamente pela rede, compartilhadas por usuários independentes, sem vínculo pessoal ou profissional com o candidato e sua equipe. Muitos estarão recomendando este ou aquele nome aos familiares, amigos e conhecidos, não apenas nas mídias sociais, mas também nas conversas off-line, cara a cara. E essa campanha boca a boca não é algo fácil de ser quebrado. As pessoas, em geral, tendem a confiar mais nas recomendações de conhecidos do que no que é divulgado pela mídia tradicional, governos ou empresas. Conhecidos de conhecidos, de acordo com pesquisas, também são impactados. Lembre-se de quantas vezes você optou por um produto ou serviço (ou rejeitou) porque um conhecido contou a experiência de um amigo dele.

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Boa parte da classe política, porém, ainda não teve essa percepção. Muitos ainda dizem preferir “economizar” no trabalho com redes sociais ao longo de três ou quatro anos e deixar para “gastar” com isso só mesmo no período eleitoral. E é exatamente o que fazem: apenas gastam dinheiro com mídias sociais durante a campanha, sem alcançar os benefícios que elas poderiam oferecer se tivessem entendido como elas realmente funcionam. Alguns buscarão contratar equipes reconhecidas, a peso de ouro, mas que não conseguirão entregar os resultados desejados simplesmente porque não haverá tempo para isso. Outros vão preferir uma “solução caseira” ou aquela agência ou pessoa que “cobra pouquinho” apenas para poder dizer que, sim, eles também incluíram as mídias sociais em suas campanhas, “mas não funcionou”. Em outras palavras, estarão apenas desperdiçando tempo, dinheiro e potencial porque perderam o “timing”. Deixaram passar a oportunidade de levar seus pontos de vista, suas propostas, crenças, ações, seus ideais, seus sonhos, nomes, imagens ao conhecimento das pessoas. Não participaram da conversa ao longo de quatro anos. Ficaram fora do debate por muito tempo, acreditando que nas redes sociais tudo é instantâneo. Durante o período de propaganda eleitoral, dificilmente conseguirão arregimentar uma robusta rede de apoiadores para ajudá-los a transmitir suas mensagens. Só então perceberão a verdadeira dinâmica das mídias sociais: é necessário construir sua presença na rede antes de precisar dela. 


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C APA

Esta pode ser a eleição mais importante que já vivemos. Você já escolheu seus candidatos?

Regina Madalozzo, Zeina Latif, Elena Landau, Ana Carla Abrão e Denise Alves em debate promovido pelo Porquê? em São Paulo.

As economistas Ana Carla Abrão, Elena Landau e Zeina Latif ajudam a identificar se os seus candidatos estão realmente interessados em atender as necessidades do país

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Nestes últimos dias antes da eleição, a Revista Estratégia te convida para uma reflexão sobre o Brasil e uma análise de seus candidatos a deputado - estadual e federal, senador e à presidência da República. Esqueça por cinco minutos suas convicções, partido político de preferência, quem você considera herói ou bandido, seus vínculos pessoais, profissionais ou políticos com seus candidatos. Vamos pensar apenas nas questões relevantes ao nosso país e lembrar de que ainda há tempo de cobrar posições e propostas de nossos candidatos. Para essa análise, trouxemos informações colhidas em debate promovido pelo canal Por quê? Economês em bom português, com as economistas Ana Carla Abrão, Elena Landau e Reina Latif, realizado em São Paulo na semana passada. O debate foi mediado pela professora e economista Regina Madalozzo e pela rapper e apresentadora do canal Guetonomia Denise Alves. Questões urgentes O Brasil tem questões urgentes a serem resolvidas pelos próximos eleitos. Temos 13 milhões de desempregados; a situação fiscal do país está em colapso: há cinco anos o país gasta mais do que arrecada, sistematicamente; nossa dívida pública está nas alturas (77% do PIB segundo o Banco Central e quase 86% nos cálculos do FMI). Também se somam aos nossos inúmeros problemas o déficit da Previdência, a má qualidade da Educação, a desigualdade social, a escassez de recursos para a Saúde, a Segurança Pública, Infraestrutura, etc. Aos eleitos - tanto presidente da República quanto integrantes do

Congresso - caberá conduzir muitas Reformas, todas urgentes e necessárias para que o país possa alcançar a estabilidade. “Passamos muito tempo empurrando as Reformas com a barriga porque o país cresceu e parecia, para as pessoas, que tudo ia muito bem. Foram 10 anos sem reformas. Não é à toa que chegamos a essa situação”, explica Zeina Latif. “o ponto é que chegamos numa situação em que ou se faz as Reformas necessárias, ou o Brasil não vai para a frente. Quanto mais difícil for encarar a necessidade de Reformas, mais teremos que fazer outras Reformas e de forma mais rápida para evitar a situação em que estamos agora. Saídas milagrosas não funcionam. Ja tivemos experiências parecidas no passado. Não tem jeito. É preciso fazer a lição de casa”, completa. Ela ressalta que o que diferencia países ricos de outros na mesma situação que o Brasil, com tantos desafios sociais, é a capacidade de fazer Reformas. “Os desejos e necessidades da sociedade mudam com o tempo. A demografia também muda. O Brasil, por exemplo, está envelhecendo. Países que conseguem crescer e ter mais justiça social são aqueles que têm uma dinâmica de permanente quadro reformista. Não podemos encarar as Reformas como algo necessariamente negativo, porque não é. É condição para que o país avance, tenha mais crescimento e justiça social. Ainda que as Reformas pareçam desagradáveis, o cenário alternativo, o empurrar com a barriga, é pior”, diz Latif. O risco da volta da inflação A economista também chama a atenção para o perigo da volta da inflação descontrolada, como ocorreu Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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nos anos 1980. “Naquela época, o governo tinha dificuldade de rolar sua dívida por um problema muito grave nas contas públicas e o resultado era a inflação persistente. Quem financia a dívida pública somos todos nós, que temos investimentos, poupança, de alguma forma atrelada a título público. É importante entender que numa situação de calote do governo, quem perde não são os banqueiros, mas esses poupadores e, principalmente, quem tem fundos de pensão”, esclarece. Para quem não viveu aquele período, é difícil imaginar uma situação na qual os preços sobem de forma persistente e sem controle, diariamente. Mas é fácil entender quem perde: os assalariados, já que a inflação elevada faz os salários perderem rapidamente o poder de compra. Na opinião de Latif, embora os jovens não saibam exatamente o que é inflação, eles não aceitam que essa situação seja retomada. Para ela, as manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus em 2013 são prova disso. “Os jovens que foram às ruas, sem saber, estavam protestando contra a inflação. Não era apenas a tarifa do ônibus que estava aumentando. Os custos estavam subindo. Naquela época, só a inflação de produtos alimentares já estava em 15% ao ano. A inflação perturba até mesmo aqueles que não a conheceram”, observa. Ana Carla Abrão chama a atenção para a importância dessas eleições. “É preciso ter consciência de que essa é possivelmente a eleição mais importante que nós todos já vivemos. Em 1989, quando votamos para presidente pela primeira vez depois de 25 anos de ditadura, foi um momento importante. Acho que nesse 7 de outubro 14

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precisamos entender que estamos vivendo um momento em que o Brasil está se perdendo. Estamos numa situação em que realmente precisamos tomar consciência de que nosso voto vai definir o nosso futuro e pode definir para um futuro muito ruim. Temos a responsabilidade de tomar essa decisão. É claro que vivemos numa democracia e temos que respeitar a decisão da maioria, mas é muito importante que a gente tome essa decisão de forma consciente, sabendo que Brasil a gente quer”, diz. Estado disfuncional reforça desigualdades Ela destaca que o próximo governo deverá ter disposição para fazer com urgência em três Reformas: da Previdência, Tributária e do Estado. “A Reforma do Estado tem três pilares principais. O primeiro deles é recuperar a capacidade de planejamento. É preciso ter uma visão de longo prazo, isso faz com que se aloque os recursos de formas mais eficientes. O segundo, é avaliar as políticas públicas, saber se as ações de governo estão atingindo os resultados desejados. E a outra é avaliar a questão administrativa”, diz. Ela explica que, hoje, em média 70% da arrecadação dos estados é gasta com o pagamento dos salários dos funcionários públicos. “Grande parte das receitas vai para o pagamento dos gastos obrigatórios, que são a previdência e despesas com pagamento de pessoal. Falta dinheiro para tudo. Em alguns casos, até para os salários. Cada vez mais, a qualidade do serviço púbico vai se deteriorando. Estamos chegando numa situação de colapso da máquina. E quem mais sofre são os que dependem dos


serviços públicos. Um Estado disfuncional como o nosso reforça a desigualdade. O Brasil é o terceiro mais desigual do mundo e tem um Estado que reforça essa situação de desigualdade. A Reforma do Estado tem que tentar tirar esse engessamento dos gastos. Temos muitos gastos obrigatórios que não necessariamente estão sendo alocados da melhor forma possível. É preciso racionalizar os gastos. É como na casa da gente, não dá para parar de pagar, mas dá para racionalizar”, explica. Educação: problema é o modelo Na área da Educação, as economistas chamam a atenção para a questão da gestão. O Brasil gasta 6% do PIB com educação, o mesmo ou mais que países desenvolvidos aplicam na pasta. Mesmo assim, nossos índices de qualidade estão entre os piores em todas as avaliações internacionais. Isso ocorre, na opinião de Ana Carla Abrão, porque nosso modelo é que está errado. “Chegamos numa situação em que o professor que não é bom, não pode ser demitido. O que é bom, não conseguimos valorizar. E aquele que é bom, mas precisa de capacitação, também não temos condições de aperfeiçoar. Entramos num círculo vicioso que está ruim para todo mundo”, diz. Déficit da Previdência: não tem milagre Quanto ao déficit da Previdência, Elena Landau acredita que o próximo governo não sairá do zero, já que o assunto foi muito discutido pelo atual governo. Questões como idade mínima, tempo de contribuição, igualdade de tempo de contribuição para homens e mulheres e a diferença de

regime entre iniciativa privada e setor público, foram amplamente discutidas, discutidas, e embora a proposta atual esteja um pouco desidratada. O alerta das economistas, porém, é para saídas alternativas propostas por alguns candidatos, como aqueles que pregam que não há necessidade de se fazer a Reforma da Previdência, basta o país retomar o crescimento que aumenta a arrecadação com os impostos e, com isso, suprir a previdência, resolvendo o desequilíbrio. Isso não vai acontecer. O déficit já existe e não vai simplesmente desaparecer. “Não tem milagre. Não dá para achar que é só uma questão de boa vontade e está tudo resolvido. Não é isso”, diz Latif. Também há aqueles que defendem a troca do regime atual, no qual os trabalhadores da ativa financiam a aposentadoria dos que os antecederam (regime chamado de repartição) pelo regime de capitalização, no qual a contribuição de cada trabalhador é reservada para sua própria aposentadoria no futuro. O problema, porém, é que existe hoje um déficit entre o que é arrecadado e o pagamento dos benefícios e o governo não tem recursos para arcar com as despesas de quem já está aposentado no caso de troca do sistema. “A questão da capitalização, que vem sendo citada por alguns candidatos, é importante porque incentiva as pessoas a poupar, mas desvia a atenção para um avanço que tivemos na discussão sobre reforma da previdência”, diz Landau. Já Latif considera essa proposta inadequada para o atual momento do país. “Se essa proposta tivesse sido feita lá atrás - o Chile, pode exemplo, fez isso na década de 80 - ficaria mais Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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fácil. Mas hoje, do jeito que estamos, tecnicamente é muito mais desafiador. E politicamente também porque tem que passar pelo Congresso. É assim que a democracia funciona. Não é o presidente que vai bater a mão na mesa e sair aprovando. Vai ter que dialogar, conversar com a sociedade, explicar muito. Vai ter que sentar com as organizações sociais, com os congressistas. E tudo isso, muito rapidamente. Não dá para esperar”, ressalta. O que procurar no discurso e no programa de seus candidatos Cada pessoa tem suas convicções e opiniões com relação aos políticos nos quais vai votar e naqueles que jamais votaria. É certo que todos os eleitores querem o melhor para o país e acreditam que estão fazendo as melhores escolas, mas é preciso identificar se os candidatos que você está prestes a escolher apresentam discursos e propostas coerentes com as necessidades dos país. É claro que os programas dos candidatos a presidência, por exemplo, são muito superficiais. A maioria traz apenas diretrizes do que o candidato pretende realizar. No caso dos parlamentares, a situação é ainda mais difícil. Mas numa época como a nossa, com todas as facilidades da internet e informação ao alcance da mão, não custa pesquisar sobre os seus candidatos. Preste atenção na visão que seu candidato tem do país e dos problemas que enfrentamos. “Uma boa regra para avaliar os programas de governo é olhar com atenção para aqueles que negam que o Brasil precisa de reformas, que o país tem problemas, aqueles que vendem o sonho de que está tudo bem”, diz Ana Carla Abrão. 16

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“O candidato que fala que vai aumentar as verbas para saúde, educação, segurança, reduzir a carga tributária, valorizar a carreira do funcionalismo público, ou ele está mentindo ou ainda não entendeu a realidade do Brasil. Não tem espaço para aumentar a verba para nada. Agora o discurso tem que ser de racionalização, de gestão. Não tem mais recursos para por na saúde, educação, segurança. Não se trata disso. Trata-se de ter diagnósticos corretos sobre cada um de nossos problemas e melhorar a gestão, porque tem muita coisa que precisa ser feita, algumas com apoio do Congresso, outras com gestão. Essa agenda de só aumentar recursos, esqueça. Não é isso”, complementa Zeina Latif. “Tem muito candidato vendendo terreno na lua. Dizendo que vai resolver tudo sem sacrificar ninguém, sem mudar nada. Vai ajustar tudo com uma varinha de condão”, observa Elena Landau. Na opinião da economista, é preciso analisar o programa como um todo, olhar o que o candidato pensa sobre o papel do Estado, poupança, quais as reformas que ele está pensando em fazer, de que forma ele vai atacar desequilíbrios do conflito distributivo, como ele vai olhar para as minorias. “A sugestão é olhar a filosofia do candidato”,diz. Capacidade de negociação e enfrentamento “O país precisa de uma agenda de ajustes que não é fácil. Não basta criar um imposto, uma CPMF. Se fosse só isso, já teria sido feito. O problema agora é muito mais grave. A primeira coisa a olhar é se o próximo presidente vai ter capacidade de diálogo, enfrentamento e negociação


não é a opinião do presidente que vai mudar uma política desse tipo. Essa é uma questão do Legislativo. O que o presidente pensa sobre o aborto é tão relevante quanto o time de futebol que ele prefere. É essa mania de achar que o presidente vai resolver tudo sozinho. Não vai”, informa. A composição do Congresso é fundamental Quanto aos candidatos a deputado e senador, Ana Carla Abrão

As economistas Ana Carla Abrão, Elena Landau e Zeina Latif:

no Congresso. Se o presidente não estiver aberto ao diálogo para fazer os ajustes que precisam ser feitos e para negociar no Congresso, ele pode ter o melhor ministro da Fazenda que vai complicar. Uma dose de humildade e de envergadura política para fazer esse diálogo é essencial”, enfatiza Zeina Latif. Temas que tiram o foco das discussões Ela destaca que é importante desconfiar de discurso de salvadores da pátria e também chama a atenção para o grau de radicalização das pessoas nesta eleição. “Essa divisão do país está nos fazendo muito mal. O país precisa ter a capacidade de divergir, mas com respeito pelo outro. O mínimo de coesão da sociedade vai ser essencial para conseguirmos aprovar essas reformas. É muito importante baixar a temperatura”, aconselha. Landau também chama a atenção para temas que tiram o foco das discussões que os candidatos realmente deveriam ter com a sociedade. “Toda eleição vem essa discussão sobre o aborto. Essa é uma discussão equivocada porque

chama a atenção para a necessidade de pesquisar e procurar saber quem são os candidatos. “A composição do Congresso é fundamental para que as coisas aconteçam, então, gastar um tempo pesquisando, entendendo quem são as pessoas e quais são suas propostas é importante. Tem muita gente tentando entrar na política de forma legítima, com muita vontade e preparo”, afirma. Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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Propaganda Eleitoral:

TV x Redes Sociais Quem vai influenciar o eleitor na hora de decidir o voto? 18

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Desde o início do período permitido para propaganda eleitoral, o debate entre especialistas em eleições tem sido se esta será a primeira eleição na qual a decisão do voto se dará a partir das informações divulgadas nas redes sociais ou se a propaganda e os debates na TV ainda predominarão no momento da decisão. Caminhamos para o fim da disputa sem que a questão tenha sido respondida. No momento, a sensação é de que as redes sociais estão liderando essa corrida. Seja pelo esgotamento do formato de propaganda eleitoral na televisão e pela mesmice dos debates televisivos, seja pelo fato de que disseminar opiniões nas redes sociais já é um hábito das pessoas. Também é preciso levar em conta aqueles candidatos que decidiram não esperar para ver e investiram pesado nas plataformas sociais para consolidar seus nomes e pontos de vista, conquistaram muitos seguidores e usam essa rede para manter bem acesa a disputa no ambiente online. O fato é que é praticamente impossível fugir do debate eleitoral nas redes sociais e nos infinitos grupos de WhatsApp que se formaram antes mesmo do período permitido pela legislação para propaganda eleitoral, quase sempre liderados por simpatizantes sem vínculo oficial com candidatos ou campanhas. Faz parte do dia a dia das pessoas compartilhar o que comem, onde vão, o que fazem o tempo todo. Portanto, parece natural que queiram também expor seus pontos de vista, suas preferências políticas, seus candidatos prediletos, bem como seus motivos e motivações para apoiar ou rejeitar com veemência este e aquele candidatos.

O tom do discurso nem sempre é ameno. Na maioria das vezes, aliás, não é. Discussões acaloradas e término de amizades, muitas vezes construídas no mundo off-line, são constantes. Em comum, o desejo de influenciar parentes e amigos na decisão do voto. A situação que se delineava antes do início oficial da campanha, no qual candidatos com ostensiva presença online dão o tom do debate - fornecendo argumentos, lançando ofensivas contra os opositores, desmentindo boatos -, enquanto outros parecem apenas assistir. Preferiram acreditar nos diversos estudos que (ainda hoje) apontam para o papel fundamental da TV na decisão pelo voto. Ao que tudo indica até o momento, quem negligenciou as redes sociais parece ter perdido espaço no debate. Sem uma rede sólida de seguidores/defensores, sofrem ataques e são alvo de boatos constantemente. Muitos sentem-se à vontade para criticar, poucos se arriscam a defender ou recomendar. E se olharmos as pesquisas de intenção de votos divulgadas quase que diariamente, aumenta a sensação de que esses candidatos com atuação amadora nas redes sociais cometem um verdadeiro “suicídio” eleitoral. É certo que o Brasil é um país continental, tão grande quanto desigual, o que dificulta qualquer aposta. Mas é fato também que, a partir de agora, nenhum candidato que se pretenda competitivo entrará numa campanha eleitoral sem ter construído sua rede nas mídias sociais. Engajamento X credibilidade Mas se as redes sociais são tão presentes no dia a dia das pessoas, Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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por que alguns candidatos decidiram não apostar nelas? Talvez tenham duvidado da capacidade de engajamento das pessoas, num período tão turbulento e com tanta rejeição ao tema política. Para se ter uma ideia, de acordo com levantamento realizado Ipsos Public Affairs em agosto e divulgado este mês, 82% dos entrevistados não segue candidatos nas redes sociais. Desses, 93% afirmam que não pretendem fazê-lo. Esse mesmo estudo aponta que debates e propaganda eleitoral na TV ainda são as alternativas mais importantes na hora de decidir o voto para presidente da República (48% e 47% respectivamente). A opinião de amigos e familiares e os comentários nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens instantâneas aparecem bem atrás (23%, 14% e 5%). Bem como as notícias dos portais da internet, propaganda eleitoral no rádio e

vídeos no YouTube (14%, 9% e 4% respectivamente). Mas a pesquisa também mostra números interessantes para quem aposta nas redes sociais. O engajamento tem taxas expressivas. No WhatsApp, 21% afirmam compartilhar informações sobre candidatos e 24% comentam, enquanto 27% apenas leem/assistem. No Facebook, os números são próximos: 20% compartilham, 24% comentam e 26% apenas leem/ assistem. O engajamento é menor no YouTube, Twitter, Instagram e outras redes sociais. Perceba que aqueles que declaram não comentar nem compartilhar, leem e assistem. Ou seja, são impactados de alguma forma pela informação. Se a dúvida da relevância das redes sociais na disputa eleitoral ainda prevalece, vale olhar o Google Trends, que mostra o nível de curiosidade e interesse das pessoas sobre um determinado nome ou assunto.

Reação dos eleitores quanto às informações sobre candidatos nas redes sociais 27 26 24 24 21 Lê/Assiste 20 Compartilha WHATSAPP Comenta

FACEBOOK

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YOUTUBE 11 3 Ipsos Public Affairs

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OUTRAS REDES SOCIAIS


No Trends de 21 de setembro, o cenário era o seguinte: • Jair Bolsonaro (PSL) = 63% das buscas • Fernando Haddad (PT) = 16% • Ciro Gomes (PDT) = 11% • Geraldo Alckmin (PSDB) = 2% • Marina Silva (Rede) = 2% • Cabo Daciolo (Patriota) = 2% • João Amoedo (Novo) = 2% • Álvaro Dias (Podemos) = 1% • Guilherme Boulos (PSOL) = 1% • Eymael (PSDC) = 0% • Henrique Meirelles (PMDB) = 0% • João Goulart Filho (PPL) = 0% • Vera Lúcia (PSTU) = 0% Observe que as buscas do Google refletem o interesse em buscar informações, e não a intenção de votos. Mas, se compararmos essas buscas às pesquisas de intenção de voto divulgadas nas últimas duas semanas, notaremos alguma semelhança entre as primeiras posições das pesquisas e os nomes que mais despertam a curiosidade dos internautas. A situação fica mais interessante quando se observa os assuntos mais pesquisados sobre os candidatos. Na semana de 14 a 20 de setembro, por exemplo, as buscas em torno de Jair Bolsonaro se davam em relação ao seu estado de saúde, seus atos como deputado e dúvidas sobre o fascismo. As pessoas que buscaram no Google informações sobre Fernando Haddad queriam saber principalmente o que ele fez como prefeito e ministro e quem é seu candidato a vice-presidência, mas ferramenta detectou aumento repentino nas buscas sobre a possibilidade de Jean Wyllys ser nomeado ministro em caso de vitória do candidato, assunto amplamente divulgado nas

redes sociais. As buscas envolvendo o nome de Ciro Gomes referiam-se às ações do candidato no Ceará, a opinião dos cearenses a respeito dele e sobre sua ex-mulher, Patrícia Pillar, buscas que também cresceram motivadas por postagens nas redes sociais. Sobre Marina Silva, além da trajetória, as pessoas queriam saber a posição da candidata sobre o aborto e a profissão do marido dela – motivadas por postagens no online. Os internautas também buscaram saber sobre a atuação de Geraldo Alckmin frente ao governo de São Paulo e a respeito de boato envolvendo os candidatos tucano e do PT. Chama atenção no caso dele o aumento das buscas pelo número do candidato nas urnas. Se levarmos em conta o Trends do Google, as redes sociais têm influenciado muito as campanhas eleitorais. Além de saber quem são e o que fizeram os candidatos, os internautas também têm utilizado a internet para verificar a veracidade ou não do que leem e assistem diariamente nas mídias sociais. A cada notícia ou boato lançado no online, imediatamente se percebe o crescimento das buscas no Google que possam comprovar ou desmentir a informação. Até aqui, quem investiu na estruturação de uma sólida presença nas mídias sociais parece levar vantagens. Mas é sabido que a maioria dos eleitores deixa mesmo para decidir o voto na última semana. Resta saber se a decisão será feita a partir dos programas eleitorais e debates na TV ou se as recomendações e os comentários de amigos e parentes nas redes sociais e plataformas de mensagens instantâneas falarão mais alto. Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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Os presidenciáveis nas redes sociais Ao longo da campanha eleitoral, candidatos seguem conquistando seguidores nas principais redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram. De acordo com levantamento da empresa de marketing de influência Airfluencers, os 5 primeiros colocados no ranking, de acordo com o número de seguidores, são respectivamente: Jair Bolsonaro, Fernando Haddad, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e João Amoêdo. A pontuação é obtida a partir da soma de quadros de favoritismo, aceitação, associação de votos e subtração de quadros negativos (medo, rejeição e comentários negativos). Bolsonaro soma 10,4 milhões de seguidores, nas três redes sociais. O candidato, que demonstrava crescimento desde o fim de agosto, conquistou 202,2 mil seguidores desde o atentado que sofreu em Juiz de Fora/MG, em 6 de setembro. Ele também lidera em compartilhamento, com uma média de 15,2 mil nos últimos três meses; e comentários, com uma média de 7 mil por post. No mesmo período, entre os dias 6 e 15 deste mês, Amoêdo apresentou o segundo maior crescimento de seguidores, com 152 mil novos fãs. Nos últimos 90 dias, candidato aumentou sua base em 124% e chegando a 2,5 milhões de seguidores. Nesse período, gerou 7,4 mil compartilhamentos, A segunda posição em número de comentários ficou com Cabo Daciolo, que alcançou 1.712 comentários por post. Vale lembrar que o número de comentários é muito importante na questão da

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relevância, já que o algoritmo do Facebook, por exemplo, leva em consideração o número de interações – não importando se positivas ou negativas – para a exposição no feed de notícias. Ou seja, quanto mais comentários, mais o post é mostrado. Já no Twitter, o campeão em publicações nos últimos 90 dias é Meirelles, com 2,5 mil tuítes. O segundo que mais produz conteúdo nesta rede é Álvaro Dias, com 1,5 mil publicações. Apesar do grande número de postagens, eles são os que menos geram retuítes, importante fator de influência nessa plataforma. A média é de apenas 20 retuítes para cada. Marina Silva é a candidata que apresenta maior base de seguidores no Twitter, com 1,9 milhão de seguidores. E o maior gerador de retuítes é Bolsonaro, com 2,5 mil compartilhamentos de suas publicações. No Instagram, o maior número de postagens nos últimos 90 dias foi de Guilherme Boulos, com 1.000 posts. Álvaro Dias foi o segundo, com 691. Bolsonaro conquistou mais de 437 mil seguidores após o atentado e foi o que mais cresceu. Na segunda posição, aparece Ciro Gomes, que conquistou 80,8 mil novos perfis e hoje soma 340 mil seguidores. Entre os dias 17 e 19 de setembro, a Airfluencers analisou 500 mil posts no Twitter. Desses, citaram 181,5 mil vezes Bolsonaro, 107 mil mencionaram Haddad e 45,8 mil marcaram Ciro. Alckmin é mencionado 30 mil vezes.


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REDES SOCIAIS

O incrível universo das

Redes Sociais

Se comparássemos as mídias sociais a um sistema solar, como seria? Uma empresa canadense de mídia digital Visual Capitalista pensou nisso e transformou a ideia num belo infográfico que apresenta as mídias sociais como planetas, de acordo com o número de usuários ativos mensalmente. É interessante observar que alguns desses “planetas” não são visíveis (ou são pouco visíveis) em nosso hemisfério, como ocorre com os corpos celestes da vida real. Essa situação fica ainda mais evidente quando olhamos, por exemplo, as plataformas de mensagens instantâneas. Confira alguns destaques: 24

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Facebook Sem dúvida a maior rede social em números, com mais de 2 bilhões de usuários ativos por mês. Uma das primeiras redes sociais a serem consideradas verdadeiramente globais, a plataforma esteve envolvida em casos de uso indevido de dados de usuários e vem sofrendo cobranças de governos, especialmente dos EUA e Europa. Ainda assim, segue na liderança. Instagram Atingiu recentemente o número de 1 bilhão de usuários ativos por mês e aparece entre as “queridinhas” dos brasileiros.


Twitter É a plataforma mais indicada quando se quer falar com uma empresa ou debater questões importantes. É a rede social mais utilizada, por exemplo, por líderes mundiais e CEOs de grandes empresas. O Twitter, como acontece hoje com o Facebook, enfrentou controvérsias pela disseminação de notícias falsas e uso de robôs na plataforma. Fator que limitou seu crescimento. A plataforma não divulga o número de usuários do Brasil, mas, segundo enquete realizada em junho/18, cerca de 70% dos brasileiros acessam a rede social regularmente para se informar sobre política. Snapchat Em 2015, a plataforma reinava entre os jovens com menos de 18 anos. Mas o Instagram logo conquistou esse público desbancando o Snapchat. Um dos motivos foi o lançamento do recurso Story pelo Instagram. O outro é que a rede social não tem boa performance em smartphones menos potentes - que é o caso da maioria dos telefones em operação no Brasil. Sem contar a mudança na

interface do Snapchat, que desagradou muitos usuários. Reddit Não é tão popular no Brasil, mas é maior que o LinkedIn e rivaliza com o Twitter em número de usuários ativos. WatsApp Muito mais popular no Brasil do que nos EUA. Chegou num momento em que as pessoas estavam insatisfeitas com o custo do SMS. Isso fez do WhatsApp um dos primeiros aplicativos móveis verdadeiramente virais na era dos smartphones. Hoje tem cerca de 1,5 bilhão de usuários ativos mensais. WeChat Popular na China, é mais do que um aplicativo de troca de mensagens. Conhecido como “super app”, o WeChat facilita tudo, desde compras em pontos de venda até acesso a serviços públicos. Conta com 1,04 bilhão de usuários ativos por mês e é o aplicativo no qual o usuário médio gasta mais tempo.

Para ver o infográfico original, acesse www. visualcapitalist.com/ social-media-universe

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GESTÃO

Pesquisa mundial aponta perfil do fraudador A corrupção é hoje uma das principais preocupações dos brasileiros. Embora não exista um consenso com relação aos cálculos, estima-se que os prejuízos da corrupção atinjam mais de R$ 150 bilhões por ano no Brasil. Além das perdas financeiras, tais ações também são devastadoras para a reputação das instituições. Corrupção e fraude, muitas vezes, andam de mãos dadas. Enquanto a primeira está ligada ao suborno e ao emprego de meios ilegais para benefício próprio, a fraude pode ser entendida como qualquer ato enganoso, de má-fé, ou falsificação. O fato é que ambas são nocivas à sociedade e às instituições. Mas será que é possível identificar o perfil de um potencial fraudador? Pesquisa mundial que investigou 750 fraudadores realizada pela consultoria KPMG entre os anos de 2013 e 2015 traçou o perfil do fraudador. De acordo com o levantamento, os autores de fraude tendem a ser do sexo masculino (79%), com idade entre 36 e 55 anos (68%), trabalham por mais de seis anos na organização vitimada pelo ato e mantêm posição executiva em operações, finanças ou gestão.

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Chama atenção, porém, o fato de que 38% dos fraudadores são vistos como pessoas respeitáveis dentro da instituição, enquanto apenas 10% foram identificados como profissionais de baixa reputação. Os que cometem fraudes também demonstraram ter senso de superioridade mais forte do que medo ou ódio. Os fraudadores tendem a ser pessoas altamente respeitadas e possuem estilo de vida chamativos. Também são vistos como pessoas amigáveis pelos demais funcionários e raramente são percebidos como solitários. No levantamento, a fraude predominante (47%) é a apropriação indébita de ativos (apoderamento sem consentimento de valores ou patrimônio pertencentes às instituições) por meio de desfalque financeiro e de aquisições. O segundo tipo mais comum é a preparação e divulgação fraudulenta de informações financeiras (22%). Mas o que leva ao surgimento de fraudadores nas instituições? De acordo com o estudo, a facilidade de se cometer atos ilícitos dentro das instituições é um dos principais “incentivadores”. A deficiência de controles internos foi


apontada como responsável pelo aparecimento de 61% dos fraudadores. “Os controles internos são deficientes quando eles são mal planejados e não são seguidos pelos funcionários. Uma avaliação minuciosa do risco de fraude consegue demonstrar onde estão as lacunas”, explicou Lem Chin Kok, Head da KPMG Forensic, em Cingapura. Há também aqueles que acreditam que não serão pegos porque ocupam posições poderosas dentro da instituição. A maioria dos fraudadores age em grupo (mais de 70%) e, geralmente, conluiado com pessoas que não atuam na instituição. Esses grupos tendem a causar muito mais danos do que os fraudadores individuais. Fraude e corrupção O estudo também detectou que, dos 750 fraudadores verificados, 125 foram autores de atos de corrupção e exibiam características diferentes dos demais, já que atuavam em nível mais alto dentro da

instituição: 51% eram executivos, contra 31% dos que cometeram apenas fraude. Além disso, nesse grupo, 63% se envolveram em práticas corruptas por um período de três anos ou mais. Outra diferença foi a forma de detecção. Enquanto as instituições puderam identificar a fraude por sistemas de controle (como auditoria interna), relatos e queixas de clientes e fornecedores e delações (33%), a maioria dos casos de corrupção só veio à tona porque houve denúncia (61%), anônima ou não. Como se vê, combater a fraude e a corrupção não é tarefa fácil. Assim, algumas medidas precisam entrar na pauta das instituições, como a criação de uma cultura de ética e compliance internamente nas instituições; a implantação de sistemas de controle; análise de reputação de fornecedores e parceiros; e criação de canais para denúncias. Talvez não seja suficiente, mas reduzirá a sensação aos fraudadores de que sairão ilesos.  Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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ANÁLISE

Lei Geral de Proteção de Dados

Após a sanção, quais os próximos passos? Por Adriane Nakagawa Baptista Sancionada pelo Presidente Michel Temer no último dia 14 de Agosto, A Lei Geral de Proteção de Dados é um marco na evolução legal e na definição de regras para o tratamento, uso, transferência e proteção de dados pessoais na internet. Aprovada por unanimidade e em regime de urgência pelo Plenário do Senado em julho, a matéria mobilizou o Congresso, principalmente depois do vazamento de dados

coletados pela empresa Cambrigde Analytica e usados nas últimas eleições nos Estados Unidos. Antes de sua sanção, o conceito de proteção de dados era mencionado, mas essa é a primeira vez que estamos lidando com um conjunto de regras bastante estruturado e que, inclusive, prevê sanções e também a necessidade de transparência por parte das empresas que detêm esses dados, sejam eles utilizados Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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Adriane Nakagawa Baptista é bacharel em Direito pela USP e LLM em Direito Comercial Internacional e Europeu pela Universidade de Leiden. Pesquisadora na área de comércio internacional, possui diversos artigos em livros e periódicos especializados em resolução de disputas e, atualmente, é doutoranda em Comércio Internacional aplicado a Inteligência Artificial pela USP. É sócia no escritório Nakagawa Baptista & Baptista Advogados e diretora do Atelier Jurídico, espaço colaborativo dedicado à prática da arbitragem e pareceres legais.

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na internet ou em qualquer operação comercial. Ou seja, essa Lei, que entrará em vigor daqui a 18 meses, em fevereiro de 2020, nos faz avançar no processo evolutivo de uma série de regulamentações necessárias à proteção de dados no Brasil e no mundo e devolve, ao cidadão, o controle sobre suas informações pessoais, exigindo dele o consentimento explícito para coleta e uso dessa base. Com ela, o cidadão pode visualizar, corrigir e excluir suas informações e mesmo revogar, a qualquer momento, um consentimento cedido anteriormente. Mas o que são dados pessoais? Pode parecer uma pergunta básica, mas saber essa distinção é algo interessante e muito importante. Na União Europeia, o General Data Protection Regulation (GDPR) também é recente. A lei foi aprovada em maio deste ano e a Corte Europeia de Justiça precisou avaliar mais de 30 casos para distinguir e se pronunciar sobre o que é e o que não é dado pessoal e desfazer qualquer possível confusão. Chegou-se à conclusão de que dados pessoais são quaisquer informações relacionadas à pessoa natural. No Brasil, nossa legislação refletiu e acompanhou essa mesma designação. Essa é apenas uma das muitas dúvidas que podem – e devem – surgir. Como pesquisadora e estudiosa da área, posso dizer com muito zelo que pouco sabemos – tanto os colegas do Direito, quanto os da Tecnologia – sobre as práticas que vêm por aí. Creio estarmos diante da ponta do iceberg. Ou seja, o aprofundamento, o debate, o esclarecimento e a troca de informações entre áreas nos aju-

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da a somar conhecimento para, não apenas tratar de maneira cautelosa os dados das pessoas, como também proteger as empresas de multas milionárias. Mas, uma vez que a LGPD promete mudar a rotina das empresas, exigindo a formulação de novas políticas internas, como começar esse processo de adaptação? Na minha opinião, o primeiro passo para as empresas que estão se deparando com a Lei Geral de Proteção de Dados é ler os dispositivos e começar a preparar suas equipes para que façam um alinhamento – técnico e jurídico – em relação às disposições previstas. O suporte jurídico é fundamental, já que a Lei estabelece algumas situações em que a empresa vai precisar, tanto fornecer informações claras a respeito de que tipo de dados serão solicitados às pessoas e a que tipos de tratamentos esse material estará sujeito, quanto se mostrar consciente sobre como solicitar o consentimento das pessoas para ter acesso a esses dados. Se, em 18 meses, as empresas não estiverem adaptadas às novas regras, multas de 2% do faturamento, num limite de R$ 50 milhões, poderão ser aplicadas. Por isso, acredito que o momento, agora, é de busca por esclarecimento e de construção de conhecimento conjunto. Será muito difícil estabelecer uma política de compliance digital ou compliance em tecnologia que seja eficiente sem que, antes, seja possível colocar, numa mesma sala, os pontos tecnológicos e jurídicos para alinhamento e início dos primeiros passos na definição das conformidades definitivas – abrangendo tanto o GDPR Europeu quanto a Lei brasileira. 


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GESTÃO

A Educação no centro do debate Um país educado gasta menos com saúde pública, tem menores índices de criminalidade, economia mais eficiente e menores taxas de corrupção

Todos concordam que é preciso melhorar a qualidade da educação no Brasil e que esse é o fator essencial para o desenvolvimento do país. Embora o tema não apareça entre as três principais preocupações dos brasileiros, que são corrupção, segurança pública e saúde, de acordo com pesquisas, a educação pode, sim, ser a resposta para parte significativa da solução dessas três questões. 34

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Um país educado, diz Ana Carla Abrão, sócia da consultoria americana Oliver Wyman, gasta menos com saúde pública, apresenta menores índices de criminalidade e tem uma economia mais eficiente. Além disso, de acordo com o Movimento Todos Pela Educação, os países líderes no ranking do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, promovido pela OCDE - Organiza-


ção para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) têm alguns dos menores índices de corrupção no mundo. “Uma educação realmente de qualidade tem o potencial de promover, além do conhecimento científico e teórico, competências importantes para a formação cidadã, como o espírito crítico, o senso de justiça, etc. Essa formação, por sua vez, tende a gerar uma maior conscientização cívica e dos direitos dos cidadãos. Com isso, há uma menor propensão a cometer ou aceitar atos de corrupção e, por outro lado, um maior engajamento e cobrança por justiça e ética, o que pode levar a uma menor tolerância à corrupção”, explica Thaiane Pereira, coordenadora de projetos do Todos Pela Educação. Em ano de eleição presidencial, é essencial que o tema seja foco de debates. Aos candidatos cabe trazer o assunto para o centro do debate. Apresentar seus projetos de forma detalhada, expor suas ideias, estratégias e metas. É sempre bom lembrar que países que priorizaram a educação colhem hoje os bons resultados dessa decisão. Dinheiro apenas não basta Nessa área, não basta aplicar vultosas somas de recursos financeiros. É preciso ter foco, saber como e onde investir o dinheiro para gerar resultados positivos. Não é difícil ter um diagnóstico de que o Brasil investe mal em educação. Basta um rápido olhar nos últimos resultados do PISA para entender a precariedade da situação. O PISA é um exame realizado a cada três anos pela OCDE e avalia três áreas do conhecimento: matemática, leitura e ciências. Em 2015, foram avaliados cerca de 540.000 estudantes de 72 países e economias. O Brasil alcançou a 65ª posição em matemática, 63ª em ciências e 59ª em leitura. Ou seja, nossos resultados deixaram muito a desejar. Especialmente se levarmos em conta que o Brasil destina 17,2% dos seus gastos públicos à educação, atrás apenas para do México e da Nova Zelândia, que utilizam 18,4% para o mesmo fim. Em 2012, o gasto público brasileiro em educação, da básica a superior, representou 5,6% do PIB. Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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Proporção maior que a média da OCDE, que é de 4,7%, e a 5ª mais alta entre todos os países avaliados. Mas os números mostram que apenas colocar dinheiro na educação está longe de ser o suficiente. De acordo com a OCDE, Colômbia, México e Uruguai, por exemplo, gastam proporcionalmente menos que o Brasil por estudante, mas apresentam melhor desempenho nos testes PISA. Um dia a menos de aprendizagem por semana Algumas questões por aqui chamam a atenção. Dentre elas, o fato de que as instituições de educação básica destinam um percentual abaixo da média para os gastos com remuneração de pessoal. Segundo levantamento da OCDE, nos anos iniciais do ensino fundamental, cer-

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ca de 73% das despesas correntes são destinadas à remuneração de pessoal, quando a média é de 79%. Esse padrão se repete nos anos finais do ensino fundamental e do médio. Outra situação que salta aos olhos é o tempo destinado efetivamente à aprendizagem. De uma média de 4,5 horas de aula por dia, pouco menos de 2 horas são aplicadas na exposição efetiva à aprendizagem. Ou seja, o professor brasileiro ainda gasta muito tempo com atividades que não dizem respeito a aprendizagem. Cerca de 26% do tempo é usado para organização de sala de aula, contra 15% no parâmetro internacional de boas práticas. E 10% são usados para atividades fora da tarefa de ensinar. “Ao compararmos o que é considerado adequado no mundo, verificamos que no Brasil há 20% a menos


no tempo de exposição efetivo de aprendizagem, o que ao longo de um ano letivo, equivale a um dia a menos de aula por semana”, ressalta Thaiane Pereira. Na opinião da coordenadora de projetos do Todos Pela Educação esse é um problema estrutural. “É fundamental uma boa gestão escolar, uma formação docente que prepare mais para a prática da sala de aula e apoio de políticas intersetoriais, para que fatores de fora da escola e que impactam negativamente na aprendizagem possam ser mitigados”, diz. A alocação de vagas é outro fator a ser considerado. As vagas na educação pré-escolar deixam a desejar, especialmente entre as famílias de baixa renda. Somente 15% das famílias pobres com crianças de menos de 3 anos têm acesso a creches. Nas famílias de alta renda, chega a 40%. Outra questão importante é a repetência. No Brasil, 36% dos jovens de 15 anos afirmam ter repetido uma série escolar ao menos uma vez. Tal prática tem se mostrado mais comum entre países com baixo desempenho no PISA. De acordo com a OCDE, os altos índices de repetência escolar brasileiros estão ligados a níveis elevados de abandono da escola. Entre 2009 e 2015, houve um declínio de 6% na taxa de repetência escolar no Brasil, observado principalmente entre os alunos do ensino médio. Mesmo assim, o índice é considerado alto. Mudanças necessárias Países bem-sucedidos no PISA, aponta a OCDE, investem algo mais em suas redes de ensino: altas expectativas para todos os alunos. Escolas e professores não permitem que um

aluno esforçado fracasse. Não fazem esses alunos repetirem uma série, não os transferem de escola e não os agrupam em turmas diferentes com base nas suas capacidades. Ao contrário, se comprometem para que esses alunos consigam ter melhor desempenho. Se o objetivo é construir um país melhor, é preciso enfrentar os desafios e melhorar a educação no Brasil. Aprender com países que vêm melhorando seus índices de qualidade da educação é sempre uma boa ideia. Não é necessário inventar a roda. Mas é preciso assumir que o que foi feito até agora não atingiu os resultados desejados. Mudanças são necessárias. Dentre elas, a adoção de medidas básicas focadas no aspecto pedagógico, como materiais de qualidade para alunos e professores e a reestruturação dos programas de formação docente continuada, bem como ações que perpassam a gestão escolar, como a adoção de critérios técnicos para a escolha dos diretores escolares. “É urgente implementar um conjunto de políticas de maneira sistêmica, que tenha como pilar central aperfeiçoar a formação e as condições de trabalho dos professores, e realizar uma reestruturação para valorização da carreira docente”, destaca Thaiane Pereira. A responsabilidade nessa área, porém, não é pode ficar apenas nas mãos dos governantes. A sociedade deve assumir seu papel, que é cobrar efetivamente que a educação seja prioridade na agenda política. “É preciso que a sociedade se mobilize e exija que os políticos atuem para melhorar a Educação, sobretudo a pública”, enfatiza Thaiane Pereira.  Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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ANÁLISE

Saída do Brasil do Mercosul (BRAXIT)

Integração ou Entreganação? Por Luiz Olavo Baptista

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Fala-se em Braxit, uma eventual saída do Brasil do Mercosul. Os partidários, certamente descontentes com as derivas do Tratado de Assunção, desejam que o país continue sua rota em busca de um desenvolvimento sustentável e com mais liberdade para a expansão de seu comércio exterior. Mas uma simples saída da instituição pode ser tão problemática quanto ocorre no Brexit. A integração almejada na fundação do Mercosul era a de uma instituição de geometria varável que fosse elaborando progressivamente protocolos complementares que atendessem aos interesses de todos e, no caso brasileiro, fossem levados ao Congresso e sanção do Presidente da República. Fato é que, após alguns resultados úteis, o Mercosul perdeu o rumo e tornou-se institucionalmente obsoleto. Sabemos que uma revisão das políticas do Brasil nas relações internacionais com seus vizinhos é necessária para adequá-las às novas realidades, levando em conta dados geopolíticos e econômicos. A professora Deisy Ventura já comentava, há anos, as dificuldades que as assimetrias institucionais entre o Mercosul e a União Europeia acarretavam.

Hoje vemos, sem surpresa, que as dificuldades decorrentes dessas assimetrias se refletem nas negociações dos dois grupos, que rolam há décadas sem resultado. Isso porque a estrutura do Mercosul é, hoje, inadequada e ineficiente. O acordo entre ambos os blocos está travado há mais de 17 anos. E toda vez que uma resolução parece iminente, ocorre alguma mudança política – ou de objetivo – de qualquer país envolvido. E, aí, toda a negociação tem de ser modificada. Na última interrupção, a causa foi um entendimento – por parte da Polônia – de que os termos prejudicariam sua agricultura. Em um caso como esse, se estivéssemos negociando sozinhos com a União Europeia, deixaríamos de fora os produtos poloneses e faríamos as tratativas diretamente abrangendo outros produtos. Outro exemplo é o projeto automotivo argentino, que só se mantém de pé por nossa causa. A contrapartida não foi boa: sustentamos uma fábrica de automóveis que custou R$ 1,5 bi fechada por dois anos, sem manufaturar nada, porque havia a obrigação de produzir os veículos na Argentina. Se feitos aqui, esses carros representariam exportação e emprego. Vê-se que a

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Luiz Olavo Baptista é bacharel em Direito e Ciências Sociais pela PUC-SP e Doutor pela Universidade de Paris II. Com mais de 50 anos de experiência, presidiu o Painel E4A da Comissão de Compensação das Nações Unidas e atuou como árbitro presidente do Protocolo do MERCOSUL para Resolução de Controvérsias. Atualmente, integra o Centro Regional de Arbitragem de Kuala Lumpur e é Presidente do Atelier Jurídico (www. atelierjuridico.com).

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amarração do Brasil com o Mercado Comum do Sul é nociva para nossa economia. No curso das últimas crises globais e naquelas de alguns dos Membros do Mercosul, os acordos foram ignorados. O fato de que os mandatos presidenciais nos diversos países não coincidem nem cronologica nem ideologicamente e que o presidencialismo é encarado de forma diversa em cada um deles torna as coisas mais complexas e confusas. Hoje a perspectiva da instituição é uma “crônica da morte anunciada”, como o romance de Gabriel García Márquez. Está a caminho de ser mais uma entre as organizações internacionais que sobrevivem não se sabe por que e sem relevância político-econômica. O Brasil precisa reconhecer que não há uma zona aduaneira e que necessita de uma nova estrutura institucional, adequada à realidade atual e apta a ser útil ao país. Essa será a utilização de uma rede de acordos bilaterais que complementarão ou superarão as dificuldades das grandes negociações multilaterais, como as da OMC. Acordos bilaterais podem ser úteis e aprofundar a integração de modo eficiente. Coexistem dois conceitos de Mercosul: um deles, bem-sucedido e útil, refere-se à integração mediante criação de acordos parciais para a eliminação de diversas barreiras ao comércio, dentre elas as alfandegárias e as burocráticas, além da normalização de produtos e outras providências de interesse dos signatários. O outro conceito, obsoleto e ineficaz, é o de uma organização internacional que tenta emular a UE e cerceia a soberania brasileira. Esta última é a

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“entreganação” a que se refere o título deste artigo. O advento de mudança de rumos na Política Externa Brasileira erodiu o soft power que antes tínhamos e vem criando percalços nas negociações brasileiras. Nosso país sempre favoreceu o multilateralismo, dada sua diplomacia coerente e de qualidade, e sempre exerceu com eficácia o que Joseph Nye chama de soft power. Com o soft power desenvolvido, a política comercial cresce e provoca um crescimento em retroalimentação: aos nossos produtos seriam abertas as portas para novos mercados e, com isso, seriam gerados novos empregos. Para citar um exemplo bem-sucedido, o Canadá obtém 75% do seu PIB com o comércio exterior, suprindo as dificuldades de ter uma população pequena, um território cultivável miúdo e um clima difícil. Para crescer e ser esse país rico e de economia pujante, com grande “soft power” internacional, expandiu seu mercado para o exterior. Seu mercado é o mundo inteiro. Não se chega nesse patamar carregando os outros nas costas. O Brasil não pode ser São Cristóvão, mas seguir por si. Conversando com economistas de organismos internacionais em Genebra, ouvi que um acordo entre o Brasil e a UE daria um impulso na retomada da economia mundial. É hora de o Brasil, assim como fez Gulliver ao despertar, romper os liames que o prejudicam e caminhar ao ritmo dos novos tempos, adaptando-se à realidade. Talvez não seja o caso de destruir o Mercosul, mas reformá-lo para que permita acordos bilaterais em que todos se beneficiem. Assim, abre-se todo um caminho novo. 


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ENTREVISTA

Entrevista: Daniela Costa da Silva

Linguagem falada: Um tema político

Para a mestre em Linguística Aplicada Daniela Costa da Silva, é natural que a linguagem falada se modifique no decorrer do tempo. Citando outros linguistas, ela destaca que a linguagem é um tema político. A mestre observa que, no dia a dia, quando conversamos com familiares, amigos e colegas, usamos vocabulário coloquial, frases feitas e gírias, e não aquele mais complexo e de regras prescritas na gramática normativa. Assim, não é possível falar em erros ou acertos quando tratamos da linguagem falada, mas é preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre adequabilidade e a aceitabilidade. 42

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Revista Estratégia - A linguagem falada é mais flexível do que a escrita, porém, algumas palavras, expressões e frases não são aceitáveis em nenhuma das duas condições. Por que isso acontece? Daniela Costa da Silva - O autor Marcos Bagno, linguista e professor da Universidade de Brasília, afirma que tratar da língua é tratar de um tema político. Aristóteles assevera que o homem é um animal político. Por este motivo, a linguística é uma atividade científica essencialmente politizada. É sabido que todas as línguas vivas mudam no decorrer do


tempo e o processo em si é infindável. A mudança linguística é universal, contínua, gradual e dinâmica, apesar de apresentar considerável regularidade. Observa-se que a linguística moderna prioriza a língua falada em relação à língua escrita por inúmeras razões. Uma delas seria o fato de que todas as sociedades humanas conhecidas apresentam capacidade de fala, mas há sociedades ágrafas. Como pensar que algumas palavras, expressões e frases não seriam aceitáveis em nenhuma das duas condições? Quem não as aceita? Quais são os critérios para aceitá-las ou não? Leva-se em conta a variedade linguística dos participantes de uma dada comunidade linguística, ou seja, variedade padrão ou não-padrão? Cabe esclarecer o conceito de variedade linguística. Trata-se de uma variante que uma língua apresenta segundo as suas condições de uso, ou seja, sociais, culturais, regionais e históricas. A variedade padrão está relacionada ao emprego que se faz da língua por grupos de maior prestígio cultural, político e econômico. Nota-se, em geral, maior utilização de vocabulário mais complexo e de regras prescritas na gramática normativa. Já a variedade não-padrão é usada em situações cotidianas com os nossos familiares, amigos e colegas. Destaca-se, geralmente, pelo emprego de vocabulário coloquial, de frases feitas e de gírias. Alguns gramáticos normativos rejeitam vícios de linguagem e outros desvios da norma-padrão da língua porque estão pautados unicamente nas regras gramaticais. Revista Estratégia - Frases como “vou levar ela para a escola” têm se

tornado cada vez mais comuns em nosso dia a dia. Construções como essa são usadas inclusive em telejornais e filmes dublados. Tal construção pode ser considerada correta na linguagem falada? Por quê? Daniela Costa da Silva - A construção “Vou levar ela para a escola” pode ser considerada adequada para a linguagem falada, sim. De acordo com Mário Perini, autor do livro Gramática descritiva do português brasileiro, as formas o, a, os, as (e lo, la, los, las) são de uso muito restrito no português brasileiro. Elas são observadas, sobretudo, em frases feitas, como exemplifica o autor em “Prazer em conhecê-la”. Entretanto, é perfeitamente aceitável dizer “Prazer em conhecer você” ou “Prazer em te conhecer”. Marcos Bagno, autor de Preconceito linguístico, indica que aqueles pronomes estão praticamente extintos no português falado no Brasil. Além disso, o linguista menciona que eles não são observados na fala das crianças brasileiras, nem mesmo sequer na dos brasileiros não-alfabetizados. Há baixa ocorrência do emprego daquelas formas na fala dos indivíduos cultos, o que demonstra que aquelas formas pronominais são exclusivas da língua ensinada na escola, principalmente da língua escrita, não fazendo parte, portanto, do repertório da língua materna dos brasileiros. Por isso, tanto os telejornais quanto os filmes dublados, fazem uso da linguagem com a qual os brasileiros estão mais familiarizados. É relevante pontuar que a gramática descritiva é o estudo do mecanismo pelo qual uma dada língua funciona, em um momento específico, como meio de comunicação entre os seus

Daniela Costa da Silva é specialista em Língua Inglesa pela Universidade São Judas Tadeu (2011). Especialista em Relações Internacionais pela FESP (2018). Mestre em Linguística Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2015). Doutoranda em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2017 - 2020). Atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de línguas portuguesa, inglesa e italiana, gramática sistêmico-funcional e linguística aplicada

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falantes, e da análise da estrutura, ou configuração formal que nesse momento a caracteriza. Propõe-se a descrever as regras da língua falada. Já a gramática normativa prescreve o uso correto do idioma por meio de regras e não leva em conta o uso real da língua. Revista Estratégia Quais são os principais erros de linguagem cometidos pelos políticos nos debates e nas propagandas políticas? Daniela Costa da Silva - Cabe aqui uma reavaliação da noção de “erro”. Ainda existe uma certa confusão entre língua escrita e falada e norma padrão e não-padrão. Todo falante nativo de uma dada língua é plenamente competente e capaz de distinguir as regras de funcionamento de sua língua materna, já que não forma frases que não respeitem as regras de funcionamento da língua. Aspectos que são confundidos normalmente: português, gramática normativa e variedade padrão. Os políticos, que são comumente bem assessorados, podem usar varieda44

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de não-padrão como estratégia de aproximação de seus eleitores. Eles sabem que a comunicação objetiva vai depender da linguagem empregada em seus discursos. Revista Estratégia - O que poderia ser feito pela sociedade (por qualquer cidadão) para evitar que erros de linguagem sejam incorporados ao idioma falado? Daniela Costa da Silva - Primeiramente, não há erros ou acertos! É preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre a adequabilidade e a aceitabilidade. Para isso, cabe entender qual é a situação de uso da língua na qual nos encontramos. O aprendizado da língua se dá a partir de leituras de textos bem escritos e não por meio de regras gramaticais. No momento em que lemos um texto escrito por outro, valorizamos a mensagem que ali está. Damos voz ao outro, reconhecemos seu direito à palavra e o encorajamos a manifestar-se. Por fim, verificamos como o texto foi produzido. Revista Estratégia - Como aprimorar a comunicação falada? Daniela Costa da Silva - A leitura de bons textos, de diferentes gêneros textuais e assuntos, é sempre uma prática recomendada por professores. O intuito é aprimorar a competência comunicativa e aumentar os níveis de letramento gradualmente. Ademais, convém estudar as variedades linguísticas e seus usos para nos tornarmos poliglotas na nossa própria língua, como diz o Professor Evanildo Bechara. 


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OPINIÃO

O Brasil tornou-se mais politizado? O voto nas mãos da paixão Por Rabino Samy Pinto Uma grande pergunta que podemos fazer ao olhar o cenário político nacional é: o brasileiro se tornou mais politizado com a crise do sistema? Para refrescar a memória, vamos analisar o histórico dos últimos anos. Em 2013, acredito ter sido um marco, quando houve grandes manifestações, o assunto era o aumento da tarifa dos transportes públicos. 46

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Ao chegarmos em 2016, os protestos foram contra a ex-presidente Dilma e reuniram mais de três milhões de pessoas pelo País. E esse envolvimento dá a impressão de que a resposta para a questão é positiva. Outros fatores apontam para essa rápida resposta. Uma recente pesquisa, realizada pelo Datafolha, mostra que 84% dos brasileiros são a favor


da continuidade da operação Lava Jato, que a luta contra a corrupção não deve parar. Esse e outros dados dão a impressão de que nos tornamos mais politizados, mas será que isso realmente aconteceu? Quando analisamos a fundo as pesquisas, elas nos alertam que não existe, na verdade, uma racionalidade na hora da votação eleitoral, e isso é um problema. Ser politizado é ser capaz de compreender a importância da ação política e de se tornar consciente dos deveres e direitos do cidadão. Em um regime democrático, temos apenas o momento da eleição para realmente condenar a corrupção sistêmica da forma mais eficaz possível. E ainda escolher o candidato mais competente na administração pública. Apenas para exemplificar o que pretendo dizer, é com tristeza que vemos um ex-presidente preso, que obteve direito de defesa em todo o sistema jurídico brasileiro, liderar as pesquisas para os presidenciáveis nas próximas eleições. Ele contratou excelentes advogados, foi para a segunda estância, recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça, foi debatido no STF, e, enfim, a prisão prosseguiu. Mesmo que a figura política seja um condenado, de acordo com o Datafolha, ele continuava líder na corrida eleitoral de 2018. Como é possível que a população vote em um condenado? Sem entrar no mérito da questão da defesa dos advogados para o seu cliente, esse comportamento mostra que o que determina as escolhas de votação não são critérios técnicos racionais. Algumas pesquisas alegam que até mesmo a “primeira impressão” ou a beleza facial afetam

na tomada de decisão do candidato, além das questões da proximidade ideológica, doutrina e paixão. E isso não tem ligação com a alta formação acadêmica ou por pertencerem à população pobre ou privilegiada. Encontramos uma ótima metáfora no futebol. Ninguém muda de time só porque o clube ganhou de forma injusta, jogando mal ou porque comprou o juiz. A torcida comemora a vitória e continua a torcer nos próximos jogos. Observamos assim que são muito raras as mudanças de paixão, seja no esporte ou na política. No Brasil, o voto não está nas mãos da razão e sim da paixão. Uma escolha que deveria ser feita por meio de critérios técnicos carrega o tom de algo totalmente irracional. Hoje, existem pensadores, acadêmicos e artistas que votariam no ex-presidente, e declaram que ele não é um político preso, mas um preso político. Então, essa conduta não é exclusiva de pessoas de baixa renda, com baixa escolaridade. Assim, podemos retomar a analogia do futebol. Existem torcedores do Corinthians, Palmeiras, Flamengo, entre outros times, de todos os níveis sociais, com diversos graus de escolaridade, porque a relação com o clube é de paixão. Atualmente, vemos a identificação com o político da mesma forma, por questões extremamente subjetivas. Então, no Brasil, a política se tornou uma conversa de botequim. Antes, falávamos de futebol e ganhar dinheiro. Agora, falamos de política com mais frequência. Podemos perceber que o tema está mais na boca do povo, mas isso não quer dizer que o brasileiro tenha se tornado mais politizado. Ainda existe um longo caminho para que isso aconteça. 

Rabino Samy Pinto é formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). Foi diretor do Colégio Iavne por 22 anos. É diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins, também conhecida como sinagoga da Abolição.

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FUTURO

Aumenta o número de pessoas que decidem deixar o país Este ano, Receita Federal recebeu 160% mais declarações de saída definitiva do país do que em 2011

A crise econômica, os inúmeros casos de corrupção que enchem o noticiário dia após dia, a violência e a falta de perspectiva estão despertando nos brasileiros o desejo de partir. Pesquisa realizado pelo Datafolha em maio deste ano aponta que 43% da população adulta manifestou o desejo de deixar o país. Entre os jovens, com idade entre 16 e 24 anos, esse percentual chegou a 48

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62%. Na faixa dos que têm ensino superior, 56% se mudaria e na classe A/B, 51%. E muita gente está transformando esse desejo em realidade. Para se ter uma ideia, em 2011, a Receita Federal recebeu 8.170 declarações de saída definitiva do país. Em 2015, o número já havia subido para 14.612 e, no ano passado, foram 21.236. De acordo com a pesquisa do Datafolha, os destinos preferidos para


quem quer sair do país são EUA, Portugal e Canadá. Os Estados Unidos seguem como o principal destino que quem decide tentar a vida em outro país, concentrando 42% do total de brasileiros vivendo no exterior. Foi para lá que o profissional de Comunicação e Marketing Fernando Couto e Magalhães se mudou há três anos com a mulher e os três filhos, hoje adolescentes. “A escolha se deu pensando na família, principalmente nos filhos, buscando um país onde as pessoas se respeitam, valores morais e familiares são preservados e as oportunidades de trabalho e estudo de qualidade existem, assim como a justiça e a segurança de pode caminhar sem ter a preocupação em ser assaltado”, afirma ele. Fernando destaca que tem esperança e que o Brasil viva momentos melhores, “onde o jeitinho brasileiro e os atuais valores distorcidos deem lugar a ações honestas, e as pessoas se respeitem e tenham oportunidades, independentemente de idade, cor, sexo ou raça”. Portugal Portugal tem se mostrado outro destino de grande interesse dos brasileiros. Só no ano passado, o país emitiu 11,6 mil vistos de residência a brasileiros e 5,3 mil para italianos, sendo que uma parte des-

se contingente era de brasileiros com cidadania italiana. O número de brasileiros vivendo em Portugal chega a cerca de 85,4 mil, o que equivale a pouco mais de 20% dos estrangeiros no país. A capital portuguesa, Lisboa, foi o destino escolhido pela jornalista Bel Molina, de Brasília, que se mudou há um ano e meio. Como principal motivo para a mudança, ela aponta a segurança. Em visita ao país em 2016, ela se impressionou com a tranquilidade das pessoas ao caminhar pelas ruas da cidade. “Aqui não vivemos apavorados com a violência urbana”, diz. Embora existam casos de furtos no transporte público e até mesmo nas ruas, ela destaca que não é comum uma pessoa ser abordada por criminoso armado nas ruas. Embora distante, Bel não deixa de acompanhar o noticiário sobre a terra natal. Ela destaca que votará para presidente em outubro. “Quero que o Brasil volte a respirar. A sensação que tenho é de um país estrangulado, sufocado por problemas de toda ordem. Quero que nossa moeda volte a ser forte, que as pessoas não se sintam estimuladas a fazer as malas e mudar completamente a Revista Estratégia Marketing Político - nº 6

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vida em busca de algo melhor em outro país, porque a realidade é outra. Tem que estar preparado para isso. Vejo esse “boom” de brasileiros mudando ou querendo mudar para cá. Chegam aqui e percebem que há emprego, sim, mas em áreas totalmente diferentes de suas carreiras ou profissões, moradia é cara, entre outras coisas, daí a necessidade de se preparar para uma mudança dessas. Espero que o próximo presidente e sua equipe consigam realmente encontrar soluções, pois de problemas o povo já está cheio. Desejo muito boa sorte, vontade e competência para isso”, observa. Jéssica Nigra, influenciadora digital e assessora de imprensa, também acredita que a mudança para Portugal seja definitiva. Ela trocou o litoral paulista pela cidade de Braga com o marido e dois filhos pequenos há poucos meses. “Para mim existem três pontos essenciais 50

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na criação dos meus filhos: Saúde, Segurança e Educação. Essas áreas encontram-se sucateadas em nosso país, apesar da carga tributária altíssima que pagamos, ainda temos que contratar e pagar valores absurdos pra ter esses serviços de forma particular e ainda assim deixando a desejar. Essa imensa desigualdade social que existe em nosso país também me assusta muito, acredito que o atual momento político é de mudança e renovação, mas preferi não pegar pra ver e esperar por essa mudança”, diz. A família optou por Portugal pela similaridade do idioma e por serem descendentes de portugueses, o que facilitou a mudança. O que mais chamou a atenção desde que chegaram foi a sensação de segurança nas ruas. “A sensação de andar na rua, deixar seus filhos brincarem sem medo, já faz valer todos os sacrifícios da mudança”, afirma. Nenhum dos entrevistados conseguirá votar nestas eleições, mas todos acompanham os acontecimentos com a mesma expectativa: de que a situação melhore por aqui. 


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SALA DE NOTÍCIAS

Notas e informações da sala de notícias

Mais de 20 horas de vídeos online por semana Nos últimos quatro anos, o tempo que os brasileiros passam assistindo vídeos online aumentou 135%. De acordo com pesquisa realizada pela Provokers para o Google, em 2014 gastávamos em média 8,1 horas semanais com os vídeos na web. Este ano, chegamos a 21,9 horas semanais, em média. Ainda segundo a pesquisa, a maioria (80%) dos internautas procura por conteúdo que não está disponível na TV. Muita gente (47%) recorre à web para ver conteúdos que não conseguiu assistir no horário de exibição na televisão. Entre os internautas há ainda um grupo (27%) que busca aprofun52

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dar assuntos que viram em programas na TV. A maioria dos entrevistados (75%) usa o smartphone como principal dispositivo para assistir vídeos na web. A partir do estudo de 8.000 vídeos, o estudo apontou que entretenimento, conhecimento, conexão e identidade são os temas que mais atraem os internautas. A pesquisa qualitativa foi realizada com 3.000 pessoas, com idade entre 14 e 55 anos, das classes A, B e C, que assistem tanto vídeos online como off-line nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, e representam uma amostra de 127 milhões de pessoas.


Cresce interesse de jovens em gestão pública Tem crescido o número de jovens interessados em gestão pública. De acordo com a Fundação Estudar, que seleciona jovens de alto potencial para estudar em universidades de ponta no Brasil e no exterior, houve um aumento de cerca de 20% no número de bolsistas que optaram por carreiras relacionadas ao setor este ano.

é compartilhado com mais frequência nas mídias sociais do que no conteúdo neutro é a intensidade das emoções que desempenha um papel mais importante. Por exemplo: o estudo analisou 165.000 tweets e encontrou uma ligação clara entre o número de retweets de tweets carregados emocionalmente em comparação a tweets neutros.

Imunes às fake news? Um estudo realizado pelo MIT, nos EUA, identificou que 6 a cada 10 pessoas compartilham um artigo online depois de ler apenas o título. No entanto, a maioria das pessoas se considera imune à desinformação no ambiente de redes sociais. O levantamento que analisou a disseminação de 126.000 contas no Twitter entre 2006 e 2017 identificou que as histórias falsas se espalharam muito mais rápido e tiveram alcance mais amplo que as verdadeiras. As principais notícias falsas analisadas alcançaram entre 1.000 e 100.000 usuários, enquanto aquelas baseadas em fatos verdadeiros atingiram, em média, 1.000 pessoas. Para os pesquisadores, isso ocorre porque as notícias falsas são escritas com o objetivo de despertar interesse. Outro detalhe é que as pessoas gostam de compartilhar notícias de última hora. Assim, as fake news são elaboradas para que pareçam ser a última novidade. Outra razão identificada no estudo está nas reações emocionais que as falsas histórias evocam. Normalmente, essas informações são associadas a emoções fortes, como medo, repulsa e surpresa, enquanto histórias verdadeiras inspiram emoções como tristeza, alegria ou confiança. Embora saibamos que o conteúdo emocional

Atenção para a linguagem das notícias falsas Já a linguagem das fake news foi objeto de estudo da Universidade de Washington, que comparou a linguagem usada em notícias reais, sátiras, fraudes e propaganda, e descobriu que palavras usado para exagerar - adjetivos, superlativos e advérbios modais - são muito mais comuns em notícias falsas. Em contraste, as notícias verdadeiras contêm mais palavras e expressões com números concretos - comparativos, estatísticas e números. Os pesquisadores também descobriram que pronomes em primeira e segunda pessoa são usados ​​mais em tipos de notícias menos confiáveis, enquanto notícias confiáveis são ​​ mais propensas a evitar linguagem muito pessoal. Ainda de acordo com o estudo, as fake news geralmente têm dois sinais claros de linguagem enganosa: expressões vagas e palavras usadas para suavizar ou diminuir o impacto das declarações que se apresentam (por exemplo, “talvez”, “aparentemente”, “mais ou menos”). Outro artigo analisou os traços lingüísticos de notícias falsas e concluiu que esses tipos de histórias diferem substancialmente do estilo de notícias reais, apesar da concepção comum de que histórias falsas são escritas para se assemelhar a histórias confiáveis ​​o mais próximo possível.

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