Da teoria crítica de Adorno ao cinema crítico de Kluge - educação, história e estética

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burgueses apoderam-se dos corpos de diversas formas e abrem espaço para que a repetição do horror pareça não ter fim. É nesse sentido, de acordo com Negt (1999, p. 164), que “A obrigatoriedade da repetição se expressa tanto na obsessão dos regimes autoritários pela ordem como na loucura dos indivíduos pela produtividade (Leistung) e pela ordem”. Assim, para esse autor, onde a ênfase da produtividade se dissemina, o tempo da memória submete-se à rapidez do tempo econômico. 3.2 Educação e elaboração do passado O presente, tão caro aos contemporâneos, e o futuro, tão desenhado em nossas utopias, só adquirem algum sentido quando nos recompomos com o passado. [...] Os tempos modernos querem a todo o momento dissolver tudo o que se chama de memória, na convicção de que podemos nos fixar nos limites do cotidiano e que só ele conta para a materialização de nossas utopias (RODRIGUES, 1999, p. 87).

É reducionismo analítico considerar que Adorno faz uma leitura psicologicista dos fenômenos sociais. Pelo contrário, para ele, o esquecimento do nazismo deve ser explicado a partir de uma situação social geral, e não apenas de uma psicopatologia. Por conseguinte, Adorno entende que a tentativa de matar a memória seria muito mais um resultado de uma consciência alerta do que de sua fraqueza em face da superioridade do que não se controla: o inconsciente. Assim, na Alemanha, após a Segunda Guerra Mundial, o fato de a democracia, ou mesmo a efetiva elaboração do passado, terem se apresentado como insuficientes ou inadequadas, foi entendido como um problema relacionado ao tempo necessário para que ambos se concretizassem. A idéia vigente foi, observa Adorno (1995e, p. 45): com o tempo, isso se resolverá. No entanto, Adorno interpreta esse pensamento como ingenuidade e organizado por um aspecto contemplativo. A idéia adorniana é de que não se é agente passivo da história. Não há, na história, nenhum tempo ideal que garanta que tudo melhorará por geração espontânea. Esta questão, no entender de Adorno, estava

vinculada a uma pedagogia democrática que

permitisse um

real

esclarecimento sobre a barbárie. Tal pedagogia seria uma contraposição ao esquecimento que facilmente converge em uma justificativa do esquecimento. Ainda


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