Edição Impressa 2022

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Editorial

DE VOLTA AO MUNDO MÁGICO DOS ANTIGOS Foto: Jefté Dias

Por tanto, uma evolução a qual Cilindradas Magazine certamente não poderia deixar de acompanhar, dar visibilidade e, mais que isso, estreitar laços e criar parcerias para que a divulgação desse maravilhoso mundo dos Antigos fosse incorporada, em definitivo, à rotina midiática da nossa região. Os desafios começam quando a decisão de relançar a edição impressa da Cilindradas Magazine é tomada depois de quase uma década e meia, desta vez em parceria com o Norte Clube Carros Antigos de Colatina, fonte Este Editor ao lado de um contemporâneo, o famoso DWK Vemag 1959. inspiradora para as mais diPor Guilherme Augusto Zacharias versas pautas, pela quantireze anos após o seu lançamento, Cilindradas dade e qualidade do seu acervo, humano e material. Magazine volta com uma certeza e muitos E apesar de todas as dificuldades em se fazer uma desafios. Lançar a revista nos meios digitais revista impressa, o resultado é extremamente com-cilindradasmagazine.com, desde março de 2021 pensador. O visual perene, tátil e ainda admirado por no ar - era uma dívida antiga com o movimento muitos, dá a ela uma sobrevida frente ao necessário e irreversível hábito das ‘leituras ráantigomobilista de Colatina e, por que não, do Espírito Santo. Desde DIGITAL E IMPRESSA, pidas’ no mundo digital. Digital e impressa, Cilindradas Magaziaquele longínquo ano de 2008, o CILINDRADAS ne volta ao cenário editorial capixaba segmento de Antigos, local e estaMAGAZINE VOLTA para continuar dando visibilidade ao dual, só fez evoluir. De lá para cá, os A DAR VISIBILIDADE mundo mágico dos Antigos, repletos antigomobilistas trouxeram para a ÀS ATIVIDADES de histórias, e aos seus apaixonados, sua coleção novos exemplares, raros ANTIGOMOBILISTAS. dedicados e ‘loucos’ colecionadores. e impecáveis, abrilhantando ainda No mais, agradecemos a todos que mais todo o acervo de Antigos da cidade. Por outro lado, novos colecionadores sur- colaboraram com esse retorno: desde os familiagiram, igualmente empenhados em trazer para o res deste escriba aos patrocinadores culturais, pasmunicípio raridades sobre rodas dignas das melho- sando pelos companheiros dos meios jornalístico e res representações do Antigomobilismo de qual- publicitário até à diretoria do Norte Clube Colatina, quer parte do Espírito Santo, do Brasil e do mundo. parceira fundamental nessa empreitada.

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Índice

34 SUBURBAN CARRYALL O ‘vovô artista’.

38 YA-1

A Yamaha vencedora desde o berço.

40 TRIO

Entre um Ford T e um Chevy Truck, um DKW assanhadinho e perigoso.

44 ROTAS DO AGROTURISMO Lazer e aventura.

49 22 DE AGOSTO

Nos 100 anos de Colatina, Antigos marcaram presença.

Capa Arte: Jefté Dias

08 CAPA

Lincoln Continental - Um carro com história.

50 EM NOME DO PAI

Antigomobilistas reverenciam a memória paterna.

56 CRÔNICA

18 GARAGEM DOS SONHOS Em dois andares, muito luxo e esportividade.

Adilson Vilaça - Um Chevy bem pra lá do fim do mundo.

20 LENDA

Bel Air 1957 - O melhor entre os de suas gerações.

22 CHEVY 500 SL - É 500, mas é 4100. 24 O PIONEIRO E A ‘PROFESSORA’ Na família Maestri, o importante é preservar a memória ancestral.

30 ACELERADAS

Pequenas notícias, grandes sacadas. Clássicos em RevisTa

www.cilindradasmagazine.com Editor Responsável Guilherme Augusto Zacharias Diretor de Arte Jefté Dias Diretora Administrativa 06 Cilindradas Magazine Victoria Bel S. Zacharias

Edição nº 01 Capa Arte: Jefté Dias

Textos Guilherme Augusto Zacharias

Impressão Aquarius Gráfica

Fotos Jefté Dias

Realização Norte Clube Carros Antigos de Colatina

Assistente de Arte João Guilherme S. Zacharias Pesquisas Laura Maria Zacharias Pedro Taranto Zacharias Colaboradores Elizabete Alves da Silva Ademar Teixeira

Rua José Jacinto de Assis, 83 - Esplanada Colatina/ES | 27 99794-8534 - 27 3722-0733



Capa

UMA HISTÓRIA, MUITAS QUALIDADES Apesar da tragédia que o marcou, o LINCOLN CONTINENTAL de quarta geração merece ser lembrado por seus atributos Por Guilherme Augusto Zacharias Fotos Jefté Dias/Arquivo Cilindradas Magazine

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Ford Lincoln Continental tem uma relação estreita com vários presidentes norte-americanos, em especial com aquele que foi assassinado no interior de um modelo conversível quando desfilava em carro aberto pelas ruas de Dallas, em 1963. O democrata John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) saiu da vida para entrar para a história; já o Lincoln Continental não só entrou para a história como continua fazendo sucesso até hoje, seja com modelos novos, seja como raridade nas mãos de colecionadores. É o caso deste exemplar, ano 1967, há quatro anos no acervo do colecionador colatinense Eduardo Marianelli, dono de 28 carros antigos. Em algumas das próximas páginas, o leitor vai saber um pouco mais sobre esta e outras raridades de Marianelli e de como o empresário da mineração e da agricultura, atual presidente do Norte Clube Carros Antigos de Colatina, cuida da sua coleção.

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John Kennedy a bordo do Lincoln Continental, ao lado de sua esposa Jacqueline, minutos antes do atentado que lhe tirou a vida.

Seu primeiro modelo, o Lincoln L, foi fabricado em 1920, ainda sob a bandeira da Lincoln, uma montadora que pertencia a um dos fundadores e dissidente da conceituada Cadillac, o engenheiro e inventor norte-americano Henry Leland (1843-1932). Em 1922, a Ford adquiriu a Lincoln e fez dela uma de suas divisões industriais. Mas foi em 1938 que o então presidente da Ford Motor Company, Edsel Ford (1893-1943), encomendou à própria Ford um modelo exclusivo para o seu uso, baseado no já existente Lincoln Zephyr, e que foi batizado de Lincoln Continental. A partir daí, foram várias as gerações desse ícone da indústria automotiva norte-americana, que, entre idas, vindas e versões, até hoje está disponível no mercado. Apesar de se tratar de um carro extremamente luxuoso, com 10

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itens de conforto e segurança avançados para a época, com enorme aceitação entre a classe alta americana, a quarta geração do Lincoln Continental (1961-1969) entrou para a história de maneira inusitada quando o então presidente americano John F. Kennedy sofreu um atentado à bala em visita à cidade de Dallas, no estado do Texas, em 22 de novembro de 1963, ao desfilar em um modelo conversível ano 1961, especialmente adaptado para o uso presidencial. Ou quase, já que aquele Lincoln Continental em que Kennedy foi assassinado, sequer tinha blindagem na carroceria e nos vidros, incluindo o teto-bolha de vidro retrátil, que também não foi usado naquela ocasião.

O Lincoln Continental de Eduardo Marianelli guarda os 100% de originalidade, com exceção de um detalhe relacionado ao diâmetro dos pneus, um pouco mais largos do que os originais.





Além do Lincoln Continental 1967, Eduardo Marianelli coleciona outras relíquias sobre rodas, todas elas expostas em sua Garagem de Antigos, no bairro Residencial Nobre, em Colatina.

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Apesar de estar no lugar errado na hora errada e acabar fazendo parte para sempre de uma das maiores tragédias ocorridas nos Estados Unidos, o Lincoln Continental se notabilizou também por disputar o mercado automotivo americano em pé de igualdade com os seus concorrentes diretos, o Cadillac Eldorado Biarritz e o Chrysler Imperial Crown, que no início da década de 1960 eram as outras grandes referências automobilísticas de status e posição social nos Estados Unidos. Hoje, os modelos fabricados entre 1961 e 1969 estão entre aqueles mais requisitados pelos colecionadores. “Sem dúvida, é um automóvel muito especial, mas não apenas por ter sido o carro em que o presidente Kennedy estava quando foi assassinado, mas também pela sua exuberância e elegância, um modelo bem à frente do seu tempo, equipado com itens muito adiantados para aquela época”, opina Marianelli. O Lincoln Continental 1967 recebeu poucas modificações da montadora em relação ao modelo anterior, já que em 1966 ele havia sofrido mudanças importantes, como novo motor e novos itens interiores, além da retirada das lanternas dianteiras e traseiras das bordas laterais, postadas horizontalmente. O modelo desta edição é equipado com regulagem eletrônica dos bancos - com ajuste de seis posições - e dos encostos de cabeça dianteiros, travas elétricas acionadas por velocidade e retrovisor e vidros elétricos, dentre outros itens, sem dúvida, considerados avançados para aquela época.

Em 1939 nascia o primeiro Lincoln Continental.

O Lincol Continental em que FGK sofreu o atentado.

Ficha técnica

Lincoln Continental Cupê 1967 Motor: V8 Cilindradas: 7.500 CC Potência: 340 HPs Câmbio: Automático de 3 marchas Comprimento: 5.61 metros Largura: 1.99 metros Entre eixos: 3.12 metros Peso: 2.282 kg Tração: Traseira Velocidade Máxima: 185 km/h Aceleração: 0-100 km/h - 11 segundos

O primeiro Lincoln da história foi produzido em 1920. Cilindradas Magazine

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INFORME PUBLICITÁRIO

GRANITOS EXÓTICOS E CARROS INCOMUNS Seja pela natureza ou pela criatividade humana, a Família Marianelli traz no coração a paixão pela arte e beleza

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a Arquitetura e no Antigomobilismo, expressões como ‘luxo’, ‘bom gosto’, ‘arte’ e

‘beleza’ sempre estão presentes. Há 18 anos, a Mineração Marianelli vem se destacando no segmento de rochas orna-

mentais, principalmente na linha Exótica, carro-chefe da mineradora, atualmente. Com uma grande variedade de granitos da


Rochas ornamentais da Mineração Marianelli: Qualidade, beleza e sofisticação.

mais alta qualidade, a Mineração Marianelli atende aos exigentes mercados brasileiro e mundial.

Se, por um lado, a Natureza proporcionou pedras ornamentais belíssimas, que após trabalhadas e lapidadas estarão presentes no design e na arquitetura das melhores construções, por outro, o Homem, há mais de um século, se encarregou de criar os mais belos exemplares sobre rodas, trazendo para os dias de hoje a paixão pela preservação da memória automobilística. A Mineração Marianelli, além

Carros clássicos e antigos e rochas ornamentais são duas paixões de Eduardo Marianelli.

de superar o desafio em ser uma empresa global que prima pela excelência na produção e exportação de rochas ornamentais, comercializando produtos nos EUA, Europa, Ásia e em todo território nacional, tem orgulho em promover e apoiar o Antigomobilismo no Espírito Santo por meio de seu diretor-presidente, Eduardo Marianelli, e seu acervo de quase trinta automóveis antigos.

 27 99900-7618 mineracaomarianelli.com.br


Coleção Fotos Cilindradas Magazine

GARAGEM DOS SONHOS A Garagem de Antigos de Eduardo Marianelli abriga um verdadeiro tesouro automobilístico

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o entrar para o admirável mundo do Antigomobilismo, o futuro colecionador se depara com uma questão ao mesmo tempo óbvia e preocupante, ainda que fascinante: ao dar início a aquisição de Antigos, na medida

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em que o sonho em ter um número cada vez maior de preciosidades vai se concretizando e o acervo aumentando, fica ainda mais difícil improvisar aquelas estadas em garagens e galpões de amigos ou vizinhos, ou mesmo deixá-los em locais próprios, mas sem a de-

vida proteção que o patrimônio sobre rodas exige. Outros colecionadores colatinenses, como os empresários Leonardo Demoner, Jadson Galon e o advogado Wellington Bonicenha também contam com a sua própria Garagem de Antigos. Além


de proteger e facilitar a manuten- Clube para reuniões e confraterção dos veículos - há sempre uma nizações dos antigomobilistas”, bateria descarregada, um excesso conta o empresário, membro e de poeira, um pequeno problema presidente do Norte Clube Carros aqui e ali para serem corrigidos -, Antigos de Colatina. esses espaços remetem àquelas No acervo de Marianelli, abriépocas que fascinam qualquer gado na Garagem de Antigos, antigomobilista, porque são de- no bairro Morada Nobre, podecorados com mo-se encontrar uma tivos automotivos coleção verdadeiDOIS ANDARES retrô, como logotiramente multifaDE MUITO LUXO E pos de montadoras, cetada. Clássicos ESPORTIVIDADE bombas de combusluxuosos, como um tível ou mesmo ícoLicoln Continental nes da indústria automobilística. 1967 (leia matéria de capa), um Em Colatina, Eduardo Marianelli Pontiac 1968, um Bel Air 1957 e há alguns anos construiu a sua uma picape Chevrolet 3100 1956 própria Garagem dos Sonhos, convivem em harmonia com os que abriga os 28 carros da sua potentes modelos esportivos coleção, distribuídos em dois pa- Corvette ZO6 2005, Opala SS vimentos. O local também conta 1976, Nissan 350Z 2005, picape com área de lazer e academia de Dodge Ram SRT-10 2004, Mitsuginástica. “Esse espaço, além de bishi Eclipse 2009, Camaro Z/28 abrigar os carros, é o local onde 2015 e muitas outras preciosidarecebemos os membros do Norte des entre aquele patrimônio. Cilindradas Magazine

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Destaque

Fotos Cilindradas Magazine

Foto: Jefté Dias

CHEVROLET

BEL AIR 1957

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m dos maiores sucessos da indústria automotiva americana, o Chevrolet Bel Air foi fabricado de 1950 a 1975 entre 20

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seis gerações que compuseram a sua vitoriosa trajetória. Os modelos fabricados entre 1955 e 1957, da segunda geração, ganharam o status de ícone por apresentarem um conjunto de mudanças que iam ao encontro do gosto e do comportamento dos americanos no chamado ‘Anos Dourados’. E foi nesse contexto que a segunda geração do Bel Air (1955-1957) marcou território, dando à Chevrolet a confirmação de ‘preferida da América’. Há alguns anos, um autêntico Placa Preta chegou a Colatina trazido por Eduardo Marianelli, e é considerado um dos poucos exemplares em mãos de

colecionadores no Brasil, como explica o empresário. “Esse Bel Air 1957 é um top de linha da segunda geração; ele tem um motor 3.8 6 cilindros de 162 cv, câmbio automático de

O MELHOR entre as gerações de uma LENDA automotiva três marchas, direção hidráulica, ar condicionado, travas, vidros e bancos elétricos… Tudo de fábrica, incluindo a pintura, além de um detalhe que o diferencia de outros modelos, que é a ausên-


Motorização avançada e acabamento de luxo deram ao Bel Air 1957 o status de melhor entre todas as gerações do modelo.

cia de coluna entre os vidros laterais”, conta. Apesar de todos esses atributos, Marianelli revela que seu Bel Air ainda não está pronto, pelo menos não ao gosto dele. “Em breve vou fazer uma reforma que inclui mudança de cor, reforço de cromagem nos detalhes da carroceria, revitalização do forro e estofados… Enfim, vou deixar esse Bel Air um dos mais bonitos do Brasil, valorizando ainda mais o Antigomobilismo em nossa cidade”, encerrou.

Ficha técnica

Chevrolet Bel Air 1957 Motor: 6 cilindros em linha Cilindradas: 3.851 CC Potência: 162 HPs Câmbio: Automático de 3 marchas Comprimento: 5.08 metros Largura: 1.85 metros Entre eixos: 2.92 metros Peso: 2.282 kg Tração: Traseira Velocidade Máxima: 193km/h

Em breve, o Bel Air terá nova cor e o interior totalmente revitalizado.

Aceleração: 0-100 km/h - 8 segundos

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Foto: Jefté Dias

Nervosinha

PARECE, MAS NÃO É A Chevy 500 SL que é uma FERA

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aparente ‘inocência’ desse bem conservado Chevy 500 SL 1985 pode surpreender até mesmo os mais experientes aficionados por picapes antigas. Com exceção de um discreto ‘4.1/S’ do lado esquerdo da tampa da caçamba, nada sugere que esse Chevrolet tenha sido modificado mecanicamente para se tornar

um ‘Opala’ 4100. Tudo bem que para os mais observadores, aquela configuração de rodas e pneus traseiros, bem maiores que os dianteiros, já indique algo ‘diferente’ nessa transformed pickup. Pois são eles que ajudam a suportar a força que o motor de seis cilindros joga sobre o diferencial e a caixa de marcha, os três, itens do Chevrolet Opala 4100. Para

parar tudo isso, o eficiente sistema eletrônico de freios ABS. Tamanha modificação exige atenção redobrada do motorista, a quem Eduardo Marianelli, proprietário também dessa Chevy especial, chama de “aquela pecinha atrás do volante”, sugerindo que para pilotá-la é preciso que o condutor seja, como ele mesmo diz, “bom de braço”.

Motor 6 cilindros, diferencial e câmbio do Opala 4100 deram a essa Chevy 500 SL o status de ‘picape nervosa’.

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Memória

DO PIONEIRO À ‘PROFESSORA’ No acervo dos MAESTRI, a preservação da MEMÓRIA familiar vem em primeiro lugar Por Guilherme Augusto Zacharias Fotos Jefté Dias

Alexandre Maestri entre dois ícones que fizeram história na família.

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oi na longínqua década de 1950 que o colatinense João Maestri, produtor rural nascido no distrito de Boapaba, deu início a uma paixão que faria de seus descendentes verdadeiros guardiões da memória e da história da família Maestri. Ao adquirir um caminhão Mercedes- Benz L312, ano 1957, o primeiro modelo de transporte de carga da montadora fabricado no Brasil, ele não imaginava que as décadas seguintes seriam marcadas pelo esforço e dedicação dos filhos, netos e bisnetos para que esse pioneiro da Mercedes-Benz em terras brasileiras fosse preservado e cultuado em homenagem à sua memória.

Quase vinte anos depois da chegada do L312, Alvino Maestri, filho de João, traria para a família um carro que se transformaria em outro importante personagem na história da coleção de Antigos dos Maestri, desta vez, um Opala Caravan, ano 1976, comprado zero quilômetro na Ciauto, antiga revendedora GM em Colatina. Hoje, resgatados e restaurados, o Mercedes- Benz L312 e o Chevrolet Opala Caravan trazem em seu enredo uma história digna de ser compartilhada; agora, tendo como protagonista o neto de João e filho de Alvino, o empresário Alexandre Dalla Maestri, como veremos nas páginas seguintes.

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Itens como o eixo dianteiro, a cabine, o chassis e o diferencial guardam a originalidade deste L312.

Naqueles tempos de madeira farta, João Maestri, que possuía propriedades em Colatina, São Gabriel da Palha e Nova Venécia, no noroeste do estado, transportava toras de jequitibás, canelas, jacarandás, maçarandubas e muitas outras espécies nativas da Mata Atlântica para as serrarias da região no seu ‘Torpedo’, como fora apelidado o Mercedes-Benz L312, pelo formato do cofre do motor, que lembra um explosivo em forma de míssil. Para suportar o peso de grandes troncos de madeira, o L312 oferecia suporte para até 7,5 toneladas. “Meu avô carregava muita madeira nesse Mercedes; naquela época, havia muita mata, e as propriedades dele ficavam próximas às serrarias…Houve uma vez em que o caminhão chegou a empinar numa altura de dois metros por causa do peso das toras, que, pelo tamanho, eram carregadas com boa parte da sua estrutura para fora da carroceria”, conta 26

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Alexandre Maestri. Para tracionar tudo isso, o L312 vinha equipado com motor OM, abreviatura em alemão de oelmotor (motor a óleo) de seis cilindros e 112 cavalos de força. Aliás, o L312 foi o primeiro caminhão fabricado no País movido a óleo diesel, o que o tornou responsável

família Maestri, muitos deles de intensos e pesados trabalhos, por óbvio, o ‘Torpedo’ perdeu parte da sua originalidade frente à necessidade de atualização de alguns componentes, como explica Alexandre. “O eixo dianteiro, a cabine, o chassis e o diferencial ainda são os mesmos de 1957, mas o motor

pelo slogan ‘O que é bom já nasce diesel’, usado nas propagandas da Mercedes-Benz para sua linha de pesados, naquela época. Com 65 anos fazendo parte da

e a caixa de marcha foram atualizados com os dos modelos L fabricados posteriormente; diria que este Mercedes tem hoje um percentual de 70% de originalidade”.


O L312 e a Caravan estão entre os pouco mais de dez Antigos do acervo de Alexandre Maestri. No entanto, entre os que foram adquiridos zero quilômetro pela família há mais de 40 anos, são os únicos que permaneceram nela até hoje. Além de ter no caminhão uma referência e uma reverência ao avô paterno, o empresário nutre pela Caravan um carinho todo especial, por ter sido nela que aprendeu a dirigir, no início dos anos 1980. Além disso, guarda com carinho as lembranças dos passeios e viagens, quando o pai, Alvino, conduzia a ‘professora’ rumo às férias em Guarapari com toda a família a bordo. “Para nós, o importante é preservar essa memória familiar, e esses dois carros estão impregnados com a nossa história”, diz Maestri, com-

Restaurado em 1986, o L312 voltou à sua forma original.

pletando que os demais carros do seu acervo, sem exceção, são réplicas fiéis daqueles que já fizeram parte da família. “Um desses An-

tigos é um Chevrolet 3100 ‘Boca de Sapo’ 1952, que deixamos exatamente igual àquele que pertenceu a meu pai”.

Alexandre Maestri e o resgate da Caravan, em 2007: restauração fiel trouxe a ‘professora’ de volta ao seu estado original.

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A trajetória dessas duas relíquias, em meio aos Maestri, não foi um caminho em linha reta. O caminhão Mercedes e a Caravan, em determinado momento, por diferentes razões foram afastados do convívio familiar. Em meados da década de 1980, o ‘Torpedo’ jazia em um canto de uma chácara em Colatina, depois de um acidente que o deixou de paralama e parachoque dianteiros destruídos, enquanto o Opala Caravan era vendido por Alvino. No entanto, ao mesmo tempo em que dava adeus à ‘professora’, a família Maestri iniciava a restauração do L312. “Levamos o Mercedes, que estava bem feinho, para o setor de lanternagem da Moto Capixaba (atual Motocap, em Colatina) e lá ele foi todo restaurado”, relembra Braz Brunetti, torneiro mecânico, amigo da família e colaborador em uma das empresas de Maestri. A Apólice de Seguro da Caravan, datada de 1979.

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Até mesmo a placa original da Caravan foi restaurada.

Até 1997, o Mercedes continuou em serviço intenso, sendo exigido ao máximo no dia a dia. Mas, naquele ano, uma nova reforma seria feita. “Essa restauração ficou pronta em 2000, depois que o amigo Buba (Sérgio Cani), da Mecânica Cani, gentilmente, se prontificou a ajudar na reforma, deixando o caminhão como o vemos hoje; de lá para cá, passamos a exigir menos do L312, que agora praticamente só é usado nos Encontros e em outros eventos de Antigos”, diz Maestri. Em 2007, passados 22 anos da

venda da Caravan, Alexandre reencontrou a ‘professora’ em uma casa na localidade de 25 de Julho, em São Roque do Canaã. A restauração, segundo Maestri, obedeceu rigorosamente à originalidade de todos os itens repostos, que não foram poucos, já que o carro estava completamente sucateado. “Foi um resgate marcante e até emocionante, eu diria, porque essa Caravan é testemunha de muitos dos melhores momentos que eu pude desfrutar com meu pai, minha mãe e meus irmãos por quase dez anos”, conta ele.


Renegado

MERCEDES 770 K O ‘monstro’ nazista de Adolf Hitler

O Mercedes-Benz modelo 770 K Grosser Offener Tourenwagen, ano 1939, que pertenceu a Adolf Hitler e era frequentemente usado pelo ditador em desfiles pelas ruas berlinenses da Alemanha nazista, foi a leilão em janeiro de 2018, mas ninguém quis arrematar o precioso veículo, cujo lance mínimo era de U$ 10 milhões, cerca de R$ 58 milhões. Interessados até

houve, mas a maior oferta não passou dos U$ 7 milhões, e o leilão foi encerrado sem sucesso. De acordo com a casa de leilões Worldwide Auctioneers, que promoveu o evento, parte do valor arrecadado, cerca de 10%, seria doado e condicionado a um programa de educação de “esclarecimento e prevenção de como e por que o Holocausto aconteceu e como prevenir tais atrocidades no futuro”. O proprietário desse 770 K tem em mãos o que a imprensa especializada define como um “Super Mercedes”. Ele tem 6,7 metros de comprimento, 2,13m de largura e pesa 3,5 toneladas, sem contar com o sobrepeso da blindagem, que já o fez pesar quase 5 toneladas. Sob o capô, um motor de 7,7 litros, 8 cilindros e 155 cavalos de força, devidamente alimentado com gasolina armazenada em um tanque de combustível com capacidade para quase 200 litros, completavam o perfil megalomaníaco desse ‘monstro’ nazista.

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Aceleradas

com Guilherme Augusto Zacharias/cilindradasmagazine.com Fotos Jefté Dias/Cilindradas Magazine

CHOPE NA RUA

MUSTANG GT Quando foi lançado em abril de 1964, na Feira Mundial de Flushing Meadows, em New York, o Ford Mustang apresentou inovações que o tornaram um verdadeiro ícone da indústria automobilística norte-americana, sobretudo porque acertou em cheio no gosto do público jovem, ávido por um modelo robusto e de alto desempenho, além de acessível aos

padrões americanos. O modelo ao acima é um GT V8, 1994, de 270 cavalos de força, que há seis anos pertence ao contador colatinense Carlito Soares de Souza. O conversível foi comprado do colecionador de Antigos, empresário (Viafor) Leonardo Demoner, dono de uma verdadeira frota de Mustangs de diferentes gerações.

RARA M800 Não é somente em um Mustang conversível que Carlito de Souza passeia por aí. Esta Suzuki M800 Boulevard, ano 2008, com apenas 8.700 km 30

rodados - que pertenceu ao empresário colatinense José Dionísio Gobbi (in memorian), do Grupo Motocap - é a outra opção à disposição do

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O fisioterapeuta colatinense Raphael Matuchaki teve a ideia de levar o chope artesanal aos eventos públicos de Colatina quando percebeu que a cidade carecia da oferta de uma bebida fabricada em pequena escala, mais requintada, com uma

e no exterior, a choperia itinerante oferece vários tipos de chope artesanal; no caso da ‘Kombeer’ do fisioterapeuta, são oferecidas cinco variedades de chope. Depois da sua ‘Kombeer’, que já circula por Colatina há mais de dois anos,

degustação diferenciada, mas nem por isso elitizada ao ponto de não poder ser consumida por uma boa parcela da população. Novidade no Espírito Santo, mas comum em alguns estados brasileiros

Matuchaki inaugurou, recentemente, o Pub Beard Beer, no bairro Honório Fraga, que oferece, além do chope artesanal com maior variedade de sabores, petiscos e rock da melhor qualidade.

contador nas horas de folga. “São os meus companheiros dos momentos de lazer… Gosto de dar umas voltinhas com eles, pegar um ventinho e desestressar do dia a dia corrido”, diz. O modelo M800 Boulevard foi lançado pela Suzuki em 2006, e é considerado um dos melho-

res da montadora até hoje. Para muitos, é uma ‘obra de arte’ pela beleza de seu desenho e suas linhas harmoniosas. “Além de ser muito bonita, esta M800 é uma verdadeira raridade: pouco rodada, nunca tomou um tombo… Completamente íntegra”, pontua Carlito.


YAMAHA XS-1A 650 ENTRE NÚMERO E NOMENCLATURAS, UM ÍCONE DOS ANOS 1970 Em 1970, a Yamaha Motor Company (YMC) lançou a XS-1A 650, logo depois aprimorada com o modelo XS-1B. Em 1972, a XS-2, ainda mais aperfeiçoada, trazia ignição eletrônica e freio a disco na roda dianteira. Foi entre 1973 e 1975 que a montadora japonesa quis dar uma descolada dos modelos XS lançando as versões 500, 650 e 750 com a nomenclatura TX.

Com exceção da 650, já consolidada como XS, e que em sua nova versão TX 650 A ganhou novos quadros estruturantes do chassi e balança traseira, resolvendo um crônico problema de trepidação, as versões 500 e 750 TX não foram tão bem sucedidas, fazendo com que a YMC logo descolasse a bem-sucedida 650 da família TX.

O modelo da foto é uma TX 650 cilindradas, ano 1973, que pertence ao colatinense José Marcos Holzmeifter, mais conhecido como Tomé, membro do Norte Clube Carros Antigos de Co-

latina e proprietário de mais duas relíquias, um Karmann Ghia 1971, modelo fabricado no Brasil entre 1962 e 1975, e um Mercury Eight 1947, comercializado pela Ford entre 1939 e 1951.

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BERNARDÃO O Jeep Willys CJ-6, fabricado no Brasil entre 1956 e 1975, era um derivado ‘esticado’ do modelo CJ-5, com 20 polegadas a mais de distância entre eixos. Também conhecido como Jeep Universal 101, ele se popularizou com o apelido de ‘Bernardão’, em alusão ao município de São Bernardo do Campo (SP), onde era fabricado. A linha CJ, abreviatura de Civilian Jeep em inglês, batizava os Jeeps fabricados para uso civil após a Segunda Grande Guerra, e que começaram a ser produzidos com o modelo

CJ-2A, fabricado até 1949. Em 1981, o Scambler (CJ8) deu fim à histórica linhagem da família CJ, posteriormente substituído pelos modelos Wrangler e Gladiator. O ‘Bernardão’ da foto é um modelo 1969, do empresário Edvaldo Pereira, membro do Jeep Clube Colatina. Equipado com câmbio de cinco marchas e pneus GT Radial Adventuro, mais seguros e confortáveis, o Jipão pode ser visto com frequência nas mais desafiadoras trilhas que formam o circuito off-road de Colatina e região.

MOTOTERAPIA O reitor do Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC, Pergentino de Vasconcelos Junior, é daqueles amantes do motociclismo que vão fundo no prazer em praticar essa atividade sobre duas rodas. Dono de uma Harley Davidson Softail Heritage 1800 cc, ano 2018, para ele nada se compara ao prazer de pegar a estrada pilotando a sua lenda

rumo à liberdade. “Essa terapia, que você faz com você mesmo, fechado dentro do seu capacete, é um momento que poucas vezes temos condições de fazer; é uma espécie de meditação. Quando você viaja de carro, você vê a paisagem; de moto, você é a paisagem, interagindo com a natureza, com os pássaros… Andar de moto é uma terapia”, afirma Junior.

EXEMPLAR ÚNICO Recomprado do empresário Eduardo Marianelli em 2020, este impecável Buick Le Sabre do dentista Michel Santiago Boti, tem a maioria dos itens que um super luxo pode oferecer, entre eles, transmissão automática, banco dianteiro bi32

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partido elétrico, ar condicionado, vidros e portas elétricos... E uma Placa Preta atestando a originalidade de todos esses diferenciais. Segundo Boti, esse Le Sabre 66 é o único exemplar em terras brasileiras cadastrado no Detran.


C-15 PATINADO Quando a gente se aproxima de um Antigo com a aparência de um carro desleixado, mal cuidado, enferrujado, é que começa a perceber que a cultura hot rod - aquela surgida desde os anos 1920, nos Estados Unidos, e que se popularizou a partir da década de 1940, quando principalmente os jovens e os ex-combatentes da Segunda Grande Guerra passaram a customizar veículos das décadas de 1930, 1920 e até da de 1910 - deu

origem a uma vertente ainda mais ‘louca’ entre os aficionados pelo

ferrujado, mas é só na aparência, porque, na verdade, é um processo

Antigomobilismo: o rat look. “O rat look deixa o carro com a aparência de en-

de pátina ferruginosa artificial aplicado sobre a carroceria, dando esse aspecto de ferrugem”,

explica o operador de máquinas Bhreno Vieira, dono desta picape Chevrolet C-15, 1968, modificada com um motor a álcool de caminhão A-60 da General Motors (19811989), suspensão a ar e injeção eletrônica. O A-60 ficou conhecido como ‘Canavieiro’, não só por ser alimentado com etanol, que o fazia recordista em consumo de combustível, mas por terminar os seus dias como ‘leva-e-traz’ nas usinas de cana de açúcar.

especialista em mecânica Ford, já nasceu dono desse Maverick Super Luxo, adquirido zero km por sua mãe, em 1976. Mayke, que é chefe de oficina da Viafor Colatina, é um irrequieto ‘artesão’, que ao longo dos anos vem fazendo modificações e adaptações em seu Maverick, deixando-o mais potente e com melhor performance. No lugar do original motor 4 cilindros, ele colocou um V8; a caixa de câmbio foi trocada por uma de picape Ford

F1000 4.9, de 5 marchas. “Além disso, coloquei injeção eletrônica, com bobinas individuais, e vinil preto no teto, para dar um destaque”, conta. Ele revela que usa o seu Maverick no dia a dia, e apesar de todo o empenho em deixá-lo cada vez mais aperfeiçoado mecanicamente, não tem pena em exigir o máximo do seu possante. “Cada vez que saio com ele, é um cacete que dou; queimo pneus, dou cavalo de pau... Tenho esse carro para usar, não para expor”.

SUPER LUXO SUPER MODIFICADO Entre os apaixonados por carros antigos, há os colecionadores, os somente admiradores e aqueles proprietários que

fazem de suas relíquias um verdadeiro laboratório de experiências. O mecânico colatinense Mayke Teixeira Andrade,

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Suburban

A VIDA LONGA DO ‘VOVÔ ARTISTA’

Em quase noventa anos, o Suburban já participou de mais de 1800 filmes e seriados de TV Por Guilherme Augusto Zacharias Fotos Arquivo Cilindradas Magazine

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N

o início da década de 1930, a General Motors iniciava a produção do Suburban Carryall, o primeiro veículo SUV de que se tem notícia, até hoje produzido pela montadora. Tido como o automóvel há mais tempo em produção no mundo, nesses 88 anos foram muitas as mudanças imprimidas, mas o conceito de resistência, capacidade de carga e conforto dos passageiros desse quase nonagenário permanece até os dias de hoje.

Originalmente fabricado com carroceria de madeira, a partir de 1935 o aço passou a revestir o Suburban, que vinha assentado sob um chassi de caminhão leve, de meia tonelada, e suspensão reforçada, acionado por um motor de seis cilindros em linha com 60 cavalos de potência e transmissão manual de três velocidades. Com lugar para oito passageiros, tinha os bancos removíveis, ampliando a capacidade de carga, chegando a comportar 3.259 litros.

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Em 1935, o Suburban Carryall passou a ser fabricado com carroceria de aço. Ao longo de quase nove dé- tamentos de segurança govercadas, o Suburban – o apeli- namental e nas produções cido Carryall (carrega tudo) foi nematográficas de Hollywood. abandonado pela GM no fim E de tanto participar de filmes dos anos 1930 – desempenhou das mais variadas inspirações diversas funções no cotidiano e enredos, o Suburban acabou dos Estados Unidos. Em 1933, fincando as rodas na Calçada eram fabricados para servir à da Fama de Hollywood, em 2019; Guarda Nacional e ao Corpo de um reconhecimento pela ininterConservarupta proção Civil dução em (CCC), uma mais de oito iniciativa décadas e de recupepela partiração ecocipação em nômica daquase 1.800 quele país filmes e seno período riados de da Grande TV, desde O Suburban participou de quase Depressão. o início dos 1.800 filmes e seriados de TV. Dois anos anos 1950, depois, a General Motors am- sendo considerado o ‘ator’ mais pliou o espectro de ação do antigo de Hollywood. Suburban e o modelo passou Em 1995, a General Motors lana ser usado nas mais diversas çou outro modelo SUV, o Tahoe, frentes. Além de ter caído no irmão mais novo do Suburban, gosto das famílias americanas, pouco menor, mas não menos incorporou as funções de am- imponente, espaçoso e conforbulância e viatura policial, além tável do que o primogênito da de ser figurinha fácil nos depar- família. Também a ‘veia artísti36

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ca’ do Tahoe logo seria observada, com mais de 750 participações em filmes e programas de TV, a partir da primeira metade da década de 1990.

Na década de 1930, o Suburban já era usado na área da saúde...

…e segurança pública.

O Suburban Carryall não demorou a cair no gosto das famílias americanas.


Chevrolet Suburban: a evolução em quase 90 anos de produção ininterrúpta.

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Akatombo

YA-1

A LIBÉLULA QUE NASCEU

VENCEDORA

A

A Red Dragonflay foi o primeiro modelo criado pela Yamaha.

primeira moto fabricada pela Yamaha surgiu no ano de 1955 com o nome de YA-1, dois anos depois de Genichi Kawakam, presidente da Nippon Gakki, uma empresa que produzia pianos desde 1897 e que viria ser a ‘mãe’ da Yamaha Motor Company, ordenar aos 38

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seus executivos que desenvolvessem o protótipo de um motor de motocicleta capaz de se tornar competitivo no emergente mercado de veículos de duas rodas no Japão. Diferentemente da RT 125, a YA-1 nasceu com a transmissão de quatro velocidades, ao invés de três, com as alavancas

da marcha e do arranque no mesmo eixo e um sistema de partida inovador que permitia o acionamento do motor com a moto em qualquer marcha, desde que a embreagem estivesse em ponto morto. Essas inovações tornaram o histórico modelo YA-1 da Yamaha mais fácil de ser conduzido.


Fotos: arquivo CM

Numa época em que a maioria das montadoras de motocicletas optavam pela cor preta em seus modelos, a Yamaha YA-1 surgiu com inovadoras cores creme e marrom avermelhado, dois tons que lembram o castanho do pelo de um cavalo. Essas e outras características, como a partida do motor com um leve toque, a firme acele- No ano de seu lançamento, a YA-1 ganhou a sua primeira corrida. ração e a dirigibilidade confortável deram a YA-1 meses após o seu lançamento, a o apelido de Akatombo, ou Red YA-1 foi a vencedora da 3ª CorFicha técnica Dragonfly, libélula vermelha em rida de Ascensão do Monte Fuji, Yamaha YA-1 categoria 125 cc. Com 16 parportuguês. No mesmo ano do lançamento ticipantes, a Yamaha emplacou da YA-1, a Yamaha Motor Com- sete motocicletas entre as dez Motor: Monocilíndrico pany decidiu apostar suas fichas primeiras colocadas. No mes02 tempos na ampliação da sua presença mo ano, conquistou os três prino mercado de motocicletas, meiros lugares na 1ª Corrida de Refrigeração: Ar participando ativamente das Endurance Road All Japan AuCilindradas: 123 CC competições nacionais de mo- tobike (Asama Highlands Race), Potência: 11 CV tociclismo. Mais do que uma classe ultraleve de 125cc. Em disputa esportiva entre marcas, 1957, repetiu o feito na mesma Comprimento: 1.98 m classificando-se no Japão os rallys dessa catego- competição, Largura: 0.66 metros ria eram considerados verda- nos 1º, 2º e 5º lugares. Altura: 0.92 metros deiros concursos tecnológicos, Em 2020, em comemoração Velocidade Máxima: onde as montadoras tinham a dos seus 50 anos no País, a oportunidade de mostrar a evo- Yamaha Motor do Brasil lançou 80km/h uma réplica da lendária YA-1 lução de suas motocicletas. Em julho de 1955, apenas cinco Red Dragonfly. Cilindradas Magazine

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Quase centenários

ANTIGUIDADE É POSTO

A

Em Colatina, um FORDECO e uma CHEVY truck dos anos 1920 são os ‘patriarcas’ da Garagem do Futrica

Garagem de Antigos do advogado colatinense Wellington Bonicenha, também conhecido como Futrica, um dos maiores antigomobilistas do estado, abriga pouco mais de duas dezenas de belos e raros exem-

compor o acervo de veículos da então recém inaugurada autorizada Chevrolet Ciauto em Colatina. Cilindradas Magazine foi conhecer de perto a coleção do advogado, que fica próxima ao trevo que liga Colatina a Marilândia, em uma ma-

plares. Alguns, próximos do centenário, como um Ford T 1926, último modelo da série, antes do lançamento do Ford A, em 1927, e um Chevy Chevrolet 1927, adquirido da família Locatelli, de São Roque do Canaã, pela família Lievori, no início dos anos 1970 para

nhã de sábado chuvosa e imprópria para boas fotos, já que as raridades, objeto desta matéria, não puderam ser expostas ao ar livre no bem cuidado entorno daquela Garagem. Da visita (quase) surpresa, escolhemos registrar, ainda que de ângulos apertados, essas e uma outra rari-

dade de Bonicenha: um DKW, que de tão próximo aos quase centenários T e Chevy, acabou por pegar uma ‘carona’ improvisada, mas não menos inspiradora, nesta edição. Mantendo os 100% de originalidade, o Ford T de Bonicenha - modelo que inaugurou o conceito de carro popular em todo mundo, quando Henry Ford colocou em prática o processo de produção em série - é dotado de características bem peculiares à sua época, como a troca de marchas de dois estágios, feita por meio de um pedal à esquerda. “É como se fosse um carro automático; a primeira marcha é acionada ao pisar no pedal até o fundo; a segunda, é acionada ao soltar totalmente o pedal; para deixá-lo em ponto morto, é preciso manter o pedal no meio do estágio; já a marcha à ré é acionada por um pedal entre o acionador da marcha e o freio”, explica Futrica. Além disso, o acelerador é manual, acoplado à direita do volante.

Entre outras curiosidades, o Ford T, no Brasil, ganhou o apelido de ‘Bigode’ porque a alavanca do acelerador fazia par com outra, que ajustava o avanço da ignição, formando um T. 40

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Um sessentão ASSANHADINHO e PERIGOSO Este bem conservado DKW Vemag 1959, com motor dois tempos, três cilindros e 1000 cc, também do acervo de Futrica, é um modelo que marcou época no Brasil dos anos 1950/1960. A Vemag era uma empresa brasileira que fabricava o DKW sob licença da DKW alemã, que além de carros produzia motocicletas. Mais três modelos, além do DKW Vemag, fizeram parte da família DKW no Brasil: a perua DKW Vemag Vemaguet, o DKW Fissore e o Puma DKW, o primeiro Puma fabricado no País. Uma das curiosidades deste modelo são as portas dianteiras,

chamadas ‘suicidas’, que abrem inversamente. Duas são as explicações para esse apelido; uma de-

las diz respeito à ‘intimidade das senhoras’ quando saiam do carro e ficavam frontalmente expostas à curiosidade alheia, sobretudo a masculina. Numa época em que a

calça comprida era um item quase proibitivo para as mulheres, pode-se imaginar o constrangimento de muitas delas ao desembarcar de um modelo como esse vestidas de saia. A outra, menos maldosa e muito mais preocupante, era a possibilidade de a porta invertida se abrir pela ação do vento quando o carro estivesse em velocidade mais alta, o que exporia ao perigo não só as partes íntimas dos ocupantes, mas toda a sua integridade física. Pelo sim, pelo não, a partir de 1963 as portas do DKV Vemag foram colocadas como as da maioria dos modelos de outras marcas.

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Apaixonado por Antigos, o advogado Bonicenha é um dos grandes entusiastas do Antigomobilismo no Espírito Santo.

O Chevy 1927, como o modelo adquirido dos Lievori por Bonicenha em 2002, chegava ao Brasil importado dos Estados Unidos com algumas partes a se-

rem montadas, como a carroceria de madeira e outros itens de acabamento. E por falar em carroceria, a originalidade dessa picape só não alcança os 100%

A Chevy Truck foi lançada em 1918 com o nome de One-Ton para competir justamente com o Ford T, campeão de vendas nos anos iniciais do século XX.

porque seus antigos donos trocaram as rodas traseiras, de madeiras como as dianteiras, por de ferro, para suportar melhor o peso transportado. “Com exceção

dessas rodas de ferro na traseira, substituindo as originais de madeira, essa picape mantém todas as características de quando saiu de fábrica”, diz Bonicenha.

Há 103 anos, a Chevrolet dava início ao lançamento de sua primeira picape.

Na traseira, rodas de ferro substituíram as tradicionais de madeira. No mais, motor, caixa e demais componentes guardam toda a sua originalidade.

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Agroturismo

Em São Pedro Frio, uma das quatro Rotas do Agroturismo, o rapel é praticado com frequência pela Equipe Rapel Colatina.

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Caminhos abertos para o LAZER e a AVENTURA Estimulado pelo poder público municipal, o agroturismo ganha força em Colatina. Por Guilherme Augusto Zacharias Foto Equipe Rapel Colatina

O

programa Rotas do Agroturismo, desenvolvido pela prefeitura de Colatina, no noroeste do estado, contempla quatro regiões do município potencialmente aptas a se tornarem rotas turísticas permanentes, criando um ambiente propício para o desenvolvimento turístico na região, tendo como base as localidades de São Pedro Frio; Santa Joana (Itapina); São Gabriel de Baunilha e Córrego do Macuco (Baunilha) e Povoação de Graça Aranha (Paul de Graça Aranha). Em 2021, essas quatro regiões foram objeto de incursões turísticas explorando o que elas têm de melhor a oferecer aos

visitantes, seja pelas mãos da natureza, seja pela hospitalidade de seus moradores. Por um lado, paisagens belíssimas, de tirar o fôlego: rios, cachoeiras, encostas, matas; por outro, uma infraestrutura adequada que oferece aos turistas boa comida e estadia em chalés e residências apropriados a acomodá-los confortavelmente. “Essa potencialidade agroturística de Colatina tem uma escora de fundo, que são as suas belezas naturais, ainda pouco exploradas até então; o que fizemos, com o Rotas do Agroturismo, foi estimular esse segmento com ações que vão potencializar turisticamente essas regiões”, conta Adilson Vilaça, secretário de Cultura e Turismo de Colatina, referindo-

-se, por exemplo, ao patrolamento de estradas e ao estímulo às atividades de hospedagem e do agronegócio locais. Para 2022, a ideia é reeditar essas incursões às rotas do agroturismo já no primeiro semestre, realimentando o fluxo de turistas com o apoio do poder público municipal. A partir daí, a Secretaria de Cultura e Turismo espera que o programa ganhe ainda mais força para seguir caminhando com as próprias pernas. “Vamos continuar apoiando, mas, esperamos que, assim como em outras regiões turísticas do estado, como Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, o agroturismo se consolide em Colatina”, acredita Vilaça.

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Além do turismo de lazer, o Rotas do Agroturismo atrai para essas regiões grupos de jipeiros, rapéis, voo livre, trilhas e qualquer outro ligado ao prazer em desafiar obstáculos naturais, encontrando nessas rotas o cenário ideal para suas atividades. “É muito bom que Colatina se abra para essas iniciativas ligadas ao turismo de aventura; existem cidades próximas a nós que aparecem muito mais, e, às vezes, nem têm esse potencial que nós temos”, opina o especialista em direito bancário Guilherme Schwartz, presidente do

Jeep Clube Colatina. Schwartz, que já participou de várias competições off road, revela que, em 2022, o Jeep Clube vai promover um evento do gênero em Colatina, o que deverá acontecer em um dos circuitos do agroturismo local. “Será um evento interestadual, com a participação de jipeiros de Minas Gerais e do Espírito Santo; com isso, queremos ajudar a colocar Colatina nessa rota do turismo de aventura, se possível, efetivando esse evento no calendário oficial do município”, diz o advogado.

Fotos Jeep Clube Colatina/Equipe Rapel Colatina/Secom PMC

Turistas e esportistas radicais encontram no circuito das Rotas do Agroturismo cenários deslumbrantes de belezas naturais e de colonização.

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O Jeep Clube e a Equipe Rapel de Colatina estão entre as agremiações de esporte de aventura do município.

Outro jipeiro que participa ativamente dos eventos off road é o também advogado e vereador colatinense Marcelo Carvalho Pretti (Patriota). Ele revela que um dos seus objetivos na Câmara Municipal é criar um projeto de lei para que seja ins-

tituído um calendário oficial de eventos voltados aos esportes de aventura. “Existe um olhar diferenciado da população para essas atividades esportivas no município; ela sempre apoia e participa dos eventos”, diz Pretti.

Pretti: «Existe um olhar diferenciado da população».

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Carreata cívica

DESFILE DE ANTIGOS Ato cívico colocou o Antigomobilismo de Colatina nas comemorações dos 100 anos do município Com cilindradasmagazine.com Fotos Cilindradas Magazine/Luciano Drone

E

m Colatina, a manhã do domingo 22 de agosto de 2021 não poderia ter sido melhor para os apaixonados pelos Antigos. Atingidos pelos efeitos da pandemia do Coronavírus, que vem causando pequenos, médios e grandes estragos na vida de todo mundo, os antigomobilistas da cidade tiveram, depois de dois anos sem o tradicional Encontro anual, um reencontro em grande estilo. E nada melhor do que a data da comemoração do Centenário da cidade para que os Antigos voltassem a dar o ar da graça. E que graça. No local da concentração, na avenida Delta, um a um, eles iam chegando e se per48

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filando ao comboio que iria atravessar a cidade na Carreata Cívica, cada um com sua beleza e sua história. “Foi um momento muito especial. Poder participar das comemorações dos cem anos de emancipação política de Colatina é motivo de orgulho para todos

nós, além da satisfação em nos reunirmos em grande número, como há muito não acontecia”, disse Alexandre Maestri, um dos diretores do Norte Clube Carros Antigos de Colatina. O convite às agremiações de carros antigos e motoclubes de


Os Antigos foram chegando e compondo o comboio de preciosidades que participariam da Carreata Cívica. Norte Clube Carros Antigos, Jeep Clube e Clube Amigos do Fusca puxaram o desfile, que contou ainda com a presença de clubes de motocicletas e grupos de bikes.

Colatina, para que participassem da Carreata Cívica, foi feito diretamente pela primeira dama do município, Mara Oliveira, que ocupa o cargo de chefe de Gabinete do prefeito Guerino Balestrassi (PSC). A primeira dama é uma entusiasta do Antigomobilismo e uma das que mais apoiaram a participação dos clubes no evento. “A participação deles (dos carros antigos) na Carreata Cívica fez a diferença, o desfile ficou maravilhoso”, atestou o secretário de Cultura e Turismo do município, Adilson Vilaça.

No pátio da feira da cidade, clássicos e neoclássicos esbanjando beleza à espera do início da Carreata.

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Tradição

O ‘Boca de Sapo’ foi a primeira homenagem a Euclides Soella.

EM NOME DO PAI

Reverenciar a MEMÓRIA paterna com restaurações fiéis de ANTIGOS é comum entre antigomobilistas de Colatina Por Guilherme Augusto Zacharias Fotos Cilindradas Magazine

U

m costume, que apesar de não ser peculiar a Colatina, é cultuado entre os antigomobilistas da cidade e diz respeito à tradição em resgatar a memória paterna com a restauração dos Antigos que pertenceram ao patriarca da família, seja recuperando o carro original, seja adquirindo um exemplar o mais parecido possível com ele. O empresário Walter Soella, que junto aos irmãos Wolmar e Waldir administra uma das mais tradicionais oficinas mecânicas de Colatina, é um desses antigomobilistas. 50

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O primeiro modelo dos Soella a ser restaurado foi uma picape Chevrolet 3100 ‘Boca de Sapo’, ano 1951, uma réplica daquela que pertenceu a seu pai, Euclides Soella. Mais recentemente, outro modelo ficou pronto e já circula, junto com o Placa Preta ‘Boca de Sapo’, nos eventos antigomobilistas da cidade: uma picape Chevrolet Brasil, 1963. Esta, segundo Walter, foi a que mais trabalho deu para fazer parte da família. “Demoramos vinte anos para comprá-la, já que havia muita resistência da viúva do antigo proprietário em se desfazer dessa Chevrolet Brasil”, conta.


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Mesmo depois de adquirida por Walter, a Chevrolet Brasil ficou por muito tempo guardada à espera da restauração, que veio da maneira mais fiel possível às características daquela que pertenceu a Euclides Soella. “Fomos comprando as peças originais e fazendo a restauração de Soella segue a tradição de homenagear a figura paterna por meio da restauração de Antigos.

modo a deixá-la o mais parecida possível com a de meu pai”, explica Walter. Aliás, a fidelidade foi total, tanto para o ‘Boca de 52

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Sapo’ quanto para a Chevrolet Brasil, ambos com 100% de originalidade, com exceção do ar condicionado, ausente nos dois modelos à época. E o resgate da memória paterna não para por aí. Além das duas picapes Chevrolet já restauradas, uma outra aguarda sua vez para entrar no rol das homenagens; agora, um Fiat 147 Pick-up, a primeira caminhonete brasileira derivada

de um carro de passeio, lançada em 1978. E, claro, a ideia é deixá-la também à imagem e semelhança daquele que foi o último carro de Euclides Soella. “Na medida do possível, vamos resgatando os modelos que meu pai teve e mais gostou”, diz Walter.


As restaurações são feitas obedecendo aos mínimos detalhes do carro original.

Apesar de não ser uma oficina declaradamente especializada em carros antigos, é impossível chegar ao bairro Vila Lenira

Antigos de Colatina - faz com que a sua oficina seja uma espécie de ponto de encontro de antigomobilistas, principalmente nas manhãs de sábado. O Chevrolet Brasil demorou longos 20 anos para ‘voltar’ à família Soella.

e não encontrar alguns deles dentro e fora de suas instalações, que ocupam dois grandes prédios em uma mesma rua do bairro. Não à toa, porque o envolvimento de Walter com carros antigos - ele é um dos diretores do Norte Clube Carros

Vale lembrar que as restaurações dos carros antigos comprados por Walter são feitas por ele e sua equipe em sua própria oficina, o que atrai também aqueles proprietários que desejam fazer restauração em seu Antigo. “É um serviço que normalmente não pegamos, porque demanda

muito tempo para ser executado, exige muita pesquisa de peças de reposição e o custo pode não compensar para o proprietário; além do grande fluxo de serviços de lanternagem e pintura que normalmente já temos na oficina”, explica Soella.

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Outros antigomobilistas colatinenses, como o empresário Alexandre Maestri (leia matéria nas páginas 24 a 28), também se empenham na manutenção da memória paterna mantendo o passado no presente por meio das restaurações de modelos que pertenceram à família. “São muitas e boas lembranças envolvidas em torno desses carros; resgatar alguns modelos que pertenceram a meu pai é, de alguma maneira, ter a presença dele sempre aqui, uma homenagem por tudo o que ele representa para nós”, encerrou Walter Soella.

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Em breve, o acervo dos Soella vai ganhar um Fiat 147 Pick-up, como este da foto, que ficará idêntico ao que pertenceu a Euclides.

A oficina dos irmãos Soella é um reduto do Antigomobilismo colatinense.


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Crônica

FÉ NO MEDEIROS Adilson Vilaça*

Caminhãozinho da General Motors rumo ao Rancho Fundo, bem pra lá do fim do mundo No início da década de 1930, havia já dois anos que a ponte sobre o Doce fora inaugurada. O majestoso rio a cortar a nascente Colatina, legalmente nascida a 30 de dezembro de 1921, não mais era obstáculo para sua travessia. Antes da construção, suas águas cobravam passagem a vau dos tropeiros, que, muita vez, ancoravam a viagem num rancho de tropas erguido a estacas e estuque nas imediações da atual Colatina Velha. Esperavam pelo estio. Outro recurso era subir até onde as margens por pouco davam-se as mãos, na região das Pedrinhas, além de Baixo Guandu. Os botocudos chamavam a pinguela intermitente de Takruks, pedras em língua Borun, falada pelos Krenaks. Houve um tempo em que o rio Doce era Watu, o majestoso. E sagrado.

te mineiro João Punaro Bley virou interventor do Espírito Santo, governou por 13 anos, saiu para mais tarde se tornar general. Mas o que ele fez em sua intervenção? Fez e desfez coisa muita, entre elas contratar o empreiteiro Cyro Medeiros. Para quê? Ocorre que, além de surrupiar a faixa presidencial de Washington Luís, tomaram de empréstimo seu lema: “Governar é construir estradas”.

Também dessacralizadas foram as eleições de 1930. Apoiadores de Getúlio Vargas amarraram cavalos em obelisco no Rio de Janeiro e apearam Washington Luís do poder, impedindo a posse do eleito Júlio Prestes. Consumado o golpe, o tenen-

Em Colatina havia uma ponte, na margem Norte não havia nada – além de raivosos botocudos habitando flora e fauna, apenas 20 Km de estrada já abertos. Cyro Medeiros foi contratado para fazer um trecho de estrada, das imediações de

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São Domingos do Norte a Colatina, cerca de 30 Km, para emendar-se aos 20 Km já avançados. A ponte Florentino Avidos, feita para ferrovia que jamais a cruzou, finalmente atravessaria mais que pedestres e tropas de burros. O destemido Cyro, pai do jornalista Rogério Medeiros, largou o caminhãozinho em Colatina e avançou a cavalo com rara companhia ao sítio em que fundou o Rancho Fundo – há uma lanchonete no local, a conservar o nome. Lá engrossou a trupe, cerca de 100 bocas, recebendo na cambada diversos fugitivos da lei. Aliás, o que valia naquele rancho bem pra lá do fim do mundo era a sua lei! Advogado sem causa, por lá chegou um dia Lamartine Babo, o popular Lalá, rei das marchinhas de carnaval e dos hinos de futebol. Lalá veio a Vitória com Ary Barroso, que se queixou até desembarcar do avião de letra que alguém fizera para música dele. Após o show da dupla, Ary voltou ao Rio, Lamartine enveredou-se para uma caçada a convite de jovens de Santa Teresa. A cavalgada ao Rancho Fundo prostrou suas nádegas assadas numa rede, embalado por seu violão.

Caçou nada! Ou melhor, apenas a letra de “Rancho Fundo”, para seu amigo Ary – que se desfez da outra em desagrado, a tal “Grota Funda”. Lá daqueles fundos, um dia Cyro chegou novamente a Colatina. Longa viagem abrindo matarias a facão, foice, machado, golpeão, picareta, enxada e enxadão. Foi com sua trupe até o caminhãozinho. Tirou a lona, ajeitou e manivelou até o dito cujo pegar no tranco. Seus camaradas, quase todos analfabetos, queriam saber o que diziam as letras na frente do caminhãozinho: GM. O braço direito de Cyro, conhecido por Pernambuco, letra a letra, traduziu: Grande Medeiros. E explicou que o próprio homem de Getúlio Vargas, o comandante Punaro Bley, havia mandado soldar aquela homenagem a seu patrão. Cyro não buliu nem desmentiu. Pagou e dispersou quantos havia de dispensar. Empoleirou a nata de sua trupe na cacunda de seu General Motors e fez inauguração às avessas, de Colatina ao Rancho Fundo. Tudo ao som de tirambaços e versos de Lamartine Babo, o agudo da buzina rasgando o silêncio até bem pra lá do fim do mundo!

*Jornalista e escritor. Mestre em Literatura. Vice na Academia ES de Letras e na Comissão ES de Folclore. Secretário de Cultura e Turismo em Colatina.

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Tipo o quê?

O modelo conceito trazia partes em vidros na carroceria.

BEETLE X BEETLE

Se comparado ao FUSCA, o Big Beetle não passou de um ILUSTRE desconhecido

E

ntre os anos 1961 e 1973, a Volkswagen produziu um Fusca completamente diferente daquele modelo que passou a ser conhecido e admirado em todos os lugares do mundo. O Big Beetle, também chamado Type 3, foi uma iniciativa da montadora para ampliar ainda mais o alcance da classe média alemã aos seus modelos mais populares, agora com um pouco mais de sofisticação. No modelo conceito, feito para ser exposto nas feiras automotivas e eventos semelhantes, alguns dos itens mais curiosos do Type 3 eram as tampas de vidro do motor e do porta-malas, além de parte do teto e das saias dianteira e traseira, que também traziam componentes vitrificados. Quanto mais a Alemanha progredia, mais exigentes ficavam os consumidores, aumentando sua expectativa com relação à qualidade e à sofisticação dos modelos de automóveis lançados no país. A VW tentou fazer do Type 3 não um substituto do eterno Beetle, mas um modelo mais sofisticado, com 58

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maior conforto e espaço interno, que trazia motor de 1500cc com dois carburadores. Em 1965, já com motorização de 1600cc, o Big Beetle continuava

Se comparado ao Fusca, o Type 3 é um ilustre desconhecido.

com a sua produção, até que o fabricante lançasse a linha Type 4, com os modelos de 4 portas muito semelhantes aos futuros brasileiros TL e Variant. Em 13 anos de produção, foram vendidos pouco mais de 2,5 milhões de unidades do Big Beetle, muito pouco se comparado ao velho Fusca, que batia a marca de 1 milhão de exemplares vendidos anualmente.



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