Jornal O cidadão 40

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O Cidadão RIO DE

O Jornal do Bairro Maré JANEIRO - MARÇO/ABRIL 2005 - ANO VII -

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Driblando o desemprego 4

A VOLTA ÀS AULAS NA MARÉ

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PROJETO LEVA CRIANÇAS À ESCOLA

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PROBLEMAS DE LUZ E ESGOTO NA TEKNO

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PASTORAL PREGA A SOBRIEDADE


EDITORIAL s vésperas do 1º de maio, Dia do Trabalho, o mareense tem pouco para comemorar. Quem tem um emprego não está nem um pouco satisfeito com a discrepância entre o trabalho que faz e o mínimo que recebe. Nem o “aumento” vindouro deixa os trabalhadores mais satisfeitos. Ainda mais quando vemos os “pobres” deputados federais articulando um aumento de, no mínimo, R$9.000 para os seus modestos salários. Ironias a parte, o mareense enfrenta outro grande problema: a falta de trabalho. É não ter no final do mês um dinheiro garantido, mesmo que pouco, para pagar as contas. Essas sim, não deixam de chegar nunca. Enquanto o emprego não vem, cresce o subemprego, o trabalho informal, cada dia mais comum nas grandes cidades. É solução porque é uma alternativa para as milhares de pessoas que vem sendo excluídas do mercado de trabalho formal. Mas é problema porque não dá nenhuma segurança trabalhista. Aquelas a quem os nossos governantes gostam de lembrar que foi uma “conquista do povo”. Pois é, o povo está cada vez mais longe de sua “conquista”. E está se afastando também de seus sonhos e esperanças, já que bons profissionais são obrigados a exercer outras atividades só para ter o “mínimo” no final do mês para sobreviver. É uma realidade dura, e que dificilmente será mudada se a nossa educação continuar a tropeçar em problemas de fácil resolução, e a ser distribuída de maneira desigual entre a população. Que o 1º de maio chegue com mais justiça e muito emprego para a nossa comunidade. Boa leitura!

À

ELES TAMBÉM LÊEM O CIDADÃO Cristiane Barbalho

Silvio Baiana

Participantes do Fórum Social Mundial leêm o jornal O Cidadão

Antônio Ferreira, 50 anos, gráfico, morador da Baixa do Sapateiro

Programa de Criança

BR

PETROBRAS

2 O Cidadão

Uma conquista dos moradores da Maré O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré. Promove oficinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula.

O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-3946/ 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965 Conselho Institucional Antonio Carlos Vieira Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz Eliana S. Silva Jailson de Souza Léa Sousa da Silva Lourenço Cezar Maristela Klem Conselho Gestor Alexandre Dias Marielle Franco Rodrigo Siqueira Soraia Denise Vinicius Azevedo Coordenadora: Rosilene Matos Editora: Viviane Couto Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Administrador: Hélio Euclides Secretário de Redação: Leonardo Marques Reportagem: Renata Souza Ligia Palmeira Cristiane Barbalho Hélio Euclides Rosilene Matos Leonardo Marques Gizele Martins Colaboraram nesta edição: Ellen Matos Juliana Rodrigues Leonardo Melo Francisco Valdean Fabiana Gomes Alexandre Dias Sílvio Baiana Cleuma Lucindo Claudia Rose Jornalista Responsável: Marlúcio Luna (Reg. 15774 Mtb) Ilustrações: Tcharles Cipriano Publicidade: Elisiane Alcantara Diagramação: José Carlos Bezerra Foto de Capa: Cristiane Barbalho Repórter Fotográfico: Cristiane Barbalho Distribuição: Elisiane Alcantara (coordenadora) Arthur de Almeida Sheila Oliveira Givanildo Nascimento Michele Nunes Elizângela Felix Charles Alves Raimunda Canuto Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br

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GERAL

Se essa rua fosse minha... A Artistas da Maré pintam muros e deixam a comunidade mais bonita

Fotos de Cristiane Barbalho

lgumas ruas da Maré estão mais coloridas. Muitas pichações deram lugar a paisagens de cachoeiras, montanhas e árvores ou retratam o cotidiano do mareense. Dois artistas são responsáveis por esta transformação: Eliel Mendes, 30 anos, e Rogério Libone, o Bone, 35 anos. Eliel nasceu em Belém do Pará e desde jovem já expressava sua arte em telas. Chegou ao Rio de Janeiro há dezessete anos e veio morar na Maré. Seu primeiro emprego foi como porteiro de um hotel. Mas em pouco tempo sua arte foi descoberta e ele já estava pintando os painéis do estabelecimento. De lá, Eliel foi trabalhar em uma universidade onde reproduzia imagens do Rio antigo. Os anos se passaram e o artista constituiu família. Hoje tem três filhos e cuida de duas sobrinhas. Para arcar com as responsabilidades, tornou-se marceneiro. Depois disto, só pintava quando tinha encomendas. Há cerca de três meses, Eliel recebeu um convite diferente: fazer um painel na Praça do Dezoito. “Parei de pintar em 1994.

Bone retrata nos muros o dia-a-dia da Maré

}

Pinturas de artistas da Maré substituem pichações e embelezam os muros das comunidades

Achei que já tinha esquecido tudo”, diz. Eliel deseja continuar pintando e tem sonhos para o futuro da comunidade. “Tenho o projeto de dar aulas para as crianças daqui, mas antes desejo estudar em curso de artes para saber transmitir as técnicas”, conta. Outro artista que dá vida aos muros da Maré é Bone. Ele aprendeu a desenhar no orfanato onde foi criado. Depois, participou de uma oficina de arte em Campo Grande, onde conheceu o grafite. Bone aprendeu a técnica observando outros grafiteiros e lendo revistas especializadas. Há cinco anos é professor deste ofício e já lecionou em diversos colégios. Hoje, ele ensina grafite, como voluntário, no projeto Jovens pela Paz. As oficinas funcionam na Creche Tia Dulce, são gratuitas e não se limitam à técnica. Ele trabalha a solidariedade e a criação de uma cultura de

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paz. “Nas aulas, a gente conversa, faz debates sobre violência e assuntos ligados à comunidade. Depois, trabalhamos o grafite a partir dos temas que foram discutidos na oficina”, diz. O artista e os alunos enfrentam dificuldades durante as aulas, já que faltam mesas e cadeiras na creche. Mas a maior barreira é conseguir material. Apesar disto, Bone ministra aulas com entusiasmo: “Ver os jovens participando das oficinas dá muita satisfação e não tem nada que pague isso”. Assim, no que depender dos pintores, os muros pichados e sem vida vão ficar apenas na Memória. “Se eu pudesse, pintaria todos os muros da Maré”, afirma Eliel. A idéia agrada muito aos mareenses. “As ruas ficam melhores, mais bonitas, com paisagens da natureza. Quem dera todas as ruas da comunidade fossem assim”, diz Durval Abílio, 72 anos, morador do Timbau.

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EDUCAÇÃO

Tropeços na volta às aulas Sobram vagas nas 14 escolas da Maré, mas pais questionam qualidade de ensino Cristiane Barbalho

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nicio do ano, a vida recomeça e é hora de retomar o ano letivo. Para alguns alunos é uma nova série, para outros é o começo do ensino escolar. As ruas ficam mais animadas e coloridas com a alegre presença dos alunos seguindo para as aulas. O bairro tem 14 escolas municipais, que ofereceram 3.029 vagas para 2005. Mas, contrariando todas as expectativas, sobraram 380 vagas. Integrantes do projeto Nenhum a Menos, que trabalha com famílias que têm crianças fora da escola, afirmam que umas das causas pode ser o trabalho, já que é preferível ter uma criança trabalhando que estudando. No entanto, a sobra não conseguiu evitar as filas que todos os anos martirizam os pais dos “calouros” em alguns dos pólos de matrícula, escolas que centralizam as vagas na região. Na Maré, a E. M. Tenente General Napion, na Roquete Pinto, e a E. M. Professor Paulo Freire, na Vila do Pinheiro foram a referência. Na Vila do Pinheiro, a fila começou com dias de antecedência. “Faltou organização. Para conseguir vaga é complicado, pois temos que enfrentar fila e faltar o trabalho. É um absurdo”, reclama Maria do Socorro, 40 anos, com filho na E. M. Paulo Freire. Mais sorte tiveram os alunos que são transferidos automaticamente de creches para escolas. “Com isso não precisei enfrentar fila”, relata a mãe de aluna do Ciep Samora Machel, Raquel Inácio, 31 anos. No que diz respeito a esse assunto a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (Cre) informa que o problema é a cultura da fila e que há vagas para todos. Hélio Euclides

Márcia Simões e sua assessora, Maria Helena

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Crianças esperam o início das aulas em frente a uma das unidades educacionais da Maré

As mudanças na educação causam reclamações de pais. “Antes era mais fácil, hoje com o ciclo as crianças não podem ser reprovadas, passam sem saber ler e escrever. Umas não conseguem nem dar troco de um real”, reclama Vanda Valadão, 35 anos, mãe de uma criança da E. M. Josué de Castro. Para algumas mães, as escolas ainda deixam a desejar. “Acho que o ensino deveria ser mais puxado, pois os estudantes não têm base para prestar concursos”, desabafa Maria do Carmo, 27 anos, mãe de uma aluna do Ciep Operário Vicente Mariano. A 4ª Cre esclarece que o Ciclo de Alfabetização para crianças de 6 a 8 anos e o Sistema seriado de 3ª a 8ª séries está de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9394/96). E que a alfabetização percorre todo o ensino fundamental e se consolida nas turmas de 5ª a 8ª séries. Segundo a 4ª Cre, se o aluno necessita resgatar alguns conceitos ou aprofundá-los, a escola deve lançar mão da recuperação para-

lela que ocorre ao longo do ano. Eles ressaltam que, entre os anos de 2003 e 2004, o desempenho de alunos obteve alto índice qualitativo, com 117 escolas, das 134, com desempenho acima de 80%. Outra reclamação no ensino é a grande quantidade de alunos por classe. “Na sala da minha filha tem 35 alunos. Precisamos de mais professores e salas”, reclama Edileide da Silva, 24 anos, mãe de criança da E. M. Paulo Freire. A mãe Andréia Cardoso, 31 anos, sente a dificuldade na própria casa. “Com meu filho é um sufoco para ler. Acho que isso se deve a salas com mais de 40 alunos, não dá para a professora dar atenção à todos”, diz Andréia, que tem um filho na Josué de Castro. A 4ª Cre informa que a LDB indica no máximo 25 alunos por classe de educação infantil. Nos ciclos, até 30 crianças e, de 5ª a 8ª não pode ultrapassar o número de 44 estudantes. Existem dados de que esses números não afetam no desempenho. Um


professor que não se identificou, não concorda com essa idéia. “Não é nada positivo. Fica difícil acompanhar os exercícios. A dificuldade maior é para as turmas de alfabetização”, diz o mestre. O fato de as crianças precisarem procurar escolas fora da Maré para concluir a segunda parte do ensino fundamental também incomoda. “O ruim é que minha filha mais velha teve que procurar a Clotilde Guimarães para estudar. Acho que as escolas daqui deveriam ir até a 8ª série”, completa Raquel, moradora da Baixa do Sapateiro. As possíveis parcerias entre a Prefeitura e o Governo do Estado para que mais escolas municipais da Maré se transformassem à noite em escolas de ensino médio, também são lembradas pelos moradores. “À noite as escolas ficam abandonadas. Poderiam ser usadas para o ensino médio”, diz o presidente da Associação de Moradores da Vila do João, Casa Grande. Esse convênio já é feito nos colégios Bahia e Tenente General Napion, onde durante o dia o espaço é municipal e, à noite, estadual. Para a 4ª Cre, a iniciativa deve partir do governo estadual. No que diz respeito às obras, poderá haver algumas mudanças na Maré. Existe a possibilidade de ampliação da E. M. Cantor e Compositor Gonzaguinha, na Marcílio Dias. A Secretaria Municipal de Educação/ 4ª Cre, junto à Superintendência de Patrimônio, está negociando um terreno na Avenida Brasil, para reconstrução da Escola. Outro caso é da E. M. IV Centenário, na Baixa do Sapateiro. Esta escola consta como prioridade para obras de reconstrução com acréscimo no mesmo local, previstas para este ano. Espera-se também o crescimento das instalações da E. M. Nova Holanda. A 4ª Cre informa que essa é segunda prioridade de obras. Mas só acontecerá após a conclusão da obra da E. M. IV Centenário. Um dos maiores problemas educacionais na Maré, a situação da Creche Pescador Albano Rosa que funcionava provisoriamente no Ciep Vicente Operário Mariano, também teve mais um capítulo. Por causa do alto custo da reforma do prédio antigo, as crianças foram transferidas para os módulos habitáveis,

Cristiane Barbalho

Mães buscam as crianças em uma das escolas da Maré. Bairro tem 14 escolas municipais

conhecidos também como Kit-Escolar, na Vila do Pinheiro. A Secretaria Municipal de Educação relata que continua buscando alternativas de terrenos para reconstrução da mesma.

Quando a educação é nota10 ... Apesar das pedras no meio do caminho, a educação no Rio começou o ano com a corda toda. Segundo uma pesquisa, a escola municipal é a entidade mais presente para a população do Rio. A 4ª Cre comemora. “A educação é indispensável na vida do cidadão. Caminhamos para o sucesso, pois depende de nós, professores, a educação dos alunos do Brasil. Trabalhamos além dos muros, com união da família, educando pela cidadania. As escolas da Maré são o cartão de visita de quem vem do Aeroporto Internacional”, diz a coordenadora da 4ª Cre, Márcia Simões, 42 anos. Para a assessora Maria Helena, 40 anos, a escola tenta se aproximar cada vez mais

da família: “Temos a intenção de levar a família até a escola para uma colaboração” Isso é confirmado por Maria Alves, 40 anos, avó de uma criança do CIEP Operário Vicente Mariano. “A escola é nota 10, os professores e diretores impõem disciplina”, conta a avó. No momento, há 35 trabalhos do Projeto Político Pedagógico sendo realizados. Com destaque para a Orquestra de Vozes, do Ciep Operário Vicente Mariano. Além disso, os alunos das escolas públicas podem participam de atividades extraclasse no Projeto Setorial nos Cieps Samora Machel e Elis Regina, conhecido como Samorinha, e na Vila Olímpica. Os alunos portadores de necessidades especiais recebem acompanhamento psicológico no Instituto Helena Antipoff, para facilitar a inclusão na classe. Há ainda o professor itinerante que ajuda o colega, a criança e a família, indicando, se necessário, a visita ao pólo de atendimento. O mais próximo é o do Ciep Yuri Gagarin, em Ramos. Na parte didática há as salas de leitura, que estão sendo sempre renovadas com a obtenção de volumes novos na Bienal e Salão do Livro. Para os professores e diretores, há capacitação nos centros de estudos, onde o mestre passa quatro horas por semana reunido com outros colegas para aperfeiçoamento. A recuperação do aluno é paralela, com avaliação o ano todo. Esse trabalho também é posto em prática com os adultos no Programa de Educação Juvenil (Pej), realizado nos Cieps Ministro Gustavo Capanema e Leonel de Moura Brizola (ex-14 de Julho).

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PERFIL Arquivo Pessoal

Renato Oliveira Barros

Um artista de Maré Alta Comunidade: Parque União Profissão: Ator pernambucano Renato é um ator da Maré. Assim como alguns personagens, que crescem durante a trama, ele também lutou muito para atingir seu objetivo. A inspiração artística veio dos pais, que até para brigar utilizavam seu lado teatral, escolhendo músicas que exprimissem seus sentimentos. Por isto, sua trajetória começou cedo em apresentações na escola e na igreja. Na juventude precisou se afastar da arte e se tornou office-boy. Entrou para o Exército, chegando a ca-

O

Benvindo Sequeira, Renato Oliveira, Sandra Pera e abaixo Marília Pera nas gravações de Mandacaru

Cristiane Barbalho

bo. Naquele momento, teve uma crise de identidade. “Vi que não sabia viver com regra. Eu era livre demais para isso”, lembra. Quando assistiu a uma peça, em 1989, reencontrou um amigo e, com ele, saiu de Pernambuco e foi para São Paulo, onde estudou teatro na Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Lá apresentou três peças, chegando a interpretar Zé do Burro, na peça “O Pagador de Promessa”. Já em 93, veio para o Rio batalhar um espaço na televisão (mora até hoje com uma irmã no Parque União). Mas o dinheiro acabou e ele foi trabalhar como auxiliar de serralheria. Mas isso não fez com que ele se afastasse da arte. Ingressou num grupo de teatro de rua e participou de novela e minissérie. Dois anos depois, fundou uma banda. Começou a compor e já tem 70 canções registradas. Em 97 o grupo acabou, e lá foi Renato se tornar operador de xerox para sobreviver. Mas o coração de artista falou mais alto. Quando viu um anúncio no jornal sobre testes na extinta Rede Manchete, resolveu se inscrever. Selecionado, viveu o personagem chumbinho, na novela “Mandacaru”. “Até hoje não recebi os direitos trabalhistas”, reclama. Depois desse primeiro momento, Renato não parou mais. Fez “Linha Direta”, participações em novelas e na série “Carga Pesada”. Embalado, fez a peça “Antígona - O Renato Oliveira: de Pernambuco para a Maré

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Nordeste Quer Falar”, encenada no Teatro Villa Lobos. Agora, trabalha no Canal Multirio, com o projeto “Presente do Futuro”. Apesar de gostar dos palcos, ele encontra dificuldades no acesso. “As produções são feitas às escondidas”, denuncia. Renato explica para quem quer começar na carreira, que é preciso estudar e trabalhar muito. E estar preparado para levar muita “porta na cara”. Perguntado se o que faz é figuração, ele é categórico na resposta. “Na minha vida figuração é palavrão. É como chamar médico de enfermeiro”, afirma Renato, anunciando que a assinatura de um contrato está próxima. No momento, o ator faz recreação para Furnas/Eletrobras, mostrando como evitar o desperdício. Além disto, escreve a minissérie: “Labareda - A Saga do Ultimo dos Gangaceiros”. “Agora espero o que vai desencantar primeiro: o ator, o compositor ou o autor de minissérie”, completa. Para fechar o bate-papo, ele manda um recado aos mareenses: “Não há interesse que o povo vá ao teatro. Mas não podemos ficar acomodados. Temos que procurar espetáculos de qualidade, ficar atentos às oportunidades”. Quem conhece o músico, acha que ele está no caminho do sucesso. “ Ele tem um lado musical, que é dez, pois tem uma grande facilidade de compor”, conta Eduardo Pontes, músico, 28 anos, morador do Parque União.

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NAS REDES DO CEASM

Nenhum a menos: crianças a mais Projeto do Ceasm trabalha com famílias que têm crianças fora da escola Francisco Valdean

O

cinema chinês serviu de inspiração para um projeto que leva para a escola aquelas crianças que têm dificuldade de freqüentar as aulas. O Nenhum a menos das telas conta a história de um professor que enfrenta dificuldades para manter as crianças na escola. Na vida real, o Nenhum a Menos: Programa Integrado de Políticas Sociais para Crianças e Adolescentes Vulneráveis da Maré tem o mesmo desafio: inserir e manter na escola aqueles que estão fora delas. O Censo Maré, realizado no ano 2000 pelo Ceasm, revelou dados preocupantes sobre a evasão escolar na região. Naquele período, a Maré registrava 1.200 crianças fora das salas de aula. A Nova Holanda concentrava o maior número de crianças fora da escola no bairro e a Nova Maré, o maior número de casos de trabalho infantil. A partir deste e de outros levantamentos foi desenvolvido o Nenhum a Menos. O projeto, que é financiado pelo Instituto Desiderata e conta com a parceria do Observatório de Favelas, teve início em 2004. Atualmente, 60 famílias são atendidas naquelas duas comunidades. “O critério para fazer parte do projeto é ter filhos em idade escolar fora da escola ou histórico de evasão”, explica Paula Miranda, 26 anos, psicóloga do projeto. Nas famílias atendidas, a ausência das crianças na escola era acompanhada de outros dois dramas: renda mensal insuficiente e a falta de documentos.“O nosso maior desafio é a geração de trabalho e renda para as famílias e trabalho educativo para os adolescentes”, afirma a coordenadora do projeto Alessandra Guedes, 31 anos. Para atacar estas três frentes, a equipe

O Cidadão dá dicas de cursos Como prometemos na edição passada, traremos agora mais um curso oferecido pelas faculdades do Rio para que nossos pré-vestibulandos possam conhecê-los e, quem sabe, seguí-los.

Reunião mensal com famílias atendidas pelo projeto Nenhum a Menos no Ceasm Nova Holanda

conta com 11 pessoas, entre universitários, psicólogos, assistentes sociais, educadora, secretário e coordenadora. Todos com o objetivo de construir metodologias para trabalhar com estas famílias. Para reforçar a permanência dos alunos na escola, foram criadas redes sóciopedagógicas. Há o acompanhamento escolar e nas escolas, dos alunos e dos responsáveis, seguido de aulas de reforço. “Fazemos o possível para colocar os alunos nas instituições do governo, porque o ideal é que o Estado e a Prefeitura assumam estas famílias”, afirma o universitário Lourenço César, 34 anos, que trabalha no projeto. As aulas de reforço têm assuntos que interessam aos alunos. “O reforço ajuda nas dificuldades, mas não tem o objetivo de substituir a escola. Trabalhamos com uma inter-

Letras O bacharel em Letras pesquisa e ensina português, idiomas estrangeiros e literatura brasileira e de outros povos. Os profissionais podem trabalhar com tradução ou fazendo revisões. Na modalidade licenciatura, o curso visa à formação de professores de línguas e literaturas, destinados ao exercício do magistério, em níveis de ensino fundamental e de ensino médio, com a possibilidade eventual de atuação no nível universitário em instituições públicas ou privadas. O curso

venção pedagógica que alfabetiza através do lazer. Estudamos e depois vamos ao Zoológico fotografar os animais. Os alunos identificam o que eles estudaram nas aulas de reforço”, afirma a educadora Mônica Monteiro, 31 anos. Nas famílias assistidas pelo projeto, os responsáveis que não tiveram a oportunidade de freqüentar a escola são encaminhados para a alfabetização de adultos. A moradora da Baixa do Sapateiro Jacinta de Fátima de Lima, 35 anos, já está colhendo os frutos do projeto. “Há um ano e meio eu não falava em público. Agora já consigo. Nas aulas aprendi a fazer contas que me ajudam na venda que eu tenho em casa. Até meu marido está feliz. Ele vem correndo do trabalho para eu poder ir á aula”, orgulha-se Jacinta.

exige muita leitura e escrita em atividades como produção de textos acadêmicos, análises literárias, tradução, pesquisas sobre a evolução e uso dos idiomas. Algumas das disciplinas são teoria literária, semântica, fonologia, além de literatura brasileira e portuguesa. Duração: 4 anos Curso: manhã ou tarde na UFRJ, manhã ou tarde/tarde ou noite na Uerj, e na UFF, manhã, tarde ou noite, dependendo do curso.

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GERAL

Aconteceu Cristiane Barbalho

Alunos fazem a prova no Morro do Timbau

Prova do pré-vestibular No dia 28 de janeiro, aconteceu a prova de seleção para o pré-vestibular do Ceasm. Esse processo teve o objetivo de facilitar a entrada de moradores da comunidade nas universidades públicas. Participaram do processo seletivo mais de 300 pessoas.A prova foi realizada no Ceasm Timbau, Ceasm Nova Holanda e na Casa de Cultura da Maré. Hoje, estão matriculados mais de 320 alunos no curso pré-vestibular, divididos nas unidades do Ceasm Timbau e Nova Holanda. A primeira tem três turmas, uma na parte da manhã e duas à noite. Já a segunda, tem duas turmas à noite. Cleuma Lucindo

Mulheres participam de debate na Casa de Cultura

Dia Internacional da Mulher As mulheres da Maré foram homenageadas em seu dia com vários eventos. Um deles, foi o Dia Internacional da Mulher, organizado pelo Centro de Referência de Mulheres da Maré (CRMM) e pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As comemorações foram realizadas na parte da manhã na Casa de Cultura da Maré, a tarde, na Associação de Moradores do Conjunto Vila Pinheiro. Houve debate sobre o filme “Bendito Fruto”, de Sergio Goldenberg. Na parte da tarde foi apresentado “As Troianas”, de Jean Paul Sartre. Outras iniciativas comemoraram a data na comunidade. Os Médicos Sem Fronteiras organizaram um evento dia 11, em parceria com a prefeitura. O evento teve aplicação de flúor pelo Sesc, atividades lúdicas, vacinação de animais, massagem, barraca do Conselho

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na

Tutelar, participação do Cemasi Roquete Pinto, exposição da Rede de Memória e oficina de fotografia do Observatório de Favelas. A Ação Comunitária do Brasil também não deixou o dia passar em branco. Cerca de 50 mulheres se reuniram na tarde do dia 11 de março, na sede da Vila do João, para comemorar. O ponto alto da festa foi a apresentação do Coral Canta Ação e do esquete “Aniversário de Casamento”. O Ciep César Pernetta e a Associação de Moradores do Parque União também organizaram dia 9 palestras para comemorar a data. Cristiane Barbalho

Crianças recebem diploma do projeto Botinho

M a r é ... formulação de propostas, troca de experiências e articulação de entidades e movimentos da sociedade civil. Local onde se discute a consciência social e vários temas que envolvem a vida das pessoas. O V FSM aconteceu em Porto Alegre-RS, de 26 a 31 de janeiro deste ano. A Maré foi representada por uma série de movimentos como o Ceasm, a Ação Comunitária do Brasil, a Rede Maré Jovem, entre outros. O Ceasm foi representado por três educadoras do Programa de Criança Petrobras que apresentaram uma oficina sobre temas ligados à educação na Maré, para 70 pessoas do mundo inteiro. Ir ao fórum não foi tão fácil. A Rede Maré Jovem, movimento que luta pelo protagonismo juvenil na Maré, por exemplo, tentou conseguir com a Prefeitura do Rio, o dinheiro para ir ao evento. Entretanto, o grupo não conseguiu a verba devido a burocracia: o fechamento do Tesouro Municipal. Mesmo assim, alguns jovens conseguiram individualmente comparecer ao V FSM. Hélio Euclides

Botinho, um projeto que salva vidas A formatura das 450 crianças do projeto Botinho, no Piscinão de Ramos, ocorreu dia 28 de janeiro. Foram atendidas crianças de 7 a 17 anos, dividas em etapas: golfinho, de 07 a 10 anos; mobidic, de 10 a 13 anos e tubarão, de 13 a 17 anos. O objetivo do projeto é mostrar como respeitar os perigos que o mar e a piscina oferecem, conseguindo assim auxiliar na prevenção de acidentes e no auxílio aos banhistas em situação de perigo. Este ano, o projeto teve uma novidade. As mães, apelidadas carinhosamente de sereias, participaram das atividades fazendo exercícios físicos. A inscrição é feita normalmente na primeira quinzena de dezembro, nos quartéis. Por isso, é preciso estar atento à divulgação, que é feita através de jornais. Silvio Baiana

Oficina do Programa de Criança no Fórum

V Fórum Social Mundial O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço de encontro para reflexões, debates,

Integrantes do Gato de Bonsucesso na apuração

Balanço da Folia O carnaval da Maré teve os blocos de empolgação “Se benze que dá”, “Gargalo” e “Vila do Pinheiro” desfilando pelas ruas do bairro. Além da Escola de Samba Gato de Bonsucesso, que desfilou no grupo C, e do bloco Boca de Siri, que concorre no segundo grupo. O Cidadão acompanhou a apuração. A escola ficou em 6º lugar, com 171 pontos. A comemoração este ano incluiu a filmagem de um documentário contando passo-a-passo a história da escola. Já o Boca de Siri ficou em 3º lugar, com 185 pontos, e teve a melhor ala de bateria e baianas. Este ano, a Equipe Guerreira de Rádio fez uma homenagem ao locutor e morador da Nova Maré, Sérgio Amorim, que faleceu ano passado. O prêmio foi entregue à melhor escola na opinião dos ouvintes da Rádio Viva Rio. O “Se benze que dá” informa que fará ensaio para o carnaval 2006 todo o 1º sábado do mês, na Casa de Cultura da Maré, às 19h30.


SERVIÇO

Tekno problemas Moradores do Parque União reclamam do esgoto que escorre da parede Fotos de Cristiane Barbalho

A

falta de infra-estrutura nas novas áreas ocupadas no bairro Maré está trazendo de volta velhos desafios para a comunidade. Os moradores da Tekno Parque, uma das novas áreas ocupadas, enfrentam hoje problemas típicos do início da ocupação. Criada há dois anos, no terreno onde funcionava a fábrica da Teknos, a comunidade se instalou numa área sem rede de esgoto, eletricidade e asfalto. O problema prejudica não apenas os novos moradores, mas também os vizinhos. Os moradores da Rua Sebastião Machado, no Parque União, estão vivendo os reflexos desta situação. Há 12 anos a região convive com um vazamento de esgoto causado por uma falha na rede da Teknos. Durante o período em que a fábrica funcionava lá, a empresa assumiu a responsabilidade pelo problema e tomou providências para solucioná-lo. Mas o problema sempre tornava a aparecer. Depois da ocupação, a situação se agravou, pois os atuais donos do terreno

utilizam a antiga tubulação. Com uma maior demanda, parte da rua está completamente coberta pelo esgoto que escorre da parede da antiga fábrica. Ele representa um perigo para as crianças que brincam na rua coberta pela água suja e correm o risco de ficar doentes. E o forte odor incomoda os moradores e as pessoas que passam pelo local. “Já fizemos várias reclamações à prefeitura, à Cedae e à Associação de Moradores do Parque União. Mas, até agora, ninguém nos deu resposta”, diz Úrsula Marques dos Santos, 48 anos, moradora da Rua Sebastião Machado há 18 anos. A associação, procurada pelo jornal, informou ter entrado em contato com a Cedae várias vezes, mas ainda não houve retorno por parte do órgão. A presidente Elisabete da Silva, 38 anos, declarou que a Cedae estuda há quase cinco o problema. Quando perguntada porque a Associação de Moradores não pensou em resolver estas questões antes de lotear e vender o terreno, Elisabete disse que o processo foi

Esgoto e mau cheiro atrapalham moradores

realizado por outra gestão. O Centro de Atendimento da Cedae da Maré foi consultado sobre o assunto, mas preferiu não se pronunciar.

Sobrecarga deixa moradores sem luz

Moradores puxam luz de forma irregular

Além da falta de esgoto, os moradores da Rua Sebastião Machado enfrentam outro problema: a energia elétrica. Eles dizem que há freqüentes quedas de energia, danificando vários aparelhos eletrônicos. “A Light não instalou a energia dos moradores da Tekno e, por isto, eles estão usando energia da nossa rua”, reclama Maria de Lurdes do Araújo Santana, 55 anos, agente comunitária de saúde. A Light informou que por se tratar de um “gato”, não é de sua responsabilidade a perda dos eletrodomésticos. “Só poderemos analisar a questão se recebermos uma documentação da Associação de Moradores do Parque União, que já

estamos esperando, para poder cadastrar estes moradores. Temos que comprovar se o terreno é público ou privado. A Light só trabalha em locais públicos. Não é do nosso conhecimento nenhum tipo de reclamação sobre aparelhos queimados. Vamos buscar saber para analisar de quem é a responsabilidade”, diz Maria Inês Santos, 49 anos, coordenadora da Ação em Comunidade. A presidente da Associação de Moradores informou ao jornal que a Light não os procurou para pedir nenhum documento e disse que eles só estavam cadastrando porque eles pediram. Mas que atenderá prontamente a solicitação.

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CAPA

Sobreviver

Moradores da Maré sofrem na pele as conseqüências do desempre Fotos de Cristiane Barbalho

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pesar de todo o discurso, o governo Lula ainda não conseguiu eliminar do país um dos maiores problemas sociais: o desemprego. Nem o Programa Primeiro Emprego, nem outras medidas adotadas pelo presidente neste sentido, conseguiram mudar esta dura realidade no país. Segundo o IBGE, há, no Brasil, 2,2 milhões de desempregados. Gente como Damiana Firmino da Silva, 39 anos, moradora da Baixa do Sapateiro, desempregada há cinco anos. A fábrica onde ela trabalhava faliu. Depois disso, nunca mais conseguiu emprego. O marido, que na mesma época teve hepatite, ficou um ano sem trabalhar por causa do tratamento. Sem ter como pagar o aluguel, contaram com a solidariedade do dono do imóvel. Damiana tem palpite para explicar esta dificuldade de conseguir um novo emprego. “Não sei se é o fato de não ter terminado os estudos ou a minha idade. O empregador acha que depois de uma certa idade você não tem mais capacidade”, desabafa. Nem mesmo a experiência em várias funções, como auxiliar de produção, copeira, costureira e doméstica, ajudou. “Já fui ao CAT, ao SINE, levei o currículo em várias fábricas e nada. Acho que eles deveriam dar uma chance, conhecer e investir nas pessoas”, afirma Damiana. Cristiano Rodrigues, 29 anos, morador do Parque União, que trabalha na área de Recursos Humanos de uma empresa, diz que este tipo de investimento não é interessante. Segundo ele, as empresas preferem investir em projetos que gerem propaganda. “É um jogo de interesse. Eles só investem quando sabem que vão ter algo em troca”, diz. Mesmo não identificando o real motivo, Damiana sabe que a grande oferta de mãode-obra e a baixa oferta de empregos não são os únicos fatores que inibem o retorno ao mercado de trabalho. Edson Inácio, 49 anos, mais conhecido como Edinho, morador da Nova Holanda, tem uma opinião sobre o assunto. Caminhoneiro, já viu muita coisa Brasil afora, e diz que a experiência e a qualificação, sozinhas, não resolvem o problema. “Meu filho tem 19 anos e vários cursos.

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Léo Gari sustenta filhos com o dinheiro que consegue vendendo material para reciclagem

Várias empresas o chamam, prometem carreiras, mas nunca fazem sua parte. Ele só fica com emprego temporário. Eles usam e jogam fora”, afirma. Para Cristiano, o problema é o excesso de mão-de-obra e os gastos com impostos. “Isto faz com que as firmas contratem um funcionário para fazer o trabalho de muitos”, conta.

Não dá para ficar de braços cruzados Enquanto o emprego não vem, o mareense usa a criatividade para enfrentar esse problema nacional. O subemprego, em alguns casos, traz boas alternativas. Em outros, é a única opção disponível. Damiana, por exemplo, não fica parada. “Enquanto não consigo, vou me virando. Vendo produtos de revistas, calcinha e toalha borda-

da”, afirma. Leonardo Guimarães, conhecido como Léo Gari, tem 39 anos e mora no Suave Veneno, na Baixa do Sapateiro. Ele trabalhava como gari comunitário e já catava algumas coisas para vender no ferro velho. Desde que ficou desempregado, há nove anos, esta passou a ser a sua principal fonte de renda. “A gente vai fazendo o que pode. Pelo menos dá para não passar fome”. Leonardo cria sozinho os dois filhos e por causa da concorrência acorda às 4h30. “Se acordar tarde, você não cata nada”, afirma. A maioria dos catadores gostaria de ter um trabalho que lhe oferecesse mais segurança. “O que eu mais temo é uma enfermidade por ficar mexendo com lixo. Mas confio muito em Deus. Até hoje, não me aconteceu nada. Mas gostaria de voltar a trabalhar com carteira assinada, só que está difícil arrumar”. Em alguns casos, a atividade une dever


r é preciso

prego e criam alternativas para enfrentar este problema nacional

Maria de Fátima tem uma facção na garagem do prédio onde mora, no Conjunto Pinheiro

e lazer. É o que acontece com o casal Gilsa Santos Magalhães, 62 anos, e Vicente de Paula Ferraz Magalhães, 67 anos, moradores da Nova Holanda. Eles começaram a trabalhar com reciclagem como passatempo. “Unimos o útil ao agradável: saúde e dinheiro”, conta Vicente. Eles fazem as coleta apenas durante a caminhada diária. Vicente acha que a discriminação com o trabalho diminuiu. “Antigamente, catador era mendigo, hoje a reciclagem virou um meio de subsistência. Muita gente que dava coisas pra gente, hoje cata pra si próprio”, diz. Para eles, o trabalho é lucrativo. Conseguem em torno de R$ 80, por semana, com apenas três dias de trabalho, com pausas para descanso e refeições, em casa. Ainda sobra tempo para caminhar, fazer hidroginástica e encontrar os amigos no clube. “A reciclagem é tão lucrativa que atualmente empresas paulistas vêm à Maré para pegar o lixo”, afirma Gilsa. Embora haja cooperativas especializadas em reciclagem, o casal acha mais fácil, prazeroso e lucrativo trabalhar por conta própria. Outros moradores preferem a segurança de uma cooperativa. “Trabalhando em conjunto conseguimos uma renda maior. Um ajuda o outro e os cooperados são tratados

todos da mesma forma”, explica Sebastiana da Silva, 61 anos, moradora da Bento Ribeiro Dantas.

A cooperativa a que se refere Sebastiana é a Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso Ltda., a Cootrabom. Ela foi fundada em 2001, mas só agora está colhendo os frutos do trabalho. Os objetivos da cooperativa são auxiliar na educação ambiental, mostrar que o lixo pode gerar renda e deixar a Maré mais limpa. “É um projeto de dentro pra fora e conhece as reais necessidades da comunidade”, afirma Luis Carlos Santiago, 50 anos, presidente da cooperativa e morador da Bento Ribeiro Dantas. Hoje eles têm o apoio da empresa que administra a Linha Amarela para a compra de uniforme, divulgação e transporte. Têm 21 cooperados, todos da Maré, com exceção de dois estudantes de arquitetura da UFRJ. Para participar da cooperativa é só procurá-los e escrever uma carta dizendo as razões pelas quais deseja entrar para a cooperativa. “Tirando o dinheiro das despesas, o resto é dividido entre todos os trabalhadores”, afirma Luis.

O Cidadão 13


CAPA

Crise beneficia empresas Grande número de desempregados faz patrões lucrarem com o subemprego situação do trabalho no Brasil é muito mais complicada do que parece. Como Edinho viaja por muitos estados, vê muitos absurdos. “Em Minas Gerais, vi muitas crianças trabalhando em fábrica de carvão”. É tão triste a lembrança, que Edinho apela para sua veia poética. “Nos transformamos numa grande carvoaria, em que todos choram pela fumaça do desemprego e da incerteza, como fazem aqueles meninos”, filosofa. Tanta barbaridade nos leva a uma reflexão: se existe emprego para estas crianças e tantas outras, porque falta emprego para o adulto? Para Edinho, vemos hoje uma nova modalidade de escravidão: o amarelo. “Noto que há um interesse de que o desemprego permaneça grande. Com maior demanda, os salários se tornam menores. E quem se qualifica é obrigado a trabalhar fora de sua função”, denuncia. Segundo ele, é por isso que a carga tributária é tão alta e afasta o pequeno investidor. “Quem deseja montar uma pequena empresa acaba se desestimulando com tanto imposto. O capital que poderia gerar empregos acaba virando capital não produtivo”, mostra. As confecções já descobriram isso e, numa jogada desleal, criaram uma nova modalidade de trabalho: a costureira externa. São as pequenas facções, oficinas de costura montadas em casas ou garagens, que têm de uma até dez empregadas. Elas trabalham para as fábricas de roupas masculinas. As empresas repassam as peças cortadas para as costureiras e só pagam o trabalho, ficando livres de todos os impostos e encargos trabalhistas. Maria de Fátima da Silva, 43 anos, mora no Conjunto Pinheiro e sempre trabalhou em fábricas de costura. Ficou viúva cedo e teve que criar os filhos sozinha. Com o dinheiro da indenização, comprou uma máquina e ficou fazendo pequenos trabalhos de costura. Chegou até a terceirização das fábricas através de anúncios em jornal. Fez o teste e passou. Como o serviço era grande, teve que chamar pessoas para ajudar. “Eu recebo pelo trabalho e repasso para as meninas. É algo incerto, porque depende da quanto as empresas vendem”, conta Maria de Fátima.

Fotos de Cristiane Barbalho

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Pescadores da Marcílio Dias lutam contra poluição para conseguir se manter no trabalho

O trabalho é muito duro: vai de domingo a domingo e o salário depende da demanda. “Se há muito trabalho, pagamos um pouco mais, quando está ruim um pouco menos”, afirma Maria de Fátima, que no momento tem mais três funcionárias. Nos meses de mais trabalho, o número de costureiras aumenta. “Aqui trabalham oito pessoas, mas como nestes meses cai o serviço, estamos com cinco. Este ano pretendemos nos organizar para que todas paguem o INSS”, explica Maria das Graças, 56 anos, dona de outra facção. As empresas, apesar das costureiras serem apenas prestadoras de serviço, cobram o trabalho como se fossem profissionais contratadas. “Se entregamos fora do prazo, eles podem até cobrar multa”, diz Maria de Fátima. Para saber se há vagas, os moradores devem procurar às facções. Elas fazem em média 500 peças por semana, podendo chegar a mil, e todo material utilizado, como linha e agulha, é comprado por elas. “Não temos alternativa, a única vantagem deste trabalho é não ficar sem trabalhar”, desabafa Maria de Fátima. Se trabalhar para firmas não é vantajoso, por conta própria também não dá o retorno esperado. Rose Neves, 36 anos, moradora do Conjunto Pinheiro, que trabalha em uma facção explica. “Se fôssemos fazer traba-

lhos por conta própria, não teríamos lucro e não haveria como investir”. Mesmo com tantas desvantagens, há quem veja pontos positivos no trabalho. “Não tinha com quem deixar minha filha, aqui posso trazê-la ”, conta Marlene Atanásio, 37 anos, moradora da Nova Holanda. Outros fazem desta atividade um passaporte para vôos mais altos. Josicleide França, 22 anos, moradora do Conjunto Pinheiro, veio do Nordeste há pouco tempo e aprendeu a costurar na oficina. Tem o 2º grau completo, mesmo assim teve dificuldade para encontrar emprego. “Para não ficar parada e ter como pagar o curso de informática, trabalho aqui. Meu sonho é ser recepcionista ou secretária”, diz.

Edinho é caminhoneiro e viu crianças carvoeiras


Procurando emprego até debaixo d’água Outras alternativas são mais inusitadas, contam com a sorte de uns e o azar de outros. Jorge Ribeiro Mariano, 56 anos, é morador no Piscinão de Ramos há 38 anos. Ele é conhecido como o garimpeiro da Maré. Embora o nosso bairro não tenha minas, Jorge conseguiu uma maneira de achar os seus “tesouros”. Tudo começou quando ele trabalhava em um açougue e ouviu uma pessoa dizer que estava garimpando ouro. Dái, ele descobriu que existem pessoas que sobrevivem do mergulho no mar para encontrar objetos perdidos pelos banhistas. Embora seja um trabalho incerto, ele afirma que consegue se sustentar. “No último Reveillón achei cordão de ouro, aliança, grana”, conta Jorge, garimpeiro há 27anos. A profissão é arriscada. “A dificuldade é quando o mar está muito bravo. Já passei sufoco com pé de pato e tudo”, conta Jorge, que também canta e coleciona entrevistas a jornais, rádios e tvs. Os pescadores da região também passam por situações difíceis. Com o aumento da poluição, eles acabam sem ter como sustentar suas famílias. “Fazemos pesca artesanal e vendemos para

Enquanto a carteira assinada não vem... Um dos maiores problemas causados pelo desemprego é a falta dos direitos trabalhistas, como auxílio-doença, auxílio- maternidade e aposentadoria. Essa preocupação atinge tanto trabalhadores desempregados como informais. Essas pessoas podem tirar sua autonomia. No entanto, há muito desconhecimento entre a população a respeito do assunto. Além disto, poucos trabalhadores subempregados têm condições de pagar a autonomia. “Neste momento ainda não posso contribuir com R$50 para o INSS, porque o que a gente ganha é muito pouco”, diz Maria de Fátima. Mas quem já precisou utilizar algum benefício sabe que o sacrifício vale a pena.

empresas de sardinha. O preço é de R$0,10 o quilo para a fabricação de farinha de peixe e R$0,15 o quilo para a fabricação de sardinha em lata”, conta Jorge Soares dos Santos, 37 anos, presidente da Cooperativa de Pescadores de Marcílio Dias, Marcoop. Ele afirma que o lixo está mais caro que o peixe. O pescador reclama do descaso dos governantes com a atividade. “Numa sociedade que exige escolaridade, a pesca é uma boa opção, porque não faz distinção de pessoas”, afirma o presidente da cooperativa, onde trabalham mais de 100 pessoas, direta ou indiretamente. Uma boa alternativa, cita o pescador, seria utilizar os pescadores no trabalho de despoluição da Baía de Guanabara. “Seria uma ótima forma de geração de renda. Mas eles preferem gente que só tem o conhecimento teórico. Não entendo porque não nos chamam para limpar. Nós já fazemos isso todo dia”, reclama Jorge.

“Tive que me operar e fiquei três meses sem poder trabalhar. E recebi os três meses pelo INSS. Hoje falo pro meu marido para ele pagar também. É uma segurança”, conta Cícera Felix, 38 anos, moradora do Parque Maré que trabalha como doméstica e tem o carnê pago pela empregadora. Os pescadores conseguiram uma boa alternativa para o impasse. Eles reivindicaram ao Ministério da Pesca uma solução para o problema que atinge o pescador de maneira especial. Já que, literalmente, “nem todo dia o mar está pra peixe”, ainda mais na poluída Baía de Guanabara. O pescador paga quatro parcelas de R$ 30 durante o ano. Se ficar doente ou não puder trabalhar, tem seu sustento garantido. “O cara morria pescador e deixava a mulher no mundo. Hoje, ela vai ter direito a um salário, que já dá para alguma coisa”, diz Jorge.

Estratégias de sobrevivência Quando você vai procurar emprego, diz que mora na Maré ou em Bonsucesso? Pois é, morar em locais estigmatizados, prejudica sim, na hora da entrevista. “Às vezes me sinto prejudicada, mas não é todo local que tem esse tipo de preconceito. Uma vez tentei trabalho numa loja, mas a dona logo me descartou. Disse que o shopping fechava tarde e como eu morava em área de risco, era melhor não ficar com a vaga”, conta Julia Alessandra dos Santos, 23 anos, moradora da Baixa do Sapateiro. Cristiano Rodrigues confirma que as empresas têm preconceito com este tipo de público. “Há uma idéia geral de que pessoas de comunidade têm má índole. Eu mesmo já omiti o bairro em que moro várias vezes”, conta. Para ele, esse tipo de preconceito está muito longe de acabar. As leis ainda deixam a desejar, no que diz respeito ao preconceito de classe social. Elas só prevêem amparo para racismo de cor, raça, etnias, religião e procedência nacional. No entanto, dizer que mora na Maré, às vezes, é essencial. Por exemplo, para conseguir bolsa na universidade, ser morador de espaços populares é fator determinante. “Acho que consegui a bolsa-auxílio da UFRJ porque moro na Maré e porque nasci numa família de baixa renda”, afirma Julia.

Como retirar sua autonomia Qualquer pessoa que não exerça atividade formal pode retirar sua autonomia. É só entrar em contato com o INSS através do telefone 0800-780191 e se inscrever. Os inscritos contribuem com pelo menos 20% do salário-mínimo, mas garante os direitos trabalhistas. O órgão também tem um programa de auxílio para que nunca contribuiu, mas tem 65 anos, está incapacitado para o trabalho, não tem em seu lar outros familiares amparados por benefícios. O interessado deve ligar para o mesmo número e saber se sua renda per capita é inferior a 1/4 do salário mínimo. Uma proposta paralela à Reforma da Previdência prevê contribuições menores para donas de casa e trabalhadores sem vínculo empregatício. A lei espera ser aprovada no Senado.

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SERVIÇO

E por falar em Educação... Primeiro capítulo do Catálogo de Instituições do Bairro Maré Renata Souza

omo prometemos na edição passada, traremos agora o primeiro capítulo do catálogo que trata do tema educação. Cada capítulo tem um texto reflexivo que no momento não será publicado, mas que pode ser encontrado no Observatório Social da Maré, tel. 25164604. A seguir, informações sobre as creches da Maré.

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Creches comunitárias e municipais Creche Comunitária Cantinho Bem Me Quer Endereço: Rua Ouricuri, 201 - Parque Roquete Pinto - Maré - CEP: 21030-010 Grau de ensino: Educação Infantil Ano de fundação: 1989 Funcionamento: manhã-tarde Creche Comunitária Celebrando a Vida Endereço: Avenida Lobo Júnior, 83 B Marcílio Dias - Maré - CEP: 21010-000 Telefone: 2584-3209 Grau de ensino: Educação Infantil Ano de fundação: 1998 Funcionamento: manhã-tarde Creche Comunitária Cléia Santos de Oliveira em Nova Holanda Endereço: Rua Sargento Silva Nunes, 1008 Nova Holanda - Maré - CEP: 21044-241 Grau de ensino: Educação Infantil Ano de fundação: 1985 Funcionamento: manhã-tarde Creche Comunitária Sagrado Coração de Maria Endereço: Rua Carmela Dutra, 24 - Parque Maré - Maré - CEP: 21040-430

Horário da refeição na Creche Pescador Albano Rosa. Foto publicada no Catálogo de Instituições

Telefone: 3869-8195 Grau de ensino: Educação Infantil Funcionamento: manhã-tarde Creche Escola Mimi Endereço: Rua João Araujo, 237 - Parque Rubens Vaz - Maré - CEP: 21044-070 Telefone: 3867-8050 Grau de ensino: Educação Infantil Ano de fundação: 1994 Funcionamento: manhã-tarde Creche Escola Tia Dulce Endereço: Rua 5, s/nº - Vila do João - Maré CEP: 21040-361 Grau de ensino: Educação Infantil Ano de fundação: 1983 Funcionamento: manhã-tarde Obs: temporariamente desativada. Creche Municipal Nova Holanda Endereço: Rua Carlos Lacerda, 46 - Nova Holanda - Maré - CEP: 21044-745 Grau de ensino: Educação Infantil

Como vovó já dizia Produto industrializado: ingredientes básicos + produtos químicos + embalagens coloridas para te atrair + propagandas para te convencer + energia para produzir + combustível para transportá-los até você = POLUIÇÃO. Que tal fabricar seus próprios produtos de limpeza? Você obterá produtos que limpam, amaciam, não poluem e cujo valor econômico é incomparavelmente menor do que o do similar industrializado.

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Ano de fundação: 1986 Funcionamento: manhã-tarde Creche Municipal Paulo Freire Endereço: Rua Tancredo Neves, bl. 100, lote 69 - Nova Maré - Maré - CEP: 21043-230 Telefone: 8818-0354 Grau de ensino: Educação Infantil Ano de fundação: 1998 Funcionamento: manhã-tarde Creche Municipal Pescador Albano Rosa Endereço: Rua Praia de Inhaúma, s/nº - Morro do Timbau - Maré - CEP: 21012-130 Telefone: 9174-5708 Grau de ensino: Educação Infantil Funcionamento: manhã-tarde Creche Municipal Tio Mário Endereço: Rua 2 (esquina com Rua 17) - Vila do João - Maré - CEP: 21042-150 Telefone: 9865-2223 Grau de ensino: Educação Infantil Funcionamento: manhã-tarde

Produtos de limpeza Veja algumas receitas simples. Detergente Ecológico Ingredientes - Um pedaço de sabão de coco neutro, dois limões e quatro colheres de sopa de amoníaco (amônia líquida) Preparo - Derreta o sabão de coco, picado ou ralado, em um litro de água. Depois, acrescente cinco litros de água fria. Em seguida, esprema os limões. Por último, despeje o amoníaco e misture bem. Guarde o produto resultante em garrafas e utilize-o no lugar dos similares comerciais. Para amaciar suas roupas Adicione 1/2 copo de vinagre ou 1/4 de copo de bicarbonato durante o enxágüe.


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Congelados “Bom Sucesso”: novidade do Buffet Mareação A Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro (ACB/RJ) em 2003 criou o Buffet Mareação, formado por egressos da oficina de Gastronomia, no âmbito do Programa Qualificação Profissional e Oficinas Produtivas da instituição. Os educandos são moradores de áreas periféricas do Rio, principalmente da Vila do João, na Maré, local onde a ACB/RJ possui sede há mais de 20 anos. O trabalho é desenvolvido na comunidade, porque o ramo

de alimentação cria muitas oportunidades. O Buffet Mareação aceita encomendas para os mais variados eventos e públicos, primando pela qualidade e originalidade. Seu foco, porém, é a culinária africana, já que a ACB/RJ visa estimular debates sobre questões de etnia e cidadania ativa. O Buffet já participou do coquetel no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) durante o evento “A Arte da África”. Outro cliente do Buffet foi o Consulado Geral da Bélgica, que contratou os serviços para o evento em comemoração ao Dia Nacional da Bélgica. O Sr. Marc Franck, cônsul geral deste país, conheceu a oficina in loco e ficou impressionado com o trabalho e o esforço do grupo. Fundamental para a qualidade da oficina é o convênio firmado, em 2002, com o Hotel Copacabana Palace. Por meio deste, os educandos têm feito estágios na cozinha do hotel, onde põem em prática o que aprendem nas aulas e conhecem

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RIO DE JANEIRO

cardápios mais requintados. Além disso, podem desenvolver suas capacidades, podendo alçar novos vôos em suas vidas. A grande novidade do Buffet são os congelados “Bom Sucesso”, que fazem parte da Oficina Produtiva de Gastronomia da ACB/ RJ - Arte e Gula. O programa foi criado para atender à rede de lanchonetes da Fundação Oswaldo Cruz. A surpresa é que deu certo. O cliente gostou, e melhor, a comunidade de Vila do João, educandos, educadores, visitantes e coordenadores também aprovaram a idéia. Os congelados estarão à venda no Arte e Gula. A oficina conta com três educandos e já está em pleno funcionamento.

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SAÚDE

Sobriedade igual à superação Moradores da Vila do Pinheiro trabalham a auto-ajuda para vencer o vício Cristiane Barbalho

M

uitos riem do personagem João Canabrava, interpretado por Tom Cavalcante, que tem como slogan a palavra “Sóbrio”. Mas o que é engraçado na televisão, torna-se um pesadelo quando o alcoólatra está em nossa família. Por isso, quatro pessoas da comunidade se uniram, para lutar contra todos os tipos de vício. O objetivo era unir os grupos que ajudam os dependentes e tornar a vida dos acompanhantes melhor. Para isso, fizeram um curso e criaram a Pastoral da Sobriedade. Os encontros começaram em 2004 e acontecem todas as sextas, às 19 horas, na Paróquia São José Operário, na Vila do Pinheiro. Os participantes são pessoas que desejam afastar-se do excesso de bebidas alcoólicas, drogas, sexo, jogos e compras: “Em alguns casos, essas pessoas não têm o apoio da família, então somos a referência no acolhimento”, diz o diácono Cláudio dos Santos, 44 anos. Não há um número fixo de participantes. Cada encontro tem, em média, 15 pessoas. Quem trouxe a idéia da pastoral para a comunidade foi o Padre Célio Calixto. “É bom deixar a vida mais sóbria e saudável”, diz o padre, 31 anos. O grupo trabalha com palestras, animação, partilha e o trabalho é ecumênico. As atividades concentram-se em cinco pontos centrais: a prevenção, a intervenção, a recuperação, a reinserção e a atuação política. Este último, busca a articulação entre o governo e a sociedade

Participantes da Pastoral da Sobriedade se reúnem todas as sextas: ajuda para vencer o vício

civil para a implementação de leis e programas que propiciem uma vida sem drogas. A maior dificuldade da Pastoral da Sobriedade é lidar com as pessoas, que chegam muito magoadas. “Para a cura, oferecemos paciência e amor. A recompensa são os relatos do afastamento”, fala o líder Edílson Ezequiel, 47 anos. O integrante Adalto Cassemiro, 49 anos, é um dos motivos de alegria. “Bebia muito e com isso perturbava minha família. Conheci a pastoral e há três meses sou outro homem. Agora, ouço gozação, mas fico no refrigerante”, relata.

A união faz a força A Pastoral da Sobriedade surgiu em 2001, como gesto concreto da Campanha da Fraternidade da Igreja Católica que teve como tema as drogas. Dentre os fundadores, estavam representantes de grupos que já trabalhavam nesta área. No Rio, os primeiros encontros aconteceram na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Glória. “De lá para

cá já demos bons frutos”, revela o pároco Monsenhor Vital Francisco, 80 anos. Em junho de 2004 foram formados vários líderes, incluindo os da Maré. Hoje são 225 condutores, com 66 grupos no estado. O telefone do Vicariato da Caridade Social é 2292-3132.

Os efeitos da dependência A dependência de uma pessoa pode ser compreendida a partir de três aspectos: problemas psicológicos, sua situação sóciopolítica e econômica e as propriedades químicas das drogas. É importante lembrar que o diálogo é indispensável nessas situações. Ele é a garantia mínima de um espaço aberto para tentar solucionar a questão. Já que, a abstinência de qualquer vício pode causar desde desconfortos psicológicos até nervosismo, delírios, febre, convulsões e até depressão. Para o psicólogo do Centro Médico de Saúde Américo Veloso Frederico Martins, 37 anos, quem sofre mais é a mãe do usuário. “Elas nos procuram principalmente para desabafar. Já que a solução é complexa, a mãe deve acompanhar o filho e ser acompanhada, para que essa situação não interfira em outras dimensões de sua vida. Por isso, deve procurar a pastoral e instituições que dêem apoio”, diz o psicólogo.

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CIDADÃO ZINE

Jovens de atitude Adolescentes da Maré refletem sobre suas angústias e desejos para o futuro Cristiane Barbalho

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universo masculino e os problemas ligados à saúde dos rapazes dos 12 aos 21 anos ocupam o centro das atenções do Grupo de Homens da Maré. Os 20 freqüentadores do grupo se reúnem todos os sábados, nos Postos de Saúde Gustavo Capanema e Hélio Smidt, para discutir os principais conflitos da juventude, sob a ótica masculina. Os rapazes conversam sobre problemas locais, como o esgoto a céu aberto, as poucas opções de lazer na comunidade, a qualidade do ensino e até sobre o relacionamento com os pais. Renato da Silva Pereira, 16 anos, morador do Morro do Timbau, é um dos jovens do grupo. “Os assuntos abordados são escolhidos por nós mesmos e, na

SABOR DE M

ARÉ

1 vidro (200 ml) de cereja em calda 3 colheres de sopa de manteiga 3 colheres de mel 2 xícaras de chá de açúcar de confeiteiro 1/2 kg de chocolate em barra Modo de fazer: Escorra as cerejas e espalhe-as sobre o papel absorvente. Logo após escorrido, ponha em uma superfície seca e lisa. Numa tigela, junte a

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Jovens rapazes discutem seus problemas em reunião no Posto de Saúde Gustavo Capanema

semana seguinte, discutimos ou trazemos alguém que entenda o assunto” O grupo também abre espaço para discutir outros temas importantes para a saúde, como a violência, as drogas, a sexualidade. “Procuramos trazer sempre uma dinâmica para ficar mais agradável”, conta Leonardo Marques, 20 anos, morador da Baixa do Sapateiro e um dos coordenadores

do grupo do posto Gustavo Capanema. O projeto nasceu dentro do Adolescentro, do Ceasm, que conta com o financiamento do Programa da Saúde do Adolescente, da Prefeitura do Rio, em parceria com o Instituto Promundo. O grupo cresce através da experiência. “Não temos a pretensão de dar aula. Todo mundo aprende um pouco. E vemos as mudanças”, explica Leonardo. Quem quiser conhecer o projeto, deve ir a qualquer um dos pólos. O Adolescentro é um projeto que visa a promoção de saúde do adolescente feita por ele próprio. O Instituto Promundo tem a missão de promover o desenvolvimento de jovens e crianças no Brasil e no mundo.

Bombom de cereja manteiga em temperatura ambiente com o mel e adicione o açúcar, misturando bem. Mexa até obter uma pasta homogênea. Separe porções dessa pasta e cubra as cerejas com ela. Reserve. Pique o chocolate e derreta-o em banho-maria. Depois, espete as cerejas reservadas com um palito, mergulhe-as delicadamente no chocolate derretido, envolvendo-as completamente e coloque-as para secar em assadeira untada. Deixe os bombons na geladeira até que estejam bem firmes, antes de guardar num vidro ou

outro recipiente bem fechado ou embrulhá-los com o papel escolhido.

Bombons de cereja podem ser vendidos


MARÉ MUSICAL

''' Maré Musical

O swing da Praia de Ramos Grupo de pagode grava CD demo e anima o Piscinão nos fins de semana Divulgação

epois de muitas noites nos bares da cidade, eventos e aberturas de shows, o grupo Só Swing, da Praia de Ramos, comemora a gravação do primeiro CD. O demo tem apenas cinco músicas, mas é o primeiro prêmio de um trabalho que começou como brincadeira. Quando o grupo surgiu, em 1998, faziam rodas de pagode e se apresentavam em bares apenas por diversão. “Aprendemos a tocar vendo outros grupos. Tocamos por gostar mesmo, não vivemos da música. Muitas vezes fizemos show de graça”, conta Marcos de Lima, 27 anos, um dos seis integrantes do grupo. O Só Swing participou de um festival no Méier, concorrendo com 60 bandas de diferentes estilos musicais. Conquistaram o 2º lugar e, com isto, conseguiram gravar um demo com cinco músicas, que ainda não

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O grupo de pagode Só Swing se apresenta toda semana em um trailer no Piscinão de Ramos

está pronto. O grupo tocou também na festa de fim de ano do Piscinão de Ramos e participou, durante quatro anos, de shows promovidos pela Riotur, no carnaval. Para completar, tocam toda semana em um trailer no Piscinão de Ramos. Os ensaios, que acontecem duas vezes por

semana, são feitos na casa de um dos integrantes. O Só Swing não tem empresário. “A maior dificuldade é conseguir shows fora da comunidade, porque não tem uma pessoa responsável por fazer só esse trabalho”, diz Renato Barreto, 25 anos.

Rua do Bispo na Maré Cristiane Barbalho

Rua Dom Eugenio de Araújo Sales, uma das principais ruas da comunidade Marcílio Dias, tem pouco movimento e falta de estrutura

om Eugenio de Araújo Sales, arcebispo emérito da cidade do Rio de Janeiro, dá nome a uma das principais ruas da Marcílio Dias. O religioso ajudou a comunidade quando uma empresa começou a fazer aterros, sufocando os moradores. A comunidade se organizou e procurou as autoridades, em busca de uma solução, com o auxílio da Pastoral de Favelas. “O Dom Eugenio deu muita força”, lembra Antônio de Oliveira, de 61 anos, que participou desse movimento. Seu Antônio já mora há 35 anos na comunidade e conta que não mudou muita coisa na Rua Dom Eugenio de Araújo Sales de lá para cá. “Talvez, a limpeza tenha

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melhorado, as pessoas cuidam mais. Mas falta mudar muita coisa. Condução, por exemplo, é escassa aqui na comunidade”, reclama. Na rua passa apenas uma linha de ônibus e há um ponto de kombis para Bonsucesso, Penha, Olaria e Ramos. Para se deslocar a qualquer outro lugar do Rio, os moradores têm que pegar a condução na Avenida Brasil. Andando pela rua, pode-se estranhar o fato de ela ser apontada como a principal da comunidade. Há pouco movimento e pouca concentração de comércio. Mas a rua reflete um problema de toda a Marcílio Dias. “Eu moro aqui há 31 anos, e não tem nada por aqui”, conta Rosilene Vicente de Macedo, de 31 anos, que vive numa rua próxima e trabalha

na Rua Dom Eugenio. “Até orelhão aqui é difícil”, reclama ela. Para Adilson de Paula Prado, de 46 anos, o problema poderia ser menor se a comunidade tivesse sido mais bem planejada. “Aqui é tudo muito descentralizado. Isso prejudica o comércio, fica tudo disperso”. Além de enfrentar os mesmos problemas que as outras comunidades da Maré, a Marcílio Dias lida também com a falta de oportunidades de lazer. “Aqui faltam pontos culturais, falta lazer, não tem um teatro, um cinema de rua”, conta Júlia Maria de Jesus. “Seria bom se tivesse alfabetização de adultos, um supletivo, artesanato ou telecurso”, reivindica.

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ESPORTES

Da praia para as quadras da Maré Escola de Vôlei da Jackie chega ao Rubens Vaz e vira alegria da meninada Cristiane Barbalho

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om tantas escolinhas de futebol espalhadas pelo bairro, que só atendem aos meninos, a escolinha de Vôlei da Jackie é uma opção para as meninas da Maré que desejam realizar uma atividade esportiva. O projeto foi criado há seis meses e é financiado pelo governo do Estado em parceria com a jogadora de vôlei Jaqueline, que empresta tecnologia e experiência à iniciativa. No início, o projeto foi oferecido pela ADL à Associação de Moradores do Parque União. Mas a comunidade não tinha um lugar disponível para a prática do vôlei. Então, um acordo entre as associações de moradores do Parque União e do Parque Rubens Vaz fez com que o projeto fosse para a quadra do Rubens Vaz. “Sempre tivemos a idéia de fazer um projeto voltado para as meninas, porque para meninos já têm muitos”, afirma o presidente da associação do Rubens Vaz, Ricardo Ferreira de 38 anos. O presidente acrescenta que a Associação já teve, há um ano, um projeto chamado Viva Vôlei, em parceria com a prefeitura. Mas o projeto foi interrompido. Com aproximadamente 110 alunos, divididos em duas turmas, de 7 aos 17 anos, a escolinha faz passeios, para colocar os alunos em contato com a natureza e com pontos históricos da cidade. Estes passeios

Crianças aprendem vôlei em projeto do Governo em parceria com a Associação de Moradores

são realizados em parceria com empresas da Maré e a associação está encarregada de garantir o lanche. O professor de vôlei Gabriel Sobral Caldas, 38 anos, que mora na Maré há um ano e meio, percebe que os pais dos alunos o vêem como um educador. “A idéia não é formar atletas, mas fazê-los entender as regras do vôlei para auxiliar na construção de sua própria vida”, conta Gabriel. Para a professora Cristina Lira da Cunha, 44 anos, a falta de divulgação é um dos principais problemas do projeto. Mas há pontos positivos. “Considero muito

gratificante a participação que os alunos estão tendo no esporte”, afirma Cristina. Gisele Alves, 13 anos, moradora do Rubens Vaz concorda: “É muito bom fazer vôlei aqui, porque é perto de casa e ajuda na formação do corpo”, afirma a aluna. As aulas acontecem às terças e quintasfeiras, das 9h às 11h e das 14h30 às 16h30. Quem quiser entrar na Escolinha de Vôlei da Jackie deve apresentar a declaração escolar e o atestado médico na Associação dos Moradores do Rubens Vaz, levando duas fotos 3X4. Para mais informações, ligar para 3881-9118. Arquivo Pessoal

Escola de Futebol Servidores Municipais

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á cinco anos surgiu na Vila do Pinheiro a escolinha de futebol Servidores Municipais. Ela foi fundada por moradores locais e os treinos são feitos no campo de futebol Toca da Raposa. Participam da escola crianças e jovens com idades entre 7 e 15 anos e para participar é necessário estar estudando. Há dois anos eles se cadastraram na CBF, participando de campeonatos da entidade, fora os que eles mesmos organizam dentro da comunidade. O nome do time vem de uma

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Escola de Futebol Servidores Municipais atende à crianças e adolescentes de 7 a 15 anos

comunidade da Ilha do Governador. Não, não é traição com a comunidade. Eles foram obrigados a procurar outro local, porque quatro times da Maré já estavam inscritos na CBF, e não foi aceita mais uma inscrição local.

O grupo se encontra aos sábados, terças e quintas no campo da Toca da Raposa. A escolinha não possui patrocinador, tendo contribuição apenas dos próprios atletas.


PÁGINA DE RASCUNHO

Prece Na esperança de encontrar viva luz nas alturas distantes do infinito, meu pensamento puro e contrito numa prece fervorosa a Jesus. A paz que clamo procuro tê-la brado e minha voz constante em meu peito, ao “Supremo Criador”, justo e perfeito, no calor da Fé suponho volvê-la Trôpego, resignado e não vencido meus olhos aflitos e lacrimados pelos reflexos sutis dos bons grados. Por sentir-me tolerante e acolhido com afeto pelos braços da cruz nutrindo o amor fraterno desta luz!

Edson Inácio, morador da Nova Holanda, enviou este desenho sobre a desnutrição no Brasil

Elpídio Bernardes da Costa

Arquivo Pessoal

Minha cidade Pinheiro Oh! Minha cidade Pinheiro, aqui também me criastes terra do meu bem querer, pátria minha de amor cercada de verdes campos, princesa. Tu és um clamor que Deus criou na terra com toda paz e amor. Sou feliz por ter você, que és meu orgulho e amor. Verdinha és princesinha, minha terra, minha sina, que me conhecestes menina, sapeca e tão pequenina andando nas ruas descalça, feito um menino moleque. Rosário F. Frazão - Livro Poemas e Poesias “Nunca se iluda por poucas palavras, pois saiba que nem tudo que a boca fala o coração sente...” Desenho realizado por duas crianças da comunidade: Maicon, 9 anos, e Eliseu, 8 anos.

As duas flores São duas flores unidas São duas rosas nascidas Talvez no mesmo arrebol, Vivendo no mesmo galho, Da mesma gota de orvalho, Do mesmo raio de sol. Unidas, bem como as penas Das duas asas pequenas De um passarinho no céu... Como um casal de rolinhas, Como a tribo de andorinhas Da tarde no frouxo véu

Rosário Frazão, 31 anos, é escritora, mora na Praia de Ramos e precisa de ajuda para publicar um novo livro de poesias, “Coisas que acontecem e que mudam nossas vidas para sempre”, e livros infantis. Para encontrá-la é só ligar para O CIDADÃO ou na Rua Cruzeiro do Sul, 32 - Praia de Ramos..

Unidas, bem como os prantos Que em parelha descem tantos Das profundezas do olhar... Como o suspiro e o desgosto, Como as covinhas do rosto Como as estrelas do mar. Unidas...ai quem pudera Numa eterna primavera Viver, qual vive esta flor. Juntar as rosas da vida Na rama verde e florida, Na verde rama do amor! Heloy dos Santos - Alfabetização Ceasm Timbau

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CARTAS

As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Ações Solidárias da Maré Jornal O Cidadão – Praça dos Caetés, 7 – Morro do Timbau – Rio de Janeiro/ RJ – CEP: 21042-050

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MEMÓRIA DA MARÉ

Francisco Valdean / Rede Memória da Maré

UM MUSEU PARA O BAIRRO m museu da Maré?!... É isso mesmo, amigo(a) leitor(a)! Durante todo esse tempo a Rede Memória vem divulgando a história da Maré nesta página do CIDADÃO. Mas só foi possível saber tanta coisa sobre a história desse local porque os moradores sempre colaboraram com nosso trabalho de pesquisa. Graças à sua colaboração, a Rede Memória possui um acervo com inúmeros depoimentos orais, muitas fotografias e tantos outros documentos que foram doados ou emprestados para serem copiados. Esses documentos estão à disposição dos moradores, que constantemente visitam o Arquivo Orosina Vieira para consultar o acervo. Mas o nosso objetivo não é só guardar os documentos. A Rede Memória realiza várias atividades em escolas, creches e outros espaços públicos da comunidade para divulgar a história local, principalmente entre os mais jovens, para que eles conheçam a origem do lugar onde vivem e valorizem a luta das pessoas que construíram a Maré em mutirão. Durante o ano de 2004, a Rede Memória divulgou a história da Maré por meio de três exposições que foram muito elogiadas. A primeira ocorreu entre os meses de maio e julho, no Museu da República. Recriamos as pontes das palafitas em pleno Palácio do Catete, antiga sede do governo federal.

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Rede Memória da Maré.

Exposição da Memória realizada no Castelinho do Flamengo em novembro de 2004.

Exposição da Rede Memória realizada no Museu da República em junho de 2004.

A segunda exposição foi montada em novembro, no Castelinho do Flamengo. Foram expostas várias fotografias dentro de bacias cheias d’água colocadas em cima de estruturas de madeira, que representavam as palafitas. As fotos mostravam imagens de pessoas em filas d’água, carregando água em latas ou no rola-rola, lavando roupa, passeando de barco, caminhando sobre as pontes de madeira, pescando... Enfim, a exposição procurou mostrar a relação entre a água e a origem da Maré. A terceira e última exposição aconteceu em dezembro, no Centro Cultural do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói. O toque especial dessa exposição foi dado pelo grafite. Misturamos as fotos da Maré com pinturas grafitadas nas paredes do TCE. O trabalho que a Rede Memória realizou para montar essas exposições contou com a participação de vários profissionais das áreas de museu, cenografia, design, marcenaria e, principalmente com a colaboração dos moradores, que emprestaram ou doaram objetos particulares para fazer parte do acervo que foi exposto. Após o sucesso das exposições surgiu uma nova questão: O que fazer com os objetos?... Guardar?... Claro que não! Esses objetos serão os primeiros a fazer parte do Museu da Maré. A Rede Memória já pensava num museu há algum tempo. Por isso, enviou para o Ministério da Cultura um projeto, que foi aprovado para ter início no primeiro semestre de 2005. O Museu será implantado no prédio onde funciona a Casa de Cultura da Maré, facilitando o acesso dos moradores e de pessoas de outros pontos da cidade. Longe de ser um lugar onde serão guardados objetos do passado, o museu será um espaço de preservação da história local, valorizando a memória dos moradores e a relação da Maré com a história da cidade. Por isso, amigo(a) leitor(a), a Rede Memória quer contar mais uma vez com sua colaboração na construção do museu, para que ele seja de fato o Museu da Maré. Caro(a) leitor(a), este espaço do jornal O Cidadão é seu. Conte sua história para que ela seja publicada aqui. Pergunte o que você gostaria de saber sobre a história da Maré e da cidade do Rio de Janeiro, e nós responderemos. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória nos endereços: Morro do Timbau (Pç. dos Caetés, nº 07. Tels.: 2561-4604; 2561-3946); Nova Holanda (R. Sargento silva Nunes, 1012. Tel.: 2561-4965); Casa de Cultura (Av. Guilherme Maxwell, 26 - em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748). Se você tiver facilidade de acesso à internet, envie sua colaboração para os seguintes endereços eletrônicos: contato@ceasm.org.br ou jornalmares@bol.com.br


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