Estiagem no Oeste Catarinense

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ESTIAGEM NO OESTE CATARINENSE: DIAGNÓSTICO E RESILIÊNCIA — RELATÓRIO TÉCNICO

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1.2. Análises sistêmicas e complexidade Uma vez que os elementos de um sistema nunca são completamente “individualizados”, mas sempre “elementos relacionados” tem-se a consideração de complexidade. Como tal, deve-se falar não de “constituição” do sistema, mas sim de “relações de constituição” do sistema; em decorrência disto, as relações ou interconexões são, em verdade, “relações de relações”; e, pelo menos no que se refere aos sistemas sociais, mas, possivelmente, também, nos sistemas físico naturais, haveria que falar de relações de condicionamento superior, as “relações de ordem” (FREITAS et al, 2009). Para, além disso, a própria noção de informação deve ser revista, já que ela frequentemente inclui uma ideia determinista de que certa informação condiciona a ocorrência de determinada alteração e determinada resposta, o que não acontece, necessariamente. A informação deve ser mais vista como uma perturbação que, interagindo com os elementos relacionais, acaba provocando que o sistema selecione uma resposta de entre várias possíveis; se está, pois, perante uma dinâmica seletiva e não uma dinâmica informativa. Trata-se daquilo que Capra (2002, p. 92) designa por “ampliação da hipótese sistêmica”, que ocorre no âmbito das hipóteses e modelos formulados pela chamada Teoria de Complexidade ou Pensamento Complexo e se concretiza na compreensão das lógicas do padrão em rede e do funcionamento em rede. Existem muitas propostas e tentativas de definição do que seja complexidade que, não cabe aqui, rever de forma detalhada. Parte-se assim de uma formulação bem geral, mas, por isso mesmo, largamente consensual. [...] a complexidade é, antes do mais, uma qualidade, um estado, um padrão de organização que está presente no universo como um todo e que, em alguns de seus componentes [...] atinge níveis do que podemos considerar hipercomplexo (MORIN, 2005). [...] Mas a complexidade tem, também, outra dimensão, que podemos designar como mais epistemológica: é um certo tipo de qualidade, estado ou, mais exatamente, um padrão de organização caraterístico do processo de cognição (conhecer, saber) da vida, como um todo e seus diversos componentes (FREITAS, 2009, p. 126-127). 17

Esta ampliação e aprofundamento de hipótese sistêmica corresponde, efetivamente, a crítica que certos autores sistêmicos já vinham fazendo aos entendimentos mais mecânicos sobre funcionamento de sistemas, próprios de área tecnológicas muito especializadas, e onde é possível considerar sistemas físicos com fronteiras muito bem definidas, elementos e conexões delimitados e propósitos muito específicos. Os sistemas passam a ser vistos como redes, ou seja, como complexos não lineares de organização que incluem, entre outros aspectos: • Constantes interações entre seus elementos que, por isso mesmo, nunca podem ser vistos como elementos isolados, mas sim como “elementos em relação”; • As interações são desplotadas por diferenças (já que só a diferença tem significado para a rede) e ocorrem segundo um ou vários padrões organizativos; • Certas relações são reforçadas e acabam definindo nós, ou seja, conjunto de elementos concatenados que, em geral, correspondem a subsistemas; • As relações causais são, em geral, multicausais e potencialmente invertidas, ou seja, o efeito pode virar causa e a causa pode virar efeito; • Tais relações definem ciclos de retroalimentação em que a variação de um fator determina a variação de outro(s) que acaba(m) retroagindo no fator que inicialmente variou; • A retroalimentação pode ser positiva (ciclos de estabilização) quando fazem variar o fator inicial no mesmo sentido que ele tinha variado (+ e + ou - e -) e que, em última instância, pode acabar por levar à ruptura e/ou emergência de nova lógica, e negativa (ciclos de fuga) que faz variar o fator inicial no sentido oposto ao que ele tinha variado (+ e ou - e +) e contribui para a manutenção do equilíbrio, como também, resistência do sistema à mudança; • Sistemática possibilidade de ocorrência de emergências (surgimentos espontâneos, ou seja, novas dinâmicas anteriormente não previsíveis); • Um todo que necessariamente resulta do funcionamento de cada parte e suas interações, o que não impede, mas antes reforça a influência que cada parte recebe do todo e que dele é, de alguma forma, um reflexo (princípio holográfico).

Trata-se aqui de sistemas complexos sociais, mas pode-se adotar como exemplo de sistema complexo físico-químico, por exemplo, o tornado.


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