Estiagem no Oeste Catarinense

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ESTIAGEM NO OESTE CATARINENSE: DIAGNÓSTICO E RESILIÊNCIA — RELATÓRIO TÉCNICO

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to de resposta, em que a única alternativa geralmente é o abastecimento com caminhões pipa pela prefeitura. Em função do grande volume de trabalho e distância a percorrer, os demais serviços municipais chegam a ficar comprometidos. Faltam caminhões e o custo do transporte de água é elevado, não sendo possível atender toda a demanda durante período de estiagem.

As cisternas do projeto da Assistência Social apresentam muitos problemas. Teve uma licitação ruim que levou a uma construção ruim (Visita a produtor local, Xanxerê). Cisterna sem uso instalada em propriedade rural

Em períodos de estiagem a prefeitura leva água à população rural em caminhões. Há três anos ocorreu a última grande estiagem que impactou a propriedade durante cerca de seis meses, período em que com frequência quase diária era abastecida desta maneira. (Visita a produtor local, Bela Vista das Flores, São Miguel do Oeste). Geralmente, com 10 a 12 dias sem chuva alguns produtores já pedem caminhão de água. (Reunião Secretaria de Agricultura, Água Doce). Situação em Piratuba. Qualidade água importante, não tem caminhão suficiente, ou prioriza água potável ou pros animais. Municípios não estão preparados para solucionar rapidamente a estiagem (Oficina Concórdia). Os municípios até vão fazer esse trabalho [de contratar carros-pipa], mas é tudo limitado. É dada preferência para criadores de suínos e bovinos para não perderem os animais. Se for só pra consumo humano é raro as fontes secarem, mas diminuem bastante, daí a plantação é perdida. Aí vai depender do seguro, do governo intervir [para atenuar a perda]. (Reunião Sindicato dos Agricultores, Chapecó).

2.3.4. Problemas com as cisternas do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) Pelo relato dos participantes do diagnóstico de campo, percebeu-se que há programas que apresentaram problemas sérios de ordem técnica e ao invés de colaborarem, tornaram-se um transtorno. Um exemplo repetidamente lembrado foi o Programa Cisternas do MDS, operacionalizado no estado pela Assistência Social, que embora especialmente dedicado ao semiárido, foi alargado a Santa Catarina. Segundo os entrevistados, o padrão de construção das cisternas estava adaptado às condições climáticas do nordeste. Parte das cisternas que foi entregue não suportou o volume de água e rompeu, e outra parte sequer chegou a ser construída.

Foto: Patrícia Taeko Kaetsu

O modelo do Nordeste não funcionou, via Ministério da Assistência Social, iniciou em 2014 e foi interrompido (Reunião Secretaria de Agricultura Chapecó). Eu fiz pedido de uma cisterna, a questão técnica pecou muito, ninguém veio auditar a propriedade, desnível etc. No contrato consta calhas de latão de sei metros. Fizeram cerca em volta do biodigestor, coisa linda, mas em quatro meses caiu. Em dois anos vai cair, o gás que forma no chiqueiro corrói tudo. Em casa aguenta, mas no chiqueiro não. No Programa da Cisterna, kit pronto sem adaptação para propriedade (Oficina Concórdia).

Em campo foi possível observar as cisternas rompidas e algumas com parede de espessura de apenas dois centímetros, que sequer suportaram o primeiro uso. Hoje essas cisternas tornaram-se local de acúmulo de água e vetor de doenças.


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