DOSSIER TEMÁTICO
Algarve Médico 2021; 16 (5): 14-15
FEATURE ARTICLE
Dois lados de Esperança Ana Rita da Costa Faria1 1
Aluna do Mestrado Integrado de Medicina – Universidade do Algarve
a63482@ualg.pt
O Eletivo foi desenvolvido durante 8 semanas em duas instituições: Unidade de Saúde Pública Arnaldo Sampaio – Pólo do Barreiro, uma das Unidades do ACES de Arco Ribeirinho da ARS Lisboa e Vale do Tejo e Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.
O primeiro lado da Esperança:
remetem para uma população total de
A Saúde Pública
78.362 habitantes. A população alvo deste
Datava o dia 14 de janeiro de 2021,
projeto consistiu em doentes com todas
quando perante a crescente e exponencial
as idades, de ambos os sexos e recém
subida do número de casos de infetados
diagnosticados com Covid-19 que residiam
por SARS-CoV-2, cerca de 10.000
na região referida.
casos confirmados, os estágios que se encontravam planeados no decorrer do ano letivo foram cancelados. Viviam-se novamente tempos de sobressalto. Na impossibilidade de realizar estágios clínicos, fui obrigada a cancelar um dos meus eletivos e deparei-me com a decisão de qual o projeto que queria abraçar nesta fase tão complicada. Embarquei no projeto que me pareceu encontrar-se com número mais deficitário de recursos humanos, o Trace COVID-19. O Trace COVID-19 é uma plataforma que visa a vigilância clínica e epidemiológica de doentes infetados por SARS-CoV-2. Por esta altura, a região do país mais afetada era sem dúvida Lisboa e Vale do Tejo, com quase 50% do total de casos a nível nacional. Assim, a Instituição que nos acolheu para este projeto foi a USPAS (Unidade de Saúde Pública Arnaldo Sampaio) – Pólo do Barreiro, que é uma das Unidades do ACES de Arco Ribeirinho pertencente à ARS Lisboa e Vale do Tejo. Esta é uma unidade que abrange toda a população do concelho do Barreiro, onde dados provisórios dos Censos 2021
De forma concreta, o meu papel durante estas 4 semanas consistiu em realizar inquéritos epidemiológicos a casos positivos para SARS-CoV-2 (em média 5-6 doentes diários); identificação, acompanhamento e determinação de isolamento profilático dos contactos de alto risco (em média 4 contactos por caso positivo). Em adição, realizava promoção da saúde pública através da divulgação de informação sobre as medidas de prevenção e controlo de infeção. Refletindo... Na verdade, o desafio mostrou ser francamente superior ao que idealizava. Recordo-me do primeiro contacto ter sido realizado a uma senhora idosa que vivia sozinha e que ainda não havia sido notificada do resultado do seu teste. Os medos e incertezas desta doente eram tantos que também eu os partilhava por ela, por mim e pela minha família. Esta foi de facto uma das minhas maiores dificuldades, ao par da gestão das expectativas e frustrações dos doentes. Com o tempo, fui desenvolvendo ferramentas de comunicação, capacidade de antever dificuldades e sugerir soluções, de forma a conseguir ser a esperança que estes doentes precisavam.
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Este processo foi também extremamente útil no desenvolvimento de capacidades interpessoais, nomeadamente a empatia, que consistiu sem dúvida na ferramenta mais útil dado o lábil estado psicológico em que estes doentes se encontravam. Não tendo sido um estágio em meio hospitalar com uma alta componente técnica, este projeto surpreendeu-me pela enorme quantidade de valências que são necessárias para uma comunicação e orientação eficazes com os doentes sem um único contacto presencial com os mesmos. Foram tempos difíceis, mas de muita superação. De facto, este eletivo permitiu-me o testemunho e intervenção direta numa das fases mais difíceis que Portugal e o nosso sistema de saúde enfrentaram, mesmo sendo apenas uma simples aluna de medicina. O segundo lado da Esperança: A oncologia Médica O segundo período de eletivo teve uma abordagem completamente diferente do primeiro no que concerne à sua planificação, uma vez que foi um objetivo meu desde que iniciei este curso. Este período foi passado no Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD). Este Serviço encontra-se sediado na Unidade Hospitalar de Vila Real, organizando-se em 4 pólos: Vila Real,