Revista Debate Sindical - Edição nº 42

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Volks pouco se diferencia do apresentado pela multinacional exigindo do governo a regulamentação do trabalho rural, a elaboração de um plano de safra, a renegociação da dívida dos agricultores familiares e dos assentados da reforma agrária, cujo saldo devedor é considerado impagável. Ademais, através da Contag, reivindica mais crédito para o Pronaf, apontando a diferença de tratamento dispensado pelo governo federal aos pequenos e grandes produtores. A Contag também vem participando de reuniões em Washington com produtores rurais norte-americanos, representantes de ONGs e do

Banco Mundial para viabilizar parcerias para a implantação do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável, formulado pela confederação. A atuação da CUT ao longo de 2001 nos permite identificar duas tendências contraditórias: 1) De um lado, a CUT critica o governo, contrapondo-se a vários aspectos da política neoliberal e mobilizando os trabalhadores para combatê-la; 2) De outro lado, incorpora elementos do discurso neoliberal, centrando sua luta em temas como cidadania e exclusão, além de promover ações assistencialistas a pretexto de estimular a solidariedade entre trabalhadores urbanos e rurais, a exemplo da campanha de arrecadação de alimentos e da construção de 5 mil cisternas em prol das vítimas da seca no Nordeste. Assim, a CUT acaba por reforçar as mesmas políticas que denuncia, pois, ao reivindicar mais recursos para o Pronaf, concede legitimidade a uma medida compensatória e focalizada, típica representante das políticas sociais contempladas pelo modelo neoliberal. Além disso, busca "parcerias" com instituições como o Banco Mundial, sabidamente divulgadoras do neoliberalismo. Por fim, a CUT não apenas passou a atuar no território do MST, como também colabora para o isolamento dessa organização pois, ao invés de se associar a esse movimento em sua luta contra a política do governo, passou a concorrer com ele. Os dilemas da CUT se explicam pelas condições objetivas impostas pela conjuntura que —

continua a dificultar uma reação ofensiva por parte do movimento sindical, não obstante os avanços verificados desde 1999 e do crescimento do movimento antiglobalização neoliberal, mediante as duas edições do Fórum Social Mundial e pela variedade de tendências que a central congrega, contrapondo setores mais refratários e mais permeáveis ao neoliberalismo. Apesar dos obstáculos existentes, os embates em curso mostram que há espaço para a resistência e para a construção de uma alternativa político-ideológica ao neoliberalismo. —

NOTAS Os dados mencionados neste texto foram obtidos na Agência da CUT (www.cut.org.br ) e na grande imprensa. Suas idéias fundamentals foram assimiladas pelos defensores da 30 Via e se mantêm no princípio da "continuidade sem continufsmo" (presente nos discursos dos candidatos h presidência ligados aliança governamental), produzindo também impactos em setores da oposição, que defendem a tese da "alternativa confiável". Como o decreto 4.010, de 12/11/01, que concentra nas mãos do ministro do Planejamento a responsabilidade pelo processamento da folha de pagamento, a ser autorizada pelo presidente; a MP 10/01, que permite a contratação por tempo determinado para substituir servidores em greve por mais de 10 dias; e os dois PLs enviados ao Congresso para regulamentar o direito de greve nos serviços públicos, que determinam a ilegalidade da greve após 30 dias de paralisação e permitem a punição dos grevistas.

Andréia Galvdo é doutoranda em ciAncias sociais pela Unicamp/SP e pesquisadora do Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) DEBATE SINDICAL

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