Revista Debate Sindical - Edição nº 41

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ENTREVISTA • JOÃO AMAZONAS

está ainda sem candidato. Para o povo, o melhor seria encontrar, o mais cedo possível, um candidato capaz de derrotar o governo, de mudar os rumos do país. Mas isto também não é fácil, por isso é que as coisas estão ainda tão indefinidas. Além disso, o governo não está parado. O que acontece na Argentina assusta as classes dominantes. Lá se chegou a uma situação de crise muito grave. Momentaneamente, o Brasil ainda escapa disto, mas em médio prazo enfrentará crises profundas que precisam ser contornadas desde já. A saída na Argentina, que agora mesmo o governo anuncia, é suspender o 13° salário e tomar outras medidas contra o povo. Aqui, no Brasil, o governo ataca os direitos trabalhistas previstos na CLT e faz um pacote antigreve. Diante disto, é preciso mobilização e luta dos trabalhadores, é indispensável a união de forças para enfrentar as ameaças que estão presentes e podem se tornar ainda mais graves no futuro.

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DEBATE SINDICAL

Nesse quadro politico, qual o papel que o movimento sindical deve jogar? João Amazonas: Acho que há uma certa subestimação, nesses últimos anos, do movimento sindical. Ele é a grande força da resistência democrática, popular e progressista, porque é a força da produção. Se os trabalhadores compreendem o seu papel podem impor, pela sua unidade e pela justeza de suas posições, uma saída diferente da que querem as classes dominantes. Quando aparece uma dificuldade, as elites dizem que não podem atender a reivindicação dos trabalhadores. Só que essas dificuldades foram criadas por quem? Por isso é necessário destacar mais e mais a importância do movimento sindical, da atuação dos trabalhadores organizados sindicalmente para fazer frente não só a situação que se apresenta, mas as ameaças que se desenham no horizonte contra a classe operária. Hoje o sindicalismo enfrenta visíveis dificuldades. Mas ele começa a buscar o caminho para superá-las. Muitas forças começam a se unir, a procurar a solução justa para os problemas. Isso é um bom sinal. No caso da luta contra as mudanças na CLT, por exemplo, várias centrais se uniram na oposição ao governo. Isso mostra que a classe operária não vai ficar de braços cruzados, que é preciso, na luta política, ter presente o papel importante que joga o movimento sindical, as forças organizadas dos trabalhadores. Na década de 40, você foi um dos dirigentes do MUT (Movimento Unificado dos Trabalhadores). Quais são as diferenças marcantes entre o sindicalismo daquele período e o de hoje? João Amazonas: As situações

são distintas. Naquela época, lutávamos pela criação de uma central sindical. Chegamos a proclamá-la num congresso, um dos maiores congressos de trabalhadores realizado no Brasil. Só que o governo Dutra foi para cima, arrasou com o congresso e fechou a possibilidade de tornar legal uma confederação nacional dos trabalhadores. Essa aspiração sempre esteve presente no sindicalismo brasileiro. Ela toma formas diferenciadas aqui e ali, mas a inspiração é sempre a mesma: a unidade dos trabalhadores para defender seus direitos e para consolidar as suas conquistas.

Hoje o movimento sindical parece correr atrás dos prejuízos, combatendo os efeitos e não as causas da exploração. O socialismo não esta no seu horizonte. O sindicalismo deve empunhar esta bandeira? João Amazonas: Penso que sim. O socialismo é a única solução definitiva para os problemas dos trabalhadores. As outras são imediatistas, parciais. Representam a defesa de direitos justos, sem dúvida, mas insuficientes. A grande bandeira de libertação dos trabalhadores, capaz de resolver a situação do país no rumo progressista e avançado, é o socialismo. Ele acabará se impondo, não sei nem quando nem como, mas já está presente hoje em toda a parte. As vezes, sofre uma derrota aqui outra ali; ao mesmo tempo, adquire um ganho aqui outro acolá; mas os trabalhadores e o movimento sindical devem ter presente que o socialismo é a sua grande bandeira, a sua grande inspiração de progresso e de libertação da opressão capitalista.

Entrevista concedida ao iomalista &mho Borges


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