2ª etapa do curso Básico de Formação na FECOSUL

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pelo capital próprio movimento sindical e operário. Entretanto, tão importante quanto o problema do desemprego deve ser o da ampliação e da organização de classe do neoproletariado tardio. E, deles que deve vir a promessa de emancipação do trabalho. É uma tarefa urgente de partidos e sindicatos comprometidos com o socialismo analisar as dimensões do proletariado tardio, desvendar sua estrutura interna e discutir a organização política e cultural do novo (e precário) mundo do trabalho. O proletariado tardio é caracterizado, principalmente, pelos trabalhadores assalariados instáveis e precários, não atingidos pelos sindicatos e partidos. Cabe salientar que, nos últimos cinqüenta anos, sindicatos e partidos preocuparam-se em organizar os assalariados "estáveis" e "privilegiados", que constituíam um imenso "núcleo" do mundo do trabalho. Mas a partir da ofensiva do capital na produção, esse "núcleo" amplo da classe implodiu. O capital tendeu a instaurar a produção dispersa, uma das características da nova ideologia orgânica da produção capitalista (o toyotismo). No Brasil, os sindicatos sempre tiveram imensas dificuldades não apenas para organizar o "núcleo" moderno, mas principalmente para atingir os contingentes assalariados precarizados. A partir da década de 90, com a ofensiva do capital na produção, ocorreu a ampliação da borda precarizada do mundo do trabalho, resultado da implosão do "núcleo" moderno dos assalariados. Sindicatos (e partidos) tenderam a perder seu eixo organizativo e alguns sindicatos optaram por uma política

A ofensiva do capital explicitou não apenas os limites estruturais do sindicalismo, mas também a sua pobreza politic(' neocorporativa de cariz concertativo, voltando-se apenas para seu pequeno contingente de assalariados sindicalizados, urna "base sindical" cada vez mais restrita. Alguns sindicatos tenderam a reagir às avessas, aceitando a lógica da fragmentação do proletariado, dissolvendo a perspectiva do antagonismo de classe, um dos corolários principais para realizar os interesses históricos da classe trabalhadora — o socialismo. Portanto, o que se percebe é que, diante da ofensiva do capital na produção sob a era neoliberal, explicitou-se não apenas os limites estruturais do sindicalismo corporativo, mas a pobreza política (e ideológica) do sindicalismo brasileiro. Eis apenas uma das determinações da crise do sindicalismo no Brasil. O novo (e precário) mundo do trabalho é cada vez mais vertical, heteróclito, vasto e desigual, exigindo

perderam o seu eixo organizativo

das estruturas organizativas sindicais e partidárias, corporativas, burocratizadas e verticalizadas, uma imensa capacidade de recriação. Entretanto, além da questão organizativa, e muito mais importante do que ela, temos o problema político e ideológico. Mais do que nunca, a luta pela consciência de classe é o momento essencial da luta de classes. No século XXI, sob o bojo do toyotismo, cujo principal nexo é a captura da subjetividade do trabalho pela lógica do capital, cabe â. intelectualidade orgânica da classe dos trabalhadores assalariados recuperar a perspectiva da classe, do antagonismo universal entre capital e trabalho, sob pena de sucumbirmos â. barbárie vigente da nova ordem do capital. Cabe articular o momento da resistência ao da estratégia socialista. E o que denominamos de "resistência estratégica", capaz de, por um lado, resistir â. voracidade do capital, criando obstáculos â. degradação do trabalho, e por outro lado, preservar e avançar na perspectiva anticapitaista, criando condições políticas (e, principalmente geopolíticas) para a construção de um movimento social ampliado de cariz socialista.

Giovanni Alves é professor de sociologia na UnespMarília/SP, doutor em ciências sociais pela Unicamp e autor do livro "Trabalho e mundialização do capital" (Ed. Praxis, 1999). Correio eletrônico: giovanni@marilia.unesp.br

DEBATE SINDI CAL

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