Caderno Escuta e Observação de Crianças: processos inspiradores para educadores

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“Esta é uma questão recorrente quando dentro das escolas: com tantas crianças nos grupos, como observá-las? Como colocado acima, as brechas, um diário de bordo em mãos e uma câmera são sempre ferramentas que auxiliam a registrar as mais imediatas impressões e insights. Para, mais tarde, refletir a respeito, estudar, aprofundar.”

Bibliografia consultada BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Culturas infantis: contribuições e reflexões. Revista Diálogo Educ., Curitiba, v. 14, n. 43, p. 645-667, set./dez. 2014 LIMA, Mayumi Watanabe de Souza. “A criança e a percepção do espaço”. Cadernos de Pesquisa, n. 39, Fundação Carlos Chagas. 1979 PRADO, Patrícia Dias. As crianças pequenininhas produzem cultura? Considerações sobre educação e cultura infantil em creche. Pro-posições. Vol. 10, n.1, mar., 1999.

dentro da escola, tanto dos adultos quanto das crianças. Ressalto como igualmente importante uma necessária discussão sobre o quanto nós, adultos, estamos dispostos a reconhecer a potência das expressões e linguagens infantis, pois percebo que sempre buscamos conhecer mais sobre elas, mas não nos deixamos levar pelos eventos corriqueiros que, como evidenciado nesse texto, são tão valiosos quanto nosso aprofundamento teórico. Ainda nesse pensamento, entendo que precisamos refletir sobre o quanto estamos dispostos a “abrir mão” de muitas decisões que, corriqueiramente, acreditamos que somente os adultos podem tomar.

__________________. Contrariando a idade: condição infantil e relações etária entre crianças pequenas da Educação Infantil. Tese de Doutorado. UNICAMP, 2006. SÃO PAULO. Avaliação na Educação Infantil: Aprimorando os olhares. Orientação Normativa nº 01/2013. Secretaria Municipal de Educação, Diretoria de Orientação Técnica, 2014. SÃO PAULO. Currículo Integrador da Infância Paulistana. Secretaria Municipal de Educação, Diretoria de Orientação Técnica Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, 2015.

Sinto-me, muitas vezes, no lugar de quem olha por demais os adultos e acaba estabelecendo outras prioridades, cujo destaque nem sempre são as crianças. Digo destaque, pois ainda estamos sujeitos a uma ordem que privilegia e valoriza aquele que “já sabe” e que “já aprendeu”. O processo desta pequena pesquisa certamente deixa comigo algo que nos ensinam a esquecer, que é a infância enquanto tempo em si, e não como um período da vida que deve ser constantemente orientado e direcionado. Carrego aqui dentro, e de forma crescente, certa inquietação quando sinto que as crianças não são ouvidas e consideradas dentro do que elas querem, decidem e expressam. E aqui, nesse contexto, estamos para além daquela antiquada frase “criança não pode fazer só que quer, quando bem entende”. Anseio, com certa angústia, por um momento em que reconheceremos nos pequeninos um pouco do que fomos enquanto crianças, nos aproximando com mais sensibilidade dos erros e acertos colhidos durante a vida que vivemos na escola. Costumo dizer que a melhor parte do meu dia é com as crianças e este artigo trouxe isso à tona de um modo tão leve, tão suave, que passei a suspeitar, com mais força, de que estou no lugar certo, com as melhores companhias que poderia ter. As crianças sempre falaram, faltava-nos a consciência de que podemos escutar mais. Aliás, devemos. 71


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