Caderno de resumos iv jornadas de literatura portuguesa

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A IMAGEM DO MURO: METÁFORA, MATÉRIA, PAISAGEM EM DOIS AUTORES DA GERAÇÃO DOS ANOS 40 EM PORTUGAL Joana Souto Guimarães Araujo1 Resumo Esta apresentação pretende fazer uma exposição dos principais desenvolvimentos do capítulo teórico e introdutório de nossa tese de doutorado, intitulada “A metáfora que fecha e outras figurações do muro na poesia de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner Andresen”, no qual discutimos três conceitos operatórios (metáfora, matéria e paisagem) que serão utilizados de maneira cruzada na análise, sempre com vistas para a dinâmica particular de cada obra. Nesse capítulo, introduzimos também as poéticas em questão, listando algumas das funções e significados que a imagem espacial do “muro” adquire, sobretudo quando tomada como figura da escrita. Em uma dimensão retórica, a imagem do muro pode surgir como metáfora para a “não metáfora”, como vemos acontecer sobretudo na poesia de Eugénio de Andrade: figura que ritualiza a crise da linguagem e da representação, que encena o impedimento da metaforização, ao mesmo tempo que se submete, por outro lado, a processos de esvanecimento, em estrita relação com aquilo que Jean François Lyotard (1997) chama de insurreição da matéria contra a forma, cumprindo passagens mais fluidas entre estética e política, como quis também Jorge de Sena, em sua “poética do testemunho”. Assim como o conceito de matéria, a noção de paisagem, tal como proposta por Michel Collot (2013) (embora implique uma estética organizada) torna-se útil por afastarse de uma abordagem estritamente textualista a fim de cumprir, em condição de simultaneidade, a relação entre texto, sujeito e meio, ou entre “sujeito, espaço e linguagem” para utilizar os termos do autor. Tais conceitos, ao enfocarem a atenção no mínimo e no múltiplo, permitem uma investigação que considera as diversas dimensões que interagem no texto poético e em torno da imagem do muro, aqui tomada como um possível eixo de leitura de um diálogo poético firmado nos anos 1940, dos quais os três autores escolhidos se tornam representativos. Por conta do tempo de apresentação, não teremos tempo de 1

Doutoranda em Literatura Portuguesa – FFLCH-USP.


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