Ate a ultima silaba

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nada na vida, só aquela lembrança de feito grandioso e de bravura! Ele repetia aquilo porque não podia esquecer! Se esquecesse deixava de ser ele mesmo, deixava de existir, era como se morresse! Eu o coloco na minha peça, no personagem Isidro. A certa altura o Isidro fala: O homem só morre quando esquece, não é maravilhoso isso? Tinha recuperado o prazer de escrever, prazer que parece aumentar a cada projeto que me desafia quanto ao tema e quanto à forma. O Homem Imortal foi um divisor de águas na minha carreira – embora, até o momento, ainda não tenha sido encenado. Nesse texto eu me permiti inventar. E a invenção é uma coisa própria da cultura popular – o que não se sabe, se inventa! E o que se inventa e se repete, ganha estatuto poético e provisório de verdade. Antes eu ficava preso a fatos históricos. No Rei do Riso eu criei bastante, mas foi dentro da trajetória biográfica do Vasques. Nessa peça, não. Porque o dramaturgo trabalha as possibilidades do real! Eu deixei correr solta a invenção, o que foi bastante útil pro meu trabalho

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