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Entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o- Novo - Olímpio Galvão

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Património

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OLÍMPIO GALVÃO

Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo

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“Montemor-o-Novo tem uma riqueza histórica importantíssima que merece ser descoberta pelo Mundo”

Olímpio Galvão é Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo desde Outubro de 2021. Com 50 anos, nascido e residente em Montemor-oNovo, Olímpio Galvão é formado em Economia pela Universidade de Évora, Contabilista Certificado, e tem estado sempre ligado ao Alentejo, em particular ao concelho de Montemor-o-Novo, onde foi Vereador na Câmara Municipal, antes de chegar à Presidência. Em entrevista à Memória Alentejana faz uma análise das potencialidades do concelho que dirige, destacando o privilégio da sua localização, a sua história de mais de oito séculos, a riqueza natural, cultural e patrimonial, apontando soluções para alguns dos problemas que atingem o segundo concelho mais populoso do distrito de Évora, tendo em vista a melhoria de qualidade de vida dos montemorenses e para que Montemoro-Novo seja um território de referência e de desenvolvimento nas suas diversas valências.

Memória Alentejana - Senhor

Presidente, foi eleito há cerca de um ano. Quando tomou posse que radiografia fazia do concelho de Montemor-oNovo? Quais as linhas estruturantes de actuação da sua equipa neste primeiro ano de mandato?

Olímpio Galvão - Em primeiro lugar quero agradecer o convite e a possibilidade de mostrar Montemor-o-Novo ao Mundo através da Revista Memória Alentejana. Em outubro de 2021, aquando da tomada de posse dos órgãos municipais, Montemor-o-Novo estava completamente fechado sobre si próprio, tinha perdido 20% da população nos últimos 20 anos e encontrava-se numa espiral de decréscimo económico, turístico e de qualidade de vida.

Este primeiro ano de mandato foi naturalmente para reorganização interna, para planeamento dos anos seguintes e para a tão esperada e desejada, abertura do concelho ao Mundo.

Conforme a Carta Estratégica Montemor-o-Novo 2025, o Concelho de Montemor-o-Novo integra o Corredor Central (assim, referenciado pelo PROT Alentejo), eixo atravessado pelo mais importante corredor rodoferroviário que assegura a ligação entre Lisboa e Madrid, representando um instrumento poderoso para suportar processos de integração económica e fluxos de relações comerciais entre a fachada atlântica (Lisboa, portos de Setúbal e de Sines) e a Europa, via Espanha. Pela sua situação geográfica posiciona-se quase à mesma distância de Lisboa e de Badajoz. Que vantagens podem advir desta situação geográfica estratégica para o concelho de Montemor-o-Novo e para a sua população?

Já de há muitos anos que venho a defender que um dos principais fatores diferenciadores do concelho é a sua localização geográfica, que é impressionante. Localizado no Alentejo, com a qualidade de vida que daí advém, e apenas a uma hora de Lisboa, uma hora das praias alentejanas, e uma hora de Espanha, este eixo rodoviário vende por si só. Há cada vez mais procura de terrenos por investidores, que reconhecem esta grande vantagem de Montemor-o-Novo. A pandemia, que muito de mau trouxe a todos nós, também trouxe algo positivo. O desenvolvimento de ferramentas tecnológicas de trabalho à distância, fez com que assistíssemos nos últimos tempos a um “contra-fluxo” populacional com muitos profissionais liberais a procurarem habitação no nosso concelho. Acreditamos que nos próximos anos este fluxo seja ainda maior, e para isso já estamos a trabalhar em soluções de habitação que possam receber e acolher quem queira vir a ser Montemorense.

“ESTAMOS A TRABALHAR EM SOLUÇÕES DE HABITAÇÃO QUE POSSAM RECEBER E ACOLHER QUEM QUEIRA VIR A SER MONTEMORENSE”

Montemor-o-Novo, ainda sendo a segunda cidade do distrito em população – 10.842 habitantes (Censos 2021) - mais de 2/3 dos habitantes do concelho, 15.804 habitantes (eram 15.335 habitantes em 1890) vivem na sede do concelho, sendo um dos concelhos que tem vindo a perder população progressivamente, como acontece com a grande maioria dos concelhos alentejanos. Que medidas estão previstas para contrariar esta situação, nomeadamente ao nível dos investimentos no parque industrial, assim como na agroindústria ou noutras áreas socioeconómicas? O que está previsto nos próximos anos para fomentar a atratividade do concelho e o bem-estar da população residente?

A perda de população nos últimos 20 anos foi superior à média do Alentejo, pela não abertura do concelho a investidores, a empresários e sempre privilegiando a Câmara Municipal como maior empregadora do concelho, na expetativa que a carteira de votos estivesse garantida. O desinteresse pelo investimento empresarial era tanto que a própria Zona Industrial da Adua se encontra “estrangulada”, sem lotes para venda e sem planeamento para expansão. É já deste executivo o planeamento e o projeto para a mesma se expandir e vir a receber quem queira investir no nosso concelho. A abertura do concelho em termos turísticos tem sido um investimento deste executivo no último ano, mostrando a riqueza do nosso património histórico, cultural, natural, gastronómico e valorizando a forma de receber que tanto nos diferencia. O surgimento próximo de loteamentos municipais, tanto na sede do concelho como nas freguesias rurais, irá dar hipótese de fixar os nossos jovens a preços acessíveis ou quem queira vir a morar e criar a sua família no nosso território. Ou seja, emprego e habitação como fatores determinantes para contrariar o desafio demográfico que temos pela frente.

Portugal está “em alta” no Turismo. O Megalitismo - tema da presente edição da Revista Memória Alentejana - tem as características para vir a ser um factor potenciador do turismo – num inventário (2001) foram identificados 104 monumentos megalíticos no Concelho de Montemor. O que está previsto para o município de Montemor-oNovo vir a tirar partido dessa riquíssima mais-valia patrimonial que os nossos antepassados mais distantes nos legaram?

Montemor-o-Novo tem uma riqueza histórica importantíssima e que merece ser descoberta pelo Mundo. A Gruta do Escoural com as suas pinturas rupestres, a “primeira arte”, são um exemplo disso. Irão ter um grande investimento para a sua interpretação na Vila de Santiago do Escoural. A rota do megalítico terá que ser um fator de atração de público nacional e internacional, trazendo uma maisvalia económica para os agentes turísticos locais, e para a hotelaria e restauração. É importante dinamizar as localidades à volta dos nossos monumentos megalíticos. Em São Geraldo temos a Anta do Estanque e a Anta Grande da Comenda da Igreja. No Ciborro a Anta do Paço.

Em São Cristovão o Conjunto Megalítico do Tojal. São apenas alguns exemplos do riquíssimo património megalítico que temos em quase toda a área do concelho de Montemor-o-Novo. Mas o investimento da autarquia no megalitismo só fará sentido se existir vantagens económicas para todos os que trabalham no setor do turismo.

“TODO O NOSSO PATRIMÓNIO HISTÓRICORELIGIOSO É DIGNO DE SER MOSTRADO”

Município com mais de oito séculos (1º foral vem de 1203), que outras propostas na área do turismo cultural tem Montemoro-Novo para oferecer a um público cada vez mais interessado no património, na História, na identidade?

A primeira referência de Montemor data de 1181 e o primeiro Foral foi atribuído por D. Sancho I em 1203. Nos últimos mandatos sempre foi evidenciado o nosso percurso histórico do pós 25 de Abril de 1974, quase apagando a importância histórica de Montemor-o-Novo ao longo dos últimos 8 séculos. Este executivo está a dinamizar o Centro Interpretativo de S. João de Deus, nascido em Montemor em 1496, e cuja Ordem Hospitaleira se encontra espalhada pelos quatro cantos do mundo. Todo o nosso património histórico-religioso é digno de ser mostrado e visitado por portugueses e estrangeiros. É também rico o nosso património natural, com a importância do ecossistema do montado, que pode ser visitado através da ecopista ou através do Centro Interpretativo dos Baldios, com passeios pelos sítios de Cabrela e Monfurado. Estamos também a começar a Rota do Montado, com um grande percurso pedestre que atravessa a área do concelho. As nossas adegas e a qualidade dos nossos vinhos terão que ter também um roteiro, e os 45 kms da Estrada Nacional 2 que fazem parte do concelho terão que ser ainda mais divulgadas. Os nossos restaurantes que promovem com excelência a gastronomia alentejana merecem uma vista, para serem desfrutados com tempo.

Em Montemor-o-Novo estão instalados projectos estruturantes – “Espaço do Tempo” - e acontecem festivais – música, teatro, artes performativas, etc. Mas também existe um jornal – distinguido com o prémio Gazeta pelo Clube dos Jornalistas em 2012, uma galeria de arte quase no centro da cidade – para além da municipal – um coral, o grupo de teatro, entre outros, entidades coletivas ou individuais da sociedade civil bem ancoradas na comunidade local que concor-

rem para a coesão social e para o espírito crítico cidadão. Como vê a Câmara Municipal estas entidades locais e estes agentes, qual o relacionamento e a aposta do município nestas mais-valias locais?

A dinâmica dos Montemorenses é extraordinária, no que diz respeito à sua intervenção no associativismo. Temos mais de 160 associações sem fins lucrativos, nas mais diversas áreas, na cultura, no desporto, na solidariedade social, no socorro à população, na economia, na agricultura e produção pecuária, etc. Este esforço desinteressado dos Montemorenses será sempre apoiado por este executivo e quem está no terreno sabe bem que conta com a Câmara Municipal no seu trabalho diário em prol da qualidade de vida dos cidadãos.

“A DINÂMICA DOS MONTEMORENSES É EXTRAORDINÁRIA, NO QUE DIZ RESPEITO À SUA INTERVENÇÃO NO ASSOCIATIVISMO”

Montemor-o-Novo foi palco de um festival literário “Poesia da Terra em Monte Maior”, em três edições: 2011, 2012 e 2013, onde se homenagearam escritores como José Saramago, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues e que trouxe a Montemor autores como, entre outros Manuel Alegre, Mário de Carvalho, José Luís Peixoto, Miguel Real, o próprio Urbano – ainda que online - e personalidades como Eduardo Dâmaso, Hélder Costa ou Luís Filipe Rocha. Todavia, não teve continuidade. Equaciona-se a possibilidade de ressurgir, seja por iniciativa do município ou há disponibilidade de se equacionar propostas da sociedade civil?

O Município está aberto a propostas de festivais literários e realço o encontro literário deste ano, com o tema Literatura e Cinema, que juntou em Montemor um conjunto de ilustres escritores e realizadores, como foram os casos de Mia Couto, José Eduardo Águalusa, José Miguel Gervásio, João Luís Nabo, Davide Drumond, Jorge Gonçalves e Fernando Vendrell.

O Município apostou bastante no regresso - depois da pandemia - da Feira da Luz/Expomor 2022, que se realizou recentemente. Gostaríamos de saber quais os objectivos traçados e se foram alcançados com o regresso desta Feira icónica de Montemor-oNovo e do Alentejo em termos económicos, socioculturais, desportivos e outros?

A Feira da Luz 2022 é um dos maiores eventos em todo o Alentejo. Foi o momento de reencontro após a pandemia que nos assolou desde 2020. Foi também a ocasião de nos voltarmos a abraçar, de festejar a vida e os objetivos foram largamente atingidos. Podemos com certeza dizer que foi a melhor Feira da Luz de sempre! A aposta cultural foi forte, com nomes sonantes da música portuguesa como Carolina Deslandes, os Clã, Diogo Piçarra, Luís Represas, Sara Correia e os Calema, mas também teve um espaço para tasquinhas que muito agradou a quem esteve presente. Mas acima de tudo realço a forte ligação à Apormor, que com a Expomor 2022 mostrou ser a maior mostra de gado do país, e um certame importantíssimo na defesa do Mundo Rural e das suas tradições. Houve um importante momento de abertura democrática com a participação nos discursos de abertura, do Sr. Presidente da CCDRA, Dr. Ceia da Silva, e do Sr. Presidente da Apormor, Eng. Joaquim Capoulas. Em todas as anteriores edições apenas era dada voz ao Presidente da autarquia. Nos dias do certamente entraram mais de uma centena de milhar de pessoas no Parque de Feiras, o que trouxe uma dinâmica gigantesca aos agentes económicos da restauração e hotelaria, quer estivessem na Feira quer fora da mesma.

“EM TERMOS DE MOBILIDADE A GRANDE APOSTA DESTE EXECUTIVO É RETIRAR O TRÂNSITO DE PESADOS DE MERCADORIAS DA AVENIDA GAGO COUTINHO”

Relativamente aos transportes e mobilidade em geral. Parece que o estacionamento é um dos maiores problemas do centro da cidade. Que medidas estão a ser tomadas para atenuar esse problema? O que podia ser melhorado em termos de mobilidade para quem vem de fora? O regresso da ferrovia poderá vir a ser equacionado?

Em termos de mobilidade a grande aposta deste executivo é retirar o trânsito de pesados de mercadorias da avenida Gago Coutinho, com pressão nossa para existiram negociações entre a autarquia, a Infraestruturas de Portugal e a Concessionária da Autoestrada, por forma a utilizar a Autoestrada A6 como circular da cidade, apenas para pesados de mercadorias. A avenida será depois intervencionada, por forma a ser convidativa a parar, para quem nos visita. Temos a decorrer um concurso para instalação de uma rede de bicicletas elétricas na cidade, bem como o fornecimento do serviço de minibus que sirva os bairros de Montemor e que una equipamentos comerciais, de serviços e de saúde. Para as freguesias rurais estamos a implementar um serviço de transporte a pedido, numa forma de conciliar viagens entre utilizadores, utilizando numa primeira fase os táxis, e com o apoio das Juntas de Freguesia e do Município.

Estas são as principais medidas no que diz à mobilidade urbana. Relativamente à ferrovia, e apesar de ser um transporte coletivo de excelência, creio que não será uma realidade nos próximos anos.

Em termos de ambiente, em que fase está a despoluição do rio Almansor? E qual a solução equacionada para o trânsito de veículos pesados que transitam diariamente pelo centro de Montemor, poluindo e provavelmente não sendo uma mais-valia ao concelho?

Este ano, sendo ano de planeamento, está a decorrer a execução de um projeto para a instalação de percursos pedonais ao longo do Almansor. Há muitos anos que o Município e os próprios montemorenses estão de costas viradas para o Almansor. Acreditamos que nos próximos anos, este projeto venha a ser uma âncora turística, juntamente com o estudo geológico do Rio Almansor, para trazer muitos turistas à nossa cidade. Relativamente à questão da Avenida Gago Coutinho, como disse anteriormente, o objetivo é retirar o trânsito de pesados de mercadorias. Para isso já elaboramos um estudo de contagem de tráfego e estamos na fase final de um estudo de qualidade do ar. É preciso ter suporte cientifico para negociar com as entidades envolvidas.

“UM POSSÍVEL AEROPORTO INTERNACIONAL EM BEJA IRIA BENEFICIAR O ALENTEJO TODO”

Sobre o potencial do Aeroporto de Beja, Montemor-o-Novo poderia beneficiar com a aposta deste aeroporto como complemento ao aeroporto de Lisboa? De que modo?

Um possível Aeroporto Internacional em Beja iria beneficiar o Alentejo todo. Mas recordo que a opção Alcochete até ficaria mais próximo de Montemoro-Novo.

O que pensa do trabalho desenvolvido pelo CEDA e pela Revista Memória Alentejana, nos últimos 22 anos na valorização da Memória identitária e da cidadania no Alentejo? O que poderia ser feito que não se concretizou?

Tudo o que possa ser feito para promover o Alentejo, para perpetuar as nossas tradições e cultura, é de defender com unhas e dentes. Acredito que é uma luta dura, com resultados que por vezes nos fazem perguntar se vale a pena continuar, mas como alguém uma vez disse, “só é vencido quem desiste de lutar”. Obrigado pelo vosso trabalho e dedicação.

Que mensagem para o futuro gostaria de deixar aos seus munícipes e aos alentejanos em geral?

Montemor-o-Novo e o Alentejo têm futuro! Acredito todos os dias que temos o melhor território do Mundo para viver. Acredito que é possível fixar os jovens no Alentejo com cada vez maior qualidade de vida, com respeito pelas tradições, com espírito empreendedor e inovador, mas com consciência ambiental, e que nos faça prosperar. Viva Montemor-o-Novo, Viva o Alentejo, Viva Portugal!

Entrevista conduzida por Eduardo M. Raposo com José Alex Gandum

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