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CDs / Exposições
mesma uma colecção salutar de histórias vividas, que em grande parte deixam bem dispostos os que as lerem e ao mesmo tempo, são escritas com o máximo de consideração e dignidade pelos protagonistas, os pacientes regra geral semianalfabetos e que dão origem a diálogos engraçados.
Claro está, há uma parte séria neste livro. Sem serem uma denúncia, muitas das histórias só acontecem devido a equívocos administrativos, alterações burocráticas impostas aos médicos e que lhes afligem as suas vidas, um rol de coisas que poderão ser hilariantes mas que não deixam de mostrar uma realidade diferente, a de desconsideração com que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) trata os médicos anos após ano. Por exemplo este pormenor delicioso “(…) dez horas consecutivas prescrevendo à mão; sexta-feira continuava a não se entender com a “besta” ( o PEM) (…) indo já no terceiro dia “ a lutar de punho ”(…) com esferográfica modelo BIC, à conta de Laelovac 500mg cujo uso ilegal o nosso ministro não se cansava de sublinhar, desde que proibida qualquer oferta, de qualquer brinde, a clínicos do SNS. ”
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Ou ainda a menina Graça que se queixa. “Não é preciso confirmação microbiológica, o diagnóstico não deixa dúvidas, é dos livros: extremo mal estar, ou seja sensação absoluta de estar doente, calafrios, mialgias ( aqui a doente responde à pergunta incapaz de localizar a dor e diz: Dói-me tudo senhor doutor (…)”.
Sim, um trabalho escrito por quem já tem experiência e que nos deixa testemunhos de uma profissão superiormente mal qualificada mas apaixonante na sua dimensão humana.
Receita-se a leitura para casos de stress, abatimento moral, nostalgias, etc...
António Ramos
Afonso Henriques, instalado em Coimbra vai “beber” o saber mediterrânico dos descendentes da poderosa comunidade moçárabe, a sua nova elite guerreiro oriunda da baixa-nobreza, cavaleiros-vilões que vão “resistindo” à liturgia romana imposta pelos cristãos vindos do Norte, no contexto da reforma do Papa Gregório VII fazendo deles o seu núcleo duro,
Eduardo Ramos, tantas décadas a oferecer-nos a música e o contexto cultural do período referido no nosso território e na península, a que se tem dedicado como mais nenhum músico/compositor português traz-me, neste disco, em edição de autor, com uma apresentação singela, mas onde não faltam imagens que nos indiciam o mundo sefardita, como uma referência à cabala a par com uma boa foto de Eduardo, da autoria de André Bôto. Mas este disco vale essencialmente pelo rico espólio poético/musical, estas cantigas judias de uma comunidade que, quando a isso impelida, soube espalhar-se pelo mundo e ao contrário tanto dos muçulmanos como dos moçárabes peninsulares, manteve quase intactos os traços genéticos identitários.
Eduardo assume como é costume, a voz, o alaúde árabe, mas também a guitarra, gambry e flauta de bambu acompanhado por habituais companheiros de palco Tiago Rêgo, Baltazar Molina, Tiago Jónatas na darbuka e no bendir e Joaquim Galvão e Carlos Mendonça na flauta transversal, neste interessante disco com composição gráfica de Fernando Lobo.
Parabéns, mais uma vez ao Amigo Eduardo Ramos, presença frequente nas páginas desta Revista, um abraço fraterno por nos devolveres em cada trabalho a nossa identidade milenária ibérica.
Cantigas Judias Sefarditas
Eduardo Ramos
Edição de autor, Silves, 2021
Eduardo Ramos apresenta-nos neste seu trabalho 13 temas – um é de sua autoria, um belo instrumental – fruto da alguma pesquisa, mas grosso modo temas do seu conhecimento “passados de boca em boca”, temas para alaúde e alguns para guitarra, como nos refere, com origem nos séculos XIII e XIV, cantados em hebraico peninsular ou língua ladina.
Remete-nos para uma continuidade histórica, para um período de tolerância em que as “três religiões do livro” coexistiram pacificamente na Península Ibérica como não mais viria a acontecer, até aos nossos dias - onde existe ainda algum estigma deixado pelos séculos “negros” da Inquisição.
A comunidade judaica no actual território nacional, desse período conhecido como muçulmano, de apogeu civilizacional, que soube fazer convergir as três comunidades, período praticamente contemporâneo de Afonso VI – avô do nosso Afonso Henriques - que dizendo-se imperador inicia a derrocada dos reinos muçulmanos, então organizados em taifas, depois do desmembramento do califado. Continuidade que seu neto, dito o ruivo, duas gerações depois, soube perceber, contexto cultural que se estende até ao reinado de D. João II.
Ribeiro

Paulo Ribeiro
Açor, Lisboa, 2021
Neste seu disco Paulo Ribeiro, com a sua voz melodiosa, oferta-nos uma diversidade temática onde realçam quatro temas populares que ele adapta de músicas tradicionais, mas também letras de autor, dele próprio, caso da “Moda do Luisinho ” , dedicada ao seu menino quando este completou três meses, mas também de Almutâmide, refiro-me a “Afã” , de Manuel Alegre, o belo “Nocturno de Beja ” , de Alberto Caeiro “Ah, só eu sei” , dedicado a Janita Salomé, também um – único – tema em inglês “Alentejo seen from the train ” , de Fernando Pessoa, ou de João Monge, ”tenho saudades, mais nada” ou finalmente “Minha mãe, estou d'abalada ” , de Romão Janeiro. Todas estas músicas são da autoria de Paulo Ribeiro, que reafirma aqui a sua vertente de compositor, e para além de interpretar faz coros em quatro temas e voz e harmónica noutro, enquanto Jorge Moniz assume a produção musical, ao mesmo tempo que participa directamente em 10 temas, seja na bateria, bateria e coros, percussões, programação, bateria e percussão, programação e teclados ou no piano.
“Ribeiro é um curso d'água alimentado por diversos braços. E Ribeiro sou eu também, influenciado por diferentes sonoridades. Obrigado a todos que em mim flutuam. Obrigado aos músicos, à minha família e aos convidados Rão Kyao e Emídio Coutinho ” , escreve Paulo Ribeiro, no interior do disco. Os músicos são, Luís Barrigas, no teclado, João Custódio no contrabaixo, João Vitorino na guitarra e coros.
Este último disco de Paulo Ribeiro, com um grafismo cuidado, subtil da Ana Carla Faísco, que vai ao pormenor de apresentar no livreto um excerto da ilustração, na perpendicular, de Susa Monteiro para o tema “Nocturno de Beja”, ou o Paulo como que a tentar agarrar - o mundo, dizemos nós, ou um sapato – talvez do caminho, no próprio disco, que ao girar, caminha – ou ainda de entre as fotos da gravação, uma com o Luisinho ao colo, ou outra petiscando, parece.
Com gravação a cargo de João Portela, Saafran Studio, com mistura de João Martins Sela, estúdio Ponto Zurca, masterização de Rui Dias, estúdio Mister Master e com gravações adicionais nos Estúdios Musiberia e Ponto Zurca, este disco homónimo de Paulo Ribeiro consubstancia-se mais um degrau de percurso, um caminho que o autor, músico, interprete e compositor tem feito caminho, com registos tão diversos, do rock ao Cante, da tradição à modernidade, mas sempre com a alma do Alentejo, com as raízes identitárias presentes, onde temos vindo a acompanhar a sua carreira vai para 20 anos.
Parabéns, Amigo, por mais este bonito contributo para a música portuguesa!
Eduardo M. Raposo
CHAM, FCSH-NOVA
António Couvinha expõe no Palácio D. Manuel

Trata-se de vasto conjunto de trabalhos de desenho e pintura de António Couvinha, conceituado artista plástico eborense, que expõe no Centro Interpretativo da Cidade de Évora, Palácio de D. Manuel.
Organizada em dez núcleos “temáticos, permite fazem uma retrospetiva dos 50 anos de criação do pintor (1972 - 2022), a exposição, Inaugurada em Outubro, vai estar patente ao público até 21 de fevereiro de 2023.
No catálogo o autor refere a satisfação de voltar ao local - agora renovado – onde, em 1985, apresentou a sua primeira exposição individual. “Aqui ficam estes desenhos e estas pinturas, como peças de um puzzle desfeito, apelando à vossa imaginação. Tudo feito em silêncio. O silêncio foi quase sempre o cenário acústico dos meus trabalhos”.
Na abertura da exposição, Carlos Pinto de Sá, Presidente da Câmara Municipal de Évora, entidade que organiza o evento, destacou a “grande satisfação” com que a autarquia e a cidade recebem esta mostra de um “notável artista de quem Évora é devedora por décadas de arte”. Manuel Branco e Francisco Bilou, ambos historiadores de arte, teceram também palavras elogiosas para com o autor.
Horário: segunda-feira a sábado, entre as 9h30 e as 12h30 e as 14h00 e as 18h00.