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30. Não parece fora de lugar fecharmos estas páginas com uma aproximação do que, no cantinho ocidental-meridional da Europa, nos é mais próximo. Tem sentido glosar meia dúzia de exemplos que ilustram como os governantes espanhois de hoje —outro tanto cumpre dizer dos seus antecessores— decidiram enfrentar um punhado de questões decisivas: uma fome global que é já uma realidade, a miséria vinculada com o automóvel, o consumo doméstico de energia, a vivenda e as suas desventuras, e, enfim, umas comunicações ferroviárias que —como veremos— nos dizem muitas cousas. Uma das várias vítimas da crise é a fome global que se anuncia desde tempo atrás e que parece já uma realidade. A estratégia argumental do governo espanhol é ao respeito significativa, na sua sugestão de que todas as explicações da natureza dessa fome remetem para fatores que escapam ao nosso controle. Sublinha-se, por exemplo, que cresceu a demanda de alimentos na China e na Índia, que se incrementaram os preços do petróleo e os custos de transporte, encarecendo-se também o preço desses alimentos, ou que a irrupção fulgurante dos agrocarburantes alterou muitos dos equilíbrios naturais nos países pobres. Ainda que o mencionado é decerto importante, há um elemento fundamental que, não obstante, raramente se invoca: os interesses especulativos, a usura, das grandes empresas transnacionais da alimentação, que depois de trabalharem durante decênios para dar cabo das agriculturas de subsistência no Terceiro Mundo, hoje, e através da monocultura, se permitem especular obscenamente com os preços. Qual tem sido a resposta do governo espanhol ante semelhante operação? Em substância, tem consistido em acrescentar de maneira notável o volume de dinheiro que se

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