Revista 1º D'Agosto Semi-Final

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EDIÇÃO ESPECIAL t ANO 2012 / Agosto

Clube Desportivo 1º de Agosto

comemora aniversário Como nasceu o nosso 1.º de Agosto

A génese de um “gigante” do desporto nacional



CLUB DESPORTIVO 1Âş DE AGOSTO

&%*Ž­0 / � t ANO 2012 / Agosto t Trimestral

SumĂĄrio Ă­ndice Geral

OS PRESIDENTES

Pedro de Castro Van-DĂşnem “Loyâ€? Presidente da Direção

Pedro Neto Presidente da Direção

Alves Simþes Presidente da Direção

Raul Hendrick Presidente da Direção

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Mårio Jorge Mello Xavier Presidente da Direção

Carlos Hendrick Presidente da Direção

os primĂłrdios da fundação do nosso clube nĂŁo havia propriamente um presidente. As principais funçþes directivas eram exercidas pelo comandante Ndalu, enquanto mentor de todo o projecto, no que era secundado pelos comandantes Xietu, Kito, Petroff e Che-Guevara, entre outros, sob superior orientação do comandante Iko Carreira. Eis a lista de presidentes: Pedro de Castro Van-DĂşnem “Loyâ€?, Justino Fernandes, Alves SimĂľes, MĂĄrio Jorge Mello Xavier, Pedro Neto, Raul Hendrick e Carlos Hendrick.

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MENSĂƒO HONROSA

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HISTORIAL

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FUTEBOL

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BASKETEBOL

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ANDEBOL

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MODALIDADES

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GRANDE ENTREVISTA

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SANTOS DA CASA

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ESTRELAS DE HOJE

PĂĄgina N.Âş58

FOTO REPORTAGEM

PĂĄgina N.Âş60

PATROCINADORES

Justino Fernandes Presidente da Direção

EDITORIAL

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Ficha TÊcnica Edição Especial da Revista do dagosto Director General Carlos Hendrick da Silva Director Executivo Elísio Campos Sub-Director Meike Neves Editores Silva Candembo e Honorato Silva

Redacção Silva Candembo, Honorato Silva, Teixeira Cândido, António de Brito e António Cristóvão. Reporteres / Assistente de Redação Waldemar Santos, Kianda Primo, Anilda Ferreira, Mariana Rodrigues Fotos de Arquivo 1.º de Agosto, Nicola Berradinelli, Edgar Martins, Silva Candembo e Jornal de Angola. Fotos de Actualidade João Manuel e JosÊ Cola

Projecto Gråfico Editora Visão Corporate Impressão Damer SA Exemplares 5.000 Endereço Rua Francisco Gouveia "Rio Seco" - Maianga Telefones: Direcção Geral - (telefax) 222 356 231 Departamento de Sócio - 222 356 725 www.primeiroagosto.com clubeprimeirodeagosto@gmail.com Luanda Angola 3


CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

E D I T O R I A L 4

Carlos Hendrick (General) Presidente da Direção

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O maior de Angola à conquista de África

este ano civil de 2012, o nosso clube está a comemorar o 35.º aniversário da sua fundação. O momento é especial não apenas por se tratar de uma data redonda mas também por representar para nós um momento sério de reflexão sobre a nossa trajectória nestas três décadas e meia de vida desportiva activa. Reflexão porque o estado desta imensa “Nação Rubro-Negra” que é o 1.º de Agosto assim o exige, visto na tomada de posse realizada no longínquo mês de Agosto de 1977, na Quinta Rosa Linda, em Luanda, o então ministro da Defesa, Comandante Iko Carreira, nos deixou um recomendação muito clara: fazer do 1.º de Agosto o maior clube de Angola e o melhor de África. Certamente que pelo volume global de títulos acumulados em três décadas e meia nas mais distintas modalidades desportivas que movimentámos e continuamos movimentando, o 1.º de Agosto é indubitavelmente a maior agremiação de Angola. É o clube que em qualquer recanto do país joga como se estivesse em sua própria casa porque os nossos milhões de segidores estão espalhados um pouco por toda esta Angola imensa. De Cabinda ao Cunene, do Oceano ao Leste, as cores vermelha e preta encontram o acolhimento da nossa imensurável massa de sócios, adeptos e meros simpatizantes. Porém, ainda não atingimos o desiderato de ser o melhor de África. Dada a própria génese e as características específicas do nosso clube, este é o que mais foi sacrificado com a guerra em Angola.

Por isso, importantes recursos financeiros que poderiam ser canalizados para a actividade desportiva foram-no para o esforço de guerra que o país fez durante décadas a fio. Contudo, na arena africana já marcamos pontos significativos. Se no futebol já estivemos muito próximos da suprema glória – só por conta dos intrincados e escusos labirintos da arbitragem africana perdemos a final da Taça das Taças de 1998 diante do Espérance de Túnis –, pelo menos em duas modalidades alcançamos o ansiada esplendor continental. No andebol masculino chegámos ao mais alto degrau do pódio continental na Taça dos Clubes Campeões em masculinos no ano de 2008, uma modalidade que em África apresenta níveis competitivos é bastante competitiva. No basquetebol, somos os maiores vencedores da Taça dos Campeões em masculinos e em femininos também já o fomos. Portanto, dadas as dificuldades de toda a ordem com que o país se debateu nos longevos anos de guerra, não deixam de ser feitos assinaláveis as nossas conquistas africanas. A par de tudo isso, vimos construindo um património invejável, traduzido seguramente no mais rico parque desportivo do país e dos melhores de África em termos de clubes. Isto, claro, em função das nossas limitações orçamentais e, repito, à luz do esforço de guerra feito pelo país durante longas décadas. Além das infraestruturas consubstanciadas na sede, onde se integra o nosso pavilhão principal, o qual beneficiou de obras de restauro, a piscina e


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outros serviços, temos ainda vários campos de treino para o futebol e distintas quadras polidesportivas que servem as chamadas modalidades de salão. Neste capítulo, digo, sem medo de errar que muito foi feito e muito mais será feito, tantos são os projectos em carteira e em execução. Nos terrenos da sede será erguida mais uma moderna quadra para o basquetebol; as instalações do Miramar beneficiam de obras que a tornarão numa fonte de receitas para o clube além de um centro de treinamento de alto rendimento e, não tarda, para lá dos campos de que dispomos, o nosso estádio será uma realidade. Nas instalações do ex-RI 20 estão igualmente a ser erguidas infraestruturas de primeiríssima água, tal como nas instalações contíguas, no antigo quartel das Comunicações. Tudo isso está a ser acompanhado por um gigantesco esforço na área da formação em todas as modalidades. Na verdade, as distintas infraestruturas que vimos erguendo ao longo dos últimos anos visam essencialmente a formação, uma das principais apostas do nosso clube. Entendemos que, para nos tornarmos efectivamente “grandes” ao nível de África precisamos investir muito na formação. E é isso que estamos a fazer, razão porque, mesmo não sendo prioridade a conquista de títulos nesses escalões, os troféus têm chegado à nossa galeria com inaudita frequência. Várias actividades marcam as presentes celebrações. Entre outras, uma exposição fotográfica, a produção de um DVD sobre a história do clube e o lançamento desta revista em edição histórica, constituem seguramente o ponto alto das comemorações. Afinal, qualquer desses actos visam o resgate da história do nosso clube, cuja fundação aconteceu em circunstâncias muito especiais da história recente do nosso país. Em termos históricos, 35 anos é pouco tempo. Mas, na prática e no caso vertente da história do clube e de Angola é tempo consideravelmente longo. Por esta razão e para que a actual e as futuras gerações conheçam a nossa rica história produzimos este pequeno legado. Num país como o nosso, em que os Arquivos praticamente não existem – sobretudo os audiovisuais – e mesmo nas bibliotecas públicas que consultamos nada há sobre grande parte do ano da fundação do nosso clube, publicar esta revista configura uma verdadeira aventura, porém, deliciosa.

Muitos dos protagonistas da fundação do nosso clube já não se encontram entre nós para dar o seu testemunho. Alguns não dispõe já de saúde bastante para, com alguma coerência, darem o seu contributo. Outrossim, também apareceram os oportunistas de plantão que pretendiam vender “banha de cobra”. Em face de todas essas contingências, e porque de um modo geral em três décadas e meia nenhuma memória colectiva resiste incólume aos factores erosivos do tempo, foi extremamente difícil chegar a este resultado que o caro adepto tem em mão. A história, dizem os entendidos, não é uma ciência definitiva. Ela pode ser enriquecida a todo o momento. Obviamente que, em razão dos imperativos temporais que atravessaram o nosso caminho na produção desta revista, haverá eventualmente elementos que por omissão ou por qualquer informação incorrecta recebida pela nossa equipa de pesquisadores e jornalistas contratados para o efeito estejam distantes da verdade. Mas, é importante entender que este não é um produto definitivo e a história do nosso querido 1.º de Agosto está ainda em construção, tal como o estádio principal e outras infraestruturas que realçam a grandeza do nosso clube e o alcandoram ao status de maior de Angola. Desse modo, entendemos criar um grupo de trabalho que, com tempo e a ciência que demanda empresas desta natureza, vão escrever a história completa do 1.º de Agosto. Historiadores, pesquisadores e jornalista fazem parte dessa equipa que tudo tem para vencer, tal é a riqueza histórica do nosso clube. Portanto, à medida que vamos avançando no capítulo de infraestruturas e melhorando cada vez mais em termos competitivos, também trataremos de resgatar em definitivo a bem nutrida história do nosso clube, honrando assim os fundadores, os atletas e funcionários que deram o seu melhor ao longo dessas três décadas e meia, bem como os adeptos (militares e civis) que com o seu calor e encorajamento tornaram o 1.º de Agosto na grande “Nação Rubro-Negra” que é hoje. Boa Leitura Carlos Hendrik da Silva Presidente de Direcção

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M E N S S Ã O H O N R R O S A 6

PEDIDO A UM MONUMENTO DO DESPORTO ANGOLANO

Comandante em Chefe ordene!

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Um dos pilares estruturantes de uma sociedade democrática de direito, desiderato que o nosso país persegue, é a liberdade de expressão. Esta permite que todas as pessoas, independentemente das cores políticas, credos religiosos ou orientação sexual, tenham direito à opinião sobre todas as matérias atinentes a vida social, desde o desempenho do governo e do Chefe de Estado até as actividades partidárias ou mesmo desportivas. Por esta razão, é natural quealguém critique o desempenho do Presidente da República e Comandante em Chefe em determinado sector, o que reflecte a diversidade política do Estado Angolano. Se há, entretanto, sector da vida social em que o desempenho do Presidente da República é seguramente imaculado, este é o do Desporto. Desde sempre, José Eduardo dos Santos prestou especial

atenção a esta actividade por entender que é não apenas um importante factor de inclusão social mas também de Unidade Nacional. E isto, antes mesmo de assumir em circunstâncias particularmente difíceis as funções de Chefe de Estado e Comandante em Chefe das Formas Armadas. Com o passado enquanto praticante de futebol e a paixão pelo desporto que se reconhece, o Presidente José Eduardo dos Santos é um desportista da primeira hora. É verdade que na década de 1950, para se juntar à Luta de Libertação,ainda muito jovem, teve de interromper a sua carreira de jogador na equipa de futebol dos juniores do Futebol Clube de Luanda, onde actuava na posição demédio interior direito, ao que equivalerá ao médio-ala do futebol moderno. Mas, quando regressou do exílio imposto pelo Colonialismo a sua paixão pelo desporto jamais esmoreceu.


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É assim que, quando nas vestes de 1.º vice-primeiro ministro foi dos principais incentivador da revitalização do desporto nacional que tinha conhecido a fuga de vários quadros técnicos e atletas em razão da II Guerra de Libertação Nacional. Nas sua condição de governantes, após os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 exarou o despacho 12/77 que criava a comissão que iria criar o Conselho Superior de Educação Física e Desportos, antecessora do Ministério da Juventude e Desportos. Então, não se esquecer de incluir um representante do desporto militar nessa estrutura, sinal de especial atenção. O mesmo acontecia nas suas várias intervenções públicas sobre o assunto, destacando-se aqui a entrevista dada sobre o assunto aos órgão de informação em Agosto de 1977. “(...) Foi com muita satisfação que o nosso povo acolheu não só os resultados mas também os esforços desenvolvidos pelos camaradas da Selecção Nacional e da Selecção Militar que souberam com dignidade não só defender no desporto as cores da nação mas também souberam na política demonstrar o espírito de solidariedade, o espírito de amizade que nos liga a Cuba que nos liga à República Popular do Congo”, disse em alusão às jornadas AngolaCuba e aos jogo de estreia internacional do 1.º de Agosto. A sua devoção pelo desporto pode ser aferida pelas suas presenças constantes em eventos desportivos, algo que desde os primórdios da independência nunca esfriou. Do mesmo modo que hoje acompanha as selecções nacionais, antes já o fazia para assistir à Selecção Militar, o 1.º de Agosto, o CPPA ou mesmo a corrida de São Silvestre. Por

outro lado, no princípio da década de 1980 participava em muitos jogos (futebol de salão e basquetebol) de exibição emdatas comemorativas, além que em várias ocasiões interveio pessoalmente para resolver problemas financeiros de delegações desportivas angolanas em risco de não representar o país em competições africanas. Sempre desempenhou também papel fundamental para que o nosso país acolhesse eventos de grande magnitude, sendo um exemplo cabal disso os II Jogos da África Central, em Agosto de 1981, numa altura em que o país sofria no Cunene uma agressão militar de grande envergadura encetada pelo exército regular da África do Sul do Aparthaid. Em face da situação político-militar e dos receios manifestados por muitos países, o certame poderia até ser cancelado. Mas o Comandante em Chefe avançou e osJogos transformaram-se numa vitória não só de Angola mas de toda a África. Os vários “Afrobaskets” que Angola organizou (três em masculinos e um em femininos), o de andebol em femininos e masculinos (um) mereceram igualmente o seu contributo, assim como o CAN’2010 em futebol. Nota importante a assinalar é que tudo isso rendeu para o país infraestruturas desportivas que hoje servem e futuramente servirão os nossos atletas. Pelo seu inestimável e valiosíssimo contributo para o desporto nacional – seguramente se não fosse a sua intervenção pessoal não teríamos um desporto tão pujante –, enquanto militares só nos resta desejar que continue na mesma senda e dizer: Comandante em Chefe ordene! Tudo a bem do desporto nacional de quesomos incontornável baluarte.

V. Excia Sr. Chefe de Estado Maior General das FAA General Geraldo Sachipengo Nunda Presidente da Mesa da Assembleia Geral do 1º De Agosto Continuaremos a privilegiar o nosso apoio ao 1º De Agosto Clube Central das Forças Armadas para garantir o seu estatuto de maior Clube desportivo de Angola e representar o orgulho das Forças Armadas e dos adeptos. 7


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COMO NASCEU O NOSSO 1.º DE AGOSTO

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A génese de um “gigante” do desporto nacional

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clima político reinante no período imediatamente posterior à Independência Nacional e um pouco da tradição desportiva herdada da época colonial propiciaram circunstâncias muito especiais para a fundação do Clube Desportivo 1.º de Agosto, baluarte incontornável do desporto angolano. Sem competições regulares em razão da instabilidade política que se vivia então – a II Guerra de Libertação Nacional mal tinha

terminado os acontecimentos do 27 de Maio fizeram nossa e todas as atenções da novel nação estavam voltadas para a reconstrução e a reorganização do país –, eram os torneios comemorativos que preenchiam os hiatos competitivos existentes na vida desportiva nacional dessa época. Vezes sem conta, torneios de distintas modalidades eram organizados sempre que se celebrasse alguma data importante (ou nem tanto...) do calendário


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nacional e internacional. Às vezes, bastava a evocação do “Internacionalismo Proletário” ou a “solidariedade com os povos oprimidos do mundo” para se realizar uma manifestação desportiva. Dado o momento que se vivia e o carácter político de que se revestiam as praxes desportivas desse período, era comum participarem nos eventos formações como a JMPLA de Luanda ou de Militantes do MPLA no Huambo, ou ainda de selecções militares regionais ou mesmo nacionais. No fundo, o tipo de formações que competiam enquanto não havia provas nacionais ou provinciais regulares e oficiais obedeciam à ordem política emanada da então recente proclamação da Independência Nacional. Ao invés, por exemplo, da selecção da Mocidade Portuguesa ou da Selecção Militar da província portuguesa de Angola, como acontecia no período da colonização, eram os combinados da JMPLA ou das equipas dos distintos ramos das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que entravam em campo. Como lhe cabia, as novas autoridades pretendiam romper com o passado elitista do desporto colonial – principalmente nas modalidades de quadra – tornando o desporto uma actividade mais inclusiva, sendo as Forças Armadas um importante veículo dessa inclusão. Em face disso, naturalmente, a génese do Clube Desportivo 1.º de Agosto radicou nas circunstâncias políticas dos primórdios da Independência. Foi, pois, no dia 1.º de Maio de 1977 que se deu o primeiro passo para a fundação do Clube Central das Forças Armadas. Para celebrar o Dia Internacional do Trabalhador, a Direcção das FAPLA entendeu realizar uma jornada político-desportiva no Estádio Municipal, no bairro dos Coqueiros, em que participaram uma selecção militar composta pelas mais significativas agremiações desportivas castrenses nacionais. Na festa também participou uma formação da Missão Militar Cubana em Angola, cujos efectivos haviam aportado ao país para ajudar as FAPLA a travar, às vésperas da Independência Nacional, uma investida de grande envergadura a Norte e a Sul, do ELNA e mercenários de várias nacionalidades, entre zairenses, sul-africanos e ingleses. Essa jornada político-desportiva foi conformada pelas modalidades de futebol e atletismo, curiosamente as menos elitizadas do desporto colonial e nas quais o acesso dos negros era relativamente mais favorecido. A Selecção Militar que tomou parte da prova com os cubanos era

composta por jogadores e atletas do Grupo Desportivo do Corpo de Polícia Popular de Angola (CPPA), da ODP, da ENCOMAT (sucedânea do colonial ASMA e antecessora da BCR, hoje OGR), da Marinha de Guerra e dos Dragões da 9.ª Brigada de Infantaria Motorizada. Este evento foi por orientação do comandante Ndalu – um fervoroso adepto e praticante de desporto, com passagens por Portugal e Cuba. A manifestação desportiva de 1 de Maio de 1977 começou com provas de atletismo dos 1500 e dos 5000 metros, ao que se seguiu a partida de futebolentre a já referida selecção militar de Angola e a equipa da Missão Militar Cubana, vencida pelos angolanos por 3-2. No intervalo o atletismo voltou à pista de cinza do Estádio Municipal com corridas de 100 e 200 metros, fechando a jornada com as estafetas 4X100 e 4X400 metros, após o termo do desafio defutebol.

DE PÉ: Mateus César, Nicola, Júnior, Mendes, Mascarenhas e Napoleão SENTADOS: Barros, Zeca, Sabino, Luvambo e Chimalanga 9


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O entusiasmo suscitado pelo retumbante êxito dessa actividade levou a que as altas patentes da FAPLA, com os comandantes Iko Carreira, Xietu, Ndalu, Kito, Orlog e Ndozi à cabeça, se decidissem pela constituição de uma verdadeira Selecção Militar de Angola. E o regozijo aumentou significativamente quando o despacho 12/77, exarado pelo 1.º vice-primeiro ministro da República Popular de Angola, José Eduardo dos Santos, a 19 de Julho de 1977, incluía um representante do desporto militar na Comissão de Estruturação e Dinamização para o Conselho Superior de Educação Física e Desporto, criado poucos meses depois. Faziam igualmente parte desse grupo de trabalho Hermenegildo de Sousa, Guilherme do Espírito Santo, António Couto Cabral Júnior e um delegado do Desporto Escolar. Após a jornada de 1 de Maio de 1977, os futebolistas, maioritariamente dos Dragões da 9.ª Brigada e do CPPA, que se exibiram naquele dia foram notificados pelo comandante Xietu a fim de que estivessem disponíveis para a Selecção Militar, sendo que diariamente tinham de apresentar-se no Estado Maior Geral das FAPLA, onde havia um gabinete no piso térreo em que estava a ser gizada a criação do Clube Desportivo 1.º de Agosto e do Comité Desportivo Nacional Militar. No atletismo, os primeiros escolhidos fora José Saraiva (ENCOMAT) e Octávio Conceição (Marinha de Guerra). Na sequência, uma delegação chefiada pelo comandante Ndalu e que integrava os oficiais superiores Nito Teixeira e "Mona" deslocou-se à Pyongyang, capital da República Popular e Democrática da Coreia, a fim de participar na 21.ª Sessão do Comité Desportivo dos Exércitos Amigos (SKDA). Durante o conclave realizado entre 4 e 6 de Julho de 1977, Angola foi admitida como membro de pleno direito, tornando-se no primeiro país africano a integrar o comité, ao mesmo tempo que a Somália. Chegado da Coreia do Norte e após a competente filiação de Angola no SKDA, o chefe da delegação transmitiu ao ministro da Defesa, comandante Iko Carreira as orientações saídas do evento em que haviam participado. A principal, e como era prática nos países socialistas, era a constituição de um Comité Desportivo Nacional Militar e um de Clube Central das Forças Armadas, sem prejuízo para outras agremiações desportivas militares, paramilitares ou mesmo Selecções Militares. 10


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Foi, pois, isso que impulsionou o nascimento do 1.º de Agosto e a realização de um conjunto de actividades desportivas que resultariam precisamente nos desideratos perseguidos. Foi também na esteira das recomendações da reunião do SKDA e do incentivo decorrente do decreto 12/77 do 1.º vice-primeiro ministro que se intensificaram as actividades desportivas militares. Desse modo, com vista a celebrar o 3.º aniversário das FAPLA, um grupo de 22 futebolistas escolhidos entre 48 elementos (saídos da jornada de 1 de Maio) iniciou a trabalhar no dia 16 deJulho de 1977, tendo-se concentrado na Casa do Desportista. Formada maioritariamente por militares no activo, a lista integrava também indivíduos que não haviam ainda sido chamados mas que estavam recenseadas nas FAPLA. Embora a Comunicação Social nomeasse esse grupo por Selecção Militar, em razão de não dispor de informação bastante sobre o assunto, este era o núcleo-base que dias depois daria corpo ao Clube Desportivo 1.º de Agosto, em obediência ao propósito da direcção das FAPLA dar

ao desporto militar uma dimensão à medida da grandeza das Forças Armadas, potenciado também pelo momento revolucionário que se vivia. As instituições civis ajudavam no esforço de acção do movimento desportivo militar, de modo que a Comissão Dinamizadora do Futebol, em parceria com as FAPLA, esteve envolvida na organização do jogo internacional de futebol que constituiria marco da afirmação decisiva do desporto castrense e lançaria definitivamente o ClubeDesportivo 1.º de Agosto. O desafio foi marcado inicialmente para o dia 31 de Julho e, posteriormente, para o dia 1 de Agosto, opondo a Selecção Militar da Nigéria ao grupo concentrado na Casa do Desportista ao qual as massas media designavam ainda equivocadamente por Selecção Militar de Angola. Por razões de agenda o adversário escolhido não compareceu mas, no dia 1.º de Agosto, no pavilhão do Rio Seco houve um encontro liderado pelo comandante Ndalu no qual se anunciava a criação do Clube Central das ForçasArmadas. Uma reunião anterior que servira para se encontrar o nome da agremiação que acabava de nascer não tinha sido 11


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conclusiva, embora propostas não faltassem, ressaltando entre aquelas “Canhões FC” e “Implacáveis FC”, a primeira avançada pelo jovem José Saraiva, do atletismo. Mas no rende-vous realizado no Rio Seco o comandante Ndalu fazia saber aos presentes que o clube chamar-se-ia 1.º de Agosto, um tributo às FAPLA, fundadas três anos antes nas chanas do leste de Angola, mais precisamente em Karipande. Então, Eduardo Macedo dos Santos que, enquanto na guerrilha havia exercido a função de seleccionador do Congo Brazzaville e treinara também uma equipa de maquizards angolanos na Zâmbia, foi indicado para treinar a chamada Selecção Militar de Angola, ao passo que Rui Mingas era o preparador físico. Como os treinos realizavam-se no Estádio Muncipal dos Coqueiros, Rui Mingas não só preparava os jogadores de futebol, mas também os elementos do atletismo, modalidade em que detinha larga experiência, tendo sido recordista de Portugal do salto em altura durante vários anos. Entretanto, além dos dois primeiros escolhidos para a modalidade de atletismo, outros nomes

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foram incluídos, destacando-se entre os mesmo António Andrade e Bernardo Manuel. Para não perder a dinâmica competitica e organizativa já alcançada, a direcção do recém criado CODENM entendeu realizar mesmo a partida cuja concretização falhara no dia 1 de Agosto. Por isso, uma semana depois, mais concretamente a 7 de Agosto de 1977, os angolanos entraram em campo, desta feita para defrontar o InterClube de Brazzaville, equipa representativa do clube central das Forças Armadas da República Popular do Congo. Na CidadelaDesportiva, vestida de camisolas listadas verticalmente de vermelhas e pretas e calções pretos, a formação dirigida por Eduardo dos Santos perdeu por 0-1. É verdade que o jogo diante da Nigéria falhara na data inicialmente marcada mas os dirigentes das FAPLA não desistiram e insistiram encetando contactos com as Forças Armadas daquele país para a efectivação do desafio. Embora de um modo geral a euforia fosse grande e o desempenho diante do InterClube de Brazzaville fosse considerado bom por muitos – afinal a equipa congolesa trouxe pelo


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menos três renomados “internacionais”, designadamente Belekita, Dikomoneke e Ndjouta –, Eduardo dos Santos Macedo não gostou nada da prestação (principalmente da defesa) e pediu aos chefes militares que reforçassem a equipa, pois estava em vista o esperado jogo com a Selecção Militar da Nigéria. Remanejadas as datadas e refeito o programa de comemorações do 3.º aniversário das FAPLA, o desafio com a Selecção Militar da Nigéria foi remarcado para 21 de Agosto de 1977, tendo os visitantes chegado ao país praticamente uma semana antes. E a partida acabou por acontecer efectivamente no estádio da Cidadela, em Luanda, depois de os nigerianos terem feito três dias antes um“particular” na Catumbela, em que empataram a um golo com o Nacional de Benguela. Sem algumas unidades que evoluíram no primeiro encontro – os lesionados Júnior e Nicola cederam os seus lugares a Manico e Horácio Cangato, enquanto por opção técnica Mendes era substituído por Garcia –, a equipa comandada por Eduardo dos Santos Macedo empatou a dois golos com o seu valoroso oponente em cuja formação pontificavam também alguns “internacionais”. A exibição a todos agradou, o entusiasmo aumentou significativamente e o 1.º de Agosto encontrava finalmente o caminho do sucesso. Antes, porém, dosdois desafios internacionais os comandados de Eduardo dos Santos Macedo, equipados de verde oliva, testaram com a Selecção de Luanda, tendo empatado a três golos, naquela que foi a sua última apresentação nas vestes de Selecção Militar, algo que aconteceu a 21 de Julho de 1977. Meses depois, para a celebração do 2.ºaniversário da Independência Nacional, o 1.º de Agosto voltou a defrontar a Selecção de Luanda a 13 de Novembro de 1977, um domingo. O resultado foi novo empate, desta feita a dois golos. Momentos-chave da fundação do clube 5 de Julho de 1977 Durante a 21.ª Sessão ordinária do Comité Desportivo dos Exércitos Amigos (SKDA), em Pyongyang (Coreia do Norte), Angola foi admitida como membro dessaorganização intercontinental que congregava no seu seio as entidades reguladoras do desporto militar nos países socialistas e “progresssistas”. A delegação angolana foi composta pelo

comandante Ndalu e os oficiais superiores Nito Teixeira e "Mona". Após o seu regresso e em obediência às directrizes recebidas na capital norte-coreana puseram em marcha a criação do Comité Desportivo Nacional Militar (CODENM) e do clube central das Forças Armadas. 5 de Julho de 1977 Da “multidão” de 48 futebolistas que formaram a equipa militar presente nascelebrações do dia 1.º de Maio, no Estádio Municipal dos Coqueiros, 22 foram escolhidos para fazer parte do lote que dias depois daria corpo ao Clube Desportivo 1.º de Agosto, entretanto, em criação. Para o efeito também foram recrutados jogadores militares que defendiam clubes dasprovíncias da Huíla, Benguela e

Huambo. Os “eleitos” do futebol foram Napoleão, Carnaval, Matias (todos guarda-redes), Mascarenhas, Mendes, Mateus César, Júnior, Nicola, Agostinho, Léllis, Manico, VanDúnem, Horácio Cangato, Sabino “Matateu”, Chimalanga, Zeca, Leandro, Rui Jordão, Guimas, Litle John, Luvambo e Barros “Pelé”. Os dois primeiros nomes do atletismo escolhidos fora Octávio Conceição (Marinha de Guerra) e José Saraiva (ENCOMAT). A 16 de Julho de 1977 o grupo de futebolistas concentrou-se durante aproximadamente um mês na Casa do Desportista, à Ilha do Cabo, em Luanda, para preparar o desafio com a Selecção Militar da Nigéria, inicialmente marcado 31 de Julho e depois remarcado para 1 de Agosto mas não realizado nessa data. 19 de Julho de 1977 Foi criado o CODENM para que este desse corpo à criação do Clube Desportivo 1.º de Agosto. O comandante Ndalu assumiu a direcção dessa entidade. 13


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21 de Julho de 1977 O Comité Desportivo Nacional Militar acabava de ser criado, em ordem a conformar a estrutura desportiva militar do país à doutrina do SKDA. A criação do 1.º de Agosto, clube central das Forças Armadas, já estava praticamente em fase conclusiva e a Selecção Militar disputava o seu último jogo antes da “metamorfose” para clube central das Forças Armada. O adversário foi a Selecção de Luanda. Para os arquivos da história ficaram os seguintes elementos: Local: Estádio dos Coqueiros Selecção Militar, 3 – Selecção de Luanda, 3 Árbitro: Jorge Adriano Selecção Militar: Napoleão (Carnaval); Nicola, Mendes, Mascarenhas, Mateus; Chico Gomes, Leandro e Sabino “Matateu”; Zeca Barros “Pelé” e Luvambo. Suplentes utilizados: Carnaval (guarda-redes), Litle John, Jayr e Van-Dúnem. Selecção de Luanda: Ângelo; Inácio, Inguila, Salviano, Santo António; Eduardo Machado, Geovetty, Augusto Pedro; Ndungidi “Pelé”, Alves e Tó Zé.

Suplentes Utilizados: Portela (guarda-redes), Bento, Laurindo, Santinho, Eduardo André e Nando Machado. Golos: Sabino “Matateu”, Luvambo e Rui Jordão (Selecção Militar); Alves, Laurindo e Nando Machado (Selecção de Luanda). 31 de Julho de 1977 Nas instalações do Ministério da Defesa, à Cidade Alta, em Luanda, onde funcionava igualmente o Estado Maior geral das FAPLA, uma reunião de cúpula das Forças Armadas dirigida pelo titular da pasta, Iko Carreira, e na qual participam, entre outros os comandantes Ndalu, Xietu, Petroff, Dibala, Toca, Kito e Orlog, assim como os oficiais superiores Katiama, Nito Teixeira, Mona, Nvunda e outros foi decidido que no dia seguinte seria criado o 1.º de Agosto, clube central das Forças Armadas. No mesmo encontro foram indicadas as coordenações dos pelouros desportivos que passavam a responder ao mesmo tempo pelo CODENM e pelo 1.º de Agosto. A distribuição foi feita do seguinte modo: futebol (Orlog), basquetebol (Nini “Ngongo”), atletismo Nito Teixeira , andebol (Carlos Hendrick), voleibol (Dibala), tiro e triatlo militar (Zé de Matos), Paraquedismo (Pedro Sebastião) e desportos aquáticos (Rui de Matos). 1 de Agosto de 1977 Numa cerimónia singela realizada no pavilhão do Rio Seco e na qual estiveram presentes apenas altas patentes das FAPLA e alguns atletas – sem a presença da Comunicação Social – era anunciada formalmente pelo comandante Ndalu a criação do clube central das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, com o nome de Clube Desportivo 1.º de Agosto, em merecida honra à fundação das FAPLA três anos antes em Karipande (Moxico). Também informara que as cores seriam vermelho e preto, da bandeira nacional, as quais, aliás, jáusava uma equipa de maquizards angolanos exilados na Zâmbia nos 60, a qual era treinada pelo Dr. Eduardo dos Santos Macedo, o nosso primeiro treinador de futebol. Depois dessa actividade no período da manhã, à noite houve uma recepção na Quinta Rosa Linda durante a qual interveio o comandante Iko Carreira instando os dirigentes e atletas afazerem do 1.º de Agosto o maior clube de Angola e o melhor de África.

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7 de Agosto de 1977 Pela primeira vez e após o adiamento do desafio com a Selecção Militar da Nigéria, a equipa do 1.º de Agosto exibiu-se em campo, desta feita para defrontar a formação do InterClube de Brazzaville, adstrito às Forças Armadas da República Popular do Congo. A apresentação mereceu honras de manifestação desportiva de relevo, com quadros humanos e a amostra das classes de ginástica do Sporting de Luanda. Pela primeira vez foram usados os uniformes listados verticalmente em vermelho e preto e calções pretos. Ainda sem um emblema – a escassez de tempo não permitiu que o mesmo fosse criado em tempo hábil, dado o estudo e o tempo que a tarefa demandava –, as camisolas ostentavam no lado esquerdo do peito o distintivo das FAPLA, cingido por dois ramos de oliveira, um dos mais significativos símbolos

desportivos, visto que nos Jogos Olímpicos da antiguidade grega os vencedores eram coroados com ramos de oliveira ou de louro. Porém, nessa altura, a Comunicação Social continuava designando erradamente o clube central das Forças Armadas como “Selecção Militar”. 1.º de Agosto, 0 – InterClube de Brazzaville, 1 Local: Cidadela Desportiva Árbitro: Mendes da Silva; Jorge Adriano e Manuel Catendi 1.º de Agosto: Napoleão; Nicola, Mascarenhas, Mendes, Júnior; Mateus, Sabino “Matateu”, Chimalanga (Agostinho), Zeca; Barros “Pelé” (Rui Jordão) e Luvambo (Horácio Cangato). Suplentes não utilizados: Carnaval, Leandro, Guimas e Van-Dúnem. InterClube de Brazzaville: Ngombo; Ongani, Akomo, Ngolo, Dimonekene; Minga, Malonga, Belekita; Lingombo,

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Mbemba e Nddouta. Suplentes não utilizados (não houve substituições): Mbambi, Massamba, Pungi, Ngueti e Mita Nguedi. Golo: Ndjouta. 21 de Agosto de 1977 Já reforçada com alguns jogadores chegados de Benguela, o 1.º de Agosto disputou finalmente o jogo com a Selecção Militar da Nigéria, que deveria participar do seu “baptismo” três semanas antes. A Comunicação Social, seguramente sem o necessária informação, continuava a designar os “rubro-negro” por Selecção Militar de Angola. 1.º de Agosto 2 – Selecção Militar da Nigéria, 2 Local: Estádio da Cidadela Desportiva Árbitros: Pereira Lopes; Dionísio de Almeida e Sebastião 16

Reis 1.º de Agosto: Napoleão; Horácio Cangato, Garcia, Mascarenhas, Manico; Léllis (Mateus), Agostinho (Chimalanga), Zeca; Leandro (Van-Dúnem), Barros “Pelé” e Luvambo. Selecção Militar da Nigéria: Lawal; Moussa (Osanebi), Carter, Nathan, Aoudou; Loko, Yeboah (Osuna), Olayome; Ajose, Obuasuki (Mwakwo) e Ejele. Golos: Barros “Pelé” e Van-Dúnem (1.º de Agosto); Obuasuki e Aoudou (Selecção Militar da Nigéria) 10 a 20 de Setembro de 1977: Pela primeira vez Angola, por intermédio do 1.º de Agosto/ CODENM, participou num evento desportivo internacional além fronteiras. Tratou-se das 4.ªs Espartaquíadas Militares, realizadas em Havana (Cuba). A delegação, simbólica


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apenas, foi chefiada pelo major Nini “Ngongo” e integrou três atletas que competiram nas modalidades de atletismo e triatlo militar. 12 de Novembro de 1977 Depois dos dois desafios internacionais, o 1.º de Agosto, que para a Comunicação Social ainda era Selecção Militar de Angola – curiosamente quando se tratava de basquetebol o Jornal de Angola referia-se sempre ao nosso clube como 1.º de Agosto – disputou o seu primeiro desafio doméstico com a Selecção de Luanda, já que o primeiro com o mesmo oponente a 21 de Julho tivera carácter de jogo-treino. Nessa partida surgiu pela primeira vez Daniel Ndungidi, já sem a alcunha de “Pélé”, ele que é o melhor jogador de sempre da história do clube. Outras novas caras eram

Ângelo, Lourenço, Julião e Matondo. O presidente Agostinho Neto e família fizeram-se presentes, tal como vária entidades da hierarquia política e militar do país, como o ministro da Defesa, Iko Carreira, o director da DISA, Ludy Kissassunda, o chefe do Estado Maior Geral das FAPLA, Xietu, o seu adjunto,Ndalu, entre outros. A presença dessas figuras era uma espécie de “bênção” à apresentação oficial. 1.º de Agosto, 2 – Selecção de Luanda, 2 Local: Estádio dos Coqueiros Árbitro: Manuel Catendi 1.º de Agosto: Napoleão (Ângelo); Mateus, Lourenço, Júnior, Mascarenhas; Ndungidi, Sabino “Matateu”, Zeca; Juliao (Chimalanga), Barros “Pelé” (Matondo) e Luvambo. Selecção de Luanda: João (Portela); Franco (Jaime),

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Inguila, Salviano, Vinhas; Giovetty (Franco Paíto), Santo António (Praia), Dinis (Gonçalves); Gino (Augusto Pedro), Alves (Veloso) e João Machado (Laurindo). Golos: Luvambo e Sabino “Matateu” (1.º de Agosto); Alves e Veloso (Selecção de Luanda). 28 de Dezembro de 1977 A nossa equipa faz o seu primeiro desafio nessa data, com a Comunicação Social referindo-se a ela efectivamente como 1.º de Agosto, ao invés de Selecção Militar de Angola. Foi diante da Selecção de Esperanças de Luanda, para o “Torneio Preparação”. Pouco antes, deslocara-se ao Lubango para um jogo com a Selecção da Huíla no dia 18 de Dezembro de 1977 em saudação ao 1.º Congresso do MPLA. O encontro, porém, não se realizou porque os huílanos não tiveram tempo para... Preparar o seu selecionado. 1.º de Agosto, 2 – Selecção de Esperanças, 0 Árbitro: Manuel Pimentel 1.º de Agosto: Ângelo; Manico, Garcia, Lourenço, Chimalanga; Zeca, Sabino “Matateu” (Léllis), Ndungidi; Julião (Mascarenhas), Barros “Pelé” e Luvambo. Selecção de Esperanças: João Franco, Makuêria, Dafefa, Cataxo; Dedé, Messo, Mendinho. Suplentes Utilizados: Lalá, Eduardo Machado, Pepé e José Manuel. Golos: Barros (2) 18


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mais ou menos por volta da década de 1980.Então, o “número 1” do clube chamou o tenente Joaquim Rangel, a quem delegou a tarefa, com recomendações expressas de que deveriam constar do símbolo as cores do clube e uma estrela amarela, bem como a cor azul, simbolizando a juventude – a bandeira da JMPLA tem precisamente as mesmas cores. Havendo na equipa de futebol alguém que havia estudado desenho na antiga Escola Industrial de Luanda “Vicente Ferreira”, no caso o atacante Chinguito, este foi contactado para o efeito. E inspirando-se, de certo modo, no escudo do Botafogo do Rio de Janeiro, criou o nosso actual emblema.

Curiosidades O uniforme Logo após a fundação do clube, o tenente Joaquim Rangel e o soldado José Saraiva foram incumbidos da tarefa de comprar os equipamentos para a equipa de futebol e para o atletismo. As camisolas eram amarelas e os calções pretos,sendo adquiridos na Ofir, à época a mais prestigiada loja de material desportivo de Luanda. Contudo, foram utilizados muito mais tarde, em 1978, numa partida com a equipa das FARP da Guiné Bissau. Importado de Portugal, o equipamento principal (listas verticais vermelhas e pretas, com calção preto), a primeira remessa tinha listas horizontais e Joaquim Rangel, que estava à frente de todo o processo pediu que o uniforme fosse trocado por uma com listas verticais, à Sanjoanense de... Portugal. Foi este o uniforme usado no seu primeiro jogo, diante do InterClube de Brazzaville, ao passo que o amarelo passou a ser o alternativo. O emblema Foi no consulado do comandante Pedro de Castro VanDúnem “Loy” que surgiu o actual emblema do 1.º de Agosto,

A Sede Com declaração de laicidade do Estado Angolano e com muitas instalações devolutas por conta da fuga maciça de pessoas que buscavam maior segurança noutros países, várias instituições fecharam as suas portas. Uma delas foi o Colégio dos Maristas, propriedade da Igreja Católica. Por breves momentos e sem a necessária autorização, alguns elementos do 1.º de Agosto ocuparam o local a fim de ali instalarem a sede do clube. Mas foi sol de pouca dura, pois diasdepois e já de forma “oficial” procedeu-se à ocupação dos antigos escritórios da empresa de construção civil SICCAL, nos números 8 e 10 da Avenida Silva Porto, sendo efectivamente a primeira sede do clube a partir de 27 de Dezembro de 1977. Depois disso e em obtemperação a uma orientação do Conselho Superior de Educação Física e Desportos, o CODENM e o clube transferiram-se para o edifício do Rio Seco, onde também funcionava a Escola de Instrutores de Educação Física de Luanda, dirigida por Victorino Cunha que, entretanto, ali já dava treinava a nossa primeira equipa de basquetebol. O “trespasse” teve a concordância da proprietária, a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra (AAEC), representada por Francisco Sande Lemos. Passados alguns meses a Escola de Educação Física transferiu-se para o Colégio dos Maristas mas as instalações da Avenida Silva Porto, depois conhecida pelos atletas e dirigentes por “Castelo”, foram mantidas, servindo de centro de estágio e de alojamento para atletas vindos de fora de Luanda.

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OS DA PRIMEIRA HORA

Sócios de ouro!

D

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epois da fundação do clube, o passo seguinte era a organização administrativa, o que incluía, naturalmente, a angariação de sócios. Contudo, os primeiros cinco associados do clube foram indicados a dedo. Logo a seguir ao quinteto, perfilaram como n.º 6 Ema de Sá (funcionária do MINDEF) e com o n.º 7 José Saraiva (atleta do clube). Eis a selecta lista: N.º

NOME

FUNÇÃO

1

António Agostinho Neto

Comandante em Chefe

2

Henrique Teles Carreira “Iko”

Ministro da Defesa

3

António dos Santos França “Ndalu”

Comandante do Regimento Presidencial

4

João Luís Neto “Xietu”

CEM das FAPLA

5

David António Moisés “Ndozi”

CEM Adjunto das FAPLA


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D'AGOSTO NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GLÓRIA ! PENSE GRANDE, VIVA COM SUCESSO, E FAÇA PARTE DA MAIOR FAMÍLIA DESPORTIVA ANGOLANA, ADERINDO AOS NOSSOS NOVOS PROJECTOS " SÓCIO EMPRESA" E " SOCIOS CIVIS " E DIGA COM ORGULHO! " JÁ SOU AGOSTINO, COMO OS MAIS DE 100 MIL SÓCIOS MILITARES, E AGORA SOU BUÉ, REPRESENTO MAIS DE 2 MILHÕES DE FÃS " !!! FAÇA COMO NÓS, RECEBA E ADIRA AS NOSSAS PROPOSTAS OU DIRIJA-SE A NOSSA SEDE NO RIO SECO ( EX: CODENM ) E SAIA A GRITAR! " SOU GRANDE, SOU FIEL, SOU D'AGOSTO !!!

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CLUB DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

F U T E B O L

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QUANDO A ARBITRAGEM É O MAIOR PROBLEMA DO FUTEBOL AFRICANO

Suma consagração africana a centímetros

O

s africanos são apaixonados pelo futebol, valor socialmente adquirido que serve de elo entre povos, independentemente da raça, língua, religião, cultura, hábitos e costumes. Em África, o futebol é uma indústria que produz talentos. Desde há muito que o mercado africano atrai clubes, empresários e treinadores, tendo em atenção o reforço dos planteis das agremiações europeias. Por isso, as competições de clubes e de selecções são renhidamente disputadas. O nosso clube, por via da equipa de futebol, teve o ensejo de ser um dos protagonistas da

grande festa que representa as “Afrotaças”. Honra maior foi ter sido o primeiro emblema a defender o país nas competições africanas de clubes, o que aconteceu em 1980, precisamente no ano em que a Federação Angolana de Futebol (FAF) foi admitida como membro de pleno direito da Confederação Africana de Futebol (CAF), a entidade máxima do “desporto-rei” no continente. Sem estar ainda inscrita na CAF, Angola acabou admitida nas competições oficiais por força de uma decisão tomada em Setembro de 1979 numa reunião do organismo que superintende o futebol no


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continente realizada em lagos (Nigéria). Nessa altura, não havia sido disputado ainda nenhuma edição do Campeonato Nacional – o fim do “Provinciais” que apuraram as equipas para o “Girabola” já ia bem longe –, mas o nosso emblema acabou indicado pela FAF para representar o país por ser a principal força do futebol nacional, uma honra para nós, glorificada quase um ano depois com a conquista do título de primeiro campeão de Angola independente. A sorte nos foi madrasta na nossa estreia, calhando-nos no sorteio dos 16 avos de final precisamente o temível Canon de Yaoundé, que com o “vizinho” e rival Union de Douala (ambos dos Camarões), dominava o futebol africano de clubes. Embora com uma equipa fabulosa em que pontificavam nomes como os de Daniel Ndungidi, Alves, Lourenço e Mascarenhas, entre outros, a falta de experiência internacional teve peso determinante e acabámos eliminados pelo “gigante” africano que nesse ano ergueria a Taça dos Campeões Africanos. Na primeira “mão”, em casa alheia perdemos por 0-3, numa partida que poderíamos sair com resultado menos

desfavorável se o remate de Barros ainda aos 17 minutos do primeiro tempo não encontrasse o travessão de Nkono, quando o jogo estava 0-0. Na partida de volta, porém, não nos faltou ambição, embora a tivéssemos perdido também, desta feita por 3-4. Marcámos primeiro e até ao 3-3, sempre estivemos à frente do placard. Só que o Canon de Yaoundé era, á época, o maior de toda a África e nós sequer tínhamos competição doméstica em andamento... Contudo, em circunstância nenhuma a equipa demonstrou qualquer complexo de inferioridade, apesar da supremacia incontestável do adversário. Foi, no fundo, o início da pavimentação do caminho que tornaria o 1.º de Agosto numa referência do futebol continental. De lá para cá foram muitas as nossas participações nas “Afrotaças” por conta do domínio absoluto que exercemos no futebol doméstico por muito tempo. É verdade que por vários factores, com a arbitragem em primeiro lugar e com grande peso, jamais chegámos a qualquer título africano. Mas na mais das vezes honramos o nome do país e abandonámos de cabeça erguida as provas em que participamos.

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Na nossa já longa história conseguimos feitos assinaláveis nas “Afrotaças”. Em 1997, por exemplo, na primeira edição do novo formato da Liga dos Campeões da CAF jogamos a qualificação para a fase de grupos, disputando a vaga com verdadeiros “colossos” do futebol continental, entre os quais o Africa Sport de Abidjan e o USMA de Argel. Nessa altura, a final ficou a poucos centímetros da concretização. O sonho, porém, continuou. Na verdade, continua vivo. Desse modo, em 1998 fizemos a nossa melhor campanha de sempre nas “Afotaças”. Nesse ano, disputamos a antiga Taça das Taças, que em 2004 e em obediência ao novo formato de competições da CAF deu lugar à Taça da Confederação, sendo fundida à Taça CAF. Os resultados falam por si, tão volumosos foram e ainda por cima diante de formações representativas de países bem mais fortes e com mais tradição do que Angola no futebol, exemplos da Costa do Marfim e Argélia. A marcha começou com uma concludente vitória caseira de 4-0 diante do Notwane (Botswana), confirmada na segunda “mão” dos 16 avos de final com outro triunfo, já fora de portas, por 3-1. Nos

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oitavos de final coube-nos no sorteio o Fire Brigade (Ilhas Maurícias), com o primeiro desafio a ser disputado em terreno alheio. Ainda assim, fora de portas a nossa equipa ganhou por 3-2 e em casa alcançou inequívoco e gordo triunfo: 6-0, uma goleada das antigas! O técnico Ndungidi Daniel montara uma equipa praticamente com “prata da casa”, sobressaindo na mesma muito garotos acabados de subir ao escalão principal, como era os casos de Mendonça, Pedro, Gonçalves, Pena, Assis e outros. Temia-se que pela sua juventude provavelmente não pudesse dar conta do recado lá mais para a frente. Afinal, nos quartos de final o adversário era o temível e experiente USMA (Argélia), país com maior andamento do que Angola nas “Afrotaças”. Mas, a forma endiabrada e confiante como o grupo abordava o jogo fazia pressagiar a passagem da eliminatória . De resto, com14-5 em golos (soldo de nove em quatro desafios), o que dava a impressionante média de mais de três golos por jogo era lenitivo bastante para encarar o adversário magrebino sem complexos de inferioridade.


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E apesar do nome sonante do concorrente, a nossa equipa não esteve pelos ajustes. Em casa goleou por 3-0 e fora ganhou por 2-1, fazendo um impressionante agregado de 5-1. Curiosamente, estava a aconteceralgo antes nunca visto no futebol angolano. Ou seja, pela primeira vez uma equipa nacional chegava às meias-finais vencendo todos os seus desafios, incluindo os disputados em terreno adversário. Mais: em seis jogos sofria apenas em média um golo por partida e marcava 3,16, facturando a impensável soma de 19 golos! Nada mais parecia travar a marcha triunfal da nossa equipa, ainda que na final o adversário se chamasse Africa Sport de Abidjan Meia (Costa do Marfim). Mas, na primeira “mão”, na capital marfinense os “meninos de Ndungidi” tropeçaram, consentindo uma derrota de 1-3, a primeira nessa campanha. Embora a desvantagem fosse assinalável e o nome do adversário fazia levantar justificados receios quanto a continuidade na prova a eliminar, a resposta no encontro de volta foi demolidora. Sem sequer dar conta da presença do respeitável adversário que chegara a Luanda com vantagem relativamente confortável, os nossos jogadores conseguiram um resultado fabuloso: 4-1 em

cima do Africa Sport, formação de longevas tradições no futebol continental mas que no ano anterior já tinha sofrido connosco um agregado de 1-6. Desse modo, estava então alcançada a final. Melhor do que os resultados, a equipa produzia um futebol deslumbrante de ataque, buscando sempre o golo, o que pode explicar os 24 (!) golos anotados em oito partidas. Possivelmente também, por conta do jogo aberto que praticava, o número relativamente encorpado de golos encaixados. Mas isso, pouco importava, na medida em que a equipa estava na senda das vitória e pouco faltava para a suma consagração, traduzida no primeiro título africano do futebol angolano. Na final, o adversário era o Espérance Sportive de Túnis, um “colosso” do futebol africano em cuja folha de serviços constava já a conquista de um título de campeão africano, além da Super Taça, ambos referentes à temporada de 1994. O osso era duro de roer, mas, com os níveis anímicos que a equipa apresentava, a final tratava-se de uma “missão possível”. Este era, aliás, o espírito reinante no grupo. Só que as coisas não correram de feição para a nossa equipa que na primeira “mão” acabou por perder em casa

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do adversário por 3-1. Logicamente que diante de um adversário do calibre do Espérance o resultado era pesado demais. Mas nada que não pudesse ser superado. Na ronda eliminatóriaanterior, aliás, a história fora a mesma mas os nossos jogadores conseguiram dar a volta ao texto na hora da verdade. Era isso o que se esperava, até porque na derrota fora de casa a arbitragem “fabricou” um penaltie inexistente. Com os nervos à flor da pele, o desafio da segunda “mão” começou muito mal para nós, com a arbitragem a fazer vista grossa às constantes agressões dos tunisinos, mesmo com o presidente da Comissão de Árbitros da CAF, o samali Farah Adou, na bancada. Estava claro que tudo estava montado para que o título ficasse com a formação magrebina, uma constante nos escusos corredores do futebol africano. Ainda assim, pouco antes de cair o pano sobre a primeira parte Nsilulu fez o gosto ao pé, inaugurando o marcador, com o que renascia a esperança da conquista do inédito título. Portanto, só mais um golo e a tala seria nossa. A oportunidade desse golo surgiu na etapa complementar, através da marcação de um pontapé da marca da grande penalidade. Contudo, quando o árbitro assinalou o castigo máximo os jogadores tunisinos rebelaram-se contra a arbitragem perante a passividade de Farah Adou, que apreciava tudo sem 26

mover palha. O juiz quase foi agredido pelos jogadores do Espérance e perdeu-se quase 10 minutos, tempo bastante para cortar a recuperação encetada pela nossa equipa e desconcentrar o cobrador do penaltie, nas circunstância o jovem Assis. Quando os ânimos serenaram, a equipa estava fria e o melhor marcador de penalties da equipa acabou falhando. Psicologicamente o grupo desmoronou e já quase no final, atingida pelo golpe caucionado por Farah Adou, consentiu o golo do empate já nos descontos. É comum dizer-se que em futebol as vitórias morais pouco contam. Mas neste caso particular ela faz sentido. Fomos os “campeões” da Taça das Taças de 1988.


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A nossa estreia nas “Afrotaças”

Os jogos da nossa final 1.ª “Mão”: Espérance de Túnis, 3 – 1.º de Agosto, 1 Data: 21 de Novembro de 1988 Cidade: Túnis Estádio: El Manzah Espectadores: 35 mil Espérance, 3 – 1.º de Agosto, 1 Espérance: El Ouaer; Sahbani, Nouira, Badra, Jaïdi; Hamrouni, Chihi, Kanzari (Melliti), Gabsi (F.Ben Ahmed); Tlemçani, Laaroussi. Técnico: Zaoui. 1.º de Agosto: Goliate; Moisés, Neto, Helder Vicente, Julião, Pedro; Stoppira (Castela), Filipe, Mendonça (Nzalambila); Mwanza e Nsilulu. Técnico: Ndungidi Daniel. Golos: Jaïdi, Hamrouni, Laaroussi 56 (Espérance); Mwanza Teka (1.º de Agosto)

1.ª “Mão”: Canon de Yaoundé, 3 – 1.º de Agosto, 0 Data: 13 de Abril de 1980 Cidade: Yaoundé Estádio: Amadou Aidjo Espectadores: 40 mil Canon de Yaoundé: Nkono; Roux, Moungan, Ollé, Aoudou; Koundé, Eboué, Mbida, Emana, Manga Ounguené, Nguea. Técnico: Eyoum Emanud 1.º de Agosto: Ângelo; Agostinho, Ndongala, Lourenço, Mascarenhas; Zeca, Garcia (Mateus), Anândio; Ndungidi, Alves (Mendinho) e Barros. Técnico: Ferreira Pinto Golos: Mbida (2) e Emana 2.ª “Mão”: 1.º de Agosto, 3 – Canon de Yaoundé, 4 Data: 27 de Abril de 1980 Cidade: Luanda Estádio: Cidadela Desportiva Espectadores: 40 mil 1.º de Agosto: Ângelo; Mateus, Lourenço, Ndongala, Mascarenhas; Mendinho, Amândio, Zeca; Ndungidi, Alves (Julião) e Vieira Dias (Túbia). Suplentes não utilizados: Napoleão, Agostinho e Garcia. Técnico: Ferreira Pinto Canon de Yaoundé: Nkono; Mbo, Moungam, Aoudou, Koundé; Edjango, Eboué, Emana; Nguea (Abega), Mbida, Manga Onunguné. Suplentes não utilizados: Fonda, Ebouele, Mayi e Roux. Técnico: Eyoum Emanud Golos: Ndundidi, Alves, Vieira Dias (1.º de Agosto), Manga Ounguené (2), Abega e Emana.

2.ª “Mão”: 1.º de Agosto, 1 – Espérance de Túnis, 1 Data: 6 de Dezembro de 1988 Cidade: Luanda Estádio: Cidadela Desportiva Espectadores: 50 mil 1.º de Agosto: Goliath; Gonçalves (Castela), Neto, Hélder Vicente, Pedro; Assis, Filipe, Stoppirra, Mendonça (Pena); Nsilulu e Agó. Técnico: Ndungidi Daniel. Espérance: El Ouaer; Sahbani, Azaiez, Badra, Jaïdi, Chechia; Hamrouni (Kanzari), Chihi, Mellitai (Nouira), Gabsi; Tlemçani. Técnico: Zaoui. Golos: Nsiulu (1.º de Agosto) e Melitai (Espérance)

OS NOSSOS NÚMEROS NAS “AFROTAÇAS”

J

V

E

D

N

S

%

PARTICIPAÇÕES

72

33

15

24

123

883

52,7

17

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E SURGIU UMA MÁQUINA DEMOLIDORA!

Grandeza do clube manteve a chama acesa

O

domínio demonstrado pela nossa equipa no ano de estreia o “Girabola” foi reforçado nas épocas de 1980 e 81, com a competição a ser disputada no sistema de pontos corridos a duas voltas, contrariamente à divisão por grupos e fase final que marcou o primeira edição da prova. Já sob a batuta de Radenovic Ivan, o 1 de Agosto cresceu em todos os aspectos. O futebol praticado ganhou músculo, maturidade e maior rigor táctico. Aos craques da primeira gesta juntaram-se Mavuba e Tandu Maiela, talentos regressados do vizinho Zaire. Poucas eram as equipas com argumentos futebolísticos para fazer frente aos rubro e negros, que passaram a ser carinhosamente chamados por "Gloriosos". A época de 81, o ano do tri-campeonato, ficou marcada pela saída de Ivan do comando técnico da equipa, com o Girabola a decorrer. Joaquim Dinis "Brinca n'Areia", de volta ao país depois de ter brilhado com a camisola do Sporting de Portugal , assume o leme da nossa nau e, na condição de jogador-treinador, conquista o título. Ndungidi Daniel, o Pelé forjado na escola de Fernando Peyroteo, firmou-se como a estrela mais sentilante do futebol angolano na época. 28


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de ares, outros por fim de carreira. Entre as chegadas destacaram-se Capelô, Nelo, Mané, Ivo Traça, Manuel Loth, Nelito Kwanza, Nsuka, Ndisso, Manuel Martins, Russo, Novato, Zacarias, Barbosa e Mbila, uns vindos de fora e muitos formados no clube. No percurso inversa é quase impossível não lamentar a saída de Ndungidi. As épocas de 91 e 92 trouxeram um 1.º de Agosto que fazia recordar a memorável equipa do “tri”. O sérvio Dusan Kondic, coadjuvado por Mário Calado, achou a fórmula que transformou a nossa equipa numa máquina demolidora. O futebol assente numa grande disponibilidade atlética dos jogadores, era coordenado em campo por operários da bola provenientes do ex-Zaíre. Mwanza Teca, Mateus De 82 a 90 o nosso futebol registou um fenómeno curioso. Apesar da ausência de títulos neste período, em que os seus principais rivais ganhavam consistência competitiva, a popularidade do clube não parava de crescer. Boa parte dos "Gloriosos" saiu de cena. Uns por mudança

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Fuidimau, Bolefo e Lukau formavam o quarteto mágico do conjunto que jogava, dava espectáculo e ganhava. Os dois títulos consecutivos foram a justa recompensa. O ambiente conturbado a seguir às primeiras eleições gerais do país atraíram uma nova estiagem competitiva da nossa equipa, que não festejou títulos nas épocas de 93, 94 e 95 – o nosso clube era dos mais sacrificados com o esforço de guerra. Mas tinham sido lançadas as sementes de uma nova gestavitoriosa, pelo brasileiro Djalma Cavalcanti. Nomes como Neto, Hélder Vicente, Hélder Cruz, Nthomas, Mwanza Teca, Stoppirra, Filipe Nzanza, Pedro e Moisésfaziam as delícias aos nossos exigentes

adeptos. No ano seguinte, Mário Calado, promovido a técnico principal pelo presidente Melo Xavier, conquistou o sexto título do palmarés do clube. A provar que santos de casa também fazem milagres, Ndungidi assumiu o comando do plantel, em plena gestão presidencial do general Pedro Neto, e monta em 98 e 99 uma equipa sem rivais internamente. Estabelecemos, na segunda época, uma marca de invencibilidade que ainda está por bater: 26 jornadas sem perder. Goliath, Dedas, Mendonça, Nsilulu, Muanza Teca, Filipe Nzanza, Assis e Agô eram as referências. A alegria pela conquista do campeonato voltou a andar distante de 2000 a 2005. A redenção chegou com o holandês Jan Brouwer, que no versátil 4X3X3, sustentado pelos zambianos Ian Bakala, Henri Milanzi e 30


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TÍTULOS CAMPEONATO NACIONAL

7

Danny Hangunyu, secundados por Elísio, Kumaka e Roger, chancelou o nono título do clube no Girabola. Contra todas as expectativas, a falta de conquistas não inibe o orgulho agostino, porque a grandeza do clube alimenta a chama de continuar a ser o maior do país.

TAÇA DE ANGOLA

5 SUPER TAÇA

8 31


CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

B A S K E T E B O L 32

Domínio aquém e além

N

ão há dúvida que o basquetebol é a modalidade mais vitoriosa do clube, sendo, por conseguinte, a que mais glórias proporcionou aos nossos adeptos desde o seu seguimento dentro das nossas quatro paredes em 1978, quando um grupo de militares se entregou à tarefa de disputar jogos de exibição no pavilhão do Rio Seco, então cedido pelo Conselho Superior de Educação Física e Desportos (CSEFD) ao 1.º de Agosto, mediante um acordo assinado pelo clube com o antigo proprietário a Associação dos Antigos

Estudantes de Coimbra. À inclusão da “bola ao cesto” no clube estão associados vários nomes, tais como os do major Nini (hoje conhecido por general Ngongo), Beto Portugal, Victorino Cunha, os irmãos Romero (Zé que foi o primeiro chefe de departamento e Lulú, o falecido Wlademiro) e Rui Marques, entre outros. Se inicialmente os desafios tinham apenas carácter de incentivo para a juventude, as responsabilidades desportivas assumidas pelo clube, obrigaram a formação de uma equipa verdadeiramente


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m fronteiras

competitiva. Por esta razão, além dos pouquíssimos jogadores desse grupo de debutantes que ainda podiam dar a sua contribuição – muitos dos que participavam nos desafios de exibição já tinham uma certa idade –, houve necessidade de se reforçar o conjunto com atletas que pudessem emprestar o desejado traquejo competitivo ao equipa. Assim, foram recrutados Fernando Barbosa, Gustavo Conceição, Paulo Múrias, Soares de Campos, Gika, Hilário Sousa, Nelson Tavares, Sidrak Conceição, Boneco, Alvarito, Warezzi de Carvalho, Didi Cruz, Manuel Narciso quase todos eles a servir as FAPLA, salvo algumas 33


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raríssimas excepções. Nessa época, a hegemonia do basquetebol angolano era disputada pelo Clube Ferroviário de Angola e pelo Desportivo da TAAG, que herdara praticamente toda a equipa do FC Luanda, a maior força da modalidade no fim do período colonial e nos primórdio da independência nacional. Paralelamente, contudo, ainda no ano de 1978 Victorino Cunha e uns poucos colaboradores puseram mãos à obra para iniciar a formação no “Quintalão” do clube, numa altura em que o país ressentia-se grandemente da falta de quadros em todos os sectores por conta da abalada maciça de muitos cidadãos para Portugal e África do Sul em razão da instabilidade política que então se vivia. No vasto grupo de militares que deram corpo à primeira equipa de basquetebol do 1.º de Agosto, uma figura se destacou. Trata-se de VictorinoCunha, que nos primórdios apresentava-se nas vestes de treinador-jogador, passando mais tarde a desempenhar apenas a função de técnico e 34

coordenando também toda a modalidade no clube. Foi ele quem treinou primeiramente a equipa principal e orientou os técnicos dos escalões de formação em ambas as classes ou seja, em femininos e masculinos, para a execução de um vasto programa de adestramento de potenciais jogadores. Nos dois primeiros anos em que o 1.º de Agosto participou no “Nacional” de basquetebol não logrou o título. Mas no terceiro, já com uma fornada de jogadores recrutados de outras agremiações, alguns dos quais acabados de ascender à categoria principal, ergueu pela primeira vez o troféu, destronando desse modo o Desportivo da TAAG (actual ASA). Nomes como os de Rui Neto, TóVentura, Manuel Sousa “Necas”, Manuel Narciso e outros juntaram-se aos antigos para construir a epopeia de 1981, às ordens de Victorino Cunha. Desde então e até 1995 quase todos os troféus vieram para a nossa galeria, com excepção dos anos de 1984, 1993 e 1994. Nesse período, várias gerações de atletas


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foram formados no nosso “Quintalão” pelo técnico Victorino Cunha e colaboradores– qualquer talento que despontasse nas Escolas passava imediatamente a trabalhar consigo mesmo com idade de júnior ou juvenil –, destacando-se entre esta a que deu ao Mundo do basquetebol aquele que foi seguramente o melhor jogador angolano de todos os tempos e um dos melhores de África, de seu nome JeanJacques Nzadi da Conceição. Outros talentos emergiram igualmente do nosso “laborátório”, que transformou o clube no principal fornecedor da selecção nacional. Os nomes mais emblemáticos desta saga foram Paulo Macedo e David Dias. Entrementes surgiram outras figuras igualmente importantes que ajudaram a fazer da vitória um hábito. Entre as mais significativas gerações criadas no clube, destaque para as duas primeiras, as quais contaram com brutos diamantes lapidados com a sapiência, perseverança e a dedicação do técnico que é Victorino Cunha. A primeira teve, além de Jean-Jacques, Adriano Baião,

Joaquim Covilhã, Nijó Júnior, Paulo Sucuaquexi, José Silva, ao passo que a segunda deu à “bola ao cesto” talentos como Quinzinho e Domingos Garcia “Avó”, sem contar os já citados Paulo Macedo e David Dias. Todo esse investimento na formação do basquetebol e a contratação pontual de um ou outro jogador de fora renderam ao clube 16 campeonatos nacionais 13 Taças de Angola e 15 Super-Taças. Porém, os ganhos mais significativos de toda essa trajectória traduzem-se na conquista da África do basquetebol. Quando no nosso continente a modalidade não estava ainda suficientemente organizada e estruturada, em várias ocasiões estivemos muito perto da suprema glória, tendo a nossa equipa chegado a uma final da Taça dos Clubes Campeões de 1987, em Alexandria (Egipto), perdendo para o Al Itthiad local. Nessa altura, as arbitragens africanas tendiam muito a favorecer as equipas da casa, motivo que explicou a perda desse título. 35


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Quando, todavia, a FIBA passou a intervir mais directamente nas Confederações continentais e tomou em mãos a organização dos diversos campeonatos continentais, a história da Taça dos Clubes Campeões Africanos em basquetebol mudou de protagonistas. Afinal, as arbitragens passaram a ser mais controladas e os efeitos do “apito amigo” reduziram substancialmente. Face à ausência do “caseirismo” dos juízes nas provas africanas de clubes, os mais fortes emergiram finalmente e o 1.º de Agosto tomou conta do basquetebol emtodo o continente, assumindo uma hegemonia de quase uma década. Desse modo, em Dezembro de 2002 soltou pela primeira vez o grito de campeão africano, num campeonato disputado em Luanda, tornando-se assim na primeiroemblema angolano a vencer a competição. Desde então, foram disputadas mais oito Taças dos Campeões Africanos e a nossa equipa esteve presente em sete finais, triunfando em seis, números que nos conferem o status de maior campeão da história da competição. Curiosamente, dos seis títulos conquistados, apenas dois aconteceram em Luanda, sendo que num 36

desses (2007) a casa era do nosso principal rival, o PetroAtlético de Luanda. Não menos interessante é o facto de numa final termos vencido precisamente o anfitrião, algo que ocorreu em 2008, em Sousse (Tunísia), diante do Etoile Sportive du Sahel. Assinale-se igualmente que entre 2002 a2010 conquistámos todos os títulos de campeão africano, havendo pelo meio uma interrupção em 2006, quando o ceptro ficou com um conhecido e velho rival, o Petro-Atlético de Luanda. Na classe feminina também conhecemos o sumo esplendor da vitória, algo que sucedeu na Taça dos Clubes Campeões de 2006, em Libreville (Gabão), além dos váriostítulos nacionais e das duas subidas (2001 e 2007) ao pódio de honra como segundo colocado). Tal como aconteceu em masculinos,este foi igualmente o primeiro título africano de clubes na classe conquistado por Angola. E a epopeia ganha em dimensão, na medida em que, ao contrário da classe masculino, o nosso país não detinha a supremacia ao nível de femininos, ficando quase sempre nas cercanias do mais apetecido degrau do pódio da “bola ao cesto” continental.


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A Figura

A nossa equipa de basketebol de 2008 passando para a posperidade

TÍTULOS CAMPEONATO NACIONAL

MASCULINO

FEMININO

16

8 TÍTULOS TAÇA DE ANGOLA

MASCULINO

FEMININO

13

9 TÍTULOS SUPER TAÇA

MASCULINO

FEMININO

15

6 TÍTULOS TAÇA DOS CAMPEÕES

MASCULINO

FEMININO

6

1 TÍTULOS SUPER-TAÇA COMPAL

MASCULINO

FEMININO

1

-

Victorino Cunha Muitas foram as figuras que passaram pelo basquetebol do nosso clube. Porém, Victorino Cunha, que foi homenageado com a disputa de um torneio anual por nós organizado, é indubitavelmente o “Senhor Basquetebol” do 1.º de Agosto e, por extensão, de Angola. Ele marcou de forma indelével toda a nossa trajectória, pavimentando o caminho que deu nos inúmeros títulos nacionais e africanos, graças ao seu paciente labor e ao facto de ele incutir entre os nossos técnicos e jogadores (de todos os escalões) a necessária cultura táctica e filosofia de jogo que mais se adaptam ao biótipo do homem angolano. Em mais de duas décadas servindo o clube, trabalhou arduamente para colocar as cores vermelha e preta nas luzes da ribalta do desporto nacional e africano. As horas de trabalho a fio dedicadas no pavilhão do Rio Seco e também no “Quintalão” renderam-nos preciosíssimos frutos, personificados também em “gigantes” como Jean-Jacques da Conceição, David Dias, Paulo Macedo e muitos mais. A forma devotada como se entregou ao basquetebol do clube, criando a estrutura organizativa inicial, a primeira verdadeira sala de musculação surgida em Angola independente e o sistema de pesquisa de jogadores altos – mesmo no tempo da guerra com o exército da África do Sul racista tinha gente a trabalhar no Cunene –, fizeram com que, mesmo após a sua saída a marcha vitoriosa do nosso clube não cessasse, embora, como é normal num mundo competitivo como o actual, em algumas ocasiões não tivéssemos erguido o troféu de campeões.

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CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

Motivo de alegria p A N D E B O L

38

R

espondendo à necessidade de transformar o clube numa colectividade eclética e socialmente inclusiva, o então capitão Carlos Hendrick da Silva, actual presidente de direcção, foi figura central, tomando em mãos a tarefa de introduzir o andebol no 1.º de Agosto em Outubro de 1978, depois de ser indicado coordenador da modalidade no Comité Desportivo Nacional Militar (CODENM) e no clube. Carlos Xavier, José Cardoso de Lima, Armindo Coelho “Pancho”, Jorge Batalha, Mário Leonel, Pinto, Hélder, Jorge FAPLA, Nino Pitagrós, Lima “Tukuna Makengo”, Paulo, António Mangueira, Nando Salvador, Bessa, Carlos Duarte “Dinho” e Nascimento Neto foram os primeiros a responder ao toque de chamada para a empreitada que se adivinhava difícil. Mesmo sem competições regulares e participando apenas de torneios em datas comemorativas, o grupo seguiu treinando-se normalmente, sob orientação

técnica durante escassos 15 dias do professor Guilherme do Espírito Santo, entretanto, substituído pouco depois por pelo soviético Valery Melk, que algum tempo depois cedeu o posto a Ernesto Vicente da Costa, chamado carinhosamente nas lides desportivas por “Ti Lara”. Ainda em fase de estruturação, a nossa equipa recebeu no decurso do ano de 1978 um leque de jogadores oriundos de alguns clubes de Luanda, alguns deles sem a conclusão da sua formação como jogadores e ainda em idade de juniores e juvenis. Nomes como os de Victor “Tó” Araújo, Victor Lemos “Vitó”, Joaquim Cunha “Inguila”, José de Sousa “Jeko”, Óscar Nascimento, Daniel Almeida e o soviético Valery Melk integraram a segunda vaga, sendo que este último exercia também as funções de técnico da equipa principal. Às anteriores gerações juntaram-se mais duas em que sobressaíram Pedro Godinho, António “Didi”,


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permanente no clube

Man-Chuchu, Francisco de Oliveira “Roseira”, João Vigário, Amaral Júnior “Maninho”, Pedro Aguinaldo “Pírula”, Tony Costa, Puna Zau, Jorge de Carvalho “Jojó”, Ilidio Cândido, Hespanhol Neto, Alexandre Abreu “Chana”, Hermenegildo Jasse Palege e João Vigário, entre outros atletas na primeira metade da década de 1980. No sector feminino o andebol começou no nosso clube em 1980, com a primeira equipa sénior em que pontificavam Elisabeth Bondo, Sónia Safeca, Ana Garrido “Chinha”, Graça Bandeira, Ana Makuéria, Laudemira de Sousa “Kanina”, as irmãs Tita e Sofia Cerqueira, Maria do Carmo, Marta de Oliveira, Paula Louro, Ana João, Paula “Esquerdina”, Inês, Filú, Ana Maria e Paula de Jesus. Ao grupo juntaram-se pouco depois Elisa Peres, Elsa Major, Gualberta Mac-Mahon, Lukita e Chita, sempre sob orientação técnica de José de Sousa “Jeko”, tendo como assistente Divaldo Ângelo. Todo esse movimento foi devidamente acompanhado na vertente administrativa. De sorte tal que, mesmo como a saída de Carlos Hendrick da Silva para o exterior a fim de

prosseguir a sua formação castrense o comboio continuo sobre carris. Em resultado do extraordinário esforço de formação e da excelente organização patenteada pelos nossos dirigentes surgiram títulos atrás de títulos, a tradução de um domínio absoluto na competição doméstica. Nota curiosa é que o Departamento sempre foi dirigido por atletas no activo ou retirados, de 1981 à data, passando sucessivamente pela liderança José Cardoso de Lima, Victor Lemos “Vitó”, Jorge Carvalho “Jojó” e José Sousa “Jeko”. Foram vários os jogadores e técnicos que passaram – depois dos três primeiros seguiram Óscar Nascimento, Tó Araújo, Mário Leonel, Pina de Almeida, Francisco Roseira, Nelson Catito, Nicolay Pirgov e Filipe Cruz - pelo nosso clube mas os resultados mantiveram-se praticamente inalterados. Ou seja, a dinâmica de vitórias continuou, sendo pouquíssimas as vezes em que o título foi para em outra casa que não a nossa. Intramuros subjugamos literalmente a concorrência, o que nos levou em várias ocasiões à mais distintas provas 39


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continentais de clubes. Também participamos com assinalável êxito nos Campeonatos do SKDA e nas Espartaquíadas Militares. Mas em todos os eventos em que as nossas equipas competiram a disputa era acerrimamente renhida, com domínio dos países árabes (Egipto, Tunísia e Argélia) em masculinos e de Angola, onde está o nosso principal rival, em femininos. Ainda assim, em 1986, em Libreville (Gabão) subimos pela primeira vez ao pódio da Taça dos Clubes Campeões Africanos, com a talentosa geração de atletas em que pontificavam João Vigário, Pedro Godinho, Pírula, Paulo Bunze, Victor Lemos “Vitó”, Tony Costa, Chana, Hermenegildo Palege, Amaral Júnior “Maninho” e outros, quase todos formados ou acabados de formar nas nossas escolas. A 40

suprema glória africana chegou em 2007, com a obtenção da cobiçada Taça dos Clubes Campeões Africanos, seguindo-se em 2008 a conquista da Super Taça “Babacar Fall”, disputada entre o campeão africano e o vencedor da Taça das Taças Africanas. Em femininos, apesar da fortíssima concorrência interna que acaba também por a mesma na competição africana – ambas personificadas pelo Petro-Atlético de Luanda – já alcançámos alguns títulos nacionais e na última edição da Taça dos Clubes Campeões Africanos estivemos bem próximos da consagração, perdendo a final para o nosso “eterno pesadelo”. Mas, do jeito que as coisas caminham, não tarda e o título virá seguramente à nossa casa. Portanto, pode-se dizer que o nosso andebol é um verdadeiro coleccionador de títulos!


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A Figura José Cardoso de Lima

TÍTULOS CAMPEONATO NACIONAL

MASCULINO

FEMININO

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1 TÍTULOS TAÇA DE ANGOLA

MASCULINO

FEMININO

4

TÍTULOS SUPER TAÇA

MASCULINO

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2

TÍTULOS

TAÇA DOS CAMPEÕES AFRICANOS

MASCULINO

FEMININO

1

TÍTULOS SUPER TAÇA "BABCAR FALL"

MASCULINO

FEMININO

1

-

Se há alguém a quem se deve parte substancial dos louros alcançados pelo clube no andebol, esta pessoa é sem dúvidas José Cardoso de Lima, ele que desde a primeira hora esteve ligado ao 1.º de Agosto. Como militar respondeu imediatamente ao toque de chamada, quando o capitão Carlos Hendrick da Silva começou a formar a nossa equipa. Esteve, portanto, no primeiro plantel, chagando a trabalhar com Guilherme do Espírito Santo, o primeiro treinador. Quando entre finais de 1978 e princípio de 1979 abriram as escolas, lá esteve ele na pele de treinador dos miúdos, tarefa que exerceu com zelo e competência, algo que é aferido pela qualidade dos atletas saídos das suas mãos (Pedro Godinho é dos maiores exemplos). Ao mesmo tempo continuava a dar o seu contributo à equipa principal na quadra, ajudando-a a conquistar vários títulos. Qual polvo desdobrando-se em múltiplos tentáculos, além de assumir a direcção técnica dos juniores e de capitanear a equipa de seniores na quadra, José Cardoso de Lima viu-se impelido a assumir a coordenação e consequente chefia de departamento em face da ausência de Carlos Hendrick da Silva. Durante algum tempo tomou a peito as três tarefas, desincumbindo-se paulatinamente das duas primeira para ficar apenas com a parte administrativa. Depois de um tempo em comissão de serviço no Ministério da Juventude e Desportos, voltou à casa em finais dos anos 90 para assumir a direcção desportiva e posteriormente outras funções de DG vice-presidente. Em todas as ocasiões foi simplesmente exemplar e um “faz-tudo” a todo o terreno.

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CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

M O D A L I D A D E S 42

A nossa vocação acléctica

A

recomendação deixada pelo antigo ministro da Defesa Iko Carreira, na recepção que se seguiu à fundação do clube a 1 de Agosto de 1977, segundo aqual os presentes (dirigentes e atletas) deveriam fazer do novo emblema o maior clube de Angola foi levada à letra. Por esta razão, embora a grandeza a que se referisse fosse essencialmente do ponto de vista qualitativo, a vertente quantitativa não podia, de modo algum, se posta de parte. Afinal, com os compromissos dos campeonatos regulares do SKDA e das Espartaquíadas Militares da mesma organização, havia toda a necessidade de termos as modalidades constantes dos programas desses eventos internacionais. Em alguns casos atéalargamos o leque de disciplinas para desportos que não integravam nem uma nem outra manifestação, como foram os casos da vela, taekwon-dó e hóquei em patins. Foi apenas a vocação eclética enraizada no “Rio Seco” que ditou o surgimento dessa modalidades entre nós. Por outro lado, a realização em Fevereiro de 1978 da I edição dos Jogos Militares, em Luanda, envolvendo os distintos ramos das Forças Armadas, a Polícia Nacional e organismos Paramilitares foi o catalisador do surgimento de mais modalidades. Depois desse evento, que nos proporcionou a possibilidade de selecionarmos material humano de qualidade – Juvenal Minguito, um dos nossos grandes campeões de atletismo é disso exemplo –, os desportos ditos de salão ganharam outro dinamismo e os respectivos Departamentos empenharam-se para construir a grandeza que ontem, hoje e sempre representaremos. Por isso, depois de destacarmos as principais modalidades (em termos competitivos) em peças separadas, apresentamos este compacto com o historial das mais significativas (existentes ou extintas).

Xadrez

M

ais ou menos pouco depois da fundação do nosso clube os principais jogadores do cenário escaquístico doméstico eram militares, casos dos dois primeiros campeões nacionais, designadamente Mário Sillas (1979) e Agostinho Adão (1980). Havia campeonatos militares regulares e a modalidade que estava bem enraizada em todas a unidades das FAPLA. A competição era fortíssima, pois na mesma participavam não só representantes das missões militares de Cuba e da União Soviética como também cooperantes do Leste europeu, onde o xadrez é uma modalidade com fortes tradições. Curiosamente, diante desse quadro, nessa época o nosso clube não teve xadrez. Mas, como diz a sabedoria popular, antes tarde do que nunca. Em Setembro último o “desporto-ciência” foi finalmente trazido para o nosso seio, sendo a mais nova das 13 disciplinas aqui existentes. Foi pelas mãos de Ericsson


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Soares, Mestre Internacional (MI) e campeão africano de juniores na África do Sul, em 2011, que as nossas portas se abriram para o jogo. O MI, Adérito Pedro é a principal figura pela sua nutrida folha de serviços, onde constam significativos títulos (campeão africano de juniores e pentacampeão nacional) e prestações para lá de positivas na Olimpíada de Xadrez. Completam o grupo de xadrezistas Irineia Gabriel, Engrácia de Jesus, Amorim Agnelo (MI), Carlos Fernandes, Tito Agostinho, David Adão, Giovani Santos, Sérgio Miguel e Vanderson Dias.

Taekwan-dó

J

á lá vão mais de 15 anos que a modalidade instalou-se no nosso clube com o incentivo de Luís Vunge, um antigo praticante e actualmente coordenador da secção. Nesse ínterim a safra foi assombrosa: nada mais nada menos do que 20 títulos, sendo nove nacionais e 11 provinciais, distribuídos em ambas as classes. Formam a equipa de equipa 62 atletas, sendo 24 nos seniores masculinos, 10 nos seniores femininos, 23 nos juniores masculinos e cinco nos juniores femininos. Estefânio Gomes, Osvaldo Francisco e Daicy Malim são os principais “rostos”, com presenças nos Jogos Pan-Africanos e Campeonatos continentais.

Tiro

D

esde a sua fundação o clube teve um pelouro de desportos militares, em obediência às recomendações do SKDA. O mesmo era conformado pelo tiro e triatlo

militar, sendo a coordenação foi consignada ao oficial José de Matos. Embora nos distintos campeonatos e Jogos militares nacionais e internacionais a nossa equipa quase sempre se fez presente, o tiro só surge no 1.º de Agosto com carácter verdadeiramente competitivo em 1994, sendo o introdutor da modalidade o capitão Zeca França, na companhia de Orlando Molar, Baptista Borges entreoutras individualidades; Então melhor atirador do país, Zeca França chegou a ser campeão do SKDA, em representação do CODENM/1.º de Agosto. Ao longo de todos esses anos os principais destaques são Paulo Silva e Érica Andrade. O primeiro conquistouseis títulos nacionais e a segunda detém a coroa de campeão nacional das três últimas temporadas. Para nós, a importância do tiro é tal que na Direcção existe uma vice-presidência liderada pelo comissário Tony Bernardo, ao passo que o Departamento é comandado por Humberto Jorge.

Vela e Pesca Desportiva

P

or força da herança colonial do Clube Náutico Militar, o nosso clube não podia ficar indiferente a este importante segmento do desporto, razão por que na fundação havia um pelouro destinado aos desportos náuticos, cuja coordenação fora confiada ao oficial Rui de Matos. Por isso, logo em 1981 a vela surgiu no 1.º de Agosto, tendo sido extinta muitos anos depois. João Neto, um legítimo filho da Ilha do Cabo e militar da Marinha de Guerra, foi quem tomou em mãos de trabalho a introdução da modalidade no clube. Na sua primeira fase de existência a vela chegou a conquistar um título nacional em 1989, ano em que o país deveria organizar o “Mundial” de Vaurien. Depois de uma prolongada ausência, em 2002 a vela voltou a fazer parte do leque de modalidades praticadas entre as nossas quatro paredes. A coordenação da área dos desportos náuticos está actualmente confiada ao general Cirilo da Conceição “Ita”, o principal incentivador desses desportos no 1.º de Agosto que, com regularidade, participa igualmente nas competições de pesca desportiva que integram o calendário desportivo nacional. 43


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Boxe Militar das FAPLA com o grau de sargento, Aleixo foi o introdutor da modalidade no clube, corria então o ano de 1981. Por esta razão assumiu imediatamente a função de Chefe de Departamento. Nessa vestes, tratou de correr atrás de potenciais lutadores que estavam espalhados um pouco por todos os ginásios de Luanda, com destaque para o do Benfica. E conseguiu muito boa “coisa”, o mesmo que dizer nomes que mais tarde povoariam o universo angolano da nobre arte com incomparável competência. Desse modo, constituíram a primeira equipa nada mais nada menos do que Alberto Mendes Coelho, António Henriques, António Matias, António Manuel, Paulo Neto, Eduardo Pedro, Adão do Nascimento, Franklin Gomes, Pepé de Castro e Mufuca. “Isto” é o melhor que na época se podia ter em matéria de pugilismo. Cedo os resultados começaram a aparecer. Logo no ano de estreia Pepé de Castro (antes de falecer chegou ao grau militar de general) deu uma das primeiras grandes alegrias ao nosso clube, conquistando na cidade do Uíge a “Taça 11 de Novembro”, o mais prestigiado torneio nacional que

integrava o calendário doméstico, além do Campeonato Nacional. Por entre títulos e glórias, um facto marcou para sempre a história do boxe nosso clube: em representação da Selecção Nacional Adão do Nascimento competiu nos Jogos Olímpicos de Seúl’88 na categoria dos 67 Kg. Em épocas distintas, ambos terão sido dos máximos expoentes da modalidade no clube, ao lado de Alberto Mendes Coelho que chegou a acumular as funções de atleta e técnico, orientando a equipa nas edições 1982 e 1983 da “Taça 11 de Novembro”. E como se não bastasse, foi o vencedor da sua categoria. Por dever de justiça, contudo, incluimos entre as principais figuras do boxe do clube o português José Romão, um pasteleiro de profissão devotado ao boxe praticamente desde que abandonou o exército luso ainda nos idos de 1975. Durante anos a fio, mais ou menos entre 1983 até praticamente à extinção damodalidade no clube, ele foi o homem que, fizesse sol ou chuva, aparecia diariamente para dirigir os treinos. Em razão das mudanças que se registaram no país com o advento da democracia pluripartidária e com as reformas económicas, o Departamento de boxe acabou por ser extinto em 1991

Tradição ecléctica do club desportivo 1º de Agosto

M

antendo a sua longeva tradição eclética, o nosso clube é o hoje o maior de Angola, movimentando 13 modalidades, mesmo na maré de dificuldades financeiras que ciclicamente se abatem sobre a nossa sociedade. Nenhum outro clube chega a tanto. Eis o leque: Andebol, Atletismo, Basquetebol, Futebol, Hóquei em Patins, Natação, Pesca Desportiva, Taekwon-Dó, Ténis de Campo, Tiro, Vela, Voleibol e Xadrez

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F

oi, à par do futebol, a primeira modalidade a compor o leque de disciplina que se previa enorme. Começando com um punhado de atletas. A lista era composta por José Saraiva, Octávio Conceição, Rodolfo Nascimento, Fernando Fonseca (actual ministro das Obras Públicas), Marcos Catito, Francisco Domingos, Artur Fonseca e Manuel Simão. Mas rápido a nossa equipa de atletismo cresceu – a olhos visto, diga-se – nos anos subsequentes, o que nos proporcionou um domínio quase absoluto das pistas durante longos anos, traduzidos em vários títulos nacionais por equipas e individuais. Depois do primeiro grupo, seguiram-se outros grandes atletas na segunda vaga que incluía, entre outros Bernardo Manuel, António Andrade, Gualberto Paquete, Ruben Pedro e Orlando Bonifácio. Com a elite do atletismo nacionallográmos participações honrosas na tradicional corrida São Silvestre de Luanda, bem como em

provas internacionais em que os nossos atletas o fizeram em defesa das cores da Selecção Nacional. Vários são até agora detentores de records nacionais (principalmente nas disciplinas técnicas) que duram há já algumasdécadas. Porém, a nota mais sonante do nosso contributo no atletismo são as duas únicas medalhas conquistadas por Angola em campeonatos africanos. Os feitosforam alcançados por António Santos “Toleto” no triplo salto em Annaba (Argélia), em 1988, e por Filomena Silva, no lançamento de disco, em 1983, no Cairo (Egipto), tendo ficado a escasso metro e poucos do record africano. Oprimeiro conseguiu ouro e a segunda bronze. Quem também esteva muito perto do pódio continental foi António Reais, no lançamento de martelo, igualmente em Annaba. Não fosse a “panelinha” dos juízes que o roubaram descaradamente, mais uma medalha teria sido conquistada por um atleta nosso. 45


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Triunfando sempre com vitória

A

natação surgiu no nosso clube no ano de 1985, na sequência de um encontro entre o Ministro da Defesa, Iko Carreira , à época presidente da mesa, o antigo nadador e técnico António Monteiro “Bambino” e a professora alemã Bárbara Hopfener. Sem rodeios, os acertos foram feitos e o acordo selado imediatamente: o clube iria ter a modalidade de natação. Concluído o entendimento, “Bambino” que conhecia bem o mar, foi à “pesca” dos nadadores que iriam servir o clube. E o resultado não podia ter sido melhor! Além do experiente César Ribeiro, foram contratados muitos jovens promissores para erguerem o nome do clube nas piscinas do país e alémfronteiras. Nomes que depois soariam bem alto no universo desportivo nacional integraram o primeiro grupo de nadadores do nosso clube. A curta lista era então completada pelos “manos” Salvador e Adriano João, Hugo Costa, Mário Girão, Jorge Antunes, Elsa Freire, Ana Martins, Márcia Rocha, Carla Fernandes, Nadir Taty, Paula Rocha e Chana Ngongo. António Monteiro “Bambino” ocupou-se da preparação da equipa masculina, ao passo que Joaquim Pestana orientou o conjunto feminino. Não tardou, pois, que os bons resultados

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surgissem e do leque que formou a primeira equipa um nome destacou-se claramente: Elsa Freire, a “sereia” que mandou nas piscinas do país durante longos anos. O seu desempenho foi tão assombroso que em três ocasiões foi galardoada com o troféu “Torre de Ouro”, a distinção anual dada pela SONANGOL, por meio de votação dos jornalistas, ao melhores desportistas (masculinos e femininos). Em 1989, porém, razões financeira determinaram a extinção 48

da natação do conjunto de modalidades praticadas no clube, tendo regressado à casa em 2006. Repousam na nossa recheada galeria de troféus várias taças, fruto da hegemonia sustentada durante o tempo em que a modalidades esteve dentro da nossa casa. Records nacionais, campeonatos nacionais, Taças de Angola e vários “Nadador Completo” foram conquistados pelos nossos atletas, individualmente e por equipas.


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mbora este fosse um dos mais populares desportos praticados em Angola, só oito anos após a fundação é que a modalidade foi introduzida no clube. Durante o seu consulado como presidente do 1.º de Agosto Justino Fernandes entendeu ser importante haver uma secção de hóquei em patins no clube. Por isso, empenhou-se pessoalmente para o efeito e em 1985, após breves rondas negociais com o antigo praticante e técnico Augusto Magalhães, foi aberto o departamento de hóquei em patins, mesmo o clube não tendo um rinke sendo obrigado a usar as instalações do CDUA. Acertados os pormenores, Augusto Magalhães assumiu a equipa como técnico e simultaneamente chefe de departamento de hóquei em patins, dirigindo um curto plantel de 12 jogadores. Entraram para a história como tendo constituído a primeira equipa de hóquei em patins os nomes de

Carlos Alberto, Mingo, Pepe, Luís Miguel, Mano-Mano, Robalo, João Jorge, Tó-Zé Flash, Bernardo Adão, António Miguel, Vito e Kanini. No seu ano de estreia a equipa ergueu a Taça de Angola e dadas as responsabilidades com esse título houve necessidade de se emprestar outro cunho organizativo à modalidade. Assim, dois oficiais da Logístitica das FAPLA, designadamente os capitães Zeca Ferreira e Veiga Soto “Smith” tomaram as rédeas do departamento em 1986, com o que também chegou uma vaga de grandes jogadores, tais como Deslandes Rafael, Mama, Inácio Olim, Zé Araújo, Gil Santos, Julião e Bulica, praticamente a base da selecção nacional. Quase simultaneamente entrou outro quadro administrativo de valia, no caso José Paím. Em consequência, nos anos de 1986 e de 1987 o clube conquistou os seus primeiros títulos de campeão nacional. Em 1991, contudo, a secção foi extinta, tendo ressurgido em 2011. 49


CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

APOSTA NA FORMAÇÃO E INFRA-ESTRUTURAS

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Recuperar a mística do futebol de Agosto, que é um clube de futebol em primeiro lugar. Por ser o futebol a modalidade rainha, achamos que temos de recuperar a nossa mística. Pensamos que só com a melhoria das condições nos treinos e as infra-estruturas para formação teremos êxitos no futebol.

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onhecedor dos cantos da casa, o general Carlos Hendrick da Silva festeja o primeiro aniversário à frente dos destinos do nosso clube, que assinala 35 anos de existência. Distinguido pela excelência do seu trabalho na restruturação do andebol, o presidente agostino aposta neste capital de experiência acumulada para resgatar a mística do futebol, através do investimento na descoberta eformação de talentos, bem como nas infra-estruturas. A contratação de RomeuFilemon e a construção da academia do clube constituem as bases da estratégia traçada para o regresso às conquistas sustentadas no desporto rei, como explica em entrevista o nosso presidente. Revista D'Agosto (RD) - O senhor é associado ao salto que o andebol deu no clube, sobretudo no capítulo das infra-estruturas e da melhoria do nível dos técnicos das camadas de formação. Como aplicar esta experiência de trabalho no futebol, onde se exige a conquista de títulos? Carlos Hendrick da Silva - Primeiro é importante sublinhar que se o futebol não ganha, todas as outras vitórias alcançadas noutras modalidades acabam ofuscadas. É exactamente este quadro que queremos mudar, pois não é normal para o 1

RD - É esta a divisa do seu elenco nesse início de mandato? CHS - Pegámos imediatamente nas questão das infra-estruturas. Mandámos construir dois campos para a formação. Um no Quartel das Transmissões, ondetrabalham as nossas camadas jovens, e outro nas instalações da Polícia Militar, que baptizámos com os nomes de dois ícones da modalidade no clube: Nicola Berardinelli e Ndungidi Daniel. Aí daremos continuidade à formação, em melhores condições. RD - A melhoria da formação e o resgate da mística passa apenas pela construção de campos? CHS - De forma alguma! Também levamos em consideração a elevação do nível de conhecimento científico dos treinadores, sobretudo na formação. Neste momento temos já a trabalhar no clube um técnico oriundo da antiga Jugoslávia, que orientava equipas da primeira divisão no seu país. De igual modo, está para chegar, nos próximos dias, um treinador das escolas do FC Barcelona. RD - Isso implica abrir mão dos técnicos que têm na formação? CHS - Não. Vamos promover cursos, de modo a elevarem o seu nível de conhecimento para depois auxiliarem os formadores. Defendemos a formação deatletas por quadros competentes e não o empirismo. Contamos ainda neste projecto da nossa academia com os serviços dos técnicos Manuel Garrido e Wilson Rodrigues, quadro com passagem pelo Belenenses de Portugal.


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RD - Quais os objectivos da direcção com esta aposta na formação, quando os nossos sócios e os exigentes adeptos pedem títulos? CHS - Primeiro é importante dizer que não estamos apenas preocupados com o desportista, mas antes de tudo com o homem. Isso é algo que já começámos a fazer há dez anos, mais concretamente no andebol. Além da componente desportiva, olhamos também para a formação académica do atleta. É esta experiência que estamos a levar para o futebol e que depois vamos passar para o basquetebol. RD - Que condições estão criadas na academia do clube além dos campos? CHS - Na nossa academia o atleta não vai se ocupar apenas com o futebol. Pela experiência que tivemos no andebol, pretendemos ter um colégio na academia e uma creche, para rentabilizar. Provavelmente os meninos que forem lá parar serão atletas do clube no futuro. Não estamos a pensar simplesmente no nosso mandato, mas sim nas gerações vindouras. RD - Estão criadas as condições para o arranque da nossa academia? CHS - Numa primeira fase a academia vai arrancar com os jogadores que estão actualmente na nossa formação. Vamos criar turmas. Quem treinar de manhã vai assistir às aulas à tarde e vice-versa. Vamos primeiro construir o edifício e depois contactar o Ministério da Educação para tratar dos planos curriculares. RD - A aposta na formação pode ser entendida como preocupação com o alargamento da base da nossa pirâmide desportiva? CHS - É exactamente isto. A pirâmide desportiva no nosso país é atípica. Em muitos casos encontramos mais jogadores no topo do que na base. Já apresentámos esta preocupação a várias federações, em particular à de andebol, onde o nosso clube participa com duas equipas de juvenis, isto mesmo na perspectiva de alargar a base. RD - A contratação de Romeu Filemon é apenas para fazer formação? CHS - Actualmente temos melhores condições financeiras

"Primeiro é importante dizer que não estamos apenas preocupados com o desportista, mas antes de tudo com o homem. Isso é algo que já começámos a fazer há dez anos, mais concretamente no andebol" para melhorar o projecto desportivo do clube. Tivemos um longo período de instabilidade no país, onde os recursos eram mais canalizados para acções de manutenção, isto para que o clube não desaparecesse. Foi preciso um grande esforço financeiro para que nos mantivéssemos nos lugares cimeiros em todas as modalidades. Sóagora temos maior desafogo, por isso apostamos na melhoria das infra-estruturas. RD - Quer dizer que o nosso treinador tem um ano de graça? CHS - O nosso clube é de topo. Sabemos que é difícil ganhar sempre, porque os outros clubes também querem ser campeões. Mas estamos a criar condições para que o clube possa competir com estabilidade. Queremos primeiro estruturar oclube, inclusive a nível da direcção e os seus departamentos, por forma a tornar-se forte e independente dos recursos financeiros das Forças Armadas. A campanha que nos possibilitou mobilizar cerca de 100 mil sócios, entre militares e civis, todos com quotas pagas, é um exemplo disto. É importante criar uma estrutura forte que dê suporte a todas as modalidades praticadas no clube. Doutro jeito não estaremos a fazer nada. RD - A equipa de futebol foi rejuvenescida, o que é pouco habitual no clube que olha directamente para as conquistas. CHS - Quisemos mudar o cariz do anos anteriores. Preferimos não ir a busca de jogadores com grandes experiência e curta margem de progressão. Apostámos num treinador jovem, com largo conhecimento do futebol. Hoje vemos que já temos resultados palpáveis. A equipa pratica um futebol mais apelativo. Os nossosadeptos gostam de ver a equipa jogar e nos incentivam. 51


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"A campanha que nos possibilitou mobilizar cerca de 100 mil sócios, entre militares e civis, todos com quotas pagas, é um exemplo disto. ."

Eclectismo sustenta multidão de adeptos

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om mais de seis centenas de atletas controlados, em 12 modalidades, somos o clube mais representativo do desporto nacional. Apenas o futebol e o hóquei em patins não são praticados por atletas de ambos os sexos. Este eclectismo sem distinção de género sustenta a multidão de adeptos e simpatizantes que temos espalhados por Angola. RD - Tem domínio do número de praticantes controlados pelo clube? CHS - Temos mais de 600 atletas controlados, em 12 modalidades. Isto representa um grande esforço financeiro, mas não estamos arrependidos por isso. O 1 de Agosto não pode deixar de ter este peso no desporto angolano. É um clube suportado pelas Forças Armadas, por isso tem o dever de manter o desporto nacional em alto nível. Esta política leva-nos a granjear muita simpatia junto da sociedade, de tal modo que temos muitos adeptos espalhados pelo país. Estimamos que neste momento somos por volta de dois milhões de angolanos identificados com o 1 de Agosto. RD - Já pensou a direcção em encomendar um estudo para saber com base em dados científicos quantos somos na grande família agostina? CHS - Muito recentemente fomos aconselhados por um jornalista e analista desportivo a fazer isso. Vamos ver se reunimos meios para com o concurso de uma empresa 52

especializada no ramo fazer este estudo. Estamos a trabalhar para que dos nossos dois milhões de adeptos possamos mobilizar 500 mil sócios a fim de ajudarem o clube a crescer. O 1 de Agosto só existe como clube grande por ter muitos sócios e muitos adeptos. RD - Se o Estado retirasse amanhã o suporte que presta ao desporto, o nosso clube sobreviveria? CHS - Se isso acontecesse agora, acho que o desporto morreria e o 1 de Agosto seria o único sobrevivente ( risos). Com o número de adeptos que temos transformados em sócios, o 1 de Agosto seria capaz de sobreviver. Queremos ter sócios em número suficiente para deixarmos de depender directamente das Forças Armadas. RD - Mas nos jogos em Luanda os campos estão quase sempre vazios... CHS - É verdade. O público deixou de ir aos campos. Prefere acompanhar os jogos do Barcelona e do Benfica de Lisboa, pela televisão. Muito recentemente o TP Mazembe do Congo Democrático esteve no Mundial de Clubes, no Japão. Porque não nós, quando até já jogámos uma final africana? Estamos a trabalhar com este propósito. Queremos reforçar a marca 1 de Agosto através das vitórias. RD - Acha que o clube tem necessidade de construir o seu estádio? CHS - Porque não? Pensamos ainda este ano lançar a primeira pedra para a construção do nosso estádio. Temos o espaço para edificar esta infra-estrutura. A localização a seu tempo os nossos amados sócios e adeptos saberão. Vamos apostar num recinto de 20 mil lugares. Aí teremos sempre grandes assistências. RD - Que mensagem deixa para os nossos sócios e adeptos, por ocasião dos 35 anos do clube? CHS - Deixo uma mensagem de esperança. Faço um apelo para que não esmoreçam diante de alguns desaires da nossa equipa de futebol. Em vez disso, peço que nos ajudem a crescer. Que contribuam para que tornemos o nosso clube forte. Um clube só é forte quando financeiramente está bem. Os nossos sócios e adeptos são disciplinados, apesar de alguns casos isolados de indisciplina de indivíduos menos tolerantes.


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"Estimamos que neste momento somos por volta de dois milhões de angolanos identificados com o 1 de Agosto"

PERFIL DO PRESIDENTE General Carlos Hendrick Da Silva

Um guerrilheiro do desporto Nascido numa família de exímios desportistas, em 1948, Carlos Hendrick da Silva tem no seu percurso marcas de uma vida intensa na prática de várias modalidades, com

realce para o andebol, basquetebol e futebol, onde se destacou sempre como guarda- redes, sem no entanto atingir a alta competição. Teve a sorte, segundo conta, de ir aprender a jogar andebol em Portugal, em companhia do seu falecido irmão gémeo, em 1962/63. Um aprendizado feito em terras lusas na escola Francisco de Arruda e no Bora FC, em Alcântara. Comoestudante do ciclo preparatório das escolas industriais, defendeu as redes dos juniores do Sporting de Benguela. Na terra das acácias rubras jogou ainda basquetebol, no clube leonino, antes da mudança em 1964/65 para a cidade de Moçâmedes, hoje Namibe, onde actuou como guardaredes, no Benfica local. Por arrasto, dá-se o regresso à prática do andebol nos campeonatos da Mocidade Portuguesa.

Com o regresso a Luanda em 1967, ingressou no Colube Desportivo Universitário de Angola (CDUA), praticando durante uma época basquetebol. Um ano antes é convocado para representar a Selecção Nacional da Mocidade Portuguesa nos Jogos Internacionais da Fisec, na Áustria. Mas não se fez presente. A chamada para o cumprimento obrigatório do serviço militar no exército português frustrou o sonho do desportista que aspirava fazer uma carreira brilhante. Já na guerrilha, envolvido na Luta Armada de Libertação Nacional, sob a liderança do MPLA, na 2a Região Militar, jogou algumas vezes futebol. O 25 de Abril de 1974 trouxe os ventos da liberdade e tempo para o guerrilheiro do desporto praticar modalidades como andebol e basquetebol, atítulo recreativo, até partir em 1976 para uma formação académica militar na ex-União Soviética. Depois do regresso volvidos dois anos, foi colocado no EstadoMaior General como chefe da Direcção de Artilharia. A partir daí passa a coordenar o andebol no Comité Desportivo Militar (CODENM), presidido pelo general França Ndalu. O pelouro da Defesa era tutelado pelo general Iko Carreira. Os alto comandos das Forças Armadas eram os responsáveis pelas modalidades, caso do comandante Orlog, no futebol, e o major Leal Monteiro Ngongo, no basquetebol. Assim começou a sua vivência no 1 de Agosto.

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CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

SANTOS DA CASA QUE FIZERAM MILAGRES...

S Homens que ajudaram a A D N T O S DA C A S A iz a sabedoria popular que santos da casa não fazem milagres. Contudo, a história auricolor do nosso clube contraria cabalmente esse adágio, pois foram muitos os “santos” da nossa “casa” que fizeram verdadeiros “milagres”. Grande parte deles foi formada no clube e outros chegaram à nossa casa ainda muito jovens, concluindo entre as nossas quatro paredes o respectivo processo de formação Ndungidi Daniel (Futebol)

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e também destacando-se com as incontornáveis cores vermelha e preta. Nas páginas que se seguem listamos um punhado de atletas e dirigentes que deram o melhor de si para construir a brilhante história do Clube Desportivo 1.º de Agosto. Obviamente que, por mais rigorosos que sejam os critérios dessa “selecção”, a subjectividade é um elemento que estará sempre presente. Contudo, tentamos ser o mais justos possíveis na

elaboração desta selecta lista que,sabemos, estará longe de agradar a gregos e troianos na imensurável “Nação Rubro-Negra”. No Editorial, o general Carlos Hendrick da Silva, presidente de Direcção 1.º de Agosto, destaca que este não é um trabalho definitivo sobre a vida do nosso clube. Antes, é o início de um desafio a que nos propusemos para escrever, nos próximos tempos, uma história mais abrangente do clube.


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a construir a nossa história Fez a sua formação como futebolista ainda na época colonial nas Escolas de Fernando Peyroteo e esteve praticamente de malas afiveladas para ingressar no profissionalismo em Portugal, quando se deu a Independência Nacional. Pouco antes e alguns anos depois1975 representou o FC Luanda, com o nome de guerra de Pelé. Mas foi no 1.º de Agosto em que conheceu a notoriedade e Ndungidi (não mais o Pelé do Luanda) revelou-se com o maior futebolista angolano do período pós-independência. Fez a sua estreia a 12 de Novembro de 1977 numa partida em que a nossa equipa defrontou e empatou no Estádio dos Coqueiros, em Luanda, com a Selecção de Luanda a dois golos. O técnico Eduardo dos Santos Macedo viu nele um jogador prodigioso e achou-o imprescindível para o plantel, onde se impôs sem dificuldades graças ao seu enorme engenho. Dono de portentoso remate e de dribles desconcertantes, fez da ala direita do nosso ataque o seu “feudo”, onde qualquer oponente por mais bom que fosse transformava-se em mero vassalo. Com as nossas cores ganhou os três primeiros títulos nacionais (de 1979 a 1981) do clube e outros que se seguiram, tanto no “Girabola” como na Taça de Angola. Este na equipa que se estreou nas “Afrotaças” defrontando o temível campeão camaronês e africano Canon de Yaoundé, tendo deixado os adversários de sentido, mesmo perdendo a eliminatória. De tão extraordinárias as suas qualidades, sempre que ao país aportassem formações portuguesas, Ndungidi era motivo de descarada cobiça. Foi assim em 1979 quando veio a equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal e em 1988, quando veio o Benfica de Lisboa. Então, o sistema político que defendia o puro amadorismo no desporto não permitiu que o “eterno” camisola 7 desse o salto para o profissionalismo. Mas, com as cores vermelha e preta Ndungidi não brilhou apenas dentro das quatro linhas. Fê-lo também no banco como técnico, sendo o único que serviu o clube a

alcançar uma final das “Afrotaças” em 1998, quando com os seus “meninos” encantou o país e o continente com a qualidade cristalina do futebol apresentado pela equipa que ele montou. É na nossa história o terceiro a sgrar-se campeão como jogador e técnico, algo que aconteceu apenas com Nicola e Dinis. Por isso, no 1.º de Agosto ele é e será sempre eterno. Paulo Bunze (Andebol) Iniciou no andebol no nosso clube aos 16 anos, deixando para trás uma prometedora carreira de futebolista no Clube Ferroviário de Angola, onde estava por causa da proximidade da sua casa na Rua Mota Feo. No 1.º de Agosto, onde chegou apenas para “divertir-se”, já que apostava todas as suas fichas no futebol, chegou viu e venceu, depois de nos primeiros treinos ter apresentado qualidades excepcionais para a prática da modalidade. José Cardoso Lima, actual SG da FAF e um dos fundadores da equipa de andebol, considerou -o um verdadeiro fenómeno. “Foi para o andebol quando era um excelente futebolista. Não foi fácil retirá-lo do futebol para o andebol quando jogava. Nas brincadeiras do andebol decidimos que jogasse um bocadinho e apresentou qualidades excepcionais.” Com a camisola do nosso clube ganhou tudo que podia ganhar

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$-6#& %&41035*70 %& "(0450 t SANTOS DA CASA

(campeonatos nacionais e Taça de Angola) e chegou uma vez ao pódio africano de clubes, ocupando o 3.º lugar no campeonato disputado em 1986, em Libreville (Gabão). O seu talento em campo e a entrega ao jogo fizeram dele o maior jogador angolano de todos os tempos. Como consequência natural integrou várias vezes a selecçãonacional e, em 1988, como o seu andebol era grande demais para a nossa pequena galáxia angolana transferiu-se para o Benfica de Portugal, tendo posteriormente representado também o Belenenses luso. Morreu aos 41 anos vítima de doença já nas vestes de treinador da equipa masculina e o seu contributo para o andebol nacional teve o merecido preito: o “baptizado” da Super Taça com o seu nome. Nada mais justo para um homem que ao andebol e ao 1.º de Agosto deu tudo. Jean-Jacques da Conceição (Basquetebol) O melhor basquetebolista angolano de todos os tempos e um dos melhores de África é produto do aturado labor dos nossos “laboratórios”. Foi no “Quintalão” do Rio Seco onde aprendeu o bê-á-bá do basquetebol, ainda muito novo, quando estudava na Escola Preparatória Augusto Ngangula e contava 15 anos de idade. Tão logo o técnico Victorino Cunha o viu, chamou-o imediatamente para trabalhar com a equipa se seniores, 56

tais eram as suas qualidades como jogador da posição 5, sector em que a “bola ao cesto” nacional enferma(va) de enormes carências por força da morfologia menos generosa do jogador angolano. Com paciência e a meticulosidade que se lhe conhece Victorino Cunha lapidou até à perfeição o diamante bruto que era Jean-Jacques da Conceição, um processo demorado em virtude do seu início relativamente tardio no basquetebol. Ainda assim e mesmo em processo de formação, aos 17 anos o “número 15” já estava na


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equipa principal, tornando-se titular absoluto logo à partida. Destacando-se entre os demais, mesmo daqueles que já encontrou e que traziam a experiência do período colonial, Jean-Jacques da Conceição foi rei e senhor debaixo das tabelas. Em diversas ocasiões representou a selecção nacional, vestiu também a camisola da Selecção de África em 1985 e com as cores do nosso clube conquistou vários títulos de campeão nacional e da Taça da Taça de Angola, além da Super Taça. Apesar de produto legítimo das nossas Escolas, o seu talento não cabia mais no universo desportivo angolano, razão por que em 1986 rumou para o exterior, onde fez longa carreira até aos 40 anos, passando por Portugal, Espanha e França.

Edgar Martins (voleibol) Iniciou a carreira na equipa do instituto Médio Makarenko

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CLUBE DESPORTIVO 1º DE AGOSTO

E S T R E L A S DE H O J E 58

Miguel Lutonda | Posição: Base | Peso: 85 Kg | Altura 1.88 | Inicio da Pratica: 1985

Nacissela Mauriço | Posição: Extrema Peso: 76 kg | Altura: 1.88

Joaquim Gomes Kikas | Posição: Poste Peso: 1.06 kg | Altura: 2


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Giovany Muachissenqe | Posição: Quarda redes Peso: 93 kg | Altura: 1.85 Maria Odeth Tavares | Posição: Quarda redes Peso: 65 kg | Altura: 1,70 José Julião Cardoso "Zé das Boatas" Peso: 63KG | Altura: 1,74 | Posição: Médio avançado

Belchior Kamuanga “ Show Baby” Posição: ponta direito | Peso: 70 kg | Altura: 1.77

Sara Cunga | Posição: passadora Peso:66Kg | Altura: 1,65

João Carlos da Silva Paquete Aguiar Peso: 83 kg | Altura: 1,83 | Idade: 28 anos 59


CLUBE DESPORTIVO 1ยบ DE AGOSTO

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