Ponto de Fuga

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ponto de fuga Casa das Histórias Paula Rego Nova Museologia

As Configurações Pétreas de Rudy Ricciotti Arquitectura Contemporânea

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SUMÁRIO

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As Configurações Pétreas de Rudy Ricciotti Arquitectura Contemporânea

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Casa das Histórias Paula Rego Nova Museologia

As Configurações Pétreas de Rudy Ricciotti Arquitectura Contemporânea


Casa das Hist贸rias Paula Rego No Mundo Prodigioso

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Nova Museologia,

Personagens de fábula em contorções inusitadas; figuras que expõem tramas e enredos, mas que simultaneamente escondem segredos, emoções, sonhos e pesadelos; formas dramáticas, marcadas pela violência contraditória da solidão e da convivência; mulheres em crónicas do quotidiano; meninas em revolta, em subversão; meninas sabedoras de esconderijos onde moram duendes e espíritos malignos; meninas-mulheres, misto de inocência e perversidade; figuras grotescas, exibindo, impudicas, seus corpos compactos; danças e rodopios de imagens densas, em jogos de luz e sombra; criaturas habitantes de um mundo fantástico, eco daquelas que povoam o imaginário infantil, os contos tradicionais, as lendas, os mitos –, o universo pictórico de Paula Rego dá cor a mil histórias que, baseadas nas narrativas contadas às crianças, se abrem em infinitas interpretações e leituras.

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Mas nas histórias de Paula Rego nenhum príncipe vem, no seu cavalo branco, salvar a indefesa princesa de cabelo de ouro e longas tranças; nenhum beijo apaixonado de um nobre mancebo acorda a menina adormecida; nenhum sapo se transforma em enamorado infante – nos contos pictóricos de Paula Rego, os sapos são sempre sapos;

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os príncipes estão desaparecidos; as princesas preferem os sapos aos príncipes e as meninas conhecem o coração das trevas. É numa estrutura de betão pigmentado a vermelho, onde se erguem dois volumes prismáticos em forma de torre, farol, chaminé ou silo, que se guardam e se expõem as múltiplas ficções criadas pela pintora reconhecida internacionalmente pelo seu imaginário prodigioso. Projecto arquitectónico assinado por Eduardo Souto de Moura, a Casa das Histórias Paula Rego, localizada em Cascais, elevase num terreno que se estende na horizontalidade do verde, pontuado, aqui e ali, pelas figuras verticais e esguias das árvores. No interior do edifício, distribuído por quatro alas subdivididas em salas sequenciais,

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dispostas em torno de um volume central mais elevado, que corresponde à sala de exposições temporárias, exibe-se, em sistema rotativo, a colecção do museu – um extraordinário conjunto de obras de pintura, desenho e gravura de Paula Rego, em diversos suportes e técnicas, que abrangem cerca de 50 anos do percurso artístico da pintora. Trabalhos pictóricos de autoria de Victor Willing, falecido marido da artista, integram igualmente a colecção da Casa das Histórias, cujo estabelecimento do acervo se deve à doação de Paula Rego da totalidade da sua obra gravada, de 278 desenhos praticamente inéditos, e ao empréstimo de várias pinturas, desenhos e estudos preparatórios de figura e composição.


Nos 750 m2 de área consagrados à exposição permanente e a duas exibições temporárias anuais, e no restante espaço do museu, composto por uma loja, por uma cafetaria com esplanada aberta para um frondoso jardim e por um auditório com 200 lugares, descobremse as fabulosas narrativas pictóricas visionadas por Paula Rego, porque, como se lê na frase de sua autoria impressa numa das paredes do museu, «É na história que eu coloco toda a minha vitalidade». Texto: Paula Monteiro Fotografias: FG + SG – Fotografia de Arquitectura

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As Configurações Pétreas de Rudy Ricciotti

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Arquitectura Contemporânea, Corpo longilíneo incrustado num rochedo, do qual comunga a forma, a casa projectada pelo atelier de Rudy Ricciotti e com arquitectura de interiores da Marchi Architectes, inscreve-se na paisagem da Provença como uma construção integradora do espaço natural que a envolve.

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É na região francesa de Var, famosa pelos seus 300 quilómetros de linha costeira, pelo clima ameno e pelo impressivo cenário, onde convivem a linha horizontal do Mar Mediterrâneo com as ondulações dos vales e das colinas e com os cumes verticais das montanhas e das árvores que povoam as florestas, que se localiza o pequeno município de Bandol. Conhecido pela qualidade das vinhas, pelo porto marítimo e pela animada marina, Bandol é uma importante estância balnear: alguns dos seus mais famosos visitantes foram Thomas Mann, Aldous Huxley e Marcel Pagnol, que aqui procuraram e encontraram inspiração para as suas obras literárias ou descobriram o repouso nas praias de areais dourados e águas cálidas. Localizado entre Marselha e Toulon, envolto em montes e penhascos, Bandol acolhe todos

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os anos múltiplos turistas que aqui acorrem em demanda da segurança das praias, dos diversos desportos náuticos e de um passeio por barco às encantadoras ilhas Bendor, Embiez e Cassis. É neste panorama idílico, numa colina que lança as suas vistas sobre Bandol, que se ergue a Casa criada por Rudy Ricciotti, uma das figuras mais criativas da recente arquitectura francesa pela exploração de vias conceptuais que cruzam esta arte e técnica com outros campos da cultura contemporânea. Habitação particular, a Casa em Bandol está construída sobre uma rocha e desenvolve-se num volume rectangular de três pisos que se enredam uns nos outros, num intrincado conjunto de áreas que mimetizam e acompanham a configuração da pedra que a envolve. Uma piscina de 30 metros, situada ao longo da fachada do


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nível superior, possuidora de grandes aberturas, assemelha-se a um grande aquário e oferece uma vista do mar e do nível intermédio do interior da casa. Nesta parcela da habitação, os movimentos da água da piscina e as evoluções dos banhistas que nela se refrescam são, assim, visíveis, tornando a água e a luz por ela coadas elementos omnipresentes na Casa. O design interior, concebido pelo atelier parisiense Marchi Architectes (laureado este ano no concurso «Nouveaux Albums de la Jeune Architecture»), transforma a rocha suporte da habitação em sua parte integrante, adaptando-a a diversas funções. Reaparecendo em forma de esculturas de madeira, a pedra é perceptível em todos os níveis da Casa. Todas as funções dos espaços interiores são geridas por paredes revestidas em madeira maciça compostas por ripas para-

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lelas que se unem umas às outras: cerca de 1700 módulos de três comprimentos distintos distribuem-se pelos três pisos da habitação e incluem armários, mesas, camas, um escritório, um ecrã de televisão, casas de banho e «mini-cozinhas». A forma da rocha está patente nas nuances da montagem das ripas. Texto de Paula Monteiro Fotografias de FG + SG – Fotografia de Arquitectura

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