Neil gaiman o mistério da estrela stardust

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instigou a fazer “bééé” baixinho sempre que Tristran passava. Louisa era uma instigadora nata e costumava dançar em volta do irmão. A escola do lugarejo era muito boa. E, sob a orientação da Sra. Cherry, a professora, Tristran Thorn aprendeu tudo sobre frações, latitude e longitude. Ele sabia perguntar em francês pela caneta da tia do jardineiro; e na realidade pela caneta da sua própria tia. Aprendeu os nomes dos reis e das rainhas da Inglaterra desde Guilherme, o Conquistador, em 1066, até Vitória, em 1837. Aprendeu a ler e tinha uma bela caligrafia floreada. Eram raros os viajantes que chegavam ao lugarejo, mas de vez em quando um mascate passava por ali vendendo livros baratíssimos, relatos de assassinatos medonhos, encontros fatais, feitos horrendos e escapadas extraordinárias. A maioria dos mascates vendia partituras, duas por um pêni, e as famílias costumavam comprá-las e se reunir em torno do piano para cantar melodias como “Cherry Ripe” e “In My Father’s Garden”. E assim iam passando os dias, as semanas. E também os anos se passaram. Aos catorze anos de idade, por um processo de osmose, de piadas indecentes, segredos murmurados e músicas obscenas, Tristran descobriu o sexo. Quando estava com quinze anos, machucou o braço ao cair da macieira no quintal da casa do Sr. Forester, mais especificamente da macieira diante da janela do quarto da srta. Victoria Forester. Para tristeza sua, Tristran não viu mais do que um vislumbre cor-de-rosa e torturante de Victoria, que era da idade da irmã dele e, sem a menor dú-


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