02 o demónio branco

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algum dia alguém descobrir que eu tinha sido a involuntária causadora da sua morte. A imagem vívida do seu corpo despedaçado queimou-me a mente. Decidi voltar a minha concentração para os telefonemas e para o meu trabalho. Antes de descer para me ir embora, parei na casa de banho para retocar a maquilhagem. Felizmente, naquele dia estava mais calma em relação às perigosas lembranças que teimavam atacar-me. E até estava com fome, o que não era nada normal. Abri a minha mala e, quando levantei a cabeça para o espelho, gritei, assustada, ao ver um homem encostado a um dos cubículos. Virei-me, mas não estava ninguém. Voltei a olhar para o espelho e só então é que percebi com clareza que quem pensara ter visto fora... Sebastian! Saí dali a correr com a minha cabeça num turbilhão de pensamentos e medos. A loucura estava a regressar. Ou então estava com uma profunda depressão. Ou então (e eu sabia que era possível porque tinha visto coisas mais estranhas no ano passado) o fantasma dele tinha mesmo voltado para me atormentar. Minutos depois, quando entrei no metro, já mais calma, tentei arranjar um cantinho sossegado no meio das sardinhas que se amontoavam naquela lata. Encostei a cabeça à janela enquanto olhava para a escuridão que passava a alta velocidade lá fora. Um comboio passou por nós na direcção contrária. Tive um breve vislumbre de um homem que me fixava de lá de dentro. Foi uma fracção de segundo, mas o suficiente para perceber que era Sebastian ou um cruel desvairo dele. Saí a correr na minha estação de metro e o frio contrastante que estava na rua nem sequer me afectou. Muito menos as habituais discussões

dos

chineses

no

restaurante

por

baixo

do

meu

apartamento. Subi as escadas, enfiei as chaves na porta ainda a 39


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