02 o demónio branco

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– Ele continua infiltrado no grupo terrorista do Iraque. Se tudo correr bem, vai conseguir incentivá-los a explodir uma bomba na Embaixada britânica. Agora, se me permite, vou para o meu quarto. – Elena saiu da cabina e flutuou no seu vestido branco até à outra extremidade do barco. Que conversa era aquela de explosões no Iraque?! Como era possível Riddel manter contacto com Merovingian na Terra e estar envolvida em acções tão... terrestres? Algo de errado se passava ali. Sentia que estava a presenciar algo maior e mais grave do que simplesmente a tentativa de uma mulher poderosa para governar Orbias. O meu coração batia com tanta vivacidade que via o meu peito a latejar. Fiquei com um súbito temor de estar tão perto dela. Porém, um impulso sádico de permanecer ali e espiá-la a sofrer apoderou-se da minha razão. O disco no gramofone chegou ao fim, criando uma chiadeira arrepiante. Riddel levantou-se e pô-lo a tocar desde o início. A trágica melodia voltou a inundar a cabina de nostalgia. Ela remexeu nos vários quadros de si que por ali havia e tirou um especial. Era o quadro de um homem, uma pintura de Sebastian. A sua beleza e jovialidade estavam intactas, apesar do vestuário ao estilo da época: camisa branca abotoada, laço e colete pretos e risco ao lado no cabelo castanho. O pintor tinha captado na perfeição a intensidade dos seus olhos negros. Riddel olhava para a imagem de forma estranha. Uma mistura de dor e ternura. Nem parecia ela, tal era a profundidade das emoções que lhe passavam pela face. De repente, o seu corpo gelado derreteu e a Riddel humana voltou a aparecer perante os meus olhos, passado tanto tempo. Ela chorava enquanto olhava para a imagem de Sebastian. Pela primeira vez, e apesar das suas emoções serem 215


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