Dança, história, ensino e pesquisa danse, histoire, formation, recherche

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Aproveito o canto funerário citado pelo historiador Mircea Eliade em sua obra Mito e realidade para iniciar uma reflexão que, no eco dos versos de uma tribo de algum ponto do planeta, procura levantar algumas questões sobre a pesquisa historiográfica, especialmente no que se refere à pesquisa em dança. Talvez a paixão do bailarino, aliada a curiosidade e senso crítico na minha carreira jornalística tenham forjado o interesse pela pesquisa relativa às origens da dança em minha cidade. Impulsionado pelo incômodo de, no início dos anos 1990, ignorar as origens da dança na cidade onde eu atuava, Porto Alegre, iniciei numa jornada pessoal, a buscar mais referências sobre o tema. Logo no princípio uma evidência: a bibliografia de história da dança disponível naquele período era limitada ou inexistente no que se referisse à dança no Rio Grande do Sul. Autores brasileiros que escreveram sobre a dança nacional, traziam reduzidas informações ou nem mencionavam informações sobre o começo da dança teatral1 no Rio Grande do Sul. Eduardo Sucena, em seu A dança teatral no Brasil, trazia pouco mais de uma página dedicada ao tema, mencionando o Instituto de Cultura Física, Lya Bastian Meyer e Tony Petzhold, além de alguns outros nomes atuantes no período. Antonio José Faro, em A dança no Brasil e seus construtores, não trazia qualquer referência à dança teatral gaúcha na sua gênese. Ida Vicenza, em Dança no Brasil, tratava do tema em apenas um parágrafo dedicado a Lya Bastian Meyer. Eliana Caminada, em História da dança — evolução cultural, citava de passagem Tony Seitz Petzhold. Maribel Portinari, em História da dança, não trazia nenhuma informação. Já um breve capítulo de Paulo Antônio Moritz, em O Theatro São Pedro na vida cultural do Rio Grande do Sul, completava a bibliografia disponível sobre o tema, onde dados mais consistentes se apresentavam, especialmente sobre o Instituto de Cultura Física, Lya Bastian Meyer e Tony Seitz Petzhold. Material quantitativamente maior eu pude encontrar em Origem, evolução e características da dança em Porto Alegre. O estudo, na época ainda não publicado, foi o primeiro passo na direção de um levantamento mais abrangente sobre a história da dança, organizado pelas

1 Dança teatral, designada também por dança cênica, é toda aquela “que tem finalidade prioritariamente estética, e que, por isso, implica algumas condições, entre elas, formação, profissionalização e público” (Marques, 2001, p. 163). Portanto, envolvendo mudanças significativas como a utilização de espaços específicos de realização e/ou apresentação, bem como pelas transformações nos modos e procedimentos de ensino, bem como de consumo / fruição. E no que se refere à produção uma dança teatral em Porto Alegre, me referirei às danças de matrizes modernas e baléticas originadas nas décadas de 1920 e 1930, ainda que reconheça a existência anteriormente de danças produzidas em shows de variedade apresentados em cinemas (ou cine-teatros), circos ou salas de espetáculo modestas e improvisadas, como registradas por Ferreira (1956). Essas novas matrizes ganham um novo e legitimado circuito cultural, especialmente vinculados à vida cultural do Theatro São Pedro.

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