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Athos Ronaldo Miralha da Cunha - Santa Maria/RS
Maragato em noites de prata
Athos Ronaldo Miralha da Cunha - Santa Maria/RS
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O meu chimarrão é virado Com a cuia xucra dos dias Num domingo de ventania O meu churrasco é salgado E o coração mal-domado Porque esta rima é incerta E um clarim me desperta Nessa querência pampeana Eu levo a vida aragana Numa porteira entreaberta
Trago verdades feridas E um longo aceno perdido Na manhã de um jardim florido E com a rosa vermelha parida Deixei a boina basca puída Porque eu vivo num tranco E dando murro em barranco Eu perdi o encanto criança Porque a minha vida balança Peleando no ferro branco
Eu sou um taura veterano No tempo que se esvai no mate O meu coração escarlate Vagueia no mundo mundano Varando várzeas, planuras e anos Eu sempre fiz o mesmo braseiro Para o chimarrão bem campeiro Com o verde dos olhos dela E um ventito fecha a cancela Num facho de luar pampeiro
Levando a alma lavada Nos riachos da primavera Assobiando uma quimera Diante da correnteza enluarada E os olhos meigos da amada Surgem na noite dolente Encharcando a minha vertente Porque fazem falta para mim Um dia vai ser o meu fim As dores que trago presente
O meu lenço é maragato Desde os tempos dos avós Este panuelo é minha voz Quando faço esse relato Da minha essência vida de fato Que o silêncio maltrata Deixando a vida pacata Nessa imensa pampa baguala No aconchego rubro do pala Recuerdos em noites de prata
E roda o meu universo Nas voltas que o mundo vive Muitas saudades eu tive Pra cantar o último verso Assim eu me despeço E liberto a minha agonia Trocando a noite por dia Na campanha rumo solito Cruzando o pago infinito E enchendo a vida vazia.