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Hélio Batista Barboza - São Paulo/SP
LEITURA DA MÃO
Hélio Batista Barboza - São Paulo/SP
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A mão atravessa o campo de visão Para virar a página do livro. Interrompo a leitura do papel E começo a ler a pele dessa mão.
Epiderme, derme e hipoderme. Carpo, metacarpo e falange. Palma e dorso. Unhas e dedos. Punho e antebraço. Veias, nervos e músculos.
Estrias percorrem a cútis ressecada e desenham o mapa de uma vida entre porosidades e asperezas. Pergaminho exposto ao sol. Homem exposto ao tempo.
A pele também é um livro aberto: esta mancha eu trouxe da praia, aquele calo ganhei no trabalho, e esta cicatriz chama-se destino.
A mão atravessa o tempo. Em vão procura a essência das coisas. Pobre mão atravessada pela fugacidade do vão.
Agora a mão se atrofia, mas não esquece que um dia foi mão de prestidigitador.
Que um dia se uniu à outra mão
numa prece. E a outras mãos numa ovação.
Um dia a mão deu murro em ponta de faca. Noutro dia cumprimentou o Grande Irmão.
Um dia a mão afagou a brisa. Noutro dia apertou o botão.
Mas agora a mão se atrofia, se enrijece, atravessa o campo de visão. Melhor virar a página.