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Francisco Falabella Rocha – Belo Horizonte/MG
TAUROMAQUIA
Francisco Falabella Rocha – Belo Horizonte/MG 2º Lugar
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Pergunte ao touro: se o ritual permite ensaio, ou se, por acaso, na arena da vida é possível substituição.
Conviver com a morte independente do resultado. Ter a plateia contra e a certeza do fim: O touro e o matador se encaram. (Juntos no fracasso)
No balançar trêmulo da capa, pergunte ao touro: onde está a virtude? Ou se no puxar de espadas, você se deixou cair em velhas trapaças.
Pergunte a todos os touros que lutaram tão bem suas batalhas: vale a pena o embate? A justiça em um mundo injusto se faz pela mão ensanguentada?
Pergunte ao touro se um bolo de dinheiro engordurado vale a sua vida e a dele, em um ingresso de mais uma selvageria.
Pois quando menos se espera, os seus chifres partirão as tripas de um matador experiente, como você. Tirando não apenas a vida, mas levando junto a sua dignidade.
E por alguns segundos o mundo vai parar. Não vai se respirar. Todos ficarão chocados.
E aquela será a gloriosa tarde do touro, antes de seu próprio fim. Para uma plateia que não entende ou se importa.
Antes do nó e de seu desenlace, pergunte ao touro onde está a verdade da poesia: na coragem de suas carnes ou em seu bruto caminho?
E se você for paciente e habilidoso, o touro da vida lhe dirá a resposta de forma lenta e mortal. Esculpindo a face como um corte de navalha talha o tempo.
E isso será tudo que há. E nada mais. Pois a vida é esse ritual da morte.
Você pode desviar, saber contar seus passos, mas um dia você sairá ferido.
Besta da fúria, o touro é a existência com os chifres mais curtos e menos afiados. Máquina de perguntas, esperando resposta. Para um dia escutar: Olé!