Boletim Técnico N. 07

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FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ “28 anos preservando a memória regional” e-mail: fccmaraba@hotmail.com CNPJ: 22936439/0001-63 Folha 31, Quadra Especial, Lote 01 – Nova Marabá Caixa Postal 172 – Fone/Fax (94) 3322-2315, 3322-4176 CEP 68.508-970 – Marabá – PA

FÓRUM LANDI Rua Siqueira Mendes nº 60 – Cidade Velha CEP 66.020-600 - Belém - Pará Telefone: 91–3224-5929 Email: forumlandi@gmail.com site: www.forumlandi.ufpa.br


BOLETIM TÉCNICO DA FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ- N° 7 CONSELHO EDITORIAL: 2013 Prefeito Municipal de Marabá João Salame Neto Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá Noé von Atzingen Secretária Célia Martins Miranda Editor científico: Noé von Atzingen Revisão: Maria Virginia Mattos Digitação e organização: Sária Marinho dos Santos e Thaynara Carvalho de Faria Fotografia Arquivo Fotográfico da Fundação Casa da Cultura de Marabá e de autoria dos autores Periodicidade: Anual. Tiragem: 2.000 exemplares

Noé von Atzingen – Editor científico Maria Virginia Mattos – Revisora Sária Marinho dos Santos – Secretária do Conselho Ademir Braz - Letras Alixandre Santos- Artes Andréia Hentz de Mello– Botânica Diego Macedo – Zoologia Dirse Kern - Arqueologia/Geologia Fernando Pina - Geologia Julia Lino – Música Laércio Costa – Saúde Luis Júnior Costa Saraiva – Antropologia Marcelo Rasteiro – Espeleologia Marise Morbach – Comunicação Marlon Prado – Arqueologia/Agronomia Sandra Ciriaco de Cristo – Botânica Soraya Damasceno – Geologia


APRESENTAÇÃO

Com grande alegria chegamos ao 7º volume do Boletim técnico

da Fundação Casa da Cultura de Marabá. O Boletim a cada ano vem ultrapassando barreiras e elevando o seu nível técnico. Este volume apresenta dezoito artigos distribuídos pelas áreas de Agronomia, Botânica, Ciências Sociais, Educação, Espeleologia, História, Meio Ambiente, Música, Saúde e Zoologia. Com a publicação destes novos artigos a Fundação Casa da Cultura de Marabá amplia ainda mais o seu leque de ações voltadas para a difusão do conhecimento e da Cultura amazônica, além de contribuir significativamente com a preservação da nossa memória principalmente levando em conta que estamos comemorando o centenário de Marabá.

A partir deste número o Boletim será disponibilizado também por

meio eletrônico, ampliando ainda mais sua área de abrangência. Agradecemos aos autores e principalmente aos componentes do Conselho Editorial, bem como à UFPA na pessoa do professor Flávio Augusto Sidrim Nassar, Pró-Reitor de Relações internacionais, e ao Fórum Landi, pois, sem o esforço conjunto de todos, este projeto não se transformaria em

PALAVRA DO GESTOR MUNICIPAL

É grande a satisfação em participar desta publicação, ocupando o cargo de prefeito, justamente no ano em que festejamos o Centenário de Marabá. Ao longo dos anos, tenho acompanhado, com interesse e inegável prazer, o trabalho sério desenvolvido pela Fundação Casa da Cultura de Marabá no sentido de tornar conhecidos os saberes produzidos na região. Percebe-se que o rigor científico alia-se à sensibilidade social para produzir, a cada nova edição, um compêndio que se torna referência para leigos e estudiosos. A difusão do conhecimento é, inegavelmente, um dos elementos fundantes de uma sociedade menos desigual e este periódico, ao debruçar-se sobre alguns de nossos maiores desafios, é capaz de incentivar o debate saudável de ideias e apontar alternativas para a construção do futuro que desejamos para o Estado de Carajás, sonho maior de nossa gente e bandeira que temos a honra de manter sempre erguida. De outro lado, é necessário anotar que a cultura e as tradições, formadoras de nossa história, não foram esquecidas nesta edição. Valorizar aqueles que vieram antes de nós é indispensável para compreender quem somos e para onde vamos. Neste sentido, também, este periódico acerta o alvo e alcança seu objetivo. Por tudo isso, resta apenas afirmar que estamos sempre prontos a apoiar com entusiasmo as louváveis e oportunas iniciativas da Fundação Casa da Cultura de Marabá e desejar a todos uma boa e instigante leitura.

realidade. Noé von Atzingen Editor Científico

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João Salame Neto Prefeito Municipal de Marabá

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APRESENTAÇÃO...................................................................................................... 04 Noé von Atzingen

PALAVRAS DO GESTOR MUNICIPAL ................................................................ 05 PALAVRA DO PATROCINADOR........................................................................... 06 AGRONOMIA: LEVANTAMENTO DOS ASSENTAMENTOS DO MUNICÍPIO DE MARABÁ E ASSENTAMENTO PRAIALTA - PIRANHEIRA NO MUNICÍPIO DE NOVA IPIXUNA.................................................................................................... 09 Rodolfo C. da Silva Michael Franklin R. Marques, Fagno L. da Silva, José Augusto F. e Silva Junior.

BOTÂNICA: ACERVO BOTÂNICO DO HERBÁRIO DA FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ, MARABÁ-PA.................................................................. 27 Sandra C. de Cristo e Fernanda L. Lima

BOTÂNICA: ORQUÍDEAS DA REGIÃO DE TUCURUÍ........................................ 35 Noé von Atzingen, Pablo Vinícius Souza, Daniel Roldão

BOTÂNICA: ORQUÍDEAS DA REGIÃO DO RIO TAPIRAPÉ E RIO CAJAZERAS NOS MUNICÍPIOS DE MARABÁ E ITUPIRANGA................................................. 45 Noé von Atzingen, Daniel Roldão

CIÊNCIAS SOCIAIS: A BUSCA DE REGULARIDADES MEDINDO FENÔMENOS SOCIAIS POR MEIO DE QUESTIONÁRIOS EM PESQUISA........................ 53 Adenilson B. de Miranda

EDUCAÇÃO: LEITURA PRAZEROSA: Ler, um ato de cidadania.......................... 59 Vania R. de Andrade e Andreza Angélica F. Gama

ESPELEOLOGIA: ESTUDOS ESPELEOLÓGICOS DE CAVIDADES NATURAIS NA CIDADE DE MARABÁ........................................................................................ 73 Noé von Atzigen, Bruno S. Scherer, Maria de Jesus S. Almeida, Tatiane M. Silva

HISTÓRIA: EDUCAÇÃO: MESTRES DE MARABÁ............................................ 87 Maria Virgínia Mattos

HISTÓRIA: HISTÓRIA DO CINEMA EM MARABÁ............................................. 95 Maria Augusta Luz e Raimundo Herculano Rodrigues

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HISTÓRIA: O PROJETO DE INTERIORIZAÇÃO DA CASA DA CULTURA DE MARABÁ......................................................................................... 101 Creuzani Maria S. Costa e Leia L. Barbosa

HISTÓRIA: O QUE SE PODE LER PARA CONHECER MARABÁ E SUA GENTE........................................................................................................................111 Vicente Salles, atualizado por Virgínia Mattos

HISTÓRIA: PARA CONHECER OS HABITANTES TRADICIONAIS DOS CASTANHAIS DO MÉDIO TOCANTINS...................................................... 141 Aldair José D. Carneiro

MEIO AMBIENTE: CARACTERIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO ATERRO CONTROLADO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ: O MÉTODO DE QUARTEAMENTO NA DEFINIÇÃO DA COMPOSIÇÃO GRAVMÉTRICA EM MARABÁ - PA........ 149 Michel Marques, Iago Campos, Isaac Martins, Eduardo Camurça, Karoline Cutrim, Thacyane, Hilton Pereira e Samyr Lasim

MÚSICA: BANDAS DE MÚSICAS NO PARÁ...................................................... 161 Juliane B. de Sousa

SAÚDE: DENGUE: INCIDÊNCIA, PREVALENCIA, LETALIDADE E ÓBITOS NO MUNICÍPIO DE MARABÁ-PA.......................................................... 169 Fagno L. da Silva Michael Franklin R. Marques, Rodolfo C. da Silva

SAÚDE: DESASTRE DO ABANDONO DA NUTRIÇÃO TRADICIONAL DOS ÍNDIOS....................................................................................................................... 179 João Paulo B. Vieira Filho

ZOOLOGIA: ARTROPODES ASSOCIADOS À FRAGMENTOS FLORESTAIS NO ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO............. 183 Neilson R. da Silva, Daniela S. Pereira, Júnior N. Salviano, Pedro R. Lima Junior, Nathalia Karoline F. dos Santos, Jéssica S. Alexandrino, Débora B. Leão, Diego de M. Rodrigues.

ZOOLOGIA: BORBOLETAS PROCEDENTES DO MUNICÍPIO DE MARABÁ DEPOSITADAS NA COLEÇÃO ZOOLÓGICA DO MUSEU MUNICIPAL DE MARABÁ...................................................................................... 193 Noé von Atzingen e Maria Betânia Furtado

LEVANTAMENTO DOS ASSENTAMENTOS DO MUNICÍPIO DE MARABÁ – PA E PRAIALTA-PIRANHEIRA EM NOVA IPIXUNA - PA. Rodolfo Costa da Silva Michael Franklin Rodrigues Marques Fagno Lopes da Silva José Augusto Ferreira e Silva Júnior

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Resumo: A Amazônia é amplamente conhecida por suas riquezas naturais e sua grande diversidade biológica. Entretanto, a partir da década de 1960, com a política de integração dos governos militares, a mesma começou a ganhar grande repercussão nacional e internacional por seus conflitos ocasionados pela disputa por terras, envolvendo diversos atores sociais. A região de Marabá, na Amazônia oriental, faz parte exatamente de uma área de fronteira agrária (da fronteira agrária do sudeste paraense) e, tal como a maioria delas, também se caracteriza pela vinculação estreita entre problemas ambientais e uma questão fundiária complexa (OLIVEIRA e ALMEIDA, 2008, 02 p.). A criação dos assentamentos pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi uma reação do Governo federal frente à expansão trabalhadora pela luta da terra no Brasil; no entanto essa ação não significa necessariamente a eliminação dos conflitos agrários. Os dados do Estado do Pará e Mato Grosso mostram que a violência ainda é um componente do processo de ocupação do espaço brasileiro. Este trabalho teve como principal objeto de estudo fazer o levantamento dos assentamentos existentes hoje na região de Marabá e descrição do assentamento conhecido como Praialta-Piranheira, localizado em de Nova Ipixuna, sudeste paraense. Palavras-chave: Reforma Agrária, Agricultura de subsistência, Violência no Campo, Assentamento. 1,2,3,4 - Acadêmicos de Engenharia Ambiental, da UEPA – Campus Marabá

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Introdução A ocupação agrária da região sudeste paraense tem sua origem na década de 1960 com a ocupação desordenada e descontrolada da região amazônica, quando o governo pensou em povoar o território para que ele não fosse tomado pelos países vizinhos. Desde então os conflitos pela disputa de terra têm se intensificado. Recentemente com o discurso da sustentabilidade e da preservação, a área do sudeste do Pará, mais especificamente o Município de Marabá tem sido destaque devido as disputas pelas terras e suas riquezas naturais. Segundo Oliveira e Almeida (2008, p. 02),

eram 474 assentamentos criados em um processo que tem se caracterizado mais pelas regularizações de áreas já ocupadas do que pelas desapropriações (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 2011). Além disso, a política de reforma agrária também tem influenciado na melhoria das condições de acesso (na quantidade e qualidade das estradas) e de moradia dos agricultores e na implantação de infraestrutura, como redes de eletrificação rural. Contudo, o que se vê é que são necessárias mais políticas públicas para garantir que as famílias permaneçam nos assentamentos, evitando assim a migração interna para novas áreas, que ocorre devido à redução do capital social e a ausência da credibilidade das instituições locais. Este trabalho tem a finalidade de quantificar o número de assentamentos no Município de Marabá, demonstrando quais são e onde estão localizadas as principais áreas de assentamentos nesse município e descrever o assentamento Praialta-Piranheira que se localiza em Nova Ipixuna no sudeste do Pará.

Devido a esse contexto histórico, a presente situação da região de Marabá-PA, quando se fala sobre assentamento agrário, ainda é complicada, uma vez que pouco tem sido feito para manter o assentado em suas terras, de modo que ele tenha assistência técnica voltada para produção agrícola (fornecida pelos órgãos estatais, como Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER), e até mesmo subsídios econômicos (na forma de financiamentos). Contudo, algumas mudanças ocorreram, implementações de políticas de proteção do meio ambiente e de fortalecimento da agricultura familiar na região, além do aumento de recursos financeiros para o apoio dessas políticas, segundo (OLIVEIRA e ALMEIDA, 2008p. 02). Os efeitos dessas políticas têm se expressado de várias maneiras. Um que merece destaque se refere às alterações ocorridas na estrutura e situação fundiária regional. Atualmente, a região de Marabá comporta o maior número de projetos de assentamentos do país. Até o início de 2007 já

Breve histórico dos modos de colonização na região amazônica.

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a região de Marabá, na Amazônia oriental, faz parte exatamente de uma área de fronteira agrária (da fronteira agrária do sudeste paraense) e, tal como a maioria delas, também se caracteriza por essa vinculação estreita entre problemas ambientais e uma questão fundiária complexa. A conturbada e conflituosa disputa pelos recursos naturais, principalmente a terra, entre atores com diferentes interesses de uso, dentro de um espaço que historicamente consolidou o desmatamento como principal forma de legitimação de posse, induziu essa região a um acelerado processo de exploração e alteração do meio natural.

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Até meados da década de 1960, as terras amazônicas pertenciam à União e aos Estados, ou seja, em sua maioria eram terras públicas ou “livres”; pouquíssimas terras tinham títulos de propriedades privadas. A maior parte das terras era explorada por milhares de caboclos e ribeirinhos que viviam do extrativismo vegetal e animal; sendo a menor parte das terras constituídas por pastos naturais onde fazendeiros seculares haviam assentado fazendas de gado com títulos de terra muito antigos. (LOUREIRO e PINTO, 2005, p.77). Loureiro e Pinto (2005, p. 78-91), afirmam que as terras eram ocupadas por milhares de pequenos posseiros, que nelas haviam constituído seu trabalho efetivo (extrativismo na coleta de frutos, raízes, óleos, resinas e sementes das matas; praticavam também a plantação de pomares e hortas, pesca nos rios e lagos). As comunidades tradicionais habitavam essas terras secularmente, sem disputa ou conflito, viviam pacificamente e de

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A questão agrária em nosso país teve como marco teórico a década de 1960, principalmente porque é a partir do golpe de 1964 que a ocupação da Amazônia torna-se prioridade máxima. Nesse período o governo federal desenvolve estratégias de duplo controle técnico-político, sobre o espaço preexistente, com a implantação de redes de integração nacional como a rede rodoviária, rede de telecomunicações, rede urbana e finalmente, a rede hidroelétrica. A superposição de territórios federais sobre os estaduais, como a criação da Amazônia Legal (1966), e, a determinação de que uma faixa de 100 Km, de ambos os lados de toda estrada federal, pertencia à esfera pública (1970-1971), tendo como justificativa a distribuição das mesmas para camponeses em projetos de colonização (SACRAMENTA e COSTA,1998 apud BECKER, 2009, p. 05).

tas, tais como Projeto Grande Carajás (com seus projetos agropecuários, suas represas hidrelétricas, suas minas, suas fábricas), Projeto Zona Franca de Manaus, e outros com a construção de Hidrelétricas, de Rodovias e Projetos de Assentamentos Rurais, e, simultaneamente os vários conflitos que permearam a nova dinâmica da Amazônia. Portanto, pode-se dizer que a Amazônia sofreu grandes e conflituosas transformações tais como a agropecuária, uma atividade econômica que dispensa mão de obra e esvazia territórios. Grande número de tribos indígenas foram praticamente dizimadas, camponeses foram expulsos de terras de trabalho, para que nelas fossem abertas grandes pastagens. Ocorre um intenso processo de migração em decorrência das políticas que foram desenvolvidas para povoar a Amazônia. (SACRAMENTA e COSTA, 1997apud MARTINS, 2009, p. 06). A questão da migração na Amazônia foi uma grande problemática, pois as pessoas enfrentavam imensas dificuldades, sem subsídios para a manutenção do seu trabalho, obrigados, muitas vezes a venderem seu pedaço de terra, isso quando não são forçados a entregarem suas terras aos famigerados grileiros. O que os leva a migrarem para as cidades ou se embrenharem nas matas para se prenderem em terras longínquas, onde as dificuldades tornam-se ainda maiores. A partir daí, a luta pela terra assume a forma da luta pela subsistência econômica, pela própria reprodução dos camponeses (SACRAMENTA e COSTA, 1991apud HEBETTE, 2009, p. 06-07).

De acordo com Sacramenta e Costa (2009, p. 05) o Governo Federal prometeu assentar 100 mil famílias, ao longo dos 100 quilômetros de cada lado das rodovias; no entanto não conseguiu atingir mais que 10 mil famílias, passando, então, a implementar projetos de colonização privada, e concentrar as políticas oficiais em volta dos pólos de desenvolvimento, fundamentalmente ligados ao setor mineral e do incentivo aos projetos agropecuários que tinham proporções maiores na pecuária do que na agricultura. Nesse contexto, apresentam-se os grandes projetos desenvolvimentis-

Foi nesse sentido que se desenvolveram os conflitos agrários e como conseqüência movimentos sociais no estado do Pará, A indiferença do poder público à má sorte dos trabalhadores sem-ter-

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forma modesta. Segundo o mesmo autor, durante a década de 1960, tempo em que o Brasil passava pela ditadura militar, a dinâmica do país e da Amazônia mudou. A região passou a ser vista de forma que apresentasse diversos obstáculos para o desenvolvimento do país atribuindo dois problemas básicos: a insuficiência de capitais produtivos e de infra-instrutora capazes de pôr em marcha novos investimentos de forma que fosse possível atrair capitais produtivos vindos de outros pontos do Brasil e do exterior, desde que fossem oferecidas vantagens capazes de atrair esses capitais para a região. Assim, um novo modelo foi posto em prática na Amazônia, o de desenvolver e de integrar a região ao mercado nacional e internacional. A questão agrária nesse período em que o país se encontrava, estava relacionada com a forma de ocupação da Amazônia.

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O lema dos Governos Militares era “integrar (a Amazônia ao Brasil) para não entregar (à supostas e gananciosas potências estrangeiras)”. Os militares falavam em “ocupação dos espaços vazios”, embora a região estivesse ocupada por dezenas de tribos indígenas, muitas delas jamais contatadas pelo homem branco, e ocupada também, ainda que dispersamente, por uma população camponesa já presente na área desde o século XVIII, pelo menos. (SACRAMENTA e COSTA, 1997 apud MARTINS, 2009, p. 07).

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ra, a aliança e a tolerância do Estado com os abusos do capital, da elite ou dos desclassificados sociais que se instalaram na região, geraram a concentração de terras, a exclusão social, a desigualdade, a descrença no poder público e fomentaram os conflitos e a violência hoje existentes na região. (LOUREIRO e PINTO, 2005). A criação dos assentamentos pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi uma reação do Governo federal frente à expansão trabalhadora pela luta da terra no Brasil; no entanto essa ação não significa necessariamente a eliminação dos conflitos agrários. Os dados dos Estados do Pará e Mato Grosso mostram que a violência ainda é um componente do processo de ocupação do espaço brasileiro. (MICHELOTTI et al. 2007apud LACERDA et al., 2007, p. 01). O elemento de concordância entre os questionamentos nacional e o local refere-se à política de criação dos assentamentos pelo governo federal. Os trabalhadores sem terra conquistaram a maior parte do que hoje são os assentamentos onde vivem por meio da luta da terra, obrigando o governo a fazer a regularização fundiária posterior. (MICHELOTTI et al., 2001 apud FERNANDES, 2007, p. 42) Queremos aqui ressaltar estes aspectos: a) Os Sem-terra conquistaram a maior parte das terras onde hoje estão assentados. E, é importante enfatizar que essa realidade é fruto da luta pela posse da terra. b) a competência do governo nesses processos é a regularização fundiária. A luta pela terra não é, evidentemente, uma política de governo, mas sim dos trabalhadores. Sem reforma agrária, a implantação dos assentamentos tornou-se política de governo. (MICHELOTTI et al., 2001 apud FERNANDES 2007, p. 42). Segundo Michelotti et al. (2007, p. 02), na mesorregião do Sudeste Paraense (Marabá, Nova Ipixuna, Itupiranga, Eldorado dos Carajás, Parauapebas, São Domingos do Araguaia e São João do Araguaia), foi possível verificar que nos anos de 1987 a 2006 a criação de assentamentos é uma resposta à intensificação das ocupações de terra em anos anteriores. Um exemplo significativo foi o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocor-

rido em 1996, que repercutiu nacional e internacionalmente, exercendo forte pressão junto ao governo federal pela criação de assentamentos em todo país. Segundo Michelotti et al. (2006 apud ALENTEJANO, 2007, p. 05), houve na política reativa de criação de assentamentos um deslocamento geográfico, ou seja, as regiões onde ocorreram maiores intensidades de conflitos pela terra não foram as mesmas que tiveram o maior número de assentamentos criados. Isso explica uma estratégia do Governo retomando as mesmas medidas do regime ditatorial de colonização e avanço da fronteira agrária, não buscando enfrentamento com o monopólio da terra e a grilagem, e procurando amenizar os conflitos sociais com a criação de assentamentos em regiões de fronteiras. Isto revela uma estratégia governamental que reproduz a velha prática de substituir a reforma agrária pela colonização e regularização fundiária, contribuindo com o avanço do “complexo da devastação” (grileiros -madeireiros- pastagem-agronegócio) que destrói o cerrado e a Amazônia (LACERDA et al., 2007, p. 90). O tamanho médio dos lotes assentados, estipulados pelo Governo, no período de 1987 – 2002 sofreu uma redução de 79,4 ha para 35,5 há; no entanto, no período de 2003 – 2006 houve um aumento significativo para 90,9 ha, como medida compensatória pelas dificuldades encontradas nessas novas áreas como, por exemplo, menor infraestrutura básica de estradas e transporte para a produção. Acreditava-se que o aumento na área média dos lotes poderia servir como um “atrativo” para assegurar que as famílias aceitem a migração para frente de expansão . Essa atitude do Governo pode estar provocando a implantação de sistemas de produção mais extensivos baseados, sobretudo, em lavouras transitórias de corte e queima e na pecuária extensiva, ocasionando um adicional à problemática ambiental. (MICHELOTTI et al. 2007, p. 11)

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2 - A conceituação de frente de expansão, nesse trabalho tem como base a dinâmica de ocupação territorial paraense e a criação de assentamentos pelo INCRA, considerado como uma reação do governo federal frente à luta pela terra no Brasil, favorecendo a expansão territorial ao invés do entrave com os latifundiários. Podemos citar, como territórios de frente de expansão dois municípios: Novo Repartimento e Pacajá, ambos localizados à noroeste do Pará, seguindo pela Rodovia Transamazônica. (MICHELOTTI et al. 2007, p. 07)

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A frente de expansão vem ocasionando nos últimos anos um acelerado desmatamento por conta do caráter predatório de ocupação da Amazônia. O aumento da área desmatada vem se dando num ritmo muito mais acentuado do que o de criação de assentamentos. No período entre 2000 – 2005, enquanto a área dos assentamentos passou de 528,7 para 777,0 mil ha (aumento de 47 %), a área desmatada passou de 452,6 para 907,6 mil ha (aumento de 101 %). Assim, mesmo que os assentamentos estivessem totalmente desmatados, o que não é o caso, haveria outras frentes significativas de desmatamento, o que desmistifica as teses de que são os assentamentos os grandes responsáveis pelos problemas ambientais na Amazônia. (MICHELOTTI et al. 2007, p. 13).

O elevado ritmo de desmatamento não pode ser entendido como de total responsabilidade dos assentamentos e consequentemente da frente de expansão, visto que a região Amazônica comporta vários atores do desmatamento, analisando as cadeias produtivas da pecuária, grileiros, da madeira, do agronegócio, e também dos grandes projetos implantados na Amazônia. (CASTRO, 2005, p. 5- 39). Materiais e metodologia O presente trabalho realizou-se com base em observações elaboradas em um determinado assentamento (Praia Alta Piranheira) na região próxima ao município de Nova Ipixuna – PA, observações estas feitas nas atividades existentes, como a produção de café e de óleo a partir de sementes, fabricação de andiroba (Carapa guianensis Aubl), entre outros. Foi possível analisar, também, as relações sociais existentes no local, como a busca de uma conscientização ambiental e a valorização da terra. Assim, para a realização do trabalho utilizou-se o método da revisão bibliográfica, observação in loco e entrevista oral. Os dados dos assentamentos existentes em Marabá e sobre o Assentamento Parialta-Piranheira foram obtidos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Superintendência Regional do Sul do Pará-SR27, e de literaturas específicas para melhor explanar esses dados.

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Resultados e discussões: Descrição do assentamento Praialta-Piranheira. A origem do nome do assentamento Praialta-Piranheira, dá-se pelo fato de o mesmo estar localizado próximo ao encontro dos dois rios, Praia Alta e Piranheira. Possui uma área de 22.000,00 ha, abrigando um total de 389 famílias, segundo o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA) - Superintendência Regional do Sul do Pará - SR2 (2011), o assentamento já foi considerado o maior castanhal da Amazônia; idealizado pelo casal de extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo (assassinados no mês de maio de 2011), foi aprovado pelo INCRA em 21 de agosto de 2011. A área estudada neste trabalho localiza-se no assentamento Praialta -Piranheira, em Nova Ipixuna, Sudeste do Pará, mais especificamente nos lotes pertencentes a Laíse Sampaio e ao casal de extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. No lote pertencente a José Claudio, foi possível conhecer as forma e os instrumentos utilizados para o desenvolvimento de atividades sustentáveis de subsistência, como a extração dos óleos da Andiroba (Carapa guianensis Aubl) e da Castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) em parceria com o Grupo de Mulheres do assentamento (GETAI), com os auxílios técnicos da Universidade Federal do Pará, através do Laboratório Socioagronômico do Tocantins (LASAT) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), além da coleta de frutas nativas, plantação de mandioca, horta, implantações de sistema agroflorestal (SAF) e agropastoril, e criação de galinhas. Na propriedade pertencente a Laíse Sampaio, pôde-se conhecer o sistema agroflorestal desenvolvido no local, composto basicamente pelas seguintes espécies: açaí (Euterpe oleracea), buriti (Mauritia flexuosa), andiroba (Carapa guianensis Aubl), macaúba (Acronomia aculeata), paricá (Schizolobium amazonicum) e ipê (Tabebuia serratifolia (Vahl.) Nichols). O sistema foi desenvolvido sem nenhuma assistência técnica,

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utilizado apenas os conhecimentos tradicionais de plantio. O assentamento ficou conhecido pelo intenso conflito entre os fazendeiros da região e o casal de extrativistas. Tal conflito dá-se devido à retirada ilegal de madeira em especial a castanheira, em processo de extinção, e plantio de pasto, após a supressão vegetal. Tal fato despertou um forte sentimento de indignação nos defensores do local, os quais tinham como ideologia o uso da floresta em pé de forma a conseguir a extração dos recursos disponíveis, ou seja, o desenvolvimento sustentável visando o sustento das famílias que ali habitam sem prejudicar os recursos naturais e de forma a garantir sua existência para as gerações posteriores. No lote pertencente ao casal, há a maior castanheira do assentamento, a qual foi denominada de “majestade”, devido sua exuberância e tamanho.

Total

MUNICIPIO

ÁREA (ha)

D.CRIAÇÃO

FAZ ARRAIAS CAJAZEIRAS E 2 IRMÃOS

174

112

MARABÁ

6.871,8347

29/12/1998

PA BARRO PRETO

FAZENDA BARRO PRETO

70

57

MARABÁ

2.499,8203

29/12/1998

PA BEIRA RIO

FAZENDA ENTRE RIOS

54

54

MARABÁ

1.935,2686

16/01/2001

8

PA BELO VALE

FAZENDA BELO VALE

62

61

MARABÁ

1.208,0653

07/03/2003

9

PA BOA ESPERANÇA DO BURGO

FAZENDA BOA ESPERANÇA

122

120

MARABÁ

3.511,3291

28/09/1999

10

PA BOM JARDIM DA VOLTINHA

FAZENDA BELA VISTA

84

83

MARABÁ

2.999,8010

26/10/1999

11

PA BRASIL NOVO

GLEBA ITACAIUNAS 2ª PARTE

88

88

MARABÁ

2.641,6451

01/03/1999

12

PA BURGO

FAZ DO BURGO

65

65

MARABÁ

1.428,5027

16/01/2001

13

PA CABANAGEM

GLEBA TAPIRAPÉ

60

58

MARABÁ

2.435,8175

22/09/1999

14

PA CACHOEIRA PRETA

FAZENDA CACHOEIRA PRETA

60

40

MARABÁ

2.610,2546

29/04/1993

15

PA CACHOEIRA PRETA II

SUB DIV PA ITACCAIUNAS AÇÚ

121

93

MARABÁ

6.877,3747

22/12/2004

16

PA CARAJAS/TAMBORIL

GLEBA CARAJÁS

537

230

MARABÁ

15.192,2792

27/10/1988

17

PA CARIMÃ

FAZENDA CARIMÃ

68

65

MARABÁ

1.946,4693

16/01/2001

18

PA CASA BRANCA

FAZENDA SANTO ANTONIO

54

53

MARABÁ

1.690,5777

27/12/1999

Os dados referentes aos assentamentos de Marabá e ao assentamento Praialta-Piranheira constam nas tabelas abaixo, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, Superintendência Regional do Sul do Pará – SR27 (2011). Nas tabelas encontraram-se os seguintes dados: numeração dos projetos realizados em Marabá, nome do projeto, aquisição e imóvel de origem do assentamento, capacidade de famílias assentadas (CAP), número real de famílias assentadas, município do assentamento, área do assentamento e data da criação do assentamento.

19

PA CASTANHAL RATO II

FAZENDA CASTANHAL RATO II

28

20

MARABÁ

1.452,4309

26/11/2001

20

PA CASTANHEIRA

FAZ CASTANHEIRA;CACHOEIRA PRETA

144

100

MARABÁ

7.199,9981

10/01/1995

21

PA CEDRINHO

FAZ CEDRINHO

75

40

MARABÁ

3.077,1198

17/07/1995

22

PA CINZEIRO

GLEBA CAFÉ LOTEAMENTO CINZEIRO

361

86

MARABÁ

25.340,0073

27/10/1988

23

PA CONQUISTA

FAZENDA CONQUISTA

86

86

MARABÁ

2.745,7106

04/12/1999

24

PA CUPÚ

GLEBA TAPIRAPÉ

210

210

MARABÁ

8.089,4477

22/09/1999

25

PA DO MEIO

FAZENDA DO MEIO

84

71

MARABÁ

2.998,6208

27/11/1998

ORD

PROJETO

AQUISIÇÃO ORIGEM

CAP

Total

MUNICIPIO

ÁREA (ha)

D.CRIAÇÃO

TABELA 01 –ASSENTAMENTOS LOCALIZADOS NO MUNICÍPIO DE MARABÁ.

26

PA DOS BANDEIRANTES

GLEBA TAPIRAPÉ

128

113

MARABÁ

4.500,8131

30/09/1998

27

PA DOURADA

GLEBA CAFÉ 1ª PARTE

54

38

MARABÁ

2.197,1268

21/10/1999

28

PA ESCADA ALTA

CASTANHAL ESCADA ALTA

100

98

MARABÁ

3.160,5655

21/08/1998

29

PA ESTRELA DALVA

FAZENDA BOA SORTE PARTE /BOA VISTA

69

52

MARABÁ

2896,5132

18/12/2003

30

PA ESTRELA DO NORTE

GLEBA TAPIRAPÉ

99

87

MARABÁ

5.291,8144

09/12/1999

31

PA FELICIDADE

FAZENDA COSIPAR

80

72

MARABÁ

4.337,4251

21/12/2006

ORD

PROJETO

AQUISIÇÃO E IMÓVEL ORIGEM

CAP

Total

MUNICIPIO

ÁREA (ha)

D.CRIAÇÃO

1

PA 1º DE MAIO

FAZENDA COSIPAR

50

43

MARABÁ

3.074,0043

21/12/2006

2

PA 26 DE MARÇO

FAZENDA CABACEIRAS

206

199

MARABÁ

9.774,0405

19/12/2008

3

PA ALEGRIA

FAZENDA ITACAIUNAS

96

96

MARABÁ

3.600,0000

09/12/1999

4

PA ALTO BONITO

GLEBA ITACAIUNAS 2ª PARTE

163

78

MARABÁ

4.892,2942

01/03/1999

18

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

PROJETO

5

PA ARRAIALANDIA

6 7

AQUISIÇÃO E IMÓVEL ORIGEM

CAP

Assentamentos na região de Marabá e assentamento Praialta-Piranheira.

ORD

E

IMÓVEL

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

19


ORD

PROJETO

32

PA FRUTÃO

AQUISIÇÃO E IMÓVEL ORIGEM

CAP

Total

MUNICIPIO

ÁREA (ha)

D.CRIAÇÃO

ORD

PROJETO

GLEBA BURITIRANA 1ª PARTE

512

335

MARABÁ

20.503,0000

16/09/1998

58

PA PRINCESA

59

PA RIO PRETO MALHA II

60

33

PA GABRIEL PIMENTA

FAZENDA TRES PODERES

104

104

MARABÁ

5151,7044

15/12/2003

34

PA GAMELEIRA AÇÚ

FAZENDA GAMELEIRA

84

67

MARABÁ

2.999,5770

27/11/1998

35

PA GELADINHO/ MURUMURU

GLEBA GELADINHO PRAIALTA (consolidado)

368

-

MARABÁ

29.550,0000

25/10/1988

36

PA GOIANOS

CARAJÁS 3ª PARTE

79

78

MARABÁ

5.247,4382

09/12/1998

37

PA IGARAPÉ DO RATO

FAZ CASTANHAL DO RATO

47

47

MARABÁ

2.700,6880

02/09/2002

38

PA IGUAÇU

FAZENDA IGUAÇÚ E BREJO DO MEIO

72

44

MARABÁ

1.076,5994

04/02/1999

39

PA ITACAIUNAS

GLEBA ENGANO 2º PARTE

129

111

MARABÁ

5.426,3552

15/08/1996

40

PA ITACAIUNAS-AÇU

GL ITACAIUNAS 2ª PARTE E ENGANO2ª PARTE

140

294

MARABÁ

4.431,1123

08/07/1997

41

PA JARDIM

FAZENDA JARDIM

70

68

MARABÁ

2.250,4101

02/09/2002

42

PA JERUZALÉM

FAZENDA JERUZALÉM

43

43

MARABÁ

1.157,2264

26/11/2001

43

PA JOSE PINHEIRO LIMA

FAZENDA SÃO RAIMUNDO

70

86

MARABÁ

3.941,5223

13/12/2001

44

PA LAJEDO

FAZENDA E CASTANHAL LAGEDO

171

99

MARABÁ

8.558,1400

27/05/1998

45

PA LANA

FAZENDA LANA

54

54

MARABÁ

2.370,7493

16/11/1998

46

PA LIBERDADE

GLEBA PATAUÁ PARTE II

110

84

MARABÁ

5140,0000

22/12/2003

47

PA MARAVILHA

GLEBA TAPIRAPÉ

249

240

MARABÁ

10.255,6879

05/10/1999

48

PA MURAJUBA

FAZENDA MURAJUBA

88

87

MARABÁ

2.483,2022

04/02/1999

49

PA NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO

FAZENDA SÃO JORGE

60

60

MARABÁ

1.593,6640

24/12/1999

50

PA NOVA ESPERANÇA

FAZENDA TRES PODERES

106

106

MARABÁ

5671,0013

15/12/2003

51

PA NOVA ITAPERUNA

FAZENDA NOVA ITAPERUNA

80

66

MARABÁ

2.725,3857

28/09/1999

52

PA NOVA VIDA

FAZENDA NETUNO / TRES PODERES

126

126

MARABÁ

5.741,3831

05/12/2001

53

PA PADRE JOSIMO TAVARES II

FAZENDA TRES MARIAS E NOVA OLINDA

28

32

MARABÁ

1.062,4167

10/05/2005

54

PA PALMEIRA JUSSARA

FAZENDA PALMEIRA

75

72

MARABÁ

1.004,4037

25/02/2003

55

PA PATAUÁ

CAST DEUS AJUDA E PAU PRETO

170

113

MARABÁ

6.774,7456

27/05/1998

56

PA PIQUIÁ

CASTANHAL PIQUIÁ

70

69

MARABÁ

3.248,0000

05/12/2002

57

PA POUSO ALEGRE

FAZ POUSO ALEGRE

22

21

MARABÁ

1.139,5194

25/02/2003

ORD

PROJETO

AQUISIÇÃO ORIGEM

CAP

Total

MUNICIPIO

ÁREA (ha)

D.CRIAÇÃO

20

E

IMÓVEL

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

AQUISIÇÃO E IMÓVEL ORIGEM

CAP

Total

MUNICIPIO

ÁREA (ha)

D.CRIAÇÃO

FAZENDA PRINCESA

85

62

MARABÁ

3.585,0000

04/02/1999

GLEBA CARAJÁS III PARTE

98

98

MARABÁ

5.318,1312

29/12/1998

PA SABINO SÃO PEDRO

FAZ SABINO SÃO PEDRO

76

75

MARABÁ

2.314,8861

22/09/1999

61

PA SAMAUMA

FAZENDA SAMAUMA

42

38

MARABÁ

1.493,2676

26/11/2001

62

PA SANTA MARIA DO ITACAIUNAS

FAZENDA SANTA MARIA II

55

48

MARABÁ

1.966,7859

21/10/1999

63

PA SANTA RITA

FAZ SANTA RITA

35

35

MARABÁ

706,7360

25/02/2003

64

PA SANTA RITA DO ITACAIUNAS

FAZENDA RITINHA

21

14

MARABÁ

665,3519

29/12/2009

65

PA SERENO

LOTEAMENTO LEANDRO

557

190

MARABÁ

33.059,7100

25/10/1988

66

PA SERRA AZUL

GLEBA BURITIRANA 1ª PARTE

134

125

MARABÁ

3.363,7809

16/09/1998

67

PA TABOQUEIRA

FAZENDA TABOQUEIRA

39

34

MARABÁ

1223,0000

18/12/2003

68

PA TALISMÃ

FAZ REMANSO E TALISMÃ

53

52

MARABÁ

2154,3426

20/02/2004

69

PA TARTARUGA

FAZ E CASTANHAL TARTARUGA

100

67

MARABÁ

3.565,3593

04/02/1999

70

PA TERRA ROXA

FAZENDA TERRA ROXA

84

56

MARABÁ

2.999,5409

27/11/1998

71

PA UNIÃO

FAZENDA ENTRE RIOS

71

71

MARABÁ

2.525,3361

26/11/2001

72

PA VALE DA LIBERDADE

FAZ BRASIL

31

31

MARABÁ

885,3594

12/02/2004

73

PA VALENTIM SERRA

FAZ SANTA TEREZA

79

72

MARABÁ

2.368,7108

28/12/2000

74

PA VINAGRE

GLEBA CARAJÁS 3ª PARTE

57

50

MARABÁ

3.183,2837

29/12/1998

75

PA VOLTA DO TAPIRAPÉ

GLEBA BURITIRANA 1ª PARTE

588

287

MARABÁ

20.608,1653

21/08/1998

76

PA VOLTA GRANDE

GLEBA BURITIRANA 1ª PARTE

396

211

MARABÁ

14.255,7120

27/11/1998

77

PA VOLTINHA DO ITACAIUNAS

GLEBA CARAJÁS III PARTE

32

30

MARABÁ

1.562,8666

11/02/1999

9412

6.820

TOTAL

398486,23

FONTE: INCRA. SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO SUL DO PARÁ –SR27

Observando os dados referentes à tabela 01, constata-se que existem 77 assentamentos na região de Marabá, os quais foram criados, em sua maioria, em áreas de fazendas que apresentavam irregularidades ou improdutividade. Observa-se que a capacidade atual de famílias assentadas é de 9.412, no entanto existem 6.820 famílias realmente assentados. Outro dado importante refere-se à área de assentamento no município

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de Marabá, que totaliza 398.486,23ha. Vale ressaltar que esses assentamentos foram criados pelo INCRA. Observa-se também que o primeiro assentamento criado no município de Marabá foi o PA Geladinho/Murumuru (cuja numeração na tabela é 35). Criado em 1988, tem capacidade para 368 famílias a serem assentadas em uma área de 29.550,00ha; no entanto, não há nenhuma família vivendo no assentamento, segundo dados do INCRA. E o último assentamento criado pelo INCRA foi o PA Santa Rita do Itacaiúnas em 2009, cuja numeração na tabela é 64; com capacidade para assentar 21 famílias, tem 14 assentadas e área de 665,35ha.

A partir do presente trabalho, verifica-se a dinâmica de criação de assentamentos na região de Marabá e Nova Ipixuna, e a inter-relação no que se refere aos elementos analisados com o processo, tendo relação com meios reativos à luta dos trabalhadores agrícolas e agrários, este processo está passando por um deslocamento geográfico entre as áreas de maior intensidade de luta pela terra e a criação dos assentamentos, este mesmo deslocamento está reforçando a expansão da fronteira agrária, alargando os problemas ambientais e os conflitos.

A respeito da criação destes assentamentos nos municípios do sudeste paraense verifica-se que isto é uma resposta às lutas pela terra, ocorridas tanto no nível nacional como no nível regional. Houve um período de maior intensidade de ocupações de terra entre 2003 e 2006 (1° mandato do Governo Lula) que, no entanto, não correspondeu a um aumento na criação de assentamentos no “Território do Sudeste Paraense”. A resposta do governo ao aumento do número de ocupações de terra nos municípios do “Território do Sudeste Paraense” baseou-se numa estratégia de criação de assentamentos em áreas consideradas como novas frentes de expansão da fronteira agrária. No Sudeste Paraense isso significou um deslocamento da criação de assentamentos para municípios como Novo Repartimento - PA e Pacajá - PA. No contexto dos assentamentos, destaca-se que esta opção na fronteira agrária não tem nem diminuído a violência e nem o padrão de destruição da cobertura florestal nas frentes de expansão. Longe de ser responsabilidade exclusiva dos assentamentos criados, o ritmo de desmatamento nos dois municípios considerados como a nova fronteira agrária mostra-se bastante elevado. Em termos absolutos, a área desmatada foi superior à área destinada aos assentamentos, sobretudo considerando que os assentamentos nesses municípios ainda apresentam alta porcentagem de área não desmatada indicando que na verdade combinam-se diferentes frentes de expansão em direção a estes municípios. Dessa forma, a frente de expansão camponesa que se intensifica a partir dos assentamentos criados não significa uma alteração da estrutura fundiária concentrada, tampouco uma reversão do modelo do agronegócio de produção agropecuária baseado na homogeneização da natureza reproduzindo, assim, os mesmo problemas agrários nacionais nas novas áreas de fronteira. Sendo assim, o trabalho realizado mostra que o confronto dos agrários na luta por direitos sobre a terra está tendo repercussão diante do Governo, fato este comprovado pela quantidade de assentamentos criados em Marabá, constando que existem 77 assentamentos na região, a maioria criada em áreas de fazendas que apresentavam irregularidades ou impro-

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TABELA 02 – ASSENTAMENTO PRAIALTA-PIRANHEIRA. PROJETO

AQUISIÇÃO E IMÓVEL DE ORIGEM

AGRO-EXTRATIVISTA PRAIALTA- PIRANHEIRA

GLEBA GELADINHO PRAIALTA

CAP

TOTAL

MUNICÍPIO

ÁREA

D. DE CRIAÇÃO

440

389

NOVA IPIXUNA

22.000,0000

21/08/1997

FONTE– INCRA. SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO SUL DO PARÁ –SR27

Na tabela 02, referente ao assentamento PA Agroextrativista Praialta-Piranheira, observou-se que a capacidade de famílias assentadas é de 440, sendo que atualmente 389 famílias estão assentadas. O assentamento se localiza no município de Nova Ipixuna, numa área de 22.000,00ha, tendo criado no dia 21 de agosto de 1997. Considerações finais

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dutivas. Observa-se também que a capacidade atual de famílias assentadas é de 9.412, no entanto, existem 6.820 famílias realmente assentadas. Por observação e estudos sobre o histórico dos assentamentos de Marabá, percebe-se que existe uma evasão dos assentados das terras cedidas pelo governo e existe o fenômeno de acumulo de lotes nos assentamentos, portanto os motivos e o porquê destes acontecimentos devem ser estudados detalhadamente e de forma especifica. Agradecimentos À Fundação Casa da Cultura de Marabá, por disponibilizar acervo e meios para a realização deste e outros trabalhos científicos; ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Superintendência Regional do Sul do Pará –SR27, pela disponibilização de dados referente à execução deste trabalho; às acadêmicas de engenharia ambiental Mayara Aires do Espírito Santo e Ana Paula Santana Pereira pela contribuição na execução dos trabalhos de campo. Referências CASTRO, Edna. Dinâmica socioeconômica e desmatamento na Amazônia. Novos Cadernos NAEA. v. 8, n. 2, p. 5-39, dez. 2005. Disponívelem:<http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/viewFile/51/53>Acesso em: 24 de outubro de 2011.

LOUREIRO, Violeta Refkalefsky; PINTO, JaxNildo Aragão.A questão fundiária na Amazônia: ESTUDOS AVANÇADOS 19 (54), 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ea/v19n54/04.pdf> Acesso em: 24 de outubro de 2011. MICHELOTTI, Fernando et al. O agrário em questão: uma leitura sobre a criação dos Assentamentos rurais no sudeste do Pará. (GT1a luta pela terra e a política fundiária). Disponívelem:<http://www. ufpa.br/campusmaraba/index/cache/publicacoes/fernando_michelotti_ fcam_3.pdf>. OLIVEIRA, Myriam Cyntia Cesar de; ALMEIDA, Jalcione. Mudanças Sociais e Formas de Exploração do Meio Natural em Áreas de Fronteira Agrária Amazônica: O Caso da Região de Marabá – PA. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/pgdr/arquivos/544.pdf>. SACRAMENTA, Diane Maria Oliveira; COSTA, Benhur Pinós da. A questão agrária e migrações na amazônia brasileira: o caso do assentamento canoas no município de presidente Figueiredo - AM. Disponivelem:<http://www.uff.br/vsinga/trabalhos/Trabalhos%20Completos/ Diane%20Maria%20Oliveira%20Sacramenta.pdf>.

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (Brasil). Superintendência Regional do Sul do Pará – SR27. Marabá - PA, 2011. LACERDA, A. E. et al. (2007) A Geografia serve para desvendar máscaras sociais. Conflitos no campo Brasil 2006. Comissão Pastoral da Terra. Goiânia: CPT/Nacional Brasil. 90-93 p.

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ACERVO BOTÂNICO DO HERBÁRIO DA FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ, MARABÁ- PA Sandra Ciriaco de Cristo Fernanda Nascimento Lima

1 2

Resumo: O objetivo deste trabalho foi conhecer parte do acervo botânico do Museu Municipal de Marabá, cerca de 10% dos registros depositados nesta coleção, como parte do processo de indexação do Herbário. Foram feitas amostragens nos livros de registros e em seguida confirmadas com suas respectivas exsicatas, no intuito de analisar os seguintes dados: representação qualitativa das espécies dentre as principais famílias, informações sobre o coletor, número de coleta/cadastro, data e município. A maioria das amostras depositadas no Herbário foram coletadas pela própria Fundação em pesquisas realizadas na região. A manutenção deste herbário é fundamental para o conhecimento e conservação da flora regional, assim como para posteriores estudos. O Herbário conta hoje com 128 Famílias, sendo com maior número de exemplares: Orchidaceae, Papilionoideae, Caesalpinoideae, Araceae .Apocynaceae e Arecaceae. Palavras-chave: Herbário, Coleções Científicas, Pará. Introdução O herbário consiste em uma coleção cientifica composta por amostras botânicas coletadas, desidratadas, tratadas, preparadas e conservadas segundo técnicas específicas, que podem ser preservadas para fontes de pesquisas por centenas de anos, caracterizando a diversidade vegetal de diferentes ecossistemas, servindo para saber quais são as espécies vegetais que compõem a flora de uma determinada região (MARTINS-DASILVA, 2002). 1 - Mestranda em Engenharia Florestal: Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) sandraciriaco@hotmail.com 2 - Coordenadora do Laboratório de Botânica do Museu Municipal de Marabá.

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De acordo com Reis & Martins-da-Silva (2008), a coleção de plantas depositadas em um herbário é uma ferramenta para todas as pesquisas em Taxonomia e estudos em áreas correlatas, como Fitogeografia, Fitoquímica, Farmacologia, Genética, Ecologia, entre outras. Um herbário cumpre a função científica de preservar e acondicionar as coleções de plantas devidamente coletadas para estudo, identificação e classificação de exemplares, os quais, após os procedimentos de herborização, são incorporados à coleção, passando a receber a denominação de exsicatas (plantas desidratadas por técnica de herborização que apresenta dados de descrição morfológica, acompanhados de ficha de informações sobre o local da coleta e do coletor da espécie). O Herbário pode participar na integração das pesquisas sobre a diversidade florística e o inventário sistemático do patrimônio vegetal, essencial para apontar os remanescentes de vegetação nativa com potencial para preservação, bem como subsidiar com mais rigor os estudos que possibilitem o reflorestamento de áreas degradadas (Mania & Assis, 2008). Marabá, localizado no Sudeste do Estado do Pará, no início de sua fundação (fim do século XIX), teve como uma das suas principais atividades econômicas a atividade madeireira, acontecimento este que fez com que Marabá se tornasse um dos principais polos madeireiros do Estado do Pará, fato que ocasionou a exploração desordenada de espécies arbóreas, causando grandes impactos ecológicos e descaracterizando a flora regional. Diante dos problemas ambientais ocasionados pela extração de produtos florestais, e com a perda da diversidade genética, os herbários representam papel importante para o conhecimento da composição florestal. O Museu Municipal de Marabá (MMM) tem em seu departamento de botânica um Herbário com um acervo com mais de sete mil amostras botânicas, entre ervas, arbustos, árvores nativas, ornamentais, entre outros. O herbário foi criado por meio de atividades do GEMA (Grupo Ecológico de Marabá), que tinha como objetivo a coleta de materiais e dados da região e a criação de um museu para acondicionar esse material. O objetivo deste trabalho foi conhecer parte do acervo botânico, cerca de 10% dos

registros depositados nesta coleção, como parte do processo de indexação do Herbário.

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Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido no Herbário do Museu Municipal de Marabá, onde foram feitos levantamentos nos livros de registros e, a partir destes, organizou-se uma listagem por amostragem, sendo feita uma seleção aleatória dos registros, nos livros das principais espécies, contendo: coletor, número de coleta, data, Estado, município, das principais espécies depositadas no herbário. Depois do levantamento nos livros, as espécies foram confirmadas nos registros já digitalizados do herbário. Foram analisados ainda os gêneros e famílias mais representativos. Resultados e Discussão Existem mais de 7.000 amostras depositadas no herbário, a maioria delas coletadas pela própria Fundação em pesquisas realizadas na região, porém existem materiais que foram depositados por outros pesquisadores e até mesmo por estudantes. Nos livros, além de registros de exsicatas, existem também registros de frutos, troncos, sementes e resinas, os quais também fazem parte do acervo do Herbário. A família Orchidaceae é mais representativa no acervo, com 2.623 espécimes. Em seguida a família Fabaceae Caesalpinoideae tem um expressivo número de amostras depositadas no herbário; resultado semelhante encontraram Ferreira et al (2010) em um levantamento realizado no Herbário da Amazônia Meridional. Outras famílias com expressivo número de espécies representativas são Caesalpinioiodae, Bignoniaceae, Annonaceae e Anacardiaceae. As famílias mais representativas são as esperadas para as regiões amazônicas, principalmente pelas mesmas apresentarem ampla distribuição geográfica. Dentre os registros verificou-se a ocorrência de espécies que antes eram abundantes na região sudeste paraense e que, devido a exploração

29


de forma predatória, hoje encontram-se na lista de espécies ameaçadas de extinção. Em 2011 teve início a digitalização do acervo botânico utilizando o software BRAHMS (Botanical Research And Herbarium Management System training guide), que é uma ferramenta utilizada para administrar e integrar dados e imagens a partir de espécimes, pesquisas botânicas, observações de campo, coleções vivas, bancos de sementes e literatura (FILER, 2010; BRAHMS, 2012). A preocupação do Herbário do MMM é, principalmente, representar a ocorrência das espécies vegetais existentes nesta região e, desta forma, subsidiar pesquisas cientificas e atender a comunidade do Sudeste paraense, visto que para Ferreira et al. (2010) nenhuma pesquisa botânica tem validade sem ter material comprobatório depositado em um herbário, pois somente assim é possível inferir sobre a verdadeira identidade das plantas estudadas. Como a região tem sofrido um acelerado processo de desmatamento, o Herbário tem um relevante diferencial, pois sua coleção de amostras com mais de 20 anos abriga espécies que hoje são consideradas ameaçadas de extinção. Essas amostras são a única forma de saber a ocorrência da flora da região sudeste do Pará, e trabalhos de conservação e restauração só serão realizados diante do conhecimento da flora local. O Herbário do MMM possui uma coleção didática, destinada a atender os visitantes, inclusive estudantes de todos os níveis de escolaridade. Só será possível conhecer algumas espécies que hoje estão ameaçadas de extinção na região ao fazermos uma visita ao herbário da FCCM e nos debruçarmos sobre algumas das mais de sete mil amostras botânicas ali depositadas. Tabela 01: Amosta de plantas exsicatadas. Espécie

Nome vulgar

Família

Data de registro

Registro

Procedência

Acacia polyphyla

Unha de gato

Fab. Mimosaceae

Mai/2004

1451

Murumurú

Alchornea sp

Figueira do Brejo

Euphorbiaceae

Out/2002

0797

APA Eletronorte

Anacardium microcarpum

Cajuí

Anacardiaceae

Jul/1988

0059

Santa Cruz do Araguia

Andropogon nardus

Capim santo

Poaceae

Jul/1984

0046

Tauirí-PA

30

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

Espécie

Nome vulgar

Família

Data de registro

Registro

Procedência

Apeiba echinata

Pente de Macaco

Malvaceae

Mar/2004

1218

Murumurú

Apuleia leiocarpa

Jatai

Fab. Caesalpinioideae

Set/2008

3119

APA

Araucaria angustifolia

Pinheiro do Paraná

Araucariaceae

Nov2003

0954

Murumuru

Attalea speciosa

Babaçu

Arecaceae

Mar/2004

1129

Parque Zoobotânico

Bagassa guianensis

Tatajuba

Moraceae

Nov/2008

3221

Reserva Ambiental Murumurú

Bauhinia forficata

Pata de vaca

Fab. Caesalpinoideae

Ago/2005

2262

Canaã dos Carajás

Caesalpinia echinata

Pau Brasil

Fab. Caesalpinioideae

Mar/2004

1075

Murumurú

Cassia sp

Pau Brasil

Fab. Caesalpinioideae

Ago/1988

0097

Murumurú

Cecropia pachystachya

Embaúba

Urticaceae

Out/2003

0829

APA Eletronorte

Cenostigma tocantinum

Pau preto

Fab. Caesalpinoideae

Nov2009

3597

Casa da Cultura

Chamaesyce hirta

Leiteira

Euforbiaceae

Mar/2005

1966

Murumurú

Chenopodium ambrosioides

Mastruz

Chenopodiaceae

Jul/1984

0013

Jacundá

Chenopodium ambrosioides

Mastruz

Cheropodiaceae

Mar/2005

1850

Murumurú

Cipura paludosa

Iris azul

Iridaceae

Mai/2011

4056

Araguatins

Digitaria bicornis

Jasmin

Poaceae

Maio de 2008

2958

Reserva Ambiental Murumuru

Dipteryx odorata

Cumarú

Fab. Faboideae

Jan/2006

2338

Reserva Ambiental Murumurú

Doliocarpus sp

Cipó d’água

Dilleniaceae

Jul/2010

3825

Rondon do Pará

Enterolobium schomburgkii

Orelha de macaco

Fab. Mimosaceae

Jun/2004

1530

Parque Zoobotânico

Eschweilera nana Miers

Sapucaia

Lecythidaceae

Nov/2009

3587

Reserva Ambiental Murumurú

Euterpe oleracea

Açaí

Arecaceae

Mar/2004

1223

Murumurú

Ficus dendrocida

Mata pau

Moraceae

Mar/2004

1068

Murumurú

Ficus doliaria

Gameleira

Moraceae

Jul/1984

0009

Jacundá

Ficus maxima

Gameleira

Moraceae

Set/2011

5139

Parque Zoo de Marabá

Geonoma maxima

Açaizinho

Areaceae

Set/2009

3494

Reserva Ambiental Murumurú

Hymenaea courbaril

Jatobá

Fab. Caesalpinioideae

Jul/1988

0071

Santa Cruz do Araguaia

Inga capitata

Ingá

Fab. Mimosoideae

Fev/2012

5203

Parque Zoo de Marabá

Isertia hypoleuca

Rabo de Arara

Rubiaceae

Jan/2010

3695

Reserva Ambiental Murumurú

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

31


Espécie

Nome vulgar

Família

Data de registro

Registro

Procedência

Jacarandá brasiliana

Jacarandá

Bignoneaceae

Ago/2009

3465

Reserva Ambiental Murumurú

Jatropha gossypiifolia

Pinhão roxo

Euphorbiaceae

Mar 2004

1285

Murumuru

Lecythis lanceolata

Sapucaia pequena

Lecythidaceae

Dez/2012

1767

Murumurú

Mauritiella aculeata

Buritirana

Arecaceae

Fev/ 2004

0979

Paleo canal

Mauritiella armata

Buritirana

Arecaceae

Abr/2011

3974

Paleocanal

Oenocarpus distichus

bacaba

Arecaceae

Mar/2004

1099

Parque Zoobotânico

Passiflora coccinea

Maracujá do mato

Passifloraceae

Mai/2004

1378

Murumurú

Passiflora galbana

Maracujá

Passifloraceae

Nov/2010

3939

Araguatins

Peperomia pellucida

Erva de jabuti

Piperaceae

Dez/2012

1758

Murumurú

Piper tuberculatum

Pimenta de macaco

Piperaceae

Jul/1984

0001

Jacundá

Platymiscium trinitatis

Jacarandá

Fab. Papilionoideae

Ago/2007

2557

Reserva Ambiental Murumurú

Platonia insignis

Bacuri

Clusiaceae

Ago/1988

0066

Santa Cruz do Araguaia

Plukenetia sp

?

Euphorbiaceae

Mai/2012

5219

RAM

Pourouma guianensis

Embaubão

Urticaceae

Mar/2004

1121

Parque Zoobotânico

Pouteria macrophylla

Tuturubá

Sapotaceae

Nov/2003

0942

Murumurú

Pseudobombax marginatum

Sumaúma

Malvaceae

Out/ 2003

0823

APA Eletronorte

Pseudobombax marginatum

Sumauminha

Malvaceae

Fev/ 2004

1574

Murumurú

Psidium sufum

Acaraçá

Myrtaceae

Jan/2009

3309

Reserva Ambiental Murumurú

Pterodon polygalaeflorus

Sucupira azul

Fabaceae

Ago/2009

3477

Lageado/To

Rheedia macrophylla

Bacupari

Clusiaceae

Dez/2006

2389

Aldeia Suruí

Senna occidentalis

Fedegoso

Fab. Caesalpinioideae

Mar/2005

1856

Murumurú

Solanum sisymbriifolium

João Bravo

Solanaceae

Ago/ 2008

3101

Morada Nova

Spermacoce verticillata

Vassourinha

Rubiaceae

Jul/ 2007

2518

Parauapebas-Pa

Swietenia macrophylla

Mogno

Meliaceae

Jul/2009

3456

Reserva Ambiental Murumurú

Tabebuia aquatilis

Ipê do Lago

Bignoneaceae

Nov/2009

3618

PA-150 km 05

Tabebuia serratifolia

Ipê amarelo

Bignoniaceae

Set/2011

5046

RAM

Theobroma speciosa

Cacau do mato

Malvaceae

Fev/2012

5166

Parque Zoo de Marabá

Thunbergia erecta

Manto do rei

Acanthaceae

Fev/2012

5188

Triplaris surinamensis

Tachi da várzea

Polygonaceae

Out/2008

3194

Paleo Canal

Vismia sp

Lacre

Clusiaceae

Fev/2004

1045

Paleo canal

Virola sebifera

Ucuuba

Myristicaceae

Dez/2006

2402

Murumurú

Xiphidium coruleum

Iris

Haemodoraceae

Mar/2008

2856

Reserva Murumurú

32

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

Conclusão O Herbário do Museu Municipal de Marabá possui em seu acervo uma coleção composta por mais de sete mil amostras de espécimes botânicos que são, em sua maioria, da própria região. A família Orchidaceae apresentou o maior número de representantes depositados no acervo. Essas amostras, coletadas desde 1982, representam um importante banco de informação sobre a flora da nossa região, que se torna ainda mais importante devido às atividades antrópicas que provocam uma crescente degradação nos ecossistemas regionais. A manutenção do Herbário do MMM é imprescindível para a região, tendo em vista que, para desenvolver ações de preservação e restauração, o primeiro passo é conhecer a diversidade biológica existente no local. Referências BRAHMS (Botanical Research And Herbarium Management System trainingguide). Disponível em: < http://herbaria.plants.ox.ac.uk/bol/ brahms/Home/About> Acesso em: 23 jan. 2012. FILER, D.L. Botanical Research And Herbarium Management System training guide. Department of Plant Sciences, University of Oxford, 2010.‟ FERREIRA, Glacialda Costa. Diretrizes para coleta, herborização, e identificação de material botânico nas parcelas permanentes em florestas naturais da Amazônia brasileira. Disponivel em:< http://redeflor.net/pdf/artigos/>. Acesso em: 28 fev. 2011. MANIA, L. F. & ASSIS, M. A. 2008. Processo de informatização do Herbário Rioclarense (HRCB) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Rio Claro, SP, e sua inclusão num sistema de rede, Rev. Ciênc. Ext., vol. 4, n. 1, pág. 9 – 21.

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

33


MARTINS-DA-SILVA, R. C. V. Coleta e identificação de espécimes botânicos. Belém, PA: Embrapa Amazônia Oriental, 2002.40 p.il. REIS, I. P.; MARTINS-DA-SILVA, R. C. V. Levantamento , no Herbário Ian, das Papilionoidae (Leguminosae ocorrentes no estado do Pará. VI Seminário de Iniciação Científica da UFRA e XII Seminário de Iniciação Científica da EMBRAPA Amazônia Oriental/ 2008.

ORQUÍDEAS DA REGIÃO DE TUCURUÍ - PA Noé von Atzingen Pablo Vinicius Souza2 Daniel Roldão3 1

Resumo: O presente trabalho apresenta os leventamentos feitos na região de tucuruí, e seu entorno, chegando até Baião no Baixo Rio Tocantins e na direção sul indo até Novo Repartimento. Neste trabalho identificamos 7 espécies da família Orchidaceae, destribuida em 35 gêneros, sendo o gênero Catasetum o que apresenta o maior numero de espécies um total de nove e um variedade, além de três espécies ainda não identificadas. Em seguida o gênero Epidendrum apresenta7 espécies. Palavras-chave: Orchidaceae, Ecossistemas Introdução Desde os anos 80 o Museu Municipal de Marabá através do setor de botânica e do Orquidário Margaret Mee vêm realizando levantamentos das espécies da família Orchidaceae na região amazônica, principalmente no sudeste paraense, localizado na parte oriental da Amazônia brasileira. O que resultou em alguns trabalhos publicados: Orquideas do Paleocanal do Tocantins; Orquídeas da Serra do Caximbo; Orquídeas do Flexeiras; Orquídeas do Mojú; Novas ocorrências de Orchidaceae no estado do Pará; Orquídeas do Norte do Tocantins; Flora orquidológica da Serra dos Carajás Estado do Pará; Die reitung von or orchideen im östliclen amazonasbecken Von Brasilien; Carajás - Uma iniciativa de preservação; Projeto salvamento de orquídeas em Carajás; Orquídeas do ama1 - Fundação Casa da Cultura de Marabá; 2 - Estudante de Ciências Biológicas. Fac. Metropolitana. 3 - SOM(Sociedade de Orquidófilos de Marabá)

34

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

35


zonas; Epidendrum mojuensis e Epidendrum pesudoúliana: duas novas espécies de Orchidaceae do estado do Pará, Brasil e Orquídeas de Canaã dos Carajás-PA. Desde 1999 temos feito levantamentos da família Orchidaceae, principalmente na região do Novo Repartimento, recentemente iniciamos estudos no Município de Tucuruí e Baião. O presente trabalho reúne os dados coletados na região. Meio Ambiente Identificamos na região estudada os seguintes ecossistemas: A)

Floresta Ombrófila Densa Aluvial (FA)

Trata-se de uma formação ribeirinha ou “floresta ciliar” que ocorre ao longo dos cursos de água ocupando os terraços antigos das planícies quaternárias. Esta formação é constituída por macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, em geral de casca lisa, tronco cônico, por vezes com a forma característica de botija e raízes tabulares. A floresta aluvial apresenta com freqüência um dosel emergente, porém, devido à exploração madeireira, a sua fisionomia torna-se bastante aberta. É uma formação com muitas palmeiras no estrato intermediário, apresentando na submata nanofenerófitos e caméfitos no meio de “plântulas” da reconstituição natural do estrato emergente. Em contrapartida a formação apresenta muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e poucas parasitas (IBGE, 1991). B)

Floresta Ombrófila densa (FD)

O dissecamento do relevo montanhoso e dos planaltos com solo me36

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

dianamente profundos é ocupado por uma formação florestal que apresenta fanerófitos com altura aproximadamente uniforme. A submata é integrada por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade. Suas principais características ficam por conta dos fanerófitos de alto porte, alguns ultrapassando os 50m na Amazônia e raramente 30m nas outras partes do país. Esta formação é caracterizada por ecótipos que variam influenciados pelo posicionamento dos ambientes de acordo com a latitude, ressaltando-se também a importância do fator tempo nesta variação ambiental. Assim, o tempo que as plantas tropicais levaram para ocupar as atuais posições no Centro-sul foi suficientemente para o estabelecimento das adaptações homólogas, em ambientes semelhantes. O mesmo aconteceu em certos casos, de variações no tempo da dispersão dos ecótipos que se deslocavam para o sul do país, tomando-se como exemplo Hieronyma alchornioides e Didymopanax morototoni, ambas cosmopolitas e possuidoras de sementes leves pertencentes às famílias Euphorbiaceae e Araliaceae, respectivamente, e os gêneros Pouteria e Chrysophyllum também cosmopolitas e possuidoras de sementes pesadas pertencentes a família Sapocaceae com endemismos na Amazônia, no Nordeste e no Sul do país, além do gênero Alchornea (Euphobiaceae) com vários ecótipos extra-amazônicos. (IBGE, 1991). C)

Savana Metalófila (SM)

Podemos separar, a grosso modo, a vegetação não florestal (savanas metalófilas):em vegetaçaõ e canga aberta, vegetação de canga densa e campos naturais, sendo que todos mantém relação entre si. É muito fácil observar-se nos vales a transição da vegetação aberta para a vegetação densa contatando com a mata aberta ou o surgimento abrupto de “ilhas” Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

37


de vegetação densa em extensões de campos naturais. Há predominância de ervas e arbustos lenhosos (raramente árvores), cujo aspecto de longe lembra um pouco a vegetação do campo cerrado, embora não se apresentem retorcidos, com folhas fortemente coriáceas e caules rugosos. (SECCO, 1983). D)

Campinarana (CA)

quando floridas. Resultados Na área identificamos 7 espécies da família Orchidaceae, destribuida em 35 gêneros, sendo o gênero Catasetum o que apresenta o maior número de espécies um total de nove e uma variedade, além de três espécies ainda não identificadas. Em seguida o gênero Epidendrum apresenta7 espécies.

Área com mata de trocos finos, esguios, geralmente situados em posição tampão entre florestas de terra firme e os solos desnudos das campinas (Ab’Saber,1982). AS arvores deste ecossistema atinge no máximo 15 m de altura e tendo como espécies representativas o Jatobá (Hymenaea courbaril), o Inajá (Attalea maripa) e a Buritirana (Mauritiella sp)

Materiais e Métodos A região estudada era originalmente coberta por Florestas Ombrofila Densa Aluvial e Floresta Ombrofila Densa, em parte da área estudada foi posível encontrar parcelas com florestas remanescentes, no entanto, boa parte, foi destruída por ações antropicas. Foram feitas várias excursões à região entre 1999e 2012. A região foi percorrida em barcos e canoas ao longo dos rios bem com em veículos automotores quando possível e em boa parte, à pé. Na medida do possível as espécies floridas foram fotografadas para facilitar a identificação. Quando não era possível sua identificação “in loco” partes de alguns exemplares foram coletados e exicatados e foram depositados no herbário do Museu Municipal de Marabá. As espécies não floridas e com identificação incerta foram coletadas e cultivadas nos orquidários: Margaret Mee e Guido Pabst de Marabá, para possibilitar sua identificação 38

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

Figura 1 - Catasetum cilliatum /Noé von Atzingen, 2012

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

39


Figura 2- Mapa de localização de Tucuruí/Baião/Pacajá - PA Tabela 01- Espécies de orquídeas identificadas na Região de Tucuruí, Breu Branco, Transamazônica Baião e Novo Repartimento. Legenda: BB: Breu Branco TU: Tucuruí BA: Baião NR: Novo Repartimento (Pacajá/Maracajá)

AD: Área degradada FA: Floresta aluvial FD: Floresta densa CA: Campinarana SM: Savana Metalófila

E: Epífita T: Terrestre R: Rupestre

Nome científico

Localidades

Habito

Habtat

Catasetum ciliatum

BA,BB,TU

E, R

AD, FM, SM

Catasetum ciliatum alba

TU

E

AD

Catasetum discolor

TU, NR

E

AD, SM

Catasetum longifolium

BA, TU

E

AD, FV

Catasetum macrocarpum

TU, NR

E

AD

Catasetum planiceps

TU

E, R

AD, SM

Catasetum sp1

BE, NR

E

AD, FM

Catasetum sp 2

TU

E

SM

Nome científico

Localidades

Habito

Habtat

Catasetum sp 3

NR, TU

E

SM

Cyrtopodium polyphyllum

TU, NR

R

SM

Dichaea picta

NR

E

FD

Dimerandra emarginata

MjNR

E

FD

Encyclia flava

T-N/PNR

E

SM

Encyclia granitica

BA, TU

E, R

CA, SM

Epidendrum anceps

BA

E

FA, SM

Epidendrum imatophyllum

BA, TU

E

FA, SM

Epidendrum micronocturnum

BA, TU

E

CA, SM

Epidendrum nocturnum

NR, TU, NR.

E

FA, CA, FD, SM

Epidendrum rigidum

BA

E

CA

Epidendrum spilotum

BA, TU

E

SM

Epidendrum strobiliferum

BA,TU,NR

E

CA, FD, SM

Gongara sp

NR, TU

E

FA

Quequetia microscopica

TU

E

FA

Ionopsis utricularioides

NR

E

AD FA

Nome científico

Localidades

Habito

Habtat

Lockhartia ivainae

BA

E

Aspasia variegata

BB

E

FA, CA

Lockhartia lunifera

TU, NR

E

FA

Brassavola martiana

BA

E

FA, CA

Macradenia sp

BA, TU, NR.

E

FA

Brassia caudata

BB

E

FM

Maxillaria camaridii

NR

E

FD

Bulbophyllum sp

BA

E

CA

Maxillaria setigera

BA, NR

E

CA, FD

Campylocentrum sp

BA

E

FA, SM

Maxillaria uncata

NR

E

FD

Catasetum albovirens

TU

E

FD,AD

Notylia sp

BA,TU,NR

E

FA

40

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

41


Nome científico

Localidades

Habito

Habtat

Notylia platyglossa

BA

E

CA

Orleonesia sp

NR

E

FD

Oeceoclades maculata

BA,TU

T

FA

Oncidium baueri

TU

E

SM

Oncidium nanum

BA,TU

E

FA

Paphinia sp

TU

E

FA

Pleurothallis miqueliana

BA,TU

E

CA

Pleurothallis picta

TU

E

FA

Polystachya estrellensis

NR

E

FD

Polystachya sp

BA,TU

E

FA, CA

Polystachya sp 1

TU,NR

E

SM

Polystachya sp 2

TU

E

CA

Polystachya stenophylla

BA,TU

E

CA

Prosthechea fragrans

BA,TU

E

CA

Reichenbachanthus reflexus

BA,TU

E

CA

Rodriguezia laceolata

BA,TU,NR

E

FA, CA, FD, SM

Sarcoglottis grandiflora

NR

T, R

FD, SM

Sarcoglottis sp

TU

R

FD

Scaphyglottis amethystina

BA,TU

E

CA

Scaphyglottis gracilis

TU

Scaphiglottis sickii

TU,NR

E

FA, CA, FD, SM

Schomburgkia gloriosa

BA,TU,NR

E

CA, FD

Stanhopea grandiflora

TU

E

FA

Sobralia macrophylla

BA,TU

E

CA

Nome científico

Localidades

Habito

Habtat

Sobralia violacea

TU,NR

E

FA, FD, SM

Trigonidium acuminatum

BA,TU,NR

E

FA, CA

Vanilla sp

NR

E

FA

Vanilla sp 1

TU,NR

E

SM

Vanilla sp 2

TU

E

AD

Zygosepalum labiosum

TU

E

FA

42

SM

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

Agradecimentos Agradecemos ao Sr. Sancler Ferreira Prefeito Municipal de Tucuruí, ao Sr. José Flor de Lima, e toda a equipe do departamento de paisagismo da Prefeitura Municipal de Tucuruí, a D Jon Wildenberg Silva Lima e Gabriel Silva de Souza pela participação nas atividades de campo a Maria Betânia Furtado pela digitação dos manuscritos a Bruno Sherer pela elaboração do mapa. Referências ATZINGEN, N. von, 1999-2012. Relatórios de campo da Fundação Casa da Cultura (inéditos). DUNSTERVILLE, G. C. K. e GARAY, L. A., 1979. Orchids of Venezuela. – Botanical Museum of Harvard University. Vol.1, 2 e 3. IBGE. 1991. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. PABST, G. F. J. e DUNGS, F., 1997. Orchidaceae Brasiliensis Band I e II – Brücke Verlag Kurt schmersow, Hildeshein. RODRIGUES, J. B., 1996. Iconographie des orchidees du Bresil. Vol. I e II: Friedrich Reinhardt verlag Basle. SILVA, M. F. F. da & SILVA, J. B. F., 2004. Orquídeas nativas da Amazônia Brasileira 2º Ed., Belém: Mus. Para. Emílio Goeldi.

Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

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ORQUÍDEAS DA REGIÃO DO RIO TAPIRAPÉ E RIO CAJAZERAS NOS MUNICÍPIOS DE MARABÁ E ITUPIRANGA - PA Noé von Atzingen Daniel Roldão² 1

Resumo: Este trabalho apresenta lista de espécies da família Orchidaceae ocorrentes na região do Rio Tapirapé, no Município de Marabá e Rio Cajazeiras, no Município de Itupiranga, no estado do Pará. Foram identificadas 61 espécies de orquidáceas representadas por 34 gêneros. Apresentamos também as preferências adaptativas de cada espécie, assim como os ecossistemas de ocorrência. Palavras-chave: Orchidaceae, Ecossistemas. Introdução Desde os anos 80 o Museu Municipal de Marabá, através do setor de botânica e do Orquidário Margaret Mee, vem realizando levantamentos das espécies da família Orchidaceae na região amazônica, principalmente no sudeste paraense, localizado na parte oriental da Amazônia brasileira. Como resultado alguns trabalhos foram publicados: Orquideas do Paleocanal do Tocantins; Orquídeas da Serra do Caximbo; Orquídeas do Flexeiras; Orquídeas do Mojú; Novas ocorrências de Orchidaceae no estado do Pará; Orquídeas do Norte do Tocantins; Flora orquidológica da Serra dos Carajás Estado do Pará; Die reitung von or orchideen im östliclen amazonasbecken Von Brasilien; Carajás - Uma iniciativa de preservação; Projeto salvamento de orquídeas em Carajás; Orquídeas do amazonas; Epidendrum mojuensis e Epidendrum pesudoúliana: duas novas espécies de Orchidaceae do estado do Pará, Brasil e Orquídeas de Canaã dos Carajás-PA. Desde 1994 temos pesquisado a região compreendida pelo Rio Tapirapé, abrangendo a região do entorno do Tapirapé, Buritirama e Rio Preto, no Município de Marabá: contígua a estes locais, pesquisamos a região do Igarapé Vermelho e do Rio Cajazeiras no Município de Itupiranga. 1 - Fundação Casa da Cultura de Marabá; 2 - SOM(Sociedade de Orquidófilos de Marabá)

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madeireira, a sua fisionomia torna-se bastante aberta. É uma formação com muitas palmeiras no estrato intermediário, apresentando na submata nanofenerófitos e caméfitos no meio de “plântulas” da reconstituição natural do estrato emergente. Em contrapartida a formação apresenta muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e poucas parasitas (IBGE, 1991). B) Floresta Ombrófila densa (FD)

Figura 1: Mapa de localização do Rio Tapirapé e Cajazeiras Meio Ambiente As áreas estudadas são compostas pelos seguintes ecossistemas: A) Floresta Ombrófila Densa Aluvial (FA) Trata-se de uma formação ribeirinha ou “floresta ciliar” que ocorre ao longo dos cursos de água, ocupando os terraços antigos das planícies quaternárias. Esta formação é constituída por macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, em geral de casca lisa, tronco cônico, por vezes com a forma característica de botija e raízes tabulares. A floresta aluvial apresenta com frequência um dossel emergente, porém, devido à exploração

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O dissecamento do relevo montanhoso e dos planaltos com solo medianamente profundos é ocupado por uma formação florestal que apresenta fanerófitos com altura aproximadamente uniforme. A submata é integrada por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade. Suas principais características ficam por conta dos fanerófitos de alto porte, alguns ultrapassando os 50m na Amazônia e raramente 30m nas outras partes do País. Esta formação é caracterizada por ecótipos que variam influenciados pelo posicionamento dos ambientes de acordo com a latitude, ressaltando-se também a importância do fator tempo nesta variação ambiental. Assim, o tempo que as plantas tropicais levaram para ocupar as atuais posições no Centro-sul foi suficientemente para o estabelecimento das adaptações homólogas, em ambientes semelhantes. O mesmo aconteceu em certos casos, de variações no tempo da dispersão dos ecótipos que se deslocavam para o sul do país, tomando-se como exemplo Hieronyma alchornioides e Didymopanax morototoni, ambas cosmopolitas e possuidoras de sementes leves pertencentes às famílias Euphorbiaceae e Araliaceae, respectivamente, e os gêneros Pouteria e Chrysophyllum também cosmopolitas e possuidoras de sementes pesadas pertencentes à família Sapocaceae com endemismos na Amazônia, no Nordeste e no Sul do país, além do gênero Alchornea (Euphobiaceae) com vários ecótipos extra-amazônicos. (IBGE, 1991).

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Materiais e Métodos A região estudada era originalmente coberta por Floresta Ombrófila Densa Aluvial e Floresta Ombrófila Densa, em parte da área estudada foi possível encontrar parcelas com florestas remanescentes, no entanto, boa parte, foi destruída por ações antrópicas. Foram feitas várias excursões à região, entre 1984e 2012. A região foi percorrida em barcos e canoas ao longo dos rios, bem com em veículos automotores ,quando possível, e, em boa parte, a pé. Na medida do possível as espécies floridas foram fotografadas, para facilitar a identificação. Quando não era possível sua identificação “in loco”, partes de alguns exemplares foram coletados e exsicatados e depositados no herbário do Museu Municipal de Marabá. As espécies não floridas e com identificação incerta foram coletadas e cultivadas nos orquidários: Margaret Mee e Guido Pabst, de Marabá, para possibilitar sua identificação quando floridas. Resultados e Discussão

Legenda: E: Epífita T: Terrestre

B: Buritirama C: Cajazeras P: Rio Preto I: Igarapé Vermelho

AD: Área Degradada FA: Floresta Aluvial FD: Floresta Densa

Espécie

Ecossistema

Local

Habito

Aspasia variegata

FD

C/P

E

Brassia caudata

FA

C/I/T/P

E

Caluea sp

FA

C

E

Campylocentrum micranthum

FA

T/C

E

Campylocentrum pachyrrhizum

FA

B/I

E

Campylocentrum tyrridion

FA

T

E

Catasetum albovirens

FD

C

E

Catasetum macrocarpum

AD

C/I

E

Cycnoches haagii

FA

B

E

Cryptarrhena ghillanyi

FD

P

E

Na região trabalhada foram identificadas 61 espécies (ver tabela 01) pertencentes a 34 gêneros. Os gêneros com maior numero de espécies são: Notylia com 8 espécies, Maxillaria com 4 espécies, Epidendrum com 4 espécies Campylocentrum , Dichaea e Schomburgkia com 3 espécies cada. Das 61 espécies encontradas, 59 apresentam hábito epífito, e duas apresentam hábito terrestre. Um quadro bastante esperado, visto que a grande maioria dos representantes da família Orchidaceae são plantas epífitas. Com relação à ocorrência nos ecossistemas temos a seguinte distribuição: 30 espécies ocorrem em Floresta Densa Aluvial, 28 espécies ocorrem em Floresta Densa e 03 ocorrem em Área degradada. A seguir apresentamos a tabela com as espécies identificadas.

Dichaea hokerii aff

FA

C

E

Dichaea panamensis

FA

C

E

Dichaea picta

FD

B/T/I/P

E

Dimerandra emarginata

FA

I

E

Encyclia randii

FA

I

E

Epidendrum anceps

FA

I

E

Epidendrum nocturnum

FA

I

E

Epidendrum secundum

FD

C

E

Epidendrum repens

FA

I

E

Ionopsis satyrioides

FD

P

E

Ionopsis utricularioides

FA

I

E

Lanium microphyllum

FD

T/I

E

Ligeophila clavigera

FD

B

T

Tabela 01- Espécies de orquídeas ocorrentes na região de Cajazeiras.

Lockhartia lunifera

FD

T/I/P

E

Macradenia paraensis

FA

I

E

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Espécie

Ecossistema

Local

Habito

Espécie

Ecossistema

Local

Habito

Macradenia rubescens

FD

P

E

Stanhopea grandiflora

FD

C

E

Macroclinium wullschlaegelianum

FA

I

E

Trigonidium acuminatum

FA

I

E

Maxillaria camaridii

FA

I

E

Trizeuxis falcata

FD

P

E

Maxillaria setigera

FD

C/B

E

Vanilla sp

AD

P

E

Maxillaria ringens

FD

B/C

E

Maxillaria uncata

FD

C/I

E

Mormodes kleberii

FA

C

E

Mormodes sp

FA

I

E

Notylia aromatica

FD

P

E

Notylia laxa

FA

C

E

Notylia lyrata

FD

C

E

Notylia platyglossa

FD

P

E

Notylia setigera

FD

T

E

Notylia trullifera

FD

T/B/I

E

Notylia venezuelana

FD

B/C/I

E

Notylia yauaperyensis aff

FD

T

E

Oncidium cebolleta

FA

I

E

Oncidium nanum

FD

T/I

E

Ornithocephalus bicornis

FD

T

E

Ornithocephalus gladiatus

FA

I

E

Pleurothallis picta

FA

I

E

Pleurothallis sp

FD

C

E

Polystachya concreta

FA

B

E

Polystachya estrellensis

FD

B/I

E

Quekettia microscopica

FA

I

E

Sacoiola lanceolata

AD

B

T

Scaphyglottis amethystina

FA

C/I

E

Scelochilus sp

FD

P

E

Schomburgkia crispa

FA

T

E

Schomburgkia sp ?

FA

T

E

Schomburgkia undulata aff

FA

T/C

E

Sobralia violacea

FD

C

E

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Agradecimentos Agradecemos a Bruno Sherer pela elaboração do mapa e a Pablo Vinícius Souza pelo apoio nos trabalhos de campo e a Maria Betânia Furtado pela digitação dos manuscritos. Referências ATZINGEN, N. von, . Relatórios de campo da Fundação Casa da Cultura (inéditos). 1984-2010. DUNSTERVILLE, G. C. K. e GARAY, L. A.,. Orchids of Venezuela. A. G. – Botanical Museum of Hervard University,vol.1,2 e 3.1979. IBGE.. Manual Técnico da Vegetação Brasileira.1991. PABST, G. F. J. e DUNGS, F., . Orchidaceae Brasiliensis Band I e II – Brücke Verlag Kurt schmersow, Hildeshein.1997. RODRIGUES, J. B.,. Iconographie des orchidees du Bresil. Vol. I e II: Friedrich Reinhardt verlag Basle,1996. SILVA, M. F. F. da & SILVA, J. B. F., . Orquídeas nativas da Amazônia Brasileira II, Belém: Univ. Rural da Amazônia e Mus. Para. Emílio Goeldi.2004.

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A BUSCA DE REGULARIDADES MEDINDO FENÔMENOS SOCIAIS POR MEIO DE QUESTIONÁRIOS EM PESQUISA. Adenilson Barcelos de Miranda

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Sobralia violacea /Atzingen 2012

Resumo: Questionários aplicados em pesquisa são comumente usados, pois, diante de verbalizações dos sujeitos, dos testemunhos, das confissões, das palavras ditas com forte vínculo com o objeto de estudo, tornase necessário buscar regularidades para medição de fenômenos sociais. Este procedimento adotado nos permite um estudo sistemático dos dados obtidos na pesquisa, no entanto, este pode equivocadamente criar um valor documental a algo mal compreendido. O presente trabalho busca dar atenção à formulação dos questionários e a determinação dos fenômenos do passado no presente. Palavras-chave: fenômenos sociais, estatística, questionários. Introdução

Brassia caudata / Atzingen 2012

A imagem tradicional da ciência como um conjunto de procedimentos que nos conduz à verdade ainda não foi totalmente superada, no entanto, hoje, a visão crítica da ciência nos sugere que a mesma não é infalível. A ciência difere em aspectos importantes de outras atividades humanas, pois, a ciência possui um conjunto de diretrizes que lhe assegura aumentar a utilidade das suas investigações, o que lhe confere abertura para futuras modificações (BABBIE, 2001, p.62). Conforme Babbie (2001, p. 43), “toda ciência pretende entender o mundo ao redor.” Há três componentes, segundo Babbie (2001, p.43), que constituem esta atividade: “descrição, a descoberta de regularidades e a formulação de teorias e leis”. A estatística é uma parte da Matemática Aplicada, que visa por etapas 1- Graduado em Engenharia Industrial Elétrica na Universidade Federal de São João Del Rei (MG) e em Matemática UTRAMIG (MG), Especialista em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras (MG). E-mail: barcelosmiranda@yahoo.com.br

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obtenção dos resultados finais do estudo, são elas: definição do problema, planejamento, coleta de dados, apresentação dos dados, análise e interpretação de dados (TOLEDO, 2009, p.20). A possibilidade de aplicar métodos de investigação científica para buscar regularidades sociais é possível para posteriormente observar e entender fenômenos sociais, desde que cuidados sejam tomados quanto a seus aspectos particulares: “As ciências sociais visam entender racionalmente o comportamento social. Isto não significa dizer que todo comportamento social é racional” (BABBIE, 2001, p.62). Segundo Toledo (2009, p.14), “[...] a Estatística não é, de forma alguma, um método mediante o qual se pode provar tudo aquilo que se deseja”. Este trabalho aborda fundamentalmente um método de pesquisa social conhecido como survey. Algumas considerações particulares pertinentes a sua aplicação serão discutidas para maior atenção ao processo de descrição e explicação para julgamentos razoáveis e seguros nas pesquisas. Pesquisa de Survey Surveys são pesquisas de opinião de caráter quantitativo. A coleta de dados é feita por meio de questionários aplicados a somente uma amostra da população, enquanto o censo se aplica a toda população. Desta forma o tamanho e a representatividade da amostra devem assegurar resultados estatisticamente confiáveis, pois, as informações obtidas a partir desta amostra se aplicará à toda população.Trata-se do método de pesquisa mais conhecido e amplamente usado nas ciências sociais. O questionário

bem conduzida, um questionário significativo se revela importante, uma necessidade, pois, mesmo os textos, as respostas aparentemente claras e objetivas não falam senão quando sabemos interrogá-las. Desta forma um questionário se tornará significativo a partir das falas dos entrevistados, pois, o fato de se ter os dados não basta é importante saber o que fazer com eles. Com isso a necessidade de traçar uma direção é pedra fundamental para que os primeiros passos não pareçam insustentáveis. Toledo (2009, p.15) nos diz: Principalmente em pesquisa social, o analista defronta-se amiúde com a situação de dispor de tantos dados que se torna difícil absorver completamente a informação que está procurando investigar. É extremamente difícil captar intuitivamente todas as informações que os dados contêm. É necessário, portanto, que as informações sejam reduzidas até o ponto em que se possa interpretá-las mais claramente. [...], a estatística descritiva é um número que sozinho descreve uma característica de um conjunto de dados. Trata-se, portanto, de um número-resumo que possibilita reduzir os dados a proporções mais facilmente interpretáveis.

Portanto, é fundamental um questionário de flexibilidade com as suas perguntas para que durante o caminho em busca de uma direção, seja possível agregar e configurar os dados de acordo com a multiplicidade de questionamentos que por natureza se apresentarão e, além disto, permitir que as perguntas tenham em si o convite permanente para estas multiplicidades, para que possam durante o caminho, sempre quando necessário, serem agregadas.Diante de características múltiplas, é importante formular corretamente questões que permeiam o tema proposto para que nos permitam interpretação, e ainda, delas se fazer uma ideia para identificarmos a presença dos fatos e dados relevantes ao objeto de estudo. A determinação dos fenômenos do passado no presente

Diante de verbalizações dos sujeitos, dos testemunhos, das confissões, das palavras ditas com forte vínculo com o objeto de estudo, torna-se necessário ouvir aquilo, que os entrevistados poderiam estar ocultando, e ainda, realizar um estudo sistemático de tais questões. Para uma pesquisa

Ao aplicar um questionário para realizar a investigação de um tema proposto, há possibilidade de se caminhar na linha do tempo em busca desses parâmetros e deparar-se com fatos talvez imaginários. Compreender os entrevistados é de extrema importância para entender o que se obtém como resposta no questionário. Suas reações diante das particula-

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ridades de um questionário, podem se configurar ineficientes, no entanto, a resposta ao questionário é de fato um acontecimento que se faz em um momento significativo e de forte pertubação, pois, há neste momento um reencontro com o passado, mesmo que distante, onde se processam fatos e informações relevantes ao objeto de estudo. Desta forma aquilo que se encontrava recalcado pode vir à tona, se revelar vulnerável, real e passível de viver com intensidade, pois, existe em todo questionário, o desejo de captar os vestígios quebrados no tempo para reconhecer nas respostas dos entrevistados regularidades, para posteriormente observar e entender os fenômenos sociais. É necessário tomar cuidados para observar e ouvir os entrevistados, apenas esses sujeitos fornecem as perspectivas e devidas orientações do conjunto de fatores, das perspectivas e orientações indispensáveis para realizar uma boa pesquisa. Para toda situação que ainda é de natureza bastante comum para um grupo de entrevistados, muitos dos sujeitos poderão ter um modo particular e ao mesmo tempo coletivo de lidar com tais situações de forma inusitada, além disto, para o que eles, os entrevistados, entendem a respeito do que se propõe o questionário a perguntar, pode muitas vezes ser insuficiente e apresentar dados aparentes, que a cada instante, podem mais ou menos ocultar dados individuais repercutindo nos dados coletivos, pois, por intermédio das observações de fenômenos individuais ou particulares é que se faz mensuração e análise quantitativa dos fenômenos de massa ou coletivos (TOLEDO, 2009, p. 14). O que verdadeiramente ocorre é que os fatos, os dados, sobrepõem uns aos outros num tempo e num espaço. Percebe-se que não é possível interpretar os entrevistadossomente por meio de lembranças afim de que nos digam a respeito de uma vivência. Isto não significa que se pode interpretá-los no presente só porque deles se tem verbalizações, testemunhos, confissões, relatos de forma geral. Há sempre uma lacuna entre um mundo real e um mundo imaginário, no entanto, há indícios que, os entrevistados trazem consigo de um passado e deixam em algum lugar nos diversos aspectos de suas vidas. Isto é o que permite interpretações.

Segundo Block (2001, p. 75):

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O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa.

Não se explica plenamente um fenômeno social fora do estudo de seu momento. É comum interpretar fenômenos do passado no presente e, ainda, adotarmos um procedimento para classificar por critérios quantitativos determinados grupos, que agregam semelhanças e esquecermos que também coexistem diferenças, desigualdades e até mesmo algo único. Ocorre de, em uma situação deparar-se com a origem na linha cronológica do tempo e confundirmos a origem, com um começo capaz de explicar plenamente um fenômeno social, segundo Tolledo (2009, p.18): É possível não se conhecerem exatamente as causas subjacentes aos fenômenos, pois pode-se estuda-los através de suas manifestações, descobrindo-se neles alguns aspectos globais, sem remontar a essas causas. O que caracteriza tais fenômenos (sociais, biológicos, etc.) é o fato de serem eles provenientes de um concurso de causas nem sempre totalmente conhecidas pelo analista.

É verdade que o estudo de um fenômeno social, a partir do seu momento, dia, mês e ano, ou seja, uma data é importante como determinação da origem, no entanto, há fatores nesta origem que poderão se apresentar insuficientes para explicar o fenômeno. Considerações finais Os relatos apresentam lacunas, sempre, conforme dito anteriormente, mas não se pode adquirir a postura de controlá-los. Nestes poderá haver uma veracidade às avessas, de grande significância, talvez descobertas pertinentes para o estudo. Diante de uma suspeita, não se deve afastá-la do referente trabalho, mas colocar-se atento para não precipitar em generalizações. As observações com generalizações, extraídas de um momento muito curto de duração, podem se revelar uma criação, uma invenção para longo prazo. Desta maneira, avaliar a multiplicidade humana, através da exatidão matemática que visa captar regularidades de um fenômeno social, exige cuidados para se buscar na vida coletiva, nas

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admiráveis experiências, um conjunto de diretrizes adequadas para assegurar a utilidade das suas investigações para a ciência. Neste aspecto é preciso atenção, pois, corre-se o risco de se criar um valor documental a algo provavelmente mal compreendido, principalmente quando é percebido somente aquilo que se esperava ver e ouvir e não, o que de fato os dados poderiam revelar. Referências BABBIE, Earl. Métodos de pesquisas de Survey/Earl Babbie; tradução de Guilherme Cezarino – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. BLOCK, Marc Leopold Benjamim. Apologia da história, ou O ofício de historiador. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. Título original: Apologie pour l’histoire, ou Métier d’historien. TOLEDO, Geraldo Luciano; OVALLE, Ivo Izidoro. Estatística Básica. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LEITURA PRAZEROSA: Ler um ato de Cidadania Vânia Ribeiro de Andrade Andreza Angélica Frota Gama

1 2

­Resumo: Este artigo visa refletir sobre o processo de fomento à leitura nas escolas municipais de Marabá. Relata, a priori, a visão de alguns entrevistados, atores direta ou indiretamente ligados ao incentivo da leitura no ensino fundamental do 1º ao 9º ano, no município de Marabá. Em seguida faz uma reflexão sobre o que se tem produzido sobre leitura e sua necessidade na vida do cidadão, como construtora de inserção de cidadania e por último apresenta algumas estratégias para formação de um leitor competente. Palavras-chave: Leitura. Compreensão leitora. Estratégias de leitura. Introdução No mundo moderno, era do conhecimento e de constante transformação, ler com competência é essencial para aprender, agir, interagir e participar no mundo atual, por isso a presente pesquisa mostra duas temáticas – leitura prazerosa e cidadania – que, na atualidade, são o centro de interesse de muitos profissionais da educação, pois leitor proficiente conhece seus direitos e deveres, com condição de interagir na comunidade em que está inserido; logo, leitura e cidadania estão entrelaçadas. Para Leite, Moreli e Guimarães (2001. p. 6 e7), “A criança lê muito antes de “saber” ler e escrever, [...] isto significa reconhecer que ela pode gerar conhecimentos próprios, uma vez que ela traz um repertório ao ingressar na escola. [...] Fatores de ordem sociocultural influenciam o estágio em que se encontram”. 1 - Bacharel em Administração pela Faculdade Metropolitana de Marabá e graduada em Letras pela Universidade Federal do Pará. (vania.andrade70@gmail.com) 2 - Pedagoga, Especialista no Ensino Superior, docente e Coordenadora Geral de Ensino a Distância do Polo do Centro Universitário Leonardo da Vinci – Pólo Marabá. (aafgama.fonseca@hotmail.com).

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Logo, o hábito de ler deve ser estimulado na infância, antes mesmo de “aprender a ler”, para que a criança aprenda desde pequena que ler é algo importante e prazeroso, e ainda, instrumentalizará o pequeno aprendiz a ser o ator principal do seu próprio processo de aprendizagem e de recriação do mundo, permitindo transformar a realidade pessoal em que vive, assim, com certeza, ele será um adulto culto, criativo e perspicaz. Em Marabá é incipiente o fomento à leitura, salvo algumas ações pontuais de alguns educadores. Por outro lado, é comum encontrar universitários com dificuldades de compreensão leitora, ou seja, de interpretação, e leitura crítica de textos acadêmicos e ainda, com sérias dificuldades de expressar, por escrito, seus pensamentos. Tais dificuldades acontecem em razão da aversão que demonstram claramente pela leitura. Dificuldades que poderiam ser sanadas pelo hábito de ler, talvez nem as teriam, pois a leitura proficiente, torna o conhecimento mais amplo e diversificado, permitindo ao leitor eficiente “surfar” pelas mais diversas modalidades textuais. Entretanto, a presente pesquisa focará a Marabá de hoje, e suas praticas de literancia nas escolas municipais, ou seja, irá verificar se as escolas públicas municipais despertam o gosto pela leitura nos alunos, transformando-os em leitores competentes. Ressalta-se que o tema não se esgota nestas poucas páginas, mas procura-se, a partir da realidade escolar, fomentar a discussão entre acadêmicos, comunidade e profissionais da educação sobre a necessidade do hábito da leitura prazerosa nas crianças e de desenvolver estratégias de leitura para melhorar a compreensão leitora e conseqüentemente o gosto pela leitura. Na distribuição dos itens, procurou-se seguir uma seqüência lógica, sem inovação. Demonstrando primeiro o resultado das entrevistas realizadas, em seguida, as reflexões da pesquisadora com base nos textos 3

lidos, e, por fim, faz sugestão de algumas estratégias para alavancar a compreensão leitora e a conclusão. Aventura Metodológica O presente estudo foi realizado (com base em entrevistas com perguntas abertas e semi-estruturadas) com alguns profissionais da educação em Marabá, os quais, de forma direta ou indireta, estão vinculados ao fomento da leitura no ensino fundamental. Trata-se de uma pesquisa aplicada, qualitativa, de caráter exploratório e bibliográfico. Aplicada, por ser dirigida à solução de problemas de interesse local, qualitativa, por desenvolver uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, não traduzido em números; e exploratória, por possibilitar maior aproximação do problema, pois a presente pesquisa visa informar se há formação de leitores competentes, logo trata de preferências, habilidades e competências, que por natureza são subjetivas e de difícil quantificação. E finalmente de caráter bibliográfico, por utilizar material já publicado na área de interesse: livros e artigos científicos disponibilizados nas bibliotecas virtuais. Com a vantagem de ter possibilitado à pesquisadora uma gama de acontecimentos muito mais ampla do que poderia pesquisar diretamente, em face do curto tempo para confecção do presente trabalho. Programa nacional de incentivo à leitura - PROLER

3 - literancia, termo usado em Portugal e tem o mesmo significado que letramento no Brasil. É a capacidade do leitor em compreender, refletir, avaliar uma dada informação e desenvolver um pensamento critico em textos escritos diversos e nas suas praticas sociais diversas.

O Programa Nacional de Incentivo à Leitura – PROLER – vinculado à Fundação Biblioteca Nacional – FBN e ao Ministério da Cultura – MInC, instalado na Casa da Leitura, no Rio de Janeiro, é um projeto de valorização social da leitura e da escrita com o compromisso de promover ações de valorização da leitura, criando parcerias por meio de Comitês com municípios e estados no território nacional. O comitê da região Norte é composto pelos estados Acre, Amazonas, Amapá, Pará e Roraima, cada comitê possui um coordenador e um vice-

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coordenador. Especificamente no Pará, somente Marabá está cadastrado no PROLER, tendo a Fundação Casa da Cultura como sede do PROLER -Marabá. O compromisso do Programa é com a democratização do acesso da maioria da população leitora e não-leitora, contribuindo para a redução dos mecanismos de exclusão, que especialmente afastam as pessoas dos direitos de cidadania. Por meio de entrevistas e pesquisas constatou-se que o PROLER-Marabá tem organizado atividades de fomento à leitura, tais como: palestras e encontros a fim de instrumentalizar os professores mediadores de leitura, saraus, hora do conto e da leitura, teatro e recitais. Entretanto, essas atividades são esporádicas e são realizadas nas próprias escolas que se disponibilizam a trabalhar para a concretização do evento. A exemplo, no ano passado, foi realizado um trabalho com as obras do escritor Eduardo Castro, da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense. As crianças leram vários livros do escritor, e apresentaram peça teatral, recital, perguntas ao escritor com base nas obras lidas. Segundo a vice-coordenadora do PROLER-Marabá, a situação dos mediadores de leitura do município não são as melhores: Hoje os mediadores de leitura são professores remanejados com problemas de saúde, os quais estão proibidos (por problemas de saúde) de atuarem em sala de aula. O que demonstra certo descaso com a atividade de leitura, e percebe-se também a falta de incentivo na escola, pois das três bibliotecárias existentes, somente uma bibliotecária, a de Itupiranga, está cadastrada no PROLER e faz parte da atividade que vem sendo desenvolvido para comemorar os 20 anos de PROLER. Em comemoração aos 20 anos, o PROLER estava promovendo uma formação de mediadores de leitura em nível nacional, porém em razão do processo eleitoral e de falta de verbas, suspenderam todas as atividades de formação, as quais serão retomadas, provavelmente, no mês de novembro do corrente ano de 2012. Percebe-se que o Governo Federal tem programas de incentivo à leitura, mas faltam verbas e propaganda em canais de maior visibilidade

para que população e os atores intimamente ligados ao fomento à leitura possam ter acesso e dinamizar o hábito da leitura nas crianças.

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Secretaria Municipal de educação de Marabá– SEMED Contrapondo a vice-coordenadora do PROLER-Marabá, o Diretor de Ensino da Secretaria de Educação de Marabá - informa que, nas escolas municipais, há fomento à leitura e formação de leitores do 1º ao 9º ano. E que, neste ano, houve a compra de livros e mobiliários para as salas de leitura. Também implantaram o Projeto Comunidade de Leitores - PCL, para alunos e comunidades. Informa ainda que as escolas são responsáveis pelo desenvolvimento de subprojetos na área de leitura. Atualmente Marabá possui 90 (noventa) escolas e 45 (quarenta e cinco) salas de leitura. Os livros adquiridos e distribuídos nas escolas municipais, são de todos os gêneros: Literatura infantil e Brasileira, temas regionais etc. Porém, não compram livros de escritores regionais, pois, apesar de possuirem o ISBN, são produções independentes, e segundo o diretor de ensino, ele está impedido de adquirir, por meio de compra direta, livros de autores regionais.Entretanto, a vice coordenadora do PROLER-Marabá, relata: [...], informa com pesar, que as salas de leitura em sua maioria estão sendo desativadas para ceder lugar para mais uma sala de aula, se é assim na área urbana imagine na área rural e quando as salas de leitura estão em atividade, geralmente, são pouco arejadas e com acumulo de mofo.

Segundo o coordenador de ensino da SEMED, as salas de leitura estão abertas à comunidade, assim como a Biblioteca Municipal, no horário de funcionamento das escolas. As escolas realizam teatro de fantoche, contação de histórias, cantigas de roda, parlendas e saraus. Ressalta-se que, segundo as professoras entrevistadas, das práticas existentes, não há controle ou sistema de mensuração do desenvolvimento das crianças nas leituras realizadas, tanto em relação à qualidade quanto à quantidade de livros lidos; e ainda, no calendário da SEMED não

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há cursos de formação para os professores das salas de leitura, eles se sentem à margem, esquecidos pela SEMED, pois a Hora Pedagógica –HP – Planejamento Mensal – as ações são voltadas aos professores das outras disciplinas, absolutamente nada vinculado às mediadoras de leitura. Lamenta-se o desconhecimento da lei de licitação, pelo coordenador de ensino da SEMED, que deixa de adquirir livros dos escritores regionais, que privilegiam a história local, para compra de livros distanciados da realidade dos leitores mirins. E ainda, percebe-se que forçou a informação quanto à formação de leitores nas escolas, haja visto ter lançado, somente neste ano, o Projeto Comunidade de Leitores, logo, precisa-se de no mínimo 02 (dois) anos de aplicabilidade para mensurar se houve formação de leitores. O Contraponto

Ainda não é o ideal Em visitas às Salas de Leitura, constatou-se que várias estão fechadas, bem como as bibliotecas escolares, entretanto na Escola Joseneide Tavares a sala de leitura é um espaço climatizado, com estantes, 04 (quatro) mesas com 04 (quatro) cadeiras cada, todas de madeira, tendo o canto de leitura, para as crianças menores. A biblioteca da sala de leitura é composta, em sua maioria, por doações do MInC, Biblioteca Nacional, PROLER-Marabá e por compra direta pela própria escola, através da verba do Programa Dinheiro Direto na Escola-PDDE . Os livros comprados são de literatura infantojuvenil, brasileira e didáticos, para pesquisa dos discentes e docentes. Segundo as professoras entrevistadas da Escola Joseneide Tavares, a sala de leitura tem seu funcionamento no horário das aulas, e na maioria das vezes precisam dividir a turma, pois a sala é pequena e não comporta todos os alunos, a solução foi dividir 50% (cinquenta por cento) para aula de informática e 50% (cinquenta por cento) para a sala de leitura. Os alunos do 5º ao 9º ano usufruem da sala de leitura, geralmente, nas aulas de língua portuguesa. Informaram também que, fugindo do sistema da sala de leitura, faz-se empréstimo de livros aos alunos e os pais têm acesso ao acervo, porém os livros saem sob a responsabilidade (registro) do filho-aluno. É feito o registro manual, em caderno escolar. Os estudantes do horário noturno, jovens e adultos-EJA, também têm acesso à sala de leitura. Na verdade, a sala de leitura era um verdadeiro depósito da escola, com geladeira velha, caixas de livros defasados, mas neste ano (2012) foi que ela tomou forma e passou a ser utilizada como sala de leitura, acre4

Há profissionais da área de educação que afirmam que a escolha dos livros foi da SEMED, por isso o projeto Comunidade de Leitores começou errado, em razão dos professores terem ficado à margem do processo, ou seja, não foram consultados. E para completar os livros de temas regionais falam do Amapá, Maranhão etc., menos do Pará. Hoje na maioria das escolas as salas de leitura são verdadeiros depósitos de carteiras, geladeiras com defeitos, coisas velhas sem utilização na escola. As salas de leitura que não foram transformadas em depósitos ou não estão fechadas, provavelmente dividem o espaço entre livros empoeirados nas prateleiras e os paradidáticos em caixas fechadas como depósito das escolas. Mas há exceções, é claro, raras, mas há escolas em que as salas de leitura funcionam, mas, infelizmente, são exceções. (Entrevistado da Casa do Professor) Informaram ainda, que, infelizmente, a Casa do Professor não faz parte do Projeto Comunidade de Leitores, em um primeiro momento foram convidados, porém após a inauguração do projeto, na Casa de Eventos O Casarão, foram deixados à margem, sem qualquer explicação. Conclui-se que a SEMED pode ver seu projeto Comunidade de Lei-

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tores “naufragar”, em razão da exclusão dos profissionais da educação, atores diretamente envolvidos no processo de formação de leitores.

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4 - PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola – consiste na assistência financeira às escolas da educação básica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal, com o objetivo de proporcionar melhoria da infraestrutura física e pedagógica. Os recursos do programa são transferidos de acordo com o número de alunos e de acordo com o censo escolar do ano anterior ao do repasse – www.mec.gov.br.

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ditamos que isso se deu em razão do Projeto Comunidade de Leitores, lançado no início deste ano. (Entrevistadas da Escola Joseneide Tavares) Esclarecem as professoras de leitura da escola acima mencionada, que tiveram uma capacitação, no ano de 2009/2010, com os professores da UFPA- campus Marabá, os quais estavam desenvolvendo projeto na área da leitura; e outra em 2011, oferecida pelo PROLER-Marabá. É latente o quanto a formação de mediadores e de leitores está abandonada, no município de Marabá, o quanto ainda falta de políticas públicas voltadas ao ensino e à infraestrutura das escolas. Nem tudo são flores A Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo, possui um espaço físico climatizado, área externa com vista privilegiada, localizada a Praça de São Félix, 696 – também conhecida como Praça do Pescador – a qual termina na orla do rio Tocantins, Bairro Marabá Pioneira. A sede da biblioteca é o antigo prédio do Mercado Municipal, construído entre os anos de 1927 a 1930 e inaugurado em 1931. Tendo sido tombado como patrimônio histórico, em 1993, e com o projeto da Fundação Casa da Cultura, o “velho mercado” passou por um processo de revitalização em suas estruturas: externa em 2005 e interna em 2008, quando passou a ser a Biblioteca Municipal, Transformando-se também em ponto turístico e de excursões escolares. Esta biblioteca possui práticas de fomento à leitura somente na área urbana. Para tal realiza, esporadicamente, saraus, contação de histórias, teatro, exposição de artes com o PROLER-Marabá, mas não possui mediadores de leituras, apesar da pequena sala para os leitores mirins. Outra forma de fomento à leitura é a divulgação, por meio de panfletos, em eventos abertos à comunidade marabaense, informando o horário de funcionamento e forma de credenciamento. O acervo está em torno de 8 (oito) mil exemplares, que basicamente vieram de doações do PROLER-Marabá e de particulares. Em 2011, por meio de edital, do MInC, ganharam R$19.000,00 (dezenove mil reais) em

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compra de livros. Porém a compra é vinculada aos títulos disponibilizados pelo MInC, ao preço de R$10,00 (dez reais) o exemplar. Compraram desde literatura brasileira, Enciclopédia BARSA, a livros da área de Direito, ou seja, para leitura e pesquisa . Possui, também, livros para portadores de necessidades visuais, tendo cerca de 200 (duzentos) livros em braile e alguns áudio-livros. Os exemplares são da literatura brasileira e a Bíblia. A Biblioteca Municipal mantém uma parceria com as escolas que possuem o EJA – Estudos para Jovens e Adultos – com funcionamento noturno, 2 (duas) vezes por semana, às quartas e sextas-feiras. Nos outros dias da semana permanece aberta no horário comercial, ou seja, das 8h às 18horas. Mas não possui atividades voltadas para a comunidade não escolar ou a comunidade escolar rural. A título de colaboração, a biblioteca precisa ter um espaço mais alegre, lúdico, com programação regular de contação de histórias, gincanas, mural para divulgação das histórias lidas pelas crianças, adolescentes, jovens e adultos, enfim, tornar-se um espaço atrativo e dialógico. 5

A reflexão Na atualidade, as escolas de rede pública municipal ainda “ensinam leitura” vinculada à aprendizagem da escrita por meio de cobranças, como se fazia no século passado, ou seja, a leitura é vista como meio para aprender a escrever e não como uma competência relevante e prazerosa. Nesta pesquisa, não se discute o vínculo entre leitura e escrita, mas se questiona o porquê, o motivo pelo qual os professores esquecem de propor a leitura sem cobranças, simplesmente pelo prazer de ler. Para Leite, Morelli e Guimarães (2001. p. 5 e 6), “[...] aprender a ler e escrever é um processo cognitivo, mas também uma atividade social e cultural essencial para a criação de vínculos entre cultura e conhecimento. [...] que, de maneira alguma, pode se dar por transmissão do saber de um adulto”. 5 - Informações prestadas pelas entrevistadas da Biblioteca Municipal de Marabá Orlando Lima Lobo.

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Entretanto, não basta ler, precisa haver análise do que se lê, discutir e interpretar para dar sentido e compreender a importância da leitura. Isto significa reforçar a competência individual ou a competência comunicativa – ler e escrever. Para desenvolver essa competência, o professor desempenha papel essencial como mediador entre a criança e o texto e/ ou livro, orientando, desafiando e facilitando a conquista da compreensão de todas as hipóteses que os alunos venham a construir após o término da leitura do texto. Por isso, pode-se afirmar que a leitura é crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é por meio dela que se enriquece o vocabulário, obtém conhecimento, dinamiza o raciocínio, a interpretação e permite “experienciar” emoções das mais diversas possíveis. Durante a leitura descobre-se uma realidade paralela – um mundo novo, cheio de descobertas, de diversão, de magia, de mundos encantados –, às vezes, realizam-se verdadeiras catarses, pois ao se envolver com o texto (história) liberam-se sentimentos, emoções que talvez estivessem presas no inconsciente. Porém, não basta a vontade dos professores e bibliotecários, é necessário mudar as estruturas das salas de leitura e das bibliotecas, pois em sua maioria, são depósitos de bens inservíveis ou lugares inóspitos, áridos, abandonados com prateleiras cheias de livros velhos, defasados e empoeirados, demonstrando ser um lugar pouco frequentado ou frequentado por pessoas tímidas, sem beleza e amigos. Urge transformar a visão que se faz dos seus frequentadores e dos leitores competentes. É urgente, ainda, ter-se salas de leitura: claras, climatizadas e com espaços aos leitores mirins, bem como a renovação anual do acervo cultural e a informatização desses espaços, a fim de proporcionar a inclusão digital e cultural àqueles que estão à margem por questões socioeconômicas. A leitura conduz o leitor proficiente a interagir na e com a sociedade em que está inserido. Para que isso ocorra, faz-se necessário sensibilizar diretores e professores de escolas municipais a democratizar os espaços pedagógicos, bem como os livros aos alunos, ex-alunos, famílias e a comunidade entorno. Segundo as autoras Carvalho e Sousa “[...] é preciso

que as escolas prepararem não apenas alunos leitores, mas “life-long learners” , que saibam extrair e recuperar informação, interpretar e integrar o conteúdo presente em materiais escritos com que interagem no dia a dia, refletindo criticamente sobre estes de forma autônoma”. Para tanto, o poder municipal, juntamente com suas secretarias de educação e cultura, devem promover atividades, oficinas voltadas aos professores mediadores de leitura, com o fito de incentivar a leitura e o prazer de ler, e, estes, ao seu turno, serão capazes de criar estratégias para desenvolver o gosto, o prazer pela leitura em seus alunos e na comunidade entorno, para que possam ter uma relação mais livre e pessoal com as mais diversas modalidades textuais, no exercício de sua cidadania. Para tal propõe-se desenvolver estratégias específicas para formação de leitores críticos.

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Estratégias que facilitarão a compreensão leitora Ler não é apenas decodificar e tão pouco um ato passivo durante o qual o escritor expressa seu pensamento e o leitor automaticamente compreende, é acima de tudo estabelecer uma cumplicidade entre leitor e texto, alicerçada no prazer que a leitura pode proporcionar. Para tal, a escola precisa garantir que o aluno possa desenvolver um papel crítico, ativo e criativo para estabelecer essa cumplicidade. Quanto à necessidade de estratégias leitoras, afirmam: O desenvolvimento [...] de estratégias nos permite interpretar o conteúdo de um texto e atribuir-lhe significado, cumprindo, assim, o papel da leitura enquanto diálogo entre leitor e autor em que aquele co-participa, interpreta, avalia, extrai sentido do texto e constrói novo conhecimento. Esse leitor, por conseguinte, é aquele que pela leitura e o acesso ao saber tem maior capacidade de compreensão do mundo, de participação e atuação efetiva na sociedade. (CARVALHO e SOUSA, 2011).

A intervenção do professor é essencial para que o aluno ganhe autonomia como leitor.[...] Ensinar a ler é lançar mão de todos os recursos 6 - Life-long learner vida.

significa desenvolver a predisposição para a aprendizagem continua ao longo da

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que favoreçam a compreensão do texto durante todo o processo”. E para facilitar o “encontro” com o texto, antes de iniciar a leitura, o professor precisa desenvolver nos leitores algumas ferramentas que conduzirão o aluno a se tornar um leitor competente e quem sabe desenvolver o prazer de ler. (LEITE, MORELI e GUIMARÃES, 2001. p. 11). Em concordância com Solé (1998), divide-se esse processo em 3 (três) etapas: a que antecede, durante e após a leitura. Estratégias que antecedem a leitura 1- Motivar o aluno a ler. Atenção na escolha dos textos/obras. 2- Deixar claros os objetivos da leitura. Por exemplo: ler para aprender determinado assunto, ler por prazer etc. 3- Acionar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o texto a ser lido; por exemplo, propor que os alunos façam previsão a partir do título e da capa do livro. ESTRATÉGIAS DURANTE A LEITURA 4- Avaliar e fazer novas previsões sobre o texto. 5- Formular perguntas sobre o que foi lido. ESTRATÉGIAS APÓS A LEITURA 6- Destacar a relevância contextual. Por exemplo: a importância que o leitor atribui a determinados trechos ou ideias contidas no texto, em função de sua atenção, interesse, conhecimentos e desejos. 7- Realizar teatro espontâneo, pintura, desenhos ou grafitar o tema central do texto lido. Ressalta-se que as estratégias precisam ser verbais, logo não se deve cobrar do aluno as informações por escrito, para desvincular leitura das tarefas escritas de interpretação de textos. O professor mediador precisa motivar o aluno a construir as previsões mentalmente e com o tempo ele usará as estratégias sempre que estiver diante de um livro. Vale ressaltar que as estratégias apresentadas são mínimas, limitadas pelo próprio modelo – artigo científico –, contudo, esclarece-se que segundo Carvalho e Sousa (2011), as estratégias precisam ser criadas pelo professor com vistas a serem utilizadas antes da leitura para despertar a motivação a respeito da finalidade e necessidade da leitura, enquanto que

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as estratégias durante a leitura devem promover a interação e diálogo entre leitor e o texto e atuar como facilitador da compreensão na leitura, e por fim as estratégias após a leitura devem propiciar o desenvolvimento da habilidade para a compreensão do texto no seu todo e englobar estratégias para verificação da compreensão do mesmo. Por fim, propõe-se apoio aos profissionais da educação envolvidos diretamente com a leitura nas escolas e também aos jovens universitários, para despertar o gosto pela leitura. 1- Propor a criação de círculos de leitura trimestral, sob a coordenação do PROLER, aos educadores e mediadores voluntários de leituras, visando desenvolver a compreensão da intenção do ponto de vista de quem escreve, bem como possibilitar, segundo suas vivências a ampliação de sua visão de mundo. 2- Convidar os acadêmicos universitários a vir a ser mediadores de leituras, os quais deverão participar do círculo de leitura trimestral, desenvolvendo assim, gosto e entendimento sobre o ato de ler. Considerações Finais Viver na atualidade significa viver a era da tecnologia da informação e da globalização, as quais criaram uma nova realidade de ensino e de mercado, pois hoje as escolas precisam desenvolver em seus alunos o “life-long learners”, ou seja, desenvolver a predisposição para a aprendizagem continuada ao longo da vida. Enfim, instrumentalizar o aluno para ser um leitor competente e criativo. Entretanto, apesar dos esforços empreendidos no presente ano, percebe-se que os alunos das escolas municipais de Marabá estão distantes do livro e da leitura. Para que os “cidadãos mirins” venham a desempenhar com eficiência o papel de cidadão no amanhã, urge ao poder Público Municipal valorizar e instrumentalizar seus professores e mediadores de leitura, seja por meio de convênio com a Universidade Federal do Pará, seja por contratação direta de professores com formação na área de leitura no ensino fundamental menor e maior. Estudos demonstram, que, na atualidade, há necessidade da compreensão leitora, ou seja, o aluno precisa desenvolver habilidades e competências essenciais para aprender, agir, interagir e ser o ator principal do

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seu próprio processo de aprendizagem de leitura exigida social e profissionalmente em um mundo globalizado. Através do hábito da leitura, o homem pode tomar consciência das suas necessidades – autoeducar-se –, ser um agente de transformação pessoal, um adulto culto, criativo, perspicaz e participativo do mundo atual. Promovendo a própria libertação de viver à margem da sociedade. Parafraseando Jesus, o Cristo: “Conheça a Verdade e ela vos libertará”, logo é necessário ler para sair da ignorância, pois é nos livros que se tem a chance de entrar em contato com o desconhecido – uma realidade paralela, cheia de descobertas, de diversão, de magia, de mundos encantados –, pois ao se envolver com o texto libera-se sentimentos, emoções reprimidas, na maioria das vezes, presas no inconsciente, as quais podem conduzir o leitor à recriação do seu mundo interior. Por isso, incentivar a formação de leitores competentes é fundamental no mundo globalizado. É trabalhar pela sustentabilidade do planeta, garantir a convivência pacífica entre todos e o respeito à diversidade. E, acima de tudo, proporcionar ferramentas para o exercício da cidadania. Referências CARVALHO, Carolina e SOUSA, Otília Costa. Literância e Ensino da Compreensão na Leitura. Nº. 19, p. 109-126 (2011). Disponível em: <http://www.eses.pt/interaccoes>. Acessado em: 07.07.2012. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2009. <http://www. ibge.gov.br>. Acessado em: 07.07.2012. LEITE, Márcia, MORELLI, Bia e GUIMARÃES, Luciana. Concepção Pedagógica da obra. In Primeiros Textos: alfabetização. São Paulo: FTD, 2001. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6 ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.

ESTUDOS ESPELEOLÓGICOS DE CAVIDADES NATURAIS NO MUNICÍPIO DE MARABÁ - PA Noé von Atzingen Bruno dos Santos Scherer Maria de Jesus Santos Almeida Tatiane Monteiro da Silva

1 2 3 4

Resumo: Este trabalho evidência os estudos espeleológicos das cavidades naturais subterrâneas no município de Marabá/PA. As mesmas estão situadas próximas ao igarapé Sereno e foram documentadas pelo Grupo Espeleológico de Marabá (GEM) e Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM). Nesses estudos, realizados entre os anos de 1997 a 2010, foram descobertas áreas com alto potencial espeleológico, com cavernas e abrigos ocorrendo em rochas sedimentares e metamórficas, principalmente em formações de quartzito. Até o presente momento foram documentadas e topografadas 05 cavernas e 18 abrigos. Palavras-chave: Espeleologia; Caverna; Serra do Sereno; Marabá. Introdução A Fundação Casa de Cultura de Marabá (FCCM), em parceria com Grupo Espeleológico de Marabá (GEM), realizou várias excursões na região de Serra do Sereno, município de Marabá, para levantar o potencial espeleológico da região, contribuindo para ampliar o conhecimento sobre o território nacional e dos elementos que o compõem, especialmente as cavidades que são bens da União, conforme estabelecido no artigo 20 da Constituição Federal.

1 - Biólogo, Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá/Conselheiro do GEM 2 - Gestor Ambiental, Coordenador do Núcleo Espeleológico de Marabá/Coordenador do GEM 3 - Bióloga, Analista em Espeleologia do Núcleo Espeleológico de Marabá/ Vice-Coordenadora do GEM 4 - Eng. Agrônoma, Analista em Espeleologia do Núcleo Espeleológico de Marabá/ Membro do GEM

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No período de setembro de 1997 a outubro de 1999, foram descobertas e identificadas às primeiras cavidades naturais subterrâneas no município de Marabá, localizadas nas proximidades do igarapé Sereno. A região em questão está localizada no extremo sudoeste do município de Marabá, próxima dos limites da Vila do Garimpo de Serra Pelada. O acesso à área é feito partindo de Marabá pela rodovia estadual PA-150, no sentido Sul por 100,0km, até o município de Eldorado dos Carajás. A exploração ocorreu basicamente na porção sul da serra, próximo a uma antiga mina de silício, onde foi descoberta a maioria das cavidades, e em algumas propriedades ao norte da área (Figura 1).

mente em formações de quartzito. Dando continuidade aos estudos na área, no ano de 2008 iniciou-se o trabalho de topografia com mapeamento das 23 cavidades estudadas na área, dentre abrigos, grutas e cavernas. Em 2010, ao realizar a espeleotopografia da caverna Marabá (GEM 0357), descobriu-se pelo seu desenvolvimento de 460,0m que é a maior cavidade com formação em quartzito do município, já identificada pelo GEM. Metodologia

Em 2005, foram retomados os trabalhos de prospecção espeleológica e então descobertas áreas com alto potencial espeleológico, com cavernas e abrigos ocorrendo em rochas sedimentares e metamórficas, principal-

A metodologia utilizada neste trabalho consiste das seguintes etapas: 1. Levantamento bibliográfico; 2. Elaboração de mapas cartográficos e plani-altimétricos. 3. Análise preliminar dos aspectos geomorfológicos da região; 4. Prospecção espeleológica: consiste de caminhamentos sistemáticos em linhas paralelas equidistantes variando de 15,0 a 100,0m, prospectando escarpas, afloramentos rochosos, margens de rios e afluentes, vales, bordas de drenagens e vegetação distinta dos arredores, sendo executados através de rotas georreferenciadas com uso de GPS. Nos terrenos de maior declividade e/ou com paredões, locais geralmente caracterizados como áreas de alto potencial espeleológico, foi empregada uma maior quantidade de linhas paralelas, assim como o espaçamento menor entre elas. No final da jornada de trabalho, os dados são descarregados e processados com uso do software Track Maker. 5. A documentação geral da cavidade: é feita através do preenchimento de uma ficha de prospecção que contempla todas as informações básicas de Geoespeleologia, Bioespeleologia, Arqueologia e Morfologia. Cada cavidade é identificada com uma placa que contém seu número de cadastro do GEM. 6. Foram realizados dois níveis de levantamentos espeleotopográficos: O 3C que consiste no levantamento magnético de baixa precisão. Ângulos horizontais e verticais medidos com precisão ± 2,5º e distâncias medidas com precisão ± 50 cm; erro de posição da base menor que 50 cm e medidas de detalhe realizadas apenas nas bases topográficas. O 5D que também trata-se de um levantamento magnético. Ângulos horizontais e verticais medidos com precisão ± 1º, distâncias medidas com precisão

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Figura 1 - Mapa de localização

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Os estudos espeleológicos na serra do Sereno ocorreram durante os anos de 1997 a 2010, sendo documentadas 23 cavidades (Figura 2) e 16 topografadas. As cavidades apresentaram características relevantes e grandes desenvolvimentos (Tabela 1) tais como: presença de espeleotemas em quartzito (60,9% das cavidades), visto que é uma ocorrência rara neste tipo de litologia, ocorrem ainda vertebrados (82,6%) e invertebrados (100%). Não foram observadas ocorrências arqueológicas. A média das altitudes das cavidades estudadas foi 292,7m, com valor máximo de 449,0m (na cavidade GEM 0350) e mínimo de 224,0m (na cavidade GEM 2064).

GEM

1

350

2

355

3

Altitude

Desenv.

(m)

3C (m)

Espeleotema

Coordenadas UTM

Geoespeleologia

Bioespeleologia

646051

9346216

449

39,0

Sim

CD

SP

Sim

Sim

Ab

646778

9344584

335

7,0

---

Quartzito

---

Sim

Sim

356

Ab

646778

9344584

300

32,5

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

4

357

Cv

646758

9344588

336

234,5

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

5

358

Ab

646852

9344610

305

16,5

Sim

Quartzito

---

---

Sim

6

375

Ab

645871

9345064

300

11,5

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

7

2043

Ab

646590

9348127

245

16,0

---

CD

---

Sim

Sim

8

2056

Ab

646718

9344510

351

12,5

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

9

2057

Ab

646578

9348133

225

12,0

Sim

CD

---

Sim

Sim

10

2058

Ab

646596

9348147

235

8,5

---

CD

---

Sim

Sim

11

2059

Cv

646856

9344346

271

41,5

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

12

2063

Cv

646568

9348388

228

19,0

Sim

CD

---

Sim

Sim

13

2064

Ab

646584

9348481

224

16,0

Sim

CD

---

Sim

Sim

14

2065

Cv

646559

9348362

232

30,0

Sim

CD

---

Sim

Sim

15

2066

Ab

646599

9348518

240

7,0

---

CD

---

---

Sim

16

2067

Ab

646584

9348356

226

22,0

Sim

CD

---

Sim

Sim

17

2068

Ab

646857

9344336

257

6,0

---

Quartzito

---

Sim

Sim

18

2072

Ab

646875

9344347

264

11,0

---

Quartzito

---

Sim

Sim

19

2130

Ab

646864

9344606

299

15,0

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

20

2131

Ab

646670

9344640

367

7,0

---

Quartzito

---

---

Sim

21

2132

Ab

646706

9344592

349

-

---

Quartzito

---

---

Sim

22

2133

Ab

646726

9344592

347

16,0

Sim

Quartzito

---

Sim

Sim

23

2144

Ab

646797

9344587

348

16,5

---

Quartzito

---

Sim

Sim

Invertebrado

Cv

Vertebrado

N

Hidrologia

E

Litologia

Tipologia

Discussão e resultados

Tabela 1 – Cavidades Naturais da Serra do Sereno Sequancial

de 1 cm e erro de posição da base menor que 10 cm. Medidas de detalhe realizadas nas bases topográficas e entre elas, de modo a representar mudanças morfológicas na galeria. Estes parâmetros foram estabelecidos pela British Cave Research Asssociation (BCRA).

1 Geoespeleologia 1.1 Tipologia Das 23 cavidades encontradas, 18 se caracterizam como abrigos e 05 76

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como cavernas (Figura 3). A principal diferença está na morfologia interna da cavidade, sendo que os abrigos (Figura 4) apresentam pequeno desenvolvimento, com a ocorrência de apenas um salão, zona de entrada e profundidade menor que a altura da entrada; já as cavernas (Figura 5) apresentam maior desenvolvimento, com ocorrência de vários salões e condutos.

Figura 6 - Litologia das cavidades da Serra do Sereno

Figura 3 – Tipologia das cavidades da serra do sereno

Figura 7 - Cavidade em canga 1.3 Espeleotemas Figura 4 – Abrigo GEM 2057

Figura 5–Caverna GEM 0357

1.2 Litologia Na Serra do Sereno houve duas variações de litologia (Figura 6): 09 cavidades apresentam litologia de canga detrítica (Figura 7) e 14 cavidades, quartzito (Figura 8).

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Figura 8 – Teto da cavidade com conglomerado de quartzito

Das 23 cavidades naturais documentadas, 14 apresentaram espeleotemas (formações resultantes da sedimentação e cristalização de minerais dissolvidos na água) (Figura 9). Os espeleotemas mais frequentes foram: microestalactites (Figura 10) (08 cavidades), crosta branca (06), pop corn (03), pigmentos (03), cortina (Figura 11) (02), microestalagmites (02) e crosta negra (01).

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Nestes casos, as cavidades podem ser consideradas freáticas – quando o curso do rio percorre perene e totalmente o seu interior – e vadosas – quando a cavidade fica apenas parcialmente alagada. Nestas situações, surgências e canais de drenagem temporários podem também ocorrer, gerados pela concentração do gotejamento ou percolação de águas pluviais infiltradas via canalículos ou juntas (PILÓ & AULER, 2009). Na área da Serra do Sereno, a grande maioria das cavidades encontradas foram classificadas como secas (Figura 12); apenas 01 cavidade (GEM 0350) possui surgência perene. É interessante ressaltar que a presença de corpos d’água em cavidades favorece a ocorrência de macro e micro fauna. Figura 9 - Espeleotemas das cavidades da serra do sereno

Figura 12 - Hidrologia das cavidades Figura 10 - Microestalactites

Figura 11 - Cortina

1.4 Hidrologia

1.2 Bioespeleologia

A maioria das cavidades resulta da erosão e dissolução das rochas a partir da circulação da água sobre e entre elas, formando os chamados abrigos, grutas, cavernas e abismos, que evidenciam feições como dolinas, sumidouros, surgências e clarabóias. No entanto, somente no interior de cavidades que ocorrem nas proximidades de igarapés e rios é que se verificam processos hidrológicos diretamente associados a cursos d’água.

Este trabalho consiste no levantamento preliminar de fauna cavernícola (Figura 13), objetivando um direcionamento para estudos bioespeleológicos posteriores, a serem desenvolvidos na área. O reconhecimento de vertebrados e invertebrados é relevante para identificar os animais comumente encontrados no ambiente cavernícola, estejam estes estreitamente condicionados ao meio ou apenas utilizando-se dele durante parte do seu ciclo de vida.

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Figura 13 - Fauna nas cavidades A ocorrência de invertebrados (Figura 14 e 15) em geral não está condicionada ao tamanho das cavidades e nem à zonação. Já os vertebrados, em geral os Quirópteras, concentram-se nas zonas de penumbra e afótica, podendo ocorrer simultaneamente em ambos. Durante os levantamentos nenhuma captura é realizada e nenhum exemplar é coletado; as identificações foram feitas in loco ou através de fotografias.

Figura 14 - Orthoptera: Phalangopsidae

Figura 15 - Amblypygi

1.3 Espeleotopografia Foram topografadas 21 cavidades (Tabela 2) na área da Serra do Sereno, em nível 3C e 16 em nível 5D. O desenvolvimento médio foi de

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27,1m, com valor máximo em nível 5D de 460,0m (GEM 0357), figura 16 e mínino de 5,5m (GEM 2068). Tabela 3 - Cálculo dos parâmetros espeleotopográficos Desnível Desenv. (m) Área (m²) N° (m) Sequencial GEM 3C 5D 5D 01 0350 39,0 3,0 02 0355 7,0 0,50 03 0356 32,5 8,0 04 0357 234,5 460,0 32,26 1836,0 05 0358 16,5 20,0 2,33 43,0 06 0375 11,5 0,50 07 2043 16,0 23,0 3,43 60,0 08 2056 12,5 13,0 6,33 40,5 09 2057 12,0 23,0 1,99 38,0 10 2058 8,5 8,5 0,71 9,5 11 2059 41,5 39,5 8,47 115,0 12 2063 19,0 24,0 1,42 70,0 13 2064 16,0 15,0 1,79 77,5 14 2065 30,0 32,0 2,79 254,5 15 2066 7,0 8,0 3,70 55,5 16 2067 22,0 21,0 1,38 149,0 17 2068 6,0 5,5 1,02 11,0 18 2072 11,0 9,5 2,72 29,5 19 2130 15,0 18,5 3,62 50,0 20 2131 7,0 1,0 21 2132 0,5 22 2133 16,0 6,0 23 2144 16,5 13,0 5,33 45,5

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da precisa ser mais explorado. Neste estudo a região da Serra do Sereno apresentou alto potencial; merece destaque a caverna Marabá (GEM 0357), por apresentar mais características nos parâmetros qualitativos referentes aos aspectos bioespeleológicos (Quiróptero e Invertebrado), geoespeleológicos (Espeleotema) e espeleotopográfico apresentando o maior desenvolvimento em relação às demais. Estas peculiaridades podem ser consideradas importantes para estudos posteriores específicos. Agradecimentos Agradecemos a Fundação Casa da Cultura de Marabá, pelo apoio nas excursões a Serra do Sereno; a todos os integrantes do GEM que participaram das atividades de campo e sistematização dos dados: em especial ao Amailton Pedrosa, responsável pela equipe de prospecção, Cleidiane Carvalho, responsável pela equipe de topografia das cavidades e Filippe Martins, pela cartografia dos mapas. Não podemos deixar de mencionar o nome do nosso amigo e companheiro de trabalho Bento Lopes, que foi afastado da nossa equipe por um acidente de trânsito, mas que deu seu apoio fundamental, não só nos trabalhos, mas também nos momentos de alegria e companheirismo. Enfim, a todos que participaram de forma direta ou indireta para a realização deste trabalho, nossos sinceros agradecimentos. Figura 16 - Mapa em nível 5D da caverna Marabá (GEM 0357)

Referências

A área total das cavidades estudadas apresentou média de 180,28m2, com valor máximo de 1.836,0m2 (GEM 0357) e mínimo de 9,5m2 (GEM 2058). A média do desnível das cavidades estudadas foi 4,29m, com valor máximo de 32,26m (GEM 0357) e mínimo de 0,5m nas cavidades GEM 0355, GEM 0375 e GEM 2132.

CECAV/IBAMA, Termo de referência para elaboração de Estudos Espeleológicos vinculados ao EIA/RIMA, 2004. PILÓ, Luís B.; AULER, Augusto. Geoespeleologia das cavernas em rocha ferrífera da região de Carajás, PA. In.: SBE. CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 30, Montes Claros. Anais XXX. 2009.

Considerações Finais O município de Marabá apresenta um potencial espeleológico que ain-

ENZIO, Rubbioli; MOURA, Vitor. Mapeamento de cavernas: guia prático. São Paulo. Redespeleo Brasil. 2005.

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AULER, Augusto; ZOGBI, Leda. Espeleologia: noções básicas. São Paulo. Redespeleo Brasil. 2005.

EDUCAÇÃO: MESTRES DE MARABÁ

Maria Virgínia Mattos

1

CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE CAVERNAS/ INSTITUTO TERRA BRASILIS. II Curso de Espeleologia e Licenciamento Ambiental. 2010. FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ/ GRUPO ESPELEOLÓGICO DE MARABÁ. XXIV Curso de Introdução à Espeleologia e ao Trabalho de Campo. 2009. SOCIEDADE BRASIELEIRA DE ESPELEOLOGIA. Normas e Convenções Espeleométricas. 20--. CRESCÊNCIO, Genival; ATZINGEN, Noé von; GESTER, Rodrigo. Estudos Espeleológicos no Município de Marabá-PA. Boletim Técnico Fundação Casa da Cultura de Marabá, Nº2. Marabá-PA, 2003

Desde seu surgimento, Marabá sempre ofereceu algum tipo de instrução regular a seus moradores, apesar do isolamento que persistiu até meados do século 20, e muito embora grande parte da população fosse composta de ho-mens que trabalhavam periodicamente nas matas, deixando suas famílias nos lares distantes, em Goiás ou no Maranhão. A história do processo de educação formal pode ser recomposta, em parte, pela memória que guardamos dos grandes mestres que, com ingentes sacrifícios, lecionaram em nossa cidade. No Burgo Mesmo antes da povoação do pontal formado pelos rios Tocantins e Itacaiúnas, quando a ocupação não-indígena situava-se no Burgo do Itacaiú-nas, havia, neste, uma escola. O italiano Luigi Buscalione, visitando o local, em 1900, declarou: “O Burgo do Itacaiúnas representa um centro intelectual de uma certa importância, pois possui uma escola elementar” (Laraia, Matta, 1978, p.123; Velho, 1972, p. 33). Essa escola devia ser de construção e funcionamento recentes, pois Ignacio Moura, em memorável viagem realizada quatro anos antes (1986), re-gistrou a necessidade de sua criação (Moura, 1989, p. 180-181). Na nascente Marabá A extração de caucho das margens do Itacaiúnas favoreceu o surgimen-to de Marabá, ao mesmo tempo em que contribuiu para o fracasso do projeto agrícola do Burgo. Uma das primeiras informações de um ensino regular na nova cidade aponta para a professora Joaquina Diamantina Ferreira Lemos, 1 - Biblioteconomista, autora do livro História de Marabá

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provavel-mente a pioneira do ensino nesta cidade. Era esposa de José Inocente Ferreira Lemos Junior, que fez parte, como um dos sete vogais, do Conselho Munici-pal eleito em 1921 (Viagem ao Tocantins, p. 28, 83 e 85). No livro Pelas trilhas de Marabá, Almir Queiroz de Moraes conta que Antonio Maia, o primeiro Intendente de Marabá, criou, por volta de 1913, uma escola pública, tendo indicado, como professoras, Odília Maranhão e Bernadete Saraiva dos Reis. O mesmo autor cita, pela mesma época, as aulas particulares de “Álvaro Santana, maranhense de Carolina e a de D. Maria Amália que lecionava em sua própria residência” (Moraes, p.66). Carlota Carvalho, em sua obra O Sertão, refere-se a uma escola que teria sido instalada em Marabá em 1917, por Cândido Pereira de Sousa Bispo. O maranhense Sousa Bispo residiu em Marabá por cerca de um ano, período em que, além de instalar a escola, editou o periódico “Fiscal”, de cir-culação quinzenal, e criou o “Grêmio Literário Esperança”. Nessa época Sousa Bispo tinha apenas 21 anos de idade (Carvalho, 1924, p.161). Sobre a escola de Sousa Bispo, não temos qualquer outra informação: por quanto tempo teria funcionado? Teria sido fechada com a partida de Sou-sa Bispo? Teria sido ele o único professor? Essas dúvidas talvez sejam escla-recidas mais tarde; sabe-se apenas que, em 1918, ele já estava em Belém, onde editou (com Aníbal Duarte e Ramalho Junior) o jornal “A Evolução”.

fessor de História, exi-gindo do aluno, não a repetição decorada do texto, mas sua compreensão. A esposa do juiz, Professora Arzuilla Moitta, lecionava Português, Geografia e Desenho. A Sra. Itália Domingues, em depoimento prestado à Casa da Cultura, informou que também foi aluna do casal, relatando que o Dr. Ignacio lecio-nava pela manhã e a Sra. Arzuilla, à tarde. Um depoimento da D. Isaura Du-arte Soares, por sua vez, revelou que dessa escola foram professores, ainda, o seu irmão, Leônidas Gonçalves Duarte, e Ataliba Abbade (irmão do den-tista Dr. Nilo Abbade). Não sabemos em que data o Dr. Ignacio Moitta e sua esposa fundaram o “Educandário Arthur Porto”. Quanto à duração de suas atividades, ainda funcionava em 1925, conforme informação do Sr. Antonio Braga e Chaves; no entanto, já não há referências ao Educandário em 1926, quando da visita do Dr. Deodoro de Mendonça a Marabá, como se pode constatar da leitura de Viagem ao Tocantins. Após a grande enchente de 26

Uma escola particular, dos anos 20, que deixou lembranças entre os marabaenses, foi o “Educandário Arthur Porto”, dirigido pelo Dr. Ignacio de Sousa Moitta, Juiz de Direito da Comarca. O senhor Antonio Braga e Chaves, de Itupiranga, recorda-se dessa escola em 1925, quando o preço da men-salidade era de 15 mil réis (Chaves, 1990. Considerações do Autor, páginas iniciais). Ele conta que o Dr. Ignacio era excelente pro-

Naquele longínquo 1926, funcionavam em Marabá duas escolas estaduais: a escola masculina, dirigida por Leônidas Duarte, sendo professor adjunto Antonio Bastos Morbach, o Sinhozinho; e a escola feminina, sob a direção da Professora Julieta Gonçalves, tendo como adjunta a Professora Maria Salomé de Carvalho. Havia, ainda, uma escola particular, o “Externa-to Nossa Senhora de Nazareth”, dirigido pela Professora Afife Chuquia. O Dr. Pio de Andrade Ramos era o presidente do Conselho Escolar de Marabá. Os intelectuais Leônidas Duarte e Sinhozinho tinham, ambos, profundo interesse pelo desenvolvimento sócio-cultural da cidade, o que, certamente, os levou a lecionar por algum tempo. Leônidas Duarte tinha uma experiência anterior, de um ano de ensino em Capanã, localidade às margens do rio Ma-deira, no Estado do Amazonas, no ano de 1910 (Duarte, 1970). Já as professoras Julieta Gonçalves e Maria Salomé de Carvalho eram verdadeiras mestras e dedicaram suas vidas a essa profissão. Julieta Gonçalves, que integrou a Associação Marabaense de Letras, era tia do ex-ministro Jarbas Passarinho, o qual, em prefácio ao livro Ma-

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Anos 20

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rabá, recorda-se de “uma tia, heroína dos tempos recuados do início do segundo quartel do século, que se apartara da família, em Belém, para vir lecionar em Alcobaça e, logo depois, em Marabá. A sua vida atribulada, as sucessivas crises de malária que a levavam a Belém, de volta, não lhe faziam desanimar. Logo regressava à terra dos castanheiros e do caucho, de que falava com enlevo” (Marabá, 1984, p. 7). A Professora Julieta Gonçalves foi, também, uma pioneira da educação ambiental. Vindo para Marabá a convite do Coronel Antonio Maia, usava ela um método inédito para ensinar botânica: nada de sala de aula, mas aulas práticas, em contato com a natureza; o grupo de alunas atravessava o rio, em canoa, e na margem oposta saía a colher folhas e flores, material de que se servia a professora para desenvolver suas aulas, despertando nas crianças o amor ao conhecimento, aliado ao respeito pelo ambiente natural . Sobre a Professora Maria Salomé de Carvalho poucas informações pudemos obter. Sabe-se que ela era muito culta e que também pertenceu à Associação Marabaense de Letras. Veio de Boa Vista (hoje Tocantinópolis), convidada pelo Intendente João Anastácio de Queiroz, para lecionar em Ma-rabá. Declarou Sinhozinho que ela era “uma das mais fulgurantes inteligências que nos foi dado conhecer” (Morbach, 1954). Quando da visita do Doutor Deodoro de Mendonça a Marabá, Salomé de Carvalho dirigiu a apresentação de diversos números de ginástica, execu-tados pelas alunas da Escola Feminina (Viagem ao Tocantins, 1983, p. 90); apresentou também um “fino sainete”, de sua lavra, denominado “Cousas da Castanha”, que contava dos conflitos entre patrões e aviados na colheita da castanha, texto cômico, encenado, também, pelas alunas (Viagem ao Tocan-tins, 1983, p. 89). Uma outra peça teatral, versando sobre os Estados do Brasil, é lembrada em depoimento do Sr. Antonio Braga e Chaves. Declara ele que a Professora Salomé “não gostava de deixar passar nem uma data despercebida, ela sempre fazia comemoração, recitava versos”.

pro-fessora local” - referia-se a Cacy Motta - prosseguindo: “muito bonita, a senhorita Cacy era bem o tipo de nossa brasileira bonita. Morena jambo, olhos negros ‘como a asa da graúna’, dentes lindos. Destoava sobremaneira daquela região selvagem, de vida áspera”.(Rodrigues, 1943, p. 225). Tão extasiado ficou o Coronel Lysias com a beleza da professora, que esqueceu-se de registrar dados sobre o ensino, na época... Não sabemos quando surgiu o Grupo Estadual, em prédio próprio na Praça Duque de Caxias (trata-se do hoje decadente prédio, entre a Caixa Eco-nômica Federal e o Banco do Brasil, local onde, posteriormente, funcionou a Delegacia de Polícia). Ali lecionou a famosa mestra marabaense Professora Judith Gomes Leitão, ou Dona Santa, como era chamada, bem como as professoras Clair Costa Abbade, Maria Ismênia Matne Queiroz, Noêmia Vergolino, Lúcia e Iara Marinho, Lívia Ramos (filha do Dr. Francisco Ramos), Maria das Graças, Miriam, entre outras. Nesse Grupo trabalhou por muitos anos, como servente, a Senhora Olímpia, lembrada pelos antigos alunos por vender deliciosas castanhas cristalizadas, envoltas em papel de seda. Ex-alunas de 1955 recordam-se de que a merenda da escola era, nor-malmente, leite ou mingau. Aos sábados havia aula, e a merenda era especial: pão com carne e leite achocolatado. Em 1939 foi inaugurado o Grupo Municipal “José Mendonça Vergo -lino”, com seis salas de aula e um salão. A primeira diretora foi Onéglia Me-deiros, seguindo-se Yara Tocantina Queiroz, Enóe Marinho, Lilia Salame, Elza Marinho Oliveira, Nazaré Salame, Eduardo Abdelnor, Maria de Jesus Fernandes Rodrigues, Aparecida Nocetti. Anos 40 e 50

Em 1931 o coronel-aviador Lysias Augusto Rodrigues esteve em Ma -rabá, acertando a abertura do campo de aviação. Cita ele a “encantadora

Foi no ano de 1940 que o Professor Raimundo Gomes dos Santos, o conhecido “Professor Raimundinho”, começou a lecionar. Durante muitos anos ele dirigiu o pequeno Grupo Escolar “Leonel Vergolino”. Em 1945, o jornal Marabá noticiou a comemoração do Dia da Árvore, com o plantio de um pé de abricó no Grupo Municipal (Marabá, v. 1, n.12, de 29 set. 1945, p. 7). No mesmo exemplar do antigo periódico, pode-se ler uma nota sobre um “Festejo a Santa Teresinha”, pedindo óbolo para a “terminação do

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Anos 30

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Con-vento, obra de grande alcance para resolver o problema da instrução à mo-cidade estudiosa desta cidade”. É essa a primeira semente do Colégio Santa Teresinha, fundado quatro anos depois pelas Irmãs Dominicanas. No interessante livro de Geraldo V. Ribeiro, intitulado Eventos de uma existência, somos informados que, em meados da década de 40, havia em Marabá o Instituto Tabosa, de propriedade do fiscal geral da Prefeitura, Sr. Francisco Tabosa. Era um curso primário onde lecionavam suas três filhas; uma delas chamava-se Dayse Ione Coimbra Tabosa, “que lecionava pela manhã no grupo escolar primário estadual (...), e à tarde no seu colégio” (Ribeiro, p. 37). O jornal A Safra registrou, em 1948, a existência de uma Escola “Professora Carolina Pereira” (A Safra, v. 1, n. 25, de 22 ago. 1948, p. 4). Não obtivemos outras informações dessa escola. A fundação do excelente Colégio Santa Teresinha, por freiras da Ordem Dominicana, marcou o ano de 1949. São inesquecíveis os nomes das Irmãs Colomba, Maria Deodata, Celina Teresa e Domingas, as quatro pioneiras. Muitas outras freiras permanecem na lembrança dos marabaenses que, durante cinqüenta anos, beneficiaram-se de um ensino de alta qualidade e boa for-mação religiosa. Registremos aqui os nomes de algumas Irmãs: Teodora, professora de História, Zoé, Laís e Teresa, professoras de Português, Celina, que lecionava Inglês e Geografia, Ilidia, professora de Matemática, Anita, de Latim, Alexandrina, de Canto, Madre Margarida, francesa que ensinava Matemática, Joseane, professora de Inglês; Odete, Maria das Graças e Marilda, professoras primárias; Otávia, do Pré-escolar; e ainda: Madres Teresinha e Lina, Irmãs Justina, Ana Rita, Odila (que era encarregada pela Mete-orologia, até 1954); Irmã Imaculada, responsável pelo ensino de Trabalhos Manuais. Havia ainda as Irmãs leigas Eulália e Delmira, dentre muitas outras que um ou outro ex-aluno certamente se recordará com carinho.

Escola Santa Teresinha, esta com 175 alunos e 5 professoras, sendo duas formadas. Além dessas, o estudioso referiu-se à existência de duas escolinhas particula-res. Acreditamos ser uma delas a Escolinha da Professora Sebastiana; a outra citada poderia ser a da Professora Maria Galiana, ambas no bairro Santa Rosa. Havia ainda o Ginásio Santa Teresinha, com 52 alunos e seis professo-ras (Lagenest, 1958, p. 60-66). Por essa época, também, a professora Zelma deve ter começado a le-cionar em sua escolinha, que funcionou durante muitos anos na Praça Duque de Caxias. Por volta de 1956 funcionou, na rua Norberto de Melo, a escola do Professor Antonio Farias (afilhado de Dona Maria, esposa de Sérvulo Brito). Outra educadora muito lembrada é a Professora Felipa Serrão Botelho Neves, que lecionou em escolas públicas e também manteve, nos anos 60, uma escolinha particular, localizada na Rua Barão do Rio Branco. É preciso também assinalar, neste memorial da educação marabaense, a atuação da Professora Maria Ilan Rodrigues Jadão. Formada na primeira turma do Colégio Santa Teresinha, em 1955, a Professora Ilan tornou-se uma das mais competentes mestras de várias gerações de estudantes. Além disso, prestou excelentes serviços a nossa tão benquista Casa da Cultura de Marabá. Épocas mais recentes

Em 1955, Lagenest encontrou em Marabá quatro escolas primárias: o Grupo Estadual, com 410 alunos e dez professoras, sendo duas formadas; o Grupo Municipal José Mendonça Vergolino, a Escola Santa Rosa e a

A partir dos anos 70, multiplicaram-se as escolas públicas e particulares, aumentando rapidamente o número de professores e outros profissionais envolvidos com a educação. Entre 1971 e 1988, deve ser registrada a contribuição do Campus Avançado da USP para a formação de professores, monitores, diretores e su-pervisores, nos diversos níveis de ensino; e ainda assessoria administrativa às escolas, assistência pedagógica e metodológica. A partir de 1987, a instalação do Campus da Universidade Federal do Pará e a vinda de cursos da Universidade Estadual do Pará vieram trazer novo dinamismo à educação, permitindo o acesso mais amplo ao ensino superior e à formação de professores. Tornou-se difícil acompanhar o trajeto dos novos mestres, em sua fai-

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Anos 50 e 60

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HISTÓRIA DO CINEMA EM MARABÁ

na incansável para propiciar o desenvolvimento intelectual dos jovens mara-baenses.

Maria Augusta Luz Raimundo Herculano Rodrigues

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Referências

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CARVALHO, Carlota. O Sertão. Rio de Janeiro: Obras Scientificas e Lite-rárias, 1924. CHAVES, Antonio Braga e. Do Lago Vermelho a Itupiranga: uma história para crianças. Itupiranga: Prefeitura Municipal, 1990. DUARTE, Leônidas Gonçalves. De São Vicente a Araguatins. Marabá: Tip. Rocha, 1970. LAGENEST, H. D. Barruel de. Marabá: Cidade do diamante e da castanha. São Paulo: Anhambi, 1958. LARAIA, R. B. e MATTA, R. Índios e castanheiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. MARABÁ. Prefeitura Municipal de Marabá, 1984. MORAES, Almir Queiroz de. Pelas trilhas de Marabá. S. Sebastião do Pa-raíso: Chromoarte, Ed., 1998. MORBACH, Antonio Bastos. A mulher na literatura tocantina. Itatocan, v. 2, n. 9, p. 12, jun. 1954. MOURA, Ignacio Baptista de. De Belém a São João do Araguaia: vale do Rio Tocantins. Belém: SECULT, 1989 (edição original: 1910). RIBEIRO, Geraldo Virgínio. Eventos de uma existência. Imperatriz: Ética, 2000. RODRIGUES, Lysias Augusto. Roteiro do Tocantins. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1943. VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de expansão e estrutura agrária. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. VIAGEM AO TOCANTINS. Marabá: Prefeitura Municipal, 1983 (reedição de Pelo Tocantins Paraense, 1926).

Resumo: Neste trabalho apresentamos a trajetória do cinema na cidade de Marabá, tendo inicio com suas sessões itinerantes na década de 30, e passando a permanente com a construção do primeiro prédio próprio, por volta de 1946; mostramos também o apogeu, as transformações ao longo do período e o encerramento das atividades, apesar dos esforços empenhados para manter-se um cinema de qualidade na cidade. Palavras-chave: Cinema, Cine Marrocos, filmes. O cinema através dos tempos Marca-se o início da história do cinema no final do século XIX, na França. Foram os irmãos Louis e Auguste Lumière que realizaram a primeira exibição pública cinematográfica, em 28 de dezembro de 1895, no Grand Café de Paris, para uma platéia constituída de 35 pessoas, com lotação esgotada. No Brasil A primeira exibição de cinema no Brasil aconteceu em 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro, por iniciativa do exibidor itinerante belga Henri Paillie. Naquela noite, numa sala alugada do Jornal do Comercio, na Rua do Ouvidor, foram projetados oito filmetes de cerca de um minuto cada, com interrupções entre eles e retratando apenas cenas pitorescas do cotidiano de cidades da Europa. Só a elite carioca participou deste fato histórico para o Brasil, pois os ingressos não eram baratos. Um ano depois já existia no Rio uma sala fixa de cinema, o “Salão de Novidades Paris”, de Paschoal Segret. 1 - Técnica do Arquivo Histórico Manoel Domingues – FCCM 2 - Técnico do Arquivo Hist. M. Domingues – FCCM - Bacharel em Ciências Contábeis.

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Em Marabá As primeiras exibições cinematográficas aconteceram na década de 1930; naquela época o cinema funcionava de forma itinerante. Os filmes eram apresentados, aqui em Marabá, no local onde funciona hoje uma agência dos Correios, na Praça Duque de Caxias, e depois eram levados para exibição em outros municípios. Este sistema contribuiu para ser instalado em Marabá um cinema permanente. O sonho de um cinema permanente em Marabá tornou-se realidade, finalmente, por volta de 1946. Alfredo Rodrigues Monção, que mais tarde viria a ser prefeito de Marabá, formou sociedade com Servulo Ferreira de Brito, para organizar a Empresa de Melhoramentos do Tocantins e, com esta, um cinema que se chamou Cine Independência. A casa foi construída especialmente para esse fim, na Praça Duque de Caxias, onde hoje é o prédio da Caixa Econômica Federal. O Cine Independência era de fazer inveja a muitas casas de projeção de outras cidades, afirmam os contemporâneos. Ali foi instalado o primeiro projetor fixo da região, que funcionou por algum tempo. Mais tarde, insatisfeito com o cinema, Alfredo Monção fechou as portas, vendeu todos os equipamentos e passou a residir no prédio.

1950 Hiran Bichara terminou adquirindo a parte de Ozório e tratou de construir um prédio próprio para sua empresa, na Avenida Antônio Maia. A construção levou três anos para ser concluída, sendo inaugurado em junho de 1953. O apogeu O Cine Marrocos alcançou seu apogeu, a exemplo do cinema em todo País, com as chanchadas, na década de 50 e 60, apresentando “Oscarito” e “Grande Otelo”, tendo como marco de maior público o filme “Aviso aos Navegantes” estrelado por estes “Monstros sagrados” do cinema na época. Apresentou ainda filmes de sucesso mundial, como o “Império dos Sentidos” (1976), de Nagisa Oshima. Outra fase de grandes sucessos foi das séries de Bruce Lee, Tarzan e Os Trapalhões, que emocionavam o público.

Cartaz do filme Aviso aos Navegantes

Antigo prédio onde funcionava o Cine Independência. Imagem: Paysage ano I n.º 01

Oscarito e Grande Otelo Imagem: http://bar1211.blogspot.com.br

Hoje, agência da Caixa Econômica Federal (Praça D. de Caxias) Foto: Raimundo Mesquita

Walter Sampaio e Pedro Chaves foram os seguidores de Alfredo Monção. Depois passaram o cinema a Hiran Bichara e a Ozório Pinheiro, que fundaram o Cine Teatro Popular, no local onde funciona hoje uma agência dos Correios, na Praça Duque de Caxias, no mesmo local utilizado anteriormente para o cinema itinerante. Apaixonado pelo cinema, em

As películas de filme vinham da cidade de Recife, que na época era o grande centro distribuidor de filmes no Brasil, e chegavam a Marabá por

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Publico no Salão de projeção do Cine Marrocos - Imagem: Itatocan – jan/1953)

Cine Marrocos recém inaugurado em 1953 Imagem: Itatocan n.º 8/1954)

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via aérea. Cada filme pesava em média 25 quilos, sendo adquirido por meio de locação ou pagando-se a metade do valor arrecadado na bilheteria em cada exibição. Melhorias Em 1956 foram feitos dois melhoramentos no Cine Teatro Marrocos: um palco amplo e um conjugado que fornecia, com abundância, energia para iluminação e movimentação da casa e do projetor. Desse modo, o Cine Teatro Marrocos passou a apresentar matinais oferecendo sessões de teatro, shows etc. O novo palco foi inaugurado com a temporada de Vera Lúcia, Picolé, Arí Lobo, Glenda Rúbia e Trio do Pandeiro, com absoluto sucesso de bilheteria.

vel nacional. Outro grande motivo da extinção dos cinemas, nos anos 80, foi a expansão da televisão, dos videocassetes, dos DVDs e da internet, permitindo que as pessoas assistissem filmes em casa. Projetores, cartazes e películas de filmes do cinema Uma das últimas máquinas de projeção do antigo Cine Marrocos foi vendida ao Salão de Belas Artes de São Paulo. Após o fechamento do cinema, o Sr. Hiran Bichara doou, para o Arquivo Público Municipal/FCCM, cartazes dos filmes que foram apresentados no Cine Marrocos. Estes cartazes retratam bem os tipos de filmes da época e representam boa parte da memória cinematográfica não só local como nacional.

Cine Marrocos como meio socializante O Cine Marrocos teve uma importante função social, reunindo famílias e amigos que lá faziam seu ponto de encontro. A criançada também participava ativamente desta socialização lúdica, através das interessantes trocas de gibis e figurinhas. Nos últimos tempos de sua existência o Cine Marrocos, aos domingos, foi palco do famoso programa de auditório “Domingo alegre” durante anos, dirigido por Ruy Castro. Fecham-se as cortinas Fotos das embalagens originais das películas de filmes do Cine Marrocos. Fotos: Eliane Araújo

Cine Marrocos na cheia de 1980 Foto: Acervo Histórico

O Cine Marrocos proporcionou risos e lágrimas, sonhos e perspectivas a um povo ilhado entre florestas e rios, durante sua trajetória em Marabá. Mas, apesar do êxito e da força de vontade de seus criadores, o cinema teve que fechar suas portas em 1987, juntamente com cerca de outras três mil casas espalhadas em todo Brasil. Um dos principais motivos que levaram Hiran Bichara a tomar essa decisão foi a grande pressão e abuso da Embrafilme, e posteriormente do Concine, órgãos do governo que manipulavam as casas de projeção, forçando-as a apresentar filmes sem qualidade ou boicotando a distribuição. Hiran ressalta ainda que a extinção do cinema na cidade deveu-se a um problema que se deu em ní-

A Fundação Casa da Cultura de Marabá recebeu, em 27 de setembro de 2006, cinquenta e seis (56) filmes que pertenceram ao extinto Cine Marrocos, doados pela Secretaria de Viação e Obras Públicas – SEVOP, em suas embalagens originais de metal, bastante danificadas, devido às más condições de armazenamento em depósito. Destes filmes, apenas 50 foram aproveitados; 6 deles já estavam em processo de decomposição, assim como as embalagens corroídas pela ferrugem.

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O ressurgimento após 15 anos O prédio do antigo Cine Marrocos, que estava desativado havia 15 anos, depois de passar por uma reforma foi inaugurado (05 de abril de 2002) como Centro de Formação Cultural e Profissionalizante, com a finalidade de promover trabalhos de inclusão social, capacitando profissionais nas mais diversas áreas da atividade educacional: dança, música, literatura, artes plásticas, fotografia, vídeo e cinema, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Cultura, Desporto e Turismo (SECDETUR). O novo “Cine Marrocos”, uma junção das artes cinematográficas e dramatúrgicas, tornou-se espaço alternativo para eventos de natureza empresarial e filantrópica. Atualmente o Centro de Formação Cultural e Profissionalizante “Cine Marrocos” promove os seguintes cursos: projetos de teatro, música e dança. Agradecimentos Fundação Casa da Cultura de Marabá, pela oportunidade e incentivo por parte de seu presidente para a publicação deste trabalho; Sr. Hiran Bichara, pela entrevista. Referências

- Enciclopédia Abril 3º volume (Biblioteca) - Jornal Correio do Tocantins n.º 821, 05/04/2002; - Jornal Opinião n.º 262, 30/01 a 01/02/99; - Jornal a Safra n.º 79, 30/10/1949 e 136, 11/02/1951. - Revista Paysage ano I n.º 01; - Revista Itatocan n.º 01 de junho/1952; - Revista Itatocan n.º 03 de janeiro/1953; - Revista Itatocan n.º 11 de outubro/1954; - Revista Itatocan n.º 01 de março/1956. - Entrevista Sr. Hiran Bichara - Fotos: Raimundo Aguiar Mesquita

O PROJETO DE INTERIORIZAÇÃO DA CASA DA CULTURA DE MARABÁ Creuzani Maria S. Costa Leia Lino Barbosa

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Resumo: O presente artigo visa mostrar como a Fundação Casa da Cultura de Marabá desenvolve o seu Projeto de Interiorização da Cultura, que já beneficiou 34 escolas/comunidades da região. Na efetivação desse projeto há uma interação entre técnicos da Fundação e Comunidade. Palavras-chave: Casa da Cultura, Cultura Popular, Inclusão Social Introdução Por cultura se entende muita coisa. Por vezes fala-se de cultura para se referir unicamente a manifestações artísticas, como o teatro, a música e a escultura. Ao se falar de cultura, muitos ainda a relacionam com o cinema e a televisão, ou ainda com as lendas, crenças, modo de vestir, de falar, a comida e o idioma de um povo, entre outros aspectos. Desta forma, a cultura é observada sob diversos pontos de vista da sociedade. Marabá possui aproximadamente 233.462 mil habitantes, mas nem todos eles têm acesso a informações, entretenimento, lazer, cultura etc. Em razão dessas limitações, a Fundação Casa da Cultura de Marabá vem desenvolvendo o Projeto Interiorização da Cultura desde o ano de 1.994, cujo objetivo é levar às comunidades da zona rural do município um pouco de cultura, através de exposições, apresentações musicais, danças, palestras, vídeos, salas de leitura e oficinas. Essas atividades oferecem também oportunidade para que as pessoas dessas comunidades possam não só conhecer e apreciar os vários aspectos culturais, como também de mostrar e expor as suas capacidades e manifestações culturais. 1 - Estudante de Sociologia pela UFPA 2 - Licenciada em Ciências Naturais com habilitação em Biologia, pela UEPA/Marabá e Técnica da Fundação Casa da Cultura de Marabá.

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A idéia da “Cultura Itinerante” surgiu da necessidade da Fundação Casa da Cultura de Marabá em divulgar, junto às comunidades, os resultados das pesquisas realizadas na região, possibilitando às mesmas a oportunidade de conhecerem um pouco mais da nossa cultura e história. Além de difusão cultural, esse trabalho propaga também o potencial turístico, ambiental e econômico que nossa região possui. Além dos trabalhos educativos que a Fundação realiza no decorrer do projeto, o ambiente se transforma em um lugar de encontro, de festa, de exposições e de muita alegria para aqueles que inventam e reinventam a cultura nativa e popular.

Manifestação Cultural - Capoeira

ências e conhecimento entre os técnicos da Fundação e a população local. As informações coletadas, por mais simples que pareçam ser, possuem sua devida importância para a comunidade local e para toda a nossa região, por isso, são sistematizadas e expostas durante a realização das atividades. As atividades desenvolvidas na realização do projeto são: • Exposições As exposições realizadas nessas comunidades envolvem todos os setores da Fundação Casa da Cultura de Marabá e tem como principal objetivo difundir o trabalho desenvolvido pela mesma e possibilitar à população local o acesso a informações. Dentre as exposições realizadas, destacam-se: Antigos Castanhais, Frutos Comestíveis da Região, Exposição de Obras de Artistas Locais, Lendas Regionais, História de Marabá, Doença de Chagas, Animais Nocivos, História da Fundação Casa da Cultura de Marabá e a Exposição sobre a Comunidade Local, etc.

Apresentação de Boi Bumbá

As programações realizadas possibilitam também que as comunidades divulguem os trabalhos desenvolvidos por elas, tais como: artesanatos, danças, músicas, peças teatrais etc.; incentivam a leitura através de brincadeiras, dramatizações, hora do conto. Todas essas atividades contribuem no processo de aprendizagem das crianças e adolescentes fora da sala de aula, principalmente na absorção e compreensão do mundo em que vivem. Material e métodos

Auto retrato, obra de Augusto Morbach

• Palestras

As atividades são realizadas no período letivo, durante os fins de semana. Antes da execução dos trabalhos propostos, é realizado um levantamento histórico da comunidade, o que permite uma permuta de experi-

Os temas selecionados para as palestras são escolhidos de acordo com as necessidades de cada comunidade. Inicialmente, é realizado um levantamento in loco para detectar os principais problemas que afetam a população. A partir desses dados, os técnicos da Fundação montam pa-

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lestras específicas, dentre as quais destacamos: Queimadas, Poluição dos Igarapés, a Importância da Preservação dos Mananciais, Drogas etc. O principal objetivo destas palestras é oferecer a essas comunidades o acesso ao conhecimento.

Palestra

Mostras de Vídeos

Os vídeos selecionados são de cunho educativo e seu conteúdo é voltado para a história regional. Dentre eles destacamos: a História de Marabá, Fundação Casa da Cultura de Marabá, Alcoolismo, Água, Cólera, Readaptação e Soltura de Animais e Vocabulário Regional. Além de vídeos históricos, apresentamos também vídeos infantis. O objetivo desses vídeos é mostrar à comunidade a importância de se documentar e registrar a história do povo através da imagem.

volvimento da coordenação motora, interação e descoberta do mundo. Dentre as brincadeiras e oficinas realizadas, destacamos: hora do conto, cineminha e atividades lúdicas. •

Literatura

A literatura, em especial a infantil, é uma ferramenta fundamental na constituição do leitor, ela contribui na formação do indivíduo e no desenvolvimento da aprendizagem do mesmo. Os livros lidos durante a infância permanecem na memória do adolescente e adulto, desta forma, quanto mais o indivíduo lê mais ele aprimora sua capacidade de interpretações e passa a conhecer novas realidades. As atividades de literatura são desenvolvidas com o apoio da escola onde é realizado o projeto. Inicialmente realizamos uma palestra com os alunos sobre a importância da leitura e produção de texto. Em seguida distribuímos livros de literatura para subsidiar os alunos na escrita de sua própria poesia, as quais são lidas pelos autores e expostas em um Varal de Poesias, para visitação dos alunos e comunidade. As poesias de maiores destaques são lidas pelo autor no decorrer da programação. Essas atividades incentivam os alunos a desenvolverem a escrita e principalmente a capacidade poética.

• Atividades infantis

Leitura de poesias

O ser humano, em todas as fases de sua vida, está sempre aprendendo e as crianças não são diferentes, elas assimilam com facilidade tudo o que presenciam. A realização de brincadeiras educativas nessa fase é mais que passatempo, elas ajudam no desenvolvimento humano, promovendo processos de socialização, valorização da cultura popular, desen-

• Artes

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É importante que cada comunidade conheça o potencial artístico que possui. Para fomentar a descoberta de novos talentos na área artística, a Fundação promove concursos de desenho com crianças e adolescentes da

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comunidade. Após a conclusão dos desenhos, é montado um varal para exposição dos mesmos e votação para indicação dos melhores trabalhos. Para incentivar os novos talentos, a Fundação recompensa as melhores produções com prêmios didáticos.

cativa da poluição do solo, da água e do ar. Diante da importância da reciclagem para a preservação do meio ambiente, a Fundação realizada esse processo com a comunidade local, que acontece em três momentos simultâneos: no primeiro momento, é ministrada uma palestra demonstrando a importância da reciclagem e do aproveitamento dos materiais para a preservação dos recursos naturais. No segundo momento, explicamos como é realizado o processo de reciclagem, distribuímos as funções e materiais necessários para iniciarmos as atividades. No terceiro momento, montamos e disponibilizamos ao público uma exposição dos materiais produzidos pelos participantes. • Entretenimento

Atividades de desenho

Reciclagem

A partir da década de 1980, a produção de embalagens e produtos descartáveis aumentou significativamente, assim como a produção de lixo. Atividades de coleta seletiva de lixo e reciclagem de alumínio e papel, já são comuns em várias partes do mundo.

Além das exposições, vídeos, palestras etc., que acontecem no decorrer da execução do Projeto, há também uma programação cultural para a população local, no período noturno. Essa programação é realizada todas as noites com concertos musicais, apresentações de coreografias, teatro, recital de poesias e concursos de dança. Essas apresentações são realizadas com os grupos existentes na própria comunidade com exceção dos concertos musicais que são executados pela Banda da Escola de Música da Fundação. O principal objetivo dessas atividades culturais é mostrar à comunidade local, o potencial cultural e artístico que ela possui e que às vezes desconhece.

Material reciclado produzido

A reciclagem, além de preservar o meio ambiente também gera riquezas, os materiais mais reutilizados nesse processo são o vidro, o alumínio, o papel e o plástico. Esta reciclagem contribui para a diminuição signifi-

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Apresentações musicais

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• Ações que incentivam a leitura nas Escolas

LOCALIDADE

A Fundação tem contribuído de forma significativa para o incentivo da leitura nas comunidades. Em cada escola é montado o Cantinho da Leitura, nesse espaço são disponibilizados para a comunidade, jogos de caráter educativo e lúdico, obras da Literatura Infantil, Cordéis, Folders Educativos, Boletins Técnicos da Fundação Casa da Cultura, entre outros. O objetivo dessas atividades é incentivar a comunidade local a desenvolver o hábito e o gosto pela leitura e pela produção de textos. Ao final da programação, são doadas às Bibliotecas das escolas um kit de publicações realizadas pela Fundação, dentre as quais destacamos: Vocabulário Regional de Marabá e Boletins Técnicos. Essas ações, além de incentivar os alunos para a prática da leitura e produção literária, também contribuem expressivamente para aproximá -los da realidade e torná-los pessoas pensantes. Locais beneficiados com o projeto LOCALIDADE

ESCOLA

PERÍDO

São Félix – Pioneiro

Jarbas Passarinho

Espírito Santo

José de Alencar

Morada Nova

Gabriel Sales Pimenta

29 e 30/10/1994

Murumuru

Rui Barbosa

26 e 27/11/1994

São Félix – Km 01

Pequeno Pajé

18 e 19/03/1995

Cametaú

Joel Pereira Cunha

19 e 30/04/1995

Geladinho

Nossa Senhora dos Prazeres

27 e 28/05/1995

Lago do Deserto

Francisco Coelho

17 e 18/06/1995

Matrinchã

Nossa Senhora Aparecida

19 e 20/08/1995

Vila Café

João XXIII

23 e 24/09/1995

Vila Itainópolis

Marechal Rondon

11 e 12/010/1995

Vila Sororó

Marcos Mutran

30 e 31/03/1996

Brejo do Meio

Pedro Marinho

27 e 28/04/1996

Vila Santa Fé

Maria das Neves Silva

17 a 19/05/1996

Capistrano de Abreu

Nagib Mutran

28 e 29/06/1996

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20 e 21/08/1994 17/09/1994

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ESCOLA

PERÍDO

Vila Itainópolis

Marechal Rondon

24 e 25/08/1996

Vila Josinópolis

Liberdade

26 a 28/09/1996

Vila São João (KM 35)

25 de dezembro

22 e 23/03/1997

Margem da Ferrovia – Itainópolis

Anajás

26 e 27/04/1997

Morada Nova

Pedro Peres Fontenelli

02 e 03/10/1999

Murumuru

Rui Barbosa

27 e 28/11/1999

Cinturão Verde

Marcos Freire

25 e 26/03/2000

Vila União

Faixa Linda

29 e 30/04/2000

Vila São Raimundo

Geraldo Luiz Gonzaga

27 e 28/05/2000

Rio Branco

Arco-Íris

23 e 25/06/2000

São Félix – Km 01

Walquíase Viana

23/06/2001

Vila São José

São José

29/09/2001

Morada Nova

Gabriel Sales Pimenta

Murumuru

Rui Barbosa

29 e 30/11/2003

São Félix

Julieta Gomes Leitão

22 e 23/08/2008

Morada Nova

Escola Pedro Peres Fontenelle

29 e 30/08/2008

Vila Lago Azul

Nossa Senhora Aparecida

19 e 20/09/2008

Bairro Amapá-Marabá

Basílio Miguel

15 e 16/12/2008

Murumuru

Rui Barbosa

06 e 07/03/2009

31/10 e 1°/11/2003

Conclusões Na maioria das escolas/comunidades em que foi realizado o projeto há uma grande carência de informações e sede de conhecimento. Verificamos também que, em cada comunidade, há um potencial artístico e cultural expressivo, porém, nem todas exploram esse potencial. Dentre as comunidades em que foi realizado o projeto, destaca-se a Vila São José, pelo episódio de a mesma possuir um grande artista na área de artes plásticas, o qual em razão de não ter espaço para expor suas obras, não tem reconhecido o seu talento e nem divulgada a sua produção artística. Outro ponto positivo notado em todas as escolas/comunidades contempladas foi a participação de um número significativo de pessoas,

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principalmente nas palestras, nas mostras de vídeos e nas programações culturais. Além do público adulto, também houve uma grande participação do público infantil, especialmente nas mostras de vídeos infantis, competições, concursos de desenhos, hora do conto e cantinho de leitura. Acreditamos que o Projeto de Interiorização da Cultura tem uma importância fundamental para a difusão do conhecimento e cultura. Durante a execução dessas atividades, a Fundação exerce uma função social, no sentido de possibilitar maiores informações ao público estudantil e à comunidade em geral. Todas as ferramentas utilizadas nesse processo são de cunho educativo, pedagógico e, sobretudo, atuam diretamente nas áreas de Educação Patrimonial, tão carente quanto necessária em nossa região. Com a realização do Projeto de Interiorização, foram contempladas aproximadamente 35.000 mil pessoas. Agradecimentos Agradecemos a Fundação Casa da Cultura de Marabá, Airton Pereira dos Reis, SEASP (Secretaria de Assistência Social), SEMED (Secretaria Municipal de Educação), Prefeitura Municipal de Marabá e Assembléia Legislativa do Estado do Pará; e a todas as comunidades, pelo apoio logístico. Referências Fundação Casa da Cultura de Marabá. Relatórios das etapas do Projeto de Interiorização, Agosto de 1994 a Março de 2009. Fundação Casa da Cultura de Marabá. Projeto de Interiorização, 2003. www.censo2010.ibge.gov.br

O QUE SE PODE LER PARA CONHECER MARABÁ E SUA GENTE Trabalho elaborado originalmente por Vicente Salles e atualizado por Virgínia Mattos 1

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Resumo: Bibliografia comentada das obras que permitem entender a história e a vida atual de Marabá. Palavras-chave: Marabá, História, Cultura, Bibliografia Apresentação O historiador, folclorista, musicólogo, antropólogo, professor e jornalista Vicente Salles é um dos mais importantes intelectuais da Amazônia, sendo autor de uma obra fundamental para a história cultural de nosso Estado. Publicou: “O negro no Pará”, “Música e músicos do Pará”, “Repente & Cordel”,”Vocabulário crioulo: contribuição do negro ao falar regional amazônico”, “A música em Belém no século XIX”, “Carlos Gomes: uma obra em foco”, entre outras. Foi redator chefe da Revista Brasileira do Folclore. Mantendo fortes ligações com Marabá, Vicente Salles é colaborador e amigo da Fundação Casa da Cultura e de seu presidente, Noé von Atzingen. Por isso, na década de 80, preparou um levantamento da bibliografia básica para o entendimento de nossa história e nossas raízes culturais, encaminhando esse documento ao Noé. O cuidadoso repertório, intitulado “Bibliografia para conhecer Marabá e sua gente”, traz não apenas as referências bibliográficas, essenciais para o acesso às fontes, como também um pequeno resumo do conteúdo de boa parte das 43 obras citadas. Inúmeros estudiosos e pesquisadores da história e das manifestações culturais de nossa região valeram-se das preciosas informações reunidas 1 - Antropólogo, folclorista, historiador da cultura, musicólogo e poeta. 2 - Biblioteconomista, autora do livro História de Marabá

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por Vicente Salles. Muitos dos documentos citados foram obtidos para a Casa da Cultura, seja em volumes originais, seja em cópias, quando se tratava de obras esgotadas. O levantamento que se segue pretende atualizar o repertório organizado por Vicente Salles, procurando, sempre que possível, a exemplo do que fez o autor original, traçar alguns indicativos do conteúdo das obras. A. Livros e partes de livros ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Carajás: guerra dos mapas. Belém: Falangola, 1994. Livro produzido para o seminário-consulta “Carajás: desenvolvimento ou destruição?”, traz fontes documentais e comentários que facilitam a leitura de um mapa temático. Busca demonstrar como o caos funciário prejudica os antigos ocupantes da área de influência de Carajás. ALMEIDA, Carlos Pinto de. Castanha-do-pará: sua exportação e importância na economia amazônica. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola do Ministério da Agricultura, 1963. 86p. Gráficos. (Estudos Brasileiros, n. 19). Traz descrição botânica, localização geográfica, valor nutricional da castanha; detalha modo de extração e transporte, classificação das amêndoas, sua industrialização e comercialização; trata ainda da assistência oficial aos produtores. ALMEIDA JUNIOR, José. Maria Gonçalves de (Org.). Carajás: desafio político, ecologia e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense/CNPq, 1986. Vários autores abordam diferentes aspectos da questão Projeto Carajás e seu impacto na região de influência.

Faculdade de Educação, USP (Texto mimeografado). Faz uma análise da educação formal em Marabá, nos anos 70. ANDREONI, Aldo. Relatório de uma viagem realizada ao baixo e médio Tocantins (pelo) Eng. Aldo Andreoni, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1948. Goyaz: Imprensa Oficial, 1949. Trata com detalhes sobre a topografia da região tocantina, a navegação, os barcos. Descreve rapidamente Marabá em 1948, p. 22-23. ATZINGEN, Noé von. Vocabulário regional de Marabá. Marabá: Fundação Casa da Cultura de Marabá/Projeto Usimar Cultural, 2004. Cuidadoso levantamento da linguagem peculiar da região, que se preservou até os anos 70. AUDRIN, J. M. Entre sertanejos e índios do norte: o bispo-missionário D. Domingos Carrérot. Rio de Janeiro: Púgil/Agir, 1947. O livro sobre a vida de D. Domingos (primeiro bispo de Conceição do Araguaia, em 1913; primeiro bispo de Porto Nacional, em 1919) traz detalhes das dificuldades nas matas de Tocantins e Pará e dos tratamentos de doenças com recursos da floresta; dá informações sobre vários povos indígenas; relata a fundação de Conceição do Araguaia em 1897 e descreve os costumes dos primeiros tempos da cidade (p. 79). Cita os botes que seguiam de Porto Nacional para Belém, carregados de mercadorias e animais (p. 55-56) e faz curiosa crônica sobre as agruras da partida, com os barqueiros alcoolizados (p. 228-229). Traz versão própria da Revolta de Boa Vista, traçando a personalidade de Frei Gil Vilanova (p. 60-62). Detalha o tamanho da Prelazia de Conceição do Araguaia, da qual Marabá fazia parte (p. 127); descreve Marabá na época das visitas pastorais (desobrigas) de D. Domingos, entre 1913 e 1919 (p. 155-156).

ANDRELLO, Rubens. Marabá: um sistema escolar em desafio; contribuição para o seu estudo. São Paulo, 1978. Dissertação de mestrado à

BAENA, Antonio L. M. Compêndio das Eras da Província do Pará. Belém: UFPA, 1969 (original de 1838). Reedição da obra publicada em 1838, que relata os acontecimentos do

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período de 1615 a 1823. Traz prefácio, por Arthur Cezar Ferreira Reis, e Bio-bibliografia, por Arthur Vianna.

Obra rica em documentos e entrevistas, que mostra como a população local foi vitimizada, quando da repressão aos guerrilheiros.

BORGES, Antonio. Negociatas escandalosas. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, 1938. 107p. Denúncia do domínio sobre os castanhais, exercido por Deodoro de Mendonça, através de mecanismos inescrupulosos, valendo-se do poder econômico e político.

CARVALHO, Carlota. O Sertão: subsidios para a historia e geographia do Brasil. Rio de Janeiro: Empreza Editora de Obras Scientificas e Literarias, 1924. 419 p. No ano de 2000 a editora Ética, de Imperatriz, publicou uma 2ª edição; e em 2006 saiu a 3ª edição, revista e ampliada, editada igualmente pela Ética Editora. Minucioso relato histórico-geográfico da bacia do Tocantins. Capítulo XIV dedicado a Marabá, p. 199-222, tratando de produtos naturais, das aventuras romanescas dos Pimentéis, da descoberta do caucho e da riqueza fantástica da região. Capítulo XV trata da região do Itacaiúnas, dando informação do fecho dos Martírios. Transcreve crônica de Leônidas Duarte, publicada em O Norte, de Barra do Corda, MA, que descreve o fecho dos Martírios (visitado em 25.10.1911), dando notícia das inscrições rupestres e também da inscrição que ali teria deixado, em língua tupi, o general Couto de Magalhães, no ano de 1868. Capítulo XVI descreve a praia da Rainha e reconta os episódios da aproximação dos índios Gavião em contato com o morador Raimundo Liart, narrados em primeira mão por Ignacio Moura (inspirou-se, ao que parece, em Ignacio Moura, que não é citado, embora o cite em outras passagens). Ao tratar da Revolta de Boa Vista, incorre em graves erros históricos; sobre esse aspecto ver Palacín, p. 220, nota 67. A 3ª edição traz excelente índice onomástico-remissivo, uma centena de notas explicativas e perfil biográfico da Autora, elaborados por Adalberto Franklin; uma apresentação por João Renôr Ferreira de Carvalho, e ainda a bibliografia consultada para a elaboração das notas e do índice.

BORGES, Durval Rosa. Rio Araguaia, corpo e alma. São Paulo: IBRASA/EDUSP, 1987. p. 353-356. Interessam-nos os capítulos referentes a Conceição do Araguaia, aos povos indígenas, à navegação, à guerrilha do Araguaia, à aviação pioneira, aos garimpos (entre eles Serra Pelada). No capítulo inicial, em que traça os aspectos geográficos da região banhada pelo rio Araguaia, faz a defesa do nome “Araguaia” em toda a extensão do curso d’água, até desaguar no oceano, refutando sua posição de afluente do rio Tocantins. BRAGA, Theodoro, 1872-1952. Noções de chorographia do Estado do Pará. Belém: Empreza Graphica Amazonia, 1919. 632 p. mapas. O município cerca de 1919: localização, ligeiro histórico, população, produção, distritos, sede, limites, orçamentos municipais (de 1913 a 1919) e rendas municipais (idem); traça a história das explorações do rio Tocantins desde 1625. BUARQUE, Manoel. Araguaya e Tocantins. Belém: Pap. Americana, 1923. 71 p. Juiz de direito em Conceição do Araguaia (1914-1919), removido para a comarca de Altamira, o autor narra a viagem, iniciada em 10.03.1920, pela calha do Tocantins. Refere-se a Marabá, p. 32-33.

CARVALHO, J. A. M. et al. Migrações internas na região norte: Marabá. Belo Horizonte: CEDEPAR, 1977.

CAMPOS FILHO, Romualdo Pessoa. Guerrilha do Araguaia: a esquerda em armas. Goiânia: Ed. UFG, 1997.

CHAVES, Antonio Braga e. Do Lago Vermelho a Itupiranga: uma história para crianças. Itupiranga: Prefeitura Municipal, 1990.

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Antonio Chaves registra fatos e datas da história de Itupiranga, município criado em 1948, com território desmembrado de Marabá. Interessantes relatos sobre o surgimento da povoação Lago Vermelho, no final do século XIX, a exploração do caucho, os garimpos de diamante, a navegação, as manifestações culturais, os embates políticos.

COTA, Raymundo Garcia. Carajás: a invasão desarmada. Prefácio de D. Pedro Casaldáliga. Petrópolis: Vozes, 1984. 163p. Discute a exploração predatória e a ocupação desordenada e desnacionalizada da Amazônia. Carajás, o projeto. Marabá, o centro polarizador.

COELHO, Maria Célia Nunes. A ocupação da Amazônia e a presença militar. São Paulo: Atual, 1998. 47 p. il. mapas. (Coleção “A vida no tempo”). Obra didática, com roteiro de leitura, que ajuda a entender a ditadura militar, os Grandes Projetos e os conflitos fundiários.

COUDREAU, Henri Anatole (1859-1900). Viagem à Itaboca e ao Itacaiúnas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980. 177 p. il. e 33 cartas geográficas em apêndice. Importante trabalho do ponto de vista geográfico, bem ilustrado com fotografias e cartas geográficas, é o relato da exploração dos rios Itacaiúnas, Parauapebas e parte do Tocantins, feita por Henri Coudreau e sua esposa, Otília Coudreau, em 1896. Registra o início da exploração do caucho, quando a escassa população da região se concentrava no Burgo. Conclui que o rio Itacaiúnas “que não serve de acesso a lugar nenhum, além do mais nada pode oferecer que não seja a pouco rendosa castanha e um caucho de baixa cotação” (p. 91). Tremendo erro histórico, pois o Itacaiúnas e seu afluente, o Parauapebas, cortam a maior província mineral do Brasil: a Serra dos Carajás.

COELHO, Maria Célia Nunes. “A polêmica ocupação dos sem-terra na região de Carajás”. In: Ximenes, Teresa (Org.). Perspectivas do desenvolvimento sustentável. Uma contribuição para a Amazônia XXI. Belém: NAEA-UFPA, 1997. p. 495- 530. COELHO, Maria Célia Nunes; COTTA, Raymundo Garcia (Orgs.). Dez anos da Estrada de Ferro de Carajás. Belém: NAEA-UFPA, 1997. Alguns textos se destacam: BENATTI, J. H. “Carajás: desenvolvimento ou destruição?”, p. 79-105; CARNEIRO, M. S. “Do latifúndio agropecuário à empresa latifundiária carvoeira: a E. F. Carajás e a propriedade da terra”, p. 233-50; COELHO, Maria Célia Nunes. “A CVRD e o processo de (re)estruturação e mudança na área de Carajás”, p. 51-78; COELHO e ACEVEDO MARIN, Rosa Elisabete. “De posseiros e assentados: a precariedade das ações fundiárias no sudeste do Pará”, p. 251-73; MONTEIRO, M. de A. “A siderurgia e a produção de carvão vegetal no corredor da Estrada de Ferro Carajás”, p. 183-222. No conjunto, a obra faz uma avaliação das alterações havidas no desenvolvimento regional a partir do Programa Grande Carajás, detendo-se especialmente em estudos sobre o significado da Estrada de Ferro Carajás para o desenvolvimento local.

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COUDREAU, Henri Anatole (1859-1900). Voyage au Tocantins-Araguaya, 31 décembre 1896 – 23 mai 1897. Paris: A. Lahure Imprimeur-Editeur, 1897. 330 p. il. mapas. CRUZ NETO, Raimundo Gomes; GRUDA, Jorge Paul. Sudeste do Pará: um estudo de sua história; v.1, Tucurui e Carajás. Marabá: CEPASP, 1990. 59p. Analisa o impacto provocado pela Hidrelétrica de Tucuruí e Projeto Carajás na região. Fornece dados sobre o Projeto Carajás, traça a história da barragem de Tucuruí, relata o escândalo da CAPEMI, denuncia uso de agrotóxicos letais no desmatamento e os problemas enfrentados pela população desapropriada.

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DIÁRIO da guerrilha do Araguaia. Apresentação de Clóvis Moura. São Paulo: Alfa-Omega, 1985. Documento redigido pelos dirigentes do movimento guerrilheiro, traz o cotidiano da guerrilha, a ideologia de seus membros, as formas de luta, a repressão sofrida, além de dados da região e de personagens que participaram dos acontecimentos. DINO, Sálvio. Parsondas de Carvalho: um novo olhar sobre o sertão. Imperatriz: Ética Editora, 2007. Enfim se desvenda a biografia desse importante e misterioso personagem que marcou a história de Marabá: o sertanista, literato, estudioso da sociologia, jornalista João Parsondas de Carvalho (Riachão, 1856 – Montes Altos, 26.07.1926). O autor resgata outros escritos de Parsondas, como a Guerra do Leda, que retrata com cores vibrantes as lutas de Grajaú, tão violentas como as de Boa Vista do Tocantins, que trouxeram Carlos Leitão, Francisco Acácio e tantos outros para povoar a região da futura Marabá. DOLES, Dalísia Elisabeth Martins. As comunicações fluviais pelo Tocantins e Araguaia no século XIX. Goiânia: Editora Oriente, 1973. 176 p. mapas. História dos transportes fluviais, com mapa dos dois rios, localizando Marabá.

DUARTE, Leônidas Gonçalves. De São Vicente a Araguatins: 100 anos de história. Marabá: J.C. Rocha - Editor, 1970. A história de Araguatins tem muitos vínculos com Marabá. Leônidas Duarte foi professor em Marabá e relata inúmeros fatos de nossa história. EMMI, Marília Ferreira. A oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais. Belém: Ed. Universitária/NAEA/UFPA, 1988. 196p. (Coleção Igarapé). Há 2ª edição, revista e ampliada, de 1999. Analisa a história da exploração das riquezas florestais e da apropriação das terras pelos poderosos chefes políticos; os conflitos fundiários a partir dos anos 70; a chegada do capital industrial e financeiro do centro-sul do País, os projetos do governo militar, os grileiros e posseiros, resultando no enfraquecimento do poder da oligarquia local. Traz rica bibliografia. ENCICLOPÉDIA de Imperatriz, 150 anos: 1852-2002. Editor e redator Edmilson Sanches. Imperatriz: Instituto Imperatriz, 2003. 600p. il. Excelente fonte de informações sobre Imperatriz, a obra também traz inúmeras informações que interessam a Marabá: fatos, datas, nomes, dados sobre o rio Tocantins, rodovias, energia elétrica.

DÓRIA, Palmério; BUARQUE, Sérgio; CARELLI, Vincent; SAUTCHUK, Jaime. A guerrilha do Araguaia. São Paulo: Alfa-Omega, 1978. (História Imediata, 1). Rompendo a censura dos anos 70, este é um documento pioneiro de uma guerra que não teve correspondentes, mas persiste na memória popular de Marabá. O livro tem depoimentos de um militar, um guerrilheiro, um padre, um índio Suruí. O Autor faz o resumo dos fatos, visita a região em 1978 e colhe depoimentos de moradores.

ENCICLOPÉDIA dos municípios brasileiros. Volume XIV: Amazonas, Pará e Territórios. Rio de Janeiro: IBGE, 1957. 491 p. il. mapas. Marabá, p. 402-407. O verbete abrange: histórico, localização, altitude, clima, área, acidentes geográficos, principais riquezas naturais, população, aglomerações urbanas, atividades econômicas, comércio e bancos, meios de transporte e de comunicação, aspectos urbanos, assistência médico-sanitária, ensino, alfabetização, outros aspectos culturais, particularidades e monumentos históricos, manifestações religiosas, folclóricas e efemérides, atrações turísticas, outros aspectos do município. Traz bibliografia e 13 fotografias mostrando aspectos da cidade e da enchente de 1957.

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FERRAZ, Iara. Os Parkatejê das matas do Tocantins: a epopéia de um lider Timbira. São Paulo: USP, 1983. 201p. (Tese de Mestrado). Estudo antropológico do povo indígena Gavião. FONTELLES, Paulo. A guerrilha redescoberta. Belém: Grafisa, 1990. Análise da Guerrilha do Araguaia por um militante da AP (Ação Popular), que não compactuava com o emprego de violência, mas entendeu a luta e analisou os efeitos dela junto aos camponeses do sul e sudeste do Pará. HALL, Anthony L. Amazônia: desenvolvimento para quem? Desmatamento e conflito social no Projeto Grande Carajás. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. Descreve o Projeto Grande Carajás; analisa as repercussões sociais e ambientais da política de desenvolvimento oficial para a Amazônia oriental, detendo-se especialmente na questão agrária. Traz extensa bibliografia. HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. Cronologia da ocupação e destruição dos castanhais no sudeste paraense. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2000. 130p. HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. As políticas públicas como indutoras da “morte anunciada” dos castanhais no sudeste paraense. In: Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, 4, 2001. Anais. Rio de Janeiro: ECO-ECO, 2001. p. 1-15. Analisa a exploração econômica da castanha e sua subsequente destruição, como resultado das novas atividades econômicas e da política de incentivos fiscais do governo.

tal, 2000. 74p. (Embrapa Amazônia Oriental. Documentos, 32). IANNI, Octavio (1926 -2004). A luta pela terra: história social da terra e da luta pela terra numa área da Amazônia. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1979. 236 p. Diz respeito aos conflitos de terra em Conceição do Araguaia, mas o estudo vale também para a compreensão da luta pela terra em Marabá, como em todo o sul do Pará e áreas adjacentes de Goiás e Maranhão. IANNI, Octavio (1926 -2004). Ditadura e agricultura: o desenvolvimento do capitalismo na Amazônia, 1964-1968. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. IBGE. Sinopse estatística do município de Marabá: subsídios para o estudo da evolução política; alguns resultados estatísticos: 1945; principais resultados censitários: 01/09/1940. Rio de Janeiro: IBGE, 1948. 15p. IDESP. Diagnóstico do município de Marabá. Belém: IDESP, 1977. 285 p. JIMÉNEZ, José Vargas. Bacaba: memórias de um guerrilheiro de selva da Guerrilha do Araguaia. Campo Grande: Ed. do Autor, 2007. 136p. il. O autor, militar, participou do combate à Guerrilha do Araguaia, entre setembro de 1973 e fevereiro de 1974. Relata a morte ou captura de guerrilheiros e camponeses; traz a relação de militares mortos ou feridos no período em que atuou na região. Reproduz mapas e documentos.

HOMMA, A.K.O; CARVALHO, R.A.; FERREIRA, C.A.P.; NASCIMENTO, J.D.N. A destruição de recursos naturais: o caso da castanha-do-pará no Sudeste Paraense. Belém, Embrapa Amazônia Orien-

KELLY, Brian; LONDON, Mark. Amazônia, um grito de alerta. Rio de Janeiro: Record, 1983. Os autores são jornalistas e estiveram na região no início dos anos 80. Há trechos sobre Marabá (p. 170-181), Serra Pelada (p. 182-198), a Hidrelétrica de Tucuruí e os índios Paracanã (p. 199-231), a rodovia

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Transamazônica (p. 251-266). KITAMURA, Paulo Choji, MULLER, Carlos Hans. Castanhais nativos de Marabá, PA: fatores de depredação e bases para a sua preservação. Belém: EMBRAPA/CPATU, 1984. Busca das causas da destruição dos castanhais na região de Marabá e proposta de medidas para sua preservação – medidas essas que, hoje sabemos, não foram acatadas... KOTSCHO, Ricardo. O massacre dos posseiros: conflitos de terras no Araguaia-Tocantins. 2ª.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. 113 p. Reportagens sobre os conflitos pela posse da terra. A presença do GETAT, a ação de Curió na localidade Sampaio, a atuação da Igreja. KOTSCHO, Ricardo. Serra Pelada: uma ferida aberta na selva. São Paulo: Brasiliense, 1984. Publicado poucos anos após o surgimento do famoso garimpo, este livro registra o início das tensões sociais e os primeiros acidentes ocorridos na Serra Pelada. LAGENEST, H.-D. Barruel de. Marabá, cidade do diamante e da castanha: estudo sociológico. São Paulo: Anhambi, 1958. 107 p. Minucioso estudo sociológico da cidade de Marabá. Trabalho pioneiro e ponto de referência para análise comparativa da Marabá da década de 50 com a atual explosão demográfica e econômica, substancialmente modificadas. LAGENEST, H.-D. Barruel de. O Fio de Ariadne: recordações. São Paulo: Edição do Autor, 2006. 387 p. Estas recordações do psicanalista, teólogo e conferencista Frei Barruel de Lagenest, da Ordem dos Pregadores, trazem dois capítulos de grande interesse para nós: o cap. 6, sobre Conceição do Araguaia e as desobrigas; e o cap. 8, Marabá: 1954, em que conta como foi feito o livro sobre Mara-

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bá, descreve o sistema de exploração da castanha, os garimpos de cristal e de diamante. Mas o livro tudo é leitura agradável sobre as atividades desse dominicano francês que deixou uma marca indelével de sua rápida passagem por nossa cidade. LARAIA, Roque de Barros e MATTA, Roberto da. Índios e castanheiros: a empresa extrativa e os índios do médio Tocantins. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967. 147 p. mapa. Uma segunda edição desta obra foi publicada no Rio de Janeiro, pela Ed. Paz e Terra, em 1978. Contatos dos índios Suruí, Akuawa-Asurini e Gavião com a população exploradora dos castanhais nativos. Nessas relações sócio-econômicas houve atritos, com grande desvantagem para a parte desfavorecida, no caso a indígena. A pesquisa abrange os municípios de Marabá, Itupiranga e Tucuruí. MARABÁ. Prefeitura Municipal de Marabá, 1984. 225 p. Resultado da colaboração de vários autores, traz dados históricos e outros do início da década de 1980. Interessantes relatos históricos, dados e relatos sobre a navegação, a exploração do caucho e da castanha, o comércio de peles de animais, os garimpos de diamantes e ouro. Traz ainda importante estudo de Hilmar Harry Kluck sobre os povos indígenas da região e os primeiros contatos com o homem branco. MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1986. Favorece o entendimento dos problemas da posse da terra na Amazônia, especialmente nos capítulos II e III. MATTOS, Raimundo José da Cunha. Corografia histórica da província de Goiás. Goiânia: SUDECO/Governo de Goiás, Secretaria de Planejamento, 1979. (Original enviado em 1824 e publicado em 1874 pela Revista do Instituto Geográfico e Ethnografico do Brasil). Nas páginas 110 a 115 refere-se à indefinição de limites entre Goiás

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e Pará: acreditavam alguns ser a cachoeira do Itaboca; outros afirmavam que o limite era no “rio Pucuruí, porque pouco abaixo da povoação de São João da Foz do Araguaia, no sítio denominado Tocaiúnas, foi que se erigiu a vila de São João das Duas Barras, cabeça da comarca do norte, cuja posição se acha abandonada (...). Esta vila, cujo pelourinho se levantou na margem esquerda do rio das Tacaiúnas, que entra no Tocantins pelo mesmo lado, ficou simplesmente em nome, porque ninguém se propôs ir povoá-la (...)”. MATTOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão, pelas províncias de Minas Geraes e Goiaz, seguido de huma descripção chorographica de Goiaz, e dos roteiros desta Provincia às de Mato Grosso e S. Paulo. Rio de Janeiro: Typ. Imperial e Constitucional de J. Villeneuve e Cª, 1836. 2 v. O volume 2 traz descrições dos acidentes geográficos dos rios Tocantins e Araguaia, e das raras povoações existentes em suas margens, por volta de 1820. Descreve o “Presídio de São João das Duas Barras”, hoje a cidade de São João do Araguaia; esse presídio (posto militar) foi primeiramente instalado na margem esquerda do rio Itacaiúnas. MATTOS, Maria Virgínia Bastos de. História de Marabá. Marabá: Grafil, 1996. Resume a história de Marabá, desde a ocupação por povos indígenas até a década de 90. MAYA, Raimundo Liberalino. Situação ecológica do sul do Pará. Marabá: Fundação Casa da Cultura de Marabá, 1992. Singelo libelo contra a exploração irracional das riquezas naturais e humanas de nossa região. MELATTI, Júlio Cezar. Índios do Brasil. 7.ed. São Paulo: Hucitec; Brasília: Ed. UnB, 1993. 220 p. il. Essencial para o entendimento dos povos indígenas, origens, his-

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tórias, diversidade, cultura, relações com os adventícios. Traz excelente bibliografia. MILHOMEM, Clara Araújo. Castanhais, canoas e batelões: memórias. São Paulo: edição da autora, 2004. Este é o segundo volume da trilogia de Clara Milhomem. MILHOMEM, Clara Araújo. Farmácias e garimpos. São Paulo: edição da autora, 2008. Os três livros de Clara Milhomem traçam a biografia e resgatam lembranças de Isaac Araújo, que trabalhou em castanhais, garimpos e manteve em Marabá, durante muitos anos, a Farmácia São Miguel. MILHOMEM, Clara Araújo. Meu tipo inesquecível. São Paulo: edição da autora, 1996. Primeiro volume da trilogia de Clara Milhomem. MONTEIRO, João Brasil. Do capotão ao poliuretano: futebol, a grande paixão brasileira. Marabá, s.c.p., 1998.71p. Resgata a história do futebol em Marabá. MONTEIRO, João Brasil. Marabá: caminho das águas. S.n.t., 2002. 100p. Reúne alguns dados interessantes da história de Marabá. MORAES, Almir Queiroz de. Pelas trilhas de Marabá. São Sebastião do Paraíso: Chromoarte, 1998. É possível identificar facilmente os capítulos autênticos, autobiográficos, escritos no fim da vida do autor, destacando-os dos que foram inseridos pelo “redator”. Caso curioso de “redator” mais inábil no trato lingüístico que o autor.

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MOREIRA, Zequinha. Simplício Moreira, precursor do desenvolvimento de Imperatriz. Imperatriz: Ética, 1997. Relato da vida do comerciante e político imperatrizense Simplício Moreira (1897 – 1997) escrito por sua filha. Informações esparsas que podem interessar aos estudiosos de Marabá: trabalho no caucho e na castanha (p.29-30 e 211-212); diversões e folclore (54–64); crendices (p. 65-67); pecuária (p. 124–126). MOURA, Ignacio Baptista de. De Belém a São João do Araguaia: vale do Rio Tocantins. Belém: SECULT, 1989 (edição original: 1910). Relata a viagem empreendida pelo A. a partir de março de 1896, com o fim de inspecionar o Burgo do Itacaiúnas onde, com os favores do Estado, o célebre coronel Carlos Leitão, em colônia agrícola, reunira parte dos foragidos da guerra civil de Boa Vista do Tocantins (Tocantinópolis, TO). O posterior deslocamento de alguns moradores para a confluência do Itacaiúnas com o Tocantins deu origem a Marabá. Ignacio Moura recolheu as primeiras informações sobre a futura Marabá e ilustra seu trabalho com fotografias da época; relata as dificuldades da travessia de cachoeiras e corredeiras do Tocantins; traz rica informação etnográfica e boas observações dos recursos naturais. MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB). Departamento de Marabá. A História nos convida a contar: 25 anos do MEB em Marabá. Brasília: Arte e Movimento, 1996. 45p. Relato coletivo que contribui para traçar a história das lutas populares em Marabá. MUNIZ, João Palma (1873 – 1927). Limites Pará – Goyaz: notas e documentos. Belém: Typ. da Imprensa Official do Estado, 1920. 69 p. Povoamento do vale do Tocantins – Araguaia e questão de limites entre o Pará e Goiás. Traz abundante documentário sobre o Burgo do Itacaiúnas e informações sobre a fundação de Marabá (p. 54).

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PALACÍN, Luis G. Coronelismo no extremo norte de Goiás: o Padre João e as três revoluções de Boa Vista. Goiânia: CEGRAF/UFG; São Paulo: Loyola, 1990. 248p. Contextualiza e analisa, no cap. 2, a primeira revolução de Boa Vista (1892-1895), que provocou a vinda do grupo de Carlos Leitão para a região do Itacaiúnas e a formação do Burgo Agrícola. Corrige muitas das inverdades correntes sobre os fatos ocorridos em Boa Vista, bem como sobre as personalidades de Carlos Leitão e Frei Gil Villanova. Obra rica em notas e bibliografia. PATERNOSTRO, Júlio. Viagem ao Tocantins. São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1945. 348 p. (Brasiliana, v. 248). Em junho de 1935 o A. esteve em Marabá, dando ligeiras impressões dessa cidade (p. 107 – 109); há ainda inúmeras informações sobre a região, nos aspectos de saúde, navegação, recursos naturais, costumes, lendas, presença indígena. PEREGRINO, Umberto. Imagens do Tocantins e da Amazônia. Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, 1942. 162 p. (Biblioteca Militar, v. 57). Impressões de viagem ao Tocantins, por via aérea, em 1940. Contém descrições de usos e costumes da população ribeirinha e das cidades localizadas nessas zonas sertanejas. Marabá, em poucas linhas, p. 27-28. PEREIRA, Armando de Arruda. Diário de viagem. São Paulo, 1935. s.n.t. O A. foi de São Paulo a Belém, descendo o rio Araguaia, com o objetivo de verificar as “possíveis ligações norte-sul pelo Araguaia, estradas de ferro e rodagem” (citado por Moacir M.F.Silva, Transportes na Amazônia. In: Amazônia brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 1944. p. 295). PINHEIRO, Sebastião. Tucuruí: o agente laranja numa república de bananas. Porto Alegre: Sulina, 1989.

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Denuncia o uso de herbicida de alta nocividade, o Tordon, no processo de desmatamento para a formação do lago da Hidrelétrica de Tucuruí e abertura das linhas de transmissão de energia.

POMAR, Wladimir. Araguaia: o partido e a guerrilha. São Paulo: Brasil Debates, 1980. Documento sobre a Guerrilha do Araguaia.

PINTO, Lúcio Flávio. Amazônia: o anteato da destruição. Belém: Grafisa, 1977. 372p. Reúne artigos publicados em alguns periódicos. Carajás e questões fundiárias no sul do Pará contribuem com importantes dados para a história de Marabá.

PORTELA, Fernando. Guerra de guerrilhas no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Global, 1979. Reproduz e amplia a série de reportagens publicadas no Jornal da Tarde, de São Paulo, em janeiro de 1979. Relato impressionante dos anos de chumbo na região.

PINTO, Lúcio Flávio. Amazônia: no rastro do saque. São Paulo: Hucitec, 1980. Como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, o Autor escrveu artigos, aqui reunidos, sobre a fase mais crítica da expansão de fronteiras na Amazônia, nos anos 70. Denunciou as grilagens, a ocupação irregular de terras públicas, a destruição da floresta, a invasão de territórios indígenas, a exploração do trabalhador rural.

POVOS indígenas do Brasil. São Paulo: CEDI, 1985. v. 8, Sudeste do Pará: Tocantins, p. 104-106. É a mais completa obra sobre os povos indígenas da região, com dados sobre localização, modo de vida, população, relações de tutela e assistência, situação das terras, histórico do contato. Interessam-nos particularmente os grupos: Asurini do Tocantins, Gavião, Parakanã, Suruí, Xicrin do Cateté.

PINTO, Lúcio Flávio. Carajás, o ataque ao coração da Amazônia. Rio de Janeiro: Marco Zero; Studio Alfa, 1982. 113p. Questiona os grandes projetos no vale do Tocantins-Araguaia, entre eles Carajás.

RÊGO, Clóvis Morais. Ignácio de Souza Moitta, juiz e humanista. Belém: CEJUP, 1984. 354 p. il. O desembargador Ignacio de Souza Moitta (Prainha, 31.07.1898 – Rio de Janeiro, 01.06.1981) tem parte de sua história vinculada a Marabá: vindo como Juiz de Direito em 1920, deixa Marabá somente em 1934, embora com alguns intervalos. Nesta cidade manteve, junto com a esposa Arzuíla, um educandário; fundou a Associação Marabaense de Letras e a revista Marabá; criou e dirigiu uma liga pró-livro.

PINTO, Lúcio Flávio. CVRD: a sigla do enclave na Amazônia. 2003. Analisa a Companhia Vale do Rio Doce, o seu poderio econômico, superior ao do Estado do Pará, e o absurdo que representou a sua privatização. POMAR, Pedro. Sobre o Araguaia: intervenção no debate do Comitê Central, julho de 1976. In: MAKLOUF, Luis et al. Pedro Pomar. São Paulo: Brasil Debates, 1980. p.194-207. Documento sobre a Guerrilha do Araguaia.

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RIBEIRO, Geraldo Virgínio. Eventos de uma existência. Imperatriz: Ética, 2000. Obra autobiográfica, traz alguns dados interessantes sobre Marabá nos anos 40. Cita farmácias e formas de tratamento da época. ROCHA JUNIOR, Deusdedith Alves. A guerrilha do Araguaia: 1972-

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1974. Brasília: UnB, 1995. (Tese) Estudo sobre a Guerrilha do Araguaia. ROCHA JUNIOR, Deusdedith Alves. Tempo de histórias. Brasília: UnB, 1995. (Tese). Estudo sobre a Guerrilha do Araguaia. RODRIGUES, Gilda Lemos. Meninice. Goiânia: Ed. do autor, 1998. Memórias da infância em Itupiranga e Marabá, na segunda metade do século 20. RODRIGUES, Hildebrando. Album do Pará; organizado sob os auspicios do governo do Estado e com o apoio da Associação Commercial do Pará, sendo interventor federal S. Excia o Sr. Dr. José Carneiro da Gama Malcher. Belém: Typ. Novidades, 1939. 290 p. il. Inclui informações sobre todos os municípios paraenses; Marabá: limites, p. 72 – 73, e aspectos políticos e econômicos, p. 223. RODRIGUES, Lysias Augusto (1896 – 1957). O Rio dos Tocantins. Rio de Janeiro: IBGE/Conselho Nacional de Geografia, 1945. 128 p. il. mapa. Há reedição de 1978, pelo Governo do Estado de Goiás (gov. Irapuan Costa Jr.; composto e impresso nas oficinas da UNIGRAF, Goiânia, 1978). Essa reedição traz dados biográficos do A., nas orelhas do livro. Faz interessante estudo sobre o rio Tocantins: aspectos geológicos e geográficos, a descoberta, a denominação, as primeiras explorações, as Bandeiras, o povoamento e as cidades ribeirinhas. Pequeno histórico da fundação de Marabá, p. 122 – 123. RODRIGUES, Lysias Augusto (1896 – 1957). Roteiro do Tocantins. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943. 323 p. il. mapas. Há reedição de 1978, pelo Governo do Estado de Goiás (impresso na Gráfica e Editora Líder, Goiânia, julho de 1978), com apresentação por Antonio Henrique Alves dos Santos, coronel-aviador da reserva. Nova edição foi feita em 2002,

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patrocinada pelo Governo do Estado do Tocantins, INCAER e TAM. Descreve a viagem iniciada em 19.08.1931, com o intuito de explorar a região e estabelecer campos de pouso para a rota aérea entre Rio de Janeiro e Belém. A expedição demorou-se em Marabá (28 de setembro a 4 de outubro de 1931) e o A., além de mapas e fotos da região, oferece importantes dados sobre a vida social e costumes, p. 220–248. A segunda parte do livro descreve a exploração aérea, feita em 1935, com a inauguração de seis aeroportos, entre os quais o de Marabá (17 de novembro de 1935). SÁ, Glênio. Araguaia: relato de um guerrilheiro. São Paulo: Anita Garibaldi, 1990. Relato da atuação do autor na Guerrilha do Araguaia. SAMPAIO, Paulo. Soldado da borracha: herói esquecido. Belém: Edição do Autor, 2007. 98p. il. Através de suas lembranças, o A. resgata a história da segunda fase da exploração do caucho para extração da borracha, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Fala da floresta virgem e seus perigos: as feras, os índios kaiapó, a falta de comunicação e de recursos. SAMPAIO, Walter Leitão. Cruviana. S.n.t. (1998?). Traça a história de Marabá, seu surgimento, seus ciclos econômicos. SAMPAIO, Walter Leitão. Marabá pontal verde: histórias mal contadas. Marabá: Edição do Autor, 2000. 141 p. Lembranças de pessoas, fatos, lugares que compõem a história de Marabá. SANTOS, Breno Augusto dos. Amazônia: potencial mineral e perspectivas de desenvolvimento. São Paulo: T. A. Queiroz / EDUSP, 1981. 256p. il. (Biblioteca de Ciências Naturais, v. 7). Trata principalmente da prospecção mineral. Destaque do capítulo do

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ouro, p. 153 – 162, com fotos da Serra Pelada e referência aos Martírios, p. 158; Projeto Carajás, com fotos e mapas, inclusive de Marabá, que centraliza como núcleo urbano. SILVA, Franscisco Ayres da (1872–1957). Caminhos de outrora: diário de viagens. Goiânia: Departamento Estadual de Cultura/ Editora Oriente, s.d (1972?). Narra, na primeira parte, viagem de bote entre Porto Nacional e Belém, feita em 1920; trata da navegação, dos acidentes geográficos, dos barqueiros, seus costumes, sua linguagem, alimentação e diversões, entre elas a súcia. Descreve o preparo da farinha, as chemberebas. Sendo médico, o A. observa amiúde aspectos da saúde da população. Faz algumas observações sobre Marabá, p. 52 – 55. Visita o local do antigo Burgo do Itacaiúnas, constatando a existência de árvores frutíferas e o túmulo de Carlos Leitão, p. 56. SILVA, Ignacio Acioli de Cerqueira e. Chorographia paraense. Bahia: Typ. do Diário, 1833. SOUZA, Aluísio Madruga de Moura e. Guerrilha do Araguaia: revanchismo. Brasília, ed. do Autor, 2002. Primeiro relato escrito por membro do Exército: o autor era capitão, em 1973, quando esteve na região, encarregado de infiltrar agentes entre os moradores. TEIXEIRA, João Batista Guimarães; RUI, Vanderlei de (Orgs.). Carajás: geologia e ocupação humana. Belém, 2005. TUPIASSU, Amílcar; OLIVEIRA, Niomar V.C. A castanha-do-pará: estudos preliminares. Belém: IDESP, 1967. 39p. (Cadernos Paraenses n. 3). Analisa os aspectos sócio-econômicos do processo produtivo da castanha, dentro do Estado do Pará.

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VALVERDE, Orlando. Grande Carajás: planejamento da destruição. Rio de Janeiro: Forense Universitária; São Paulo: USP; Brasília: Ed. UnB, 1989. Aponta os impactos ambientais, sociais e econômicos do Projeto Carajás em sua área de influência e discute possíveis soluções para os problemas que se instalaram. Dedica especial atenção à questão da destruição florestal para a produção de carvão vegetal, usado nas usinas de ferro gusa, propondo a alternativa da utilização da biomassa dos babaçuais, como combustível. VALVERDE, Orlando; DIAS, Catharina Vergolino. A rodovia Belém -Brasília: estudo de geografia regional. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1967. 350 p. il. fotos e mapas. O capítulo 3, “Sertão do Tocantins paraense”, descreve a zona fisiográfica do Itacaiúnas, polarizada por Marabá, e traz aspectos geoeconômicos (p. 141- 175). VALVERDE, Orlando; FREITAS, Tácito L. Reis. O problema florestal da Amazônia brasileira. Petrópolis: Vozes, 1980. Analisa a forma de ocupação e exploração da Amazônia, a partir dos anos 70; os Grandes Projetos, a Rodovia Transamazônica. Discorre sobre a política florestal mais adequada à região. VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de expansão e estrutura agrária: estudo do processo de penetração numa área da Transamazônica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. Análise competente da ocupação de Marabá: a atividade extrativista vegetal, a frente agro-pastoril, a frente mineradora, a rodovia Transamazônica e seu impacto sobre as formas de ocupação e exploração. Traz bibliografia. VIAGEM ao Tocantins. Marabá: Prefeitura Municipal, 1983 (Editora Grafisa, Belém). Reprodução facsimilar do livro Pelo Tocantins paraen-

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se: uma viagem a Marabá, editado em 1926 ou 1927 (Belém, Of. Grafica do Instituto Lauro Sodré). Obra redigida com a colaboração de Deodoro de Mendonça, Ignácio de Souza Moitta, Nelson Parijós, Arthur Bastos, Leônidas Duarte e Antonio Bastos Morbach. Relata a viagem do Dr. Deodoro de Mendonça (então secretário geral do Estado do Pará, no governo Dionísio Ausier Bentes de Carvalho), em 1926, ao Médio Tocantins, com a finalidade de observar os efeitos das enchentes daquele ano, quando Marabá foi quase totalmente destruída pelas águas dos rios Tocantins e Itacaiúnas. VIDAL, Lux Boelitz. Morte e vida de uma sociedade indígena brasileira: os Kayapó-Xikrin do rio Cateté. São Paulo: Hucitec/EDUSP, 1977. Estudo etnográfico dos índios Xikrin do Cateté; a situação do grupo, de 1969 a 1972. VIEIRA, Antonio (padre). Cartas. Ed. coord. e anot. por João Lúcio de Azevedo. Lisboa: Imprensa Nacional, [1997]. Tomo I. A Marabá interessa a Carta LXV, de 1654, escrita por Vieira ao padre provincial do Brasil. Relata a viagem de Belém às proximidades de Marabá, pelo Tocantins, em fins de 1653. VIEIRA FILHO, João Paulo Botelho. Reminiscências de um médico na convivência com índios da Amazônia durante 41 anos (1965 – 2006). Texto datilografado, 102 p., s.d. O médico endocrinologista João Paulo Vieira Filho relata seu trabalho de prevenção e tratamento da saúde dos índios Gavião, Suruí e Xikrin.

projetos de colonização e incentivo à entrada do grande capital. B. Artigos em publicações periódicas ATZINGEN, N. von et al. O núcleo arqueológico de Marabá. Boletim Informativo, Casa da Cultura de Marabá, 1999, p. 25-41. Relaciona 185 sítios arqueológicos identificados na região, entre 1978 e 1999. ATZINGEN, N. von et al. Novos sítios arqueológicos documentados pelo Núcleo Arqueológico de Marabá. Boletim Técnico da Fundação Casa da Cultura de Marabá, n.2, 2003. p, 21-30. Apresenta 31 sítios arqueológicos descobertos em 2000. BENTES, R.; MARIN, R.; EMMI, M. Os cemitérios de castanheiras do Tocantins. Pará Desenvolvimento, Belém, Idesp, 23, 1988, p. 18-23. CARVALHO, Luiz Maklouf. Na trilha do “povo da mata”. Resistência, Belém, nº. 19, p.5-8, dez. 1980. Reportagem de capa (na capa: Guerrilha do Araguaia: familiares dos guerrilheiros descobrem sobrevivente na região). COELHO, Maria Célia Nunes; COTA, Raymundo Garcia. Relações entre garimpo e estrutura fundiária: o exemplo de Marabá. Pará Desenvolvimento, n. 19, p. 20-24, 1986.

YOSHIOKA, Reimei. Avaliação de implantação de núcleo urbano na Amazônia: exemplo de Nova Marabá, Pará. São Paulo, 1986. Dissertação de mestrado, Faculdade de Geografia da USP (texto datilografado). A análise do processo de implantação do bairro Nova Marabá é precedida por um panorama da história da ocupação de Marabá e da fase de intervenção do Estado, através da construção de estradas, realização de

DIAS, Catharina Vergolino. Marabá, centro comercial de castanha. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p. 383-427, out./dez. 1958. il. mapas. Monografia apresentada no concurso para geógrafos do Conselho Nacional de Geografia (IBGE) em junho de 1955. Parte I – sítio e posição de Marabá; parte II – paisagem urbana (histórico, população, gênero de vida, funções administrativas e sociais, transportes urbanos, atividades

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urbanas, abastecimento), parte III – função urbana no âmbito regional (transportes, circulação e comércio); conclusão. Traz bibliografia, 41 ilustrações (fotos, gráficos e cartas). HISTÓRIA da guerrilha do Araguaia. Movimento, nº 159, p. 5-10, 17 jul. 1978. Trata-se de documento pioneiro sobre o episódio da Guerrilha do Araguaia. LOPES, A. G.; FONSECA, H.; FIGUEIREDO, R.; COELHO, M.C.N. Violência contra sem-terra, sem-ouro e sem-emprego na área de Carajás. Cadernos do Terceiro Mundo, Rio de Janeiro, v. 23, p. 24-27, 1997. MORBACH, Antonio Bastos. A mulher na literatura tocantina. Itatocan, v. 2, n. 9, p. 12, jun. 1954. MUNIZ, João Palma (1873 – 1927). Limites municipaes do Estado do Pará. In: Annaes da Bibliotheca e Archivo Publico do Pará, Tomo IX, 1916, p. 1 – 816. O Tomo IX dos Annaes é composto exclusivamente da obra do engenheiro João Palma Muniz. Talvez seja esta a primeira inserção do município de Marabá na bibliografia paraense. Traz pequeno histórico da fundação, com transcrição de textos de atas e decretos, e o índice da legislação aplicada a este município. OLIVEIRA, Hélcio Luiz Vasconcelos de. Castanha-do-pará do apogeu à decadência. Correio do Tocantins, Marabá, 4 a 10 de abril de 1997. Caderno Especial, p. 7.

30; descreve Marabá em 1938. PAES, J. Lima. Escoamento do minério de Carajás: hidrovia Itacaiúnas – Tocantins. Belém: separata da Revista da UFPa, v. 5, n. 5, 1975. 55 p. REGO, Luiz Flores Moraes. Notas geographicas e geologicas sobre o rio Tocantins. In: Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi de Historia Natural e Etnographia, Belém, v. 8, p. 271-288, 1933. Transcr. no Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 5, nº 52, p. 363-374, jul. 1947. C. Publicações periódicas como um todo BOLETIM TÉCNICO da Fundação Casa da Cultura de Marabá, 1999 –. O primeiro número foi publicado com o título de “Boletim Informativo”, em 1999. O número 2, já com o título de “Boletim Técnico”, é de 2003; o número 3, de 2004, foi publicado em abril de 2006; o número 4, de 2009, publicou-se em maio do mesmo ano; o nº 5, de 2010, foi lançado em abril desse mesmo ano. O PENTA Periódico da Casa da Cultura de Marabá. Em outubro de 2009 publicou o número 53, e em dezembro do mesmo ano um número especial sobre os 25 anos da Casa da Cultura de Marabá. O nº 55 foi publicado em abril de 2011. D. Música, literatura de ficção, poesia, folclore

OLIVEIRA, Américo Barbosa de. Considerações sobre a exploração da castanha no baixo e médio Tocantins. Revista Brasileira de Geografia, v. 2, n. 1, p. 3-12, jan. 1940. O processo de exploração e transporte da castanha, na década de

ANDRADE, Vânia Ribeiro de; SANTOS, Amélia Pereira dos e TORRES, Marileide Pereira. Marabá e suas lendas. Capa e ilustrações: Rita Corrêa. Marabá: Gráfica Opinião, 2000. Relaciona e descreve dez mitos da região de Marabá: a boiúna, o boto,

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a mulher de branco, a matinta perera, a porca de bobes, a mãe d’água, o pai da mata, o nego d’água, o capelobo e o pé de garrafa. Traz ligeiro histórico de Marabá e um quadro da situação em 1999. BRAZ, Ademir. Esta terra. Ed. do Autor, 1981. Apres. De Lúcio Flávio Pinto, ilus. de Pedro Morbach; Rebanho de pedras & Esta terra: poesias. Marabá: Grafecort, 2003. Esta terra é o primeiro livro do poeta marabaense Ademir Braz. A edição está esgotada, mas a obra foi reeditada em 2003, juntamente com novos poemas do autor, o Rebanho de pedras. Especialmente na primeira obra temos poemas profundamente enraizados na terra natal e que denunciam os dramas vividos pelos grupos humanos mais pobres. BRAZ, Ademir (Org.). Antologia tocantina: poesia. Marabá: Grafecort, 1998. Reunião de poemas de 23 autores marabaenses. Há alguns dados biográficos de cada autor. Reproduz, ainda, o poema “Marabá”, do poeta santista Martins Fontes. CABRAL, Pedro Correa. Xambioá, guerrilha do Araguaia: novela baseada em fatos reais. Rio de Janeiro: Record, 1993. CAVEIRINHA. A guerrilha do Araguaia. Folheto de cordel, 1997. CAVEIRINHA. O massacre da guerrilha do Araguaia. Folheto de cordel, 1997. CORDEL da guerrilha. In: Araguaia, 15 anos depois, 1989, p. 11-15. KOTSCHO, Ricardo. Deixa comigo: uma aventura em Serra Pelada. São Paulo: Brasiliense, s.d. (Coleção Preto no Branco).

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LEÓBAS, Carolino. A corrida do ouro na Serra Pelada. Folheto de cordel, s.d. LUXARDO, Líbero. Marabá. Belém, Falangola, [s.d.], 266p. MORBACH, Antonio Bastos. Canteiro. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 1973. 23 p. Poemas, textos poéticos, “causos” contados pelo jornalista e historiador de Marabá, o Sinhozinho. “MORBACH”. Bio-biblio-iconografia de Augusto Bastos Morbach. Ed. heliográfica, de autoria de Augusto Emílio Castelo Branco Barata e outros. Belém, jun. 1981. 2 v. MOURA, Antonio José de. Dias de fogo. 3ª ed. São Paulo: Global, 1989. PERNAMBUCO. História do garimpo de Serra Pelada. Folheto de cordel, s.d. ROCHA, Cândido Marinho. O defunto-homem: romance, história e estória regionais. Belém: s.c.p., s.d. (1968?), 174p. il. As ilustrações são de Augusto Bastos Morbach, e há dados biográficos do artista. ROCHA, João Correa da. Diário de viagem. Marabá, Livraria Iris, 1963. O editor e jornalista de Marabá não trata dessa cidade, no livro: relata viagem a sua terra natal, São João dos Patos, seguida de viagem de passeio e negócios a São Paulo. Há trechos de grande lirismo, mas traduz também a aguda percepção jornalística e o entusiasmo jovial pela vida e seus percalços. SANTOS, João Mendes dos. Vida de garimpeiro: o dia-a-dia no garimpo de Serra Pelada. Folheto de cordel, 1983.

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SANTOS, Romualdo Ferreira dos. O barqueiro do Tocantins. Carolina: Typ. d’ “O Tocantins”, 1921. O mais antigo “folheto de cordel” sobre a região tocantina de nosso conhecimento. Descreve a vida social e costumes, inclusive de Marabá. Traz o subtítulo: “Poemeto regional em que se descreve uma viagem de Carolina a Belém do Pará e vice-versa”. SANTOS, Vieira. O Zé do Brefo em Serra Pelada. Folheto de cordel, 1983.

PARA CONHECER OS HABITANTES TRADICIONAIS DOS CASTANHAIS DO MÉDIO TOCANTIS Aldair José Dias Carneiro

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Resumo: Para conhecer os grupos tradicionais do Médio Tocantins, é preciso sentir o que eles sentem vivendo às margens e, sobretudo, procurar ser um deles. Os olhares devem ser invertidos, lançados primeiramente para si como um tradicional, identificando os espaços, saberes, objetos e seus valores; consequentemente para fora da margem, lugar de onde partem as pressuposições. É um novo caminho a ser percorrido em direção contrária. Dessa forma, são resgatadas as linguagens dointerior das comunidades médio-tocantinas, apresentadas pelos próprios colonos. Palavras-chave: Memória; Identidade; Natureza. Esta pesquisa sobre os modos de vida e as visões de mundo dos tradicionais habitantes dos castanhais do Médio Tocantins é um investimento que perdura desde a minha graduação. A curiosidade e, sobretudo, as causas que me levaram a contar suas histórias e interpretar suas ações em busca de peculiaridades, devem-se ao fato de ter vivido na região desde criança, e por ter convivido com aspectos das tradições oriundas daqueles grupos: os objetos, as mentalidades e, principalmente, os seus modos de lidar com os recursos naturais, suas percepções de tempo, são alguns exemplos. No entanto, nessa nova investida, o objetivo era ir além das simples observações empíricas, era conhecer, partindo de inspirações teórico-metodológicas, as ações, os feitos e os valores simbólicos atribuídos aos tradicionais habitantes médio-tocantinos. Porém, mesmo sendo um quase remanescente, não foi tarefa fácil, em alguns momentos da pesquisa me senti como se fosse um viajante navegando em um rio desconhecido com densas matas por todos os lados que me permitiam visualizar apenas horizontes passageiros. Assim mesmo, segui o percurso 1 - Mestre em História Social da Amazônia, Professor de História da Faculdade Metropolitana/Marabá.

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observando e registrando alguns indícios das práticas habituais desenvolvidas nos castanhais do Médio Tocantins. Os aspectos já conhecidos e os dados colhidos na região com a pesquisa de campo; as informações sobre as regulamentações dos castanhais contidas nos jornais locais; as cartas, ofícios, decretos e portarias dos governos municipais da região e de seus fiscais de castanhais, entre 1948 e 1980, que expunham os mecanismos oficiais contra as hostilidades dos colonos tradicionais diante das empresas da castanha; as bibliografias regionais, além dos livros de contos sobre a memória local, deram-me uma base significativa para o avanço da pesquisa, porém revelaram não serem suficientes para conhecer o que realmente existia a partir da margem do rio, por trás da floresta, no espaço dos tradicionais colonos. No entanto, o caráter hostil dos colonos diante da regulamentação do espaço me levou a buscar suas justificativas. Para tanto, era preciso aportar, romper as margens e buscar as personagens e suas histórias no interior dos castanhais e trazer à tona seus rostos e suas vozes. Entre os dados que foram sendo colhidos, estavam algumas pequenas “barracas” construídas em aberturas na mata, que por conta do baixo nível do rio e da vegetação ribeirinha era possível visualizar apenas suas coberturas de palhas do coqueiro babaçu que se confundia com uma rala fumaça, lenta e meio escura ao raiar do dia. Somente depois de aportar é que percebi que era fumaça que saía dos fogões de lenha e atravessava as paredes de barro ou de troncos de árvores pela primeira vez naquele dia, antes do vento acelerá-la. Era um cenário daquele cotidiano. Ao redor das residências, a poucos metros delas, e que se estendiam até o rio, ralas plantações do milho, feijão e arroz. O cultivo aparentava uma visível despreocupação com excedentes ou acúmulo de produção. Do outro lado da floresta ouvia-se o barulho do machado nas árvores, as vozes e as gargalhadas de moradores que decidiram se instalar mais afastados do rio. Estes, ainda mais difíceis de serem vistos do curso do rio, pois se encontravam ainda mais longe, suas vidas estavam após a margem, por trás da floresta. Somente de modo compassado apareciam nas margens os estreitos caminhos que levavam até eles ou os traziam até o rio. A cada

caminho, como anúncios de existência humana, encontravam-se algumas canoas amarradas. Foram principalmente registros como esses que me despertaram curiosidades e abriram possibilidades para ir, a partir deles, buscar novas fontes sobre o que realmente havia por trás da floresta, lá de onde vinham a fumaça, os risos, o barulho dos machados e as vozes. Ao seguir em direção à margem, o desejo de ver mais adiante estimulava novas leituras e indagações, além da vontade de desbravar o desconhecido, pois as margens do rio eram apenas o início para conhecer o que havia por trás da floresta. O que será que aqueles indivíduos cultuam? O que os faz rir? Quais os seus segredos? O que haverá realmente por trás da floresta? Ao chegar à margem e, finalmente, atravessar a floresta, já nos espaços dos tradicionais habitantes dos castanhais, percebi que tudo que eu havia detectado sobre eles até então não fazia parte daquele momento, era extemporâneo. Os indivíduos que eu esperava encontrar por trás da floresta não estavam lá, pelo menos não naquele tempo, no tempo em que eu desejava estudá-los, nos seus cotidianos. Depois de atravessar a floresta, o desafio então passou a ser encontrá-los. Através do contato com seus espaços e conhecimentos por via de suas memórias, percebi que os habitantes tradicionais dos castanhais do Médio Tocantins se encontravam no passado, onde sempre visitam e, portanto, era para o passado que eu deveria ir. Os seus corpos estavam lá, perambulando no presente, executando algumas tarefas ditadas pelo passado, porém muitas não mais eram realizadas, eram encontradas apenas nas suas lembranças. Os valores, os hábitos e os saberes eram colhidos por via da memória e trazidos de algum lugar do passado, do diálogo com seus antecessores. Com características nostálgicas, viviam das lembranças de outros tempos, saudosos de momentos que haviam lhes possibilitado prazeres e farturas. De acordo com Marina Maluf e, a respeito da análise da memória:

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Pode-se, assim, dizer que a memória, um dos elementos que dá unidade a um grupo, depende do sentimento de um tempo presente. Pois é nessa corrente temporal contínua que reside a própria existência do grupo que retém do passado aquilo que está vivo, ou mesmo aquilo que ainda é capaz de viver na consciência do grupo.( MALUF, 1995, p. 43)

Com as informações colhidas sobre os habitantes dos castanhais do 143


Médio Tocantins nos registros dos governos municipais e nos livros de relatos, essa metodologia de análise da Memória e as proposições de E. P. Thompson sobre experiências, no final da pesquisa, eu havia não só alcançado a margem do rio e atravessado a floresta, mas identificado os feitos e conhecimentos dos tradicionais habitantes dos castanhais, além de ter visitado várias vezes o passado que tanto prezam, viajando em suas lembranças. O termo “naquele tempo”, muito usado por eles, determina o momento do retorno, do diálogo com o passado, é quando trazem para o presente os acontecimentos, conhecimentos e personagens de suas histórias. Na região dos castanhais do Médio Tocantins, desde sua ocupação, certamente esse movimento veio se repetindo hereditariamente à margem do curso do rio, em forma de “memórias subterrâneas” (POLLAK, 1989). E a propósito desse argumento, Marina Maluf comenta que: “Ao se forjar uma memória coletiva oficial pode-se condenar a memória de indivíduos e grupos a uma vida subterrânea, cujas lembranças passam a ser transmitidas através de redes informais de comunicação, em oposição à memória enquadrada” (MALUF, 1995, p. 36). E é com a análise da memória como complemento de uma pesquisa que se “pode dar a palavra aos esquecidos da história, aos que não têm capacidade, nem tempo, nem vontade de escrever” (BECKER, 1998, p. 29). Portanto, as informações sobre os valores tradicionais desenvolvidos nos castanhais médio-tocantinos foram apenas repassadas a mim por intermédio dos atuais habitantes, como guardiões do passado. O contato com essas experiências me fez organizar cronologicamente, do passado para o presente, depois de ter ido várias vezes do presente até o passado, as informações pertinentes. Eram conhecimentos distribuídos ao longo do passado e que haviam se adensado nas memórias, criando a identidade dos tradicionais colonos. Diante disso, percebi que em suas vidas nos castanhais um simples manejo da agricultura passou a se relacionar ao tempo das vazantes que se associaram aos tempos de chuvas e estiagens e, consequentemente, às fases da lua. Os tempos da lua, por sua vez, passaram a influenciar nos tempos da pesca, da extração de produtos essenciais da floresta e nos tempos das caçadas. O hábito das caçadas se associou à

sabedoria sobre as árvores e seus tempos de flores e frutos, o que determinou as esperas para os diversos tipos de caça: dos tatus, dos veados, das pacas, dos caititus, por exemplo, distribuídos cada qual em seus tempos. Para conhecer as mais peculiares produções culturais dos habitantes dos castanhais, foi necessário conhecer as características da natureza do espaço médio-tocantino, seus benefícios e obstáculos, já que natureza e trabalho se fundiram na região. A natureza, que disponibiliza os recursos necessários à vida, assumiu um papel de mãe para os colonos, pelas possibilidades de cura através de plantas, pelos frutos distribuídos em tempos distintos e os peixes, as caças e os abrigos; e às vezes, algumas características de amante, por conta das relações íntimas mantidas com os colonos, gerando juntos produtos dessa intimidade. Percebendo esses fortes vínculos dos tradicionais colonos com seus espaços e saberes, portanto, começaram a surgir respostas sobre as hostilidades diante das legislações impostas aos castanhais do Médio Tocantins. Os modos de vida dos tradicionais habitantes dos castanhais do Médio Tocantins, pelo fato de terem se desenvolvido às margens das representações oficiais, se fizeram ocultos e impossíveis de serem lidos e interpretados a partir de fora. As explicações para tais fatos é que os antigos colonos daquela região se colocaram tradicionalmente às margens dos rios e se distanciaram dos leitos, se posicionando fora do alcance de observadores entretidos com a sociedade padronizada. Portanto, para compreendê-los será necessário sempre aportar, romper as margens e atravessar a floresta até os seus verdadeiros espaços, para finalmente ouvi-los, saber o que fazem, sentem e pensam. As tradições dos antigos habitantes dos castanhais do Médio Tocantins jamais serão compreendidas se forem estudadas a partir dos cursos dos rios,por alguém preso aos leitos, como viajantes tradicionais, e descrevendo somente o que se vê e o que se ouve dizer. Agindo dessa forma, o que estariam sendo descritas eram simplesmente miragens, reproduções do que se acha ter visto. Tais registros não passariam de imagens criadas, um amontoado de suposições ou até mesmo montagens daquilo que outros já teriam dito como sendo verdade, realizando o mesmo percurso.

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São os olhares lançados a partir do leito do rio que se encarregam de resumir o que se ver após as margens, criam pressupostos e limitam outras possibilidades de diálogo com as fontes. O espaço entre o curso do rio (onde são formulados os pressupostos) e suas margens (onde se encontram os tradicionais colonos) aparentemente é curto, porém, esconde uma distância significativa que só é notada rompendo as margens. Somente a partir da margem é que são percebidas as dificuldades para se chegar ao que foi visto do leito. É do leito que partem os olhares do alto, formulando uma visão geral e aparente. Enquanto que após as margens, o que se vê é particular e detalhado. Além do acesso a uma infinidade de evidências, o estudo nas margens possibilita o contato com os objetos, os aromas e os sabores, os gestos e os estilos, afinal, “tudo que o homem diz (...) tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele” (BLOCH, 2001, p. 79). Com desejos insaciáveis de “capturar homens” onde quer que eles estivessem e quem quer que eles fossem, através da prática histórica.O historiador francês, com características apologéticas, anunciou que “onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça”. (BLOCH, 2001, p. 54). Nesse sentido, portanto, somente após atravessar as margens, que os grupos marginais do Médio Tocantins podem ser verdadeiramente encontrados, do contrário, são apenas superficialidades. A convivência nos espaços dos grupos tradicionais médio-tocantinos torna possível ver que os pontos de vista desenvolvidos por eles nas margens, de tão peculiares determinam as formas de ver seus observadores que se encontram extra margem. Para eles, esses outros são habitantes de um mundo diferente, com estilos de vida não compatíveis aos seus. Os hábitos dos tradicionais colonos determinam, também, as formas de ver a si próprios, como guardiões de segredos do passado e pertencentes a espaços, cujas vidas se resumem a eles. Os habitantes tradicionais do Médio Tocantins revelam, eles mesmos, que os produtos dos seus trabalhos e lembranças de outros tempos estão de uma forma ou de outra, vinculados aos seus lugares nos castanhais.

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Referências ANTONACCI, Maria Antonieta. Reservas extrativas no Acre e biodiversidade:relações entre cultura e Natureza.( Revista Projeto História ) São Paulo. vol. 18, pp. 191 – 214, 1999. ARIÈS, Philippe. “A história das mentalidades”. In. Jacques Le Goff, Roger Chartier e Jacques Revel (dir). A Nova história. Coimbra: Almedina, 1990. BARROS, José D’Assunção. “História Cultural e História das Ideias – Diálogos Historiográficos”. In: GEBRAN, Philomena (org) História Cultural: várias interpretações.Goiânia: E.V., 2006. BECKER, Jean-Jacques. “O handicap do a posteriori”.In: FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998, p. 29. BRAGA e CHAVES, Antônio. Do Lago Vermelho a Itupiranga: uma história para crianças.Itupiranga. 1990. BRAUDEL, Fernand. Os tempos da História. Escritos sobre a história. 2ª edição, São Paulo: Perspectiva, 1992. LE GOFF, Jacques. História e Memória. (trad) Bernardo Leitão. 5ª Ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003. LUBAR, Steven e KINGERY, W. David (Ed.) History from things: essays on material culture.Washington: SmithsonianInstitution Press, 1993. MAGALHÃES, Antônio Carlos. As nações indígenas e os Projetos Econômicos do Estado. In: HÉBETTE, Jean. O cerco está se fechando: o

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impacto do grande capital na Amazônia. Vozes/NAEA/UFPA, 1991. MAGALHÃES, Sônia Barbosa. “Expropriação e mobilização: A dupla face da relação entre os Grandes Projetos e a população camponesa”. In: HÉBETTE, Jean. O cerco está se fechando: o impacto do grande capital na Amazônia. Vozes/NAEA/UFPA, 1991.

CARACTERIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO ATERRO CONTROLADO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ: O MÉTODO DE QUARTEAMENTO NA DEFINIÇÃO DA COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA EM MARABÁ – PA. Michael Marques Iago Campos Isaac Martins Eduardo Camurça Karoline Cutrim Thacyane Hilton Pereira Samyr Lasim

MALUF, Marina. Ruídos da memória. São Paulo: Siciliana, 1995. MILHOMEM, Clara Araújo. Castanhais, canoas e batelões: memórias. Gráfica Giramundo, São Paulo, setembro de 2004. MONTEIRO, João Brasil. O castanheiro. Marabá, Edição 2001. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15. WOLFF, Cristina Scheibe. Mulheres da Floresta: Uma História. Alto Juruá, Acre (1890-1945). HUCITEC, São Paulo,1999.

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Resumo: A composição gravimétrica do aterro sanitário de Marabá teve como objetivo a identificação dos principais elementos presentes no aterro, com intuito de proporcionar uma forma mais eficaz de coleta, tratamento e disposição final dos resíduos. A segregação dos materiais e o cálculo das devidas porcentagens foram obtidos após a técnica de quarteamento, que a partir do descarte vis-à-vis de um total de 800 litros de resíduos, devidamente homogeneizados, resultou em uma amostra de 200 litros para caracterização do material presente. A composição gravimétrica apresentou 52,74% para matéria orgânica, 27,58% para materiais com maior potencial de reciclagem, 13,08% de panos, trapos e têxtil e 6,6 para outros materiais. Palavras-chave: Composição gravimétrica, Aterro Controlado, Marabá. Introdução A expansão urbana e o crescimento populacional têm contribuído dire1,2,3,4,5,6,7,8 - Acadêmicos de Engenharia Ambiental, da UEPA – Campus Marabá

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tamente para o aumento da taxa de geração dos resíduos sólidos urbanos (RSU), e este fato tem gerado impactos ao meio ambiente, concernentes á falta de gerenciamento na disposição final destes detritos. A gestão racional e a disposição final dos resíduos sólidos são realizadas através de diagnósticos específicos e de uma avaliação da influência da decomposição destes, considerando também seus riscos de contaminação ambiental, destacando ainda a importância na determinação da composição gravimétrica ou caracterização quali-quantitativa destes resíduos. Especificamente a cidade de Marabá, na qual há uma estimativa que residam em torno de 233,6 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), é um importante centro econômico e administrativo da fronteira agrícola amazônica, sendo uma das cidades que transformou seu lixão em aterro controlado. Neste trabalho, através do estudo da composição gravimétrica, como instrumento de análise qualitativa e quantitativa dos resíduos, determinamos a classificação dos mesmos. De acordo com NBR 10004 (ABNT, 2004): Resíduos sólidos são resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de água [...].

O gerenciamento do RSU é responsabilidade dos municípios, quanto à criação de sistemas eficazes que atendam a comunidade desde a sua coleta até o destino final, podendo ser um aterro sanitário ou controlado. Segundo a NBR 8419 (ABNT, 1992): Aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo [...], método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor

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área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada ou intervalos menores se for necessário. Já o aterro controlado consiste apenas na disposição dos resíduos no solo que recebem camadas diárias de matéria inerte.

LORETO (2003 apud GOMES et al., 2003) considera que, para se projetar um aterro sanitário com sucesso, deve-se conhecer a composição gravimétrica dos resíduos a serem dispostos, as características do local e da região do aterro. A composição gravimétrica identifica o percentual de cada componente em relação ao peso total da amostra de resíduo analisada. Os componentes mais comuns são: matéria orgânica, metais em geral, borracha, papelão, pano, plástico, vidro, madeira, ossos, cerâmica e agregados finos. Portanto, é possível identificar o aproveitamento tanto das frações recicláveis para comercialização quanto da matéria orgânica para a produção de composto orgânico, segundo ALCANTARA (2001 apud MONTEIRO e. al., 2010). A tabela 01 identifica a média nacional brasileira de resíduo domiciliar segundo sua composição gravimétrica, conforme SOUZA e GUADAGNIN (1991 apud GUADAGNIN et al,2009). Tabela 01 – Composição média do resíduo domiciliar brasileiro. Composição Papel e papelão Plástico Vidro Metal Matéria Orgânica Outros Total

Percentual em peso (%) 24,5 2,9 1,6 2,3 52,5 16,2 100

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Fonte: SOUZA e GUADAGNIN (1991 apud GUADAGNIN et al,2009). A tabela 02 identifica a taxa per capita de produção de resíduo sólidos domiciliares , de acordo com o tamanho e número de habitantes da cidade, segundo SOUZA e GUADAGNIN (2001 apud MONTEIRO et al,2009). Tabela 02 –Geração per capita conforme o tamanho e população urbana da cidade. Tamanho da Cidade Pequena Média Grande Megalópole

População urbana (habitantes) Até 30mil Entre 30mil e 500mil Entre 500mil e 5milhões Acima de 5milhões

Geração per capita (kg/hab/dia) 0,5 Entre 0,5 e 0,8 De 0,8 a 1,0 Acima de 1,0

Fonte: SOUZA e GUADAGNIN (2001 apud MONTEIRO et al,2009). Assim, a análise da composição gravimétrica nos aterros controlados ou sanitários e geração per capita de resíduo sólido contribui de maneira positiva para a eficácia no gerenciamento de resíduos sólidos, uma vez que, conhecida a caracterização deste material, é possível perceber a melhor forma de coleta, tratamento e disposição final. Metodologia Caracterização quantitativa A geração per capita de resíduos sólidos do Município de Marabá – PA foi calculada através do método apresentado por OLIVEIRA, S.A. et al.

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(2004), adaptado. Sendo a razão do peso dos resíduos sólidos produzidos em toneladas pelo número habitantes do referido município e intervalo de dias entre a coleta atual e a coleta anterior. Os dados sobre a quantidade de habitantes do município provêm do site oficial do IBGE (2010). Caracterização qualitativa A metodologia de amostragem representativa utilizada foi proposta por SOUZA, G.C.; GUADAGNIN, M.R. (2009). Os componentes analisados foram: Material orgânico; embalagens multicamadas; papel e papelão; plástico duro e isopor; plástico mole; metal (ferrosos e não ferrosos); vidro; pano/trapo/têxtil; resíduos de construção civil e outros. Na categoria “outros materiais de pouca representatividade” foram inseridos: ossos; borrachas; resíduos perigosos e de saúde. Infraestrutura. A pesquisa foi realizada in loco desde a amostragem até a pesagem final, contando com a utilização da área do Aterro Controlado do Município de Marabá. Os materiais utilizados foram os seguintes: balança com capacidade de 300 kg; 6 pares de luvas; 8 máscaras descartáveis com válvulas; sacos plásticos de 30 l, 50 l, 100 l; 4 bombonas plásticas com capacidade de 200 l; e lona plástica preta com 24m². Quarteamento. Para a determinação da composição gravimétrica foi utilizada a técnica de quarteamento proposta por PESSIN, N. et al.(2006), adaptada. As principais etapas foram as seguintes: Descarga dos resíduos e rompimento dos sacos para homogeneização da amostra universal; Preenchimento de quatro bombonas de 200 l com a retirada de amostras de cinco pontos (topo e quatro laterais) do monte; O conteúdo dos tonéis foi despejado sobre a lona plástica e iniciado o processo de homogeneização da amostra; Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

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De um montante de 800 l foram efetuados dois quarteamentos (com descarte vis-à-vis) até a obtenção de uma amostra de 200 l; Ao término do processo de quarteamento foi realizada a composição gravimétrica com a segregação dos materiais e cálculo das devidas porcentagens. Resultados e Discussões Caracterização quantitativa A partir da pesquisa in loco no Aterro Controlado do Município de Marabá e dados fornecidos pelo coordenador do aterro obtiveram-se os seguintes resultados. A média diária de resíduo destinado ao aterro é de 180 toneladas, que são transportados por seis caminhões com compactador, os quais fazem quatro viagens por dia (dia e noite), sendo que chegam ao aterro carregados, em média, com 7,5 toneladas de resíduos. Segundo dados IBGE (2010), a população de Marabá é estimada em 233,6mil habitantes. Deste modo o resultado do cálculo da média per capita de geração de resíduos no município de Marabá é de 0,77 kg/hab/ dia. O resultado está em conformidade com a média de produção per capita de resíduo para cidades de médio porte, proposta por SOUZA e GUADAGNIN (2001 apud MONTEIRO et al,2009), ver tabela 02. Caracterização qualitativa Os dados obtidos a partir da composição gravimétrica realizada em um único dia de visita in loco no Aterro Controlado do Município de Marabá, na atual célula de descarga, estão ilustrados na figura 01. Figura 1 - Composição gravimétrica do Aterro Controlado do Município de Marabá

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A fração orgânica representa pouco mais de 52,5%, sendo este valor correspondente à média nacional de produção de resíduo orgânico. É importante ressaltar que a compostagem é o tratamento mais adequado para o resíduo orgânico domiciliar, podendo ser aproveitado na fabricação de adubo orgânico como fonte de lucro, sendo uma alternativa o investimento no próprio aterro, permitindo assim a maior vida útil do mesmo. Em relação aos materiais com maior potencial de reciclagem, como papel, papelão, plástico, vidro e metal, estes têm a representação de 27,58% da amostragem realizada no Aterro Controlado do Município de Marabá, sendo uma média mais baixa que a nacional, que é de 31,3. Essa média mais baixa pode ser explicada pela existência de cooperativas em Marabá e parte deste material de maior valor econômico e potencial de reciclagem ser destinado para as mesmas. Papel/ papelão e metal representam respectivamente 12,38%, 1,27% da amostra estudada, que são menores que a média nacional de 24,5% para papel/papelão e 2,3para metal. Plástico mole, duro e isopor repreBoletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

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sentam respectivamente 7,74%, 4,36 somando 12,10%, sendo maior que a média nacional de 2,9%. O vidro corresponde a 1,83% da amostra; já a média nacional é de 2,3%. Observa-se que os resíduos de papel, papelão e metal encontrados no Aterro Municipal de Marabá têm o percentual menor que a média nacional. Pode-se explicar isso devido às cooperativas existentes na cidade trabalharem principalmente a reciclagem destes materiais. O metal é destinado também às siderúrgicas da região, sendo reutilizados no processo de fabricação. Os resíduos de plástico mole, duro, isopor e vidro não são reciclados nas cooperativas da região, por isso pode justificar-se a existência desses materiais em maior quantidade que a média nacional no aterro de Marabá. A segunda parte mais representativa é a de panos, trapos e têxteis que soma 13,08% do total da amostra. Nota-se um não aproveitamento de tal resíduo, visto que o mesmo pode ser reciclado. Os resíduos de embalagens multicamadas e outros (ossos; borrachas; resíduos perigosos e de saúde) representam 1,69% e 4,92%, respectivamente, somando 6,61%. Vale ressaltar que para a média nacional as embalagens multicamadas estão inseridas na categoria outros. Então, o total representado pela a amostra estudada é inferior à média nacional de 16,2%. Tal fato pode ser explicado, visto os resíduos perigosos e de saúde pública terem uma destinação adequada no município, não sendo destinados ao aterro; a parcela encontrada na amostra destes materiais é insignificante, podendo ser proveniente de resíduo domiciliar. Já borracha (pneus), resíduos de construção civil e galhadas têm local especifico e separado do restante, no aterro, para facilitar a utilização dos mesmos, por empresas especializadas, como por exemplo, os pneus são utilizados na fábrica de cimento e os resíduos de construção civil para aterramento. Considerações Finais Os resultados obtidos da análise da composição gravimétrica dos Re156

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síduos dispostos no Aterro Sanitário de Marabá, juntamente com os dados fornecidos pelo coordenador do mesmo, nos permitiram fazer uma comparação entre o percentual da média nacional de geração dos resíduos sólidos urbanos e o percentual diário produzido pela população desta cidade. Foi concluído que há um índice elevado de matéria orgânica no aterro em relação aos demais detritos, fato que já era esperado devido apresentar semelhança ao padrão nacional. Outro fator observado foi que os resíduos potencialmente recicláveis, como papel, papelão, plástico, metais e vidros apresentaram-se abaixo da média comparada, podendo caracterizar a existência da coleta destes materiais por catadores informais ou cooperativas. Um ponto relevante deste trabalho foi o grande percentual de panos, trapos e outros materiais têxteis, sendo destacado como segundo maior componente encontrado no aterro. Já os demais resíduos, como borrachas, ossos, resíduos de saúde e construção civil tiveram uma baixa representatividade, sendo que os materiais de saúde não são dispostos no aterro. O aterro sanitário de Marabá ainda está em um processo de adaptação em relação ao tratamento dos resíduos produzidos no município, e o conhecimento da composição gravimétrica pode ajudar na gestão do mesmo e, consequentemente, no aumento de sua vida útil. Agradecimentos A elaboração deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração, estímulo e empenho instituições públicas, privadas e pessoas físicas. Gostaria de expressar, por este fato, a gratidão da equipe a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para que esta tarefa se tornasse um trabalho científico concreto. Em primeiro lugar, à Secretaria de Serviços Públicos de Marabá, em especial ao Exmo. Senhor Secretário Regisvaldo Carvalho, que contriBoletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

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buiu na realização desta experiência, na emissão da autorização para entrada no Aterro Sanitário da cidade. Órgão público foi essencial para que fossem alcançados os objetivos estabelecidos. Agradecemos grandiosamente ao apoio fornecido pelo Ferro Velho Mattei, que colaborou com a realização desta atividade com o empréstimo de bombonas de 200 l, ação que foi decisiva para a pesagem dos resíduos. Agradecemos especialmente ao coordenador do Aterro Sanitário controlado, o Sr. Edilson, pela excelente recepção, acompanhamento no aterro durante a realização da pesquisa, além da contribuição com o esclarecimento de dúvidas para a determinação de resultados. Destacamos ainda, a gratidão da equipe pela sua disponibilidade irrestrita, forma esclarecedora, crítica e criativa de arguir as ideias apresentadas que facilitaram o alcance dos objetivos propostos neste artigo. Agradecemos ainda a Universidade do Estado do Pará (UEPA) pelo incentivo e colaboração no fornecimento do transporte que possibilitou o deslocamento da equipeaté o Aterro, além do transporte dos materiais necessários para a realização do artigo. Não poderíamos deixar de expressar o agradecimento da equipe ao Sr. Hélio Hamanara Dias pela colaboração na elaboração e revisão do abstract, além do modo como se disponibilizou no auxílio deste trabalho, na sua colaboração prestada sempre que solicitada, observado o seu interesse por estas matérias e precisão na determinação dos dados. Especialmente aos professores Noé von Atzingen pelo estímulo ao crescimento de trabalhos científicos na cidade de Marabá e apoio a classe acadêmica de forma geral. A todos manifestamos nossos sinceros agradecimentos. Referências ALCANTARA, Arleme Janissara de Oliveira apud MONTEIRO. Composição Gravimétrica dos Resíduos Sólidos Urbanos e Caracte158

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rização Química do Solo da Área de Disposição Final do Município de Cáceres-MT. Mato Grosso, 2010. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de Mato Grosso. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos – Classificação. Rio de Janeiro: ANBT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8419: Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro: ANBT, 1992. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Dados do Censo 2012 publicados no Diário Oficial da União do dia 04 de abril de 2010. Rio de Janeiro, 2010. Consultado em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=15>. LORETO, Alessandro Saraiva. Desenvolvimento de um equipamento para avaliação da compressibilidade de resíduos sólidos urbanos: Estudo de caso do Aterro Sanitário de Viçosa – MG. Minas Gerais, 2003. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal De Viçosa. OLIVEIRA, S.A. et. al. Estudo da produção per capita de resíduos sólidos domiciliares da cidade de Campina Grande – PB.Revista Saúde e Ambiente / Health and Environment Journal, v. 5, n. 2. 7 dezembro 2004. PESSIN, Neide, et. al. Composição Gravimétrica de Resíduos Sólidos Urbanos: Estudo de Caso, Município de Canela – RS. Punta del Este: Congresso Interamericano de Ingeniería Sanitaria y Ambiental, 30. 26-30 novembro 2006. SOUZA, Gláucia Cardoso de; GUADAGNIN, Mario Ricardo apud Boletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

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GUADAGNIN. Caracterização Quantitativa e Qualitativa dos Resíduos Sólidos Domiciliares: O Método de Quarteamento na Definição da Composição Gravimétrica em Cocal do Sul – SC. Caxias do Sul – RS: Seminário Regional Sul de Resíduos Sólidos, 3. 26-28 agosto 2009. SOUZA, Gláucia Cardoso de; GUADAGNIN, Mario Ricardo apud MONTEIRO et. al. Caracterização Quantitativa e Qualitativa dos Resíduos Sólidos Domiciliares: O Método de Quarteamento na Definição da Composição Gravimétrica em Cocal do Sul – SC. Caxias do Sul – RS: Seminário Regional Sul de Resíduos Sólidos, 3. 26-28 agosto 2009. SOUZA, Gláucia Cardoso de; GUADAGNIN, Mario Ricardo. Caracterização Quantitativa e Qualitativa dos Resíduos Sólidos Domiciliares: O Método de Quarteamento na Definição da Composição Gravimétrica em Cocal do Sul – SC. Caxias do Sul – RS: Seminário Regional Sul de Resíduos Sólidos, 3. 26-28 agosto 2009.

BANDAS DE MÚSICA NO PARÁ: CONSERVATÓRIO DO POVO Juliane Barbosa de Sousa

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“Todas as pessoas da nossa rua tocavam um instrumento musical [...] Eu gostava de ver a banda lá na praça. Era tão bom [...] Comecei a tocar apito e aprendi todo tipo de cantiga [...] Tive a sorte de estar rodeado pela música [...] a música reflete a vida.” James Gaway (flautista)

Resumo: As bandas de música são como espaços democráticos de acesso a Educação musical, principalmente nos lugares que não disponibilizam escolas formais de música ou conservatórios. Este artigo é um desdobramento da pesquisa acadêmica realizada como trabalho de conclusão do curso de licenciatura plena em música. O objetivo deste trabalho foi pesquisar a importância das bandas de música no estado do Pará. Para a realização desta pesquisa foram estudadas cinco bandas de música: Banda União Vigiense – Vigia de Nazaré, Banda 31 de Agosto – Vigia de Nazaré, Banda Rodrigues dos Santos – Vigia de Nazaré, Banda Waldemar Henrique – Marabá e Banda Shallon – Marabá. É importante ressaltar que a banda de música, principalmente nos interiores do nosso Estado, é uma das manifestações musicais mais presentes na sociedade no que se refere á difusão da cultura e da educação musical. Palavras-chave: banda de música; educação musical. Introdução As bandas de música existem desde a antiguidade, surgindo no espaço militar, com o objetivo principal de animar os combatentes durante as batalhas. A música servia de estímulo, encorajamento para continuarem a luta. Para Andrade (1989), a banda de música representa um “conjunto de instrumentos de sopro, acompanhados de percussão.” (p. 44). 1 - Educadora musical, clarinetista, Licenciada Plena em Música, Formação em Arte Educação, Especialista em Psicopedagogia e Educação Musical. É Mestranda do Curso de Comunicação, Linguagens e Cultura da Amazônia.

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Atualmente as bandas se destacam por representarem uma camada mais popular da sociedade. Ela é vista como uma manifestação ligada diretamente à população, executando músicas em praças públicas, eventos religiosos e sociais, bem como em outros ambientes e eventos de fácil acesso à população. O seu papel principal, além de levar a cultura musical às camadas mais populares, é educativo-musical.

No Brasil, a prática de banda é uma manifestação cultural muito forte. Atualmente a presença dessa manifestação musical na realidade brasileira é muito grande, dado o número expressivo de bandas existentes, em consequência dos diversos projetos de formação e ampliação de bandas, incentivados e/ou implantados por parte do Poder Público. Em nosso Estado não é diferente: a presença das bandas de música também é muito forte, algo já enraizado na cultura paraense. Além de um grupo instrumental, a banda de música no Pará é vista como uma escola de música. É comum encontrarmos bandas que são responsáveis pela educação musical parcial ou total de seus integrantes, Ela funciona como escola de música. Essa realidade se dá porque muita das vezes o indivíduo encontra dificuldade em ter acesso ao ensino da música em conservatórios ou escolas técnicas.Na maioria das vezes a banda de música é o único acesso que ele possui para ter uma educação musical. Segundo o escritor Benedito Monteiro, o estado do Pará possui uma cultura muito rica. Como herança cultural de encontros entre indígenas, brancos e negros, o Pará possui diversas manifestações culturais. Essa diversidade cultural pode ser observada pela variedade das cores, dos gestos, dos ritmos, músicas, danças, comidas e das histórias encontradas aqui em nosso Estado. Toda essa diversidade cultural se reflete no cenário musical. No Pará, a música tem uma forte ligação com a religião, por isso a Páscoa, o tradicional Círio de Nazaré na capital e nos interiores, o Natal, as tradicionais festas de carnaval, os festejos juninos, brincadeiras de Boi, os cortejos aos santos e outras festividades do calendário religioso, são o exemplo de festas anuais que estão ligadas diretamente a ela. Na cultura musical paraense as bandas de música têm um espaço de grande importância. Fundadas na maioria nos interiores do Estado, elas

possuem uma presença significativa nesses municípios, especificadamente os pertencentes à região do Salgado, região esta de riqueza cultural. Sua existência numa cidade do interior é algo tão típico como uma igreja, uma praça ou um coreto. Essas bandas são formadas por indivíduos de todos os grupos socioculturais. Realizam um trabalho de popularização da música marcado pelo ensino da mesma, através da transmissão de conhecimentos musicais com fins sócio- educativos e sócios- culturais. Mas as bandas são muito mais do que apenas um grupo instrumental, ela possuem memórias, histórias, tradição e contribuem para a cultura local e geral. O Pará é um estado de território grande. E por existir apenas um conservatório e uma escola técnica de música na capital Belém, é comum encontrarmos jovens que tiveram sua formação inicial ou até mesmo integral dentro de uma banda de música formada em um interior. Essas bandas assumem a função de escolas de música, substituindo assim os conservatórios e as escolas de ensino técnico de música. Isso se deve por diversas razões. Uma delas é a centralização da educação musical em nosso Estado. O ensino da música no Pará ainda é muito desnivelado. Enquanto a região norte e nordeste do Estado é referência em educação musical na Amazônia, as regiões sul e sudeste do Estado não compartilham dessa mesma realidade. A centralização da educação musical nessas duas regiões de certa forma exclui as demais regiões de compartilharem de uma vivência musical como um todo. Como os maiores investimentos financeiros, tanto públicos como privados, se destinam ao norte e nordeste do Estado, as demais regiões procuram adequar-se às atividades musicais de acordo com a realidade em que estão inseridas e com os recursos que possuem. Nessas localidades, a banda de música é uma ferramenta importantíssima na educação musical. Para uma escola de música que não conta com muitos investimentos financeiros, a formação de uma banda se torna muito mais viável do que a formação de uma orquestra. Torna-se mais fácil financeiramente adquirir instrumentos de sopro do que de cordas, e obter profissionais que atuem na área de bandas do que em orquestra. A região norte do Estado é responsável por mais de 80% da formação de profissionais que trabalham com cordas. Por isso a presença desses professores nas outras regiões do Estado é pouquíssima, já que eles se

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Bandas de Música no Pará

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concentram apenas em uma região. A maioria se limita a prestarem seus serviços às demais regiões do Pará. Escolas de Musica no Pará O Pará possui inúmeras escolas de música espalhadas em todo seu território. Esta pesquisa pode concluir que muitas dessas escolas possuem dificuldade em se manter. Algumas são escolas municipais que recebem ajuda do município, muitas também são sociedades ou fundações, que dependem única e exclusivamente de doações de pais, empresas e mantenedores em geral. Essa instabilidade financeira se reflete de maneira significativa nas atividades das escolas. Por isso é comum encontrarmos escolas de música que possuem apenas a banda como única atividade. Dentro dela o aluno passa por todo o processo de educação musical. É musicalizado através do seu instrumento de escolha, estuda teoria, solfejo, ditado rítmico e melódico. Sendo assim, o aluno recebe sua formação musical inteiramente dentro da banda de música, sem precisar passar por cada processo com um professor diferente, ou com as atividades separadas. O aluno aprende coletivamente, tanto os assuntos como também com vários indivíduos ao mesmo tempo. A educação musical coletiva através da banda de música A educação musical através da banda de música dispensa o individualismo presente na maioria ou quase totalidade dos conservatórios de musica no Brasil. Esse processo de educação musical coletiva se torna cada vez mais comum do Pará e no Brasil. Tal tipo de metodologia prioriza o ensino em conjunto, dispensando o individualismo e adotando o coletivo. Dessa maneira, permite que o aluno tenha contato com todos os outros instrumentos que compõem a banda de música. Sendo assim, muitos passam a praticar outros instrumentos, e muitas das vezes esses alunos acabam se tornando aptos a coordenarem uma banda, já que possuem o conhecimento de vários instrumentos, técnicas de afinação, dinâmica e outros elementos musicais. É comum encontrarmos mestres, regentes de banda que começaram estudando um instrumento e através do ensino coletivo tiveram acesso a outros instrumentos, obtendo a formação não

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apenas em um, mais em outros também. A banda e a Sociedade A banda de música contribui para nossa sociedade com um sentido cultural, educacional e socializador. Sua relação com a sociedade é tal, que ela está inserida em quase todos os momentos importantes desta. Quem já não reparou a Banda de Música abrilhantando festas religiosas e concertos públicos; as alvoradas acordando a população da cidade ou pequenos grupos tocando em bailes, desfiles, eventos esportivos, aniversários, casamentos, etc.; os concertos realizados em grandes recintos (praças, coretos) também são festas sociais, pois são festas onde se juntam determinadas pessoas com um objetivo: ouvir música. A banda de música é um dos mais populares veículos de acesso à cultura musical, para a sociedade. Elas possuem, em sua formação, uma grande quantidade de crianças, adolescentes e jovens, na faixa etária predominante dos oito aos vinte anos. É comum encontrarmos músicos da terceira idade. Esses são os músicos que pertenceram à banda, que formaram as gerações passadas, e que ainda ajudam os novos músicos contribuindo com suas experiências musicais. É interessante ver o encontro dessas gerações, onde músicos do passado se unem com os músicos do presente para uma finalidade só: fazer música. Nos interiores é muito comum que a prática musical passe de geração para geração. A Banda de música nunca acaba, sempre se renova. Suas atividades contribuem com a historicidade musical da região local e geral, que vai se transformando, adquirindo novas nuances que perpassam a identidade coletiva desses músicos, permitindo apontar o papel significativo exercido pela atividade musical na formação dessa identidade coletiva e no desenvolvimento das mais tradicionais comemorações da região, além de ter um papel social significativo no que diz respeito a formação e construção da identidade dos músicos mais jovens. Informações sobre Bandas no Pará A literatura sobre a música no Pará faz uma abordagem geral sobre as manifestações culturais e musicais, além de identificar alguns dos impor-

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tantes músicos. No entanto, materiais que falem sobre a prática de banda nos interiores do Pará ainda são poucos. Os que existem, na maioria e quase totalidade, se limitam às bandas da capital e dos interiores da região do Salgado, região essa que possui uma história muito rica em relação à música instrumental no Pará. Nota-se uma ausência de trabalhos e pesquisa que relatem esse tipo de prática em outras regiões do estado do Pará. Um importante colaborador na área de bandas de música no Pará, e talvez o de mais destaque, é o historiador e antropólogo Vicente Salles. Salles pesquisou profundamente sobre este tema. Além de artigos e livros sobre bandas, sua maior obra foi o livro Sociedade de Euterpe (1985). Este livro faz uma abordagem histórica das bandas civis e militares na capital e no interior do Estado, destacando os principais mestres, regentes, instrumentistas e repertório. O livro apenas não relata as atividades das bandas evangélicas na capital e nem no interior. A Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Belém foi a primeira igreja evangélica a utilizar a banda de música nos serviços da Igreja. Hoje, a Igreja Assembleia de Deus é responsável por centenas de bandas de música, espalhadas na capital e no interior do Estado. Nota-se que a maioria dos instrumentistas de sopro em nosso Estado, tiveram sua formação em uma banda. Essa não é apenas uma realidade em nosso Estado, mais sim em nosso País. Diferente de muitas escolas de música que priorizam o aluno apenas com um instrumento, a banda possibilita que o aluno tenha contato com outros instrumentos. Isso se deve ao fato da banda de música adotar o ensino coletivo, onde o aluno aprende seu instrumento ao mesmo tempo em que tem contatos com outros também. As bandas de música, atualmente, são modelos de escolas que, além de oferecerem a formação musical, buscam também a formação integral e social do ser humano. Na maioria das vezes ela é o principal instrumento de difusão da música local. O ensino da música acaba se tornando responsabilidade das bandas. A maioria delas busca realizar um trabalho de popularização da música, o que muita das vezes aproxima o público do repertorio musical. Em Marabá, as escolas de música cada vez mais vêm crescendo com este tipo de prática, ganhando um importante papel na sociedade. Marabá

conta com três bandas de música, mantidas por escolas de música. Além dessas, Marabá possui a banda militar, pertencente ao exército brasileiro, a banda da polícia militar e as bandas evangélicas. A primeira banda com caráter banda-escola foi a Waldemar Henrique, pertencente à Escola de Musica Moisés Araújo, criada pelo regente Amarildo Coelho, que logo depois veio a criar a segunda banda-escola da cidade: Banda Shallon, pertencente à Escola de Música Heitor Villa Lobos. Amarildo Coelho é referência em educação musical no município de Marabá, pela qualidade e competência em seu trabalho. É responsável pela formação de inúmeros músicos na cidade e pela fundação de duas bandas de música. Assim como a maioria dos regentes de banda, Amarildo Coelho também teve sua experiência quando estudante dentro de uma banda de música, a da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Dentre as bandas pesquisadas – 31 de Agosto e União Vigiense de Vigia de Nazaré, Banda Rodrigues dos Santos de São Caetano de Odivelas e as Bandas Waldemar Henrique e banda Shallon de Marabá, as do município de Marabá são as mais novas no cenário musical, com menos de 20 anos de fundação. É importante ressaltar que as bandas às quais esta pesquisa se refere são as bandas de música ligadas a uma escola de música. Nesta pesquisa, não foram incluídas as bandas evangélicas e nem as Bandas do Exército Brasileiro ou da Polícia Militar.

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Conclusão Analisando os dados coletados durante a realização da pesquisa, concluímos que as bandas de música fazem parte diretamente da cultura local e geral do nosso Estado. Elas representam a difusão das tradições, da cultura de um povo através da música. São de extrema importância no processo de educação musical, e muitas das vezes, o único acesso à música. Em relação aos procedimentos metodológicos de ensino, concluímos que todas as bandas estudadas apresentaram os mesmos métodos de ensino. O método do ensino coletivo dos instrumentos musicais está em evidencia em todas elas. Este é um método utilizado na quase totalidade pelas bandas-escolas que cada vez mais vêm mostrando eficácia em seus resultados. As bandas são renovadoras das tradições do meio em que estão inse-

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ridas. Em nosso Estado elas exercem um papel bastante significativo nos interiores. É uma prática que, por mais antiga que seja, sempre se renova, de geração a geração. As aprendizagens adquiridas com a vivência na Banda de Música podem se constituir de experiências importantes e ricas, podendo ser variadas e, não necessariamente, se restringir aos aspectos musicais. Referências ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1989. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo/Brasília: Hucitec/UNB, 1993. BINDER, Fernando Pereira. Bandas militares no Brasil: difusão e organização entre 1808- 1889. 2006. 132 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2006. CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. ______. Pontos e bordados: escritos de história e política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. HOLANDA, Sérgio Buarque de et al. História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro/São Paulo: Diefel, 1976. v.2, v.3. KIEFER, Bruno. A história da música brasileira: dos primórdios ao início do século XX. Porto Alegre: Movimento, 1977. SALLES, Vicente. Sociedade de Euterpe: as bandas de música no Grão -Pará. Brasília: Edição do Autor, 1985. TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998.

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DENGUE: INCIDÊNCIA, PREVALÊNCIA, LETALIDADE E ÓBITOS NO MUNICÍPIO DE MARABÁ-PA. Fagno Lopes da Silva Michael Franklin Rodrigues Marques Rodolfo Costa Silva

1 2 3

Resumo: A Dengue é uma doença que afeta grande parte da população brasileira tendo um grau de letalidade significante. Sua proliferação está ligada à má política de saúde e saneamento e à falta de sensibilização da população. Discute-se os índices de incidência, prevalência e letalidade, tendo como base dados de notificação, no período de janeiro de 2007 a junho de 2011, fornecidos pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica da cidade de Marabá-PA. Palavras-chave: Dengue, Saúde Pública, Marabá-PA. Introdução Marabá é o município mais importante da região sul e sudeste do estado do Pará, com aproximadamente 230 mil habitantes. No período compreendido entre os meses de outubro a maio tem-se o aumento do nível dos rios Tocantins e Itacaiúnas, em decorrência do inverno amazônico. Com isso observa-se a formação de grandes áreas de alagamento o que causam problemas a exemplo da proliferação de mosquitos, dentre eles a do Aedes aegypti, transmissor do vírus da Dengue. Associam-se a este cenário a falta de infraestrutura em saneamento básico, baixa rede de drenagens de águas pluviais e ainda a falta de conscientização da população. A situação brasileira não difere dessas, também é marcada por uma urbanização sem planejamento e com a escassez dos serviços, que não acompanham o crescimento populacional. A dificuldade em combater a dengue se dá graças a capacidade de 1 - Acadêmicos de Engenharia Ambiental, da UEPA – Campus Marabá

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Materiais e Metodologia Para este trabalho utilizamos: 1- Dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, para a determinação do número de habitantes do município de Marabá; 2- Dados do Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá sobre notificação de casos da doença - Dengue Clássico, Dengue com complicação e Febre hemorrágica da dengue e óbitos por dengue em Marabá no período de janeiro de 2007 a julho de 2011; 3- Software Microsoft Office Excel 2007, para confecção dos gráficos; 4- E metodologia proposta por ANDRADE, Selma, M.; SOARES, Antonio D.; JUNIOR, Luiz C. (1980 apud LILIENFELD, 2001, p. 193) para a realização dos cálculos de incidência, prevalência e letalidade descrita abaixo: a) Coeficiente de incidência da doença: casos NOVOS da doença em determinado local e período x 10n população da área no mesmo tempo b) Coeficiente de prevalência da doença: casos NOVOS mais ANTIGOS da doença em determinada local e período x 10n população da área no mesmo tempo

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c) Coeficiente de letalidade: óbitos pela doença em determinad local e período x 100 casos da doença no mesmo local e período Resultados e Discussões Para o cálculo da incidência dos anos de 2007 e 2008 foram utilizadas as informações do Censo IBGE de 2007 para a população de Marabá – PA. Para o cálculo da incidência dos anos 2009 e 2010 foram utilizados os dados do Censo IBGE de 2009; e para o cálculo da incidência do ano de 2011 (de janeiro a julho) foram utilizados os dados do Censo IBGE referente ao ano de 2011. Para os cálculos de prevalência e letalidade foram utilizados os dados do Censo IBGE referente ao ano de 2011. O período com menor número de notificações de casos foi o ano de 2009 (254 notificações de janeiro a dezembro). Em 2008 tivemos o maior número de registros (945 notificações). Em 2011, observou-se uma grande elevação do número de notificações no período de janeiro a junho (1087 notificações). Porém, apenas 403 eram válidos (figura 01). Figura 01: Notificações de dengue e casos válidos segundo o ano da notificação, Marabá-Pa. FONTE: Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá-PA.

adaptação do mosquito Aedes aegypti e as alterações ambientais. Segundo Tauil (2002, p. 867), a Dengue é “a principal doença re-emergente no mundo”, pois já foi controlada, mas voltou a apresentar ameaças à saúde pública. Este trabalho tem como objetivo informar acerca da incidência, prevalência e letalidade por Dengue na cidade de Marabá – PA, no período de janeiro de 2007 a julho de 2011.

No período de janeiro de 2007 a junho de 2011 foram notificados, 2257 casos válidos de dengue. O ano com maior registro foi o de 2008 (794 ocorrências) representando 39% do total de casos no período, seguidos pelos anos de 2007 (475 casos) 20%, 2011 (403 casos) 18%, 2010 (350 casos) 16% e 2009 (253 casos) 11%. (figura 2)

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Figura 04: Notificações de Dengue segundo classificação no período de janeiro de 2007 a junho 2011, Marabá-Pa. FONTE: Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá-PA.

Figura 02: Percentual de casos válidos de dengue segundo ano da notificação, Marabá-Pa. FONTE: Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá-PA.

(788 notificações), em relação ao ano de anterior (451 notificações), o que representou 99,7% de aumento. Os casos de dengue com complicações foram observados em todos os anos (2007 com 04 notificações, 2008 com 06, 2009 com 04, 2010 com 04 e 2011 com 17). Os casos de febre hemorrágica de dengue foram observados apenas nos anos de 2007 (02 notificações), 2009 (01 notificação) e 2011 (01 notificação). Observa-se o crescimento ano a ano dos casos classificados como descartados (2007 com 46 notificações, 2008 com 174, 2009 com 10 notificações, 2010 com 120 e em 2011 com 641 notificações no período de janeiro a junho). Nesse mesmo período houve o aumento das notificações inconclusivas (38 notificações). (ver figura 04).

Figura 03: Notificações de dengue segundo mês de ocorrência no período de janeiro de 2007 a junho de 2011, Marabá-Pa.

O período de maior notificação de casos coincide com a estação chuvosa entre os meses de outubro e maio. Neste período ocorrem as cheias dos rios Itacaiúnas e Tocantins com observação de várias áreas de alagamento, favorecendo a proliferação do vetor e o aumento expressivo dos casos da doença (figura 03).

No ano de 2008 houve grande número notificações de dengue clássico 172

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Os anos de 2008 e 2011, registraram os maiores coeficientes de incidência, ambos com 5/1000 habitantes (figura 05); no entanto, torna-se

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Figura 05: Coeficiente de incidência de dengue no período de janeiro de 2007 a junho 2011, Marabá-Pa. FONTE: Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá-PA.

importante ressaltar que no ano de 2011 foram analisados os períodos de janeiro a junho.

O ano de 2008 foi o que apresentou maior número de óbitos no período pesquisado. A baixa rede cobertura da assistência e a pouca qualificação das equipes em torno do agravo naquele momento podem ter contribuído para este quadro (figura 06). Temos também as mudanças climáticas com longos períodos de chuva, novas áreas de habitação sem estrutura de saneamento, pouca informação da população quanto ao agravo e ainda o possível surgimento de um novo sorotipo do vírus favorecendo a evolução da doença.

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Figura 06: Óbitos por Dengue período de janeiro de 2007 a junho 2011, Marabá-Pa. FONTE: Departamento de Vigilância

O coeficiente de prevalência do Dengue é significativo, visto que de cada 1000 pessoas 14 são prevalentes, ou seja, têm ou já tiveram a doença. Para o cálculo do coeficiente de letalidade foram excluídas as categorias IGN/Branco, descartado e inconclusivo. Os valores válidos foram os de dengue clássico = 2218 notificações; dengue com complicações = 35 e febre hemorrágica da dengue (FHD): 4 notificações, totalizando 2257 registros. Nesse período foram notificados 8 óbitos pela doença. O coeficiente de letalidade para o período foi de 0,18%. Onde a cada 1000 indivíduos com a doença aproximadamente 02 evoluíram para o óbito (tabela 1). Tabela 01: Coeficiente de Prevalência e letalidade no período de janeiro de 2007 a junho 2011, Marabá-Pa.

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Coeficiente de Prevalência do dengue 14/1000

Coeficiente de Letalidade 1,8/1000

FONTE: Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá-PA. Considerações Finais Com este trabalho concluímos que: • O ano de 2009 foi aquele com menor notificação de casos, enquanto que 2008 foi o ano com maior número de registros. • Em 2011, no período de janeiro a junho, observamos o aumento crescente dos das notificações por dengue (1087 notificações), porém com grande número de casos descartados (641 notificações); • O período de maior notificação de casos ocorre entre os meses de outubro e maio, correspondendo ao inverno amazônico. • O maior índice de incidência, cuja relação é de 5/1000h, foi nos anos de 2008 e 2011. • O índice de prevalência no período estudado foi de 14/1000 habitantes e de letalidade foi de 2.48/1000 habitantes. • O ano em que foi notificado o maior número de óbitos foi o de 2008 (4 óbitos notificados). • O coeficiente de letalidade da doença no período de janeiro de 2007 a junho de 2011 foi de 1,8%. Desta forma, concluímos que o baixo empenho de ações mitigadoras aliadas às variantes ambientais e climáticas são atributos concretos para o desencadeamento do processo saúde-doença. Entretanto, a vigilância constante dos agravos, o treinamento das equipes de saúde e a participação da comunidade podem reduzir ou até mesmo eliminar estes problemas. Ações como dia “D”, campanhas no rádio e TV, palestras dentre outras atividades em saúde acabam reforçando nas comunidades a impor-

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tância das medidas de prevenção. Controlar os vetores, tratar os doentes adequadamente e reduzir o risco de morte são ações de responsabilidade de todos. Agradecimentos Fundação Casa da Cultura de Marabá; ao Departamento de Vigilância Epidemiológica de Marabá; Especialmente aos professores Noé von Atzingen e Ismael Matos, pela orientação e estímulo ao crescimento de trabalhos científicos na cidade de Marabá e apoio a classe acadêmica. Revisão Laércio Pereira Costa – Farmacêutico-epidemiologista – Fiotec/Fiocruz/MS Referências ANDRADE, Selma, M.; SOARES, D.,Antonio.; JUNIOR Luiz C. apud LILIENFELD 1980 p.193. Bases da Saúde Pública: Epidemiologia e Indicadores de Saúde. 1.ed. Londrina: EDUEL,2001. 193,195,196 p. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasília: 04 de Novembro de 2010. Disponível em: < http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=15>. Acesso em: 21/08 de 2011. KRAUSZ, Rosa R. Os Desafios da Urbanização para a Educação em Saúde. São Paulo, 1971. p. 285. MARABÁ. Secretaria Municipal de Planejamento e Controle. Portal (2010). Portal de Marabá. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/ Portal:Marabá%C3%A1>. Acesso em: 20 fev 2012. MARABÁ. Secretaria Municipal de Saúde. Departamento de Vigilância

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Epidemiológica. Marabá-PA, 2011. TAUIL, Pedro Luiz. Urbanização e Ecologia do Dengue. Rio de Janeiro, 2001, p. 99-100. TAUIL, Pedro Luiz. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Rio de Janeiro. Maio-Junho de 2002. p. 867 - 868.

SÁUDE: DESASTRE DO ABANDONO DA NUTRIÇÃO TRADICIONAL DOS INDIOS

João Paulo Botelho Vieira Filho

1

As populações indígenas possuem o genótipo “ thrifty” da poupança ou liberação rápida de insulina em condições da presença de alimentos, levando ao acúmulo de energia para períodos de penúria alimentar. Esse genótipo de população sofreu a seleção natural de genes durante milênios, para períodos de abundância alimentar alternado com períodos de penúria, sendo favorável para a sobrevivência de populações caçadoras, coletoras de alimentos e com pequenas roças de subsistência. Um genótipo de poupança selecionado durante milênios é altamente sensível às mudanças do estilo de vida como a alteração da nutrição tradicio-nal e da atividade física. Quando conheci os índios Xikrin, Parkatejê, Akewa-ra, Xavante, há 40 anos, eram populações com penúria alimentar e delgados. Atualmente são obesos e com sobrepeso. Mudanças alimentares compreendem o abandono dos alimentos tradicionais com hidratos de carbono complexos, fibras, vitaminas e minerais como a batata doce, o milho, o feijão, a macaxeira, mandioca, cará, abobora, mamão, alimentos da floresta como a castanha, açaí , bacaba, bacabi, tucumã, inajá, buriti, murumurú, cupuaçu, coco babaçu, pimenta, alimentos do cerrado como o pequi e murici, aqueles com proteínas como larvas, formigas, gafa-nhotos, peixes, quelônios, carnes de aves e mamíferos. Os índios foram os descobridores de alimentos de qualidade que deram e dão de comer ao mundo e permitiram o aumento populacional dos brancos com a batata, o milho, a mandioca, a macaxeira, o feijão, o cará, a abóbora, a mandioquinha salsa, o tomate, o abacate, o abacaxi, o mamão, o cacau, a fava, o amendoim, o palmito, o caju, kinoa, a castanha do Brasil, o açaí, a pimenta, o peru e o pato. 1 - Professor adjunto da escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, Preceptor do Centro de diabetes.

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Podemos acrescentar outros alimentos provenientes de descobertas indígenas como tomate, abacate, cacau, caju, abacaxi, mamão, goiabas. Os índios do México comiam chocolate com pimenta. Se eles quiserem comer chocolate, somente o amargo ou dietético. Podem tomar chá à vontade e o mate descoberto pelos índios. Devem comer os alimentos assados e cozidos, evitando frituras. Todos os alimentos descobertos pelos índios são bons para a saúde, ricos em vitaminas, ou minerais ou carboidratos complexos ou até mesmo lico-peno no tomate e macaxeira amarela. Podem tomar café adoçado com o açúcar dietético, stevea, descoberto pelos índios do Paraguai. Se quiserem adoçar algum alimento somente com stevea ou aspartame tipo Zero Cal.Devem diminuir a quantidade do arroz. Não devem comer açúcar branco ou cristalizado dos civilizados ou chupar canas de açúcar. Devem retirar as canas existentes nas aldeias. Nas mudanças alimentares entram os alimentos com hidratos de carbono de absorção rápida como os dissacarídeos, refrigerantes, bebidas de alto teor alcoólico, gorduras saturadas de carne vermelha, manteiga, queijos gordos, alimentos industrializados como os salgadinhos com alto teor de gorduras saturadas e trans, tão prejudiciais ao coração e sistema cardiovascular, possuindo alto teor de sal. Os índios com acesso aos alimentos industrializados tornam-se obesos e alguns ultrapassam 100 Kg.Ficam intolerantes à glicose, diabéticos. Atual-mente há 100 diabéticos Xavante na terra indígena Sangradouro e 200 em São Marcos, com alguns amputados e índios em diálise pela nefropatia diabética. A FUNAI com responsabilidade de zelar pelos índios introduziu no passado o projeto arroz entre os Xavante e Bororo. Os índios apreciaram tanto o arroz que passaram a consumi-lo em todas as refeições, até mesmo no desjejum com açúcar.Abandonaram as roças de toco com alimentos tradicio-nais ou diminuíram a favor do arroz. A fome foi alternada com arroz em quantidade. A pobreza dos componentes minerais, vitaminas e proteínas ins-talaram-se. Os índios passaram a ganhar peso e o diabetes apareceu como uma tragédia.

Conheci uma índia Assurini do Xingu que após alguns anos de contato e sem qualquer orientação sobre nossa alimentação, passou a ingerir açúcar cristalizado em excesso com água e farinha (chibé) e teve amputação do dedo maior do pé devido à gangrena diabética. Os índios são vitimas das alterações nutricionais com abandono dos alimentos que deram de comer ao mundo após a chegada dos europeus como o milho, batata, macaxeira, mandioca, feijão. O abandono da dieta tradicional deve-se a falta de um processo educativo por parte do governo, que deveria valorizar os alimentos selecionados pelos índios na educação formal e informal, com esclarecimentos do risco da dieta industrial, o perigo do álcool e do sedentarismo. A cesta básica fornecida pelo governo federal e a merenda escolar da dieta industrial são prejudiciais aos índios, proporcionando-lhes açúcar crista-lizado que é glicotóxico. Já alertei o Ministério da segurança alimentar sem ser atendido.

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ARTRÓPODES ASSOCIADOS À FRAGMENTOS FLORESTAIS NO ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO, MARABÁ - PARÁ. Neilson Rocha da Silva Daniela da Silva Perereira Junior Nogueira Salviano Pedro Rodrigues Lima Junior Nathália Karoline Feitosa dos Santos Jéssica Sousa Alexandrino Débora Braga Leão Diego de Macedo Rodrigues

1 1 1 1 1 1 1 1

Resumo: Este trabalho teve por objetivo fazer um levantamento de artrópodes e vegetação com suas interações em um ecossistema de floresta primária no Assentamento Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, município de Nova Ipixuna, Sudeste do Pará. Para tanto foram utilizadas armadilhas do tipo pitfall que permaneceram na área de amostragem por três dias. Foram capturados representantes de 18 táxons de artrópodes, sendo que dos 273 espécimes coletados, 114 pertenciam à família Hymenoptera: Formicidae. O número de espécies animais encontradas fica como indicador para confirmar a grande diversidade de vegetais presentes nesse clímax pioneiro, ilustrando assim a interdependência de animais e vegetais para a manutenção do seu ciclo de vida. Verificou-se então que houve pouca ação antrópica nesta área já que sua vegetação é característica de uma verdadeira floresta primária o que possibilitou identificar uma grande diversidade de vegetais e artrópodes. Palavras-chave: serrapilheira; antropização; entomofauna. Introdução O Brasil possui uma das maiores áreas de florestas do mundo, aproxi1 - Universidade Federal do Pará/UFPA – Faculdade de Ciências Agrárias de Marabá/FCAM.

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madamente 27,5% da cobertura florestal do planeta com predominância de florestas tropicais (NOBRE, 2001). Estes ecossistemas apresentam uma grande variação vertical ao longo dos estratos vegetais, podendo apresentar uma elevada complexidade ambiental (LEWINSOHN et al., 2005). Estudos realizados levando em consideração a entomofauna em florestas tropicais mostraram que ocorre uma maior riqueza e abundância de artrópodes no dossel, que quando comparado ao sub-bosque, tratandose de um ambiente que proporciona uma maior gama de recursos reprodutivos e alimentares. (NEVES et al., 2007). Os artrópodes desempenham papel importante nos ecossistemas, pois estão envolvidos em diversos processos ecológicos, tais como decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, fluxo de energia, polinização e na dispersão de sementes, além de serem reguladores de populações de plantas, de animais e de outros organismos (LOPES, 2008). O número de espécies de artrópodes em um ecossistema é o resultado de um equilíbrio que envolve diversos fatores, como as limitações ecológicas de natureza física, química ou biológica, de forma que a vegetação é determinante na biodiversidade desses organismos (RICKLEFS, 2001). Segundo Azevedo et al., (2011) o conhecimento da entomofauna de uma agroecossistema é subsídio importante para a avaliação dos impactos da ação antrópica, já que o número de ordens, famílias e espécies de insetos diminui com a elevação do nível de antropização do ambiente. Os inventários e a identificação de insetos nos ecossistemas permitem as prevenções ou remediações de impactos nos diferentes ambientes. Isto caracteriza a importância de estudos que identifiquem grupos de indicadores ecológicos potenciais. Assim, à medida que ocorrem o resgate da diversidade vegetal e o equilíbrio ambiental, também os insetos respondem em diversidade e densidade, cumprindo a sua função indicadora (AZEVEDO et al., 2011). Neste contexto, esse trabalho teve como objetivo fazer um levantamento de artrópodes em fragmentos florestais no Assentamento Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Marabá - Pará.

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Materiais e Métodos Este trabalho foi realizado no assentamento Nossa Senhora do Perpétuo Socorro localizado no município de Marabá – Pará, em fragmento de floresta primária e outro de floresta secundária com cerca de sete anos. Ambas as áreas apresentavam aproximadamente três hectares, nestas foram utilizados quatros armadilhas, distribuídas na área distantes 20 m uma da outra, formando um quadrado no centro de cada área Para a coleta dos artrópodes foram utilizadas armadilhas do tipo pitfall. As armadilhas pitfall são principalmente destinadas para os animais que habitam o solo, caminhando sobre o mesmo porque normalmente não voam ou por que passam alguma parte da vida no solo. O tipo de solo ou cobertura vegetal, bem como a escala temporal e regional são fatores importantes que determinam a composição e a riqueza dos artrópodes coletados (EMBRAPA, 2006). As armadilhas permaneceram em campo por três dias. Após este período, o material coletado foi acondicionado em recipientes plásticos de 200 mL, foram identificados e conduzidos ao Laboratório de Manejo Ecológico de Pragas da Universidade Federal do Pará da Faculdade de Ciências agrárias de Marabá. Em laboratório a triagem do material foi realizada com auxílio de microscópio estereoscópico ao nível mínimo de ordem. Amostras dos espécimes foram armazenadas em pequenos frascos de vidros em álcool a 70% na reserva entomológica do laboratório. Resultados e Discussão O número de artrópodes coletados na floresta primária totalizou 273 espécimes. A família que teve maior ocorrência foi a Formicidae, com 114 exemplares (Tabela 1). Tabela 1: Ocorrência de artrópodes em fragmento de floresta primária, no Assentamento Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Marabá - Pará.

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Ordem

Família

Aracnida Aranea Blatodae Blatidae Coleoptera Scarabaeidae Coleoptera Brostrichidae Coleoptera Curculionidae Coleoptera Carabidae Coleoptera Ceramicidae Coleoptera Larva Coleoptera Chrysomelidae Juliformia Julidae Diptera Culicidae Hemiptera Reduvidae Hemiptera Ligaidae Hymenoptera Apdae Hymenoptera Vespdae Hymenoptera Formicidae Orthoptera Gryllidae Scolopendromorpha Scolopendridae TOTAL

I 1 1 3 2 0 0 0 0 14 1 0 0 1 0 0 25 5 0 53

Armadilha II III 1 0 0 1 7 7 5 1 1 0 0 1 0 1 0 1 7 5 2 0 0 0 0 2 1 1 1 0 0 0 18 41 13 20 1 0 57 81

IV 1 2 11 2 5 0 0 0 14 0 1 1 0 0 1 30 7 0 75

TOTAL 3 4 28 10 6 1 1 1 40 3 1 3 3 1 1 114 45 1 266

As formigas (Hymenoptera: Formicidae) podem ser consideradas como indicadoras de perturbação e de status de conservação de habitats (HOLLDOBLER, WILSON, 1990), pois são organismos sensíveis a alterações na complexidade estrutural do habitat (SANTOS et al., 1999). Foram encontradas nove ordens com 18 famílias distintas. Um grupo que se destacou na floresta primária foi à ordem Coleoptera, essa ordem representa 20% dos organismos vivos conhecidos, estando descritas cerca 350.000 espécies. Dentre as famílias existentes nessa ordem temos

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a família Brostrichidae, que representa a terceira maior quantidade de coleópteros coletados, trata-se de insetos essencialmente xilófagos, mas algumas espécies se alimentam de árvores vivas, podendo ser pragas de grande potencial (FLECHTMANN et al., 1996). A família Chrysomelidae, também da ordem Coleoptera, apresenta hábito oligófago ou polífago, sendo assim consideradas importantes pragas agrícolas (EMBRAPA, 2004). Os escarabeídeos ou escaravelhos são popularmente chamados de “rola-bosta” devido principalmente ao comportamento que muitas espécies têm de formar bolas com o recurso alimentar e de cavar túneis no solo para onde rolam as esferas de alimento onde também depositam seus ovos (HALFFTER, MATTHEWS, 1966). Com esse tipo de comportamento, esses coleópteros realizam um controle biológico natural de muitos insetos e outros organismos que se desenvolvem nos excrementos utilizados como alimento. Em especial, nas áreas utilizadas para pecuária, estes insetos desempenham papel fundamental na reciclagem de nutrientes e controle de parasitas bovinos, uma vez que ao retirarem e revolverem as massas fecais de bovinos, utilizadas por dípteros e nematódeos, tornam-na inóspita para o desenvolvimento destes organismos, já que aceleram o ressecamento do recurso e levam ovos dos parasitas para o interior do solo onde não conseguem desenvolverem-se (FLECHTMANN et al., 1995). Foram encontradas ainda outras espécies com menor ocorrência pertencentes às famílias Vespidae, Scolopendridae, Apidae, Ligaidae, Reduvidae, Culicidae, Julidae, Blatidea e Aranea. Na floresta secundária a diversidade de ordens e famílias foi menor do que as encontradas na floresta primária (Tabela 2), mostrando que o diferente estágio sucessional das áreas exprimiu diferentes composições na artropodofauna. Tabela 2: Ocorrência de artrópodes em floresta secundária, no município de Nova Ipixuna, Pará. Onde I, II, III e IV são as identificações das armadilhas.

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Ordem

Família

Aracnida Blatodae Coleoptera Coleoptera Coleoptera Coleoptera Coleoptera Hemiptera Hemiptera Hymenoptera Orthoptera TOTAL

Aranea Blatidae Scarabidae Brostrichidae Curculionidae Tenebrionidae Chrysomelidae Reduvidae Ligaidae Formicidae Gryllidae

I 1 0 1 4 4 0 3 0 1 15 6 35

Armadilhas II III 0 0 0 1 13 0 0 0 0 0 0 2 0 0 1 1 0 0 37 98 4 10 57 112

IV 1 2 2 4 3 0 2 1 0 18 12 46

TOTAL 2 3 16 8 7 2 5 3 1 168 32 250

Atividades humanas, como a extração madeireira, podem acarretar mudança na estrutura de áreas florestais e levar a um incremento na estrutura do sub-bosque, com uma diminuição na densidade das espécies de interior de floresta e mais sensíveis a distúrbio e um aumento na densidade das espécies pioneiras nas clareiras abertas (BIERREGAARD et al., 2001). As formigas foram encontradas em grandes proporções nas duas áreas analisadas. São insetos de fundamental importância no ecossistema terrestre, por serem animais de grande mobilidade exercem um papel ecológico importante, atuando na degradação de resíduos animais e vegetais contidos na serrapilheira e também servindo como biomassa alimentar para níveis tróficos superiores (FERREIRA et al., 2008). Por apresentar um ambiente fechado e com temperaturas amenas a floresta primária e secundária, certamente propiciou condições ideais para os grilos, graças à maior concentração de serrapilheira e de matéria orgânica. Segundo

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Barbosa et al., (2009), alguns espécimes da família Gryllidae, são responsáveis por ocasionarem danos econômicos às lavouras, em geral alimentam-se de folhas novas, ramos e raízes, apresentam hábitos noturnos e fitófagos. Nota-se que a preservação é essencial para a manutenção e diversidade da vida na floresta, a floresta sem a intervenção do homem apresenta um maior equilíbrio natural. São indicadas para essas várias atividades econômicas sustentáveis tais como: extrativismo de óleos, sementes, resinas, polpas entre outras. A Apicultura pode ser uma das melhores alternativas como uma atividade econômica de baixo impacto nos ecossistemas. As abelhas constituem o principal e o mais diverso grupo de polinizadores das regiões tropicais, consideradas parte integrante do ecossistema onde vivem. Sua principal contribuição para a natureza é a polinização das flores, o que significa maior produção de frutos, sementes e conseqüente diversidade genética. Em alguns ecossistemas até 90% da polinização é realizada pelas abelhas nativas sem ferrão (Meliponini) e, sua conservação juntamente com a de outros polinizadores é crucial para a manutenção desses ecossistemas. Além de gerar renda, pois seus produtos são bem aceito em todo Mundo (CALIARI et al., 2008). Por fim conclui-se que na floresta primária foi constatada uma maior diversidade de artrópodes em relação ao fragmento de floresta secundária. Agradecimentos Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Referências BARBOSA, L. R.; LEDE, E. T.; SANTOS, F. Caracterização de danos de Gryllus sp. Em plantas de Eucalipto, em laboratório. Colombo: EM-

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BRAPA, 2009. 6p. Disponível em: < www.cnpf.embrapa.br/pfb/index. php/pfb/article/download/17/16>. Acesso em: 06 jul. 2012. AQUINO, A. M.; AGUIAR-MENEZES, E. L.; QUEIROZ, J. M. Recomendações para coleta de artrópodes terrestres por armadilhas de queda (“Pitfall-Traps”). Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2006, 8p. PEDRO, G. S; FRANCIÉLE CARNEIRO, G. S; MÁRIO ANDRADE, R. G; ELAINE, B. C; LISIANE, A. M. Importância dos besouros rola-bosta (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae) para o município de Bagé, Rio Grande do Sul. Revista Congrega Urcamp, 2010. NOBRE, C. Mudanças climáticas globais: Possíveis impactos nos ecossistemas do país. Parcerias Estratégicas. n. 12, p. 249-258, 2001. LEWINSOHN, T.M.; NOVOTNY, V.; BASSET, Y. Insects on plants: diversity of herbivore assemblages revisited. Annual Review of Ecology, Evolution and Systematic. V. 36, p. 597 - 620, 2005. NEVES, F. S.; ARA_UJO, L. S. & ANDRADE, R. A. S. Efeito da estratificação florestal sobre a fauna de insetos herbívoros, formigas e aranhas associados a uma floresta estacional decídua no Norte de Minas Gerais. VIII Congresso de Ecologia do Brasil, Anais... 2007. LOPES B.G.C. Levantamento da entomofauna bioindicadora da qualidade ambiental em diferentes áreas do alto Jequitinhonha- Minas Gerais. Monografia de graduação, Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes, Inconfidentes, 47p. 2008.

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FERREIRA, C. D.; LOECK, A. E.; ROSADO, J. L. O.; GONÇALVES, M. G.; JARDIM, E. O. ZARDO, F.; BERNARDI, M.; JACOBS, F. P. Diversidade da fauna Mirmecológica (Hymenoptera, Formicidae) de serapilheira em campo nativo no Município de Capão do Leão, RS, 2008.

BORBOLETAS (Lepidoptera: Hesperioidea e Papilionoidea) PROCEDENTES DO MUNICÍPIO DE MARABÁ DEPOSITADAS NA COLEÇÃO ZOOLÓGICA DO MUSEU MUNICIPAL DE MARABÁ Noé von Atzingen Maria Betânia Furtado

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Resumo: Este trabalho apresenta uma lista das borboletas Hesperioidea e Papilionoidea depositadas na coleção do Museu Municipal de Marabá, procedentes deste município, contribuindo assim para o conhecimento da lepidópterofauna regional. Para a elaboração da lista revisou-se o acervo de lepidópteros (Rhopalocera) na coleção acima citada, catalogando 185 espécies, distribuídas em seis famílias, sendo a família Nymphalidae a mais representativa, com 125 espécies. Palavras-chave: Borboletas; Hesperioidea; Papilionoidea; Museu Municipal de Marabá. Introdução A Ordem Lepidoptera, representada pelas mariposas e borboletas constitui o grupo taxonômico melhor conhecido dentre as quatro ordens megadiversas da classe Insecta (Gaston 1991), embora não havendo uma classificação estável e universalmente aceita, sequer a nível de superfamília (Lamas, 2000). As borboletas são mais conhecidas pelos seus hábitos diurnos e cores vistosas, estando agrupadas nas superfamílias Hesperioidea e Papilionoidea. Além de atrair um imenso carisma devido à beleza exuberante de suas formas e cores, as borboletas são usualmente citadas com potencial uso como indicadores ambientais (Brown Jr. & Freitas 2000a), por apresentarem alta sensibilidade às alterações ambientais, mesmo em curto prazo, ou caracterização da tipologia ambiental atual ou histórica de uma determinada região (De Vries & Walla 2001; 1 - Fundação Casa da Cultura de Marabá; 2 - Setor de Zoologia da FCCM;

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Gutiérrez 1997). Embora Lepidoptera seja certamente o grupo de insetos melhor inventariado, este grau de inventariamento é somente elevado no Hemisfério Norte, e mesmo assim, sua contribuição sistemática é pouco relevante frente a sistemática de Lepidoptera (Kristensen et al. 2007). No Brasil, em especial, a escassez de estudos dessa natureza é agravada pela má distribuição destes, altamente correlacionada com a ocupação humana incluindo a residência de pesquisadores, e que acabam por gerar lacunas no conhecimento, representadas por enormes áreas ainda sem quaisquer registros de fauna (Carneiro et al. 2008b). A região neotropical exibe a maior diversidade de lepidópteros do mundo, estimada em mais de 35% do número total de espécies. As borboletas estão representadas nesta região com 7.784 espécies (Lamas 2004), e no Brasil com cerca de 3.200 espécies (Giovenardi et al. 2008). O Museu Municipal de Marabá é depositário de um acervo zoológico expressivo da fauna regional, com reconhecida qualidade, embora seja uma instituição modesta se comparada a instituições seculares como o Museu de Zoologia da USP, o Museu Nacional do Rio de Janeiro ou o Museu Paraense Emilio Goeldi. O acervo de lepidópteros, é resultado de anos de empenho em trabalhos de pesquisa em nossa região, possui exemplares de espécies como Morpho menelaus, Pierella lena e Phoebis sp. que, segundo Atzingen (2010), estão desaparecendo regionalmente, em virtude das pressões antrópicas sofridas ao longo dos últimos anos na região. Objetivando a disponibilização dos dados da coleção de lepidópteros do Museu Municipal de Marabá, confeccionou-se uma lista do material referente à Hesperioidea e Papilionoidea procedentes do Município de Marabá, contribuindo para o conhecimento da fauna de lepidópteros da nossa região, assim como para a catalogação da lepidopterofauna do Brasil.

a criação da lista apresentada neste trabalho foram catalogadas apenas as espécies procedentes do município de Marabá. O material foi mantido com suas respectivas etiquetas de dados de coletas e identificação. A identificação e confirmação das espécies se basearam em revisões e descrições de gêneros e espécies na literatura especializada, adotando-se a sistemática proposta por Lamas (2004). Para alguns exemplares não foi possível a identificação a nível específico, estando estes apenas morfotipados na lista. Resultados e Discussão Diante dos dados pesquisados, elaborou-se uma lista contendo 184 espécies e morfotipos distribuídas em Hesperidae (6), Papilionidae (14), Pieridae (18), Nymphalidae (125), Lycaenidae(18) e Riodinidae (3).

Materiais e Métodos Foi realizada a revisão do acervo de Hesperioidea e Papilionoidea, depositados na coleção zoológica do Museu Municipal de Marabá. Para

Hespirioidea Hesperiidae Hesperiinae Carystoides basochis Phanes vitreus Pyrginae Eudamini Astraptes aulestes Dyscophellus euribates Entheus sp Entheus priassus Papilionoidea Papilionidae Papilioninae Leptocircini Protesilaus sp Troidini Battus sp

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Battus polydamas Eurytides euryleon Parides Lycimenes Parides neophilus Parides phosphorus Papilionini Heraclides thoas Papilio sp 1 papilio sp 2 Papilio sp 3 Papilio aglaope Papilio hyppason Papilio torquatus Lycaenidae Theclinae Eumaeini Atlides getus Arawacus linus Arcas cypria

Arcas imperialis Calycopis sp1 Calycopis sp 2 Calycopis atnius Electrostrymon angelia Thecla sp1 Thecla sp 2 Thecla sp3 Thecla ericusa Thecla marsyas Thecla phaleros Thecla polybetes Thecla terentia Thecla teresina Tmolus sp Nymphalidae Biblidinae Biblidini 195


Biblis hyperia Catonephele antinoe Catonephele nyctimus Catonephele numilia Diaethria clymena Dynamine sp1 Dynamine sp2 Dynamine anubis Dynamine chryseis Dynamine mylitta Eunica sp Eunica careta Eunica cuvierii Eunica mygdonia Ectima liria Hamadryas amphinome Hamadryas arethusa Hamadryas chloe Hamadryas februa Hamadryas feronia Nessaea batesii Perisama sp Pyrrhogyra edocla Pyrrhogyra neaerea Temenis laothoe Cyrestini Marpesia chiron Marpesia sp Charaxinae Anaeini Anaea morvus Zaretes isidora

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Preponini Prepona demophon Prepona neoterpe Danainae Danaini Danaus sp 1 Danaus sp 2 Danaus gillipus Danaus plexippus Euploeini Lycorea halia Heliconinae Heliconiini Dione sp Dione juno Dryadula phaethusa Dryas julia Eueides isabella Eueides lineatus Eueides pavana Heliconius sp1 Heliconius sp 2 Heliconius sp 3 Heliconius sp 4 Heliconius aoede Heliconius antiachus Heliconius dorius Heliconius nana Heliconius numata Heliconius sara Heliconius talles Heliconius wallacei Heliconius vicini

Philaethia dido Ithominae Ithominae sp 1 Ithominae sp 2 Ithominae sp 3 Ithominae sp 4 Ithominae sp 5 Ithominae sp 6 Ithominae sp 7 Ithominae sp 8 Dircennini Discenna dera Pteromya carlia Godyridini Godysis sp Napeogenini Hypothyris euclea Mechanitini Mechanitis sp Mechanitis lysimnia Mechanitis polymnia Scada sp Thyridia confusa Limenitidinae Limenitidini Adelpha sp Adelpha cytherea Adelpha plylaca Adelpha serpa Morphinae Brassolini Brassolini sp Brassolis sp

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Brassolis sopharae Caligo sp Caligo illioneus Caligo teucer Eryphanes polyxena Opsiphanes sp1 Opsiphanes sp2 Opsiphanes tamarindi Selenophanes sp Morphini Morpho achillis Mopho hercules Morpho menelaus Morpho patroclus Nymphalinae Nymphalinae sp1 Nymphalinae sp2 Coeini Colobura dirce Historis odius Tigridia acesta Kallimini Junomia evareta Melitaeini Phyciodes sp1 Phyciodes sp2 phyciodes sp3 Phyciodes clio Satyrinae Haeterini Haetera piera Pierella sp Pierella lena

Pierella rhea Satyrini Amphidecta pignerator Argyreuptychia penelope Cepheuptychia angelica Chloreuptychia agatha Euptychia sp Euptychia harmônica Euptychia molina Magneuptychia sp Pareuptychia hesione Pedaliodes sp1 Pedaliodes sp2 Taygetis andromeda Taygetis xenana Yphthimoides celmis Pieridae Coliadinae Anteos menippe Eurema albula Eurema alathea Eurema messalina Phoebis sp1 Phoebis sp 2 Phoebis sp 3 Phoebis sp 4 Phoebis eubule Phoebis philea Phoebis sennae

Phoebis surina Phoebis stratira Pierinae Pierini Itaballia demophile Melete sp1 Melete sp 2 melete sp 3 Pieriballia viardi Riodinidae Riodiniinae Mesosemiini Mesosemia sp Mesosemia minos Nymphidiini Juditha lamis

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Foram analisados 529 espécimes pertencentes a 184 espécies e morfoespécies, distribuídas em 6 famílias. A maior parte das espécies do acervo (67%) refere-se a Nymphalidae, seguida por Pieridae e Lycaenidae, ambas com 10%, Papilionidae com 8%, Hesperidae com 3% e Riodinidae com 2%. A grande maioria dos espécimes estudados provém da Reserva Ambiental Murumuru. Convêm ressaltar a importância da realização de trabalhos visando a divulgação dos dados de acervos faunísticos que se encontram depositados em museus, principalmente de coleções antigas que possuem espécimes coletados quando a maioria dos ambientes ainda conserva suas características originais, tendo em vista a finalidade de contribuir para conhecimento da fauna e auxiliar futuros estudos de conservação ambiental. Referências ATZINGEN, N. von. A influência das mudanças climáticas sobre a biodiversidade na região de Marabá. Bol. Téc. Fund. Casa da Cultura, n.º 5, p. 19-24, 2010. BROWN Jr., K.S. & FREITAS, A.V.L. Atlantic Forest Butterflies: indicators for landscape consevation. Biotropica 32(4b):934-956, 2000. CARNEIRO, E., MIELKE, O.H.H. & CASAGRANDE, M.M. Inventários de borboletas no Brasil: estado da arte e modelo de áreas prioritárias para pesquisa com vistas à conservação. Nat. Conservação 6(2):68-90, 2008. Figura 1: 1 - Heraclides thoas dorso (a); Heraclides thoas verso (b); 2 - Morpho menelaus dorso (a); Morpho menelaus verso (b); 3 - Papilio hyppason dorso (a); Papilio hyppason verso (b).

DE VRIES, P.J. & WALLA, T.R. Species diversity and community structure in neotropical fruit-feeding butterflies. Biol. J. Linn. Soc. 74:115, 2001. GASTON, K.J. The magnitude of global insect species richness. Conserv. Biol. 5: 283-296, 1991.

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GIOVENARDI, R. et. al. Diversidade de Lepidoptera (Papilionoidea e Hesperioidea) em dois fragmentos de floresta no município de Frederico Westphalen, Diversidade de Lepidoptera (Papilionoidea e Hesperioidea) em dois fragmentos de floresta estacional decidual Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia 52(4): 599-605, 2008. GUTIÉRREZ, D. Importance of historical factors on species richness and composition of butterfly assemblages (Lepidoptera: Rhopalocera) in a northern Iberian mountain range. J. Biogeogr. 24:77-88, 1997. KRISTENSEN, N.P., SCOBLE, M.J. & KARSHOLT, O. Lepidoptera phylogeny and systematics: the state of inventorying moth and butterfly diversity. Zootaxa 1668:699-747, 2007.

BOLETIM TÉCNICO DA FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ- N° 7 Normas para publicação no Boletim a) Este Boletim destina-se a publicar anualmente pesquisas e comunicações sobre a Amazônia, nas diversas áreas do conhecimento. b) Os trabalhos devem ser enviados em CD, digitados em Word, acompanhados de uma cópia em papel A4. c) A redação dos artigos deve ser preferencialmente em português, acompanhados de resumo, em português ou inglês.

LAMAS, G. Estado actual del conocimiento de la sistemática de los lepidópteros , com especial referencia a la región neotropical. Hacia un Proyecto CYTED para el Inventario y Estimación de la Diversidad Entomológica en Iberoamérica: PrIBES-2000. Martín-Piera, F., J.J. Morrone & A. Melic (Eds.) m3m : Monografías Tercer Milenio vol. 1, SEA, Zaragoza, pp.: 253 – 260, 2000.

d) Os trabalhos deverão obedecer à seguinte sequência: Título do artigo; autor ou autores logo após o título e sua instituição em nota de rodapé; resumo do trabalho; palavras-chave; introdução; material e métodos; resultados e discussão; agradecimentos e referências bibliográficas.

LAMAS, G. (ed.). Checklist: Part 4a. Hesperioidea – Papilionoidea. Atlas of Neotropical Lepidoptera (J.B. Heppner, ed.). v.5A. Association of Tropical Lepidoptera, Gainesville, 439p., 2004.

e) O Conselho Editorial poderá sugerir alterações aos autores, a fim de adequar as colaborações ao padrão deste Boletim Técnico.

SALGADO-NETO, G. Lepdopteros do Brasil (Agenda de Campo) . Ed. Universidade Santa Maria, RS, 2010. LEWIS, H.L. Las mariposas del mundo. Ed. Omega – Barcelona, 1975.

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f) As ilustrações devem limitar-se ao mínimo necessário para apresentação dos resultados e clareza do texto. Fotos coloridas são aceitas, mas isto não significa que serão impressas em cores, a não ser em casos excepcionais. As fotografias devem estar em ótima resolução e constar tanto no corpo do artigo como salvo em pasta separada em programa de imagem, por ex.: JPEG. Desenhos, gráficos e tabelas devem ser resumidos tanto quanto possível e constar no corpo do artigo e salvos em separado, no programa

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em que foi elaborado, por ex.: Excel. Tabelas e figuras devem ser autoexplicativas, prescindindo do texto para sua compreensão. A legenda da figura deve acompanhar a mesma, devendo ser incluído o nome do autor, no caso de fotografia. g) Toda bibliografia citada no texto deve constar nas Referências Bibliográficas e vice-versa. h) A forma de Citação ao longo do texto segue o seguinte padrão: Cardoso (1984) ou (Cardoso, 1984). No caso de 2 a 3 autores, teremos: Cardoso & Vieira (1984) ou (Cardoso & Vieira, 1984). Em caso de mais de 3 autores, registra-se: Cardoso et al. (1984) ou (Cardoso et al., 1984). Para maiores detalhes, consultar a NBR 10520, norma da ABNT. i) A bibliografia (referências bibliográficas) deve aparecer no final do artigo, em ordem alfabética, contendo apenas as obras referidas no texto. Os autores devem certificar-se de que as referências citadas no texto constam da lista de referências, com datas exatas de publicação e nomes de autores corretamente grafados. A lista de referências deve seguir o padrão dos exemplos a seguir. 1. Artigos de periódicos com um autor: ATZINGEN, N. V. Estudos espeleológicos na UHE Santa Izabel. B. Técn. [da] Fundação Casa da Cultura de Marabá. Marabá, n. 2, p. 71-86, 2003. 2. Artigos de periódicos com até 3 autores: SILVA, A. B.; VIEIRA, C. D. & MORAIS, E. E. A inteligência dos macacos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 109-115, jan. 1984. (Pode-se abreviar o título: Ci e Cult.)

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3. Artigo de periódico com mais de 3 autores: SILVEIRA, E. C. et al. Flora orquidológica da Serra dos Carajás, Estado do Pará. B. Mus. Par. Emilio Goeldi, v. 11, n. 1, p. 75-87, 1995. 4. Artigo de periódico online: DAHER, Marlusse Pestana. Tombamento. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 31, 1 maio 1999. Disponível em: <http://jus. uol.com.br/revista/texto/484>. Acesso em: 25 maio 2011. 5. Livros no todo: TOCANTINS, Leandro. O rio comanda a vida: uma interpretação da Amazônia. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 1988. 6. Partes de livro: BARROS, João Maria. Os barcos a motor. In: Marabá. Prefeitura Municipal de Marabá, 1984, p. 51-52. 7. Livros em meio eletrônico: MARTINS, Saul. Contribuição ao estudo científico do artesanato. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1973. Disponível em: <www. eba.ufmg.br>. Acesso em: 20 fev. 2011. Outro exemplo: INPE. Monitoramento da floresta amazônica por satélite. Disponível em: <HTTP.\\www.inpe.be>. Acesso em: 12 jul. 2011. 8. Tese ou dissertação: SILVA Raullyan B. L. A etnobotânica de plantas medicinais da comunidade quilombola de Curiuaú, Macapá – AP, Brasil. 2002. 172 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, 2002. 9. Trabalho apresentado em evento: ALMEIDA, Márcia R et al. Pereirina: o primeiro alcaloide isolado no Brasil? In: 30ª REUBoletim técnico nº 7 - Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013

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NIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 2007, São Paulo. Resumos... Águas de Lindóia, 2007. Nota: Para maiores detalhes e outros tipos de referências, seguir as normas da ABNT: NBR 6023 (Referências), NBR 10520 (Citações), NBR 6032 (Abreviação de títulos de periódicos).

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