Revista Digital Carta Maior - Os Brics contra o parlamentarismo de mercado

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os SDR se definiram a partir de um valor equivalente a 0.888 gramas de ouro. Contudo, uma vez que Richard Nixon, quando era presidente dos Estados Unidos, colocou fim aos acordos de Bretton Woods, em 1971, os SDR se definiram com base numa espécie de cesta básica de moedas. Na prática, os países m ­ embros do FMI compram moedas do sistema SDR para cumprir com suas obrigações. Em outros casos, os vendem para ajustar a composição de suas reservas internacionais. Nesse contexto, o FMI atua na qualidade de intermediário entre seus membros e os detentores autorizados de moedas do SDR, para garantir os câmbios em moedas de ‘uso livre’. Há cada cinco anos, a revisão do SDR por parte do FMI examina a importância das suas divisas nos sistemas financeiros e comerciais mundiais. Por outro lado, e apesar do crescente protagonismo dos países emergentes na economia mundial, a composição do SDR se manteve inalterada durante décadas. Atualmente, o dólar norte­ americano conserva 42% das reservas, seguido pelo euro (com 37.4%), a libra esterlina (11.3%) e o yen japonês (9.4%). Como é possível que a queda do dólar na composição das reservas dos bancos centrais dos últimos 15 anos, de 70% a 60%, isso não tenha gerado a mais mínima modificação nas cotas de poder dos Estados Unidos no FMI? Evidentemente, tamanha desproporção causou inconformismo entre os líderes do Partido Comunista chinês, que tentam promover a liderança da China na economia mundial, e acham que para isso necessitam ter maior peso nas decisões tomadas pelo FMI, o que só poderia acontecer a partir da integração do yuan ao SDR. Existem dois critérios básicos para considerar a inclusão de uma moeda no sistema SDR. O primeiro é o de que ela deve estar atrelada a uma economia com elevada participação nas exportações mundiais, requisito facilmente cumprido pela China. O segundo é que a moeda deve ser plenamente conversível, ou seja, o país emissor debe manter aberta a conta de capital (que inclui os créditos e os investimentos da reserva) de forma que os investidores do resto do mundo possam comprar e vender ativos financeiros denominados nessa mesma moeda, para que sejam as “forças livres do mercado” as que determinem. No caso de China, esse segundo aspecto é o mais controverso. Em 2010, durante o XLI aniversário do sistema SDR, os funcionários do FMI rejeitaram a incorporação do yuan com o argumento de que estava

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sujeito a controles de capital. Adicionalmente, enfatizaram que somente alguns poucos países realizavam transações sob sua denominação. Finalmente, afirmaram que o Banco Popular da China mantinha subavaliado o tipo de câmbio, e com isso forçava a supremacia industrial do gigante asiático no mercado As autoridades do FMI não podem conceber que, em diferença com outros países emergentes, a China decida determinar os tempos de sua política de abertura. As experiências de crises financeiras na América Latina e no continente asiático, durante as décadas de 80 e 90 respectivamente, colocaram em evidência perante o mundo as terríveis consequências de adotar os princípios do chamado Consenso de Washington sem qualquer tipo de restrição. A China, porém, aprendeu bem as lições da história econômica. Teve sucesso ao evitar cair nas provocações do Departamento de Tesouro e do Sistema de Reserva Federal, as instituições que, usando o presidente do FMI como seu porta­ voz global, acusam o país de manipular a cotação da sua moeda, e que, consequentemente, insistem na abertura indiscriminada de sua conta de capital como requisito para maior integração do yuan. Não há dúvidas de que, em meio à precariedade econômica a partir da crise hipotecária (subprime), é mais cômodo para o governo dos Estados Unidos utilizar bodes expiatórios no lugar de assumir suas próprias responsabilidades. Contudo, os chineses concentram seus esforços em olhar suas próprias necessidades e levar adiante, gradual e pacientemente, o processo de abertura ao sistema financeiro. Por um lado, aumentarão os incentivos para participar no Programa Chinês de Investidores Institucionais Estrangeiros Qualificados (RQFII, por sua sigla em abril 2015 | Revista Digital Carta Maior | 25


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